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CADERNO PROCESSO PENAL II - PROF NESTOR TÁVORA

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Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
1. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 
Conceito de jurisdição 
A jurisdição simboliza a ação de dizer o direito (juris dictio). Mas essa 
expressão não simboliza a própria concepção do instituto. Jurisdição é um poder-
dever projetado na CF/88 e usualmente entregue ao judiciário, para que este 
aplique a lei ao caso concreto, objetivando solucionar a demanda penal (que não 
se confunde com lide). Como a autotutela foi banida, em regra, do ordenamento, 
coube ao Poder Judiciário a missão constitucional de certificar o direito, 
dirimindo as demandas que lhe são apresentadas. 
OBS: Segundo Jacinto Coutinho, não temos lide no processo penal. Não 
temos conflito. O conceito tradicional de lide é inaplicável ao processo penal, já 
que teremos confluência de interesses, pois a acusação e a defesa almejam o justo 
provimento jurisdicional em um prazo razoável. Portanto, a ideia de lide como 
conflito de interesses é incompatível com o papel constitucional do Ministério 
Público. 
Conceito de competência 
É inimaginável que um só órgão resolvesse todos os conflitos num país 
continental. Segundo Tourinho Filho, competência é o âmbito, legislativamente 
delimitado, dentro do qual o órgão exerce o seu Poder Jurisdicional. Ou seja, a 
competência é conceituada como a medida ou delimitação da jurisdição. É uma 
forma de limitar o poder. 
A competência, portanto, é a quantidade de poder, conferido por lei, a 
um juiz ou a um tribunal, especificando o perímetro de sua atividade. Falar de 
competência é falar de delimitação de poder, pré-orquestrado em lei, e que 
ambienta o perímetro de atuação do juiz. 
2. CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Temos três critérios mais importantes de fixação da competência: (a) em 
razão da matéria; (b) em razão do lugar; (c) em razão da pessoa. 
2.1. COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE (EM RAZÃO DA 
MATÉRIA) 
Conceito 
Tal critério nos entrega qual é a justiça competente para julgar um crime: 
Justiça Comum ou Justiça Especial. 
O critério em razão da matéria objetiva identificar qual a Justiça 
competente e os critérios de especialização, levando em conta a natureza da 
infração (art. 69, III, CPP). Ex: cabe à Justiça Eleitoral o julgamento dos ilícitos 
criminais eleitorais. 
Estrutura 
a) Justiça Comum 
a.1) Justiça Comum Estadual: a sua competência é residual, pois lhe cabe 
julgar o que a Constituição Federal não consignou para as demais justiças. Ou 
seja, é competente para apreciar, por exclusão, todas as infrações que não sejam 
da alçada da justiça especializada ou da justiça comum federal. Embora se diga 
que a competência é residual, fato é que a justiça estadual processa e julga a 
maioria dos crimes. 
a.2) Justiça Comum Federal: A competência da justiça federal não é 
residual, estando integralmente contemplada na Constituição. 
OBS: Enquadramento. Enquadra-se a competência da Justiça Federal em 
dois artigos, quais sejam, o art. 108, CF (competência dos TRF’s) e art. 109, CF 
(competência dos juízes federais de primeiro grau). ADVERTÊNCIA: Não é todo 
o artigo 109 que trata de competência criminal. Neste sentido, os incisos que 
tratam de competência criminal são os incisos IV e seguintes. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
b) Justiça Especial 
O grande exemplo é a Justiça do Trabalho. Porém não tem competência 
para apreciar matéria penal, portanto não será matéria de estudo. 
b.1) Justiça Especial Eleitoral: a sua competência se aproxima muito do 
comportamento do político em ano eleitoral. A Justiça Eleitoral vai julgar as 
infrações eleitorais, que estão positivadas no Código Eleitoral (anterior à 
Constituição, mas recepcionado por esta com status de Lei Complementar) e na 
Lei 9.504/1997. 
Além dessas, a Justiça Eleitoral vai julgar infrações comuns conexas ou 
atinentes ao crime eleitoral. Assim, a infração sai da Justiça Comum e vai à Justiça 
Eleitoral, não interessando se esse crime for federal ou estadual. 
OBS: Quando a Lava Jato eclodiu existiam crimes eleitorais, inclusive o 
caixa 2 de campanha e existiam crimes comuns (lavagem de dinheiro, corrupção 
ativa e passiva, concussão, peculato etc.). Moro ficou com os crimes comuns 
federais e os crimes eleitorais ficaram na Justiça Eleitoral. A matéria foi parar no 
STF e este falou que a Justiça Eleitoral julga crimes eleitorais e crimes comuns 
conexos, não interessando se esse crime comum é estadual ou federal. Julga tudo 
na Justiça Eleitoral. Mas essa decisão do Pleno do Supremo foi com eficácia ex 
nunc, ou seja, a partir deste julgamento. 
Assim, em resumo, à Justiça Eleitoral cabe julgar as infrações eleitorais 
e as infrações comuns interligadas por conexão ou continência, pouco 
importando se estaduais ou federais. (STF – Pleno – Inq 4435 AgR-quarto/DF – 
Rel. Min. Marco Aurélio – julgado em 14 mar. 2019) 
OBS: O Código Eleitoral foi recepcionado pela Constituição Federal com 
status de lei complementar. 
Infrações de menor potencial ofensivo: Temos no Código Eleitoral 
infrações de menor potencial ofensivo. Se eu tenho uma infração eleitoral de 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
menor potencial ofensivo, onde ela vai ser julgada? Existem juizados criminais 
eleitorais criminais? Não. Então a solução da jurisprudência foi que todas elas 
irão tramitar na Justiça Eleitoral, independentemente se são de menor potencial 
ofensivo ou não, tendo o Código Eleitoral um rito criminal próprio. 
Assim, em resumo, não existem Juizados Especiais Criminais Eleitorais. 
Logo, resta aplicarmos os institutos benéficos da Lei dos Juizados na Justiça 
Eleitoral, quais sejam: (a) composição civil dos danos; (b) transação penal; (c) 
suspensão condicional do processo. 
Ou seja, embora não se aplique a Lei dos Juizados nos crimes eleitorais de 
menor potencial ofensivo, os institutos benéficos da aludida Lei aplicam-se na 
justiça Eleitoral, isto é, composição civil dos danos, transação penal e suspensão 
condicional do processo. 
b.2) Justiça Especial Militar 
A Justiça Militar acaba seguindo um pouco a própria percepção que temos 
do Militar. Ambiente hermeticamente fechado, regramento próprio etc. A JM 
julga tão somente as infrações definidas nos artigos 9º e 10 do Código Penal 
Militar. Antes, até bem pouco tempo, a Justiça Militar julga apenas crime militar. 
Isso hoje está errado, pois quando Temer, antes de sair da presidência, em seu 
último ano, ele determinou a intervenção do Rio de Janeiro, com a justificativa 
de combate ao tráfico de drogas e crime organizado. O custo daquilo para o 
Estado, representou o custo de um ano de toda a Polícia Federal, atuando em 
todo o Brasil. Essa intervenção trouxe uma reforma no Código Penal Militar, pois 
os militares não queriam se submeter a isso. Assim, reformaram o Código Penal 
Militar, trazendo situações especiais onde crimes comuns também serão julgados 
na Justiça Militar, notadamente nas operações GLO (para garantir a lei e a 
ordem). 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Então desde o último mandato de Temer, a Justiça Militar julga crimes 
militares e, eventualmente, crimes comuns, dentro dos fatores circunstanciais 
trazidos na reforma do artigo 9º do Código Penal Militar. 
Dito isto, cabe à Justiça Militar julgar, tão somente, as infrações definidas 
nos artigos 9º e 10 do Código Penal Militar. 
Infrações de menor potencial ofensivo: nós temos crimes militares com 
pena de até 2 anos, mas não há uma Justiça Especial Penal Militar. Os institutos 
benéficos da Lei 9.099/95 são aplicados na esfera militar? O artigo 90-A proíbe a 
aplicação da Lei dos Juizados na esfera Militar. Portanto, NÃO HÁ A 
APLICAÇÃO SEQUER DOS INSTITUTOS BENÉFICOS, por disposição legal 
expressa. 
Dessa forma, a Leidos Juizados Especiais NÃO é aplicada na esfera 
militar, sem exceções (art. 90-A, Lei 9.099/95). 
Estrutura 
A Justiça Militar é bifurcada. O primeiro braço da Justiça Militar é a Justiça 
Militar Estadual. 
Justiça Militar Estadual: Ela julga, tão somente, os Policiais Militares e os 
Bombeiros Militares. 
Justiça Militar Federal: Lhe cabe julgar os membros das Forças Armadas: 
Marinha, Exército e Aeronáutica. Mas além desses membros, eventualmente, 
pode julgar pessoas comuns, se essas pessoas comuns incorrerem num crime 
militar federal. 
2.1.1. Competência pela natureza da infração 
O legislador pode estabelecer o órgão competente para julgar determinado 
tipo de crime, em razão da natureza daquela infração. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Visa analisar qual o juízo competente. Em comarcas de apenas um juiz, 
este, evidentemente, enfeixará nas mãos todas as competências. Será uma 
competência plena e caberá a um único magistrado dirimir todas as demandas, 
independentemente da natureza específica do delito. 
Em comarcas onde diversos magistrados possuem igual competência 
penal, a solução será dada pela distribuição, sem ter importância a natureza da 
infração penal. 
Todavia, em localidades onde existe pluralidade de julgadores, pode 
haver a divisão do trabalho, em face da especialização pela natureza da infração. 
A distribuição observará essa competência específica. 
ADVERTÊNCIA: A previsão pode ser fixada na Lei de Organização 
Judiciária e, até, na Constituição Federal. 
Hipóteses Constitucionais 
PRIMEIRA HIPÓTESE: O art. 74, do CPP confere à lei de organização 
judiciária o estabelecimento da divisão de trabalho entre vários juízes com igual 
competência territorial. Essa repartição pode adotar a natureza do delito como 
critério, ressalvada a competência privativa para os crimes dolosos contra a 
vida, pois estas infrações penais, necessariamente, serão apreciadas pelo 
tribunal do júri (art. 5º, XXXVIII, alínea “d”, CF/88). 
