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UNIGAMA – CENTRO UNIVERSITÁRIO CURSO DE DIREITO BRUNO RIBEIRO DOS SANTOS AÇÃO EX DELICTO: O REFLEXO DA FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA BENEFICIAR O INTERESSE DA VÍTIMA RIO DE JANEIRO 2019 BRUNO RIBEIRO DOS SANTOS AÇÃO EX DELICTO: O REFLEXO DA FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA BENEFICIAR O INTERESSE DA VÍTIMA Trabalho de Conclusão de Curso, em formato de artigo científico, apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, do Curso de Direito, da Faculdade Gama e Souza. Orientador: Prof. Thiago Helver Domingues da Silva Jordace RIO DE JANEIRO 2019 BRUNO RIBEIRO DOS SANTOS AÇÃO EX DELICTO: O REFLEXO DA FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA BENEFICIAR O INTERESSE DA VÍTIMA Trabalho de Conclusão de Curso, em formato de artigo científico, apresentado à Banca Examinadora como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, do Curso de Direito, da Faculdade Gama e Souza. Artigo científico apresentado e aprovado em _____ / ______ / 2019. BANCA EXAMINADORA ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ DEDICATÓRIA Ao meu saudoso pai AGRADECIMENTOS - - À minha esposa, Chintia Araújo Silva, que, por muitas, manteve um cenário salutar para o desenvolvimento deste trabalho. - Ao Professor-orientador Dr. Thiago Helver Domingues Silva Jordace, que, pacientemente, me auxiliou na elaboração e por muitas vezes me respondia quando precisava. - À professora Dra Vânia Aieta, que me deu grande conhecimento constitucional, além disso, proporcionava convites aos eventos jurídicos que foram muito importantes para a minha formação. - À bibliotecária Marcela Vicente que com maestria me orientou nas questões da formatação deste trabalho. - À minha mãe por tornar isso possível trazendo paz, amor e muito sossego no desenvolvimento deste trabalho. - Ao meu grande irmão Marcio Ribeiro dos Santos. - Aos colegas de estudos da Unigama, principalmente, Thiago Targino, André Luiz Arouca e Welligton Assis que hoje viraram grandes amigos. - O mais importante agradecimento vai para o meu saudoso pai, Severino Antônio dos Santos, pois estou realizando um sonho que era dele antes de partir. 1 AÇÃO EX DELICTO: O REFLEXO DA FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA BENEFICIAR A VÍTIMA Bruno Ribeiro dos Santos1 RESUMO: Este artigo tem como pauta a ação ex delicto e as deliberações da reparação mínima à luz da reforma trazida pelo legislador de 2008. Dividia em quatro seções, a pesquisa procura abordar sobre o contexto histórico, os aspectos do direito material, as características específicas do instituto e o procedimento antes e depois da reforma do código de processo penal em 2008. Após a reforma de 2008 e trouxe, para a vítima, maiores chances para a efetiva reparação do dano causado decorrente de ate ilícito. A pesquisa aspira apresentar a relevância da norma jurídica para a sociedade no que se tange à reparação mínima danos causados ao ofendido, ademais, expor aspectos relevantes sobre o instituto dentro do processo penal. Palavras-chave: Direito Processual. Penal. Direito penal. Reparação da vítima. Sumário: Introdução; 1. O contexto histórico pátrio da reparação por ilícito penal; 2. Aspectos do direito material brasileiro; 3. Da ação ex delicto 4. Da aplicabilidade antes e depois da reforma de 2008; Considerações Finais; Referências. INTRODUÇÃO Historicamente, a reparação da vítima decorrente de crime no Brasil tem sua tímida abordagem no primeiro ordenamento penal imperial seis anos após a criação da primeira constituição brasileira que foi outorgada pelo imperador Dom Pedro I em 1824. Além disso, é relevante frisar que o crime não somente atenta à ordem púbica, mas também outro efeito, isto é, o dano material ou moral à vítima. Ademais, vale ressaltar que os estudos derivado da vitimologia trouxeram relevantes motivos para se cuidar melhor da vítima a qual sofreu um ilícito penal. Como assegura Greco (2017), a vitimologia, atualmente, tem trazido à retomada da importância da vítima no processo penal, já que as inclusões de muitos institutos criminais e processuais penais têm como foco o interesse essencial da vítima em face de quem praticou o tipo penal. Sendo assim, o estudo presente neste artigo científico tem por foco principal apresentar de forma breve o instituto da ação civil ex delicto e demonstrar como a inclusão da reparação mínima da vítima dentro do código de processo penal trouxe um procedimento mais célere. Segundo Tourinho Filho (2002) somente a sanção penal não era satisfatória, dessa forma, o Estado teve que trazer a resposta do Direito Público para a reparação de danos causados à vítima a fim de que se tente estabelece o estado antes do efeito do dano, outrora causado ato criminoso. Portanto, a efetiva resolução do dano somente estará completa se a pena estiver conexa com a reparação civil da vítima. Sendo assim, a reparação mínima civil na sentença condenatória trazida pelo código de processo penal brasileiro é muito importante, principalmente, após a reforma de 2008 trazida pela Lei 11.719/2008 que trouxe dispositivos para um alcance mais rápido e eficaz para o interesse da vítima. 1 Estudante do 10º período do curso de Direito da Unigama. 