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Anestesia de Equinos com Cólica (Resumo)

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Anestesia de Equinos com Cólica 
LUMB & JONES 
Anestesiologia e Analgesia em Veterinária - 5ª ed. 
 
 
Introdução 
 
A cólica tem sido definida como a ocorrência abdominal aguda localizada em um 
órgão oco e, com frequência, causada por espasmo, obstrução ou torção. Embora a dor 
abdominal possa ter outras etiologias, a cólica em equinos refere-se, com mais 
frequência, à dor abdominal com origem gastrintestinal (GI). 
 
 
Taxas de sobrevida 
A cólica relacionada com a doença GI constitui uma das causas mais 
significativas de morbidade e mortalidade em equinos. Os progressos para um aumento 
nas taxas de sobrevida podem ser atribuídos a mudanças no tratamento clínico, cirúrgico 
e com anestésicos. Por exemplo, foi constatado que equinos com duodeno-jejunite 
proximal, por exemplo, apresentam maior taxa de sobrevida após tratamento clínico do 
que após anestesia e cirurgia. De modo semelhante o tratamento conservador de equinos 
com encarceramento nefroesplênico resultou em uma taxa de sobrevida 
significativamente mais alta do que o tratamento cirúrgico. 
São observadas taxas de mortalidade mais elevadas em equinos com doença 
intestinal estrangulante, em comparação com doença não estrangulante, e em equinos 
com intestino desvitalizado, em comparação com aqueles com intestino não 
desvitalizado. Quanto maior o comprimento de intestino delgado não viável ressecado, 
maior a taxa de mortalidade relatada. 
As associações persistentes a uma redução da sobrevida incluem a determinação 
de volume globular (VG) ou frequência cardíaca (FC) maiores do que normal antes da 
anestesia, refletindo, presumivelmente, a gravidade das anormalidades metabólicas. A 
elevação do VG e FC pode representar uma consequência da hipovolemia, 
endotoxemia, dor, ansiedade e/ou contração esplênica. 
 
 
Endotoxemia e resposta inflamatória sistêmica 
A endotoxemia inclui a porção de lipídio A do lipopolissacarídeo (LPS), um 
componente da parede celular das bactérias gram-negativas normalmente encontradas 
no intestino equino. A ruptura das bactérias mucosas (GI) pela isquemia leva ao 
movimento da LPS para dentro da cavidade peritoneal e captação final na circulação 
sistêmica. A endotoxemia estimula uma resposta de fase aguda e a liberação de 
mediadores inflamatórios, como o fator de necrose tumoral (TNF-α), a interleucina-a 
(IL-1) e a interleucina-6 (IL-6). 
Importância da endotoxemia 
A circulação dessas toxinas e compostos inflamatórios representa um importante 
fator de risco para a mortalidade de equinos que desenvolvem cólica. A amplificação 
desse processo leva a uma síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), que se 
manifesta por taquicardia, taquipneia, alterações da temperatura corporal e leucopenia 
ou leucocitose. A SIRS foi definida segundo as seguintes condições: 
 Potros: 
o FC > 120bpm; 
o FC > 30mpm; 
o TR > 39,2ºC ou <37,2ºC; 
o Contagem de leucócitos >12.500 ou <4.000 células/µl; 
o 10% de neutrófilos em bastão imaturos; 
o Evidência de sepse; 
o Isquemia ou hipoxia cerebral 
o Traumatismo. 
 
 Adultos: 
o FC >60bpm; 
o FR > 30mpm; 
o TR > 38,6ºC; 
o Contagem de leucócitos >12.500 ou < 4.500 células/µl; 
o 20% de neutrófilos em bastão. 
 
Outros sinais clínicos atribuíveis à resposta inflamatória dependem da magnitude 
da endotoxemia e da cascata inflamatória subsequente. Estudos realizados em muitas 
espécies demonstram que o chpque séptico precoce se caracteriza por um sistema 
cardiovascular hiperdinâmico, especificamente com taquicardia, vasodilatação e índice 
cardíaco (IC) aumentado, enquanto o IC está diminuído no choque séptico mais 
avançado (descompensado). A progressão da SIRS em equinos inclui vazamento de 
proteína da pressão coloidosmótica (PCO) circulante, podendo contribuir oara uma 
diminuição da perfusão periférica. 
As anormalidades da coagulação são comuns em equinos com cólica. A 
endotoxina ativa os monócitos circulantes, que liberam pró-coagulantes semelhantes à 
tromboplastina, os quais podem iniciar a formação de trombos microvasculares. 
Ocorrem anormalidades da coagulação, como diminuição da atividade da antitrombina 
III (ATIII), aumento nos títulos de produtos de degradação do fibrinogênio (PDF) e 
trombocitopenia, com maior frequência em equinos que apresentam lesões do intestino 
delgado, em comparação com lesões do intestino grosso ou equinos com colite. As 
anormalidades da coagulação são mais frequentes em equinos com intestino 
desvitalizado, em comparação com animais sem desvitalização do intestino. 
 