Ou seja, de acordo com o dispositivo constitucional acima elencado, os 
crimes dolosos contra a vida, por sua natureza, vão à Júri. Então a competência 
do Júri está fixada na Constituição, definida pelo critério da natureza da infração. 
OBS: Os artigos 121 a 128 do Código Penal apontam quais os crimes 
dolosos contra a vida. 
SEGUNDA HIPÓTESE: De acordo com o art. 98, inciso I, da CF/88, as 
infrações de menor potencial ofensivo, por sua natureza (menor potencial 
ofensivo), serão julgadas em um órgão, qual seja, o Juizado Especial Criminal. As 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
infrações de menor potencial ofensivo são (a) os crimes com pena máxima de até 
2 anos; e (b) as contravenções penais, pouco importando a quantidade de pena 
da contravenção (art. 61, da Lei 9.099/95). 
2.2. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI (EM RAZÃO DO LUGAR) 
Tal critério visa identificar o juízo territorialmente competente, 
considerando como parâmetro o local da consumação do delito, o domicílio ou a 
residência do réu. 
2.2.1. Regras 
2.2.1.1. PRIMEIRA REGRA: TEORIAS TERRITORIAIS 
I. Teoria do Resultado 
Por ela, a competência territorial é fixada pelo local da consumação do 
crime (art. 70, caput, CPP). A teoria do resultado, no Brasil, é apontada como regra 
geral. E quando o crime se consuma? Quando todos os elementos do tipo 
estiverem preenchidos. 
CONCLUSÃO 1: Ela é a regra geral. 
CONCLUSÃO 2: O crime está consumado quando são reunidos todos os 
elementos da sua descrição legal (art. 14, I, CP). 
II. Teoria da Ação 
A competência territorial é fixada pelo local do último ato de execução (art. 
70, caput, CPP). 
OBS: Aplicação. A teoria da ação é exceção, mas ela tem aplicação. Por 
exemplo: é aplicada aos crimes tentados, que são aqueles que não se consumaram 
por circunstâncias alheias à vontade do agente. Se não há consumação, fixa-se a 
competência territorial no local da ação. 
PRIMEIRA APLICAÇÃO: Crimes tentados (art. 14, inciso II, CP). 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
SEGUNDA APLICAÇÃO: O STJ vem dizendo, em precedentes 
contrariando lei federal (art. 70, CPP), que no caso de crime doloso contra a vida, 
se a morte ocorrer em um local diferente da execução, é melhor realizar o Júri no 
local da ação e não no local do resultado. Exemplo: sujeito A atirou no sujeito B 
em Feira de Santana e este morreu no hospital de Salvador. Segundo o CPP, o 
Júri será realizado em Salvador, pois lá que ocorreu a consumação do crime. 
Todavia, com os precedentes do STJ, o Júri será realizado em Feira de Santana, 
pois lá que ocorreu a ação. 
Assim, em resumo, nos crimes dolosos contra a vida, o crime deve ser 
julgado no local da ação, pela maior facilidade para a colheita probatória e para 
melhor responder a sociedade agredida. 
III. Teoria da Ubiquidade (híbrida) 
É a teoria do “tanto faz”. Tanto faz o local da ação, quanto o local do 
resultado. Há apenas uma hipótese da teoria da ubiquidade. 
OBS: Aplicação. A teoria da ubiquidade é aplicada aos chamados crimes à 
distância (art. 70, §§ 1º e 2º, CPP). Estes são aqueles que transcendem a fronteira 
do Brasil, vale dizer, ou a ação nasce no Brasil e o resultado ocorre no estrangeiro, 
ou a ação nasce no estrangeiro e o resultado ocorre no Brasil. Logo, a competência 
territorial brasileira será fixada pelo local, no Brasil, em que ocorrer a ação ou o 
resultado. 
AULA 26 DE AGOSTO 
2.2.1.2. SEGUNDA REGRA: DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU 
Em que pese a importância da vítima, ela não serve para definição de 
competência. Nem na Lei Maria da Penha o domicílio da vítima é importante. No 
Processo Penal, jamais será o domicílio da vítima, sempre do réu. 
OBS: A segunda regra é subsidiária à primeira. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
OBS: Domicílio da vítima não fixa competência criminal. 
E se o réu não tiver domicílio ou residência? Aí vem a terceira regra: 
2.2.1.3. TERCEIRA REGRA: PREVENÇÃO 
Juiz prevento é o juiz que se antecipa, que chega primeiro. Ou seja, será 
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (§ 2º, art. 72, CPP). 
Em outras palavras, se os dois critério anteriores não solucionarem a definição 
da competência territorial, será competente o juiz prevento, é dizer, o que 
primeiro recebe a inicial acusatória dando início ao processo, ou o magistrado 
que ainda na fase do inquérito, já está tomando medidas cautelares referentes 
ao futuro processo. A aplicação do critério da prevenção pressupõe juízes 
igualmente competentes, material e territorialmente. 
Destaca-se que o critério da prevenção para fixação da competência do 
juiz, em matéria criminal, é de difícil compatibilização com um dos pilares 
centrais do sistema acusatório, que é o da necessidade de um juiz imparcial. Parte 
da doutrina aponta que, em questões penais, o juiz prevento que, por exemplo, 
tenha deliberado sobre medidas cautelares ou investigativas, antes de deflagrado 
o processo penal, deveria se tornar impedido, ao invés de competente para julgar 
a causa. 
Nessa toada, a Lei nº 13.964/19 incluiu expressamente o juiz das garantias 
e explicou que o processo penal brasileiro deve ter estrutura acusatória. Assim, o 
Código expressamente dispõe que o juiz que, na fase de investigação, praticar 
qualquer ato incluído nas competências do juiz das garantias ficará impedido de 
funcionar o processo. Todavia, o juiz das garantias encontra-se com eficácia 
suspensa. 
Assim, em suma, juiz prevento é aquele que primeiro pratica um ato do 
processo (recebimento da inicial acusatória) ou aquele que, no inquérito, adota 
medidas cautelares inerentes ao futuro do processo (art. 83, CPP). 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
ADVERTÊNCIA: Com o advento do juiz das garantias, cabe a este, adotar 
medidas cautelares preambulares e recebera inicial acusatória (art. 3º, “b”, CPP). 
Como o juiz das garantias está impedido de julgar a causa, o juiz prevento 
provavelmente será o juiz vinculado ao juiz das garantias. 
Questões complementares 
a) Quando a infração está consumada na divisa entre comarcas ou 
quando incerto o limite entre elas, a competência territorial será 
firmada pela prevenção, isto é, o juiz que se antecipar será o 
competente; 
b) Nas hipóteses de crime permanente ou continuidade delitiva, com 
dilação por mais de uma comarca, a competência será fixada pela 
prevenção; 
c) Se o réu tem mais de um domicílio ou residência, a competência 
territorial será fixada pela prevenção; 
d) Na ação penal privada, mesmo que o querelante saiba onde o crime se 
consumou, ele pode optar por ajuizar a ação no domicílio ou residência 
do réu. É, portanto, uma mera faculdade. ADVERTÊNCIA: Todavia, 
tal prerrogativa é inaplicável na ação privada subsidiária da pública. 
e) Competência territorial para crimes ocorridos em embarcações ou 
aeronaves: 
Conceito de território nacional: o Brasil é composto das fronteiras, do mar 
territorial (0 a 12 milhas náuticas, contadas na maré baixa) e do espaço aéreo (até 
a camada atmosférica). 
Conceito de território nacional por equiparação: compõem-se por 
embarcações e aeronaves de natureza pública e de bandeira brasileira. Isto é, 
essas embarcações e aeronaves são considerados territórios brasileiros em 
qualquer lugar do mundo. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Embarcações e aeronaves de natureza pública e de bandeira estrangeira: 
Essas embarcações e aeronaves nunca serão consideradas território brasileiro, 
pelo princípio da reciprocidade. 
Embarcações e aeronaves de natureza privada e de bandeira brasileira: 
Elas são consideradas Brasil quando estiverem no território brasileiro e, também, 
quando estiverem sobrevoando ou navegando alto mar. 
Embarcações e aeronaves de natureza privada e de bandeira estrangeira: 
São consideradas território brasileiro quando ingressarem em nosso território. 
OBS: Regras de competência. SÓ SE APLICAM SE A EMBARCAÇÃO OU 
AERONAVE ESTIVEREM NO CONCEITO DE TERRITÓRIO BRASILEIRO. 
I – Viagens nacionais: se o navio ou a aeronave iniciar a viagem e a encerrar 
em território brasileiro, o juízo competente é o do local onde primeiro a 
aeronave pousar ou o navio atracar após a ocorrência da infração, mesmo que 
fora da rota original. 
II – viagens internacionais: se o navio ou a aeronave vem do estrangeiro para 
o Brasil ou parte do Brasil em direção ao exterior, a competência será firmada, 
pressupondo que a infração aconteceu em território brasileiro (de acordo com os 
critérios delineados acima), no local da chegada, no primeiro caso, ou no da saída, 
no último. 
Assim, em suma, a competência territorial brasileira é fixada pelo local de 
saída, quando estiverem se distanciando do Brasil. Se estiverem se aproximando, 
a competência será fixada pelo local de chegada. 
OBS 1: Vale lembrar que as regras só são aplicáveis se a embarcação ou a 
aeronave estiver no conceito de território brasileiro. 
OBS 2: Direito de passagem inocente. O Brasil é signatário de tratado 
internacional, onde é consagrado o direito de passagem inocente, reconhecendo 
que não vai apurar infrações ocorridas em embarcações transitando na costa 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
brasileira, mas que não atracaram no Brasil, desde que o crime não tenha reflexos 
em nosso território. 
Em outras palavras, se uma embarcação estrangeira estiver apenas 
passando por águas territoriais brasileiras, e venha a ocorrer um crime em seu 
interior, sem reflexos eternos, ou seja, não atingindo a paz, a segurança e a boa 
ordem brasileira, mesmo reconhecendo que a infração tenha ocorrido no 
território nacional, o Brasil não irá julgá-la, em atenção ao direito de passagem 
inocente (art. 3º, da Lei 8.617/1993). 
Exemplo: navio estrangeiro que derramou óleo na costa brasileira 
recentemente. 