2 “XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e Equidade.” (RIO DE JANEIRO, 1828) 2 Debater sobre a ação civil ex delicto na fixação do valor mínimo para reparação proferida pelo juízo criminal justifica-se, pois é importante informar sobre esse instituto para se alcançar, pelo menos, a mínima satisfação do prejuízo causado na vítima dentro do tempo razoável do processo trazida pela constituição Federal de 1988. Dessa forma, pode-se trazer mais segurança jurídica e sensação de justiça dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Diante disso, o presente artigo estabeleceu como problema de pesquisa demonstrar como a fixação da reparação mínima da vítima em sentença condenatória que trouxe um procedimento mais breve para a satisfação do dano. E como objetivo geral será explanado os aspectos gerais do instituto ex delicto no direito processual brasileiro atual e sobre a origem da reparação decorrente de ato criminoso. Para alcançar o objetivo geral, os objetivos específicos deverão: trazer o contexto histórico, abordar sobre os sistemas, conceituar o instituto e trazer aspectos da reparação do ilícito à luz do direito civil e direito penal e comparar a eficácia após modificação do processo penal pela lei 11.719/2008 com os precedentes jurisprudenciais. 1 O CONTEXTO HISTÓRICO PÁTRIO DA REPARAÇÃO POR ILÍCITO PENAL Historicamente, o primeiro código penal brasileiro foi constituído logo depois da promulgação da constituição do Brasil de 18282. No Brasil, a responsabilidade civil decorrente de ato criminoso já estava positivada a partir do código criminal no regime imperial. Art. 21. O delinquente satisfará o damno, que causar com o delicto (...). Art. 22. A satisfação será sempre a mais completa, que fôr possivel. Art. 23. No caso de restituição, far-se-ha esta da propria cousa, com indemnização dos deterioramentos, e da falta della, do seu equivalente. Art. 29. A obrigação de satisfazer o damno na fórma dos artigos antecedentes, passa aos herdeiros dos delinquentes até o valor dos bens herdados, e o direito de haver a satisfação passa aos herdeiros dos offendidos.Art. 31. A satisfação não terá lugar antes da condemnação do delinquente por sentença em juizo criminal, passada em julgado. Exceptua-se: 3º O caso, em que o offendido preferir o usar da acção civil contra o delinquente (RIO DE JANEIRO, 1830). Sendo assim, os dispositivos supracitados afirmam que a pretensão da reparação era feita de forma mais completa possível e com responsabilidade civil extensiva aos herdeiros, além disso, com a faculdade de pleitear na seara civil a indenização. Portanto, é possível afirmar que é no código criminal de 1830 cujo temos a gênese da ação civil ex delicto. Atualmente, temos no direito fundamental a possibilidade de reparação do dano a título de indenização. Segundo Távora e Alencar (2017), a atual constituição da República Federativa do Brasil de 1988 também reflete no direito à indenização moral e material, como previsto no (artigo 5°, inciso V)3 da magna carta do Brasil. Isso porque, conforme o dispositivo supracitado, em muitos casos, antijuridicidade também gera dano com pretensão de natureza patrimonial e extrapatrimonial, assim, devendo ter uma resposta proporcional ao agravo. Portanto, pode se concluir que a 2 “XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e Equidade.” (RIO DE JANEIRO, 1828) 3 “Art. 5°, inciso V da CRFB/88 diz “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;” (BRASIL, 1988) 3 indenização por crime é legitimada, ainda que no dispositivo constitucional não diga a matéria jurídica de forma estrita, por exemplo, civil ou penal. Logo, podemos interpretá-la para o cenário penal. Isso porque, se tem no direito brasileiro o dano ilícito moral, por exemplo, os crimes contra a honra, logo, o dispositivo constitucional dar margem à interpretação para danos decorrente de ilícito penal por Tourinho Filho (2010). Diante do exposto, fica claro que uma interpretação extensiva do dispositivo normativo constitucional pode concluir que a reparação por ilícito penal tem respaldo na magna carta brasileira. Cabe ressaltar que a ação penal aspira, em regra, um efeito punitivo do Estado em face do ofensor, ou seja, aplicar a pena, por outro lado, a ação civil tem por pretensão a reparação material ou moral do dano causado por Nucci (2016). Sendo assim, vem um questionamento trazido, segundo Tourinho Filho (2002, p. 8), “afinal, onde devem ser proposta a ação penal e a civil quando o fato gerador das respectivas responsabilidades for o mesmo?”Para responder essa pergunta e ficar mais claro sobre os aspectos evolutivos da conexão entre a ação civil e a ação penal, deve-se trazer em voga, a teoria dos sistemas. Conforme Lima (2017), existem quatro sistemas, o primeiro é o sistema denominado confusão, no qual a demanda de buscar a sanção penal do crime e a reparação civil pelo dano causado é feito no mesmo pedido. O segundo é o sistema solidário, no qual se faz a pretensão de ambas as matérias juntas no mesmo processo e com resolução conjunta, mas em pedidos diferentes. O terceiro sistema é o da livre escolha, pelo qual o ofendido poderá tanto demandar a satisfação no processo cível quanto na seara penal no mesmo processo penal. No entanto, se demandar a satisfação na jurisdição cível ficará suspensa caso a decisão no processo penal seja importante para se determinar o ressarcimento, a fim de que decisões ambíguas não tragam insegurança jurídica. O quarto e último sistema é o da independência, pelo qual haverá demanda em sede da justiça cível e outra na criminal com o propósito de que se tenha a matéria específica de direito privado de cunho patrimonial separada da pretensão penal jus puniendi4 do Estado. No Brasil, é consolidado o sistema independente, porém é suavizado. Como afirma Tourinho Filho (2010) pode a pretensão ser demandada na justiça cível e caso condenado, na justiça penal sem mais recursos, será feito ação de execução em sede cível e não cabe mais discutir a obrigação de pagar e sim o montante que se deve pagar. Por outro lado, se for proposta a primeira ação na esfera civil e a ação penal estiver em curso, ficará a primeira suspensa até a decisão definitiva da ação na justiça penal. 