 
 
 
Manejo clínico da endotoxemia 
Embora a terapia de suporte continue sendo a base para a endotoxemia e a SIRS, o 
manejo desses equinos pode incluir tratamentos especificamente direcionados para a 
endotoxina e a cascata inflamatória. Os tratamentos incluem plasma hiperimune, 
polimixina B, flunexin meglumine, dimetil sulfóxido, pentoxifilina, heparina e 
lidocaína. 
O plasma hiperimune é uma terapia IV que contém alta concentração de 
anticorpos entiendotoxina, que se ligam diretamente à endotoxina. A polimixina B é um 
antimicrobiano bacteriano com aspecto de atividade predominantemente contra 
microrganismos gram-negativos que, em doses mais baixas, também se liga diretamente 
ao componente de lipídeo A do LPS. 
Além de sua eficácia como analgésico visceral, a flunexin meglumine inibe a 
cicli-oxigenase, diminuindo assim a liberação de tromboxano e de prostaglandina F-1α 
(PGF-1α). Quando administrada antes da LPS na endotoxemia experimental de equinos, 
a flunexin meglumine diminui a FC, a TR e escore de atividade em comparação com 
equinos aos quais foi administrada solução salina após LPS. Infelizmente, a flunexin 
parece aumentar a permeabilidade do jejuno isquêmico e lesionado ao LPS e 
compromete a recuperação da função de barreia. A deracoxibe e firocoxibe são agentes 
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), que podem não inibir a recuperação da 
função de barreira no jejuno. Estudos experimentais também demonstraram que alguns 
AINEs, incluindo flunexin, inibem a motilidade intestinal. 
O dimetil sulfóxido (DMSO) é um líquido incolor de enxofre orgânico, sado 
como solvente em várias preparações medicinais, devido à sua capacidade de dissolver 
compostos tanto polares quanto não polares. Embora tradicionalmente tenha sido 
administrado para melhorar a lesão de reperfusão, nenhum estudo sustenta a sua eficácia 
como depurador de radicais livres. A administração de DMSO IV reduziu a febre em 
equinos com endotoxemia induzida experimentalmente, porém não teve nenhum efeito 
sobre as concentrações plasmáticas de TNF-1α, glicose ou lactato, a contagem de 
leucócitos ou a FC. 
A administração de lidocaína por infusão IV constitui uma terapia adjuvante útil 
em equinos com cólica, em virtude de sua capacidade de depurar espécies de radicais 
livres e atuar, em certo grau, como agente anti-inflamatório. A lidocaína pode ser 
considerada um tratamento específico para a lesão de reperfusão pós-isquêmica em 
equinos com lesões GI isquêmicas. 
Quando há suspeita de anormalidades da coagulação, a administração de heparina 
pode estar indicada pela sua capacidade de desativar a trombina e o fator Xa, um efeito 
que pode impedir a formação de fibrina e inibir a ativação das plaquetas e dos fatores V 
e VIII induzida pela trombina. A terapia com heparina não fracionada não é desprovida 
de efeitos adversos, visto que diminui o tempo de trombina (TT) e aumenta a 
prevalência de trombose da veia jugular. 
 
 
 
 
Influência da anestesia na cirurgia 
A duração da anestesia tem sido inversamente associada à taxa de sobrevida em 
várias pesquisas. Equinos que sobrevivem ao tratamento cirúrgico para cólica tiveram 
uma anestesia significativamente mais curta do que os equinos que morreram ou foram 
subsequentemente submetidos a eutanásia. Essa associação ao resultado pode refletir 
um impacto adverso da anestesiae/ou maior complexidade do procedimento cirúrgico. 
 
Éguas prenhes 
A manipulação de éguas prenhes com cólica deve incluir o problema adicional da 
mortalidade fetal. Em uma revisão de 228 éguas Puro-sangue prenhes exigindo cirurgia 
para cólica, 152 (66,7%) tiveram um potro vivo em comparação com 78,3% sem cólica. 
O prognóstico de potro vivo após cirurgia para cólica foi significativamente melhor em 
éguas com < 15anos ou com > 40 dias de gestação. Houve menor probabilidade de 
potros vivos quando a duração da cólica antes da cirurgia foi de > 5h, e a duração da 
anestesia foi de > 3h. 
 