OBS: Há quem defenda também passagem inocente para aeronaves, a 
exemplo de Tourinho Filho. 
f) Competência territorial brasileira para crimes ocorridos no 
estrangeiro: O Código Penal goza de extraterritorialidade, sendo 
aplicado a infrações consumadas no estrangeiro (art. 7º, CP). Portanto, 
precisamos identificar qual o órgão no Brasil territorialmente 
competente. Nestas hipóteses, (a) o juízo competente será o da Capital 
do Estado onde por último tiver residido o acusado; e (b) caso ele 
nunca tenha residido no Brasil, será julgado na Capital da República, 
Brasília (art. 88, CPP). 
Exemplo: se um indivíduo mata um brasileiro em Paris, e foge para o 
Brasil, será julgado na capital do Estado onde por último tenha residido em nosso 
país. E se nunca tiver residido no Brasil, será julgado em Brasília. 
2.3. COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE (EM RAZÃO DA 
PESSOA) OU RATIONE FUNCIONAE (EM RAZÃO DA 
FUNÇÃO) 
 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
2.3.1. Conceito 
Leva em consideração a importância das funções desempenhadas por 
determinadas pessoas, que serão julgadas originariamente perante tribunal. É o 
chamado foro por prerrogativa de função. Exemplo: cabe ao STF o julgamento 
das infrações penais comuns praticadas pelo Presidente da República. 
Vale dizer, determinadas pessoas, em razão da alta relevância da função 
que desempenha, têm direito ao julgamento por órgão de maior graduação. 
Permite-se, assim, enaltecer a função desempenhada, e evitar as pressões 
indiretas que poderiam ocorrer se as diversas autoridades fossem julgadas pelos 
juízes de primeiro grau. 
2.3.2. Enquadramento 
a) Supremo Tribunal Federal 
Poder Executivo: Presidente da República, Vice Presidente da República, 
os Ministros de Estado, Advogado Geral da União, Presidente do Banco Central 
e Controlador Geral da União. 
Poder legislativo: Senadores e Deputados Federais. 
Poder Judiciário: Os Ministros dos Tribunais Superiores (STF, STJ, TST, 
TSE e STM). 
Outras autoridades: Procurador Geral da República, Comandante das 
Forças Armadas, Membros do Tribunal de Contas da União e Chefes de missão 
diplomática permanente. 
AULA 02 DE SETEMBRO 
b) Superior Tribunal de Justiça 
Poder Executivo: Somente governadores. 
Poder Legislativo: Não há. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Poder Judiciário: Membros dos Tribunais Estaduais e membros dos 
Tribunais Regionais (desembargadores). 
Outras autoridades: Membros do MPU que atuam perante tribunais e os 
Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municípios. Estes, pois 
são comparados a desembargador. 
c) Tribunais de Justiça 
Poder Executivo: Prefeitos (art. 29, X, CF). 
Poder Legislativo: Deputados estaduais. 
Poder Judiciário: Juízes estaduais de primeiro grau. 
Outras autoridades: Todos os membros do MP estadual. Do promotor 
substituto ao Procurador Geral de Justiça. 
d) Tribunais Regionais Federais 
Poder Executivo: A CF/88 afirma que quando prefeito pratica um crime, 
ele é julgado no TJ. Mas o STF editou uma súmula nº 702, dizendo que se o 
prefeito praticar um crime federal, ele vai ser julgado no Tribunal Regional 
Federal. Então prefeitos que pratiquem crime federal. 
Poder Legislativo: Essa matéria foi resolvida pela ex-ministra do STF, 
Ellen Gracie, disse que se um Deputado Estadual praticar um crime federal, ele 
será julgado no TRF. Então os deputados estaduais que cometerem crime 
federal. Não há súmula, mas é matéria consolidada na jurisprudência. 
Poder Judiciário: Se um juiz estadual praticar um crime federal, será 
julgado no TJ. Então aqui apenas os juízes federais de primeiro grau, juízes do 
trabalho e juízes militares da União. 
Outras autoridades: Membros do MPU que atuam no primeiro grau. 
2.3.3. Questões complementares 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof.Nestor Távora – 2020.2 
PRIMEIRA REGRA DE INTERPRETAÇÃO: O pleno do STF, com 
relatoria do Min. Barroso, tentou higienizar o foro por prerrogativa de função. Já 
que o Congresso Nacional não acabou com o foro, o STF promoveu uma 
filtragem, alegando que, para gozar de prerrogativa de função, é necessário que 
o crime seja praticado durante o desempenho da função, e é necessário que o 
crime diga respeito ao desempenho da função. Ou seja, um requisito temporal e 
funcional, respectivamente. Sem os dois elementos, não há que se falar em foro 
por prerrogativa. 
Se um parlamentar cometia um crime antes da condição de Deputado 
Federal, por exemplo, após a diplomação, o processo era remetido ao Supremo. 
Hoje, com o novo entendimento do Supremo, não há mais essa possibilidade. 
Porém, o STJ tem precedente diametralmente oposto ao do Supremo, não 
exigindo vínculo com o desempenho da função. 
Assim, em suma, para o Pleno do STF, o foro por prerrogativa de função 
exige que o crime seja praticado durante o desempenho da função (requisito 
temporal), e que diga respeito ao desempenho da função (requisito funcional). 
ADVERTÊNCIA: O Superior Tribunal de Justiça tem precedente em 
sentido diametralmente oposto. 
Imagine que eu sou Deputado Estadual (foro por prerrogativa no TJ), mas 
na próxima eleição fui diplomado Deputado Federal (foro por prerrogativa no 
STF). Imagine que o crime que eu pratiquei foi praticado durante a minha função 
do Deputado Estadual, e diz respeito à função do Deputado Estadual. Mas agora 
eu sou Deputado Federal. O processo vai ficar aonde? Não há solução concreta 
para isso. 
SEGUNDA REGRA DE INTERPRETAÇÃO: Foro por prerrogativa x 
deslocamento. Um promotor da Bahia tem foro por prerrogativa no TJ-BA. Mas 
imagine que esse promotor estava em Alagoas e praticou um crime. Será julgado 
onde? A solução dos Tribunais Superiores é que será julgado no TJ de origem (TJ-
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
BA), desde que cumpra o requisito funcional, de acordo com o entendimento do 
STF. 
Assim, autoridades com foro por prerrogativa no Tribunal de Justiça ou 
no TRF, ao praticarem crime fora do estado ou da região, serão julgadas no 
tribunal de origem. 
TERCEIRA REGRA DE INTERPRETAÇÃO: As autoridades com foro por 
prerrogativa no TJ e no TRF, ao praticarem crime eleitoral, serão julgadas no TRE. 
ADVERTÊNCIA: O mesmo não ocorre com o STF e o STJ, que julgam 
crime eleitoral. 
QUARTA REGRA DE INTERPRETAÇÃO: Cidadão comum. De acordo 
com o verbete sumular nº 704 do STF, o cidadão comum pode ser julgado 
diretamente em Tribunal, ao praticar o delito com autoridade que goza de 
prerrogativa. 
CONCLUSÃO: Tal atração não ofende direitos ou garantias 
fundamentais. 
QUINTA QUESTÃO DE INTERPRETAÇÃO: Foro por prerrogativa x júri. 
A competência do júri está prevista na CF/88. O foro por prerrogativa das 
autoridades, também. Assim, se uma dessas autoridades praticar um crime 
doloso contra a vida, vai para júri ou será julgada no seu tribunal de origem? 
Segundo a Súmula Vinculante nº 45, as autoridades com foro por 
prerrogativa estabelecido na CF/88 NÃO VÃO A JÚRI. O mesmo NÃO ocorre 
com a prerrogativa é fixada apenas na Constituição Estadual. 
SEXTA REGRA DE INTERPRETAÇÃO: Perpetuação no tempo da 
prerrogativa. Com a declaração de inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º, do art. 84, 
do CPP, temos as seguintes soluções: 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
I. Aos crimes, uma vez encerrado o cargo ou o mandato, encerra-se a 
prerrogativa. 
ADVERTÊNCIA: Para o STF, a renúncia ao mandato até antes da 
intimação para apresentar alegações finais, provoca a remessa dos autos ao 
primeiro grau de jurisdição. 
II. Às ações de improbidade administrativa, não há foro por 
prerrogativa em nenhum momento. 
3. CONEXÃO E CONTINÊNCIA 
Conexão e continência são institutos que vão permitir reunir, no mesmo 
processo, crimes e/ou criminosos que poderiam ser julgados separadamente. 
Assim, a conexão e a continência estabelecem, em verdade, vínculos de atração, 
que permitem uma reunião processual de elementos que seriam passíveis de 
processos distintos, perante órgãos jurisdicionais diversos, para que os 
julgamentos ocorrem de maneira uniforme e simultânea. 
Almeja-se a economia de atos processuais, assim como evitar decisões 
contraditórias. 
OBS: Não são exatamente um critério de fixação, mas sim de modificação 
de competência. 
3.1. CONEXÃO 
3.1.2. Conceito 
É a interligação entre duas ou mais infrações, levando a que sejam 
apreciadas perante o mesmo órgão jurisdicional. Assim, infrações conexas são 
aquelas que estão interligadas, merecendo, portanto, em prol da celeridade do 
processo e para evitar decisões contraditórias, apreciação em processo único. 
Não há conexão de crime único. 
Quais são os elementos de atratividade? 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
3.1.3. Hipóteses 
a) Conexão intersubjetiva (art. 76, I, CPP). 
Se é conexão, dois ou mais crimes. Se ela é intersubjetiva, esses crimes 
foram praticados por duas ou mais pessoas. Então na conexão intersubjetiva, há 
dois ou mais delitos e dois ou mais sujeitos que contribuíram para o crime. Ou 
seja, na conexão intersubjetiva existem dois ou mais crimes praticados por duas 
ou mais pessoas. 