2 ASPECTOS DO DIREITO MATERIAL BRASILEIRO É possível comprovar até o final deste capítulo elementos fundamentais pelos quais não somente dar ao ofendido o direito à reparação dos danos causados, mas que também a norma penal traz à tona efeitos relevantes para beneficiar o réu e o apenado. No código civil brasileiro atual, há diversos dispositivos que se manifesta a respeito da responsabilidade civil no próprio aspecto do direito privado puro. Entretanto, devem ser pautados os dispositivos jurídicos atuais que dão amarrações do dano civil decorrente de ilícito penal por Pacelli (2017) Em regra, a responsabilidade civil é independente, consoante à cabeça do (art. 935) do código civil brasileiro (BRASIL, 2002), porém, a lei penal acaba não 4 É um termo em latim que define o direito estatal de aplicar punição ao privado. 4 mantendo muito essa distância da seara civil. Isso porque segundo Lopes (2016), haverá casos em que a ação cível e a penal terão consequências juntas, ainda que sejam matérias diferentes. Ocorre devido o ilícito penal trazer consequências de responsabilidade civil. Assim, é possível dizer que se no curso do crime tiver o agente cometido algum dano, por exemplo, patrimonial, poderá responder na seara civil. O código civil brasileiro corrobora bem essa questão. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. (BRASIL, 2002). Portanto, pode-se comprovar que se o agente criminoso furta um veículo automotor e no lapso temporal em que a res furtiva5 sofrer dano, poderá a vítima demandar na justiça cível a indenização pelo dano causado. Outro aspecto trazido pelo código civil que influência o instituto é a prescrição, já que é no direito civil que está abarcado o fim da pretensão ou o início dela. Segundo o código civil de 2002 (art. 206, §3, V), “[...] Prescreve em três anos [...] a pretensão de reparação civil.”(BRASIL 2002). Segundo Avena (2017), a questão relevante sobre a prescrição é o início da contagem do prazo, pois se o ofendido encontra-se aguardando a sentença penal, estará suspenso o prazo prescricional até a decisão do juízo criminal, nos moldes do (art. 200 CC). Dessa forma, se o ofendido demanda em sede cível a ação de conhecimento com a finalidade de ter a reparação dos danos decorrente de ato ilícito. É possível dizer que ocorrerá a interrupção do prazo prescricional no juízo cível. É importante abordar as referências do direito penal na reparação civil do agente passivo do tipo penal. Visto que sob o viés jurídico do (art. 91), do código penal brasileiro, entende-se, como efeito secundário da sentença condenatória, a obrigação de indenizar o dano decorrente do tipo penal (BRASIL, 1941). Sendo assim, é possível dizer que a norma de direito material penal expressa sobre a satisfação da reparação do dano já na sentença condenatória. Há outros dispositivos do código penal brasileiro que é relevante expor, pois contextualiza como a reparação do dano tem relevo no efeito da pena e no regime do réu, como descreve os artigos a seguir: Art. 33 [...] § 4 o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legal. Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violênciaou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terço Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano. (BRASIL, 1941). 5 Res furtiva é um termo em latim usado no âmbito jurídico que significa o objeto do furto http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art186 5 Além disso, de fato a norma penal pode aspirar ser mais benéfica para o agente que esteja com animus de compensar o prejuízo da vítima. Brito, Fabretti e Lima (2015) afirmam que a reparação do dano decorrente de crime também poderá beneficia o apenado com a diminuição da pena ou até mesmo pode ser causa de atenuação na fase da dosimetria penal, ademais, no caso de crime contra a administração pública será uma exigência para progredir de regime na fase de cumprimento de pena. Sendo assim, é possível garantir que a norma penal traz fundamentais aspectos, na questão de disponibilizar ao réu e ao apenado benfeitorias, pelos quais mitigarão o peso da pena, no caso supracitado, se agente do crime faça a reparação do ofendido e, em outros casos, a devolução do produto do crime. 3 DA AÇÃO EX DELICTO Anteposto nas teorias dos sistemas, existem várias hipóteses de junção ou separação da seara criminal e civil quando se trata do mesmo fato. Segundo Tourinho Filho (2010), o ordenamento jurídico pátrio possui o sistema independente, porém, mitigado quando um único fato se vincula as duas jurisdições. Assim, tendo em vista um fato único causar um ilícito penal e um ilícito civil. Pode-se dizer,portanto, que tal conduta poderá ter, como efeito, comunicações entre ambas as searas. A ação ex delicto é um instituto para se alcançar a reparação civil dos danos causados à vítima que venha de um ilícito penal. No prisma de Avena (2017), é possível conceituar a ação ex delicto como o instituto jurídico do processo penal que tem pretensão indenizatória decorrente de sentença penal condenatória. Assim, se um fato único constituído crime incorrer também em um ilícito penal e, causar danos materiais ou morais, ou até ambos, tal conduta será material para a ação civil ex delicto com a intenção de obter uma compensação pelo dano causado. Por regra, o seu procedimento em sede cível é executório, como prevê o caput6 do artigo 63 do código de processo penal brasileiro, “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, [...]”