Efeito dos agentes anestésicos sobre a função gastrintestinal 
A xilazina produz uma diminuição depende da dose significativa na atividade 
duodenal, jejunal, cecal e do cólon em equinos, e esse efeito é intensificado quando a 
xilazina é associada ao butorfanol ou buprenorfina. A detomidina diminui a motilidade 
em maior grau e por mais tempo do que a xilazina. As determinações da atividade no 
intestino delgado, no ceco e no cólon ventral esquerdo confirmaram uma redução 
significativa na frequência de contrações por 30min após a administração de romifidina 
em uma dose de 0,08mg/kg. O butorfanol pode ser administrado como infusão contínua 
para manter um estado de equilíbrio dinâmico. A administração de uma dose de ataque 
de 0,018mg/kg, seguida de infusão IV contínua de 0,024mg/kg/h, em equinos saudáveis 
reduziu significativamente o tempo de trânsito GI, e os animais evacuaram 
significativamente menos durante 24h do tratamento e nas próximas 24h em 
comparação com equinos de controle. 
A fentanila pode ser administrada por injeção IV, infusão IV ou adesivo 
transdérmico. A fentanila exerce acentuado efeito depressor sobre a motilidade, um 
efeito que pode ser devido à sua ação anticolinérgica. A fentalina, na dose de 0,01-
0,05mg/kg, induziu uma inibição significativa da atividade propulsiva no segmento 
cecocólico e fechamento do esfíncter cecocólico por 1-2h. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações Pré-Anestésicas 
 
A avaliação e preparo pré-anestésico constituem fatores importantes que 
influenciam o resultado bem-sucedido em equinos com cólica. 
 
 
Características dos pacientes 
Equinos de todas as idades, raças e estágios reprodutivos podem necessitar de 
cirurgia para cólica, porém as características do paciente podem ser usadas para 
identificar animais que correm risco de determinadas lesões ou complicações 
anestésicas. A raça e o temperamento pode, influenciar significativamente o 
comportamento do cavalo. Os garanhões, as éguas com potros ou animais que não estão 
acostumados à manipulação podem necessitar de sedação adicional durante a indução e 
a recuperação, e esses animais podem ter mais tendência a ficar excitados quando 
emergem da anestesia. A viabilidade fetal pode ser comprometida pela hipotensão ou 
hipoxemia maternas ou pelos efeitos de agonistas dos receptores α-adrenérgicos sobre a 
pressão intrauterina. 
A história clínica do paciente pode fornecer informações valiosas. A duração 
prolongada da cólica antes da apresentação do animal ao hospital pode resultar em 
perda hídrica significativa, distúrbios eletrolíticos, particularmente hipocalcemia, lesões 
autoinfligidas e exaustão das reservas de catecolaminas. A cólica que ocorre pouco 
depois da alimentação e ruptura gástricas. É importante obter uma história recente de 
anestesia geral, visto que pode fornecer informações sobre a resposta antecipada do 
cavalo à anestesia e comportamento na recuperação. 
Os equinos com lesões estranguladas podem desenvolver concentrações séricas 
significativamente mais baixas de cálcio ionizado e magnésio ionizado do que equinos 
com obstrução do GI não estrangulada. O deslocamento intestinal grande ou vólvulo 
podem ser acompanhados de distensão abdominal significativa, podendo interferir na 
ventilação, oxigenação e retorno venoso, influenciando a perfusão orgânica sistêmica do 
animal. 
 
