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© W ik im ed ia C om m on s/ O tto H ee s História 1 2 3 4 Livro do professor 9o. ano Volume 1 Livro didático Período Entreguerras: Crise de 1929 47 Revolução Russa 33 Grande Guerra 17 Brasil: Primeira República 2 Livro do professor 1 2 © W ik im ed ia C om m on s/ O tto H ee s Observe o último retrato da Família Imperial em território brasileiro, feito no ano de 1889. Após a análise dos documentos ao lado, vamos recordar o que estudamos a respeito do Império Brasileiro, buscando as respostas para as questões a seguir. • Esse foi o último retra- to da Família Imperial feito no Brasil. Qual o motivo disso? • De acordo com o frag- mento da carta de D. Pedro II, qual era o sentimento dele com a situação vivida pelo Brasil em 1889? Brasil: Primeira República HEES, Otto. Família Imperial em Petrópolis. 1889. 1 fotografia, p&b., 19 cm × 14,5 cm. Museu Imperial, Petrópolis. À vista da representação que me foi entregue hoje às três horas da tarde resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir com toda a minha família para a Europa, amanhã, deixando esta Pátria de nós estremecida, a qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranhado amor e dedicação durante quase meio século que desempenhei o cargo de chefe de Estado. TRECHO da Carta escrita por D. Pedro II no dia 16 de novembro de 1889. In: SCHWARCZ, Lilia M. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 461-462. © Sh ut te rs to ck / An dr ey _K uz m in Encaminhamento de atividade e gabarito.2 Justificativa de abordagem do conteúdo. 1 3 • Retomar os fatores que levaram à crise do Império e à Proclamação da República. • Compreender as principais características da República dos Marechais ou República da Espada. • Identificar a situação dos indígenas e afro-brasileiros no projeto republicano brasileiro. • Analisar a Política dos Governadores, instituída durante a República do Café com Leite. • Caracterizar a atuação dos coronéis no processo eleitoral. • Compreender o processo de urbanização, enfatizando as desigualdades entre os grupos sociais. • Compreender os movimentos sociais, rurais e urbanos ocorridos durante a Primeira República. Objetivos A Monarquia se manteve no Brasil por 67 anos, de 1822 até 1889, quando foi proclamada a República. O declínio da Monarquia no país se intensificou a partir de 1870, diante das mudanças sociais e dos anseios políticos que despontavam na segunda metade do século XIX. Organize as ideias Relembre os seus estudos sobre o contexto que acentuou a crise do regime monárquico no Brasil, fazen- do o que se pede a seguir. 1. Cite os principais fatores que levaram à crise do Império. 2. Estabeleça a relação entre a Abolição da Escravatura e o fim do Império no Brasil. 3. Explique em que medida a Guerra do Paraguai (1864-1870) levou os integrantes do Exército brasileiro a retirar o apoio à Monarquia. Proclamação da República Em razão da crise do Segundo Reinado, o chefe do Conselho dos Ministros de D. Pedro II, o Visconde de Ouro Preto, apresentou à Câmara uma série de sugestões de reforma política. Como a Câmara era formada, em sua maioria, por conservadores, ou seja, políticos que não desejavam alterações radicais, as mudanças foram rejeitadas. Em represália a essa atitude, o imperador D. Pedro II decretou a dissolução da Câmara e convocou uma nova, composta de políticos que ainda apoiavam seu governo. Essa nova assembleia deveria se reunir em novembro para debater e aprovar as propostas de reforma. Os republicanos de São Paulo e do Rio de Janeiro viram na dissolução da Câmara um abuso de poder, pedindo ao Exército que interferisse na situação. Em 15 de novembro de 1889, após dias tensos nos quais se esperava que alguns oficiais fossem presos, o Marechal Deodoro da Fonseca tomou o quartel-general do Exército e anunciou o estabelecimento da República no Brasil. A mudança da forma de governo – de Monarquia para República – se deu sem alarde e sem a participação popular. Ocorreu sem o conhecimento do próprio imperador D. Pedro II, que só foi informado dos eventos na noite do dia 15 de novembro. Apenas dois dias depois, ele foi obrigado a deixar o país, partindo com sua famí- lia para a Europa (observe a fotografia do início do capítulo). Deodoro da Fonseca assumiu provisoriamente o governo do país. Encaminhamento da atividade e gabarito.3 Sugestão de abordagem do conteúdo.4 Objetivos Observe os documentos a seguir. Interpretando documentos Em frase que se tornou famosa, Aristides Lobo, o propagandista da República, manifestou seu desapontamento com a maneira pela qual foi proclamado o novo regime. Segundo ele, o povo, que pelo ideário republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos, assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar. Não nos interessa aqui discutir em que medida a observação correspondia à realidade [...]. Interessa-nos, sim, o fato de que um observador participante e interessado tenha percebido a participação do povo dessa maneira; interessa-nos o fato de que três dias após a proclamação este observador já tenha percebido e confessado o pecado original do novo regime. CARVALHO, José M. de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 9. Após a análise dos documentos, responda no caderno às questões a seguir. 1. A obra de Eduardo de Sá e o texto de José Murilo de Carvalho apresentam a mesma versão para a Pro- clamação da República no Brasil? Justifique sua resposta. 2. Por que Aristides Lobo julgou que as pessoas pensavam assistir a uma simples parada militar? 3. O que seria o pecado original ao qual o autor faz referência? SÁ, Eduardo de. Proclamação da República no Campo de Santana. 1889. 1 óleo sobre tela, color., 40 cm × 73,5 cm. Museus Castro Maia/IPHAN/MinC, Rio de Janeiro. República da Espada ou dos Marechais Sob o governo do primeiro presidente, Marechal Deodoro da Fonseca, foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte. Esta elaborou a primeira Constituição republicana do país (a segunda de nossa história), promul- gada em fevereiro de 1891. bestializado: pasmo, embasbacado, abestado. © M us eu s C as tro M ai a, Ri o de Ja ne iro 9o. ano – Volume 14 Aprofundamento de conteúdo para o professor e gabarito.5 Interpretando documentos Leia, a seguir, a forma como foram dispostas na Constituição de 1891 algumas das principais mudanças em relação ao Período Monárquico. Art. 15 – São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, har- mônicos e independentes entre si. [...] Art. 47 – O Presidente e o Vice-Presidente da República serão eleitos por sufrágio direto da Nação e maioria absoluta de votos. [...] Art. 70 – São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei. § 1.º – Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados: 1.º ) os mendigos; 2.º ) os analfabetos; 3.º ) os praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior; 4.º ) os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe a renúncia da liberdade individual. § 2.º – São inelegíveis os cidadãos não alistáveis. [...] Art. 72 – A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabi- lidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 2.º – Todos são iguais perante a lei. A República não admite privilégios de nascimento, desco- nhece foros de nobreza e extingue as ordens honoríficas existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos nobiliárquicos e de conselho. BRASIL. Congressso Nacional Constituinte. Constituição da Repúblicados Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html>. Acesso em: 18 maio 2018. Conforme a análise dos artigos da Constituição de 1891, faça o que se pede a seguir. 1. De acordo com o artigo 15 dessa Constituição: a) Como ficou a divisão dos poderes no país? De que maneira essa organização pode ser relacionada ao Iluminismo? b) De que forma essa divisão estabelecida na Constituição de 1891 se diferenciava dos poderes deter- minados pela Constituição de 1824? 2. A Constituição Republicana garantia que a eleição para presidente e vice-presidente seria feita por “sufrá- gio direto”. Pesquise e escreva o significado para: • Sufrágio – voto. • Sufrágio direto – voto direto dos cidadãos aptos a votar. 3. De acordo com a Constituição de 1891: a) Quem poderia votar? b) Quem ficou excluído do direito de voto? 4. O que significa a afirmação “Todos são iguais perante a lei”? A qual grupo de brasileiros o texto da Cons- tituição faz referência? História 5 Encaminhamento da atividade e gabarito.6 Assim como a Constituição de 1824, a Constituição de 1891, sob a influência do positivismo, deixou os indí- genas de fora do texto constitucional. Dessa forma, o respeito às diversas culturas indígenas, a demarcação das terras para esse grupo populacional e a inclusão dele ao novo país republicano sequer foram debatidos. Como prova de que os indígenas não figuravam nos planos de construção da nova nação republicana, podemos citar o discurso proferido por André Gustavo Paulo de Frontin na cerimônia de inauguração das co- memorações do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, ocorrido em 1900, na cidade do Rio de Janeiro. O Brasil não é o índio; este, onde a civilização ainda não se extendeu perdura com os seus cos- tumes primitivos, sem adeantamento nem progresso. Descoberto em 1500 pela frota portugueza ao mando de Pedro Alvares Cabral, o Brasil é a resultante directa da civilização occidental, trazida pela immigração, que lenta, mas continuadamente, foi povoando o solo. A religião, a mais poderosa fôrça civilizadora da epocha, internou-se pelos longínquos e ínvios sertões brasileiros e, sob o influxo de Nóbrega e Anchieta, conseguiu assimilar número conside- rável de aborígenes, que assim se incorporaram à nação Brasileira. Os selvícolas, esparsos, ainda abundam nas nossas magestosas florestas e em nada differem dos seus ascendentes de 400 anos atrás; não são nem podem ser considerados parte integrante de nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não conseguindo, eliminá-los. FRONTIN, André G. P. de. Discurso de abertura do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil. In: FREIRE, José R. B. Cinco ideias equivocadas sobre o índio. Revista do Centro de Estudos do Comportamento Humano (Cenesch), Manaus, v. 1, p. 17-33, 2000. © M us eu P au lis ta , S ão P au lo SILVA, Oscar P. da. Fundação da cidade de São Paulo. 