Elementos de atração: 
i. Conexão intersubjetiva por simultaneidade ou ocasional: Nesta 
modalidade, ocorrem várias infrações, praticadas ao mesmo 
tempo, por várias pessoas reunidas, sem prévio ajuste entre os 
indivíduos. Ou seja, o vínculo entre as infrações se materializa pelo 
fato delas terem sido praticadas nas mesmas circunstâncias de 
tempo e de espaço. Por exemplo, torcedores enfurecidos que 
depredam estádio de futebol, sem estarem previamente 
acordados. São vários os crimes de dano, que devem ser julgados 
em conjunto, pois são conexos. 
ii. Conexão intersubjetiva concursal: Ocorre quando várias pessoas, 
previamente acordadas, praticam várias infrações, embora diverso 
o tempo e o lugar. Exemplo: uma gangue que pratica vários delitos 
em determinada cidade, porém em bairros diversos, para dificultar 
o trabalho da polícia. São também vários crimes praticados, mas em 
concurso de agentes, e que devem ser julgados conjuntamente, pois 
conexos. 
iii. Conexão intersubjetiva por reciprocidade: Ocorre quando várias 
infrações são praticadas, por diversas pessoas, umas contra as 
outras. A reciprocidade na violação de bens jurídicos é que 
caracterizaria o vínculo. Exemplo: num duelo, desafiante e 
desafiado acabam sofrendo e provocando lesões corporais 
recíprocas. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
OBS: O crime de rixa NÃO SERVE DE EXEMPLO para caracterizar a 
conexão por reciprocidade, pois, para haver conexão, obrigatoriamente devem 
existir duas ou mais infrações vinculadas. Na rixa, o crime é ÚNICO. 
b) Conexão objetiva, material, teleológica ou finalista (art. 76, II, CPP) 
Ocorre quando uma infração é praticada para facilitar ou ocultar outra, ou 
para conseguir impunidade ou vantagem. Como exemplos, comparsas que mata 
o outro para ficar com todo o produto do crime; homicida que além da vítima, 
mata a única testemunha para ficar impune. 
Então na conexão lógica, o crime é praticado para levar vantagem, para 
criar impunidade ou para ocultar outra infração. 
c) Conexão instrumental ou probatória (art. 76, III, CPP) 
Nela, a prova da existência de um crime é essencial na demonstração da 
ocorrência de outro delito. Isto é, tem cabimento quando a prova de uma infração 
ou a prova de elemento do seu tipo penal influir na prova de outra infração. 
Exemplo: conexão entre o roubo da carga e a receptação. 
3.2. CONTINÊNCIA 
Conceito 
É o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a ligação 
de várias infrações por decorrerem de conduta única.Em outras palavras, a 
continência pode decorrer: (a) de coautoria relativamente a um único delito, 
quando teremos cumulação subjetiva; ou (b) de concurso formal de infrações 
penais atribuídas a um único agente, quando haverá cumulação objetiva. 
Então na continência prepondera o fato unidade. Seja porque um só crime 
foi praticado por duas ou mais pessoas, seja porque uma única conduta desaguou 
em dois ou mais resultados (art. 77, CPP). 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Modalidades 
a) Continência por cumulação subjetiva (art. 77, I, CPP). 
Nela, um só crime é praticado por duas ou mais pessoas. 
b) Continência por cumulação objetiva (art. 77, II, CPP) 
Nela, uma só conduta provoca dois ou mais resultados. 
CONCLUSÃO: Aqui, estamos diante de concurso formal (arts. 70, 73 e 74, 
CP). 
3.3. FORO PREVALENTE 
Conceito 
É o juiz ou o Tribunal competente para julgar todos os elementos (crimes 
e/ou criminosos) nas hipóteses de conexão e continência. 
Regras de foro prevalente 
Quando há conexão ou continência, a tendência é reunião. Então existe lá 
a atração e eu tendo a reunir perante o mesmo juiz ou tribunal. Mas essa regra de 
atração nem sempre vai levar à reunião, pois às vezes ela é proibida. Isto é, às 
vezes reunir tudo em um só processo pode ofender as regras de competência 
funcional. 
a) Justiça especial prevalece em detrimento da Justiça Comum 
Na concorrência entre a Justiça comum e a especializada, esta última 
prevalecerá. Logo, havendo conexão, por exemplo, entre crime eleitoral e outro 
comum, ambos serão apreciados perante a justiça especializada eleitoral. A 
justiça eleitoral julgará as infrações eleitorais e as comuns conexas. 
OBS: Tal regra não se aplica na Justiça Militar, que julga apenas as 
infrações definidas nos artigos 9º e 10 do Código Penal Militar. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
OBS: Tal regra é aplicada para a Justiça Eleitoral, que julga infrações 
eleitorais e infrações comuns interligadas. 
OBS: Justiça Comum é gênero do qual fazem parte Justiça Comum 
Estadual e Federal. E se um crime federal é conexo com um crime estadual? 
Reúne tudo na Justiça Federal, pois esta prevalece, por força da Súmula 122 do 
STJ. 
AULA 16 DE SETEMBRO 
b) Concurso entre júri x demais órgãos da jurisdição comum 
E se um crime do júri é conexo com outro crime comum? Por exemplo, 
com uma lesão corporal. Prevalece o júri, ainda que o crime comum seja de menor 
potencial ofensivo, respeitando-se, nesse caso, a composição civil e transação 
penal. 
Se um crime doloso contra a vida for conexo a outro crime comum, ambos 
serão apreciados pelo Tribunal Popular, pois este é o prevalente. O júri aprecia 
os crimes dolosos contra a vida e, além deles, os crimes que lhes sejam conexos. 
Com o advento da Lei nº 11.313/2006, alterando o art. 60, da Lei nº 9.099/95, 
havendo concorrência entre crime doloso contra a vida e infração de menor 
potencial ofensivo, ambos irão a júri, devendo-se, contudo, quando a esta última, 
oportunizar-se a transação penal e a composição civil por danos. 
CONCLUSÃO: Júri julga os crimes dolosos contra a vida e as infrações 
comuns interligadas, mesmo que de menor potencial ofensivo. 
SEGUNDA CONCLUSÃO: Para a infração de menor potencial ofensivo, 
aplicaremos composição civil e transação penal (art. 60, da Lei 9.099/95). 
c) Jurisdição de maior hierarquia prevalece sobre a de menor 
hierarquia. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Imaginemos Matheus praticou um crime junto com deputado federal. Este 
tem foro por prerrogativa no Supremo e Matheus não. Se eles praticam crimes 
juntos, devem ser julgados no mesmo processo. Isso significa que os dois serão 
julgados no STF (Súmula Vinculante n. 704). 
CONCLUSÃO: O cidadão comum pode ser julgado em tribunal, ao 
praticar o delito com autoridade que goza da prerrogativa de função. 
d) Órgãos da mesma justiça e de mesma hierarquia concorrendo 
Tem um crime de roubo consumado em Salvador, conexo com três 
receptações consumadas em Feira de Santana. Roubo é crime de competência do 
juiz estadual de primeiro grau, receptação também. Tem órgãos que pertencem 
à mesma justiça e mesma hierarquia concorrendo, pois se o roubo consumado 
em Salvador é conexo com as receptações de Feira, há apenas um processo para 
julgar tudo. Nesse caso prevalece Salvador, pois nele consumou-se o crime mais 
grave. 
OBS: É preciso analisar os crimes de maneira individual, pois se fossem 
somadas as penas das receptações, daria uma pena maior que a do roubo. 
E se os dois tiverem a mesma pena máxima? Exemplo: um furto em 
Salvador conexo com três receptações em Feira. Nesse caso, prevaleceria Feira, 
pois se os crimes conexos têm a mesma pena máxima, prevalece o juiz que atua 
no local da consumação do maior número de crimes. 
Agora se eu tenho um furto simples em Salvador, conexo com uma 
receptação em Feira? Os crimes têm a mesma gravidade e a mesma quantidade 
por comarca. Será definido pela prevenção, ou seja, quem primeiro se antecipar. 
PRIMEIRA SOLUÇÃO: Prevalece o juiz atuante no local da consumação 
do crime mais grave. 
SEGUNDA SOLUÇÃO: Se os crimes possuem a mesma gravidade, 
prevalece o juiz atuante no local da consumação do maior número de crimes. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
TERCEIRA SOLUÇÃO: Se os crimes têm a mesma gravidade e idêntica 
quantidade por comarca, a prevalência é definida pela prevenção. 
4. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS 
Mesmo havendo conexão e continência, eventualmente os processos vão 
tramitar separados. Seja por imposição legal (art. 79, CPP), seja por conveniência 
da persecução penal (separação facultativa, art. 80, CPP). A operação lava jato 
levou a uma separação facultativa, na medida em que era tanto criminoso que 
não tinha como juntar todos. 
Então conexão e continência levam a uma tendência de reunir, mas 
eventualmente não haverá essa reunião. 
4.1. Conceito 
Mesmo havendo conexão ou continência os processos podem tramitar 
separados, por imposição da lei, ou por conveniência da persecução penal. 
4.2. Modalidades 
Separação obrigatória: É aquela imposta por lei (art. 79, CPP). 
Separação facultativa: É aquela justificada pela conveniência da 
persecução penal (art. 80, CPP). 
5. PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO 
Eu tenho um roubo em Salvador, conexo com apenas uma receptação em 
Feira. O promotor vai ofertar apenas uma denúncia em Salvador. Imagine que o 
juiz em Salvador, instruindo o processo, absolve o réu pelo crime de réu (pelo 
crime que o tornou prevalente). O que ele fará com o crime conexo? 
Imagine, ainda, que o juiz de Salvador, na instrução do processo, 
desclassificou o roubo para um crime menos grave do que a receptação, ou 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
desclassificou o crime de roubo para um crime que ele não tem nem competência 
para julgar. O que ele fará com a receptação? 
As regras do jogo não podem ser alteradas depois que o jogo começou. 
Então ao juiz de Salvador não interessa o que fará com o crime que o tornou 
prevalente, ele deverá julgar o crime conexo. Isso é o chamado de “perpetuação 
da jurisdição”. Então uma vez prevalente, o juiz será sempre prevalente. Essa é a 
regra, mas comporta algumas exceções no tribunal do júri que será trabalhada 
posteriormente. 
5.1. Conceito 
Assim, perpetuação da jurisdição é aquele instituto que diz que, se o juiz 
prevalente absolver o réu pelo crime que o tornou prevalente ou desclassificar 
essa infração, continuará competente para julgar os crimes conexos (art. 81, CPP). 
PRISÕES E LIBERDADE PROVISÓRIA 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
1.1. Conceito de prisão 
Tecnicamente, prisão é a restrição à nossa liberdade de locomoção, diante 
de ordem judicial motivada, de flagrante delito ou de transgressão disciplinarmilitar. E esse ato compromete o seu direito líquido e certo de ir, vir ou ficar (art. 
