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Raça Ovina Churra do Campo Caraterização da população atual Carlos de Sousa Coutinho Rebelo de Andrade Carlos de Sousa Coutinho Rebello de Andrade termi- nou a Licenciatura em Engª Zootécnica pela Universi- dade de Évora, em 1983. Como Diplomado, desen- volveu a sua atividade principal na área dos pequenos ruminantes. Dotado de um enorme sentido de observação, de espírito crítico, de reflexão e de análise, foi-se afirmando como um especialista de referência, que é hoje, na área dos Ovinos e Caprinos. Iniciou a sua atividade docente, na Escola Superior Agrária do I. P. de Castelo Branco, em 1984. Para além da leccionação de várias disciplinas na área da Zootecnia e em particular dos Ovinos e Caprinos, foi desde logo responsável pelo sector de Ovinicultura da Qta. de Snra. Mércules, da ESACB. Ao longo dos anos, foi comple- mentando a sua formação de base: Curso Superior Especializado em Produção Animal (Escola Superior de Medicina Veterinária - UTL); Conservation and manage- ment of animal genetic resources (CIHEAM - IAMZ, FAO, Zaragoza, Espanha); New Technologies For Dairy Sheep Production (CIHEAM - IAMZ, Vitoria-Gasteiz, Espanha); Mestrado em Zootecnia (U. Évora). Como Professor e para além da atividade lectiva, orientou trabalhos de estágio, participou em cursos breves, em júris de provas académicas e, como resultado do trabalho de I&D realizado, apresentou inúmeros trabalhos em congressos nacionais e internacionais. A abordagem metódica da Zootecnia e o reconhecimento das suas competências pelas Autoridades Nacionais, resultaram na sua nomeação em 2007, como Secretário Técnico do Livro Genealógico da raça ovina Churra do Campo. Como Professor, prepara e desenvolve nos alunos o rigor dos conhecimentos, deixando em todos laços grandes de reconhecimento e de amizade. Para além do que referi, como “criador” de cavalos Puro Sangue Lusitano, Carlos Andrade confirma e demonstra as suas qualidades de Zootécnico. Carlos Andrade, um Zootécnico de referência e um Amigo leal. José Pedro P Fragoso de Almeida (Professor Coordenador) Raça Ovina “Churra do Campo” Caraterização da população atual Carlos de Sousa Coutinho Rebello Andrade HBastos © do texto: Carlos de Sousa Coutinho Rebelo de Andrade © das imagens: os seus autores Ficha Técnica Edições IPCB Julho 2012 Instituto Politécnico de Castelo Branco Av. Pedro Álvares Cabral n.º 12 6000-084 Castelo Branco Portugal www.ipcb.pt Título Raça Ovina “Churra do Campo”. Caracterização da população actual Coordenador Carlos de Sousa Coutinho Rebelo de Andrade Capa Rui Tomás Monteiro Aguarela da capa João Cabral Projecto gráfico e paginação Rui Tomás Monteiro Tiragem 500 ex. Arte Final, impressão e acabamentos Serviços Gráficos do IPCB ISBN: 978-989-8196-30-9 Registo de Depósito Legal: 357480/13 Castelo Branco, Julho de 2012 Todos os direitos reservados. Salvo o previsto na Lei, não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro que ultrapasse o permitido pelo Código de Direitos de Autor, como a sua recompilação em sistema informático, nem a sua transformação por meios electrónicos, mecânicos, por fotocópias, por registo ou por outros métodos presentes ou futuros, mediantew qualquer meio para fins lucrativos ou privados, sem a autorização dos titulares do copyright e do autor que detêm a propriedade intelectual da obra. Nenhum texto, imagem ou marca é usado com o intuito de lesar direitos, autoria, reputação ou imagem de terceiros. Agradecimentos À Dr.ª Filomena Afonso (DGAV) e Dr. Luís Figueiras (CMP) pela disponibilidade e interesse sempre manifestados no acompanhamento da recuperação da raça. . Indice CAPITULO 1 Carateres produtivos e reprodutivos 1.1. Introdução 1.1.1. Origens e História da Raça Churra do Campo 1.1.2. Caracterização da Raça Ovina Churra do Campo 1.1.3. Objetivos 1.1.4. Estrutura dos rebanhos 1.2. Material e Métodos 1.3. Parâmetros Reprodutivos 1.4. Produção de Leite 1.5. Crescimento dos Borregos 1.6. Notas finais Bibliografia Agradecimentos CAPITULO 2 Carateristicas da Carcaça de Borrego 2.1.Introdução 2.2 Material e Métodos 2.3. Caracterização de Carcaças de Borregos 2.4 Notas finais Bibliografia CAPITULO 3 Composição e Qualidade Organoléptica da Carne de Borrego 3.1 Introdução 3.2 Material e Métodos 3.3. Qualidade Organolética da Carne de Borrego 3.3.1. Coloração, Capacidade de Retenção de Água e Tenrura 3.3.2. Ácidos Gordos da Carne 1 1 3 3 5 6 6 10 10 11 14 16 17 17 21 21 23 23 24 28 28 31 31 33 33 34 34 35 37 38 41 41 45 45 49 49 53 53 55 57 58 59 61 63 66 68 3.4 Notas Finais Bibliografia CAPITULO 4 Caraterização da Fibra Lanar da Raça Ovina Churra do Campo CAPITULO 5 Susceptibilidade da Raça Churra do Campo ao Scrapie CAPITULO 6 A PRND Polymorphism in Churra do Campo Portuguese Sheep Breed CAPITULO 7 Caraterização Genética da Raça Ovina Churra do Campo 7.1 Introdução 7.2 Material e Métodos 7.3 Análise Estatística 7.4 Resultados 7.4.1 Enquadramento da População Churra do Campo com outras Populações Ovinas. 7.4.2.Distância da Raça Churra do Campo a outras Populações Ovinas Nacionais 7.5 Conclusões Bibliografia Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 1 Capítulo 1 Carateres Produtivos e Reprodutivos Carvalho J.1, R. Marques2, A.J.T. Galvão1. C.S.C. Rebello de Andrade1 J.P.F. Almeida1 1 Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior Agrária Qt.ª Sr.ª Mércules, Apartado 119, 6001-909 Castelo Branco, Portugal 2 Câmara Municipal de Penamacor Largo do Município, 6090-543 Penamacor, Portugal 2 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 3 1.1. Introdução 1.1.1. Origens e História da Raça Churra do Campo Figura 1. Aspecto geral do rebanho da ESACB de Churra do Campo A raça ovina Churra do Campo derivou dos primitivos ovinos do tronco ibérico-pirenaico que povoaram todo o norte montanhoso da Península Ibérica. Foi descrita por Sobral et al., (1987) como sendo uma raça de pequeno formato, dotada de extrema rusticidade, o que lhe per- mitia subsistir em zonas muito pobres de pastagens, na raia da Beira Bai- xa com Espanha, Norte do Concelho de Idanha-a-Nova, Penamacor e algumas manchas no Concelho do Fundão. Explorada em regime exten- 4 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual sivo, caracterizava-se pela sua tripla função carne, leite e lã, no entanto não revelam nenhuma aptidão especializada (Sobral et al., 1987). Em 1972, a raça Churra do Campo representava 2,6 % do total ovino nacional, o que correspondia a 62.215 cabeças (DRABI, 2004). Quinze anos mais tarde, ou seja em 1987, a sua população estaria reduzida a metade, ou seja, entre as 30.000 a 40.000 cabeças (DGP, 1987 cit. por DRABI, 2004). Porém 2 anos depois e após uma avaliação cuidada por parte da Direcção Geral de Pecuária a Churra do Campo parece estar apenas restrita a 400 animais com as características morfológicas dentro das definidas pelo padrão da raça (DGP, 1989 cit. por DRABI, 2004). Em 1996, técnicos da Direcção Regional de Agricultura da Beira In- terior, constataram a existência de cerca de 400 fêmeas, com as caracte- rísticas morfológicas definidas pelo padrão da raça, em vários rebanhos heterogéneos (DRABI, 2004). Em 1997/8,decidiu então a Direcção Regional de Agricultura da Bei- ra Interior adquirir um pequeno núcleo de animais como tentativa de criar um núcleo de recuperação da raça, criando um efectivo de 16 fê- meas e 3 machos (DRABI, 2004). Em 2004, segundo o relatório do INIAP (2004) a raça estava consi- derada como extinta. Entretanto num Projecto Transfronteiriço, ao abrigo do programa INTERREG III – Rotas da Transumância, a Câmara Municipal de Pe- namacor (CMP) em parceria com a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco (ESA/IPCB) fizeram um esforço para recuperar animais ainda existentes em rebanhosdispersos e em 2007 fo- ram criadas as condições para implementar o Livro Genealógico (L.G.) da raça Churra do Campo. O efectivo actual desta raça é de 261 fêmeas e 17 machos divididos por seis explorações. A redução do efectivo desta raça, terá sido devida, provavelmente, às condições de mercado, que foram obrigando os produtores de ovinos a procurar raças mais adaptadas a sistemas intensivos e com maiores rendimentos de transformação, em leite ou carne. Este abandono das raças autóctones, menos adequadas ou pouco seleccionadas para tais fins, conduziu a uma diminuição significativa das populações alcançan- do níveis perto da extinção o que, se pode traduzir numa ameaça real à manutenção da biodiversidade. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 5 Quadro 1 - Evolução do efetivo Ovino Churra do Campo Por Freguesias 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Castelo Branco 28 36 40 38 53 59 Castelo Novo 0 0 0 10 7 10 Pedrogão 0 38 39 39 40 40 Meimoa 0 0 0 0 20 26 Penamacor 57 94 113 140 122 126 TOTAL Femeas 85 168 192 227 242 261 Castelo Branco 4 5 4 2 6 5 Castelo Novo 0 1 1 1 1 1 Pedrogão 0 1 1 1 1 1 Meimoa 0 0 0 0 1 1 Penamacor 1 1 5 10 7 9 Total Machos 5 8 11 14 16 17 1.1.2. Caracterização da Raça Ovina Churra do Campo As características morfológicas da raça encontram-se descritas por Sobral et al., (1987). Em síntese a raça Churra do Campo (ChC) possui uma estatura pequena e cor branca o velo é relativamente extenso, quase chega ao solo na época da tosquia. A cabeça é pequena e com lã na fronte (popa), perfis craniano e do chanfro retos, preferencialmente sem cornos nas fêmeas e frequentes nos machos. 6 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Os membros são curtos, em geral pigmentados de castanho nas zonas deslanadas a partir dos joelhos ou dos curvilhões ou um pouco mais acima. As características produtivas e reprodutivas encontradas em biblio- grafia são referidas na Tabela 1.1. 