1909. 1 óleo sobre tela, color., 185 cm × 340 cm. Museu Paulista, São Paulo. Curiosamente, no mesmo período do início da Primeira República, diversas produções artísticas buscavam no passado o enaltecimento do Brasil. Em muitas delas, os indígenas estavam presentes, retratados com suas características físicas e culturais. Esse passado era a prova da construção do Brasil do início do século XX. Entretanto, como observamos no discurso de André Gustavo Paulo Frontin, parte dos elementos que formaram a nação brasileira não era aceita e era chamada de primitiva. A população negra, recém-libertada da escravidão, também não foi incluída no texto constitucional. Assim, ela permaneceu à margem da sociedade, sem direito à participação política, pois o texto constitucional excluiu os mendigos e os analfabetos, grande maioria dentre a população de negros e mulatos. Segundo Hebe Mattos, no artigo Raça e cidadania no crepúsculo da modernidade escravista no Brasil, 2% da população tinha direito ao voto no início da Primeira República e esse percentual não passou de 5% no final desse período político. É importante destacar que as teorias raciais que eram discutidas no mundo ocidental reforçaram no Brasil a exclusão das populações negra, mulata, indígena, cafuza e mameluca, na época consideradas inferiores à população branca. 9o. ano – Volume 16 Apesar de a Constituição de 1891 determinar que a eleição para presidente fosse direta, o Congresso decidiu que a primeira eleição deveria ser indireta, ou seja, os senadores escolheriam o presidente. Marechal Deodoro foi eleito em fevereiro de 1891, vencendo Pruden- te de Morais, que representava os interesses dos cafeicultores. O vice- -presidente eleito foi outro militar, o marechal Floriano Peixoto. Deodoro da Fonseca, porém, ficou poucos meses no poder. O pre- sidente angariou a antipatia de vários grupos, principalmente a dos cafeicultores paulistas, grupo que o acusava de governar de forma autoritária. Deodoro alegava a necessidade de um governo mais for- te pelo perigo da fragmentação territorial, como ocorrera nos demais países da América Latina. Os opositores apresentaram um projeto que limitava o poder do presidente. Como resposta, ele mandou fe- char o Congresso. A atitude foi mal recebida por seus adversários e, diante da pres- são, Deodoro renunciou ao cargo em novembro daquele ano. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, Floriano Peixoto, que não convocou novas eleições, conforme a Constituição determinava. Governou até o final do mandato de Deodoro, nomeando interventores para os es- tados. Em seu período de governo, Floriano foi chamado de Marechal de Ferro. No entanto, o governo de Floriano também enfrentou problemas, como a eclosão da Revolta da Armada e da Revolução Federalista. Sobre isso, leia o texto a seguir. © M us eu d a Re pú bl ic a, Ri o de Ja ne iro FIGUEIREDO, Aurélio. Juramento constitucional. 1890. 1 óleo sobre tela: color., Museu da República, Rio de Janeiro. Marechal Deodoro, ao lado do vice-presidente, Floriano Peixoto, jura cumprir a Constituição. Entretanto, os dois deixaram de cumpri-la quando eram governantes. A respeito das populações indígenas, negras e mulatas durante a Primeira República, analise as afirmati- vas a seguir. I. A Constituição de 1891 estabeleceu a obrigatoriedade de voto aos indígenas, negros e mulatos a partir dos 21 anos de idade. II. Os indígenas ficaram à margem do projeto de construção do Brasil republicano. III. Após a Abolição da Escravatura, a vida dos escravizados libertos continuou muito difícil, pois não houve por parte do governo nenhum esforço de inclusão dessa parte da população aos projetos de melhorias sociais. De acordo com a análise das afirmativas acima, assinale a alternativa correta: a) Todas as afirmativas estão certas. b) Todas as afirmativas estão erradas. c) As afirmativas I e II estão certas. d) As afirmativas I e III estão certas. X e) As afirmativas II e III estão certas. A reação não demorou a ocorrer. Devido ao fato de a Marinha ter mantido fortes tradições aristo- cráticas, esse segmento acabou por espelhar, no início da República, os descontentamentos de parte da elite civil. A Revolta da Armada, de 1893-94, foi expressão disso. Embora um de seus líderes, o almirante Saldanha da Gama, fosse monarquista assumido, tal movimento, longe de ser uma conspi- ração antirrepublicana, expressou muito mais o descontentamento diante dos rumos tomados pelo novo regime, sendo por isso apoiado por republicanos avessos ao militarismo, como Rui Barbosa. Organize as ideias História 7 Aprofundamento de conteúdo para o professor.7 Aprofundamento de conteúdo para o professor. 8 A figura dos coronéis surgiu no Brasil em 1831, com a criação da Guarda Nacional, milícia composta de civis com a responsabilidade de manutenção da ordem. Quem se ha- bilitasse a formar um agrupamento, geralmente um grande proprietáriode terras, recebia o título de coronel. A denominação República Oligárquica decorre do predomínio do poder político por fazendeiros de São Paulo e Minas Ge- rais. A oligarquia refere-se ao governo de poucos, geralmente indivíduos do mesmo partido político, da mesma classe ou ligados pelos mesmos interesses. Apesar de todos os problemas em seu governo, Floriano Pei- xoto cumpriu seu mandato até o final. Em março de 1894, foram realizadas eleições para presidente, e Prudente de Morais, que re- presentava os ricos cafeicultores do Sudeste, foi eleito. Terminava assim o período conhecido como “República da Espada” ou dos Marechais, em que a presidência foi exercida apenas por militares. Tinha início um novo período na República brasileira, chamado de “República Oligárquica” ou “República do Café com Leite”. República do Café com Leite O governo que se seguiu à República dos Marechais foi marcado pelo predomínio dos paulistas (produtores de café) e mineiros (produtores de leite) ou políticos ligados a esses dois grupos que se alternavam no poder federal. Por essa razão, também é chamado de República do Café com Leite. Entretanto, é importante destacar que São Paulo e Minas Gerais viviam nesse período um processo de industrialização e o desenvolvimento eco- nômico lhes garantia grande poder político. Esse período teve início com a posse do presidente Prudente de Morais e se estendeu até o ano de 1930. Para que essas oligarquias se mantivessem na Presidência da República, era necessária a elaboração de arti- fícios que garantissem aos seus candidatos sempre a vitória. Um dos mecanismos criados com essa finalidade foi a Política dos Governadores, um acordo feito entre o governo federal e as oligarquias estaduais. Os gover- nadores garantiam votos nas eleições ao governo federal. Em troca, este fornecia investimentos nos estados e apoio aos governadores nas eleições estaduais. Ainda nos estados atuavam os coronéis, grandes latifundiários que, por meio da fraude ou da coerção, garantiam votos aos governadores e aos candidatos à Presidência da República. Os coronéis coagiam os eleitores a votar nos candidatos indicados por eles. O conjunto de eleitores sob o poder de um coronel recebia a denominação “curral eleitoral”. Nesse período, o voto era aberto, ou seja, o eleitor tinha que pronun- ciar em voz alta o seu candidato. Capangas eram colocados nas seções eleitorais para verificar se o voto do eleitor estava de acordo com as or- dens do coronel. Em caso negativo, ocorriam retaliações, que poderiam ir desde a perda de seu trabalho até agressões físicas. Esse tipo de votação era chamado de “voto de cabresto”. Outra forma de fraudar o sistema de votação era “inventar” eleitores, ou seja, criar registros falsos ou “res- suscitar” eleitores já falecidos, entregando seu título a outra pessoa para que votasse em nome do morto. Depois do processo eleitoral, o candidato eleito era submetido à Comissão Verificadora, formada por membros do Poder Legislativo, que tinha a atribuição de validar a eleição. Caso algum candidato que não fizesse parte dos acordos fosse eleito, ele poderia ser “degolado”, termo utilizado para se referir ao não re- conhecimento da eleição. Dessa forma, utilizando-se de todos esses meios fraudulentos, os integrantes dos dois principais partidos republicanos se mantiveram na Presidência da República até 1930. DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2016. p. 218. Em 1893, ao mesmo tempo que o Rio de Janeiro era bombardeado por navios da armada, ocorreu, no Sul, a Revolta Federalista, na qual grupos dominantes locais se dividiram em facções a favor e contra Floriano Peixoto. Este, por sua vez, com o objetivo de conseguir recursos e milícias suplementares para os combatentes na capital, assim como no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, aproximou-se de lideranças republicanas paulistas, abrindo caminho para a transição do poder para as mãos dos civis. 9o. ano – Volume 18 a) Pesquise o significado das palavras a seguir. Curral: local em que se recolhe o gado quando ele não está solto nas pastagens. Cabresto: equipamento que se coloca sobre a cabeça e o pescoço dos cavalos, manipulando, assim, a direção em que devem andar. 