5º, LXI, CF/88). 
1.2. Modalidades de prisão 
a) Prisão pena: é fruto do trânsito em julgado da sentença condenatória. 
Ela revela a resposta do Estado pelo mal causado pelo crime. 
b) Prisão sem pena (cautelar ou provisória ou processual): é aquela que 
antecede o trânsito em julgado da condenação, sendo admitida na 
investigação ou no processo. 
OBS: Enquadramento da prisão sem pena. Quais são as prisões sem pena? 
Prisão em flagrante; (b) prisão preventiva; (c) prisão temporária. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
1.3. Execução provisória da pena 
 É um senso comum no Brasil que a impunidade impera. O que se espera 
é que a lógica de justiça anda de mãos dadas com o aprisionamento das pessoas 
de imediato. O que se tentou fazer no Brasil, no ano e 2008, com o STF, foi a edição 
de duas Súmulas, que o STF rotulou como execução provisória de benefícios, ou 
seja, permitir que a pessoa que está presa, antes do trânsito em julgado, usufrui-
se de benefícios típicos da LEP. 
Se o sujeito está preso há tanto tempo antes do trânsito em julgado, muito 
provavelmente a prisão dele é ilegal por excesso de tempo. Então eu não quero 
que o STF me dê “esmola”. Mas o STF idealizou essa execução provisória de 
benefícios. 
Em 2016, o STF colocou a cereja no bolo e nos impôs a própria execução 
provisória da pena, ou seja, permitir que o sujeito comece a cumprir a pena antes 
do trânsito em julgado da sentença. Os pressupostos para que isso ocorresse é (a) 
a condenação do réu deve ser confirmada por um tribunal; e (b) devem estar 
esgotadas as vias ordinárias de recurso. Mas a CF/88 fala que todos são 
presumivelmente inocentes. 
Todavia a imprensa vendeu que não transita em julgado nunca, pois a 
defesa se vale de tantos recursos, que o processo não avança. 
E o que o STF esqueceu? O art. 283, do CPP, diz que antes do trânsito em 
julgado da sentença, só cabe flagrante, preventiva ou temporária. Como justifica 
a execução provisória que não se encaixa em nenhuma dessas três previsões? A 
execução provisória não tem lastro legal. Aí o STF voltou à discussão em 2019, 
reconheceu que o art. 283 é constitucional, e afastou a execução provisória. Qual 
foi a grande polêmica? Quando o STF afastou a execução provisória, Lula foi 
libertado. 
Nós temos uma PEC, que já passou no Senado, faltando passar na Câmara, 
para regular na CF a execução provisória. O Pacote Anticrime inseriu a execução 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
provisória no art. 492 do CPP, em que se o sujeito é julgado no júri e pega 15 ou 
mais anos de prisão na sentença, haverá execução provisória em primeiro grau. 
Em síntese: 
PRIMEIRO MOMENTO: O STF editou as Súmulas 716 e 717 permitindo 
que o preso cautelar usufrua de institutos típicos da LEP, o que convencionamos 
chamar de execução provisória de benefícios. 
SEGUNDO MOMENTO: Em 2016, o STF julgou o HC 126.292, admitindo 
a execução provisória da pena, diante dos seguintes requisitos: 
i. Confirmação da condenação por um Tribunal ou que a condenação 
emane de um Tribunal; 
ii. Esgotamento das vias ordinárias, ou seja, da decisão, quando 
muito, só caberá Recurso Especial ou Extraordinário. 
Embasamento jurídico para justificar a execução provisória: 
i. O princípio da presunção de inocência não é absoluto, ou seja, 
flexibilizaram a presunção de inocência; 
ii. Os Recurso Especial e Extraordinário não possuem efeito 
suspensivo. Então eles não têm o condão de paralisar a decisão. 
TERCEIRO MOMENTO: O STF voltou ao tema no julgamento das ADC’s 
43, 44 e 54, abordando a redação do art. 283 do CPP, que indica que antes do 
trânsito em julgado, só caberá prisão em flagrante, prisão preventiva e prisão 
temporária. 
CONCLUSÃO: Como desdobramento, o STF afastou a execução 
provisória da pena. 
QUARTO MOMENTO: O Pacote Anticrime introduziu a alínea “e” ao 
inciso I, do art. 492 do CPP, admitindo a execução provisória na sentença do júri 
que impõe ao réu 15 ou mais anos de privação da liberdade. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
OBS 1: Foi retirado o efeito suspensivo do recurso de apelação em tal 
hipótese. 
OBS 2: O juiz pode deixar de determinar a execução provisória da pena, 
ao perceber que a situação jurídica pode ser revertida no Tribunal. 
OBS 3: O relator, no Tribunal do recurso de apelação, pode conceder efeito 
suspensivo, evitando a execução provisória da pena, desde que: (a) o recurso não 
seja meramente protelatório; (b) o recurso tenha substrato jurídico para reverter 
a decisão proferida. 
2. PRISÕES EM ESPÉCIE 
2.1. PRISÃO EM FLAGRANTE 
Flagrante é a qualidade de alguma coisa que está acontecendo naquele 
exato momento. Prisão em flagrante é uma ferramenta positivada no art. 5º, 
inciso LXI da CF/88, que autoriza a captura da pessoa que é surpreendida 
delinquindo, que funciona como ferramenta de preservação da sociedade. Com 
o flagrante, há três finalidades: (a) evitar a fuga; (b) evitar que o crime se 
consuma; (c) levantar indícios que vão contribuir para a adoção de futuras 
providências penais, seja o ajuizamento da ação criminal, seja a proposta do 
acordo de não persecução penal. 
Em síntese: 
2.1.1. Etimologia (origem da palavra): a palavra flagrante deriva de 
“flagrare”, significando arder ou queimar. Na verdade, o flagrante 
é qualidade de algo que está acontecendo naquele momento. 
2.1.2. Concepção instrumental da prisão em flagrante: é um instituto 
positivado no art. 5º, inciso LXI, da CF/88, que autoriza a captura 
daquele que é surpreendido praticando a infração, trazendo, assim, 
as seguintes finalidades: 
• Evitar a fuga; 
• Evitar a consumação do crime; 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
• Levantar indícios, que vão contribuir para a adoção de futuras 
providências penais. 
2.1.3. Natureza jurídica do flagrante 
PRIMEIRA POSIÇÃO: A doutrina tradicional enquadra o flagrante como 
prisão cautelar. 
SEGUNDA POSIÇÃO: Segundo Aury Lopes Jr. e Luiz Flávio Gomes, o 
flagrante é medida pré-cautelar, tipicamente administrativa. O traço cautelar 
acontece quando o juiz analisa o auto e delibera. É a posição mais moderna. 
2.1.4. Modalidades de flagrante 
A prisão em flagrante é uma prisão típica. Só posso prender em flagrante 
nas hipóteses positivadas na lei. 
a) Flagrante obrigatório ou compulsório: É aquele inerente à atuação das 
forças policiais (art. 144, CF/88). Ou seja, qualquer seguimento da 
polícia tem o dever de prender em flagrante, subsistindo tal dever até 
mesmo no período de folga. 
OBS: A nossa doutrina vem defendendo que o flagrante obrigatório 
representa estrito cumprimento do dever legal. 
b) Flagrante facultativo: É aquele inerente à atuação de qualquer pessoa do 
povo, funcionando como exercício regular de um direito (art. 301, 
CPP). 
c) Flagrante próprio, real, perfeito ou propriamente dito: Quem está em 
flagrante próprio? São duas situações: 
c.1) O sujeito que é preso cometendo a infração (art. 302, inciso I, CPP). 
Esse sujeito está realizando o núcleo do tipo penal no momento que é preso. Está 
praticando os atos executórios. 
CONCLUSÃO: O sujeito é capturado desenvolvendo os atos executórios. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
c.2) o agente capturado ao acabar de cometer o delito (art. 302, inciso II, 
CPP). Ele já concluiu os atos executórios, mas não se livrou do local do crime ou 
das circunstâncias do fato. 
CONCLUSÃO: O sujeito já concluiu os atos executórios, mas não se livrou 
do local do crime ou das circunstâncias do fato. 
d) Flagrante impróprio, imperfeito, irreal ou quase-flagrante: “quase-
flagrante” é um falso cognato. Dá a ideia de que não houve flagrante, 
mas essa modalidade é como outra qualquer.Assim, nessa 
modalidade, o sujeito é perseguido logo após a prática do crime. 
Havendo êxito, ele será capturado em circunstâncias que façam 
presumir a responsabilidade penal (art. 302, inciso III, CPP). A palavra-
chave, portanto, é a existência de “perseguição”. 
OBS 1: O conceito de perseguição é apresentado pelo art. 390 do CPP. 
OBS 2: Tempo da perseguição. Não há na lei prazo de duração da 
perseguição, que persiste no tempo enquanto houver necessidade (pode ser por 
horas, dias, semanas e, ainda assim, será prisão em flagrante). 
OBS 3: Requisito de validade. É necessário que a perseguição seja 
contínua, dispensando-se o contato visual. Se a perseguição for interrompida, 
não será mais prisão em flagrante. 
AULA 23 DE SETEMBRO 
e) Flagrante presumido, ficto ou assimilado: 
No flagrante presumido, o agente é preso, logo depois de cometer a 
infração, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que presumam ser ele o 
autor do delito (art. 302, IV, CPP). 
O legislador contou demasiadamente com o fator sorte. No flagrante 
presumido, o criminoso é encontrado logo após de praticar o delito, mas 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
encontrado com armas, objetos, papéis ou instrumentos que autorizem presumir 
a responsabilidade penal. 
É a situação mais delicada de flagrante, pois não raro ocorre a prisão de 
um inocente. 
f) Flagrante forjado 
É aquele realizado para incriminar uma pessoa inocente que não tem 
desejo de praticar crime nenhum. Então não há domínio cognitivo, essa pessoa 
não quer delinquir. A pessoa que é presa é vítima do mais absoluto arbítrio. 
Exemplo: empregador que insere objetos entre os pertences do 
empregado, acionando a polícia para prendê-lo em flagrante pelo furto, para com 
isso demiti-lo por justa causa. 