 
Avaliação e preparo do paciente 
A avaliação pré-anestésica de um cavalo com cólica é uma prática 
multidisciplinar, visto que é preciso obter dados e iniciar os tratamentos rapidamente. A 
triagem desses pacientes exige uma anamnese acurada, exame físico rápido, porém 
minucioso e, de modo ideal, uma base de dados clinicopatológicos mínima, incluindo 
medição do VG, proteína total, eletrolíticos séricos, concentração de lactato, marcadores 
da função renal e, de preferência, pH arterial ou venoso e análise dos gases sanguíneos. 
Os procedimentos que precisam ser realizados imediatamente após a chegada do 
cavalo incluem cateterismo da veia jugular (um ou dois cateteres de calobre 10 ou 14 ou 
um cateter de calibre 10 com tudo de artroscopia e sem espiral para rápida infusão de 
líquido), inserção de uma sonda NG para descomprimir o estômago, exame físico com 
ênfase nos sistemas cardiopulmonar e GI e coleta de sangue para exames laboratoriais. 
Uma outra pessoa deve reunir as informações do histórico fornecidas pelo veterinário e 
cliente, incluindo histórico de desparasitação, comobirdades, episódios anteriores de 
cólica (onde, quando), mudanças dietéticas, ingestão recente de água e apetite, duração 
da cólica, presença de refluxo gástrico e atividades normais ou "trabalho" do cavalo. 
O exame físico do cavalo deve incluir medições da temperatura, FC, FR e pressão 
arterial (não invasiva = PANI). A avaliação do sistema cardiovascular deve incluir uma 
avaliação de turgor de pele, coloração de mucosas, TPC, palpação do pulso para 
frequência, ritmo e déficits e ausculta do coração e dos pulmões. O choque ou a 
hipoperfusão podem ser reconhecidos por taquicardia, taquipneia, TPC prolongado, 
coloração vermelho brilhante ou escura ou com tonalidade púrpura das mucosas e 
estado mental deprimido. A hipertensãi ou a hipotensão podem ser confirmadas pela 
medição da PANI. Quando esses achados estão correlacionados com hiperlactemia ou 
redução da saturação de oxigênio venoso central (átrio direito, Scvo2), sugerindo uma 
perfusão tecidual deficiente, deve-se iniciar a terapia agressiva. O abdome deve ser 
observado quando à ocorrência de distensão. os detalhes do exame GI são necessários 
para completas a avaliação pré-anestésica. 
Recomenda-se uma abordagem multimodal para o manejo da dor, incluindo 
administração de um AINE, como flunexin meglumine, um agonista dos receptores α2- 
adrenérgicos como xilazina ou detomidina e, possivelmente, um opioide como 
butorfanol, com reavaliações repetidas e intervalos de 20min. 
 
 
Importância dos resultados dos exames laboratoriais 
O aumento do VG tem sido associado a uma redução da sobrevida, porém o VG 
também está elevado em consequência de hipovolemia e contração esplênica induzida 
por estresse. As concentrações baixas de proteínas totais e de albumina podem indicar 
uma perda de proteína por extravasamento vascular. A hipoproteinemia aumenta o risco 
de hipotensão durante a anestesia, promove o edema tecidual e aumenta a sensibilidade 
a fármacos com alta ligação às proteínas, como fenotiazinas e benzodiazepínicos. A 
administração de líquidos coloides está indicada para equinos com hipoproteinemia. 
Os distúrbios eletrolíticos que ocorrem comumente incluem hipocalcemia, 
hipomagnesemia e, com menos frequência, hipopotassemia. 
O lactato é um subproduto da glicólise que se acumula nos tecidos quando há 
disponibilidade de oxigênio. ocorre hiperlactatemia mais comumente devido ao choque 
circulatório ou hipoxemia arterial e, com menos frequência, em consequ~encia da 
produção sistêmica ou localizada aumentada pelos pulmões, intestino ou leucócitos em 
estado inflamatórios, metabolismo reduzido pelo fígado ou hipoxemia celular durante 
intoxicações. 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Procedimentos recomendados para avaliação pré-anestésica e o tratamento de equinos 
que necessitam de anestesia para cólica. 
 
 
A azotemiapode representar um indicador prognóstico negativo para equinos com 
cólica, porém também deve ser interpretada com cautela, visto que muitos equinos que 
sobreviveram à cirurgia para cólica tinham axotemia pré-natal. As provas de 
coagulação, contagem de plaquetas, o tempo de protrombina (TP), o TTPa ou a 
tromboelastografia podem ser recomendados em equinos com sinais de SIRS ou 
endotoxemia. Na presença de hipocoagulação ou depleção dos fatores da coagulação, 
pode-se administrar plasma no intraoperat[orio. A hiperglicemia é um achado comum 
em equinos com cólica antes da anestesia, porém resulta provavelmente do estresse e da 
administração de agonistas dos receptores α2-adrenérgicos. 
 