1. Observe a imagem a seguir. Interpretando documentos © Fu nd aç ão B ib lio te ca N ac io na l, R io d e Ja ne iro STORNI. As próximas eleições... “de cabresto”. Revista Careta. 1927. • Ella – É o Zé Besta? • Elle – Não, é o Zé Burro! b) O que a utilização desses termos, para se referir ao eleitorado do início da República, revela sobre o modo como os políticos do período viam seus eleitores? Para os políticos, os eleitores eram comparados a animais, que poderiam ser manipulados a fim de levar a política do país para a direção que desejassem. 2. Observe a imagem que foi capa da revista Careta em 1925. © Fu nd aç ão B ib lio te ca N ac io na l, R io d e Ja ne iro STORNI. A fórmula democrática. Revista Careta. 1925. De que forma a charge é representativa da Política do Café com Leite? As pessoas na parte inferior da charge estão identificadas com nomes de estados da República e, aparentemente, desejam também participar das decisões políticas. A charge é uma critica à forma como o poder foi dividido entre os dois estados (São Paulo e Minas Gerais). Encaminhamento da atividade.9 História 9 Com a efetivação da Política do Café com Leite, o governo atuou no sentido de garantir a estabilidade da eco- nomia do café. Os cafeicultores enfrentavam crises na produção cafeeira, resultantes principalmente da superpro- dução, que se intensificou entre 1906 e 1917. Em 1906, reunidos na cidade paulista de Taubaté, estabeleceram uma política de valorização do produto, em que o governo federal compraria todo o excesso de café produzido no país. O objetivo era valorizar o café internacionalmente, diminuindo sua oferta. Os fazendeiros se comprometeram a pro- duzir em menor quantidade para que o governo pudesse vender os estoques no futuro e recuperar o investimento feito na compra das sacas. Porém, a superprodução continuou e o governo a cada ano estocava mais do produto. Em 1917, quando a Grande Guerra fez com que a compra de café por parte dos países estrangeiros dimi- nuísse, os cafeicultores brasileiros utilizaram novamente a tática de vender seus estoques para o governo com o objetivo de evitar a queda do preço do produto pela grande oferta. Em 1920, houve novamente superprodução e os cafeicultores solicitaram ao governo federal uma nova compra do produto em grande quantidade. Entretanto, dessa vez, o governo alegou não ter condições de atendê-los. Teve início então uma crise no esquema que ocorria havia vários anos entre ele e os cafeicultores. Movimentos sociais da Primeira República Como vimos, é de Aristides Lobo a famosa frase que define a Proclamação da República no Brasil: “O povo assistiu a tudo bestializado”. Entretanto, nos anos que se seguiram à Proclamação, o que se viu não foi um povo “bestializado”, que apenas assistia aos acontecimentos políticos, mas combativo, insatisfeito e pronto para se fazer ouvir. Por outro lado, o governo muitas vezes também estava pronto para fazer calar as reivindicações. Diversas manifestações populares ocorreram no período. Observe o mapa. Enquanto o poder político se concentrava nas mãos dos oligarcas, que faziam o possível para preservar seus interesses, mesmo que isso significasse recorrer a métodos ilícitos, o setor industrial brasileiro começou a se desenvolver com a iniciativa de particulares, em sua maioria, grandes comerciantes que haviam acumulado capital com a comercialização do café. Assim, em São Paulo, local em que se concentravam as maiores fortunas do país, a industrialização teve significativo desenvolvimento, sendo seguido por Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia. As primeiras indústrias criadas nessas cidades pro- duziam prioritariamenteroupas e sapatos, além de produtos alimentícios e bebidas. Logo, porém, investiram em outro tipo de produção, voltada para suprir as necessidades das próprias indústrias. Surgiram então indústrias que produziam ferro, aço e outros materiais pesados necessários para a produção de máquinas industriais. Ao mesmo tempo que surgiam as indústrias, também cresciam no Brasil as cidades e o modo de vida urbano. Ruas amplas eram abertas e construções inspiradas na arquitetura francesa abrigavam confeitarias, restaurantes e lojas refinadas. A iluminação pública se tornava mais comum nas cidades maiores e, até mesmo, alguns bondes passaram a circular. Novos hábitos de vida foram incorporados pelas populações urbanas, como o de comer fora de casa. A moda seguia o que ditavam os estilistas europeus, sobretudo os parisienses, mesmo que o excesso de tecidos e detalhes fosse totalmente inapropriado para cidades quentes, como o Rio de Janeiro. 9o. ano – Volume 110 Primeira República: movimentos sociais Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 45. Adaptação. Movimentos sociais rurais Para os brasileiros que viviam nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, a Proclamação da Re- pública não trouxe nenhuma melhoria significativa. Ao contrário, nos estados em que as atividades econômicas principais passavam por momentos de crise, a já empobrecida população teve que arcar com o aumento da carga de impos- tos estipulados pelos governos regionais. Canudos (1893-1897) – Bahia No interior da Bahia, sertanejos liderados pelo beato Antônio Conse- lheiro fundaram o Arraial de Canudos. Ali foi estabelecida uma con- gregação religiosa que aboliu a propriedade privada e se recusava a pagar os impostos. Nas duas primeiras investidas, ocorridas em 1896, uma com 600 ho- mens e outra com 1 500, as tropas do governo foram vencidas pelos sertanejos, armados, principalmente, com paus e pedras. Em 1897, com um contingente de 6 000 homens bem armados, o Exército brasi- leiro destruiu Canudos. Centenas de sertanejos foram mortos e mulhe- res e crianças foram feitos prisioneiros. © M us eu d a Re pú bl ic a, Ri o de Ja ne iro /Ib ra m /M in C BARROS, Flávio de. Uma casa de Canudos. 1897. 1 fotografia, p&b. Acervo Museu da República, Rio de Janeiro. • Em primeiro plano, a casa de um morador de Canudos. É possível observar a vida bastante sim- ples dos habitantes de Canudos. A fotografia é de 1897, pouco antes de a comunidade ser destruída. M ar ilu d e So uz a História 11 Aprofundamento de conteúdo para o professor. 10 Contestado – Paraná/Santa Catarina (1911-1915) Movimento ocorrido no sul do Brasil, na região conhecida como Contestado, porque era disputada por Paraná e Santa Catarina. Re- unidos em torno das pregações do monge José Maria, trabalha- dores rurais expulsos de suas terras, pela instalação de uma madeireira e pela construção de uma ferrovia, estabeleceram-se na região. Como essa ocupação desagradou aos fazendeiros próximos e aos governos locais e estaduais, os ocupantes foram alvo de ataques de milícias estaduais e de jagun- ços a serviço de coronéis locais. Após vários confrontos, a popula- ção ali assentada foi expulsa pe- las tropas do governo em 1915. ©Coleção Paulo Moretti/Dialeto/Claro Jansson • Caboclos da Guerra do Contestado posam com armas, violão e acordeão JANSSON, Claro G. Guerreiros do Contestado. 1914. 1 fotografia, p&b. Acervo pessoal do artista. Padre Cícero: o beato de Juazeiro – Ceará (1889-1934) A popularidade do padre Cícero Romão Batista, em Juazeiro e em outras regiões do Ceará, acabou por desagradar às auto- ridades locais porque, além de um líder religioso, ele passou a ter influência política. O padre teve projeção após a difusão da notícia de que, em suas missas, ocorriam milagres. Ele foi expulso da sua ordem, acusado de divulgar falsos milagres, e proibido de ministrar sacramentos ou de rezar a missa. Apesar de todas as proibições, a popularidade de Padre Cícero aumentou e ele exerceu os cargos de prefeito de Juazeiro e vice-governador do estado do Ceará. Pesquisa Além dos movimentos sociais rurais que estudamos até aqui, houve também o cangaço, outro fenôme- no social desse período. Pesquise a respeito desse movimento e registre no caderno as informações encontradas. Movimentos sociais urbanos Nos sertões, havia multidões carentes de recursos e de atenção por parte dos seus representantes políticos. Em condições de abandono pelo Estado, muitos seguiam líderes místicos. Por sua vez, nas cidades, o desen- volvimento da indústria e o processo de renovação dos centros urbanos trouxeram transtornos para as classes menos favorecidas. 11 Aprofundamento de conteúdo para o professor. 12 Orientação para a atividade e gabarito. 9o. ano – Volume 112 Revolta da Chibata – Rio de Janeiro (1910) Em 1890, o presidente Marechal Deodoro restabeleceu os casti- gos corporais na armada brasileira, que haviam sido extintos em 16 de novembro de 1889. Como exemplo, podemos citar que a punição para os delitos leves era a prisão a pão e água. Para as faltas graves, a punição eram 25 chibatadas. Em 22 de novembro de 1910, os marinheiros, liderados pelo cabo João Cândido, assumiram o controle dos principais navios da armada brasileira (Marinha) ancorados na Baía de Guanabara. Ameaçando bombardear a cidade, os marinheiros exigiram o fim dos castigos corporais e a anistia aos revoltosos. Como resultado do movimento, foram proibidos os castigos físicos na Marinha. Entretanto, os participantes da revolta foram presos e deportados para a Amazônia, para o trabalho nos seringais, ou encarcerados na Ilha das Cobras. Revolta da Vacina – Rio de Janeiro (1904) O processo de urbanização do Rio de Janeiro no fim do século XIX desapropriou muitos terrenos e causou a expul- são de inúmeras famílias da classe trabalhadora do centro urbano, onde habitavam cortiços. Estes abrigavam di- versas famílias que viviam em condições precárias, sem as condições básicas de sobrevivência. As condições insalubres de moradia e de trabalho contribuíram para que doenças como a varíola, a febre amarela, a cóle- ra, a disenteria e a gripe se alastrassem rapidamente. A Diretoria Geral de Saúde Pública, sob a administração do médico sanitarista Osval- do Cruz, decretou a vacinação obrigatória contra a varíola. A população, que estava descontente com as condições de vida e o descaso do governo, considerou autoritária essa medida e promoveu uma revolta en- tre os dias 10 e 18 de novembro de 1904. O quebra-quebra levou as autoridades a revogar a obrigatoriedade da vacina. © Fu nd aç ão B ib lio te ca N ac io na l, R io d e Ja ne iro Praça da República durante a Revolta da Vacina. A população tombou bondes e formou barricadas nas ruas, reagindo à violência policial com mais brutalidade. © Ar qu iv o G. E rm ak of f/A ug us to M al ta • Ao lado de um dos marinheiros, João Cândido lê o manifesto da Revolta pelo fim dos castigos corporais 13 Aprofundamento de conteúdo para o professor. 