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APRESENTAR AS TRÊS CORRENTES EXISTENTES NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA SOBRE A CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE COM O FALECIDO, APONTANDO AS JUSTIFICATIVAS QUE DEFENDEM A APLICAÇÃO DE CADA CORRENTE, BEM COMO OS PRINCIPAIS DUTRINADORES E SUA APLICAÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA No regime de comunhão parcial de bens, nos termos do artigo 1.829,I, CC o cônjuge somente concorre com os descendentes quando houver bens particulares do de cujus, ou seja, quando não houver bens particulares não herdará nada, isso porque o cônjuge sobrevivente será meeiro da totalidade do que houver, essa questão suscita debate na doutrina que apresenta três correntes: PRIMEIRA CORRENTE Havendo meação, o cônjuge só concorrerá em relação aos bens particulares. Esta corrente deriva do Enunciado 270, da III Jornada de Direito Civil, da Justiça Federal, que dispõe: Enunciado 270: Art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito a concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da separação convencional de bens, ou, se casados nos regime da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes. O dispositivo prevê que a concorrência do cônjuge sobrevivente está limitada apenas aos bens particulares do autor da herança de modo que os bens comuns serão partilhados entre os seus descendentes. GONÇALVES 1 esclarece, que bens particulares são aqueles que o falecido possuía ao casar, ou aqueles que sobrevieram na constância do casamento, por doação ou sucessão e os que ficaram sub-rogados em seu lugar. Segundo TARTUCE e SIMÃO, os principais adeptos desta corrente são: Flávio Monteiro de barros, Eduardo de Oliveira Leite, Christiano Cassettari, Francisco José Cahali, Gustavo Rene Nicolau, Jorge Shiguemitsu Fujita, Mario Delgado, 1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 7: Direito das Sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 122. Euclides de Oliveira, Sebastião Amorim, Rodrigo da Cunha Pereira, Rolf Madaleno e Zeno Velos2 Dessa forma, se os de cujus deixou bens particulares, são quanto a estes bens que o cônjuge participará na herança, excluindo-se os bens adquiridos na constância do casamento, pois estes bens são objetos de meação que decorre do regime do matrimônio, e não sucessório, ainda, quando não houver bens particulares, o cônjuge somente terá direito a meação. No mesmo sentido, os tribunais tem adotado tal entendimento, conforme: AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUCESSÃO DO CÔNJUGE. ART. 1829, I DO CÓDIGO CIVIL. CASAMENTO SOB O REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. MEAÇÃO SOBRE OS AQUESTOS E DIREITOS HEREDITÁRIOS APENAS SOBRE OS BENS PARTICULARES. Quando casados sob o regime da comunhão parcial de bens, a sucessão do cônjuge defere-se ao sobrevivente em concorrência com os descendentes apenas em relação ao bens particulares, uma vez que sobre os bens comuns, já lhe tocará a meação. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70046234498, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 26/01/2012 De cujus casado no regime de comunhão parcial e que deixa bens particulares proporciona concorrência do cônjuge com descendentes sobre metade dos bens particulares [art. 1829, I, do CC]. Provimento, em parte. (TJSP; AI 635.958.4/1; Ac. 3651464; Araçatuba; Quarta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani; Julg. 14/05/2009; DJESP 15/06/2009). SEGUNDA CORRENTE O cônjuge sobrevivente herdará não apenas os bens particulares, mas sim todo o acervo hereditário. Esta posição é majoritária, TARTUCE e SIMÃO esclarece que há argumentos favoráveis que defendem a ideia de que o cônjuge participaria da sucessão na totalidade da herança.3 GONÇALVES aponta que esta é a posição defendida por Maria Helena Diniz, conforme: O assunto tem-se mostrado polêmico. Alguns autores sustentam que a participação do cônjuge se dará sobre todo o acervo, em virtude do princípio da indivisibilidade da herança. Nesse sentido o posicionamento de Maria Helena Diniz : “Para tanto, o consorte sobrevivo, por força do art. 1.829, I, só poderá ser casado sob o regime de separação convencional de 2 TARTUCE, Flavio, SIMÂO, José Fernando. Direito civil: direitos das sucessões. 2ª ed. São Paulo: Método, 2008. p.179. 3 Ibidem. p. 180. bens ou de comunhão parcial, embora sua participação incida sobre todo o acervo hereditário e não somente nos bens particulares do de cujus”25. Aduz a mencionada autora: “Meação não é herança, pois os bens comuns são divididos, visto que a porção ideal deles já lhe pertencia. Havendo patrimônio particular, o cônjuge sobrevivo receberá sua meação, se casado sob regime de comunhão parcial, e uma parcela sobre todo o acervo hereditário”.4 Maria Helena Diniz5, fundamenta esta tese argumentando que a herança é indivisível, deferindo-se como um todo unitário, dessa forma não faz sentido dividir somente nas hipóteses em que o cônjuge concorre na sucessão hereditária; ; quando o cônjuge sobrevivente é ascendente de herdeiros terá a garantia de ¼ da herança, de modo que essa fato é incompatível com a quase exclusão; se o cônjuge é herdeiro necessário não faz sentido garantir-lhe a legitima se não irá herdar nada dessa garantia; e meação e herança são institutos diversos de modo que no falecimento a meação do falecido passa a integrar o seu patrimônio, com isso não há motivos para destaca-las para fins de herança. Veja que os doutrinadores entendem que a meação não é herança, por isso o cônjuge deve concorrer com os descendentes com a totalidade do patrimônio. Em sentido contrário, alguns doutrinadores entendem que o cônjuge sairia com vantagem excessiva, em desfavor dos herdeiros, configurando bis in idem, pois o cônjuge tocará sua metade dos bens e entrará em concorrência com os descendentes na outra metade, o que faz surgir a terceira corrente. TERCEIRA CORRENTE A concorrência sucessória só ocorre com relação os bens comuns e não com relação os bens particulares, decorrência do direito de família, o cônjuge só concorre no bem comum, uma extensão do direito de família. Não é adotada A terceira corrente que se formou para a interpretação do art. 1.829, I, do CC/02, inverte as ideias defendidas pelas anteriores. Encabeçada por MARIA BERENICE DIAS6, defende que a sucessão do cônjuge fica excluída na hipótese de o falecido ter deixado bens particulares. 4 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 7: Direito das Sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 122 5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 6: direito das sucessões – 20a ed. rev. e atual. De acordo com o Novo Código Civil – São Paulo: Saraiva, 2006, págs. 124 e 124 6 DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. 2. Ed. P. 154. BDJUR. STJ.p. 154. A ideia defendida por Maria Berenice Dias vai no sentido de que não haveria razão para a concorrência sucessória no tocante aos bens particulares, pois estes não são decorrentes do esforço comum do casal, por isso quanto aos bens comuns o maus acertado seria se o cônjuge além de meeiro concorresse com os descendentes pois a herança seria fruto da constância do casamento.7 REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICAS DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 6: direito das sucessões – 20a ed. rev. e atual. De acordo com o Novo Código Civil – São Paulo: Saraiva, 2006. TARTUCE, Flavio, SIMÂO, José Fernando. Direito civil: direitos das sucessões. 2ª ed. São Paulo: Método, 2008. DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. 2. Ed. P. 154. BDJUR. STJ. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 7: Direito das Sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 7DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. 2. Ed. P. 154. BDJUR. STJ.p. 154.
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