Buscar

Controle Administrativo, Legislativo e Judicial da Administração Pública

Prévia do material em texto

Universidade de Ribeirão Preto
Faculdade de Direito Laudo de Camargo
Curso de Direito
Controle Administrativo, Legislativo e Judicial da Administração Pública
MARIA EDUARDA CASTRO CORRÊA
RIBEIRÃO PRETO
Novembro/2020
CONTROLE ADMINISTRATIVO, LEGISLATIVO E JUDICIAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
RESUMO
Este presente trabalho acadêmico tem como finalidade tratar sobre o controle da Administração Pública, abordando, mais especificamente, uma espécie de cada tipo de controle: Administrativo, Legislativo e Judicial. 
1 INTRODUÇÃO
O controle da Administração Pública pode ser denominado como um conjunto de instrumentos jurídicos pelo quais se exerce o poder de fiscalização e revisão das atividades administrativas, alcançando todas as esferas de Poder. 
Devido a necessidade de um controle maior sobre os órgãos administrativos, o poder constituinte, por meio da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, instituiu a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional do Ministério Público, aos quais competem o controle da atividade administrativa e financeira do judiciário e do MP, ademais possuem a função de tutelar pelo acatamento dos princípios administrativos previstos no artigo 37 da Constituição, inclusive no que tange a legalidade dos atos de suas administrações. 
É sabido que a Administração tem o dever de buscar e gerir o interesse coletivo, contudo, a sua forma de atuação não é livre, existem parâmetros estabelecidos em lei que devem ser observados. 
Isto posto, os mecanismos de controle da administração têm como finalidade assegurar a garantia dos administrados e da própria administração no sentido de ver atingido os seus objetivos e não serem ofendidos direitos atinentes aos indivíduos nem aos preceitos administrativos. 
Foi relacionado ao decreto-lei nº 200/1967, cinco princípios fundamentais aos quais a administração deverá estar atrelada, quais sejam: o planejamento, a coordenação, a descentralização, a delegação de competência e o controle (Art. 6º, I a V). A inserção do controle como princípio fundamental do aludido diploma legal tem como finalidade evidenciar sua indispensabilidade à execução das atividades administrativas do Estado, não sendo possível a recusa deste por nenhum órgão administrativo. 
As formas de controle da Administração são divididas em categorias, conforme alguns critérios estabelecidos, neste estudo iremos analisar a classificação quanto à natureza do órgão controlador, que se divide em: controle legislativo, judicial e administrativo.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Controle Administrativo 
De acordo com entendimento de Di Pietro (2020, p. 1663), o controle administrativo:
“[...] é o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública (em sentido amplo) exerce sobre sua própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação”.
No âmbito federal, conforme Decreto-lei nº 200/67, denomina-se esse controle de supervisão ministerial. Possui abrangência sobre os órgãos da Administração Direta e as pessoas jurídicas que integram a Administração Indireta. 
Trata-se, portanto, de controle interno, aquele que ocorre sobre os órgãos da Administração Direta decorrente do chamado poder de autotutela. Esse poder autoriza à Administração Pública a rever os próprios atos quando ilegais, por meio da anulação, ou quando forem inconvenientes, por via da revogação. Esses são exemplos de mecanismos de controle. 
Tal entendimento é reconhecido de forma explícita pelo Poder Judiciário na Súmula nº 346 do STF “A Administração Pública pode declarar a nulidade de seus próprios atos”; e Súmula nº 473 STF: 
“A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”.
Seguindo esse viés, vejamos o julgado do Supremo Tribunal Federal: 
“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. INCORPORAÇÃO NO SERVIÇO ATIVO DA AERONÁUTICA APÓS A EDIÇÃO DA PORTARIA 1.104/GM3-64. AUSÊNCIA DO DIREITO À ANISTIA. PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. TEMPESTIVIDADE. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. I - Em razão do poder de autotutela, a Administração Pública pode declarar a nulidade de seus próprios atos, quando eivados de vícios que tornem ilegais, ou revogá-los, por motivo de conveniência e oportunidade. II - Agravo regimental improvido.” (RMS 25596, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. RICARDO LEWANDOWSKI (ART. 38. IV, b, do RISTF), Primeira Turma, julgado em 01/04/2008, DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-2009 EMENT VOL-02363-02 PP-00389). 