14 Aprofundamento de conteúdo para o professor. Péssimas condições de trabalho e moradia estavam entre os fatores que ocasionaram duas das mais signifi- cativas manifestações urbanas ocorridas durante a Primeira República: a Revolta da Vacina e as greves promo- vidas pelos operários de São Paulo. Podemos ainda citar o Movimento Tenentista e a Semana de Arte Moderna como movimentos sociais urbanos. ERMAKOFF, George. Revolta da Chibata. 26 nov. 1910. 1 fotografia, p&b. Arquivo G. Ermakoff. História 13 Movimento Tenentista (1922-1926) A insatisfação entre os militares de baixa patente (tenentes) com o governo liderado pelos grandes proprietários e, sobretudo, com as fraudes eleitorais deu origem ao Movimento Tenentista. Ele foi deflagrado com a eleição do mineiro Arthur Bernardes, representante da Política do Café com Leite, contra Nilo Peçanha,candidato do grupo chamado de Reação Republicana e apoiado pelos militares. No dia 5 de julho de 1922, jovens oficiais do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, deram início a uma rebelião. Isolados, foram atacados por mar e por terra por tropas do governo. Muitos se renderam, mas alguns tenentes ousa- ram sair do Forte e enfrentar essas tropas. Movimento operário – Greve geral – São Paulo (1917) Desde o fim do século XIX, a industrialização crescia nas principais cidades brasileiras. As fábricas estavam voltadas para a produção de roupas e sapatos, ferro, aço e outras matérias-primas importantes para a própria produção. As condições de trabalho em tais locais eram péssimas: extensas jornadas de trabalho em locais insalubres e insegu- ros, muitas vezes com a participação de crianças. Motivados pela necessidade de melhorar esse quadro, e influenciados pela presença de imigrantes europeus, que ti- nham experiência com as lutas operárias, os trabalhadores organizaram os primeiros sindicatos. Além disso, eles realizaram di- versas greves durante a Primeira República, com destaque para a Greve Geral de 1917. Várias propostas de regulamentação do trabalho foram apresentadas ao Congres- so Nacional. Entretanto, o único benefício aprovado foi a indenização em caso de acidente de trabalho. © Ac er vo Ic on og ra ph ia GREVE de 1917. Enterro do sapateiro Martinez. São Paulo, jul. 1917. O estopim da Greve de 1917 foi o assassinato do sapateiro José Martinez pela polícia de São Paulo. Esse fato causou grande comoção na cidade e reuniu milhares de manifestantes que acompanharam o funeral. © Ab ril S .A ./N os so S éc ul o MOVIMENTO dos 18 do Forte. 1922. 1 fotografia, p&b. • A marcha por Copacabana, em 1922, foi formada por 17 tenen- tes e 1 civil, que aderiu à causa dos revoltosos. Apenas Eduardo Gomes e Siqueira Campos sobre- viveram ao episódio. Este ficou conhecido como a Revolta dos 18 do Forte. 9o. ano – Volume 114 Semana de Arte Moderna – São Paulo (1922) Entre 13 e 17 de setembro de 1922, literatos, pintores, arquitetos, escultores e intelectuais expuseram ao público, no Teatro Municipal de São Paulo, sua concepção de arte renovada. Era a Semana de Arte Moderna. Os envolvidos no movimento artístico criticavam a mera absorção de valores europeus e defendiam a necessidade de se criar uma arte genuinamente brasileira. Entre os participantes, destacou-se a presença de artistas plásticos, como Anita Malfatti e Di Cavalcanti, e de escritores, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade. © Co le çã o Ed ua rd o Co ns ta nt in i, B ue no s A ire s AMARAL, Tarsila do. Abaporu. 1929. 1 óleo sobre tela, color., 85 cm × 73 cm. Coleção Eduardo Constantini, Buenos Aires. Conexões Estudamos que, durante a Primeira República, o descontentamento de parte da população brasileira levou à eclosão de movimentos por melhores condições de vida e de trabalho, por melhorias na administração do país ou pela valorização da cultura nacional. Na atualidade, observamos movimentos similares. Quais são as reivindicações mais comuns dos grupos que exigem mudanças? Os alunos podem destacar o desejo por uma sociedade mais igualitária, pela diminuição da pobreza, pelo fim da corrupção, por uma administração pública mais transparente, pelo fim da violência, pela igualdade de condições em nossa sociedade, etc. Você faz História Em equipe, escolha um dos problemas sociais do Brasil na atualidade e promova um debate sobre a bus- ca de soluções para ele. Registre no caderno o movimento e as soluções propostas pela equipe. Fim da Primeira República A partir de 1920, a Política do Café com Leite deu sinais de esgotamento, pois o governo federal não conse- guia mais manter as compras dos estoques de café. Marcada por uma série de contrastes, a Primeira República se encerrou em 1930. Nesse ano, o presidente da República era o paulista Washington Luís. Seu sucessor, por- tanto, deveria ser um mineiro indicado por ele. Em vez disso, ele indicou o também paulista Júlio Prestes como candidato, rompendo assim com a Política dos Governadores. Essa atitude desencadeou uma crise política no Brasil, que levou Getúlio Vargas à presidência no ano de 1930. Ele rompeu com a Política do Café com Leite e iniciou um novo período político na história do país. A obra, produzida no contexto da Semana de Arte de 1922, tornou-se uma das produções mais expressivas do movimento artístico. História 15 15 Sugestão de encaminhamento da atividade. 16 Sugestão de encaminhamento da atividade. Hora de estudo 1. Complete o esquema sobre a estrutura criada na Primeira República para manter o poder nas mãos dos políticos ligados à Política do Café com Leite. Coronéis garantiam os votos locais . Política dos Governadores garantiam os votos estaduais. Governo federal garantia vantagens aos estados aliados. 2. Sobre o processo eleitoral durante a República do Café com Leite, responda: a) Qual era a função da Comissão Verificadora de Poderes? b) Quem se beneficiava dessa Comissão. Por quê? c) O escritor brasileiro Lima Barreto afirmou que o Brasil não tinha povo, mas público. De acordo com o que você já estudou sobre o estabelecimento da República no Brasil, de que forma a frase de Lima Barreto pode ser interpretada naquele contexto? © Fu nd aç ão O sw al do C ru z, Ri o de Ja ne iro 3. (ENEM) Essa imagem representa as manifestações nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Con- siderando o contexto político-social da época, essa revolta revela: X a) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária. b) a consciência da população pobre sobre a necessida- de de vacinação para a erradicação das epidemias. c) a garantia do processo democrático instaurado com a República, por meio da defesa da liberdade de expressão da população. Charge capa da revista “O Malho”, de 1904. Disponível em: <http://1.bb.blogspot.com>. d) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral. e) o apoio ao governo republicano pela atitude de vacinar toda a população em vez de privilegiar a elite. 4. Em relação à Guerra de Canudos, assinale a alternativa que pode ser relacionada a esse evento. a) Luta contra a expulsão dos camponeses no oeste do Paraná e de Santa Catarina. b) Movimento de descontentamento das oligarquias ao governo dos marechais. X c) Luta dos sertanejos contra o latifúndio e as medidas repressivas do governo. d) Temor dos grandes proprietários da região quanto ao apoio do governo federal ao Arraial de Canudos. 5. Sobre o movimento tenentista, pode-se afirmar que foi resultado: a) do desejo de manter a organização política nas mãos das oligarquias; b) da violência praticada pelo governo federal contra os movimentos populares; c) da convocação dos tenentes para reprimir as revoltas populares; X d) do desejo de alterar a política das oligarquias, tida como corrupta. 16 17 Orientações para resolução das questões e gabarito. Observe as imagens, leia o texto e discuta com os colegas as seguintes questões: • Quais avanços tecnológicos podem justificar a diferença entre as fotografias de 1914 e de 1918 da cidade belga de Ypres? • Os avanços desse tipo de tecnologia acontecem apenas nos períodos de guerra? 2 Grande Guerra © Sh ut te rs to ck /il ol ab © W ik im ed ia C om m on s/ Ce nt ra l N ew s P ho to S er vi ce © Fo to ar en a/ Br id ge m an • Lakenhalle, Ypres, Bélgica, 1914 • Lakenhalle, Ypres, Bélgica, 1917 Os belgas foram os pri- meiros a descobrir o signi- ficado da guerra total. Vi- larejos e pequenas cidades foram bombardeadas pelos zepelins: populações deslo- cadas; mulheres e crianças levadas embora, homens fuzilados, artilharia pesada. Liège, Arras, Ypres, cidades construídas pelo esforçohumano durante quase mil anos, foram arrasadas em dias graças ao poder con- cedido pela ciência e pela tecnologia. MAGNOLI, Demétrio; BARBOSA, Elaine S. Liberdade versus igualdade: o mundo em desordem (1914-1915). Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 26. © Sh ut te rs to ckk /il ol ab © Sh ut te rs to ckk /il ol ab OOsOsOOs bbbelelelgagagaggggg s ss s fofofofofoooooorarararararaar m m m ososososososssoss ppppppppriririririririr ----- memememememememmmemmeemm iririririi ososo aa ddesescocobrbririr ooo sssigigigii nininininin ---- fififififfffifiiicacaccacacac doddodd da guerra totall. ViVii-- lalllalalalaalarerer jjos e pequenas cidaddesesess fofofooorarar m bombardeadas pellososss zezezez pep lins: populações desloloo--- cacacadadas; mulheres e crianççasasas 17 Justificativa da seleção de conteúdos.1 Sugestão de abordagem de atividade. 2 A Europa no início do século XX Desde o final do século XIX, a Europa passava por um intenso processo de enriquecimento e desenvolvi- mento tecnológico. Esse desenvolvimento se deu, principalmente, por causa dos grandes lucros obtidos pelos países europeus com a industrialização e o estabelecimento de colônias em outros continentes. De acordo com o historiador Jaime Brener, em 1914 a Europa foi responsável por 62% das exportações mundiais de produtos industrializados e por 80% de todos os investimentos internos. Todo o lucro dessa intensa atividade financeira reverteu-se no aperfeiçoamento das técnicas industriais exis- tentes, o que resultou na criação de meios de locomoção e comunicação mais rápidos, gerando, assim, uma verdadeira revolução nos costumes. • Entender o contexto europeu que favoreceu a deflagração da Grande Guerra. • Descrever as fases da guerra e a maneira como esta se desenvolveu em duas frentes. • Destacar as mudanças tecnológicas ocorridas durante o conflito. • Explicar o papel da Rússia e dos Estados Unidos no desenrolar do conflito a partir de 1917. • Sintetizar o que foi o Tratado de Versalhes e seu impacto sobre a Alemanha. • Indicar as mudanças sociais e geopolíticas ocorridas na Europa com o fim da Grande Guerra. Objetivos O Imperialismo que marcou o final do século XIX e o início do século XX teve consequências negativas para os continentes africano e asiático, principais alvos do interesse europeu, mas também para a Europa. O acirramento da disputa por esses territórios entre as grandes potências foi responsável pela instalação de um crescente clima de tensão entre eles. Esse clima culminou, em 1914, com o irrompimento de um conflito, cujas dimensões, até então, não podiam sequer ser imaginadas pelas pessoas que viviam aquele período. Tal conflito, que ficou conhecido como a “Grande Guerra”, é o conteúdo que você vai estudar neste capítulo. Organize as ideias 1. A respeito do Imperialismo, leia as afirmativas a seguir e classifique-as em verdadeiras (V) ou falsas (F). ( F ) Foi promovido pelos países europeus para levar o progresso e a civilidade aos povos africanos e asiáticos. ( F ) Inglaterra e França foram os únicos países a promover a expansão colonial em direção à África e à Ásia. ( V ) Os povos colonizados não tinham armamento ou conhecimento tático suficiente para evitar o avanço colonizador, sendo facilmente derrotados. ( F ) Os grupos colonizados apoiaram a ação imperialista, uma vez que foram consultados sobre a divi- são territorial feita pelos colonizadores em suas terras. ( V ) A ação imperialista foi marcada pela justificativa da superioridade do homem branco sobre as de- mais populações mundiais. 2. Estabeleça a relação entre o Imperialismo e a Revolução Industrial. A Revolução Industrial levou os países europeus a necessitar de matérias-primas em maior quantidade e do aumento do mercado consumidor. Essas necessidades fizeram com que os países industrializados europeus buscassem colônias na África, no sul da Ásia e na Oceania. 9o. ano – Volume 118 4 Sugestão de abordagem de conteúdo. 3 Sugestão de retomada de conteúdos anteriormente estudados. © W ik im ed ia C om m on s/ Fo tó gr af o de sc on he ci do Entretanto, enquanto as indústrias, a literatura e as artes presenciavam um momento de ouro, as disputas territoriais entre os países europeus geravam clima de tensão e rivalidade. Exemplo dessas disputas foi o que se deu com as pretensões de três grandes impérios – Otomano, Austro-Húngaro e Russo – de se apossar de terras na Península Balcânica. Assim, os primeiros conflitos tiveram início na Europa na década de 1910. As disputas entre os países europeus aumentaram o sentimento nacionalista. Podemos citar o pangermanismo (união de todos os povos de origem germânica) e o pan-eslavismo (união dos povos de origem eslava). © Bi bl io te ca d o Co ng re ss so d os E st ad os U ni do s O PALÁCIO das Águas, Paris. Exposição Universal. 1910. 1 fotografia, color. Biblioteca do Congresso, Washington, D.C. Grandes eventos, como a Exposição Universal que ocorreu na França em 1900, celebravam esse período de ouro para a Europa, que ficou conhecido como La Belle Époque. Nessa exposição, foi apresentada grande parte da tecnologia criada na Europa nas últimas décadas do século XIX, entre as quais se destacou o aperfeiçoamento da energia elétrica, que passou a ser utilizada também na iluminação de ambientes externos. Era um período de grande otimismo e prosperidade para os europeus. A Europa “vestia-se com o manto da civilidade”, projetando o exemplo de civilidade a ser alcançado por ou- tras sociedades. Muitas delas, como a do Brasil na Primeira República, aceitaram o modelo a ser seguido. Observe a imagem ao lado e assinale a alternativa que apresenta a relação entre a caricatura e a Grande Guerra: a) A caricatura apresenta os aliados da Inglaterra durante a Guerra Mundial. X b) Estão representados os governantes da Áustria-Hungria, da Rússia e da Turquia disputando as terras da Península Balcânica. c) Estão representados os governantes dos paí- ses que formaram a Tríplice Entente. d) A caricatura representa as divisões das terras da Península Balcânica após a Grande Guerra. e) As disputas entre italianos e alemães pelas colônias africanas estão representadas na imagem. O DESPERTAR da questão do Oriente. 1 ilustração. Le Petit Journal, n. 935, 18 out. 1908. História 19 Interpretando documentos Aprofundamento de conteúdo para o professor.5 Política das Alianças Nesse período, os países europeus organizaram-se em alianças militares, reforçando a ideia da paz armada. As alianças político-militares surgiram muito antes de o conflito ter início em 1914. Na verdade, as alianças que atuaram durante a Grande Guerra eram reflexos da corrida imperialista e das guerras das últimas décadas do século XIX, como a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). França e Alemanha desejavam a reparação pelos males sofridos durante esse conflito. A Inglaterra, mesmo protegida pelo fato de ser uma ilha, temia os avanços de Estados como a Alemanha e a Turquia sobre as suas colônias. Geralmente, as alianças previam a cooperação financeira e militar entre países aliados, em eventuais ataques de seus inimigos comuns. Os acordos de aliança previam que, caso algum dos países do grupo fosse invadido, os demais declarariam guerra ao invasor. Por essas alianças, era possível prever que, na hipótese de haver um conflito entre dois países, muitas nações seriam envolvidas. Ou seja, a perspectiva de um conflito mundial era bastante previsível. Alianças militares em 1914 Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 145. Adaptação. M ar ilu d e So uz a • Tríplice Aliança: o chanceler alemão Bismarck formou em 1872 uma aliança entre a Alemanha e a Áustria-Hungria. A Itália aderiu a ela em 1892. Esses Estados desejavam ampliação territorial. • Tríplice Entente: ao ver a movimentação dos alemães, a França buscou alianças com outras nações. Em 1892-1893, assinou o Tratado de Aliança Franco-Russo. Em 1904, formou a Entente Cordiale com a Inglaterra. Em 1907, a Inglaterra e a Rússia assinaram um tratado de aliança em caso de guerra. Estava formada a Tríplice Entente: Inglaterra, França e Rússia. 9o. ano – Volume 120 6 Sugestão de abordagem de conteúdo. O início do conflito O cenário para uma guerra na Europa já esta- va montado, bastando apenas um fato para dar início ao conflito armado. E o fato que desenca- deou todo o processo ocorreu no dia 28 de ju- nho de 1914. Nesse dia, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, foi as- sassinado na cidade de Sarajevo, na Bósnia, pelo estudante sérvio Gavrilo Princip. Esse estudante pertencia a um grupo chamado Mão Negra, que defendia o nacionalismo sérvio contra os interes- ses da Áustria na região. O governo da Áustria-Hungria declarou guer- ra à Sérvia e, de acordo com o sistema de alianças, Alemanha e Itália também declararam guerra aos sérvios. A Rússia, em defesa dos sérvios, decla- rou guerra aos integrantes da Tríplice Aliança, o que fez com que a França também entrasse no conflito. A Alemanha determinou a ocupação da Bélgica, que havia declarado neutralidade. Por essa razão, a Inglaterra declarou guerra à Tríplice Aliança. Como a maioria dos países europeus eram potências imperialistas, várias de suas colônias foram envolvidas no conflito de alguma for- ma, tornando-o mundial. Assim, teve início a Grande Guerra. © W ik im ed ia C om m on s/ Ac hi lle B el tra m e BELTRAME, Achile. O assassinato em Sarajevo do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria, e de sua esposa. La Domenica del Corriere, ano XVI, n. 27, 5 a 12 jul. 1914. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e de sua esposa Sofia em Sarajevo foi o estopim da Grande Guerra. Esse assassinato estava relacionado com as questões étnicas e os conflitos ocorridos nos Bálcãs. A Belle Époque terminou subitamente no 28 de junho de 1914, dia do assassinato de Francis- co Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo jovem sérvio Gavrilo Princip. Aquele ato de terror perpetrado em Sarajevo, nos turbulentos mas periféricos Bálcãs, empurrou as potên- cias para a guerra geral que ninguém desejava. HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 22. A Grande Guerra envolveu diversos Estados europeus, exceto a Espanha, os Países Baixos, a Escandinávia e a Suíça. Soldados indianos, canadenses, chineses, africanos e estadunidenses foram lutar no território europeu. O palco da guerra foi a Europa, o Oriente Médio, o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico. Podemos dizer, sem exageros, que a guerra iniciada em 1914 mudou para sempre a história mundial. Por essa razão, o historiador inglês Eric Hobsbawm considerou tal evento como o início do século XX. Nada foi igual após a eclosão desse conflito. A Grande Guerra (1914-1918) foi posteriormen- te chamada de Primeira Guerra Mundial, por causa da eclosão de um segundo conflito mun- dial, em 1939. Porém, na época, ela era chamada apenas de Grande Guerra, a maior de todas as outras, denominação aqui adotada. História 21 Interpretando documentos Carta escrita por um estudante alemão em 1914. “Viva!”, escreveu para casa um estudante de direito, que seria fatalmente ferido um mês e meio depois no Marne, “recebi finalmente as minhas ordens para me apresentar na frente de batalha... Venceremos! Com tão poderosa determinação de sermos vitoriosos, absolutamente nenhuma outra alternativa é possível. Meus queridos, orgulhai-vos de viver nestes dias e de per- tencer a um tal povo, e também para que possam enviar mais de vossos entes amados e participar desta soberba luta!” ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 169. Depoimento do estudante francês Robert Poustis no início da Grande Guerra. Quando criança, na escola ou no seio da família, falava-se com frequência sobre as províncias perdidas – Alsácia-Lorena – que haviam sido tomadas à França após a guerra de 1870. Quería- mos recuperá-las. Na escola, essas províncias eram assinaladas com uma cor especial em todos os mapas, como se estivéssemos de luto por havê-las perdido. Quando ingressei na universidade, testemunhei no meio acadêmico também esse grande sentimento de perda. Em nossas conversas, costumávamos dizer que talvez a guerra fosse iminente. Mais cedo ou mais tarde ela eclodiria, di- zíamos, mas nós, os jovens da época, queríamos muito recuperar as províncias. Assim, nos primeiros dias de mobilização militar, houve muito entusiasmo. [...] A guerra, pen- sávamos, duraria no máximo dois meses ou talvez uns três. ARTHUR, Max. Vozes esquecidas da Primeira Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército/Bertrand Brasil, 2014. p. 23-24. Com base na leitura dos trechos, faça o que se pede. 1. Conforme o trecho da primeira carta, os alemães... X a) ... consideravam a guerra como um acontecimento grandioso e de exaltação da pátria. b) ... tinham a percepção da derrota eminente e buscavam apoiar o Kaiser (imperador alemão). c) ... tinham um nacionalismo exacerbado, o que obrigou os governantes a deflagrar um conflito que poderia ter sido resolvido pelas vias diplomáticas. d) ... apoiavam a guerra por desconhecer, há mais de um século, a tragédia de um conflito bélico. 2. A análise do segundo texto nos permite concluir que: X a) existia entre os franceses um sentimento de revanche contra os alemães pela perda de territórios, após a derrota na guerra de 1870. b) o sentimento de revanche entre os países europeus estava presente entre seus líderes e autoridades, mas não era partilhado pela população. c) os franceses temiam que os alemães deflagrassem um conflito contra a França para recuperar o terri- tório da Alsácia-Lorena, perdido na Guerra Franco-Prussiana. 3. Os depoimentos do estudante alemão e do francês têm alguma semelhança. Qual? Os dois acreditavam na vitória eminente de seus países. 9o. ano – Volume 122 Sugestão de abordagem da atividade. 7 Fases da guerra Declarada a guerra, os dois lados consideravam que ela seria rápida e que a vitória era certa. Os governantes que foram os incentivadores do confronto armado acreditavam que a guerra duraria no máximo seis meses e que resolveria todos os problemas políticos da Europa. Ela durou 4 anos e meio, não resolveu os problemas políticos e contribuiu para acirrá-los. A guerra desenvolveu-se em duas frentes, também chamadas fronts. Na frente ocidental, os primeiros em- bates entre alemães e franceses ocorreram em território belga. Com as tropas francesas derrotadas, os alemães invadiram o território da França, mas foram contidos pelo Exército francês. Essa fase de avanço dos exércitos para a tomada de posição frente ao inimigo foi chamada de Guerra de Movimentos e teve cerca de um ano e meio de duração. A guerra se desenvolveu também na frente oriental com o avanço dos alemães sobre o território russo. A en- trada da Rússia na guerra forçou a Alemanha a dividir seus exércitos, armamentos e munições em duas frentes de combate, o que se mostrou uma vantagem para a França e a Inglaterra. Com o estabelecimento dos exércitos nas fronteiras dos países, teve início a segunda fase da guerra, carac- terizada pela construção de trincheiras ao longo das linhas de combate. Essa fase recebeu a denominação de Guerra de Trincheira ou Guerra de Posição (1915-1918). FRENTE Ocidental. Soldados alemães em marcha. Setembro de 1914. 1 fotografia, p&b. Os alemães tinham traçado uma estratégia de guerra, chamada Plano Schlieffen, desde 1906, que consistia em duas frentes: no Ocidente, invadir a Bélgica para cercar Paris; no Oriente, invadir a Rússia. © Fo to ar en a/ In te rfo to Os avanços tecnológicos nos armamentos, como os canhões, que agorapermitiam maior mobilidade e pre- cisão nos disparos à distância, tornaram o confronto defensivo, com os exércitos protegendo suas posições. O avanço em campo aberto, como ocorrera nas guerras travadas durante o século XIX, não era mais possível pelo poder de fogo dos exércitos, que causava grandes baixas. A fim de não perder o total domínio sobre o território conquistado e abrigar os soldados do poder de fogo ini- migo e do inverno, os dois lados cavaram grandes valas na terra. Essas valas, denominadas trincheiras, ocuparam as fronteiras entre a Bélgica, a Alemanha e a França. Os exércitos da Tríplice Entente e da Tríplice Aliança pouco avan- çavam e a guerra tornou-se estática e morosa, estendendo-se muito mais do que o esperado inicialmente. Esse tipo de confronto já havia sido experimentado durante a Guerra de Secessão (1861-1865) entre yankees e confede- rados. Porém, durante a Grande Guerra esse tipo de estratégia de confronto foi ampliada e consumiu muitas vidas. História 23 Aprofundamento de conteúdo para o professor. 8 A vida nas trincheiras Observe a imagem a seguir e leia os textos para saber mais sobre as trincheiras usadas durante a Grande Guerra. © W ik im ed ia C om m on s/ Er ne st B ro ok s As condições dos soldados nas trincheiras eram precárias, e os prejuízos psicológicos causados aos soldados entrincheirados, imensuráveis. Leia, a seguir, o testemunho de um soldado que viveu essa experiência. Cada soldado fica vivo apenas por mil acasos. Mas todo soldado acredita e confia no acaso. Temos de vigiar nosso pão. Os ratos têm-se multiplicado muito ultimamente, desde que as trin- cheiras deixaram de ser conservadas. [...] Os ratos aqui são particularmente repugnantes, pelo seu grande tamanho. É o tipo que se chama “ratazana de cadáver”. Têm caras horríveis, malévo- las e peladas. Só de ver seus rabos compridos e desnudos nos dá vontade de vomitar. Parecem muito esfomeados. Já roeram o pão de quase todos. Kropp mete o dele embaixo da cabeça, bem embrulhado num pedaço de lona, mas, mesmo assim, não consegue dormir, porque eles correm por sobre o seu rosto para alcançar o pão. Detering quis ser mais esperto: amarrou um arame fino no teto e pendurou nele o seu pedaço de pão. Durante a noite, quando acendeu a lanterna, viu o arame oscilar de um lado para o outro. Montada no pão, balançava-se uma gorda ratazana. Até que, finalmente, tomamos uma decisão. Cortamos, cuidadosamente, a parte do pão roída pelos animais; não podemos nos dar ao luxo de jogar fora o pão, porque, neste caso, amanhã nada teríamos para comer. REMARQUE, Erich M. Nada de novo no front. Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 54-55. 1. As trincheiras, inicialmente valas cavadas às pressas, com o passar do tempo receberam a proteção do arame farpado e dos sacos de areia. 2. A vida nas trincheiras era bastante difícil, uma vez que os soldados podiam ficar ali por meses em meio à lama. Não havia as mínimas condições de higiene, e ratos e piolhos eram companhia constante dos combatentes. Muitas vezes, era impossível enterrar os soldados mortos, e eles permaneciam nas trincheiras ou nos seus arredores, infectando os vivos. 4. As trincheiras eram formadas uma diante da outra. Porém, uma faixa de terra no meio delas garantia a distância entre as tropas inimigas. Essa faixa de terra era conhecida como “terra de ninguém”. 3. As trincheiras chegaram a mais de 2 m de profundidade e 2 m de largura. Elas eram organizadas como labirintos, com diferentes frentes. Caso a primeira delas fosse tomada pelo inimigo, havia outras linhas de resistência para onde os soldados podiam recuar. 5. Os soldados ficavam com as botas constantemente úmidas, o que fez com que muitos fossem infectados por fungos e parasitas. Casos de gangrena, conhecida como pé de trincheira, levavam a amputações e mortes. 9o. ano – Volume 124 Sugestão de atividades. 