É uma modalidade ilícita de flagrante, onde o único infrator é o agente 
forjador, que pratica o crime de denunciação caluniosa, e sendo agente público, 
também incorre em abuso de autoridade. 
CONCLUSÃO: A prisão realizada é ilegal, devendo ser relaxada (art. 310, 
I, CPP). 
g) Flagrante esperado 
O flagrante esperado é uma idealização da doutrina: uma atuação da 
polícia que se antecipa ao criminoso. Então temos o tratamento da atividade 
pretérita da autoridade policial que antecede o início da execução delitiva, em 
que a polícia antecipa-se ao criminoso, e, tendo ciência de que a infração ocorrerá, 
sai na frente, fazendo campana (tocaia), e realizando a prisão quando os atos 
executórios são deflagrados. 
Exemplo: sabendo o agente policial, pelas investigações, que o delito vai 
ocorrer, aguarda no local adequado e, na hora “H”, realiza a prisão em flagrante. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Por que tem de aguardar o primeiro ato executório? Porque antes da 
execução há a mera preparação do crime e este é impunível. 
A polícia, em nenhum momento se intrometeu no comportamento dos 
criminosos. Ela apenas descobriu que o crime ia acontecer e aguardou. Quando 
o primeiro ato executório foi implementado, ela prendeu. 
OBS: O flagrante esperado não está na lei. É uma idealização da doutrina. 
Então se a espera for exitosa, na hora de lavrar o auto de flagrante, vai enquadrar 
como flagrante próprio. 
Assim, em síntese, o flagrante esperado ocorre por meio da realização de 
campana (tocaia), aguardando-se a realização do primeiro ato executório para a 
implementação da captura. 
OBS 1: Em nenhum momento, a polícia estimulou a prática do delito. 
OBS 2: Se a espera for exitosa, no momento da lavratura do auto, vamos 
enquadrar em uma das hipóteses do art. 302, CPP. 
h) Flagrante preparado, provocado, delito de ensaio ou delito putativo 
(imaginário) por obra do agente provocador 
No flagrante preparado, o agente é induzido ou instigado a cometer o 
delito, e, neste momento, acaba sendo preso em flagrante. É um artifício onde 
verdadeira armadilha é maquinada no intuito de prender em flagrante aquele 
que cede à tentação e acaba praticando a infração. 
Exemplo: policial disfarçado encomenda a um falsário certidão de 
nascimento de pessoa fictícia e, no momento da celebração da avença, com a 
entrega do dinheiro e o recebimento do documento falsificado, realiza a prisão 
em flagrante. 
O Estado começou a estimular a prática de delitos, para que pudesse 
capturar essas pessoas. A matéria foi parar no STF, e este disse que os fins não 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
podem justificar os meios, ou seja, não pode esperar que o Estado induza o delito 
para capturar o criminoso. 
De acordo com a Súmula 145 do STF, não se pode estimular a prática de 
crime, para capturar as pessoas seduzidas, pois os fins não justificam os meios. 
OBS 1: Em tal hipótese a prisão é ilegal, devendo ser relaxada. 
OBS 2: O fato praticado pela pessoa seduzida é atípico, pois será 
enquadrado como crime impossível. 
OBS 3: Flagrante preparado x tráfico de drogas. Se o traficante já tem a 
droga consigo ou em estoque ao ser abordado por policial disfarçado de usuário, 
a prisão é legal, pois a consumação do crime de tráfico é preexistente à 
provocação. 
OBS 4: O monitoramento por câmeras ou aparato similar de um 
estabelecimento comercial, não desnatura o crime de furto e não inviabiliza a 
concretização do flagrante (Súmula 567 do STJ). 
i) Flagrante prorrogado (retardado, postergado, diferido, estratégico ou ação 
controlada) 
É um flagrante de feição estratégica, pois a autoridade policial tem a 
faculdade de aguardar, do ponto de vista da investigação criminal, o momento 
mais adequado para realizar a prisão, ainda que sua atitude implique na 
postergação da intervenção. 
Na década de 1990, nós adotamos no Brasil a Lei de Combate e Repressão 
ao Crime Organizado. Ela foi uma cópia de muitos institutos do direito dos EUA. 
Um dos institutos foi a possiblidade da polícia monitorar uma facção criminosa, 
para entender como ela funciona. Então imagine que a polícia está monitorando 
a facção, podendo ser internamente, com a inserção do agente infiltrado, ou um 
monitoramento externo, sem filtrar ninguém. Mas há um grande problema, pois 
quando a polícia está monitorando uma facção criminosa, o art. 301 do CPP diz 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
que quando o policial se depara com a prática do crime, precisa prender 
imediatamente. Mas uma prisão antecipada pode ser um desastre. 
Assim, quando a polícia estiver monitorando a facção criminosa, ela pode 
diferir o flagrante, se isso for estratégico, desde que ela continue monitorando 
aquela facção criminosa, com o intuito de realizar a prisão no momento mais 
oportuno para prender o maior número de criminosos, para levantar provas e 
para enquadrar os sujeitos no crime principal daquela facção. 
São três situações que cabe esse flagrante: 
Crime organizado: É necessário que o delegado oficie ao juiz, que ouvindo 
o Ministério Público, poderá definir os limites da diligência. 
Tráfico de drogas: É necessário que o juiz delibere, com prévia oitiva do 
Ministério Público. Além disso, necessário o conhecimento do provável itinerário 
da droga, assim como dos infratores envolvidos. 
Lavagem de dinheiro: Da mesma maneira, é necessário prévia autorização 
do juiz, com a oitiva do Ministério Público. 
2.1.5. PROCEDIMENTO 
2.1.5.1. Procedimento macro 
a) Primeiro passo - Captura: simboliza o imediato cerceamento da 
liberdade. 
OBS: Uso de algemas. A matéria é regulada na Súmula Vinculante nº 11, 
no parágrafo único do art. 292, do CPP, e no Decreto 8.858/2016. 
b) Segundo passo – Condução coercitiva até a autoridade: O sujeito é 
apresentado ao delegado do local da captura. Inexistindo delegado, o 
sujeito é apresentado ao delegado da cidade mais próxima. 
c) Terceiro passo – Formalização da prisão: A formalização da prisão 
ocorre por meio da lavraturado auto de flagrante (APF). Portanto, 
teremos a lavratura do auto de flagrante (art. 304, CPP). 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
d) Quarto passo – Recolhimento ao cárcere: Se o crime tem pena máxima 
de até quatro anos, o delegado é legitimado a arbitrar a fiança e o 
pagamento evita o recolhimento ao cárcere (art. 322, CPP). Fiança é 
direito. 
AULA 30 DE SETEMBRO 
2.1.5.2. Desdobramento do procedimento 
Em até 24 horas da prisão – que ocorre com a captura –, o delegado tem as 
seguintes obrigações a cumprir: 
PRIMEIRA OBRIGAÇÃO: O delegado deve entregar ao preso a “Nota 
de Culpa”, como breve declaração informando os motivos e os responsáveis pela 
prisão, assim como quem são as eventuais testemunhas (art. 306, § 2º, CPP). A 
CF/88 consagra que toda pessoa que é presa tem o direito de saber os motivos 
pela qual está sendo presa. Essa informação é passada pela “nota de culpa”, que 
deve ser entregue em até 24 horas da prisão. 
SEGUNDA OBRIGAÇÃO: Nas mesmas 24 horas, uma cópia do auto é 
encaminhada à Defensoria Pública, se o preso não tem advogado (art. 306, § 1º, 
CPP). 
TERCEIRA OBRIGAÇÃO: Remeter o auto ao juiz (art. 306, § 1º, CPP). Em 
24 horas da prisão, o auto de flagrante tem de chegar na mão do juiz (das 
garantias). Além de comunicada imediatamente a prisão ao juiz, o MP e à família 
do preso ou pessoa por ele indicada, o Código estatui ainda que, em 24 horas 
após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente (das garantias) 
o auto de prisão em flagrante. 
OBS 1: Nas 24 horas subsequentes, será realizada a audiência de custódia 
(art. 310, caput, CPP). 
OBS 2: AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
É o ato solene, em que o preso será ouvido pelo juiz na presença do MP e 
do advogado, para que o juiz possa deliberar sobre a situação prisional. Também 
se pode conceituar a audiência de custódia como o direito de que a pessoa presa 
possui de ser conduzida, sem demora, à presença de uma autoridade judicial 
(magistrado), que, por sua vez, irá analisar se os direitos fundamentais dessa 
pessoa foram respeitados; se a prisão em flagrante foi legal ou se deve ser 
relaxada (art. 310, I, do CPP), se a prisão cautelar deve ser decretada (art. 310, II, 
do CPP) ou se o preso poderá receber a liberdade provisória (art. 310, III, CPP) 
ou medida cautelar diversa da prisão (art. 319). 
Hipóteses conferidas ao juiz na audiência de custódia 
PRIMEIRA HIPÓTESE: Se a prisão for ilegal, deve ser relaxada (art. 310, 
I, CPP). 
CONCLUSÃO: O relaxamento caracteriza a libertação incondicional de 
quem foi ilegalmente preso. 
OBS: Tem-se entendido que não haverá vício formal se essa comunicação 
não atender o prazo fixado no art. 306, § 1º, do CPP, constituindo-se o retardo em 
mera irregularidade, sem o condão de ensejar o relaxamento da segregação 
cautelar. 
SEGUNDA HIPÓTESE: A prisão concretizada pode ser legal. Se na 
audiência de custódia o juiz percebe a legalidade, deve homologar o auto de 
flagrante, que consiste na chancela do juiz, validando tudo o que ocorreu na 
delegacia. Diante da homologação do auto de flagrante, é preciso analisar se é 
necessário manter o sujeito preso. Se for necessário, converte o flagrante em 
preventiva. Se não for necessário, concede ao preso a liberdade provisória. 
Assim, homologado o auto, o juiz pode adotar as seguintes medidas: 
a) Se a prisão for necessária, o flagrante será convertido em preventiva, 
desde que presentes os requisitos do art. 312, do CPP; 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
OBS 1: A conversão só é admitida se não forem mais adequadas as 
medidas cautelares distintas da prisão (art. 310, II, CPP). Assim, a segunda 
hipótese é converter o flagrante em preventiva, desde que presentes os requisitos 
do art. 312 do CPP e que as medidas cautelares diversas da prisão não sejam mais 
adequadas. 
