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Prova de Introdução à Sociologia

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Curso de Psicologia 
Disciplina: Sociologia VI 
Professor: Fabricio Teló 
 
Avaliação 2 
 
Nome: Rebecca Addum Moraes 
 
Durante a disciplina de sociologia, mostrou-se clara a relação de interdependência entre a 
psicologia e as ciências sociais, sendo de suma importância o entendimento de uma para o 
melhor esclarecimento da outra. Alguns autores estudados elaboraram teses sobre a relação 
entre essas duas disciplinas. Um desses autores foi Marcel Mauss, que analisou a relação de 
entre a sociologia e a psicologia em seu texto “​Sociologia e Antropologia”​. Além de Norbert 
Elias, que analisou em sua obra “Teoria dos processos civilizadores” o poder que a sociedade 
tem sobre o indivíduo e o poder que o indivíduo exerce sobre a sociedade​. Através das ideias 
desses dois autores e alguns outros que serão citados ao longo deste texto, serão analisados os 
principais pontos de encontro dessas duas disciplinas. 
O primeiro autor trabalhado foi Marcel Mauss, que em sua tese propõe uma ajuda mútua 
entre a psicologia e a sociologia, baseando-se na proximidade que essas duas possuem. Um 
dos pilares de sua ideia, é que o homem deve ser sempre analisado em sua totalidade, de 
forma que não se exclua nenhum âmbito de sua vida, pois se assim acontecer, a análise 
realizada estaria incompleta. Com isso, acredita que existem diversos pontos em que a 
psicologia traz ideias e conceitos que são úteis para as ciências sociais, e vice versa. Em seu 
texto, o autor ainda especifica quatro dessas contribuições: noção de vigor e fraqueza mental 
ou nervosa; noção de psicose, noção de símbolo; e noção de instinto. 
Na primeira delas, a noção de vigor mental, o autor revela o poder que a mente exerce sobre o 
físico, usando como exemplo sociedades em que os indivíduos, ao crerem que estão em 
 