9 © W ik im ed ia C om m on s/ Im pe ria l W ar M us eu m s Tecnologia de guerra A Grande Guerra foi um conflito de in- tensas transformações. O próprio modo de guerrear mudou ao longo da ocorrência do conflito, que contava com a presença de ca- valos e espadas em seu início. Em 1914, os exércitos entraram na guer- ra com vestuário semelhante aos usados na Guerra Franco-Prussiana (1871). Em virtude dos avanços tecnológicos, os armamentos, contudo, eram muito mais mortais, o que provocou mudanças: no início da guerra, os franceses usavam gorros de pano, os belgas, cartolas, e os alemães, capacetes de couro. Logo, os dois exércitos passaram a usar capacetes de aço, que lhes conferiam maior proteção contra a explosão de bom- bas e de granadas. BATALHA das fronteiras. 1914. 1 fotografia, p&b. Museu Imperial da Guerra, Londres. Soldados belgas utilizando cachorros para o transporte das armas. Interpretando documentos As estradas de ferro possibilitaram transportar milhões de soldados para o campo de batalha em poucos dias e foram de igual importância na solução de problemas nas trincheiras, pois permitiam enviar tropas de reforço à linha de frentes onde os inimigos ameaçavam atacar. A comunicação sem fio permitiu aos generais e aos comandantes de divisão coordenar o movimento de dezenas, centenas ou milhões de tropas em áreas enormes [...]. Novas técnicas de preservação de alimentos e a produção de comida enlatada possibilitaram alimentar um grande contingente de recrutas por longos períodos de tempo, e a produção em massa propiciou que eles fossem supridos regularmen- te com capacetes, uniformes, botas e pás para cavar trincheiras – carregadas (ameaçadoramente) pelos combatentes de cada uma das grandes potências para o campo de batalha no início da guerra. Quando as manobras diminuíram de intensidade depois que o grande projeto de Schieffen de des- truir o exército francês foi frustrado em Marne, o arame farpado – que os estadunidenses haviam inventado para fazer cercas para as pastagens de gado –, o concreto e o aço que os alemães usavam com muita engenhosidade combinaram-se para construir fortificações maciças que dominaram a guerra no Ocidente até 1918. HOFFMAN, Paul. Asas da loucura: a extraordinária vida de Santos Dumont. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. p. 255-256. Após a leitura do texto, no caderno, faça o que se pede a seguir. 1. Cite algumas das principais tecnologias utilizadas na Grande Guerra. 2. Geralmente, quando falamos em tecnologia, pensamos em uma série de criações cujo objetivo é facilitar a vida das pessoas. Como o texto contradiz essa ideia? Em 1915, o físico inglês Michael Adas observou com tristeza que a Grande Guerra era “uma guerra de en- genheiros e químicos, tanto quanto de soldados” – um enfoque abordado em seu clássico trabalho Machines as the measure of men. Sobre a tecnologia na guerra, leia este texto do jornalista estadunidense Paul Hoffman. História 25 Gabarito. 10 Rapidamente, as novidades mencionadas no texto de Paul Hoffmann foram introduzidas na guerra, além da metralhadora, utilizada em 1916. O tanque (na época chamado de carro de assalto) foi criado pelos ingle- ses para romper o arame farpado das trincheiras. O avião – cuja invenção é atribuída aos irmãos Wright, embora os brasileiros a creditem a Santos Dumont – também se transformou em instrumento de guerra. © Ll oy ds B an k e Na tio na l P ro vi nc ia l B an k, Pa ris CARTAZ de propaganda de um carro de assalto inglês. 1918. 1 cartaz colorido, 112 cm × 81 cm. Lloyds Bank e National Provincial Bank, Paris. © W ik im ed ia C om m on s/ Jo hn W ar w ic k Br oo ke BATALHA do Somme. 1916. 1 fotografia, p&b. Museu Imperial da Guerra, Londres. • Soldado com máscara de- senvolvida para proteger os combatentes dos ata- ques por gases químicos O difícil era entender o emprego de armas voltadas para a produção não apenas da morte, mas, sobretudo, do terror, como as armas químicas, utilizadas desde o início pelos alemães, ainda em solo belga, e depois copiadaspelas forças da Entente: brometo xílico (gás lacrimejante), cloro (mata por afogamento), mostarda (queima as paredes do pulmão e faz vomitá-las), fosgênio (quei- ma profundamente a pele). A deformação por queimaduras, a agonia da morte lenta e dolorosa, os relatos dramáticos causaram uma repulsa tão grande que o primeiro acordo internacional assinado depois da Grande Guerra foi exatamente o que baniu o uso de armas químicas, em 1925. MAGNOLI, Demétrio; BARBOSA, Elaine S. Liberdade versus igualdade: o mundo em desordem (1914-1945). Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 27. Ao mesmo tempo, também ocorriam conflitos no mar, que interferiram nos rumos da guerra. Utilizando-se de novas tecnologias, como os submarinos, os alemães iniciaram uma série de ofensivas contra navios – para eles, todo navio encontrado em território inimigo deveria ser afundado, não interessando a que nação perten- cesse. Dessa forma, pretendiam cortar todo o abastecimento estrangeiro a seus inimigos, impondo a eles a fome e a escassez. Em um desses ataques, ocorrido em 1917, os alemães afundaram um navio estadunidense, que transportava mercadorias e passageiros para a Inglaterra. Os Estados Unidos, até então neutros no conflito, reagiram ao ataque e declararam guerra à Alemanha. Contudo, nada teve um efeito mais letal do que o uso de armas químicas desenvolvidas pelos ale- mães, como o gás mostarda. Ini- cialmente utilizado pela Alemanha, esse gás depois foi empregado por outros exércitos. Sobre o assunto, observe e analise os documentos a seguir. 9o. ano – Volume 126 © W ik im ed ia C om m on s/ Sg t. A. M ar ci on i No dia 3 de abril de 1917, um navio brasileiro foi afundado no Canal da Mancha. Atribui-se o afundamento a um submarino alemão. O presidente Wenceslau Braz declarou o rompimento de relações com a Alemanha e manifestou seu apoio aos Estados que haviam declarado guerra à Tríplice Aliança. Com o afundamento de outros navios brasileiros, o Congresso anunciou que o Brasil estava em estado de guerra. Por meio de uma cam- panha popular, liderada pelo poeta e jornalista Olavo Bilac, foi instituído o serviço militar obrigatório no país. Além de oferecer seus portos para as frotas de França, Inglaterra e Estados Unidos e enviar uma junta mé- dica, uma divisão naval aportou em Gibraltar em novembro de 1918, mas a Grande Guerra já havia encerrado. Anos finais da guerra: 1917 e 1918 Em 1917, a Rússia se retirou do conflito, após a assinatura do Tratado de Brest-Litovski, cedendo parte de seus territórios à Alemanha. Então, o exército alemão pôde voltar suas forças para a frente ocidental, a fim de tomar a França, país que, assim como a Inglaterra, já estava quase sem recursos para continuar na guerra. A vitória alemã, que parecia iminente, foi frustrada pela entrada dos Estados Unidos no conflito. Quando os Estados Unidos, que temiam, tal como a Grã- -Bretanha, um continente dominado pela Alemanha, entraram na guerra, as probabilidades de vitória da Alemanha desapa- receram redonda e completamente. O inconcebível tornou-se um fato. A Alemanha exauriu sua energia e foi derrotada. ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 169. Desde o fim do século XIX, os Estados Unidos investiam pesado em seu desenvolvimento industrial. A eclosão da guerra na Europa represen- tou para os estadunidenses a possibilidade de ampliar seus mercados, fornecendo produtos para Inglaterra, França e Rússia. Assim, alimentos, medicamentos, tecidos e armas produzidos nos Estados Unidos eram comprados pelos países em guerra. Entre março e agosto de 1918, desembarcou na Europa cerca de 1 mi- lhão de soldados estadunidenses. Eles chegaram ao front descansados, bem armados e treinados, desequilibrando o conflito a favor da Entente. Nesse contexto, a situação mudou, e a Alemanha, sofrendo derrotas sucessivas, em 11 de novembro de 1918 se rendeu, pondo um fim defi- nitivo à Grande Guerra. Calcula-se em 10 milhões o número de mortos, em sua maioria homens com idade entre 19 e 40 anos. © Bi bl io te ca d o Co ng re ss so d os E st ad os U ni do s FLAGG, James. I want you for U.S. Army. 1917. 1 cartaz. Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. O cartaz que havia sido criado para a Guerra de Secessão foi também utilizado na convocação de jovens estadunidenses para o alistamento em 1917. Ele traz o personagem Tio Sam apontando para o observador com a frase: “Eu necessito de você nas forças armadas”. A denominação Tio Sam apresenta inúmeras versões, porém, a mais habitual é a de que os soldados yankees, durante a Guerra da Secessão, recebiam como parte integrante de sua ração alimentar latas de carne com as iniciais U. S., de United States. Tais iniciais foram interpretadas como Uncle Sam (Tio Sam). MARCIONI, Sgto A. Soldados estadunidenses no front de Piave. 1918. 1 fotografia, p&b. Forças Armadas dos EUA. • Soldados estadunidenses lançando gra- nadas de mão nas trincheiras austríacas História 27 Os acordos de paz e as mudanças na ordem mundial O fim da Grande Guerra despertou uma postura bastante severa dos países vencedores sobre os países derrotados, em especial em relação à Alemanha. Isso porque oficialmente, por meio do Tratado de Versalhes, assinado em 1919, ela foi considerada responsável pelo conflito. Por esse tratado, os países vencedores deter- minaram pesadas penalidades à Alemanha. O país perdeu seus territórios coloniais além-mar, agora divididos entre França, Inglaterra, Japão e África do Sul, além de territórios na própria Europa (como a Alsácia-Lorena). Os alemães também viram sua força militar ser reduzida – não podiam ter efetivo militar superior a 100 mil ho- mens. Ademais, foram obrigados a pagar pesadas indenizações aos países vencedores (tal dívida foi totalmente quitada apenas no século XXI). A intenção do Tratado de Versalhes era desarticular as forças alemãs de todas as maneiras para evitar a ocorrência de um novo conflito mundial. As medidas, ao contrário do que se esperava, foram vistas como hu- milhantes e serviram para acirrar ainda mais os alemães em um frágil contexto europeu, levando a catastróficas consequências nos anos seguintes. A Itália, embora considerada vencedora, não ficou satisfeita com os territórios que recebeu como compen- sação por sua participação no conflito. Os Estados Unidos também foram beneficiados com os acordos de paz. O Império Otomano perdeu diversas províncias. O Império Austro-Húngaro deu lugar a dois países distintos: Áustria e Hungria. Europa – 1918 Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 146-147. Adaptação. M ar ilu d e So uz a Outra grande preocupação do contexto pós-guerra era garantir a paz mundial. Para isso, foi criada a Liga das Nações, órgão que tinha como objetivo mediar as relações entre os países de forma diplomática. O poder econômico e político do mundo gradativamente se deslocava da Inglaterra (e da Europa, de maneira geral), agora focada em sua reestruturação, para os Estados Unidos. Isso se explica porque este país não teve o ter- ritório diretamente atingido pela destruição provocada pela guerra e dispunha de uma crescente industrialização. 9o. ano – Volume 128 Sugestão de atividades. 11 Sugestão de abordagem de conteúdo. 12 Sugestão de abordagem do conteúdo.13 Um novo mundo após 1918 Como vimos, é comum que historiadores afirmem que o mundo não era mais o mesmo após o fim da Grande Guerra. Para entender tais mudanças e as dificuldades pelas quais passou a população europeia com o fim do conflito, vale ler o texto a seguir. A Europa se alegrava com a paz, mas esta era diferente da que havia antes de 1914. A guerra ti- nha desfeito as ligações de comércio, destruído mi- lhares de vilarejos rurais, devastado extensas áreas de pasto e plantações, matado milhões de cabeças de gado,avariado centenas de ferrovias e pontes e afundado mais navios cargueiros do que existiam no mundo em 1900. [...] Em 1919, o leite era tão escasso nas cidades que crianças pequenas morriam e a alimentação da maior parte das pessoas não con- tinha gordura. Em muitos distritos, não se semea- va. No primeiro inverno pós-guerra, muitas pessoas não possuíam botas nem sapatos e não conseguiam comprar carvão para seus fogões, uma vez que pou- co transporte era feito nas ferrovias danificadas. BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2010. p. 73. © Ge tty Im ag es /G am m a- Ke ys to ne DISTRIBUIÇÃO de sopa de galinha em Berlim. 1922. 1 fotografia, p&b. A Alemanha foi um dos países que mais sofreu com o fim da Grande Guerra, enfrentando severa crise. Ocorreu o endurecimento das condições de vida. O fim da guerra não significou de imediato a volta da normalidade e era preciso lidar com consequências das mais diversas ordens. Outra mudança sentida foi o início da emancipação feminina, por meio da inclusão de mulheres no merca- do de trabalho. Com amplo deslocamento de homens para os campos de batalha, diversas mulheres ocuparam novos postos em fábricas e atuaram ainda nas indústrias de armamentos, além de atuar na própria guerra. Com o grande número de mortos e feridos, a guerra deixou 630 mil viúvas só na França. Mesmo após o fim do conflito, muitas mulheres se mantiveram no trabalho nas fábricas, chefiando famílias e tornando-se assim inde- pendentes. O movimento feminista, que buscava a emancipação feminina, foi, portanto, significativamente for- talecido. Com ele, tomou força também o movimento sufragista, que reivindicava a extensão do direito de voto às mulheres. Aos poucos, elas foram conseguindo vitórias em vários países, como Alemanha, Suécia e Polônia. © Bi bl io te ca N ac io na l d e Po rtu ga l © Bi bl io te ca d o Co ng re ss so d os E st ad os U ni do s CAPON, Geo. Mulheres nos tempos de guerra. 1918. 1 pôster, color., 80 cm × 119,5 cm. Paris: American Committee for Devastated France. • Esse cartaz mostra as mulheres francesas em tempos de guerra – além de cuidar das crianças, elas também assumiram postos de trabalho na in- dústria e no campo. O QUE você pode fazer? Junte-se a nós da Cruz Vermelha. 1919. 1 cartaz, color., 108 cm × 72 cm. s.l.: American Red Cross. O número de mulheres que participaram de modo direto de combates durante a guerra foi pequeno (a Rússia formou um batalhão feminino que participou de um confronto contra os austríacos). Contudo, era comum a presença delas nos locais de combate, atuando, principalmente, como enfermeiras. O cartaz convoca as mulheres a se juntarem à Cruz Vermelha. História 29 3030 Hora de estudo © W ik im ed ia C om m on s/ Ed w ar d A. “D oc ” R og er s Outras histórias A gripe espanhola No ano de 1917, uma pandemia se espalhou pelo mundo, atingindo 28 países e matando cerca de 20 mi- lhões de pessoas. Sua origem provável se deu na América ou na Ásia, mas se alastrou facilmente entre os solda- dos em guerra. Foi a imprensa espanhola que noticiou pela primeira vez a pandemia, pois, como a Espanha não estava em guerra, não havia censura para a circu- lação de informações. Por isso, a gripe foi chamada de “espanhola”. Para as nações em guerra, não interessava divulgar a notícia de que muitos de seus combatentes estavam morrendo por causa de um vírus, pois esse tipo de informação poderia provocar o pânico entre os soldados. Ao fim da Grande Guerra, os soldados retornaram para casa levando o vírus aos seus países de origem. Assim, a gripe se alastrou pelo mundo. Ela foi respon- sável pela morte de metade da população esquimó da América do Norte e de cinco milhões de hindus. No Brasil, a gripe chegou em 1918 e ocasionou a mor- te de cerca de 17 mil pessoas, entre elas Rodrigues Alves, eleito presidente, mas que faleceu antes de as- sumir o cargo. ROGERS, Edward A. Auditório municipal de Oakland sendo usado como hospital temporário. 1918. 1 fotografia, p&b. Oakland Public Library, Oakland. A gripe espanhola atingiu cerca de ¼ da população mundial. 1. A Política de Alianças e a Paz Armada foram consideradas duas causas que levaram à eclosão da Grande Guerra. Elabore um conceito para as duas expressões. Política de Alianças: Foi uma aliança de países que previa a cooperação financeira e militar entre eles. Assim, foram formadas a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança. Paz Armada: Foi o período anterior à Grande Guerra, em que os Estados europeus, embora oficialmente em paz, buscaram se armar e se fortalecer militarmente para um possível conflito. 2. Inicialmente, as nações que se envolveram na Grande Guerra acreditavam que o conflito seria de curta duração e cada lado presumia que a vitória seria certa. Essa situação não se efetivou. Explique por qual razão, a partir do fim de 1915, a Grande Guerra se tornou mais defensiva do que ofensiva. Em decorrência do grande avanço tecnológico na área bélica, as armas se tornaram mais mortíferas. Uma guerra ofensiva, diante do poder bélico, resultaria em um número muito amplo de baixas dos dois lados. Aprofundamento de conteúdo para o professor. 14 No início, os pilotos faziam missões de reconhecimento nos aviões de um ou dois lugares desarmados. Na verdade, os pilotos alemães e franceses se saudavam quando se cruzavam no ar. Nos primeiros dias da guerra, no entanto, um piloto – não se sabe ao certo a quem atribuir essa atitude indigna – levou consigo uma pistola ou um rifle e atirou em outro avião. Logo, todos os aviadores carregavam armas automá- ticas e uma competição tecnológica resultou em equipamentos ainda mais letais. O propulsor constituía um problema, pois o piloto ao atirar poderia destruir seu próprio aparelho. Roland Garros, um audacioso piloto francês que se tornara aviador militar, solucionou o problema colocando placas de aço nas lâminas de seu propulsor de madeira. Quando ele disparava com uma metralhadora em direção à hélice, as placas desviavam as balas, mas permitiam a passagem de uma quanti- dade suficiente para abater aviões alemães. A solução simples de Garros não permaneceu em segredo por muito tempo. Em 18 de abril de 1915, uma falha do motor forçou sua aterrissagem dentro das linhas inimigas. Os alemães o capturaram e enquanto lhe deram vinho, cerveja, carne grelhada e doces, os engenheiros descobriram sua invenção. HOFFMAN, Paul. Asas da loucura: a extraordinária vida de Santos Dumont. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. p. 267. 3. O ano de 1917 trouxe consequências para o desdobramento do conflito mundial, contribuindo para o seu fim. Nesse ano: a) A Alemanha se utilizou, pela primeira vez, de armas químicas, o que lhe custou punições imediatas. b) Foram assinados acordos de paz entre as principais nações envolvidas no conflito. c) A Rússia declarou guerra à Alemanha, desequilibrando o conflito a favor da Entente. X d) Os russos assinaram o Tratado de Brest-Litovski, retirando-se do conflito, e os Estados Unidos decla- raram guerra à Alemanha. e) Teve início a fase da Guerra de Trincheiras, pois os exércitos oponentes não conseguiam mais promo- ver avanços de território. 4. Leia o texto a seguir, sobre a atuação da aviação na Grande Guerra. Após a análise do texto, analise as afirmativas a seguir. I. As táticas de guerra foram sendo modificadas com o desenvolvimento de novas tecnologias. II. Muitas invenções que tinham caráter pacífico foram utilizadas como armas de guerra. Podemos citar como exemplo o avião. III. As invenções produzidas por determinados países não foram utilizadas pelos demais em virtude da grande política de segredo que cercava as novidades tecnológicas. De acordo com a análise das afirmativas acima, assinale a alternativa correta: a) Todas as afirmativas estão certas. b) Todas as afirmativas estão erradas. X c) As afirmativas I e II estão certas.
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