OBS 2: O STJ tem admitido a conversão de ofício, contrariando 
entendimento do STF do Min. Celso de Mello. Prisão preventiva não pode ser 
decretada de ofício pelo juiz (art. 311, CPP), mas a conversão do flagrante em 
preventiva de ofício é admitida pela Quinta e Sexta turma do STJ, e não é 
admitida pelo STF. 
b) Se a prisão for desnecessária, caberá ao juiz conceder ao sujeito 
liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança (art. 310, III, 
CPP). 
2.1.5.3. Questões complementares envolvendo o flagrante 
PRIMEIRA QUESTÃO: Infração de menor potencial ofensivo. 
Nos crimes com pena de até 2 anos e contravenções, o auto de flagrante é 
substituído pelo TCO, e o sujeito é liberado independente de fiança, desde que 
seja imediatamente encaminhado ao JECRIM, ou assuma tal compromisso (art. 
69, Lei 9.099/95). 
SEGUNDA QUESTÃO: Crimes de ação privada e de ação pública 
condicionada. 
A lavratura do auto depende da prévia manifestação de vontade do 
legítimo interessado. 
2.1.5.4. Crimes permanentes 
O crime permanente é o crime que está se consumando a todo tempo, 
enquanto perdurar a permanência. Exemplo: sequestro. No crime permanente a 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
prisão em flagrante é cabível a qualquer tempo, enquanto perdurar a 
permanência (art. 303, CPP). 
ADVERTÊNCIA: De acordo com o STF e o STJ, a invasão domiciliar para 
prender em flagrante exige que existam prévios indícios justificando a invasão. 
Precedente: STF. RE nº 603.616. 
2.2. PRISÃO PREVENTIVA 
I – É a prisão de natureza cautelar mais ampla, sendo uma eficiente 
ferramenta de encarceramento durante toda a persecução penal, leia-se, durante 
a investigação preliminar (inquérito policial e demais procedimentos 
investigativos) e na fase processual. É cabível durante toda a persecução penal, 
portanto. Pode ser decretada, ainda, mesmo antes de iniciada a investigação 
criminal. 
CONCLUSÃO: A preventiva é cabível no inquérito, no processo e, se for 
urgente, mesmo antes de deflagrada a investigação. 
II – É decretada pelo juiz, mediante provocação pelos seguintes 
legitimados: (a) Ministério Público; (b) Querelante; (c) Delegado; e (d) Assistente 
de acusação. O assistente de acusação é a vítima do crime ou os seus sucessores, 
que podem se habilitar no processo para auxiliar o MP. 
OBS 1: Pela atual redação do art. 311 do CPP, não cabe preventiva de 
ofício. 
Juiz não pode decretar prisão preventiva de ofício, portanto. Em 2011 
proibiram decretação de ofício na fase do processo, ficando só no inquérito. Com 
o Pacote Anticrime, a decretação de ofício na fase do inquérito também acabou. 
Todavia, se o juiz converter o flagrante em preventiva de ofício, o STJ diz que 
pode. 
OBS 2: O art. 20 da Lei Maria da Penha autoriza a decretação de ofício no 
inquérito e no processo. Tal dispositivo ofende o sistema acusatório. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
III – Prisão preventiva não tem prazo de duração, desde que cumpridos os 
requisitos do art. 312 do CPP. 
2.2.1. Requisitos da prisão preventiva 
Para a decretação da preventiva é fundamental a demonstração de prova 
da existência do crime, revelando a materialidade, assim como indícios 
suficientes de autoria ou participação na infração (art. 312, CPP). 
Aqui não se utiliza o periculum in mora, tampouco o fumus boni iuris, 
utilizados no processo civil. No processo penal: 
i. Fumus commissi delicti: consiste na fumaça da prática do delito. 
Necessário indícios de autoria e de prova da materialidade, ou seja, 
prova da existência do crime. Então quanto à autoria, necessita-se 
de meros indícios; quanto à materialidade é preciso de provas, vale 
dizer, a constatação de que o crime ocorreu. 
OBS: É o que chamamos de justa causa da preventiva. 
O fumus commissi delicti, sozinho, não serve para decretar a preventiva. 
Necessário acoplar ao periculum libertatis, isto é,perigo da liberdade. Se a 
liberdade da pessoa oferece perigo, essa pessoa precisa ser presa. 
OBS 1: Ele nos entrega as hipóteses de decretação da preventiva. 
OBS 2: O pacote anticrime formulou uma intervenção no caput do artigo 
312 para dizer que eu preciso de indícios que revelem que o Estado de liberdade 
da pessoa é um risco. Ou seja, as hipóteses de decretação da preventiva, 
traduzidas no periculum libertatis, também precisam estar materializadas por 
meio de lastro indiciário. Necessário indícios de que a liberdade da pessoa é um 
perigo e, portanto, ela precisa ser presa (art. 312, CPP). 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
OBS 3: De acordo com o § 1º, do art. 315 do CPP, e com o § 2º do art. 312 
do CPP, os argumentos que autorizam a preventiva devem ser novos ou 
contemporâneos. 
OBS 4: A prisão preventiva não pode ser uma prisão banal. Vale dizer, não 
se decreta preventiva diante da mera instauração do inquérito; diante da mera 
oferta ou recebimento da denúncia; ou como uma forma de antecipar o 
cumprimento de pena. Para sua decretação imprescindível a sua necessidade. 
2.2.2. Hipóteses de decretação 
Quando é que a preventiva pode ser decretada? Há sete hipóteses de 
decretação: 
a) Garantia da ordem pública: não se tem um conceito exato do 
significado da expressão ordem pública, o que tem levado a oscilações 
doutrinárias e jurisprudenciais quanto ao seu real significado. Todavia, 
é a hipótese que mais faz incidir a prisão preventiva. 
Para Rômulo Moreira e Aury Lopes Jr., o fundamento da garantia da 
ordem pública não tem respaldo constitucional, por força da sua abstração. 
Uma segunda posição, capitaneada por Guilherme Nucci, diz que a 
garantia da ordem pública estará em risco se houver: (a) repercussão social do 
fato; (b) gravidade concreta do crime (não é a mera quantidade de pena); (c) 
perigosidade do agente (periculosidade é para inimputável). Esses argumentos 
servem de maneira individual ou conjugada. 
Há, ainda, uma terceira posição, capitaneada pelo STJ, que diz que a 
garantia da ordem pública estará em risco quando o sujeito em liberdade 
provavelmente vai continuar praticando crimes. 
b) Garantia da ordem econômica: se eu prendo alguém para garantir a 
ordem econômica, significa que aquele sujeito em liberdade 
provavelmente continuará praticando crimes contra a ordem 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
econômica. Todavia, a garantia da ordem econômica é espécie do 
gênero garantia da ordem pública. Então é um fundamento ocioso, de 
modo que se ele deixar de existir, não fará falta. 
c) Garantia da instrução criminal: instrução criminal é a livre produção 
da prova. Se o sujeito estiver comprometendo a instrução criminal, será 
preso. Ou seja, impede-se que o agente destrua provas, ameace 
testemunhas, ou comprometa de qualquer maneira a apuração dos 
fatos. Deve-se, com isso, imprimir esforço no atendimento ao devido 
processo legal, que é expressão de garantia, na faceta da justa e livre 
produção do manancial de provas. 
d) Garantia de aplicação da lei penal: almeja-se evitar ou coibir a fuga, 
impedindo o sumiço do autor do fato, que deseja eximir-se de eventual 
cumprimento da sanção penal. Mas a fuga não se presume, se 
demonstra. Fuga não pode ser especulativa. 
OBS 1: A mera situação econômica não é fundamento individual de prisão, 
na suposição de fuga. 
OBS 2: A ausência do réu ao interrogatório, por si só, mesmo que 
injustificada, não autoriza a decretação da preventiva por suposição de fuga. 
e) Ausência de identificação civil: quem não está identificado civilmente 
(sem RG, passaporte, CNH), será preso preventivamente, até 
apresentar o documento ou esclarecer a dúvida quanto à identidade. 
Mas não é o fato de não ter identificação civil que será necessariamente 
preso. É preciso haver um fato pretérito (delito). 
CONCLUSÃO: A prisão persiste até a apresentação do documento ou o 
esclarecimento da dúvida quanto à identidade. 
f) Descumprimento de medida protetiva na violência doméstica: A Lei 
Maria da Penha traz as medidas protetivas de urgência, que são 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
medidas cautelares criadas para blindar a vítima da violência 
doméstica. 
OBS: O descumprimento também acarreta responsabilidade penal (art. 24-
A, da 11.340/06). 
g) Descumprimento de medida cautelar do art. 319 do CPP: quando o 
auto de prisão em flagrante é lavrado, vai para o juiz. Se entender legal, 
homologa. Se entender necessário, converte em preventiva, a não ser 
que as medidas cautelares diversas da prisão sejam suficientes. 
OBS: O juiz poderá adotar as seguintes medidas: 
i. Substituir a medida por outra; 
ii. Cumular a medida com outra; 
iii. Decretar a preventiva. 
AULA 7 DE OUTUBRO 
2.2.3. Crimes que comportam a preventiva 
Sendo o encarceramento cautelar medida de exceção, o legislador 
restringiu o cabimento da preventiva a uma gama restrita de delitos. 
A regra é que, preenchido os pressupostos, a preventiva é cabível aos 
crimes dolosos mais graves (pena máxima superior a quatro anos), 
independentemente de ser apenado com reclusão ou detenção (art. 313, I, CPP). 
CONCLUSÃO 1: Se a pena máxima é de até 4 anos, não cabe preventiva. 
CONCLUSÃO 2: Ficam de fora os crimes culposos e as contravenções 
penais, sob pena de abuso de autoridade, de forma peremptória, pois 
representaria uma desproporcionalidade manifesta a decretação de preventiva 
em tais infrações. 
2.2.3.1. Exceção 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Eventualmente a prisão preventiva pode ser decretada independente da 
quantidade de pena máxima prevista para o crime. Não se aplica para crime 
culposo, mas ao crime doloso, o quantitativo da pena máxima, eventualmente, 
pode ser desconsiderado. Hipóteses: 
• Reincidência em crime doloso (sentença condenatória já transitada 
em julgado); 
• Ausência de identificação civil; 
• Descumprimento de medida protetiva na violência doméstica; 
• Descumprimento de medida cautelar do art. 319, do CPP. 