1.1.3. Objetivos A população de ovelhas da raça ChC atualmente é muito pequena e não se conhece até que ponto as suas caraterísticas estão desviadas da última caraterização efetuada por Sobral et al., (1987). Daí que, com este trabalho e outros que se seguirão, se pretende aprofundar o conheci- mento da população atual da raça ChC, no que respeita à produção lei- teira, caraterísticas de crescimento dos borregos, bem como os aspetos relacionados com a composição e qualidade das suas carcaças e da carne a duas idades distintas ao abate - 45 vs 120 dias. Pretende-se também caraterizar a raça ChC ao nível da fibra lanar, determinar o grau de susceptibilidade desta raça ao “Scrapie” e por fim fazer a caracterização genética pela análise de ADN. Tabela 1.1. Valores Produtivos e Reprodutivos da Raça Churra do Campo (Sobral et al., 1987). Peso vivo adulto Fêmeas 25 a 30 kg Machos 35 a 40 kg Peso ao Nascimento 2,5 a 3,0 kg Peso ao Desmame 15 a 18 kg Rendimento de Carcaça 45% Taxa Fertilidade 85 a 90% Taxa Prolificidade 110 a 120% Taxa Fecundidade 95 a 110% Produtividade 85 a 100 Produção de Leite 30 a 50 l Produção Diária 0,2 a 0,3 l Teor Butiroso 6 a 8% Peso do Velo machos 2,5 a 3,0 kg fêmeas 2,0 a 2,5 kg Rendimento em lavado 43% 1.1.4. Estrutura dos rebanhos Os rebanhos iniciais foram constituídos pela CMP e o Dr. António Cabanas. Daí vieram alguns animais para a ESA/IPCB. Só mais tarde Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 7 Figura 1 - Movimento de animais se conseguiu um núcleo de 68 animais que foram divididos pela CMP e ESA/IPCB. São estas duas explorações o esteio da Churra do Campo e a partir das quais se formarão outros núcleos (fig. 1.1). É um compromisso assumido pelas duas instituições para ser cum- prido a longo prazo visto que o núcleo inicial estava envelhecido. A evolução dos dois rebanhos ao longo do tempo está expressa nos gráficos 1.1 e 1.2. Pela análise efectuada, sem informação dos ascendentes das ovelhas iniciais, os coeficientes de consanguinidade são bastante baixos (Quadro 1) 8 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual ao contrário do que parece pela caracterização genética por análise do ADN que foi efectuada a todo o efectivo Churra do Campo. Vemos na fig. 1.2 que os carneiros mais utilizados são o 40, 41 e 48. Os dois primeiros são irmãos de mãe. Identificar a relação de parentesco permite estabelecer os emparelhamentos a fim de evitar problemas de consanguinidade. Fig. 1.2 – Árvore genealógica do rebanho da ESA/IPCB Gráfico 1.1 – Estrutura inicial e evolução do da ESA/IPCB até Dezembro 2010 Gráfico 1.2 – Estrutura inicial e evolução do efectivo da CMP até Dezembro 2010 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 9 Quadro 2 - Análise BLUP para peso ao nascimento 10 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 1.2. Material e Métodos O cálculo das taxas reprodutivas foi realizado segundo Desvignes (1968). A produção de leite foi estimada por aplicação do método Fleisch- mann aos resultados do contraste leiteiro quinzenal completo (sobre or- denho da manhã e da tarde). Os borregos foram pesados ao nascimento, sendo os pesos aos 30, 70 e 120 dias de idade, estimados por interpolação linear a partir dos resultados das pesagens quinzenais. Quanto aos ganhos médios diários, foram obtidos por regressão linear sobre as pesagens. A caracterização da lã foi realizada através da metodologia proposta pelo “European Fine Fibre Network” (EFFN, 1997), pelas normas do IWTO e Australian Standard/New Zealand Standard 4492.2 (Int.) (1997). Os resultados foram analisados estatisticamente por análise de vari- ância simples (Univariada, procedimento GLM), tendo as médias sido submetidas a teste das diferenças mínimas significativas; os resultados com diferenças significativas são referenciados nos quadros com *, ** ou ***, consoante o nível de significância P<0,05, P<0,01 e P<0,001 respectivamente. 1.3. Parâmetros Reprodutivos Os parâmetros reprodutivos foram calculados separadamente nas duas explorações em estudo, sendo os resultados apresentados na tabela 1.2. Tabela 1.2 - Parâmetros Reprodutivos: TFA – taxa de fertilidade aparente; TFec – taxa de fecundida- de; TP – taxa de prolificidade; TMort – taxa de mortalidade ao nascimento; n – número de animais à reprodução; Exploração 1- partos na Primavera; Exploração 2 - partos Outono e Inverno. TFA TFec TP TMort Exploração 1 (n=39) 84,62 92,31 1,09 17,14 Exploração 2 (n=88) 89,77 94,32 1,05 10,84 Significância NS NS NS NS Total 88,19 93,70 1,06 12,71 Significância para P <0,05; NS – não significativo Os valores de fertilidade, fecundidade e prolificidade, tanto para a exploração 1 como para a exploração 2 estão de acordo com os valores citados por Sobral et al., (1987), não se verificando diferenças significati- vas entre explorações. Estes valores de fertilidade, sugerem que embora Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 11 a população seja pequena, ainda não se observam, aparentemente, efei- tos negativos da consanguinidade. Por outro lado, é de salientar a taxa de mortalidade (ao nascimento) elevada, que poderá ser devido ao facto de existirem fêmeas com idade elevada e/ou com alguns problemas que dificultam o estabelecimento das crias. Figura 1.2 - Macho - ESA/IPCB 1.4. Produção de Leite A produção de leite, foi estimada separadamente nas duas ex- plorações, de acordo com a época de partos. Nas tabelas 1.3 e 1.4, apresentam-se os resultados obtidos para a exploração 1 e 2, respe- tivamente. A exploração 1, com partos na Primavera (gráfico 1.3 e tabela 1.3) apresenta valores médios de produção (31,2L) inferiores em relação à exploração 2 com partos no Outono e Inverno (42,1L vs 38,53L) (tabela 1.4, gráficos 1.4. e 1.5.). 12 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Figura 1.3 - Fêmeas na ordenha Gráfico 1.3 - Produção deleite diária durante o período de ordenha para a Exploração 1 - partos na Primavera. A quantidade total de leite, está dentro dos valores referidos por So- bral et al., (1987), embora seja de referir que na altura do contraste, as temperaturas ambientais já eram elevadas (mês de Junho), influenciando o valor nutritivo das pastagens o que podia ter influenciado negativa- mente os valores de produção. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 13 Tabela 1.3 - Valores médios da produção de leite e sua composição, desvios padrão, mínimos e máximos da quantidade total e ordenhada para a exploração 1 com partos na Primavera; n – número de animais. Produção Primavera (n=18) Média ± DP Min. Máx. Total Quantidade de leite (L) 31,2 ± 13,57 7,93 58,13 Quantidade de Gordura (L) 2,5 ± 1,06 0,55 4,56 Quantidade de Proteína (L) 1,6 ± 0,61 0,45 2,7 Quantidade de Lactose (L) 1,3 ± 0,6 0,25 2,56 Duração da Lactação (dias) 102,4 ± 8,3 81,5 113,5 Teor Butiroso (%) 8,2 ± 0,9 6,6 10,2 Teor Proteico (%) 5,2 ± 0,6 4,5 6,5 Teor Lactose (%) 4,2 ± 0,29 3,18 4,47 Ordenhada Quantidade de leite (L) 12,6 ± 6,07 2,71 28,98 Quantidade de Gordura (L) 0,9 ± 0,44 0,14 2,03 Quantidade de Proteína (L) 0,6 ± 0,26 0,10 1,27 Quantidade de Lactose (L) 0,44 ± 0,22 0,06 1,01 Duração Ordenha (dias) 47 - - Teor Butiroso (%) 7,0 ± 0,92 5,06 8,53 Teor Proteico (%) 4,4 ± 0,5 3,53 5,25 Teor Lactose (%) 3,5 ± 0,46 2,34 4,09 Tabela 1.4 - Valores médios da produção de leite, desvios padrão, mínimos e máximos da quan- tidade total e ordenhada para a exploração 2 com partos no Outono e Inverno; n – número de animais. Produção Outono (n=27) Inverno (n=38) Média ± DP Min. Máx. Média ± DP Min. Máx. Total Quant. Leite (L) 42,07 ± 12,25 17,80 86,20 39,53 ± 14,03 12,30 68,00 Quant. Diária Leite (L) 0,30 ± 0,17 0,01 0,82 0,31 ± 0,16 0,02 0,70 Dias Lactação 133,4 ± 17,3 106 159 124,3 ± 16,6 76 140 Ordenhada Quant. Leite (L) 24,42 ± 10,59 9,80 59,60 27,37 ± 9,97 10,90 46,60 Dias Ordenha 108,9 ± 17,9 75 141 96,9 ± 15,4 65 119 Para a exploração 2, os valores de produção são semelhantes aos va- lores citados pelo autor Sobral et al., (1987), mas comparativamente à exploração 1, são bastante superiores o que pode ser explicado pela dis- ponibilidade alimentar influenciada pela época de partos. Na exploração 2 não foi possível proceder às análises dos teores em gordura, proteína e lactose, devido ao facto de se realizar a ordenha manualmente e apenas para efeitos de contraste, não sendo uma roti- na, o que influenciou o comportamento animal, bem como os valores iniciais obtidos em laboratório. Assim, é necessário continuar a reco- lher mais dados, para obter valores mais consistentes para estas épocas do ano. 14 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Gráfico 1.4. Produção de leite diária durante o período de ordenha para a Exploração 2 - partos no Outono. Gráfico 1.5. Produção de leite diária durante o período de ordenha para a Exploração 2 - partos no Inverno. 1.5. Crescimento dos Borregos Na tabela 5, apresentam-se os resultados relativos aos pesos ao nascimento, estando estes dentro dos valores citados em bibliografia para a raça ChC, não se verificando diferenças significativas entre explorações. Na tabela 6, apresentam-se os valores de ganhos médios diários (GMD) nas duas explorações e no total dos borregos, anulando o efeito exploração. Nos gráficos 1.6. e 1.7. pode-se observar a evolução no cres- cimento de borregos e borregas entre os 0 e os 120 dias. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 15 Tabela 1.5 - Peso ao nascimento médio e desvio padrão entre sexos nas explorações 1 e 2. Exploração 1 Exploração 2 Sig. Total Machos (kg ± DP) 3,0 ± 0,7 3,0 ± 0,5 NS 3,0 ± 0,5 Fêmeas (kg ± DP) 2,5 ± 0,6 2,6 ± 0,4 NS 2,6 ± 0,5 Sig. – significância para P <0,05; NS – não significativo Tabela 1.6 - Valores de Ganhos Médios Diários (GMD) para machos e fêmeas nas explorações 1 e 2 e respetivos desvios padrão; n – número de animais. Exploração 1 Exploração 2 Total Machos Fêmeas Machos Fêmeas Machos Fêmeas (n=13) (n=22) (n=44) (n=39) (n=57) (n=61) GMD 0-30 (g ± DP) 198±3,7 153±2,1 149±0,9 150±1,0 157±0,8 151±0,7 GMD 30-70 (g ± DP) +++ 44±12,9 87±1,6 105±1,5 62±1,5 100±1,4 GMD 70-120 (g ± DP) 33±33,6 100±100 73±1,7 83±1,7 83±1,8 92±1,7 +++Machos em número reduzido, pelo que apesar de terem tido um crescimento positivo, resultou numa linha de tendência negativa. Os valores de GMD, não estão citados em bibliografia para esta raça, o que não permite comparar dados. Para o GMD entre os 30-70 dias para machos os valores são mais baixos do que para fêmeas devido a um número reduzido de dados para os machos na exploração 1. Provavelmente os valores estarão influen- ciados negativamente por diversos factores: época de partos (junho) que limitou negativamente a alimentação do efetivo (não se realizou qualquer 16 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual suplementação, nem das ovelhas nem das crias); idade muito elevada das ovelhas; elevado grau de parasitismo das crias. Os desvios padrões dos resultados da exploração 1 foram elevados, principalmente após os trinta dias de idade, sugerindo também alguma falha de maneio. 1.6. Notas finais Apesar da produção de leite ser baixa, consideramos que é de elevada qualidade, visto o queijo a que dá origem se destacar, sendo muito apre- ciado. Este aspecto está a ser objecto de outro estudo, a apresentar em breve. Por outro lado, a ovelha churra do campo é um animal pequeno o que permite um maior numero de animais por hectare, compensando ou mesmo anulando, a diminuição da produtividade por área de superfície, comparativamente a outras raças com maior produtividade. Acresce ain- da o facto do leite produzido pela Churra do campo ter um rendimento de transformação em queijo elevado. No que diz respeito à produção de borregos e às taxas de morta- lidade elevadas, será necessário um maior cuidado e melhor acompa- nhamento para tentar optimizar essas características, principalmente se considerarmos a necessidade de minimizar a taxa de substituição de animais, pois o objetivo atual da raça é aumentar e recuperar o efetivo de reprodutoras da raça. Gráfico 1.6 - Crescimento dos 0 aos 120 dias em borregos no total das explorações. Gráfico 1.7 - Crescimento dos 0 aos 120 dias em borregas no total das explorações Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 17 Bibliografia DRABI - Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior, 2004. “Valorização dos Territórios da Europa do Sudoeste através dos Caprinos e Ovinos”. Castelo Branco. D.G.V.a - Direcção Geral de Veterinária, 2007. Regulamento Oficial de Contraste Leiteiro. http://docentes.esa.ipcb.pt/churra_do_campo/contrasteleiteiro.pdf Consultado em 05-01-2010 D.G.V.b - Direcção-Geral de Veterinária, 2007. Boletim Estatístico N.º 13. Ministério da Agricul- tura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. European Fine Fibre Network (E.F.F.N.) 1997. “Development of European Standards for Objec- tive Measurement of Genetic Selection Parameters, Based on Quantity and Quality Fibre Traits”. FAIR3-CT96-1597. European Fine Fibre Network. Workshop Report N.º 1. INIAP - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas, 2004. “Recursos Genéticos Ani- mais em Portugal” - Relatório Nacional. IWTO-47-95, 1995. “Measurement of the mean and distribution of fibre diameter of wool using an optical fibre diameter analyser (OFDA)”, International Wool Textile Organisa- tion, Ilkley, Yorkshire, UK. Sobral, M., Antero, C., Borrego, D. e Domingos, N., 1987. “Recursos Genéticos. Raças Autócto- nes Ovina e Caprina.” Direcção Geral da Pecuária. Lisboa. Rebello de Andrade, C.S.C.., 2010. Raça Ovina Churra do Campo. Página Web http://docentes. esa.ipcb.pt/churra_do_campo/ Consultado em 05/03/2010 Agradecimentos Este documento reflecte o trabalho desenvolvido pela Câmara Municipal de Penamacor,Es- cola Superior Agrária de Castelo Branco e Meimoacoop, CRL no âmbito do Livro Genealógico da Ovelha Churra do Campo financiado pelo PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural, Conservação e Melhoramento dos Recursos Genéticos - Componente Animal – Subacção 2.2.3.2. 18 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Churra do Campo Entidade Gestora do Livro Geneológico Cooperativa Agrícola de Desenvolvimento Rural e Solidariedade Social, C.R.L. (MEIMOACOOP) Estrada Nacional 233, nº 70 Meimôa 6090 -385 Penamacor Tel: 277 377482 Fax: 277 377517 Mail: meimoacoop@sapo.pt Secretário Técnico Eng.º Carlos Rebello de Andrade Técnico Engº Joaquim Neto Carvalho Distribuição geográfica SPOC - http://www.ovinosecaprinos.com Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 19 20 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 21 Capítulo 2 Caraterísticas da Carcaça de Borrego 1Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior Agrária Qtª. Srª. Mércules, Apartado 119, 6001-909 Castelo Branco, Portugal 2L-INIA - Fonte Boa, 2005-048 Vale de Santarém Carvalho J.1 J. Santos Silva2 C.S.C. Rebello Andrade1 J.P.F. Almeida1 22 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 23 2.1.Introdução O trabalho que se apresenta é o resultado da caraterização do efetivo actual do Churra do Campo, em programa de recuperação: 2 rebanhos (92% do efectivo total), nos Concelhos de Castelo Branco e Penamacor. 2.2.Material e Métodos Procedeu-se à avaliação das carcaças dos borregos, abatidos a 2 ida- des: 45 dias (grupo 1) e 120 dias (grupo 2), realizada no matadouro ex- perimental da Estação Zootécnica Nacional (L-INIA). Determinou-se o peso da carcaça quente (PCQ), o peso vivo vazio (PVV), o rendimento corrigido (RC), ou seja razão PCQ / PVV e o peso de ½ carcaça fria (PCF), 24 horas após a refrigeração entre 0-2º C. As metades esquerdas das carcaças foram divididas em oito peças segundo o corte EZN (Calheiros e Neves, 1968) e registado o peso de cada. Determinaram-se as proporções de músculo, gordura e osso; estimaram-se a percentagem de músculo (M), a relação músculo/osso (M/O), a relação gordura intermuscular/gordura subcutânea (GI/GS), gordura pélvica e renal (GPR) e gordura total (GT). Os resultados foram analisados estatisticamente por análise de variância simples (Univariada, procedimento GLM), tendo as médias sido submetidas a teste das diferenças mínimas significativas; os resultados com diferenças significativas são referenciados nos quadros com *, ** ou ***, consoante o nível de significância P<0,05, P<0,01 e P<0,001 respetivamente. 24 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Figura 2.1 - Carcaças de borregos da raça Churra do Campo abatidos a diferentes idades. Figura 2.2 - Peças da carcaça. 2.3. Caraterização de Carcaças de Borregos Para a caraterização das carcaças, o abate de borregos com idades próximas dos 45 dias (grupo 1) está dentro dos valores para o peso ao abate e peso de carcaça fria definidos para o Borrego da Beira – IGP. Estes, quando comparados com uma idade ao abate superior, 120 dias (grupo 2), apresentam valores (tabela 2.1) superiores no rendimento de carcaça corrigido, embora não fossem observadas diferenças significati- vas. Observaram-se diferenças significativas no rendimento da carcaça quente, carcaça fria e no enxugo, sendo sempre superiores no grupo 1. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 25 Tabela 2.1 - Efeito da Idade ao Abate (respectivas médias e desvios padrão) no Peso ao Abate, Peso Vivo Vazio, Peso Carcaça Fria, Rendimentos da Carcaça Quente, Fria, Rendimento Cor- rigido e valor de Enxugo ; n – número de animais. Grupo 1 Grupo 2 Sig. (n=9) (n=12) P Idade Média ao Abate (dias) 40,8 ± 3,52 118,3 ± 6,71 Peso Vivo ao Abate (kg) 10,7 ± 1,5 15,7 ± 1,6 Peso Vivo Vazio (kg) 10,0 ± 1,5 13,2 ± 1,5 Peso Carcaça Fria (24h)(kg) 5,1 ± 0,95 6,6 ± 0,88 Rendimento Carcaça Quente (%) 51,05 ± 2,45 43,52 ± 1,81 *** Rendimento Carcaça Fria (%) 47,78 ± 2,84 41,62 ± 1,98 *** Rendimento Corrigido (%) 51,47± 2,45 49,7 ± 1,69 NS Enxugo 6,43 ± 2,40 4,38 ± 0,77 * Sig. – Significância; NS- não significativo, *P<0,05, ** P<0,01, ***P<0,001. Relativamente às relações musculo/osso (tabela 2.2) no total da car- caça, não foram verificadas diferenças significativas. Na relação gordura intermuscular/subcutânea (GI/GS) já se obser- -vam diferenças significativas, com valor superior para o grupo com maior idade ao abate. Segundo Santos-Silva (1994) o aumento da proporção de gordura resulta de facto numa qualidade superior, devido a uma melhor aptidão para a refrigeração e eventualmente a uma qualidade da carne superior. Tabela 2.2 - Efeito da Idade ao Abate (45 vs 120 dias) na composição da carcaça; médias e respectivos desvios padrão, na % Musculo, % Osso, na relação Músculo/Osso, % Gordura Subcutânea (GS) e Intermuscular (GI), na relação entre ambas (GI/GS), Gordura Pélvica e Renal (GPR) e Gordura Total. Idade ao abate 45 dias 120 dias Significância (n=9) (n=12) P Musculo (%) 60,36 ± 3,22 63,76 ± 2,08 ** Osso (%) 21,16 ± 2,27 22,52 ± 1,22 NS Musculo/Osso 2,88 ± 0,28 2,84 ± 0,21 NS GI (%) 8,48 ± 1,62 7,33 ± 1,38 NS GS (%) 8,08 ± 2,64 3,71 ± 1,06 *** GI/GS 1,11 ± 0,28 2,10 ± 0,63 *** GPR (%) 2,25 ± 0,87 1,38 ± 0,49 ** Gordura Total (%) 18,82 ± 4,78 12,42 ± 2,28 *** NS- não significativo, *P<0,05, ** P<0,01, ***P<0,001 Assim sendo, o grupo 1, que apresenta valores de gordura subcu- tânea, intermuscular, pélvica e renal (GPR) e consequentemente o seu 26 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual somatório, gordura total (Gord. Total) superior, poderá ser o que apre- sentará