Quando a autoridade competente perceber ilegalidade sobre os próprios atos ou sobre ato de seus subordinados, o controle pode ser exercido ex officio; por outro lado, poderá ser provocado através de recursos administrativos pelos administrados. 
Em contrapartida, o controle sobre as entidades da Administração Indireta, também denominado de tutela, se difere do item anterior tendo em vista que se trata de um controle externo, que só pode ser desempenhado respeitado os limites estabelecidos em lei, sob pena de transgredir a autonomia assegurada que lhes é assegurada em lei. 
2.2 Controle Legislativo 
O controle realizado pelo poder Legislativo sobre a Administração Pública é limitado às formalidades dispostas na Constituição Federal, por excepcionar a independência funcional, ou seja, importar interferência de um Poder nas atribuições dos demais. Por tanto, não são permitidas previsão de outras modalidades de controle que não seja as constantes na Constituição Federal.
Consoante ao entendimento de José dos Santos (2019, p.1401), o controle legislativo possui duas espécies distintas, controle político sobre o próprio exercício da função administrativa e controle financeiro sobre a gestão dos gastos públicos dos três poderes. Será analisado a seguir de forma mais aprofundada, o controle político. 
O controle político tem como característica a possibilidade de fiscalização e decisão do Poder Legislativo sobre atos ligados à função administrativa e de organização do Executivo e do Judiciário. 
Vários aspectos desse controle são apontados na Constituição. Dentre eles podemos ressaltar o disposto do artigo 49, X, da CF, que estabelece que compete de forma exclusiva ao Congresso Nacional controlar e fiscalizar, de modo direto, ou por qualquer das Casas, as ações do Poder executivo, compreendendo a administração direta e indireta. 
Por um lado, o dispositivo é específico quando se refere ao Executivo, contudo se torna genérico devido o fato de abranger qualquer tipo de ato, tanto da Administração direta, quanto das entidades integrantes da administração indireta. 
Exemplificando, caso haja necessidade de apuração sobre a legalidade de ato do presidente de uma empresa pública ou de uma fundação governamental, o Congresso, ou qualquer uma de suas Casas possuem prerrogativa constitucional para fazê-lo.
Vejamos acordão que ilustra o aludido artigo: 
DIREITO CONSTITUCIONAL - REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA - REQUISIÇÃO DE DOCUMENTOS PELA CÂMARA MUNICIPAL - ATRIBUIÇÃO FISCALIZATÓRIA - ARTIGO 49, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - NEGATIVA DA AUTORIDADE COATORA - AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA RAZOÁVEL - VIOLAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO - SEGURANÇA CONCEDIDA - SENTENÇA CONFIRMADA. - O Poder Legislativo municipal tem o direito e o dever de fiscalizar e controlar os atos do Executivo, por força da interpretação extensiva conferida ao artigo 49, inciso X, da Constituição Federal; de forma que, se há prova pré-constituída, indicando a negativa, pelo Membro do Poder Executivo de fornecimento de documentos formalmente requeridos, sem justificativa razoável, a concessão da segurança é medida que se impõe.(TJ-MG - Remessa Necessária-Cv: 10508140018534001 MG, Relator: Moreira Diniz, Data de Julgamento: 23/08/2018, Data de Publicação: 28/08/2018)2.3 Controle Judicial 
O Controle Judicial é o poder de fiscalização que os órgãos do Poder Judiciário exercem sobre os atos administrativos do Executivo, do Legislativo e do próprio Judiciário.[footnoteRef:1] [1: HELY LOPES MEIRELLES, Direito administrativo brasileiro, cit., 29. ed., 2004, p. 603.] 
O Poder jurídico se distancia dos interesses políticos aos quais se figuram constantemente o Executivo e Legislativo.
Este controle sempre será realizado mediante provocação, prévia ou posterior. Cabe ao Poder Judiciário julgar uma determinada pretensão a qual busca a correção, a invalidação, a modificação ou a anulação de determinado ato administrativo.