. (BRASIL, 1941). Dessa forma, a sua expressão legal afirma está disposto, à seara civil, a execução titular da sentença criminal. Portanto, como supracitado, percebe-se que a ação ex delicto tem como principal procedimento aguardar a ação penal e gerar a obrigação na sentença e, posteriormente, executá-la em sede do juízo civil. Por outro lado, cabe aqui ressaltar que o código penal brasileiro também abarca outra modalidade que o difere da regra geral, como exposto no dispositivo legal anterior, pelo qual dispõe outras formas de demandar a ação, como expõe o código de processo penal: Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela. (BRASIL, 1941) O primeiro elemento relevante a destacar é a demanda da ação civil para a reparação de danos. Cita-se, também, a posição de Tourinho Filho (2010), se caso a 6 É uma palavra em latim que significa cabeça que no caso aludido é a cabeça do artigo da lei. 6 vítima queira promover a ação indenizatória antes do da penal, esta poderá. Assim ficará facultado à vítima a mais uma opção que é propor a ação civil indenizatória antes da ação penal. Ademais, a ação na seara civil não causa detrimento da ação decorrente da penal. Segundo Avena (2017), há diferença quanto a sua natureza processual, a primeira e a ação ex delicto de natureza executória, a outra é a ação ex delicto de natureza de conhecimento. Portanto, em outras palavras, é possível dizer que a reparação civil, decorrente de ilícito penal, terão outras formas, a primeira pelo título executivo advindo da sentença condenatória, como prever o (art. 63). E a outra opção é de pleitear desde logo uma ação comum na esfera civil, porém sem o detrimento daquela imposta na regra geral, consoante o dispositivo no (art. 64). O segundo e último elemento fundamental para entendermos do dispositivo citado, tange-se sobre o efeito da suspensão da demanda cível para pretensão indenizatória. A respeito do ensinamento de Tourinho Filho (2010), se no decorrer da ação civil indenizatória sobrevier à ação penal ou, o contrário, se a demanda civil for proposta e a penal estiver em curso, ficará a ação da jurisdição cível suspensa até o término do processo penal. Tal medida é adotada para evitar decisões ambíguas que se contradiz entre si, pois daria margem à insegurança jurídica. Pode-se assegurar, portanto, que a pretensão indenizatória demandada na seara cível passa pela medida da suspensão prescricional para manter a segurança entre as duas jurisdições. A respeito da legitimação, também é positivado no mesmo dispositivo do ordenamento processual penal. São legitimados à demanda: o ofendido, o seu representante legal ou o herdeiros caso ofendido venha a morrer [art. 63]. Conforme Avena (2017), os legitimados à propositura da demanda sejam aquela em sentença condenatória penal ou para a indenização direta em sede cível, necessariamente deverão se por meio de advogado. Assim, pode-se dizer que para a satisfação indenizatória somente poderão postular os legitimados para a propositura na justiça civil ou, o advogado, como auxiliar da justiça na ação penal se estiver devidamente subescrito. Entretanto, cabe trazer à baila, sobre a possibilidade do Ministério Público ser parte legítima a postular em nome da vítima, já que há possibilidade, porém a norma infraconstitucional tem aspectos que foi pacificado pela jurisprudência. Segundo o código de processo penal, no (art 68), temos a seguinte redação: “Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.” (BRASIL, 1941). Logo, em tese, o Ministério público pode postular a ação ex delicto em favor do ofendido. Entretanto, esse preceito é mitigado, pois tem jurisprudência firmada no Supremo Tribunal Federal que debateu essa questão. Conforme o entendimento do egrégio: LEGITIMIDADE - AÇÃO "EX DELICTO" - MINISTÉRIO PÚBLICO - DEFENSORIA PÚBLICA - ARTIGO 68 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CARTA DA REPÚBLICA DE 1988. A teor do disposto no artigo 134 da Constituição Federal, cabe à Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a orientação e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV, da Carta, estando restrita a atuação do Ministério Público, no campo dos interesses sociais e individuais, àqueles indisponíveis (parte final do artigo 127 da Constituição Federal). INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA - VIABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE DIREITO ASSEGURADO CONSTITUCIONALMENTE - ASSISTÊNCIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA DOS http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art32 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art63 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art647 NECESSITADOS - SUBSISTÊNCIA TEMPORÁRIA DA LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. (...).Enquanto não criada por lei, organizada - e, portanto, preenchidos os cargos próprios, na unidade da Federação - a Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo 68 do Código de Processo Penal, estando o Ministério Público legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista. Irrelevância de a assistência vir sendo prestada por órgão da Procuradoria Geral do Estado, em face de não lhe competir, constitucionalmente, a defesa daqueles que não possam demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem prejuízo do próprio sustento. (BRASIL, 1994) Portanto, entende a jurisprudência, ainda vigente, que há uma inconstitucionalidade progressiva, logo o [art. 68] poderá ser exercido em alguns casos específicos. Assim, a legitimidade do Ministério público é relativa, pois existe o papel da Defensoria Pública. Assegura Tourinho Filho (2002), a magna carta brasileira de 1988 não recepcionou o [art. 68] do ordenamento processual penal, visto que depois de promulgada à constituição federal é prerrogativa da Defensoria Pública dar assistência advocatícia aos mais necessitados7. Pode-se confirmar, diante do exposto, a jurisprudência do Supremo pacificou a questão divergente da legitimação do Ministério público para a propositura da ação civil ex delicto a requerimento da ofendida. Portanto, pode-se concluir que poderá ocorre essa legitimação, entretanto, por regra, somente se na comarca da vítima do crime não tiver a figura da instituição da Defensoria Pública, já que não é a função principal do Ministério Público esta prerrogativa de advogar para titulares pobres. Outro aspecto indispensável destaca-se sobre as tutelas cautelares para a garantia indenizatória da vítima. No tocante a ação ex delcito, poderá ocorrer medidas processuais de matéria cautelar dentro da própria ação, a fim de que se possa assegurar a pretensão do ofendido. Conforme explica Tourinho (2002), medidas processuais cautelas, tais como: o sequestro, o arresto e a hipoteca legal poderão ser aplicados pelo juízo criminal. Sendo assim, o ofendido tem a disposição às ferramentas de tutela, normalmente usadas em direito processual civil, dentro da seara processual penal para ter liquidada a sua aspiração indenizatória logo após o transito em julgado. A sua previsão legal está expressa no código de processo penal: Art. 144. Os interessados ou, nos casos do art. 142, o Ministério Público poderão requerer no juízo cível, contra o responsável civil, as medidas previstas nos arts. 134, 136 e 137. Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. (BRASIL 1941) Dessa forma, caso réu sabendo da pretensão da ofendida começar a se desfazer dos bens imóveis ou moveis com a finalidade de não liquidar o título executivo, poderá o ofendido ou os outros legitimados requerer as medidas cautelares, tais como: o sequestro de bens (art. 125); a hipoteca legal (art. 134); o arresto de imóveis (art. 136) e o arresto de bens móveis (art.137). Além disso, conforme Nucci (2016), poderá também ocorrer medida cautelar de busca e 7 “Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.” (BRASIL 1988) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art142 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art134 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art136. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art137. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#art5lxxiv 8 apreensão (art. 240)8. Pode-se concluir, portanto, que a vítima tem um aparato de institutos cautelares a fim de tutela sua indenização decorrente de lícito penal, enfim, tal aspecto dar à vítima mais segurança jurídica do decorrer do processo do deu direito. 4 DA APLICAÇÃO ANTES E DEPOIS DA REFORMA DE 2008 É primordial para entender como a reforma trazida pelo legislador consolidou relevantes deliberações que trouxe à vítima mais vantagem para a indenização do dano causado por ato criminoso. Primeiramente, deve-se abordar como a ação ex delicto pode ser proposta, e como era aplicado o instituto antes da modificação do código de processo penal. Como já foi destacado anteriormente, a ação ex delicto é a pretensão, na qual finaliza em sede cível, que tanto poderá decorrer de uma sentença penal condenatória, pela qual formará um título executivo, ou a demanda indenizatória proposta diretamente na justiça civil, a fim de responsabilizar civilmente o autor do ilícito penal, caso o fato típico incorrer em algum dano. Segundo Nucci (2016) pode-se entender que a infração penal, na qual provocar dano à vítima, poderá ser passível de ação civil ex delicto. Assim o ofendido ou seus representantes legais por meio de seu advogado faculta enveredar pelos dois modos. Távora (2016) explica que cabem ao ofendido duas estratégias, a primeira é esperar a sentença ser proferida pelo juiz penal para se ter constituído a obrigação e, assim, pode executá-la por meio do título, ou a segunda opção, que é não aguardar o trânsito em julgado e de imediato peticionar a ação de conhecimento em sede cível, a fim de pleitear a obrigação de indenizar. Assim, na hipótese do ofendido escolher a primeira opção e requerer na peça processual penal a ação ex delicto e esperar o fim da sentença pena condenatória, nos moldes do código de processo penal [art. 63], será dado a ele um título executivo judicial, o qual deverá ser executado na justiça civil.pode-se, portanto, concluir que a sentença penal condenatória já resolvia a questão de mérito sobre a responsabilidade civil do réu condenado. O aspecto diferencial sobre como era a sua aplicabilidade antes da lei que modificou o código de processo penal é a respeito da liquidez do título executivo derivado da sentença penal condenatória. Visto que segundo Pacelli (2017) o título executivo em sentença condenatória era ilíquido, em consequência disso, terá que ter procedimento para torná-lo líquido em sede cível. Assim, caso os legitimados requeira o instituto na peça penal e posterior sobrevier à sentença condenatória do réu, deverá o ofendido abrir demanda na justiça civil para que o título executivo deixe de ser ilíquido. Dessa forma, para corroborar a questão da iliquidade dentro do instituto jurídico aqui debatido, é importante expor uma jurisprudência julgada em 1999 pelo Tribunal de Justiça do Paraná: APLICABILIDADE CIVIL - AÇÃO DE REPARACAO DE DANOS DECORRENTES DE ATO ILICITO - ACIDENTE DE TRÂNSITO EM RODOVIA COM MORTE - PREJUIZOS ESTIMADOS EM QUANTIA CERTA - CONDENACAO EM IMPORTANCIA ILIQUIDA – ARTIGO 8“Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal. § 1 o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para: [...] b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;” (BRASIL 1941) 9 [...] 