valores superiores para a suculência, bem como, segundo o au- tor, o que terá uma melhor aptidão para refrigeração e melhor qualidade. A proporção das diferentes peças da carcaça, as relações músculo/ osso e gordura intermuscular/subcutânea, são descritas na tabela 2.3. Não foi significativo, como se pode observar, o efeito da idade ao abate na proporção das peças da carcaça (% Carcaça) sendo excepção o caso da costeleta anterior e da pá em que se verificaram diferenças significativas (P<0,05). O efeito da idade ao abate, neste parâmetro, não foi evidente o que poderá ter sido devido quer ao pequeno número de animais utilizados quer à própria raça, por não possuir aptidões para uma boa conformação de carcaça não se acentuando as diferenças com a idade. Para a relação musculo/osso verificam-se diferenças significativas na perna e aba das costelas com valores superiores para os borregos com idade ao abate até aos 120 dias, para o grupo com idade ao abate até os 45 dias verificam-se valores superiores no lombo e costeleta. Nas outras peças não foram observadas diferenças significativas. Para a relação gordura intermuscular/subcutânea, verificam-se dife- renças significativas na perna, sela, costeleta, pá e aba das costelas, sendo os valores sempre superiores para o grupo 2. Para que o músculo de um animal abatido se transforme em carne, é necessário que ocorram processos bioquímicos conhecidos como mo- dificações post-mortem. Dentro estes ocorre alteração do pH, que no animal vivo varia de 7,3 a 7,5. Com o decréscimo do pH após o abate, este pode chegar a 5,4, duas a oito horas após a sangria, quando se inicia o rigor-mortis. Neste processo o glicogénio muscular presente na carne favorece a formação do ácido láctico, diminuindo o pH e tornando a carne macia e suculenta, com sabor ligeiramente ácido e odor caracterís- tico. A carne ovina atinge pH final entre 5,5 a 5,8 no espaço de 12 a 24 horas após decorrido o abate (Prates, 2000; Sobrinho, 2005; citados por Zeola et al., 2007). Para os grupos 1 e 2 (tabela 2.4), não se verificam diferençassig- nificativas entre eles. Os valores observados encontram-se próximos dos referidos pelos autores. Para os valores de proteína, verificam-se diferenças significativas sendo o grupo 2 o que apresenta valores su- periores. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 27 Tabela 2.3 - Efeito da Idade ao Abate (45 vs 120 dias) na percentagem da peça na carcaça, relação músculo/osso (M/O), gordura intermuscular/subcutânea (GI/GS) e n= número de animais. Peças da carcaça 45 d 120 d Significância (n=9) (n=12) P Perna % Carcaça 27,37 ± 1,03 27,71 ± 1,03 NS M/O 2,87 ± 0,23 3,13 ± 0,20 ** GI/GS 1,17 ± 0,65 1,89 ± 0,84 * Sela % Carcaça 9,12 ± 0,36 9,23 ± 0,65 NS M/O 3,48 ± 0,22 3,35 ± 0,14 NS GI/GS 0,46 ± 0,14 1,30 ± 0,53 *** Lombo % Carcaça 7,37 ± 0,57 7,25 ± 0,43 NS M/O 6,36 ± 2,85 4,43 ± 0,81 * GI/GS 0,68 ± 0,39 0,96 ± 0,81 NS Costeleta % Carcaça 9,74 ± 1,99 9,53 ± 0,57 NS M/O 2,94 ± 1,14 2,19 ± 0,42 * GI/GS 1,15 ± 0,37 3,19 ± 2,64 * Costeleta Anterior % Carcaça 7,17 ± 1,17 8,21 ± 0,66 * M/O 3,07 ± 0,91 2,68 ± 0,38 NS GI/GS 8,22 ± 3,15 12,36 ± 7,85 NS Pá % Carcaça 21,23 ± 1,22 20,22 ± 0,86 * M/O 2,87 ± 0,16 2,90 ± 0,11 NS GI/GS 1,35 ± 0,34 2,56 ± 0,80 *** Aba das costelas % Carcaça 10,81 ± 0,73 10,19 ± 0,93 NS M/O 2,12 ± 0,22 2,69 ± 0,58 * GI/GS 1,08 ± 0,54 2,17 ± 1,20 * Pescoço % Carcaça 7,63 ± 0,54 7,55 ± 0,80 NS M/O 2,39 ± 0,64 1,98 ± 0,48 NS GI/GS 3,00 ± 1,00 4,67 ± 2,68 NS NS- Não Significativo, *P<0,05, ** P<0,01, ***P<0,001 Tabela 2.4 - Efeito da idade ao abate (45 vs 120 dias) nos valores de Proteína Bruta (PB), Maté- ria seca (MS) e pH; n= número de animais. Grupo 1 Grupo 2 Significância (n=9) (n=12) P PB (%) 19,62 ± 0,44 20,41 ± 0,31 *** MS (%) 22,93 ± 0,56 23,03 ± 0,48 NS pH 5,93 ± 0,09 5,99 ± 0,05 NS NS- não significativo, *P<0,05, ** P<0,01, ***P<0,001 28 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 2.4. Notas Finais Os borregos abatidos com 45 dias em relação aos 120 dias, têm um maior rendimento da carcaça fria (47,8% vs 41,6%). Entre os 45 e os 120 dias de idade, apenas se obteve um aumento de 1,5 kg em carcaça fria. Aos 45 dias, os pesos de carcaça enquadram-se dentro das especifica- ções para o “Borrego da Beira – IGP”. Bibliografia Calheiros, F. e Neves, 1968. “Rendimentos ponderais no borrego Merino Precoce.” Carcaça e 5º Quarto. Separata do Boletim Pecuário, nº 1: 117-126. D.R.A.P.C. - Direcção Geral de Agricultura e Pescas do Centro. Produtos Tradicionais de Qua- lidade na Região Centro. http://ptqc.drapc.min-agricultura.pt/home.htm consultado em 02/10/ 2009 Melo, P., Martinho, A. e Faria, T., 1991. “Métodos de análise de alimentos para animais e material biológico.” Policopiado. Estação Zootécnica Nacional. Santos-Silva, J., 1994. “Qualidade das carcaças e da carne de borregos Merino Branco” - projecto PAMAF 3037, subordinado ao tema “Qualidade das Carcaças e da Carne de Borregos Merino Branco e Cruzado Ile de France x Merino Branco, produzidos no Sul de Por- tugal”. Zeola N., Souza P., Souza H. e Sobrinho, A., 2007. “Parâmetros qualitativos da carne ovina: um enfoque à maturação e marinação.” Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. 102 (563-564) 215-224. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 29 30 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 31 Capítulo 3 Composição e Qualidade Organolética da Carne de Borrego 1Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior Agrária Qtª. Srª. Mércules, Apartado 119, 6001-909 Castelo Branco, Portugal 2L-INIA - Fonte Boa, 2005-048 Vale de Santarém Carvalho J.1 A.P.V. Portugal2 J. Santos Silva2 C.S.C. Rebello Andrade1 J.P.F. Almeida1 32 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 33 3.1.Introdução O presente artigo, estudo da composição e qualidade organolética da carne, utilizou a carne obtida do estudo das carcaças (Capítulo II). 3.2. Material e Métodos Analisou-se a carne proveniente de carcaças de borregos abatidos a duas idades: 45 dias (grupo1) e 120 dias (grupo2). A coloração da carne foi determinada com colorímetro Minolta CR 300 (Osaka – Japão), operando no sistema C.I.E. A Capacidade de Retenção de Água (CRA) foi estimada pelo método de Grau-Hamm modificado por Ribeiro (1992). A força de corte (FC) foi determinada com texturómetro (TAXT2i - texture analiser). A extracção dos ácidos gordos foi realizada segundo Folch et al. (1957) e Raes et al. (2001), sendo determinados por cromatografia de gás, Hewlett Packard 5890 II série, com detector de ionização de chama, utilizando uma coluna cromatográfica Capilar de 100 m (CP-Sil 88). Os resultados foram analisados estatisticamente por análise de variância simples (Univariada, procedimento GLM), tendo as médias sido submetidas a teste das diferenças mínimas significativas; os resultados com diferenças significativas são referenciados nos quadros com *, ** ou ***, consoante o nível de significância P<0,05, P<0,01 e P<0,001 respectivamente. 34 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 3.3. Qualidade Organolética da Carne de Borrego 3.3.1. Coloração, Capacidade de Retenção de Água e Tenrura Os valores de Luminosidade são apresentados na Tabela 1. Veri- ficaram-se diferenças significativas, tendo a carne do grupo dos ani- mais abatidos aos 45 dias (grupo 1) valores mais elevados do que a carne animais abatidos aos 120 dias (grupo 2). Quanto aos teores em vermelho (a*), também se verificam diferenças significativas, tendo o grupo 2 com abate aos 120 dias valores superiores (tabela 3.1). Não se verificaram diferenças significativas entre grupos no eixo amarelo/ azul (tabela 3.1). Os valores determinados enquadram-se dentro das variações normais, citadas para os ovinos (Sañudo et al., 2000, cit. por Zeola et al., 2007). Tabela 3.1 - Efeito da Idade ao Abate (45 vs 120 dias) nos Parâmetros de Coloração (L – Lumi- nosidade; a* pigmento de teor em vermelho; b* - pigmento de teor amarelo), % de Capacidade de Retenção de Água (CRA) e Força de Corte em kg/cm2 (FC) no músculo longissimus dorsi ; n= número de animais. Grupo 1 Grupo 2 Significância 45 dias (n=9) 120 dias (n=12) P Cor L* 41,69 ± 2,56 38,79 ± 1,57 ** Cor a* 12,69 ± 1,36 14,57 ± 1,13 ** Cor b* 4,40 ± 0,95 4,56 ± 1,32 NS CRA (%) 28,79 ± 3,58 33,06 ± 3,41 * FC (kg/cm2) 2,94 ± 1,19 4,43 ± 1,36 * NS- não significativo, *P<0,05, ** P<0,01, ***P<0,001 A cor da carne deve-se fundamentalmente à presença e estado quí- mico de um pigmento de cor vermelha, a mioglobina. De acordo com a revisão de Priolo et al., (2001) citado por Santos-Silva (1994), a concen- tração da mioglobina aumenta com a idade dos animais (o que explica o aumento da cor a*, nos nossos resultados) e pode ser influenciada por diversos factores tais como o sexo, o músculo, a alimentação, o grau de exercício físico, o pH e a concentração de gordura intramuscular. É um importante critério de avaliação da qualidade da carne pelos consumi- dores, sendo determinante na orientação da decisão no acto da compra. De acordo com Miltenburg et al. (1992) citado por Zeola et al., Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 35 (2007), quanto maiores os valores de luminosidade ou reflectância (L*), mais pálida é a carne, e quanto maiores os valores do pigmento de teor vermelho (a*) e teor amarelo (b*) mais vermelha e amarela, respectiva- mente. Assim, os nossos resultados mostram que a carne dos animais abatidos aos 45 dias, era mais pálida (L* superior) e menos vermelha (a* inferior), comparativamente com a carne dos borregos abatidos aos 120 dias de idade. Os valores obtidos para a Capacidade de Retenção de Água – CRA - (tabela 1), revelaram diferenças significativas, com valores superiores no grupo 2. Segundo Dabés, (2001), citado por Zeola et al., (2007), a CRAé um parâmetro que avalia a capacidade da carne em reter água, após a aplicação de forças externas (corte, moagem, pressão), e que no momento da mastigação traduz sensação de suculência ao consumidor. Assim, os nossos resultados sugerem que a carne dos animais abatidos aos 120 dias apresentou níveis de suculência inferiores, pois perdeu mais água. Por outro lado, quando o tecido muscular apresenta baixa retenção de água, poderá ocorrer uma maior perda de humidade, o que implicará uma maior perda de peso (Dabés, 2001 citado por Zeola et al., 2007). A menor Capacidade de Retenção de Água da carne implica assim perdas do valor nutritivo através do exsudado libertado, resultando em carne mais seca e com menor maciez, o que se poderá esperar também nas carcaças do grupo 2. Quanto à Força de Corte –FC - (tabela 3.1), observaram-se diferen- ças significativas entre os dois grupos, sendo o 2 aquele que apresentou um valor superior. Estes resultados são consistentes com os parâmetros de CRA, indicando uma maior dureza da carne dos animais abatidos com 120 dias de idade. 3.3.2. Ácidos Gordos da Carne A composição em ácidos gordos dos lípidos intramusculares do mús- culo longissimus dorsi para duas idades ao abate, 45 e 120 dias apresen- ta-se na tabela 3.2. A relação ácidos gordos Polinsaturados/Saturados (P/S) apresentou valores de 0,44 e 0,42 não sendo significativas as dife- renças. Quanto à relação n6/n3, também não se detectaram diferenças significativas entre grupos, embora o grupo 1 apresente valores inferio- res em relação ao grupo 2 (7,91 vs 10,63). 36 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual No que respeita ao ácido linoleico (CLA), verificaram-se concentrações significativamente mais elevadas no grupo 1. O isómero C18:2 cis-9, trans-11, tem sido objecto de muita investigação por lhe terem sido reconhecidas, entre outras, importantes propriedades anticancerígenas em diversos modelos tumorais (Santos-Silva, 1994). A relação entre ácidos gordos hipocolesterolémicos (baixos níveis de colesterol) e hipercolesterolémicos (elevados níveis de colesterol) (h/H), foi também avaliada, verificando-se valores significativamente superiores no grupo 1, com 2,11 vs 1,73, ou seja uma maior proporção de ácidos hipocolesterolémicos e portanto mais benéficos para a saúde dos consumidores. Também é conhecido o facto de maiores concen- trações de ácidos gordos de cadeia longa serem responsáveis pelo au- mento do colesterol no sangue, enquanto que maiores concentrações de ácidos gordos insaturados ou polinsaturados, serem responsáveis pelo seu decréscimo. Actualmente, é atribuída uma atenção de destaque à composição em ácidos gordos da carne em virtude das suas implicações na saúde hu- mana. Os nutricionistas recomendam para a alimentação humana um aumento do consumo de ácidos gordos polinsaturados (PUFA), espe- cialmente n-3 em vez de n-6 (Raes et al., 2004). Vários ensaios em nutrição com diferentes raças e espécies ani- mais foram desenvolvidos com o objectivo de atingir o rácio, de ácidos gordos polinsaturados e ácidos gordos saturados (P/S), pró- ximo do valor recomendado (>0,7) bem como o valor do rácio n6/ n3 inferior a 5 (Raes et al., 2004). Já outro autor (Enser et al., 1998) recomenda para a relação P/S valores na ordem dos 0,45 e para a relação n6/n3 baseado no Department of Health (1994) valores inferiores a 4. As dietas dos países ocidentais apresentam uma relação entre ácidos gordos polinsaturados das famílias n-6 e n-3 desequilibrada, deficiência em ácidos gordos polinsaturados das famílias n-3, levando a um aumen- to do risco de doenças cardiovasculares (Jerónimo et al., 2006). Assim, é aceite pela comunidade científica que os rácios de ácidos gordos po- linsaturados/ácidos gordos saturados (PUFA/SFA), e n-6/n-3 são bons indicadores dietéticos para a qualidade da carne. Os resultados obtidos, demonstraram valores superiores ao recomen- dado para a relação n-6/n3 e inferiores para a relação P/S. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 37 Tabela 3.2. Concentração (mg/g) e composição em ácidos gordos (% do total de ácidos gordos) presentes no longissimus dorsi de borrego. Ácidos gordos Grupo 1 Grupo 2 Sig. (P) Total (mg/g carne) 12,57 ± 1,00 12,63 ± 2,09 2,09 NS C10:0 0,14 ± 0,10 0,10 0,24 ± 0,10 NS C12:0 0,40 ± 0,19 0,58 ± 0,09 ** C14:0 3,70 ± 0,98 4,64 ± 0,60 * C14:1 cis-9 0,69 ± 0,20 0,76 ± 0,16 NS C15:0 3,00 ± 0,46 3,38 ± 0,67 NS C16:0 17,26 ± 1,35 18,72 ± 0,88 ** C16:1 cis-9 1,13 ± 0,19 1,18 ± 0,14 NS C18:0 12,40 ± 1,24 11,88 ± 0,86 NS C18:1 trans 3,25 ± 0,51 2,93 ± 0,41 NS C18:1 cis-9 29,28 ± 3,00 25,71 ± 3,27 * C18:2 n-6 8,95 ± 1,39 9,37 ± 1,44 NS C18:3 n-3 2,04 ± 0,60 1,39 ± 0,19 ** C18:2 cis-9,trans-11 (CLA) 1,46 ± 0,22 1,26 ± 0,21 * C20:4 n-6 3,48 ± 0,61 4,26 ± 1,17 NS C20:5 n-3 + C22:5 n-3 + C22:6 n-3 0 0 - Saturados (SFA) 38,03 ± 2,60 40,32 ± 1,21 * Monoinsaturados (MUFA) 6,65 ± 0,91 6,48 ± 0,56 NS Polinsaturados (PUFA) 16,56 ± 1,69 16,82 ± 2,30 NS P/S 0,44 ± 0,05 0,42 ± 0,06 NS Total n-6 13,36 ± 1,97 14,56 ± 2,40 NS Total n-3 2,04 ± 0,60 1,39 ± 0,19 ** n6/n3 7,91 ± 6,01 10,63 ± 2,27 NS h/H 2,11 ± 0,30 1,73 ± 0,17 ** Notas: Saturados = C10:0 + C12:0+C14:0 + C15:0 + C16:0 + C17:0 + C18:0 + C20:0 Monoinsaturados =C14:1 cis-9 +C16:1 cis-7 + C16:1 cis-9+ C17:1cis-9+C18 :1 trans +C20 :1 cis11 Polinsaturados = Isómeros C18:2 + C18 :2 n-6+C18 :3 n-3 + C18 :2 cis-9 trans-11 + C20:2 n-6 + C20:4n-6 + C20:5n-3 + C22:4n-6+C22:5n-3 + C22:6:n-3 P/S – Polinsaturados/Saturados =(C18:2 n-6+C18:3 n-3)/ (C12:0+C14:0+C16:0+C18:0) n-6/n-3 = (C18:2n-6 +C20:2n-6 +C20:3n-6 +C20:4n-6 +C22:4n-6)/(C18:2n-3 +C20:5n-3 + C22:5n- -3+C22:6n-3) h/H - hipocolesterémicos/Hipercolesterémicos = C18:1cis-9+C18:2n-6+C18:3n-3+C20:2n-6 + C20:3n-6 + C20:4n-6 + C20:5n-3+C22:4n-6+C22:5n-3+C22:6n-3)/(C10:0+C12:0+C14:0+C16:0) NS- não significativo, *P<0,05, ** P<0,01, ***P<0,001 3.4. Notas finais Quanto às carcaças produzidas, os resultados apontam para uma maior qualidade tanto organolética como nutricional da carne dos ani- mais abatidos aos 45 dias de vida: maior percentagem de gordura total (18,82 vs 12,42%); índices de Luminosidade (41,69 vs 38,79) e teor em 38 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual vermelho (12,69 vs 14,57); melhor Capacidade de Retenção de Água (28,79 vs 33,06%); menores valores para a Força de Corte (2,94 vs 4,43 kg/cm2); melhores níveis de CLA (1,46 vs 1,26); melhor relação h/H (2,11 vs 1,73). Porém, deveremos tomar em consideração os resultados apresentados anteriormente, na parte II deste trabalho. Assim, tal como foi sugerido, os animais abatidos aos 120 dias de idade poderão estar influenciados negativamente pela nutrição, o que poderá eventualmen- te influenciar também os resultados organoléticos da sua carne. Deste modo, sugerimos que este aspecto seja investigado num trabalho futuro, ou seja, o efeito do regime de nutrição sobre o crescimento e qualidade da carne dos borregos churros do campo. Também a composição em ácidos gordos deverá ser tomada em consideração, face aos resultados apresentados. Bibliografia Enser M., Hallett K.G., Hewett B., Fursey G.A.J., Wood J.D., Harrington G., 1998. “Fatty acid content and composition of UK beef and lamb muscle in relation to production system and implications for human nutrition.” Elsevier Meat Science. Great Britain. Vol. 49, N.º 3, 329-341. Folch, J., Lees, M., Stanley S., 1957. “A simple method for the isolation and purification of total lipides from animal tissues.” Journal of Biological Chemistry. 226: 497-509. Jerónimo E., Alves S., Bessa R., Santos-Silva J., 2006. “Efeito do Tipo de Suplemento Lipídico sobre o Crescimento, Qualidade da Carcaça e Composição em Ácidos Gordos da Gor- dura Intramuscular de Borregos Merino Branco.” XVI Congresso de Zootecnia - “Saber Produzir, Saber Transformar”. Escola Superior Agrária de Castelo Branco. OIE - Terrestrial Manual Health Code (2009).World Assembly of Delegates. Cap. 2-7-13 http://www.oie.int/fr/normes/mmanual/2008/pdf/2.07.13_SCRAPIE.pdf Consulta- do em 05/02/2010 Raes K., Smet S., Demeyer D., 2001. “Effect of double-muscling in Belgian Blue young bulls on the intramuscular fatty acid composition with emphasis on conjugated linoleic acid and polyunsaturated fatty acids.” Animal Science. 73: 253-260. Raes, K., Smeat S., Demeyer D., 2004. “Effect of dietary fatty acids on incorporation of long chain polyinsaturated fatty acids and conjugated linoleic acid in lamb, beef and pork meat: a review.” Elsevier. Animal Feed Science and technology, 113, 199-221. Santos-Silva, J., 1994. “Qualidade das carcaças e da carne de borregos Merino Branco” - projecto PAMAF 3037, subordinado ao tema “Qualidade das Carcaças e da Carne de Borregos Merino Branco e Cruzado Ile de France x Merino Branco, produzidos no Sul de Por- tugal” Zeola N., Souza P., Souza H. e Sobrinho, A., 2007. “Parâmetros qualitativos da carne ovina: um enfoque à maturação e marinação.” Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. 102 (563-564) 215-224. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 39 40 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 41 Capítulo 4 Caraterização da Fibra Lanar da Raça Churra do Campo Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior Agrária Qtª. Srª. Mércules, Apartado 119, 6001-909 Castelo Branco, Portugal Rebello de Andrade, C.S.C. Várzea Rodrigues, J.P. Carvalho, J.N. Pinto de Andrade, L. 42 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 43 Em relação à caracterização da fibra lanar, foram determinados os parâmetros, Rendimento em Lavado, Diâmetro da fibra, Curvatura e Peso do Velo (Tabela 4.1). Os resultados enquadram-se nos valores citados por Speedy (1980), mas necessitam de maior número de amostragens para tentar anular o efeito do ano de tosquia que poderá influenciar os valores da fibra lanar. No ano de 2005, foram analisadas 9 fêmeas da raça e foi possível de- terminar o valor do comprimento médio da fibra que era de 161,1 mm, para a resistência foram encontrados valores de 26,35 N/Ktex. Tabela 4.1 - Características médias, desvio padrão e número de observações, do velo e da fibra lanar na tosquia de 2009, Rendimento em Lavado (RL), Diâmetro (Diâm), Curvatura (Curv) e Peso do Velo (Pvelo) entre sexos; n= número de animais. Fêmeas Machos n Média ± DP n Média ± DP RL (%) 138 60,43 ± 6,94 8 62,22 ± 8,05 Diâm (μ) 138 32,95 ± 5,03 8 41,23 ± 4,08 Curv (º/mm) 138 65,02 ± 9,46 8 57,58 ± 6,01 Pvelo (kg) 127 2,32 ± 0,63 8 3,76 ± 1,10 44 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 45 Capítulo 5 Suscetibilidade da Raça Churra do Campo ao Scrapie 1L-INIA - Fonte Boa, 2005-048 Vale de Santarém 2Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior Agrária Qtª. Srª. Mércules, Apartado 119, 6001-909 Castelo Branco, Portugal Santos Silva, M.F.1 Carvalho, J.J.N.2 Rebello de Andrade, C.S.C.2 Almeida, J.P.P.2 46 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 47 Foi realizado o despiste ao Scrapie ou Tremor Epizoótico em 142 animais adultos inscritos no L.G., incluindo machos e fêmeas, onde foram determinados os diferentes graus de susceptibilidade ao Scrapie (Tabela 5.1) com o intuito de seleccionar os animais mais resistentes e eliminar os animais mais susceptíveis. É de todo o interesse seleccionar os animais futuros reprodutores, es- pecialmente os carneiros, a partir de animais pertencentes ao grupo de ris- co mais reduzido (1), tendo em atenção os riscos associados ao aumento de consanguinidade num grupo de animais tão reduzido como este. Tabela 5.1 - Frequência de genótipos (na % de fêmeas e machos) de acordo com a susceptibili- dade ao Scrapie, em cada exploração. Grau de susceptibilidade de 1 (reduzido) a 5 (elevado). Correspondência com os genótipos encontrados: 1 (ARR/ARR); 2 (ARR/ARH; ARR/ARQ); 3 (ARQ/ARQ, ARH/ARH); 4 (ARR/VRQ); 5 (ARQ/VRQ). n= número de animais. Exploração % Fêmeas % Machos Total (n=125) (n=17) (n=142) 1 2 1 2 1 2 n % n % n % n % % % 1 7 5,6 16 12,8 1 5,9 2 11,8 5,6 12,7 2 19 15,2 46 36,8 4 23,5 5 29,4 16,2 35,9 3 12 9,6 18 14,4 3 17,7 1 5,9 10,6 13,4 4 0 0 2 1,6 0 0 0 0 0 1,4 5 0 0 5 4,0 0 0 0 0 0 3,5 É de referir que as 7 fêmeas detectadas com o grau 4 e 5 de suscep- tibilidade ao Scrapie e os 4 machos de grau 3 , foram abatidos. Cerca de 76% do total dos indivíduos pertencem ao grau de susceptibilidade 1 e 2, o que confere a esta raça algum grau de resistência à doença. Su sc ep ti bi lid ad e 48 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 49 Capítulo 6 A PRND Polymophism in Churra do Campo Portuguese Sheep Breed Congresso Ibérico sobre Recursos Genéticos Animais, 7, Gijón, 17-19 Set 2010 1L-INIA, Fonte Boa, 2005-048 Vale de Santarém, Portugal 2Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa (CIISA), Porugal 3Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico Castelo Branco, Apartado 119, 6000-909, Portugal Mesquita P.1 M. F. Santos Silva1 I. Carolino1 M. C. Oliveira Sousa1 J. Pimenta12 M. R. Marques1 I. C. Santos1 L. T. Gama1 C.S.C. Rebello de Andrade3 C. M. Fontes2 J. A. M. Prates2 A. E. M. Horta1 R. M. Pereira1 50 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 51 Prion-like Doppel gene (PRND) is located downstream from priori protein gene (PRNP). Doppel protein is not related to prion disease but to male fertility. Our previous analysis of PRND coding region in 460 animals from 8 Portuguese sheep breeds, by multiple restriction fragment- single strand conformation polymorphism (MRF¬SSCP), revealed a synonymous substitution (78G>A). An association was found between identified PRND polymorphism and PRNP genotypes, determined by primer extension and grouped into 5 grades of increasing scrapie susceptibility-R1 to R5: PRND was monomorphic (GG) in animals with most resistant ARR/ARR PRNP genotype-R1; higher frequency of heterozygotes (GA) was significantly associated with ARQ/AHQ¬R4. Therefore, EU selection program to eradicate scrapie in sheep, based on PRNP genotypes, may reduce genetic diversity, with hypothetical repercussions on reproduction. The aim of current work was to evaluate 78G>A PRND polymorphism in highly endangered Churra do Campo Portuguese sheep breed. From a total of 73 animals analyzed (16 R1, 36 R3, 18 R4, 3 R5), 72 were GG and 1 GA, the later being ARQ/ARQ (R4). Low incidence of PRND polymorphic variants in this breed may be explained by mating involving small number of related animals, and particular differences in distribution of PRNP genotypes. 52 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 53 Capitulo 7 Caraterização Genética da Raça Ovina Churra do Campo 1L-INIA, Fonte Boa, 2005-048 Vale de Santarém, Portugal 2Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa (CIISA), Porugal Santos Silva, M.F.M.M.1 Carolino, N.1 Sousa, M.C.O.1 Gama, L.T.2 54 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 55 7.1. Introdução A conservação dos recursos genéticos existentes é uma prioridade a nível nacional e mundial. Preservar a diversidade genética é essencial pois esta representa o potencial evolutivo das espécies, para fazer face às eventuais alterações ambientais que possam surgir no futuro. Os indivíduosque constituem uma população podem ser mais ou menos distintos entre si (diversidade intra população) e relativamente aos indivíduos de outras populações (diversidade inter população). Se não houver fluxo de genes entre as populações, estas tendem a diferen- ciar-se, apresentando os seus elementos características comuns entre si, mas diferentes das restantes populações. A caracterização genética da diversidade intra e inter populacional, através de diversos indicadores de variabilidade, estrutura e distâncias 56 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual genéticas, permite evidenciar o grau de diferenciação e as relações gené- ticas entre populações. Esta informação pode ser muito útil, contribuin- do para identificar a relevância das populações como reserva genética, para definir prioridades de conservação e estratégias de gestão destes recursos. Em Portugal estão reconhecidas 47 raças autóctones de espécies pe- cuárias, na sua maioria em risco de extinção. Esta grande diversidade de RGAn cria particulares responsabilidades na implementação de progra- mas de conservação e utilização sustentável visando a sua salvaguarda. Face a esta situação a Direcção Geral de Veterinária (DGV), através ação n.º 2.2.3, «Conservação e melhoramento de recursos genéticos», do programa PRODER, procurou incentivar as associações de criadores a promover a caracterização genética das suas raças. As técnicas de biologia molecular representam actualmente uma fer- ramenta muito poderosa que permite analisar locais chave, da sequência de ADN, designados por marcadores moleculares, através dos quais se podem determinar os indicadores de variabilidade pretendidos. Os microssatélites ou STRs (Short Tandem Repeats) são marcadores muito utilizados, a nível internacional, em estudos de diversidade ge- nética em várias espécies sendo recomendados pela FAO (FAO, 2005), como as ferramentas moleculares adequadas para a caracterização ge- nética de populações de animais domésticos. São fragmentos de ADN em que pequenos motivos de 2 a 6 nucleótidos, que se repetem em série, com um comprimento total geralmente inferior a 300 pb. A sua larga utilização resulta das suas características favoráveis para este tipo de es- tudos, pois normalmente são marcadores altamente polimórficos, o que se traduz num elevado número de alelos, logo numa fonte de variação genética. São muito frequentes e largamente distribuídos por todo o ge- noma. Apresentam herança mendeliana simples e codominante o que permite a identificação directa de indivíduos homo e heterozigotos em cada locus. Além disso as técnicas laboratoriais utilizadas na sua aná- lise, não são complicadas e exigem apenas pequenas quantidades de ADN. Os microssatélites têm a particularidade de se encontra- rem em regiões não codificantes do genoma, pelo que são considerados neutros face à selecção. Consequentemente, as diferenças no padrão de microssatélites (isto é, as frequências alélicas distintas entre popula- ções isoladas) resultam essencialmente do efeito acumulado da deriva genética, e não da selecção praticada. Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 57 Quando se analisam vários microssatélites em simultâneo numa população, a análise dos polimorfismos encontrados, permite determi- nar diversos indicadores que no seu conjunto traduzem a variabilidade presente e permitem caracterizar a população em causa, o seu grau de diferenciação e as distâncias genéticas de outras populações. A população Churra do Campo, alvo deste estudo, apresenta algumas particularidades, por ter sido recentemente submetida a um programa de recuperação, alguns anos após a sua quase iminente extinção. A infor- mação sobre esta raça é muito reduzida a nível molecular, pelo que a sua caracterização genética é particularmente relevante. Para esse efeito deram entrada no laboratório de genética molecular do L-INIA Santarém, 93 amostras de sangue a partir das quais se ex- traiu ADN e foram analisados 25 microssatélites seleccionados de acor- do com as recomendações da FAO. Os indicadores obtidos permitiram avaliar a qualidade dos marcadores utilizados e a diversidade genética que caracteriza a raça. Posteriormente comparou-se a raça Churra do Campo com outras populações ovinas com o objectivo de avaliar o seu grau de diferenciação. 