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Trabalho da disciplina de Linguagem Nome: Rebecca Addum Moraes Professor: Emílio Na obra “Para compreender Saussure: Fundamentos e visão crítica” o autor Castelar de Carvalho traz a tona os principais pontos do pensamento estruturalista de Saussure com relação à linguagem. Além de algumas críticas acerca de suas ideias e pensamentos de outros linguistas (como Giraud). “ Saussure considera a língua como um sistema de signos formados pela ‘união do sentido e da imagem acústica’” (De Carvalho, 1998, p.31) e, a partir desses conceitos iniciais, inaugura uma estrutura lógica da linguagem, que permite ao pesquisador a entrar em contato com a linguagem e utilizá-la sem ser afetado por ela; a linguagem permite a universalização. A Semiologia irá distinguir dois tipos de sinais: os naturais e os convencionais. Os naturais se caracterizam por serem indício (físico) ou sintoma (fisiológico); já os convencionais, que envolvem maior complexidade e pressupõem a existência de uma cultura, podem se apresentar em forma de ícone (que é imagístico, por exemplo, uma estatueta), símbolo (totalmente arbitrário, constitui a palavra em si) ou signo (semi-arbitrário, sendo um intermediário entre o ícone e o signo). (De Carvalho, 1998). Ao se tratar da ideia de signo Saussure irá trazer a tona algumas importantes características e relevâncias a respeito da escolha de tal conceito. Primeiramente, como citado anteriormente, Saussure divide o signo em significado e significante. O primeiro representa o conceito ou ideia, ou seja, a representação mental de um objeto ou da realidade social na qual estamos inseridos. Já o significante representa a imagem acústica do que está sendo representado. Portanto, temos que, para Saussure, “(...) conceito é sinônimo de significado, algo como a parte espiritual da palavra, sua contraparte é inteligível em oposição ao significante, que é sua parte sensível” (De Carvalho, 1998, p.33). Estes dois, significante e significado, que constituem juntos o signo, estão intimamente interligados, sendo independentes e inseparáveis. Uma característica importante do signo verbal é que este é capaz de voltar-se para si mesmo e voltar-se para outros signos, dando à linguagem verbal a potência de comunicar para terceiros que não passaram pela experiência. Uma crítica à teoria do signo de Saussure baseia-se no fato do autor considerar o signo como uma entidade bifacial, deixando de lado um terceiro termo - a coisa significada - na sua teoria. (De Carvalho, 1998). Para Saussure, a coisa significada, não estabelece relação com nenhuma das partes que constituem o signo: nem significado, nem significante. Por isso, alguns autores críticos a tal modelo, incluíram na relação do signo o referente ou coisa significada. Ressaltou-se, entretanto, que neste novo esquema, não existe nenhum vínculo direto entre a coisa e o símbolo. Os princípios do signo, para Saussure, são a arbitrariedade e a linearidade. O primeiro, irá se dividir em arbitrário absoluto e arbitrário relativo. Tem-se a ideia de arbitrário uma vez que entende-se que o significado não tem nenhuma relação necessária e “interior” com o significante que o representa. Isto é, “não existe significante verdadeiro”, a sua escolha é feita de modo arbitrário, aleatório, de forma que qualquer outro seria válido em seu lugar. As subdivisões, absoluto e relativo, do conceito arbitrário, surgem do reconhecimento da possibilidade de existência de certos graus de motivação entre significado e significante. Ou seja, certos significados são constituídos de forma absolutamente imotivadas; outros, por sua vez, tem como base conceitos imotivados pré- estabelecidos e, por isso, tem um certo nível de motivação, sendo definidos, portanto, como arbitrários relativos. Em reformulação do princípio de arbitrariedade do signo de Saussure, o autor da obra apresenta o pensamento de outro autor, Pierre Giraud, a respeito do tema. Giraud irá estruturar a motivação, dividindo-a primeiramente em interna e externa. A interna, mais importante para o funcionamento da língua, é caracterizada por sua morfologia e divide-se em derivação e composição: a derivação pode ser a adição de um prefixo ou sufixo a uma palavra; já a composição caracteriza-se, por exemplo, pela justaposição ou aglutinação de duas palavras, criando assim uma nova. Por sua vez, a motivação externa pode ser fonética ou metassêmica. A primeira é motivada por um fonema, como é o caso das onomatopéias, sua motivação é etimológica. Já a segunda, engloba os casos de transferência semântica, como a metáfora e a metonímia. O mais relevante do pensamento de Giraud é que ele se difere de Saussure pois entende que a priori os significantes possuem motivações e se relacionam com seu significado. Entretanto, com o tempo, tais motivações são esquecidas, trazendo a tona uma característica arbitrária para os significantes, uma vez que os indivíduos não mais tem a consciência da motivação que levou ao uso de determinado significante e não de outro. O segundo princípio do signo de Saussure, a linearidade, baseia-se no fato