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MECÂNICA DOS FLUIDOS Hidrodinâmica: Fluidos em escoamento e a Equação da Continuidade Prof. Isaías Soares REGIME PERMANENTE • Quando a água escoa de uma torneira para a pia, podemos perceber o nível de líquido aumentando nela, especialmente se tampamos a saída de água. No entanto, obviamente, podemos manter a torneira aberta sem encher a pia, bastando retirar a tampa de saída. Se conseguirmos ajustar a vazão da torneira de forma que o nível de líquido na pia fique constante, atingimos então o regime estacionário ou permanente. O regime permanente é caracterizado pelo fato das propriedades do fluido serem as mesmas em todos os pontos com o passar do tempo. • Como a quantidade de líquido por unidade de tempo que entra é igual á quantidade que sai, a massa específica, velocidade, pressão são invariáveis em cada ponto no fluido. Porém, entre os diferentes pontos, a lei de Stevin, por exemplo, continua válida. Quando o regime não é permanente, isto é, quando as propriedades de um fluido em determinado ponto variam, dizemos que ele é transiente ou variado. Fonte: Brunetti,F. Mecânica dos Fluidos. 2ª Edição - Pearson Prof. Isaías Soares REGIME PERMANENTE • Um reservatório de grandes dimensões (a) é dito como aquele em que, apesar de haver fluido escoando ou descarregando, o nível do líquido nele não varia sensivelmente com o passar do tempo e se pode considerar seu escoamento como permanente. • No caso da figura b, como o seção transversal é relativamente pequena frente à descarga do fluido, dizemos que ele é um reservatório de regime transiente ou variado, pois o nível de líquido varia sensivelmente com o passar do tempo. Fonte: Brunetti,F. Mecânica dos Fluidos. 2ª Edição - Pearson Prof. Isaías Soares REGIME DE ESCOAMENTO • Seja um reservatório contendo água, no qual se liga a ele um tubo transparente contendo um fluido colorido. No fim do reservatório, há uma válvula que permite a saída de água. Entre a válvula de saída e o fundo do reservatório, há um trecho transparente no qual há a mistura da água com o fluido colorido. Para analisar o comportamento do escoamento da água, obsevra-se o comportamento de escoamento do fluido colorido. • Observa-se na figura, a formação de um filete colorido reto e contínuo, logo que a válvula de saída é pouco aberta . No entanto, se a válvula continuar se abrindo gradativamente, haverá ondulações desse filete, até que ele se mistura totalmente com a água e desaparece. Fonte: Brunetti,F. Mecânica dos Fluidos. 2ª Edição - Pearson Prof. Isaías Soares REGIME DE ESCOAMENTO • Podemos classificar o regime de escoamento, nesse contexto, dessa maneira: • Em (a) vemos o filete reto e contínuo, causado pela pouca abertura da válvula. Esse regime de escoamento é denominado Laminar, pois vemos o fluido colorido na forma de uma lâmina. Esse regime é caracterizado por uma baixa velocidade de escoamento, em que as partículas viajam sem agitações transversais. Ao abrirmos gradativamente a válvula, as ondulações (b) caracterizam uma transição de regime de escoamento para um regime mais agitado (c). Esse regime agitado, caracterizado por uma alta velocidade de fluido com alta agitação macroscópica, é chamado de Turbulento. https://storage.googleapis.com/blog2015/2016/10/escoamento-turbulento-12.jpg Prof. Isaías Soares https://storage.googleapis.com/blog2015/2016/10/escoamento-turbulento-12.jpg REGIME DE ESCOAMENTO • Para caracterizar o regime de escoamento na prática, usa-se uma equação empírica desenvolvida por Stokes em 1851 , mas popularizada por Osborne Reynolds em 1883 (ambos irlandeses). Essa equação fornece o número de Reynolds (adimensional): 𝑅𝑒 = 𝜌𝑣𝐷 𝜇 Em que: 𝜌 é a massa específica do fluido, v é a velocidade do fluido, D é o diâmetro de escoamento (não necessariamente o diâmetro de um tubo por onde o fluido escoa) e μ é a viscosidade dinâmica do fluido. Como 𝜈 = 𝜇 𝜌 , que é a viscosidade cinemática, a equação do número de Reynolds pode ser escrita também por: 𝑅𝑒 = 𝑣𝐷 𝜈 Não confundir a velocidade no numerador com a viscosidade cinemática (denominador). O número de Reynolds é uma razão entre a força inercial do fluido (ρ.v) e sua força viscosa (D/μ). Prof. Isaías Soares REGIME DE ESCOAMENTO • Temos as seguintes faixas: Re < 2000 (Escoamento laminar) 2000 < Re < 2300 (Escoamento de transição) Re > 2300 (Escoamento turbulento) Dessa maneira, quanto maior o velocidade do fluido ou menor sua viscosidade, maior a tendência do regime de escoamento ser turbulento. Para esse escoamento em específico, existem flutuações da velocidade em cada ponto, porém, pode-se considera-lo como permanente para uma grande maioria dos casos, adotando em cada ponto a média das velocidades. Aparelhos que medem a velocidade de um fluido indicam um valor permanente em cada flutuação que corresponde à média das velocidades em relação ao tempo. Fonte: Brunetti,F. Mecânica dos Fluidos. 2ª Edição - Pearson Prof. Isaías Soares EXERCÍCIO 1 Água a 20°C escoa através de uma tubulação de 8 cm de diâmetro a uma velocidade de 0,32 m/s. Qual o regime de escoamento? Dado: viscosidade dinâmica da água a 20°C : 0,001 kg/m.s Solução: Aplicando a equação do número de Reynolds, vem: 𝑅𝑒 = 𝜌𝑣𝐷 𝜇 = 1000 𝑘𝑔 𝑚3 × 0,32𝑚 𝑠 × 0,08 𝑚 0,001 𝑘𝑔 𝑚. 𝑠 = 2,56 × 104 Regime turbulento. Prof. Isaías Soares EXERCÍCIO 2 Glicerina escoa com uma velocidade de 3 m/s com um diâmetro de escoamento de 60 cm. Qual a o regime de escoamento da glicerina? Dados: viscosidade dinâmica da glicerina: 1,485 Pa.s e massa específica: 1,26g/mL. Solução: Aplicando a equação do número de Reynolds, vem (lembre-se Pa.s = kg/(m.s): 𝑅𝑒 = 𝜌𝑣𝐷 𝜇 = 1260 𝑘𝑔 𝑚3 × 3𝑚 𝑠 × 0,60 𝑚 1,485 𝑘𝑔 𝑚. 𝑠 = 1527 Regime laminar. Prof. Isaías Soares A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE A Equação da continuidade em Mecânica dos Fluidos é a equação do balanço de massa para um escoamento. Sua dedução requer a observação do volume de controle do sistema, ao qual escoa. Fox –Introduction to Fluid Mechanic- 8th Edition Prof. Isaías Soares A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE Para que exista conservação de massa M escoando no sistema, devemos fazer: 𝑑𝑀 𝑑𝑡 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 = 0 Onde 𝑀𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 = න𝑑𝑚 𝑀(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = න𝜌𝑑𝑉 𝑉(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) Em que dm é a massa de um elemento de massa do sistema e dV o elemento de volume. Após uma longa manipulação matemática e deduções envolvendo álgebra em cima das superfícies das regiões I e III da figura anterior (que não serão levadas em consideração aqui), chegamos em: 𝑑𝑀 𝑑𝑡 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 = 𝜕 𝜕𝑡 න𝜌𝑑𝑉 𝑉𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) + න𝜌. Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) Prof. Isaías Soares A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE Em que VC é o volume de controle, SC é a superfície de controle v é a velocidade (vetor velocidade) e A é a área de escoamento. Como o primeiro membro da equação é igual a zero (dM/dt = 0), temos, finalmente: Que é a equação da continuidade para um fluido escoando. O primeiro termo representa a taxa de variação de massa dentro do volume de controle e o segundo termo representa a taxa líquida de massa através da superfície de controle. De forma que: 𝜕 𝜕𝑡 න𝜌𝑑𝑉 𝑉𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = − න𝜌. Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) O que significa que a taxa de aumento de massa é devido à passagem de massa pela superfície de controle do sistema. 𝜕 𝜕𝑡 න𝜌𝑑𝑉 𝑉𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) + න𝜌. Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = 0 Prof. Isaías Soares A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE Considerando escoamento incompressível, ou seja, aquele que ocorre com líquidos, podemos colocar a massa específica pra fora da integral, uma vez que ela é constante nesses casos. Isso dá: 𝜌 𝜕 𝜕𝑡 න𝑑𝑉 𝑉𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) + න𝜌. Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = 0 A primeira integral é simplesmente V, o volume de controle do sistema, o que dá: 𝜕𝑉 𝜕𝑡 + න Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = 0 Considerando que o sistema não muda de forma durante o escoamento, V é constantecom o tempo, e chegamos finalmente a: න Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = 0 Equação da continuidade para um sistema incompressível e não deformável Prof. Isaías Soares A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE As unidade de medida da grandeza dentro da integral é um produto da velocidade de escoamento (m/s, no SI) pela área de escoamento (no SI m2), que resulta em m3/s no SI. Essa grandeza é chamada de vazão volumétrica, a qual representamos por Q. Então, a equação da continuidade para sistemas incompressíveis e indeformáveis com o tempo diz que a soma de todas as vazões volumétricas de correntes passando pela superfície de controle são iguais a zero. Então, para uma vazão volumétrica entrando num volume de controle fixo, seu valor deve ser o mesmo na saída. Então, podemos escrever a definição de vazão volumétrica como sendo: 𝑄 = න 𝐴 Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 Prof. Isaías Soares EXERCÍCIO 3 Uma mangueira com água corrente a uma velocidade de 0,80 m/s possui diâmetro de 5 cm. Qual a vazão volumétrica de escoamento? Você pressiona a saída da mangueira com o dedo polegar de forma que o escoamento de saída tenha diâmetro de 2 cm. Qual a velocidade com que a água sai? Solução: Como a área de escoamento e a velocidade da mangueira não mudam, a equação da continuidade se torna, simplesmente: Q = v.A Substituindo os dados, vem: Q = v 𝜋𝐷2 4 = 0,80m s . 𝜋(0,05 𝑚)2 4 =1,57 x 10-3 m3/s = 1,57 L/s Como a vazão de entrada é igual á vazão de saída, podemos fazer: A1v1 = A2.v2 → 𝑣1 𝜋𝐷1 2 4 = 𝑣2 𝜋𝐷2 2 4 → 0,8 𝑚 𝑠 × 52 = 𝑣2 × 2 2 → 𝑣2 = 𝟓𝒎/𝒔 Prof. Isaías Soares EXERCÍCIO 4 • Considere um fluxo estacionário de água numa junção de tubulação, como na figura abaixo. As áreas são A1 = A2 = 0,2 m 2 e A3 = 0,15 m 2. Fluido é perdido por um buraco, com uma vazão de 0,1 m3/s. As velocidades médias nas seções 1 e 3, são, respectivamente 5 e 12 m/s. Qual a velocidade do fluido na seção 2? Ela é uma entrada ou uma saída de água? Solução: Água é tida nesse contexto como um fluido incompressível e sem deformação. Então, podemos usar a equação da continuidade para esse caso. Logo: න Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = 0 Então: Ԧ𝑣1 Ԧ𝐴1 + Ԧ𝑣2 Ԧ𝐴2 + Ԧ𝑣3 Ԧ𝐴3 + 𝑄4 = 0 Precisamos analisar primeiro as entradas e saídas para ver o sinal do vetor. Faremos a velocidade ser positiva na região que entra e negativa na que sai. Assim: (5m/s). 0,2 m2 + Ԧ𝑣2 Ԧ𝐴2 – (12 m/s) . 0,15 m 2 – 0,1 m3/s = 0 Ԧ𝑣2= 0,9 𝑚3/𝑠 0,2 𝑚2 = 𝟒, 𝟓 𝒎 𝒔 (o fluxo é de entrada) Fox –Introduction to Fluid Mechanic- 8th Edition Prof. Isaías Soares EXERCÍCIO 5 • Um gás de massa específica 0,5 kg/m3 escoa em regime permanente com uma vazão mássica de 5kg/s pela seção de um tubo de área 1 m x 0,5 m (seção 1). O gás atravessa para uma seção (2) em que sua massa específica aumenta para 1 kg/m3, de mesma área. Qual a velocidade do gás na seção 1? e na seção 2? Solução: Como o gás varia sua massa específica durante o escoamento e o regime é permanente, temos: න𝜌. Ԧ𝑣. 𝑑 Ԧ𝐴 𝑆𝐶(𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎) = 0 Ou ρ1v1A1 = ρ2v2A2 A quantidade da esquerda e da direita são iguais à vazão mássica (massa por unidade de tempo), então temos: ρ1v1A1 = 5 kg/s → 0,5 (kg/m 3) x v1 x (1m x 0,5m) = 5 kg/s → v1 = 20 m/s. E na seção 2, como A2 = A1, temos v2 = ρ1v1/ρ2 = 0,5 (kg/m 3) x 20 m/s /1 (kg/m3) = 10 m/s Prof. Isaías Soares EXERCÍCIO 6 • Na Figura, os reservatórios são cúbicos. Se o reservatório 1 leva 100 s para ser enchido e o reservatório 2 leva 500 s. Determine a velocidade de escoamento na seção A. Solução: Como o fluido é líquido, admitimos vazões volumétricas de entrada e saída como sendo iguais. A equação da continuidade diz que a vazão de água na seção A é igual á soma das vazões dos reservatórios 1 e 2. Então: QA = Q1 + Q2 As Vazões Q1 e Q2, são: Q1 = (5m) 3/100 s = 1,25 m3/s Q2 = (10m) 3/500 s = 2 m3/s Logo: QA = vA.AA = 1,25 m 3/s + 2 m3/s = 3,25 m3/s Finalmente: vA = 3,25 (m 3/s)/(𝜋1𝑚2/4)= 4,14 m/s Prof. Isaías Soares
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