Universidade Federal Fluminense 
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia 
Departamento de Sociologia e Metodologia de Ciências Sociais 
estado de pecado ou que estão prestes a falecer devido a forças sobrenaturais, acabam de fato 
falecendo sem ao menos apresentar sinais físicos dessa morte. Outro exemplo dado pelo autor 
são as ideias trazidas por Durkheim em sua obra “Suicídio”, na qual fica claro a força de 
influência que a consciência coletiva exerce sobre a consciência individual, levando o sujeito 
a tomar decisões que comprometem sua própria vida. 
Por sua vez, a noção de psicose trazida pela psicologia, substitui a noção de uma ideia fixa. 
As ideias exageradas que envolvem a psicose segundo o autor “têm uma imensa capacidade 
de desenvolvimento e persistência, e, pela maneira como elas frequentam a consciência 
individual, compreendemos melhor a maneira como são acreditadas quando praticadas pelo 
grupo em conjunto, são verificadas pela obsessão comum do grupo”. Esse fenômeno 
depende, portanto, de uma relação fora do comum que existirá entre o sujeito e o ambiente 
que ele está presente. 
A próxima é a noção de símbolo e de atividade essencialmente simbólica do espírito, na qual 
o autor explica que a maior parte dos estados mentais são determinados por signos e símbolos 
de estado geral e por um conjunto de atividades e de imagens, e sobretudo são utilizados 
como tais pelos mecanismos mais profundos da consciência, “não pode haver comunhão e 
comunicação entre homens a não ser por símbolos”. Mauss mostra que todo o fato social é 
fortemente influenciado por seu aspecto simbólico e que as representações simbólicas 
escolhidas para cada coisa definem, de maneira coletiva, o valor e papel que aquilo exercerá 
sobre os indivíduos. 
A última noção é a de instinto, em que o autor mostra que existe uma relação muito forte 
entre as coisas e o corpo, que interfere diretamente na maneira como reagimos ao que está ao 
nosso redor. Mauss explica que, as noções dos símbolos criadas na sociedade só são possíveis 
pois compartilhamos de um instinto em comum que nos permite interpretá-los de maneira 
semelhante. As necessidades dos sujeitos, para o autor, não são mais do que expressões 
diretas ou indiretas do instinto. O instinto humano é, então, o eixo central para as outras 
diversas noções que vimos aqui, pois é por causa dele que os indivíduos se compreendem, 
desejam e necessitam coisas muitas vezes semelhantes. 
Trabalhadas essas quatro nossos, pode-se entender o quanto o autor considera importante essa 
articulação entre a psicologia e a sociologia, levando em conta que a consciência individual 
nunca age de maneira segregada, mas sim a partir de uma consciência coletiva que por sua 
vez também depende dos sujeitos de cada sociedade. A partir daí, o autor acredita ser 
essencial o estudo do homem em sua totalidade, sem exclusão de quaisquer aspectos de sua 
vida. Por fim, Mauss desafia a psicologia a trabalhar com a noção dos instintos, de maneira a 
ser aquela que irá auxiliar o homem a controlá-los, ideia que se aproxima do que é mostrado 
por Elias ao se tratar da temática das pulsões e de como estas, conforme o desenvolvimento 
da sociedade, tendem a ser cada vez mais controladas. 
O segundo autor é Elias que em ​“Teoria dos processos civilizadores” trabalha o conceito de 
civilização como uma mudança na constituição psicológica do indivíduo, e mostra como o 
processo civilizador envolve o desenvolvimento do autocontrole que, pouco a pouco, vai se 
instaurando em todos os indivíduos de uma sociedade. Sendo assim, ele procura dar fim à 
dicotomia sociedade indivíduo, mostrando como o caminho do processo civilizador é 
marcado por diversas variáveis que nunca dependem só de um desses elementos. O rumo 
desse processo não pode ser encarado como determinação imposta por apenas um ou um 
grupo de indivíduos, mas trata-se de um conjunto de planos e ações isoladas, que por causa 
da interdependência entre as pessoas, acabam gerando mudanças e uma nova ordem maior do 
que essas vontades isoladas e “essa ordem social, que determina o curso da mudança 
histórica, e que subjaz ao processo civilizador”, como explica Elias em seu texto. 
O processo civilizador, para além do que já explicado, é também aquele que molda a 
personalidade do indivíduo, como o autor mostra no seguinte trecho “Toda essa 
reorganização dos relacionamentos humanos se fez acompanhar de correspondentes 
mudanças nas maneiras, na estrutura da personalidade do homem, cujo resultado provisório é 
nossa forma de conduta e de sentimentos ‘civilizados’”. É justamente quando abrange o tema 
da personalidade que o autor mais aproxima os dois temas trabalhados, pois revela a 
simultaneidade entre o indivíduo e a sociedade, no qual um é definido pelo outro quase que a 
todo instante. 
Durante o processo de civilização, para o autor, também são estabelecidas diferentes funções 
para cada indivíduo daquela sociedade. Funções essas que, além de aumentarem a 
interdependência, pois cada um agora depende que o outro realize sua função para que se 
possa haver uma harmonia social, também interferem no nível e maneira que cada um irá 
controlarsuas pulsões, ou seja, como cada um irá desenvolver o seu autocontrole. “A 
diferenciação em marcha, das funções sociais, porém, é apenas a primeira e a mais geral 
dentre as transformações que observamos ao estudar a mudança na constituição psicológica 
conhecida como civilização”, pois além dessa mudança o autor também mostra que, com a 
reorganização do tecido social, e conforme mais complexa ele fica, tem-se uma organização 
central mais estável e uma monopolização mais firme da força física. A partir da sintonia 
entre esses dois aparatos, que é determinada pelo desenvolvimento do autocontrole, a nova 
ordem se instaura de maneira que, através do tempo, torna-se automática, fazendo com que os 
indivíduos, desde a infância, estejam inseridos em um padrão altamente regulado e 
diferenciado de autocontrole. Esse grau mais elevado de automatismo e de autocontrole acaba 
tornando-se uma espécie de “segunda natureza”. 
Comparando esta ideia do autor com o que foi estudado na disciplina de Introdução a 
Psicologia Clínica, na qual foram trabalhados os conceitos de sociedade de controle e 
sociedade disciplinar de Foucault, pode-se notar uma semelhança no processo de transição 
entre essas duas sociedades. Na primeira, as normas são colocadas pelas instituições em 
forma de imposição e, apesar de nem sempre serem bem aceitas, são seguidas. Já na segunda 
os indivíduos são por si só detentores e promovedores da norma, ela se torna parte natural do 
indivíduo, apesar de ainda ser proveniente de uma organização central. 
Elias trabalha também em seu texto os conceitos da psicanálise de Freud, relacionando-os 
com todo o processo civilizador. Conceitos como os de “ego” e “superego”, que além de 
serem provenientes das relações entre os vários conjuntos de funções psicológicas, se dão 
entre as paixões e sentimentos controlados do homem que, por sua vez, são controlados pela 
estrutura que modifica-se durante o curso de um processo civilizador. O autor também 
levanta a ideia de que para deixar de lado o seu lado instintivo, ou seja, para controlar suas 
pulsões, o indivíduo acaba levando suas tensões para dentro de si. “Parte das tensões e 
paixões que antes eram liberadas diretamente na luta de um homem com outro terá agora que 
ser elaborada no interior do ser humano” e, com isso, os conflitos internos passam a ser muito 
mais recorrentes e preocupantes, “nem sempre a autotransformação requerida pela vida em 
sociedade leva a um novo equilíbrio entre satisfação e controle das emoções”. Utilizando-se 
dos termos da psicanálise, o autor diz que há agora uma tensão entre o “superego” e o 
“inconsciente”, em que superego se esforça para controlar e suprimir as emoções de acordo 
com o que a sociedade determina. 
Elias faz, então, diversas pontes entre essas duas áreas do conhecimento e, assim como 
Mauss, trabalha acerca da importância que existe em articular o homem com a sociedade na 
qual ele está inserido. Com as obras desses autores e no decorrer na disciplina, pode-se notar 
de fato a extrema colaboração que as ciências sociais têm para a psicologia. As diferentes 
sociedades demandam diferentes interpretações das ações do ser humano, além de serem 
muito determinantes para o trabalho do psicólogo. Portanto, o bom entendimento da estrutura 
e do contexto social nos quais o sujeito está inserido são essenciais para a análise completa 
dele. 
 
Referências bibliográficas: 
- ​MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia (Caps. 3 e 4). 
- ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador (Caps. 1 e 5). 
- PASSOS, Eduardo e BENEVIDES, Regina. Clínica e biopolítica na experiência do 
contemporâneo 
.

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