8. Quando o autor tiver formulado pedido certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida (art. 459, parágrafo único, CPC). Nulidade relativa e sanável em segunda instância. [...] 9. A pensão é devida na proporção de um salário para cada um dos autores, nos termos do pedido inicial. (PARANÁ, 1999) Dessa forma, entende-se que a obrigação de indenizarjá existe pós sentença condenatória, porém para torná-la líquida, era preciso o ofendido demandar no juízo civil para saber o quanto de dano a ser pago, a titulo indenizatório. Assim, sobrevindo decisão civil, poderá a vítima receber o valor pleiteado. Além disso, vale a pena trazer à baila o contexto doutrinário à época antes da reforma de 2008. Segundo Tourinho Filho (2002), não havia regra legal para impor a quantidade indenizatória a titulo de reparação civil, logo, ficava a critério do juiz cível determiná- la dependendo de cada caso concreto. Dessa forma, por exemplo, se Tício rouba veículo automotor de Maria, em decorrência disso, tiver causado danos, e recair como obrigação secundária para o ofensor a reparação dos danos causados dentro da sentença condenatória. Deverá Maria postular a demanda em juízo cível, a fim de que seja determinada a quantia que deverá ser paga por Tício a título indenizatório. Pode-se dizer, portanto, que antes da pequena reforma do código de processo penal estava em vigor esse procedimento, dessa forma, tornando o título ilíquido e, em consequência disso, causando a vitima mais mora para obter a devida indenização. É importante frisar que todos os procedimentos supracitados eram feitos pelo código de processo civill de 1973, visto que antes da mudança do código de processo penal, não se tinha ainda em vigor o código de processo civil de 2015. Assim, no tocante à ação de execução do título, o procedimento processual era determinado, em regra, pelo (art. 475-N)9 do código de processo civil de 1973, por Avena (2017). Com a entrada efetiva do novo código de processo civil de 2015 ficou responsável por essa matéria executória o (art. 515)10. Portanto, deve-se ter em nota que quando estava em atividade o código de processo penal, antes da reforma, no mesmo período também estavam sob as regras do anterior código de processo civil. O último aspecto antes de entrar na lei que modificou o instituto ex delicto. Deve-se trazer em voga como a doutrina já observava a necessidade da modificação do instituto. Havia uma tendência, entre os juristas pátrios, no sentido de incluir no Código Civil norma estabelecendo um quantum viável, cabendo, então, ao árbitro do juiz, entre aqueles dois polos (um mínimo e um máximo), fixar a 9 “Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: [...] II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; [...] “Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso.” (BRASIL, 1973) 10 “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: [...] VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; [...] § 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias.” (BRASIL 2015) 10 importância devida, contendo, assim, a quantificação dentro do razoável e impedindo, por outro lado, que a reparação se converta em safada fonte de enriquecimento (TOURINHO FILHO, 2002, p. 19) Assim, pode-se dizer que havia uma vontade entre os doutrinadores para ser determinada uma modificação legislativa, com a finalidade de se ter uma quantidade certa do que iria se pagar a título de indenização. No entanto, a modificação não veio com todos os aspectos e da forma citada pela doutrina. Por outro lado, a modificação veio através do código de processo penal e com advento da reparação mínima para o ofendido. A lei que modificou e trouxe novos dispositivos para a ação ex delicto foi à lei ordinária 11.719 de julho de 2008, que trouxeram aspectos muito mais benéficos à vítima que sofra dano por um ilícito penal. Dentre tantas modificações, destacam-se elementos procedimentais que modificaram a ação ex delicto que deram mais vantagens ao ofendido para sua pretensão indenizatória. Primeiro aspecto relevante é a modificação do (art. 63) do código de processo penal, pois foi incluído o parágrafo único. ”Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387[...]” (BRASIL, 2008). Assim, o parágrafo único passou a obter outro caminho para se fixar um valor na ação ex delicto. A segunda mudança do instituto foi no artigo 387 do código de processo penal que inseriu o (inciso IV) “fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;” (BRASIL, 2008). Logo, esse dispositivo do código de processo penal combinado com (art. 63) estará efetivando a reparação mínima do ofendido que sofreu dano por ilícito. Segundo Nucci (2016), o ofendido poderá, por meio de seu advogado, requerer um valor mínimo reparatório dentro da peça processual penal que deverá ser fixado na sentença condenatória. Dessa forma, pode-se dizer que pelo menos a vítima terá, após sentença