de que “toda unidade linguística tem valor único sem matizes intermediários” (De Carvalho, 1998). Isto é, os elementos do significante são diferentes entre si, independentes, limitados, sem variações. Há uma linearidade intrínseca aos significantes, que os faz ser limitados a uma só representação por vez. Um significante não pode representar dois significados ao mesmo tempo. Portanto, podemos dizer que a língua funciona como uma sucessão de unidades discretas, e nunca como unidades que podem ser sobrepostas, não havendo a possibilidade de admitir uma mensagem intermediária. Estes dois princípios do signo de Saussure constituem seu modelo estruturalista para a linguagem, em que o signo da língua é essencialmente verbal. Tal modelo, propõe-se a pensar estruturas universais que vão ao mesmo tempo pertencer ao acontecimento e não ser parte só dele. Esta estrutura visa a criação de uma lógica que se atualiza o tempo todo, que necessita deslocar-se do mundano para se fazer como verdade. Além disso, o pensamento de Saussure é também representacionista, uma vez que consiste na ideia de que a linguagem tem a função de traduzir o mundo. Outros modelos mais contemporâneos, em contraponto ao estruturalismo, foram surgindo de forma a criticar a posição da linguagem como tradução do mundo. Este novo viés não representacionista diz que a linguagem está no mundo, fazendo parte dele. Na obra “Políticas da Cognição” a autora Silvia Tedesco irá trazer a tona as diferenças entre o modelo estruturalista/formalista e o modelo pragmático, além de mostrar de maneira crítica os resultados da imposição do modelo estruturalista no mundo. Novas direções a respeito da linguagem são discutidas por Silvia Tedesco, a partir da articulação de três planos: linguístico, e extralinguístico e não linguístico. Em primeiro lugar, a autora analisa o modelo formalista, emque há “(...) o pressuposto de que representar é reproduzir o mundo no plano das ideias e aí organizá-lo num movimento de duplicação do representado no representante” (Tedesco, 2008, p.114). Isto é, a língua recaí sobre o mundo através de uma organização invariante, entretanto, há no mundo uma variabilidade excessiva. O projeto dessa língua cuja organização é dada de modo invariante surge com Descartes e tem por objetivo a criação de uma máquina de guerra para lutar contra a obscuridade de sua época, criando um jogo de poder da verdade. Com isso, “(...)a linguagem adquire positividade nova e ganha estatuto de instrumento e objeto de saber. As ideias não sendo mais senão uma versão conceitual dos signos, o pensamento precisa ser elaborado na e pela linguagem” (Tedesco, 2008, p.115). Portanto, a linguística de Saussure vai ser uma tentativa de manter uma razão pura, em que a linguagem será o seu chão. Ou seja, através da pureza tenta traçar um único caminho, uma única verdade que irá deslegitimar as outras. Por outro lado, no modelo pragmático “(...) a linguagem vai assumir uma nova configuração onde a fronteira entre o linguístico e o extralinguístico é revisada” (Tedesco, 2008, p.119). Tal modelo não está preocupado com o que produz a linguagem, questionamento que nos leva para um vício determinístico histórico, que é o vício da origem (se descubro qual a minha origem, descobrirei minha essência). Por outro lado, a preocupação do modelo pragmático é entender como acontece a linguagem, questionamento que dificilmente escapa do ser, pois compreende que não posso entender a essência atual olhando apenas para a minha essência na origem, uma vez que há toda uma história de transformações entre essas duas. Com isso, o pragmatismo faz uma crítica a respeito da linguagem formalista uma vez que este irá nomear as coisas, modelando-as e construindo um selo para outros exercícios de pensar. Silvia explica, através das ideias de Austin, que “O isolamento linguístico em relação ao extralinguístico não deixava ver a performatividade.”. Performatividade essa que consiste num conjunto de expressões que está junto com o que chamamos de linguagem. Uma linguagem ordinária é necessariamente performativa e todo discurso tem uma performatividade implícita. Tal característica faz com que toda e qualquer palavra seja uma palavra de ordem, uma vez que esta se dá por um jogo de forças que inclui a performatividade. Além disso, é importante ressaltar que alguns enunciados possuem performatividades diferentes em cada circunstância. Por exemplo, no enunciado “Isto é um assalto” só pode ser entendido através da performatividade que a ele está associada. Ou seja, não se pode dissociar a palavra desse universo que Austin chama de extralinguístico, pois, se isso é feito, não se consegue definir a performatividade da palavra. Por sua vez, o extralinguístico é definido como todo um conjunto de ações, de espaço, de tempo e de sujeitos que faz com que se tenha um direcionamento específico para um enunciado. Na linguística de Saussure, o enunciado é um conjunto de registros verbais; o extralinguístico seria o que está fora desse conjunto. Silvia Tedesco aborda também as ideias dos autores M. Foucault, G. Deleuze e F. Guattari que se atrelam também