Existem vários instrumentos que viabilizam esse controle, por exemplo: o Mandado de Segurança Individual e Coletivo, previsto no art. 5º, LXIX e LXX, da CF e Lei n. 12.016/2009; Ação Popular, previsto no art. 5º, LXXIII, da CF e Lei n. 4.717, de 29.06.1965; Ação Civil Pública, prevista no art. 129, III, da CF, Lei n. 7.347, de 24.07.85 e Lei n. 8.437, de 1º.07.1992; Mandado de Injunção, previsto no art. 5º, LXXI, da CF e Lei n. 13.300, de 23.06.2016; Habeas data; e Ação Direta de Inconstitucionalidade, previsto no art. 102, I, “a”, da CF. Neste momento, iremos analisar a Ação Popular. 
Ação Popular trata-se de um remédio constitucional pelo qual se pretende, de forma preventiva ou repressiva, a anulação de algum ato lesivo contra o patrimônio público direito ou indireto; à moralidade administrativa; ao meio ambiente ou ainda ao patrimônio histórico e cultural. Sua finalidade é defender os interesses da coletividade. 
Conforme o artigo Art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal, a legitimidade ativa da Ação Popular pertence a “qualquer cidadão”. A esse respeito esclarece a Súmula 365 do STF, a necessidade de ser uma pessoa física, excluindo desde já as pessoas jurídicas 
“Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular”. Para fins de Ação Popular, entende-se que cidadão é todo brasileiro em pleno gozo de seus direitos políticos, devendo inclusive comprovar que votou na eleição anterior ao ajuizamento da ação”.
Os legitimados passivos desta ação são a pessoa jurídica de direito público que esteja vinculado ao ato, as autoridades, funcionários e administradores que participaram do ato, assim como todos os beneficiários direitos ou indiretos, integrantes ou não da Administração Pública. 
Necessário se faz frisar o papel do Ministério Público, que participa da ação como parte autônoma. Cumprindo sua função de fiscal da Lei, lhe sendo assegurado o poder de tomar qualquer posicionamento no processo, tanto em defesa do ato, quanto do réu.
Caso ocorra a procedência da ação, sua natureza será erga omnes, no entanto, caso seja improcedente por deficiência de provas por parte do autor, terá efeito inter partes, neste último caso, nada impede que outro cidadão ingresse com ação idêntica, melhor desenvolvida. 
Vejamos um julgado que melhor elucida as informações expostas:
AÇÃO POPULAR. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SÚMULA nº 329 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Consoante o disposto na súmula nº 329 do Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público tem legitimidade para propor Ação Civil Pública em defesa do patrimônio público. Pretensão autoral que é a condenação dos réus por atos de improbidade administrativa. Autor popular, pessoa física, não se submete à previsão contida no artigo 17 da Lei nº 8.429192, sendo, pois, parte ilegítima para requerer a aplicação das sanções cominadas na Lei de Improbidade. Manutenção da decisão recorrida. Recurso a que se nega seguimento na forma do artigo 557caput do Código de Processo Civil. (TJ-RJ - APL: 00085595420108190045 RIO DE JANEIRO RESENDE 2 VARA CIVEL, Relator: MARILIA DE CASTRO NEVES VIEIRA, Data de Julgamento: 17/11/2014, VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 28/11/2014). 
3 CONCLUSÃO
Como base no que foi apresentado no decorrer deste trabalho, pode se concluir que o controle representa mecanismo de ajustamento ou correção de atos praticados por aqueles que estão no exercício da atividade administrativa, pois, como nosso país é pródigo em exemplos, a sua ausência gera desperdício e mau uso dos recursos públicos, facilitando, inclusive, a corrupção e os desvios, obrigando a sociedade a arcar com custos maiores, o que o torna um importante instrumento democrático.
REFERÊNCIAS
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo. Atlas, 2019.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 33. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 12. ed. – São Paulo. Saraiva Educação, 2018
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 9. ed. São Paulo. Saraiva Educação, 2019.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes