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• A Aids trata-se do caso mais extremo de imunossupressão causado por um patógeno, o vírus HIV, que leva à perda gradual de imunocompetência. • Essa doença se caracteriza pela suscetibilidade à infecção por patógenos oportunistas ou pela ocorrência de uma forma agressiva de sarcoma de Kaposi ou linfoma de células B, acompanhado de profunda diminuição do número de células T CD4. • Ao isolar o vírus, foi possível identificar a existências de dois tipos: HIV 1 e HIV 2. O HIV 2 é endêmico na África Ocidental e se dissemina na Índia. O HIV 1 é o mais virulento e apresenta notável variabilidade genética, sendo classificado em 3 grupos de acordo com sua sequência nucleotídica: M (main), O (outlier) e N (non-M, non-0). O grupo M é a principal causa de Aids mundial e apresenta-se geneticamente diversificado em subtipos, os clados, que são designados por letras que vão de A até K. Em diferentes partes do mundo, diferentes subtipos predominam. Como ocorre a infecção? • Ela pode ocorrer após a transferência de fluidos corporais de uma pessoa infectada para uma não infectada. A infecção pelo HIV dissemina-se na maioria das vezes por intercurso sexual, agulhas contaminadas utilizadas para administração intravenosa e uso terapêutico de sangue ou hemoderivados contaminados. • Outra via de transmissão do vírus é de uma mãe infectada para seu bebê, no parto ou pelo leite materno. A taxa de transmissão depende da severidade da infecção (determinada pela carga viral) e da frequência de amamentação. Fármacos antirretrovirais, como zidovudina (AZT) ou nevirapina, administrados durante a gravidez reduzem significativamente a quantidade de vírus passado ao recém-nascido, reduzindo, portanto, a frequência de transmissão. Como é e como atua o HIV? • O HIV é um retrovírus envelopado, pertencente ao grupo dos lentivírus (devido ao curso gradual da doença que causam). • Cada vírion, partícula viral, apresenta duas cópias de um genoma RNA e várias cópias de enzimas essenciais para replicação viral. • O genoma viral completo do HIV é composto por 9 genes flanqueados por longas sequências terminais repetidas (LTRs), envolvidas na integração e na regulação da transcrição do genoma viral. O HIV compartilha 3 genes principais: gag, pol e env. Os outros 6 genes incluem: Tat, Ver, Nef, Vif, Vpr e Vpu. • Os produtos de gag, pol e env estão presentes na partícula madura do vírus, junto com o DNA viral. Os mRNAs das proteínas Tat, Ver e Nef são produzidos pelo processamento dos transcritos virais, de modo que seus genes são divididos no genoma viral. (gp120env) (gp41) • O tropismo celular do vírus, ou seja, sua capacidade de penetrar em determinadas células, depende da expressão de receptores na superfície celular. O HIV adentra as células por meio de um complexo de duas glicoproteínas, gp120 e gp41, no envelope viral. • A porção gpl20 une-se com alta afinidade ao CD4 na superfície celular, dirigindo o vírus para as células CD4, as células dendríticas e os macrófagos, que também expressam algum CD4. Além disso, gp120 se junta também aos correceptores CCR5, expressos em células T CD4 de memória, células dendríticas e macrófagos, e CXCR4, o qual é expresso em células T ativadas. • Após essa ligação, a porção gp41 causa a fusão do envelope viral com a membrana plasmática da célula, permitindo que o genoma viral e as proteínas virais associadas penetrem no citoplasma. • Quando o HIV entra na célula, ele leva consigo outras proteínas que o auxiliarão a se replicar. A transcriptase reversa transcreve o RNA viral em uma cópia de DNA complementar (cDNA), que se integra no genoma da célula hospedeira pela integrase viral. A cópia de cDNA integrada é conhecida como provírus. • Em células T CD4 ativadas, a replicação viral é iniciada pela transcrição do provírus. A partir de um provírus HIV integrado nas células T CD4, a produção de partículas virais infecciosas é estimulada pela ativação das células T. Isso induz a transcrição do RNA viral pelo RNA-polimerase II celular. O transcrito é processado para produzir mRNAs que dirigem a síntese de proteínas virais e, posteriormente, genomas RNA de novas partículas virais. • As células eucarióticas usufruem de mecanismos que dificultam a exportação dos mRNAs que não foram completamente processados no núcleo celular. A fim de “driblar” esse empecilho, o HIV apresenta a proteína Rev. • Uma vez que a exportação do núcleo e a tradução de Tat, Nef e Rev, ocorrem precocemente após a infecção viral por meio dos mecanismos celulares normais de exportação do mRNA do hospedeiro, a proteína expressa Rev entra no núcleo e liga-se a uma sequência de RNA viral específica, o elemento de resposta à Rev (RRE). • Na presença de Rev, o RNA é exportado do núcleo antes que possa ser processado, de forma que as proteínas estruturais e o RNA genômico possam ser produzidos. • Quando o provírus é ativado pela primeira vez, os níveis de Rev são baixos, e os transcritos são translocados lentamente do núcleo, podendo ocorrer múltiplos processamentos e assim, são produzidos mais Rev e Tat, que assegura a produção de mais transcritos virais. • Posteriormente, quando os níveis de Rev já estão elevados, os transcritos são translocados rapidamente do núcleo, não processados ou com um único processamento. Esses transcritos são traduzidos para produzir os componentes estruturais do núcleo e do envelope viral, junto com transcriptase reversa, integrase e protease viral, todos necessários para produzir novas partículas virais. • Os transcritos completos sem processamento, que são exportados do núcleo tardiamente no ciclo infeccioso, são necessários à tradução de gag e pol e são também destinados a serem empacotados com as proteínas, constituindo o genoma de RNA das novas partículas virais. • A replicação viral também depende de outras proteínas. A Fiv (fator de infectividade viral) se liga ao RNA e se acumula no citoplasma e na membrana plasmática das células infectadas. Ela atua na evasão da defesa natural celular contra o retrovírus, pela indução do transporte de APOBEC (anula a capacidade de codificar proteínas virais) aos proteossomas, onde é degradado. • A Nef (fator de regulação negativa) induz a ativação das células T e o estabelecimento persistente de infecção pelo HIV. Além disso, uma vez que inibe a expressão do MHC 1 nas células infectadas, ela favorece a produção de células ativamente infectadas menos suscetíveis à morte por linfócitos T citotóxicos. Ela também inibe a apresentação de antígenos pelo MHC II nas células T CD4, o que inibe a resposta imune antiviral. • A expressão de Vpr (proteína viral R) está relacionada ao aumento da produção viral e sua liberação. Já a de Vpu (proteína viral U) é solicitada para a maturação da progênie e sua liberação eficiente. Como a imunidade é destruída? • O principal reservatório da infecção pelo HIV é o tecido linfoide, no qual as células T CD4, os monócitos, os macrófagos e as células dendríticas infectados são encontrados. • A fase aguda da infecção é caracterizada por viremia (abundância viral) no sangue periférico e queda marcante nos níveis de células T CD4 circulantes, sendo esta última devida à extensiva morte de células T CD4 nos tecidos linfoides associados ao intestino (GALT), onde residem os maiores números de células T CD4 do organismo. A viremia aguda está associada, à ativação das células T CD8, que matam as células infectadas pelo HIV; e, subsequentemente, à produção de anticorpos, ou soroconversão. • Nessa fase, o HIV começa a se mutar rapidamente à medida que a resposta antiviral de células T CD4 contra a infecção progride, e seleciona mutantes de fuga que não são mais detectados pela resposta imune adaptativa, permitindo variantes diferentes do HIV em uma única infecção. • A existência de variantes permite a infecção de diferentes tipos de células.Por exemplo, as que estão associadas à infecção primária utilizam o CCR5, sendo chamados de R5 e são transmitidos, preferencialmente, por contato sexual. Seu alvo são as células enriquecidas nos tecidos linfoides de mucosa. Como as mucosas intestinal e genital estão constantemente expostas a micróbios comensais, elas ancoram um grande número de células imunes ativadas nas quais a replicação do HIV ocorre prontamente. • Diferentes mucosas são revestidas por diferentes epitélios. Esses podem ser: escamoso estratificado, que é um epitélio composto de várias camadas celulares ou escamoso estratificado, que é um epitélio composto de várias camadas celulares. • Em epitélios escamosos, o HIV se liga às células dendríticas por meio da ligação do gpl20 viral aos receptores de lectinas tipo C. Enquanto as células migram para o tecido linfoide, parte do vírus ligado é internalizado em endossomas, onde é permanece estável. Posteriormente, O HIV é translocado de volta à superfície celular, e quando a célula dendrítica encontra uma célula T CD4 dentro de um tecido linfoide secundário, o HIV é transferido à célula T. • Em epitélios de monocamada, há a presença de outra molécula ligadora, a galactosil glicosfingolipídica, seletiva para R5. Assim, o vírus se liga e infecta células T CD4 da submucosa e células dendríticas. Tardiamente, o fenótipo viral muda para X4, que infecta as células T por meio dos correceptores CXCR4, acarretando declínio dos níveis de células T CD4 e progressão para a Aids. • Posteriormente, os sintomas de viremia aguda costumam desaparecer. O ponto de definição viral, nível persistente de vírus no plasma sanguíneo, indica a progressão da doença. Então, chega o período de quiescência aparente, a latência clínica ou fase assintomática. • Durante a latência, há replicação persistente do vírus e um declínio gradual da função e número das células T CD4 até que, por fim, hajam poucas células T CD4 residuais. Quando isso acontece (pode levar até 20 anos ou mais), é encerrada a fase de latência e as infecções oportunistas começam a surgir, marcando o início da Aids. • Geralmente, os agentes que mais se manifestam oportunamente são o Candida oral e o M. tuberculosis. Posteriormente, os pacientes podem sofre com outras coinfecções geradas pela ativação do herpes-zóster latente, de agressivos linfomas de células B induzidos pelo EBV e de sarcoma de Kaposi. Há casos em que há um desenvolvimento de pneumonia pelo P. jirovecii. Outra coinfecção comum é com a Hepatite C, que tem sua progressão acelerada. • Nem todos os indivíduos acometidos pela Aids irá apresentar todas essas doenças e tumores, sendo possível a ocorrência de outras menos frequentes. Há medicamentos contra o HIV? • Existem algumas drogas capazes de bloquear a replicação do HIV inibindo algumas enzimas virais, como: a transcriptase reversa, essencial para a síntese do provírus e a protease viral, que cliva as poliproteínas virais para produzir as proteínas do vírion e as enzimas virais. • A transcriptase reversa é inibida por análogos de nucleosídeos como a zidovudina (AZT). Os inibidores da transcriptase reversa e da protease impedem o estabelecimento de infecção subsequente em células não infectadas. • Uma vez que a Aids ainda não tem cura, um tratamento eficiente para o controle da infecção é a combinação de coquetel de inibidores de protease e análogos de nucleosídeos, a terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), que reduz drasticamente os níveis de mortalidade em pacientes com infecção avançada causada pelo HIV. • Uma hipótese acerca de como atua a HAART é pela opsonização das partículas virais por anticorpos específicos e complemento e removidas por células do sistema fagocítico mononuclear. Além disso, A HAART é, ainda, acompanhada por um aumento lento, mas regular de células T CD4, que podem ser cruciais para o controle da infecção pelo HIV. Assim, uma vez que o vírus apresenta tropismo para essas células, matando-as, a incapacidade da resposta imune do hospedeiro de controlar a infecção pode estar associada a essa redução dos níveis de T CD4. • Embora a HAART seja efetiva n controle da progressão da infecção para a Aids e a transmissão do HIV, ela é ineficiente na erradicação de todos os depósitos virais. Ademais, sua interrupção resulta no retorno rápido da multiplicação viral. Como prevenir o HIV? • Para prevenção, é necessário evitar o contato com fluidos orgânicos, como sêmen, sangue, hemoderivados ou leite materno, de pessoas que estão infectadas. • Além disso, é também importante a realização de teste de HIV e a conscientização acerca da relutância e do receio do resultado positivo.
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