7.2. Material e métodos Foram analisadas 93 amostras provenientes de três rebanhos da raça Churra do Campo (CC), enviadas pela Associação de Criadores ao La- boratório de Genética Molecular do L-INIA Santarém. Para efeitos de comparação, foi utilizada também informação de outras populações ovinas nacionais e exóticas pertencentes ao Banco de ADN deste labo- ratório. Para as populações nacionais utilizou-se uma amostra represen- tativa de 30 animais no caso das populações: Merino Preto (MP), Me- rino Branco (MB), Merino da Beira Baixa (MBB), Saloia (SAL), Churra Mondegueira (MO), Churra Galega Bragançana (GB), Churra Badana (BA), Churra da Terra Quente (TQ), Churra Galega Mirandesa (GM), Churra Algarvia (AL) e Campaniça (CAM). No caso da Serra da Estrela foram analisadas 50 amostras da variedade branca (SEB) e 28 da varie- dade preta (SEP), 29 da Churra do Minho (CMI) e 32 da Bordaleira de Entre Douro e Minho (BEM). Foram também analisadas 3 populações exóticas utilizando 30 animais da população Assaf (ASS) e Ile de France (IF) e 63 animais da população Merino Precoce. 58 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual A extracção de ADN foi realizada a partir sangue, mediante o pro- tocolo comercial de ADN DNeasyTM Blood Kit – Qiagen. Após a ex- tracção procedeu-se à amplificação de 25 microssatélites por reacção em cadeia da polimerase (PCR), mediante três reacções de PCR multiplex, tal como se descreve em Santos Silva et al. (2008). Os produtos amplificados foram separados, por electroforese em ca- pilar, em gel de poliacrilamida, utilizando um sequenciador automático ABI PRISM 310 Genetic Analyser. Para a análise e identificação dos fragmentos recorreu-se ao software GeneScan Analysis ® v. 3.7.1, que permite a visualização de um gráfico de “picos” designado electrofero- grama, e Genotyper® 2.5.2. que possibilita a classificação das varian- tes alélicas correspondentes. Os resultados foram exportados para uma base de dados (Excel), e preparados para a análise estatística posterior, com os softwares adequados para o efeito. 7.3. Análise Estatística Para efectuar a análise dos dados referentes aos loci microssatélites estudados, recorreu-se a um tratamento estatístico que engloba o cálculo de diversos parâmetros da variação genética intra e inter populacional, de forma a caracterizar a população considerada, avaliar a diversidade genética e avaliar a qualidade dos microssatélites usados. Indicadores determinados e softwares utilizados: • As frequências alélicas, o número médio de alelos por locus, a he- terozigotia média esperada (He) e observada (Ho) foram calculadas recorrendo à ferramenta MSToolKit do programa Excel. • O Número Efectivo de Alelos (Ne) foi obtido por aplicação da fór- mula proposta por Weir (1996), recorrendo ao programa Excel. • O conteúdo de informação polimórfica (PIC) de cada microssatélite foi calculado utilizando o software Cervus 2.0 (Marshall et al., 1998). •O equilíbrio de Hardy-Weinberg (HW) foi testado através do programa Genepop v. 3.1c (Raymond e Rousset, 2003). • As estatísticas F de Wright (FIT, FIS e FST) foram calculadas pelo método de Weir e Cockerham (1984) mediante o software Genetix 4.0.4 (Belkhir et al., 1998). • A distância genética DS (Nei et al., 1983) entre populações foi calcu- lada com o software POPULATIONS (Langella, 2002) e cons- Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 59 truíu-se um dendrograma pelo método de Neighbor-Joining (Saitou e Nei, 1987), com o mesmo programa informático. •A estruturapopulacional foi analisada mediante o software STRUCTU- RE v 2. (Pritchard et al., 2000). 7.4. Resultados Os resultados dos principais indicadores obtidos para avaliar a qua- lidade dos 25 microssatélites utilizados para caracterizar a população Churra do Campo apresentam-se na Tabela 7.1. Tabela 7.1 - Loci analisados, Nº de animais amostrados (N), Número de alelos detectados (NA), Número efectivo de alelos (Ne), Heterozigotia esperada (He) e observada (Ho), conteúdo de informação polimórfica (PIC), índice de Fixação de Wright (Fis) e probabilidade do desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg, e respectiva significância, para p<0,05 *; p<0,01**; p<0,001 ***; NS – desvio não significativo, p>0,05 Locus N NA Ne He Ho PIC Fis p OARFCB304 92 11 5,86 0,834 0,750 0,808 0,101 Sig 0,000 *** ADCYC 92 8 2,49 0,602 0,533 0,551 0,116 0,068 NS HSC 92 11 6,18 0,843 0,717 0,818 0,150 0,000 *** OARCP49 92 11 4,28 0,770 0,739 0,746 0,041 0,010 * MCM140 92 9 3,49 0,717 0,620 0,694 0,137 0,006 ** CSRD247 92 6 3,81 0,742 0,739 0,709 0,004 0,008 ** OARFCB20 92 10 4,39 0,776 0,674 0,743 0,133 0,002 *** OARFCB48 92 8 4,73 0,793 0,717 0,760 0,096 0,004 *** MAF214 92 8 1,65 0,396 0,348 0,382 0,123 0,000 *** MAF65 92 4 3,53 0,721 0,717 0,666 -0,013 0,775 NS BM8125 93 5 3,12 0,683 0,602 0,631 0,119 0,001 *** OARVH72 93 8 4,48 0,781 0,710 0,743 0,092 0,003 ** INRA23 90 11 5,07 0,807 0,733 0,775 0,092 0,271 NS MCM527 93 7 3,47 0,716 0,581 0,669 0,190 0,000 *** OARJMP29 93 8 4,12 0,762 0,731 0,722 0,040 0,000 *** BM1824 93 4 2,46 0,596 0,495 0,543 0,171 0,006 ** D5S2 93 5 2,19 0,546 0,505 0,485 0,075 0,109 NS MAF209 89 7 3,36 0,707 0,618 0,675 0,126 0,034 * ETH225 88 6 2,48 0,601 0,455 0,529 0,245 0,006 ** ILST5 87 6 2,70 0,634 0,724 0,557 -0,144 0,249 NS CSSM6 88 9 4,77 0,795 0,750 0,762 0,057 0,001 ** OARFCB193 88 4 1,98 0,497 0,443 0,426 0,109 0,152 NS OarAE129 88 4 2,72 0,636 0,511 0,561 0,197 0,057 NS ILST11 89 7 2,19 0,546 0,472 0,514 0,136 0,002 ** INRA63 88 8 3,74 0,737 0,761 0,696 -0,034 0,314 NS Média 90,9 7,4 3,6 0,690 0,626 0,647 60 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual O número de alelos (NA) para cada locus microssatélite ou na to- talidade da população, é determinado por contagem e dá uma primeira indicação da variabilidade da população. Exprime-se habitualmente pelo número total ou médio de alelos. Porém, um determinado locus pode conter alelos com frequências muito diferentes, sendo os alelos de baixa frequência pouco úteis em estudos de diversidade ou testes de paternida- de. O número efectivo de alelos (Ne) é um parâmetro que tem em conta o número de alelos e respectiva frequência alélica, pois corresponde ao número de alelos que dariam origem à variabilidade observada, se todos os alelos tivessem a mesma frequência, sendo por isso um indicador melhor da variabilidade em determinados loci. Todos os microssatélites foram polimórficos, apresentando um nú- mero mínimo de de 4 alelos nos loci MAF65, BM1824, OARAE129 e OARFCB193, e um máximo de 11 alelos nos loci, OARFCB304, HSC, OARCP49, e OARFCB20. Os valores de Ne foram mais baixos, varian- do entre um mínimo de 1,5 no MAF214 até um máximo de 6,2 no HCS com um valor médio de 3,6 alelos efectivos. O conteúdo de informação polimórfica (PIC) avalia o grau de poli- morfismo de cada marcador, considerando-se que, microssatélites com valores de PIC superiores a 0,5 são muito informativos, entre 0,25 e 0,5 medianamente informativos e inferiores a 0,25 pouco informativos, de acordo com a escala proposta por Botstein et al. (1980). Do conjunto de marcadores estudados, 10 têm um PIC igual ou su- perior a 0,70, 12 têm valores de PIC compreendidos entre 0,50 e 0,70 e apenas 3 (D5S2, OarFCB193 e MAF214) apresentam valores de PIC inferiores a 0,50. Estes resultados revelam que os marcadores utilizados são na maioria muito informativos na população Churra do Campo e adequa- dos ao estudo da mesma, o que seria de esperar tendo em conta que são marcadores já utilizados em outras raças nacionais e internacio- nais e que provaram ser válidos para este tipo de estudos. A heterozigotia representa a variação genética na população es- tudada e depende do número de alelos e da sua frequência na população. Para a sua análise, determina-se a heterozigotia observada (Ho) e a hetero- zigotia esperada (He). A Ho é a proporção de indivíduos heterozigóticos observados em cada locus, população ou no total da amostra e reflecte a variabilidade genética. A He ou diversidade genética de um locus numa população corresponde à proporção de indivíduos heterozigóticos Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 61 para esse locus que se esperaria encontrar na população, se esta estivesse em equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW). Os marcadores moleculares com valores de heterozigotia superiores a 70% são mais informativos na transmissão de alelos, sendo preferíveis para a realização de estudos de população fiáveis (Susol et al., 2000). No conjunto de microssatélites utilizado, 15 apresentaram valo- res de He superiores a 0,70, sendo o valor médio de He de 0,69, com um máximo de 0,843 no locus HSC e um mínimo de 0,396 no locus MAF214. A Ho apresentou um valor médio de 0,626, com um máximo de 0.761 (INRA63) e um mínimo de 0.348 (MAF214). Diferenças entre He e Ho significativas (significativamente dife- rentes de 0), traduzem desvios de EHW, que a verificar-se podem revelar processos de migração ou fluxo de genes de outra população, endogamia, etc., ocorridos na população (Rousset e Raymond, 1995). Logo quando se pretende estudar uma população é importante analisar o EHW para tentar compreender os processos ocorridos na mesma. Uma das forma de tes- tar este equilíbrio consiste em verificar se uma das estatísticas F de Wright (1951), o valor Fis é ou não significativamente de 0. O Fis, que se determina através da fórmula, 1-(Ho/He), varia entre -1 e 1, sendo que o valor 0 indica que a população se encontra em equilíbrio, valores negativos indicam excesso de heterozigóticos e os positivos deficiência de heterozigóticos (consanguinidade). Neste trabalho os resultados do teste de equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) (tabela 1), mostram que dos 25 loci testados 17 apresentam um p-value inferior a 0,05, o que indica que não se encontram em equilíbrio nesta população. Os valores de Fis variaram de -0.144 no locus ILST005 a 0,245 no locus ETH225, sendo que uma proporção importante dos loci, 0,64, revelou valores superiores a 0,10 o que pode indicar pouca homogeneidade dentro da população, elevado nível de consanguinidade ou amostragem inadequada. 