 
2.2.4. Questões complementares 
2.2.4.1. Preventiva x excludente de ilicitude 
Se pela análise dos autos houver indícios de que o sujeito atuou amparado 
por excludente de ilicitude, a preventiva não será decretada (art. 314, CPP). Não 
só as excludentes de ilicitude previstas na parte geral do CP impedem o cárcere, 
mas também, por analogia, as previstas na parte especial e na legislação 
extravagante. 7 
2.2.4.2. Fundamentação do mandado 
O art. 315, do CPP, impõe fundamentação da decisão (interlocutória) que 
decreta, substitui por outra medida cautelar ou denega a prisão preventiva. Tal 
exigência decorre também do princípio constitucional da motivação das decisões 
judiciais (art. 93, IX, CF). 
A decisão judicial deve ser motivada, explicitando as razões que justificam 
o encarceramento. 
O § 2º do art. 315 do CPP adota técnica similar ao § 1º do art. 489 do CPC, 
indicando quando a decisão judicial não está motivada. 
2.2.4.3. Tempo da preventiva 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Nós não temos, na lei, prazo de duração da preventiva, que persiste no 
tempo, diante da necessidade, que é medida pela presença das hipóteses de 
decretação. 
CONCLUSÃO 1: Se os fundamentos desaparecem, a preventiva será 
revogada. Se reaparecerem, a preventiva pode ser redecretada (art. 316, CPP). 
OBS: Direito ao não esquecimento. O parágrafo único do art. 316 do CPP 
assegura o direito ao não esquecimento. A situação prisional, perenizada no 
tempo, sem a verificação da manutenção dos requisitos autorizadores, perde a 
contemporaneidade, exigida pelos § 2º do art. 312 do CPP, como também pode 
simbolizar a antecipação do cumprimento da própria pena, inadmitida pelo § 2º 
do art. 313 do CPP. Por conseguinte, deve o juiz, de ofício,revisitar a cárcere, sob 
pena de tornar ilegal a medida (art. 316, parágrafo único, CPP), robustecendo a 
transitoriedade da preventiva, característica que lhe é inerente. 
Assim, a cada 90 dias, o juiz deverá reavaliar o mandado, o que deve ser 
feito de ofício. Para que o sujeito continue preso, o juiz deverá remotivar a prisão. 
CONCLUSÃO: A omissão leva à ilegalidade da prisão, que merece 
relaxamento. 
2.2.4.4. Substituição da preventiva por prisão domiciliar 
Por critérios essencialmente humanitários, a preventiva pode ser 
substituída por domiciliar, diante das hipóteses do art. 318 do CPP. 
OBS 1: O art. 318-A do CPP aponta restrições inerentes ao tratamento da 
mulher. 
OBS 2: De acordo com o art. 318-B do CPP, a substituição pode ser 
cumulada com outras medidas cautelares pessoais. 
2.3. PRISÃO TEMPORÁRIA (LEI 7.960/89) 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
A temporária é a prisão de natureza cautelar, com prazo preestabelecido 
de duração, cabível exclusivamente na fase do inquérito policial (ou de 
investigação preliminar equivalente), objetivando o encarceramento em razão 
das infrações seletamente indicadas na legislação. 
É decretada pelo juiz a requerimento do Ministério Público ou por 
representação do delegado, com prazo, desde que presentes os requisitos do art. 
1º, da Lei 7.960/89. 
OBS: Prisão temporária NUNCA poderá ser decretada de ofício. 
OBS: O querelante e o assistente de acusação não foram contemplados 
como legitimados a provocar o juiz. 
Malgrado a Lei 7.960/89 indique o cabimento apenas durante a tramitação 
do inquérito, o CPP ampliou o âmbito de incidência da medida cautelar ao 
disciplinar o seu cabimento durante as investigações, sem restringir-se ao 
inquérito policial (art. 282, § 2º, CPP) 
2.3.1. Hipóteses de prisão temporária 
Como medida cautelar de segregação da liberdade, é essencial a presença 
do fumus commissi delicti e do periculum libertatis para que a temporária seja 
decretada, revelando a necessidade da prisão. Para a imposição da medida, 
devem ser atendidos os requisitos específicos, a par dos pressupostos gerais 
regrados no art. 282, do CPP, observando-se o juízo de proporcionalidade a partir 
da (a) necessidade; (b) adequação. 
O cabimento da prisão temporária é excepcionalíssimo, pelo que, além 
desses pressupostos, devem ser preenchidos os requisitos para a sua decretação 
que, com supedâneo no art. 1º da Lei 7.960/89, é admitida nas seguintes 
hipóteses: 
a) Imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial; 
b) Se o sujeito não tem residência fixa ou identificação civil; 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
c) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova 
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado 
em um dos crimes graves previstos em lei, quais sejam, aqueles 
elencados no inciso III, art. 1º, da Lei 7.960/89, bem como os crimes 
hediondos. 
OBS: Os crimes que comportam temporária estão listados no art. 1º, inciso 
III, da Lei 7.960/89, e no art. 1º, da Lei 9.072/90. 
ADVERTÊNCIA 1: Conjugação de incisos. O fumus commissi delicti é 
simbolizado pelo inciso III e o periculum libertatis é simbolizado pelo I e/ou II. 
Mas é necessária a presença dos dois para a decretação da temporária. Assim, 
conjuga-se os dois: para decretar a temporária, sempre vai ser preciso o inciso III. 
E o inciso III será somado e/ou ao II. 
Prisão temporária = inciso III + inciso I e/ou inciso II. 
2.3.2. Procedimento 
PRIMEIRO PASSO: Provocação emanada do MP ou do delegado, já que 
nunca poderá ser decretada de ofício. 
SEGUNDO PASSO: A provocação é feita ao juiz que dispõe de 24 horas 
para deliberar. 
2.3.2.1. Questões complementares ao procedimento 
a) Prazo 
Crimes comuns: 5 dias com prorrogação por mais 5. A prorrogação 
pressupõe requerimento do MP ou representação da autoridade policial, 
devidamente fundamentados, cabendo ao magistrado deliberar quanto à sua 
admissibilidade. Incabível prorrogação de ofício. Deve o juiz ouvir o MP quando 
a provocação for feita pela autoridade policial. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Crimes hediondos e assemelhados (tráfico de drogas, terrorismo e 
tortura): 30 dias prorrogáveis por mais 30. 
OBS 1: A decretação da temporária e a prorrogação do prazo exigem 
ordem judicial motivada com prévia oitiva do MP. 
OBS 2: A temporária se autorevoga pelo decurso do tempo e a libertação 
do sujeito independe da expedição de alvará de soltura (art. 2º, Lei 7.960/89). 
OBS 3: No mandado o juiz aponta o termo final da prisão. 
OBS 4: O dia da prisão já é o primeiro dia do prazo. 
b) O mandado será expedido em duas vias, sendo que, uma delas fica 
com o preso, funcionando como nota de culpa. 
c) Postura do juiz 
Para fiscalizar o bom andamento da prisão temporária, o juiz pode adotar 
as seguintes medidas: (i) determinar que o preso lhe seja apresentado; (ii) 
submeter o preso a exame de corpo de delito; (iii) requisitar informações ao 
delegado. 
AULA 14 DE OUTUBRO 
d) Separação do preso 
O art. 300 do CPP tem redação similar ao art. 3º da Lei 7.960/89, de forma 
que o preso cautelar ficará separado do preso definitivo. NÃO SE TRATA DE 
FACULDADE, É IMPOSIÇÃO. Porém na prática não funciona. 
OBS: Com o art. 84 da Lei 7.210/84 (LEP), temos entre os presos cautelares 
a seguinte tripartição: 
i. Autores de crimes hediondos e assemelhados; 
ii. Autores de crimes praticados com violência ou grave ameaça 
contra a pessoa; 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
iii. Autores dos demais crimes e contravenções. 
PROCEDIMENTOS CRIMINAIS 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
1.1. Enquadramento terminológico 
O procedimento é uma sequência lógica de atos, concatenados em lei e 
destinados a uma finalidade. 
OBS: Não se pode confundir procedimento com processo. 
O processo é um procedimento em contraditório, ou seja, há uma 
sequência lógica de atos, necessariamente em contraditório, e enriquecida pela 
relação jurídica entre os sujeitos processuais (juiz e as partes). Então no processo 
soma-se duas vertentes: o aspecto objetivo do processo (sequência lógica de atos 
em contraditório), e aspecto subjetivo (a relação nutrida entre o juiz e as partes). 
Há diversos outros conceitos. 
O rito, por sua vez, é a amplitude assumida por um procedimento. Há 
procedimentos com rito mais célere (sumário ou sumaríssimo) e procedimentos 
amis amplos, com rito especial. Então rito é a frequência, a amplitude assumida 
por determinado procedimento criminal. 
Por fim, a ação é o direito público e subjetivo previsto na Constituição 
Federal de exigir do Estado-juiz a aplicação da lei ao caso concreto, para a solução 
da demanda penal. 
1.2. Classificação dos procedimentos criminais 
a) Procedimento comum 
Ele pode assumir três ritos diferentes: (a) procedimento comum de rito 
ordinário; (b) procedimento comum de rito sumário; (c) procedimento comum 
de rito sumaríssimo. 
Processo Penal II – Leonardo David – Prof. Nestor Távora – 2020.2 
Procedimento comum de rito ordinário: é aplicado supletivamente para 
suprir eventuais lacunas de qualquer outro procedimento criminal. É o “soldado 
de reserva”. É a grande referência. 
b) Procedimentos especiais 
Algo que não é comum, é porque é especial. Mas por que um 
procedimento criminal é especial? A especialidade do procedimento é definida 
pela natureza do crime ou pelo órgão jurisdicional perante o qual o procedimento 
é deflagrado. 
OBS: Principais hipóteses: 
• Júri; 
• Lei de Drogas; 
• Ações originárias em tribunal; 
• Crimes de responsabilidade dos funcionários públicos; 
• Crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígios; 
• Crimes contra a honra. 
 
1.3. Escolha do rito no procedimento comum 
a) Rito ordinário 
Rito ordinário é aplicado

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