condenatória, imediatamente, uma quantia que será executada na seara cível. Além disso, como assegura Pacceli (2017), não embarga na parcela mínima imposta na sentença condenatória fixações de reparações a título de danos morais, conforme também jurisprudência do Supremo Tribunal de justiça: RECURSO ESPECIAL Nº 1.538.324 - DF (2015/0141462-3) RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS RECORRIDO : F N DE S ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto por MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS,[...] APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO CORPORAL PRATICADA NO ÂMBITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. CRIME DE EXPOSIÇÃO A PERIGO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. REPARAÇÃO DE DANO MORAL[...]De todo modo, a jurisprudência atual deste Superior Tribunal de Justiça caminha no sentido inverso, reconhecendo a possibilidade de fixação de valor mínimo, à título de reparação moral. (BRASIL, 2017) Assim, a intenção do legislador ao instituir essas modificações, foi aumentar as chances da vítima obter a reparação do dano causado pelo infrator, já que antes da reforma não havia a fixação da parcela mínima do dano, tendo que ser discutida em sede da justiça cível. Ademais, às vezes, ocorria da vítima nem querer mais ir à frente à demanda por ser moroso e causar um grande dissabor. Baseando-se na ideia de Nucci 11 (2016), imagine que a pessoa sofra um crime doloroso, esse ofendido terá que esperar todo o trâmite moroso penal para, assim, ter a condenação do réu, além disso, esperar toda a discussão para tornar líquida a obrigação imposta na sentença condenatória. Entende-se, portanto, que seria uma frustração a mais requerer a reparação do dano na justiça penal e de lá sair com nada líquido, embora já se tenha reconhecido a obrigação indenizatória do ofensor. Pode-se dizer, assim, que o a ação ex delicto, após a reforma, ganhou um fôlego a mais para o ofendido e ao instituto. Pois deu mais eficiência, em consequência disso, poderá ter cada vez mais essa espécie de requerimento na justiça criminal. Além disso, a reparação mínima não embarga a pretensão da vítima de obter quantia de outros valores decorrente de maiores danos, os quais não foram decretados na sentença condenatória a título de valor mínimo indenizatório. Conforme Avena (2017) a reparação é um acrescimento do instituto que tem a finalidade de antecipar a indenização e liquidar imediatamente no juízo cível. Logo, diferentemente de como ocorria antes da modificação, o valor mínimo decretado pelo juízo criminal seria aplicado em sede cível sem ter que ser apurado a quantidade reparatória da indenização na seara civil. Desse modo, pode-se afirmar que havia uma antecipação do direito da vítima. Nãoimpedindo que esta venha requerer as demais parcelas a titulo indenizatório. Segundo leciona Nucci (2016), se houver transitado em julgado a sentença condenatória e o valor estipulado pelo juízo criminal for inferior ao pretendido pela vítima, torna-se possível renovar a discussão indenizatória no cível. Tem firmado precedente no Supremo Tribunal Superior que corroboram essa questão, conforme decisão da Ministra Maria Thereza de Assis Moura: RECURSO ESPECIAL Nº 1.641.256 - DF (2016/0314841-0) RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS RECORRIDO : DOMINGOS BRAZ DOS SANTOS ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSO PENAL. REPARAÇÃO CIVIL DO DANO CAUSADO PELA INFRAÇÃO PENAL. ART. 387, IV, DO CPP. ABRANGÊNCIA. DANO MORAL. POSSIBILIDADE. RECURSO [...] ao impor ao juiz penal a obrigação de fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pelo delito, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, está-se ampliando o âmbito de sua jurisdição para abranger, embora de forma limitada, a jurisdição cível, pois o juiz penal deverá apurar a existência de dano civil, embora pretenda fixar apenas o valor mínimo. Dessa forma, junto com a sentença penal, haverá uma sentença cível líquida, e mesmo que limitada, estará apta a ser executada.[...] Nos termos do art. 387, inciso IV do Código de Processo Penal, condeno o réu ao pagamento de R$ 500,00 (quinhentos reais) a título de danos morais causados às vítimas, corrigidos pelos índices oficiais a partir desta sentença (Súmula 362 do STJ), acrescido, ainda de juros de 1% conforme o que reza o art. 406 do Código Civil c/c art. 161, § 10, do Código Tributário Nacional, a partir da citação. Trata-se de valor mínimo indenizável, o que não afasta a possibilidade de ação na área cível com apresentação de outras provas. (BRASIL, 2017) Diante do exposto, pode-se afirmar que havendo transitado em julgado a sentença condenatória e a parcela indenizatória a titulo de reparação for pífia. Não embarga o ofendido de postular um valor satisfatório em sede da justiça civil. No entanto, somente caso haja elementos probatórios suficientes que dará azo à quantia maior a titulo de indenização. Ou ainda, se houver mais danos, os quais não http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643326/artigo-387-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643149/inciso-iv-do-artigo-387-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643326/artigo-387-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643149/inciso-iv-do-artigo-387-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10705396/artigo-406-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10569776/artigo-161-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984008/c%C3%B3digo-tribut%C3%A1rio-nacional-lei-5172-66 12 foram discutidos na justiça criminal. Portanto, as modificações trazidas pelo legislador de 2008 deu ao instituto da ação ex delicto mais contundência a fim de alcançar mais eficácia no direito pretendido da vítima. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em tempos atuais, tem crescido a relevância da no tocante à reparação da vítima que sofre danos por fato típico penal, visto que além dos dissabores do crime, em muitos casos, elas sofrem danos materiais e morais sérios. Por isso, se faz necessário a criação de eficientes institutos para mitigarem a dor e a violência sofridas pelo ofendido. Se cada vez mais o autor do crime sofrer danos patrimoniais, isso irá refletir nos índices penais, ademais, dará ao ofendido mais alento para buscar uma compensação pelo dano. Historicamente, no Brasil já se tinha previsto a responsabilidade civil por ato criminoso positivado dentro do código criminal brasileiro de 1830. Note-se que já havia aspiração para se alcançar os interesses do ofendido, tal como é pretendido nos dias atuais. Além disso, é preciso ter institutos cada vez mais fortes e sólidos, dessa forma, tal conduta terá como reflexo mais eficiência na proteção dos interesses e garantias da vítima. São objetivos principais debatidos ao longo do presente artigo científico em caráter de trabalho de conclusão de curso, os aspectos gerais do instituto ex delicto no direito processual brasileiro atual e sobre a origem da reparação decorrente de ato criminoso. Além disso, demonstrar como a fixação da reparação mínima da vítima em sentença condenatória trouxe um procedimento mais breve e eficaz para a satisfação do dano do ofendido. Nesse sentido, este trabalho conseguiu corroborar e informar aspectos sobre o instituto, além de trazer elementos relevantes para se alcançar, pelo menos, a parcela mínima para a satisfação do prejuízo causado à vítima dentro de um tempo mais célere que antes. No campo procedimental da norma, destacou-se a importância de como a reparação civil derivada de crime é tratada aqui no Brasil e a sua aplicabilidade antes e depois da reforma. Além disso, os aspectos notórios do título executivo líquido que trouxe para a vítima mais segurança na reparação do dano sofrido, outrora, antes da reforma não ocorria. Além disso, a responsabilidade civil por ato ilícito também encontra respaldo constitucional (art. 5°, v). Ademais, há também dispositivos relevantes abarcado no direito material, principalmente, referentes ao código civil e penal, pois estes tratam de aspectos da conexão entre as duas matérias como, por exemplo, no (art. 186) do código civil e (91, I) do código penal. No Brasil, quanto maior for o ânimo do legislador em valorizar a vítima, a fim de tutelar seus direitos e garantias, teremos uma república cada vez mais democrática e segura para sociedade. Nesse sentido, o legislador de 2008 atuou com essa verve, pois instituiu a lei 11.719/2008 que passou a dar mais eficácia no instituto ex delicto. Em suma, na medida em que a sociedade cresce, fica cada vez mais notória a importância dos cientistas criminais em desenvolverem estudos mais profundos sob o prisma do papel da vítima de crime na sociedade, principalmente, no que se tangem os prejuízos a ela causados. 13 REFERÊNCIAS AVENA, Noberto Claudio Pâncado. Processo penal. 9. ed. Rio de Janeiro: FORENSE, 2017 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 25 out. 2019. BRASIL. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal., 1941. Disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 06 nov 2019. BRASIL. DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941. Código de Processo Penal.[1941]. Disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689compilado.htm. Acesso em: 02 nov 2019. BRASIL. LEI N o 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973. Institui o Código de Processo Civil., 1973. Disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm. Acesso em: 20 nov 2019. BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Extraordinário:135328/SP. Recorrente Estado de São Paulo. Recorrido: Ministério Público no Estado de São Paulo. Relator: Min Marco Aurélio, 29 de junho de 1994. Disponivel em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/747816/recurso-extraordinario-re-135328- sp. Acesso em: 18 nov. 2019. BRASIL. LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil., 2002. Disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm.Acesso em: 05 nov 2009. BRASIL. LEI Nº 11.719, DE 20 DE JUNHO DE 2008. 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Penal e processo penal. Reparação civil do dano causado pela infração penal. Art. 387, iv, do cpp. Abrangência. Dano moral. Possibilidade. Recurso provido. Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Recorrido: Domingos Braz dos Dantos. Relatora Min. Maria Thereza de 14 Assis Moura, 13 de março de 2017. Disponivel em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/442870478/recurso-especial-resp-1641256- df-2016-0314841-0. Acesso em: 21 nov. 2019. BRITO, Alexis Couto de.; FABRETTI, Humberto Barrionuevo; LIMA, Marco António ferreira de. Processo penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 19. ed. Niterói: [s.n.], v. 1, 2017. Não paginado. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 5ª. ed. Salvador: JusPodivm, v. volume único, 2017. LOPES JR, Aury. Direito processual penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. NUCCI, Gulherme de Suza. Manual de processo penal e execução penal. 13ª. ed. 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