7.4.1 Enquadramento da População Churra do Campo com outras Populações Ovinas Para tentar posicionar a população Churra do Campo no conjunto das restantes populações ovinas nacionais, compararam-se os principais indi- cadores obtidos nesta população com os indicadores médios de 15 po- 62 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual pulações autóctones portuguesas, determinados para uma amostra média de 31 animais não aparentados de cada uma das populações, e com os indicadores médios das três populações exóticas, anteriormente referidas. Nesta análise determinaram-se os valores globais de Fis por população e no conjunto das populações, retirando dois microssatélites (ADCYC e OARAE129) por se encontrarem em desequilíbrio na maioria das popula- ções analisadas podendo mascarar o conjunto dos resultados obtidos. Os valores de Fis são assim apresentados considerando apenas 23 microssaté- lites. Na Tabela 7.2, apresentam-se os resultados obtidos. A população Churra do Campo apresentou um número médio e efectivo de alelos inferior á média das populações nacionais, mas ligei- ramente superior aos das raças exóticas. Comparativamente às outras populações Churras o número médio de alelos foi similar aos da Churras Mondegueira e Badana, inferior aos da Bragançana,Terra Quente e Mi- randesa e superior aos da Algarvia e Assaf. O número efectivo de alelos foi inferior ao de todas as raças Churras nacionais mas semelhante ao da população Assaf. Tabela 7.2 - Nº de animais, nº loci tipificados, He e Ho e Nº médio e efectivo de alelos Indicadores Churra 15 populações 3 populações do Campo nacionais exóticas Nº médio de Animais por população 93 31 40 Nº Loci tipificados 25 25 25 He 0,689 0,735 0,686 Média±DP ±0,0227 ±0,026 ± 0,019 Ho 0,626 0,677 0,641 Média±DP ±0,0101 ±0,029 ± 0,008 Nº Alelos 7,4 8,18 6,0 Média±DP ±0,026 ±0.90 ± 0,54 Nºefectivo de alelos 3,6 4,3 3,5 Média ± DP ±1,2 ±0,389 ±0,119 Fis global (23 Loci) 0, 087 0,067 0.049 Significancia * * * A heterozigotia esperada foi a mais baixa entre as populações au- tóctones estudadas (tal como a da variedade Preta da Serra da Estrela), mas similar à média das raças exóticas. A Ho foi a também a mais baixa de todas as populações analisadas, juntamente com a Badana, e inferior Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 63 portanto à média das outras raças analisadas, nacionais ou exóticas. A diferença entre a He e Ho reflectiu-se no valor global de Fis que foi significativamente diferente de 0 e superior aos verificados para as ra- ças nacionais e exóticas aqui analisadas. Estes resultados mostram que a Churra do Campo apresenta globalmente níveis de diversidade, não muito diferentes dos exibidos pelas três raças exóticas avaliadas, contudo inferiores aos valores médios das populações nacionais. A variabilidade realmente observada (Ho) foi mesmo inferior à das raças exóticas ana- lisadas, contrariamente à generalidade das populações autóctones que apesar da pequena dimensão dos efectivos mostraram ser uma fonte de diversidade genética mais rica que à das raças exóticas. 7.4.2. Distância da Raça Churra do Campo a outras Populações Ovinas Nacionais A Tabela 7.3 representa a distância genética de Nei (Ds) entre a po- pulação churra do Campo (CC) e 15 populações de ovinos nacionais. Como pode ver-se na tabela, as populações que estão mais próximas da CC são a Churras Galega Bragançana (GB), Mirandesa (GM), Mon- degueira (MO) e o Merino da Beira Baixa (MBB). O maior afastamento verifica-se para a Churra Algarvia (AL) seguida da Campaniça (CAM) e Serra da Estrela Branca e Preta (SB, SP). Tabela 7.3 - Matriz de distâncias genéticas de Nei (Ds) entre 16 populações de ovinos nacionais para o conjunto dos 25 loci SEB SEP BEM CHMI MP MB MBB SAL MO GB BA TQ GM AL CAM CC 0,20 0,21 0,18 0,19 0,17 0,18 0,15 0,18 0,15 0,13 0,19 0,16 0,14 0,29 0,20 SEB 0,00 0,10 0,08 0,11 0,07 0,15 0,12 0,09 0,13 0,10 0,15 0,10 0,10 0,19 0,14 SEP 0,00 0,13 0,17 0,17 0,22 0,17 0,18 0,19 0,17 0,20 0,19 0,18 0,28 0,22 BEM 0,00 0,07 0,09 0,16 0,12 0,10 0,14 0,09 0,13 0,11 0,09 0,19 0,14 CHMI 0,00 0,12 0,14 0,12 0,13 0,16 0,12 0,14 0,13 0,12 0,17 0,12 MP 0,00 0,11 0,13 0,09 0,13 0,12 0,14 0,09 0,10 0,19 0,12 MB 0,00 0,16 0,13 0,20 0,17 0,21 0,17 0,15 0,23 0,11 MBB 0,00 0,11 0,14 0,12 0,09 0,12 0,11 0,22 0,15 SAL 0,00 0,13 0,11 0,13 0,12 0,12 0,21 0,14 MO 0,00 0,08 0,14 0,07 0,10 0,21 0,17 GB 0,00 0,12 0,08 0,07 0,20 0,15 BA 0,00 0,13 0,11 0,21 0,16 TQ 0,00 0,08 0,18 0,16 GM 0,00 0,18 0,15 AL 0,00 0,19 CAM 0,00 64 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual A partir da distância Ds calculada, construí-se pelo método de Neigh- bourg Joining, uma árvore radial de distâncias genéticas (dendrograma), que mostra as relações genéticas entre as populações consideradas, que se apresenta na figura 7.1. Na figura 7.1 pode ver-se a árvore de distâncias Ds. Os valores nos nós (valores de bootstrapp sobre 1000 tiragens) representam a percen- tagem de ocorrências em 1000 replicações e indicam a robustez dos mesmos. Através da figura verifica-se que grane parte dos valores de replicação obtidos são baixos pelo que devemos encarar os resultados com algumas reservas, considerando-os apenas indicativos. Contudo o dendrograma parece evidenciar três agrupamentos: O agrupamento à esquerda da figura 7.1 evidencia dois ramos e inclui todas as raças do grupo churro à excepção da Churra Algarvia e Churra do Minho e inclui também o Merino da Beira Baixa. A população CC inclui-se neste grupo indicando uma proximidade maior às populações Churras do que às restantes populações nacionais, ainda que o ramo onde se encontra seja bastante mais comprido do que os adjacentes re- velando assim uma certa distância das populações do mesmo grupo. O agrupamento inferior direito, que designaremos por grupo 2, in- clui todas as raças do tronco Bordaleiro, à excepção da Campaniça, e inclui também a raça Merino Preto e a Churra do Minho. O agrupamento superior direito é constituído por um ramo que in- clui o Merino Branco e a Campaniça e outro muito mais longo, o que indica maior afastamento, com a raça Churra Algarvia. As populações Merinas aparecem distribuídas nos três agrupamentos anteriores. Finalmente fez-se uma análise para avaliar a estrutura e grau de mis- cigenação de populações ancestrais que poderão estar na origem da po- pulação CC. Nesta análise incluíram-se as restantes populações Churras e o MBB, por ser uma população geograficamente próxima e também a população exótica Assaf de que dispúnhamos, para ser tomada como re- ferência. Não foram considerados para esta análise dois microssatélites (OarAE129 e ADCYC) pelas razões atrás apontadas. Utilizou-se o pro- grama Structure versão 2.1 (Pritchard, et al., 2000), que implementa um algoritmo bayesiano, baseado na cadeia de Monte Carlo Markov (MCM). O método assume que um indivíduo pode ter diferentes graus de mis- tura das populações ancestrais subjacentes e permite inferir o número de populações com estrutura definida que pode ou não corresponder ao número de populações em estudo. Em função dos genótipos o progra- Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual 65 ma agrupa os indivíduos em diferentes clusters (K) que representam o número de populações subjacentes aos dados, assumindo um modelo de mistura em que cada indivíduo pode conter no seu genoma percenta- gens variáveis das populações ancestrais de origem. Figura 7 - Arvore de distâncias genéticas standard de Nei (Ds) entre as populações, pelo método de Neighbor-Joining. Na análise utilizou-se o admixture model com as frequências aléli- cas correlacionadas, com um período de burning de 20000, seguido de 100000 iterações MCM. Foram testados valores de K entre 2 e 10 com 3 repetições para cada valor de K. De acordo com as simulações resultantes considerando a informação de 10 raças, determinou-se como sendo 8 o valor óptimo para K, ou seja o número de populações ancestrais subjacente aos dados. A figura 7.2 mostra graficamente os resultados obtidos quando K =8. Na figura cada indivíduo representa-se por uma linha vertical dividida em K segmentos (coloridos) proporcionais à fracção do seu genótipo atribuível a cada uma das K (8) populações inferidas (Pritchard et al., 2007). 66 Raça Ovina - Churra do Campo - Caraterização da população atual CC CHMI MBB MO GB BA TQ GM AL AS Figura 7.2 - Representação gráfica dos resultados da análise de estrutura genética de10 popu- lações ovinas considerando K=8 Nesta figura observa-se que as raças Churra Algarvia (vermelho) e Assaf (Verde) se separam claramente das restantes formando dois clusters bastante homogéneos, sem grande relação coma as restantes populações. Todas as restantes populações evidenciam um maior ou menor grau de mistura evidenciando alguma relação com as outras analisadas. A Churra Badana revela a proximidade já anteriormente observada com o Merino da Beira Baixa e a Churra Mondegueira com a Churra da Terra quente. A população CC apresenta bastante heterogeneidade nos indivíduos que a compõem (ou pelo menos naqueles que compuseram esta amos-
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