ao pragmatismo, uma vez que irão traçar um nova noção para a linguagem que também irá buscar compreender como tal coisa acontece. Tais ideias baseiam-se na palavra como uma força que traz consigo uma condição de universalidade que permite a construção do indivíduo (conceito que nasceu no século XVIII). Ao se enunciar o indivíduo, constrói-se um conjunto de forças e enuncia-se também um mundo específico que interessava ao século em que tal conceito surgiu. Os estudos de Foucault, Deleuze e Guattari trazem para a palavra uma densidade que irá acontecer no tempo. Isto é, entende-se os conceitos como parte de um momento histórico, em que cada uma das épocas irá construir ou não um solo fértil para determinadas palavras e pensamentos . Com isso, surge também a reflexão de que quanto mais eu adentro uma verdade universal, menos esta é o efeito de uma história e mais ela se torna uma verdade absoluta. As condições de possibilidade de ação e de enunciação de um sujeito nos permitem entender os enunciados de cada época e foi através dessas condições que esses autores pautaram suas obras. Portanto, entende-se através dos pensamentos desses três autores que cada palavra carrega rastros de mundos, e destrinchar os rastros de cada signo nos permite traçar uma genealogia e uma cartografia de tais signos. Além disso, entende-se que cada rastro carrega aspectos linguísticos e extralinguísticos que já estão inseridos em nosso mundo e são mutáveis, pois se modificam de acordo com a situação. Outro aspecto importante levantado pela autora é a respeito dos limites criados pelo modelo estruturalista da linguagem. Para o viés pragmático, não é possível delimitar os limites entre, por exemplo, o verde e o azul, pois tais limites guardam certa indefinição. Por isso, para o pragmatismo, é sempre bom explorar o conceito até onde este aguenta ir; caso contrário, tal conceito acaba se tornando uma referência para o pensamento, ou seja, uma moral consolidada. Entretanto, o Estado moderno se preocupa em delimitar o que cada indivíduo ou grupo deve e pode ou não fazer, além de impor que haja uma delimitação clara do objeto de estudo dos campos do saber para que estes possam se afirmar como ciência. Com isso, não há espaço para a ambiguidade no mundo moderno. Há, portanto, uma zona localizada entre os limites criados pelo signo em que pressupõe-se o vazio. Contudo, tal zona se caracteriza por aquilo que ainda não foi capturado pelos signos verbais (que, como dito antes, é o principal recurso de organização do mundo e o signo privilegiado de captura). Ou seja, está zona constitui aquilo que denominou-se de não linguístico. Enquanto o linguístico e o extralinguístico estabelecem composições das mais variadas em nossos mundo, a zona do não linguístico é desconhecida por causa das limitações dadas na nomeação do mundo e, uma vez que sua fissura aparece, há uma ânsia de ocupar todas as lacunas. Com isso, o limite entre os seres torna-se um jogo de ambiguidade sem fim, em que o desconhecido apavora. Quando isso acontece, é necessário criar novos limites e novas nomeações, para que se possa tentar capturar a realidade novamente, uma vez que a verdade busca ser sempre linguística. Assim, cada vez que se enuncia uma verdade, joga-se para o verbo um poder de enunciar a verdade e seus limites que ele não possui. Entretanto, este jogo é vigente pois possui uma eficácia no mundo moderno, uma vez que captura tudo aquilo que convém e deixa escapar aquilo que não tem funcionalidade aparente (o não linguístico). Uma realidade nomeada é uma realidade que ganha mais presença e, por sua vez,o não linguístico só tem sentido quando torna-se presente, mas ainda sim não capturado. A arte se dá como exemplo de expressão daquilo que não foi capturado, o não linguístico e, por isso, vai de choque com os horizontes do mundo. Portanto, através da análise dos dois textos, é possível entender em qual contexto e de que maneira a linguagem se instaurou na sociedade como instrumento de poder e influência na vida dos indivíduos. Com a estrutura da língua trazida por Saussure e muitos outros, pôde-se usar a linguagem como instrumento de cientifização do mundo. Em contraposição a isso, a obra de Silvia Tedesco irá fazer um resgate daquilo que foi perdido no momento da criação dos limites para as coisas mundanas. O modelo pragmático pensado por muitos autores de grande destaque tem ganhado muita força, pois permite olhar para aspectos do mundo que foram esquecidos e enterrados por essa máquina de guerra que é a linguagem representacionista. Esta que, o tempo todo, busca estabelecer verdades que são meramente linguísticas. Por fim, é possível ainda pensar todas estas relações no campo da Psicologia, no qual, a partir desse novo viés pragmático, desafia-se a pensar corpos e suas relações com o não linguístico. Sendo assim, o não linguístico é para a Psicologia um pressuposto ético para que se possa trabalhar com o outro, uma vez que este outro sempre irá trazer algo dentro de si que não faz parte do mundo linguístico e extralinguístico do psicólogo.
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