 
Fluidoterapia 
As metas de reanimação hídrica consistem na restauração da perfusão de órgãos, 
manutenção da microcirculação, aporte de oxigênio e nutrientes aos tecidos e remoção 
dos produtos de degradação. Os líquidos comumente usados para reanimação com 
líquidos em equinos incluem cristaloides isotônicos, solução salina hipertônica (SSH) a 
7,5% e coloides. Os cristaloides e os coloides exibem comportamento muito diferente 
após administração IV, particularmente os coloides de geração mais recente com menor 
peso molecular e substituição molar. 
Embora bolus de líquido cristaloide isotônico constituam um meio 
tradicionalmente aceito de restaurar o volume vascular, essa estratégia apenas pode não 
ser adequada em alguns equinos com doença GI. 
 
 
Equipamento 
Os aparelhos de anestesia e o equipamento de monitoramento devem estar sempre 
montados e, particularmente no final do dia do trabalho, prontos para um procedimento 
de emergência. As listas de verificação para equipamentos e procedimentos aumentam a 
eficácia e segurança. 
O período levado desde a indução até a colocação de todo o equipamento de 
monitoramento e a incisão cirúrgica pode ser reduzido pelo preparo do equino antes da 
indução da anestesia, como tosa dos pelos que recobrem as artérias faciais e o local 
cirúrgico abdominal e colocação de um segundo cateter jugular para facilitar a infusão 
de múltiplos fármacos e líquido. Deve ser colocada uma sonda NG funcionante antes da 
indução da anestesia, devido à dificuldade de inserção no equino anestesiado. Deve-se 
tentar remover o líquido do estômago imediatamente antes da indução da anestesia. 
 
 
 
Protocolos Anestésicos 
 
Muitas associações de agentes anestésicos e frequências de doses são usadas para 
anestesiar equinos saudáveis. As associações usadas com mais frequência mudaram 
com o passar do tempo. As escolhas pessoais baseiam-se nas preferências dos mentores, 
modificadas pela experiência pessoal, a qual, por sua vez é influenciada pela natureza e 
o tipo de raça, do número de casos atendidos no hospital, visto que equinos de raças 
diferentes e tipos de trabalhos distintos respondem de maneira diferente à anestesia. Os 
agentes anestésicos podem ser escolhidos com base na familiaridade de seu uso, meios 
disponíveis e avaliação pré-anestésica do paciente. Os sedativos e agentes analgésicos 
podem ser administrador antes, no decorrer e no final da anestesia para proporcionar 
uma técnica balanceada. As metas pretendidas consistem em inconsciência do paciente 
e analgesia com o mínimo desvio fisiológico do estado consciente normal, seguidas da 
melhor qualidade de recuperação. 
 
 
Agentes anestésicos e associações 
na atualidade, os equinos com cólica, com exceção dos potros, são pré-tratados, 
em sua maioria, com um agonista dos receptores α2-adrenérgicos, com ou sem opioide. 
Com mais frequência, a anestesia é induzida em todos os equinos com cetamina (em 
associação com diazepam, midazolam, guaifenesina ou propofol) e mantida com um 
agente inalatório. 
O estado físico de equinos com cólica varia desde o paciente de Classe 3 da ASA 
relativamente saudável até o paciente moribundo (Classe 5E), o que torna necessário, 
em alguns casos, modificar os protocolos anestésicos usados para a indução de anestesia 
em equinos saudáveis. Os equinos com cólica podem estar cansados e podem apresentar 
muitas anormalidades fisiológicas que os tornam suscetíveis a uma depressão 
cardiopulmonar maior do que o habitual. A avaliação pré-anestésica deve incluir uma 
avaliação da atitude mental do cavalo para a contenção física, o ambiente diferente e a 
interação com pessoas. Essa informação baseia-se na observação de postura do corpo do 
animal, movimentos e expressão facial, bem como da intuição e e deve ser considerada 
na escolha do manejo anestésico durante a indução e a recuperação. 
 
Tabela 1: Exemplo de associação de agentes anestésicos para anestesia geral de equinos com 
cólica. 
Medicação Pré-
Anestésica 
Indução da Anestesia Manutenção da Anestesia 
Xilazina (0,3-1,1mg/kg) ou 
romifidina (0,04-0,1mg/kg) 
IV seguida de butorfanol 
(0,02mg/kg) IV 
Cetamina (1,0-2,3mg/kg) 
IV, isoladamente ou 
precedida de diazepam 
(0,05mg/kg) ou 
guaifenesina (25-50mg/kg) 
ou propofol (0,4mg/kg) IV 
Isoflurano ou sevoflurano 
com lidocaína (1,3-
2,0mg/kg durante 15min, 
seguida de 1,5-3,0mg/kg/h) 
IV 
 
 
Indução da anestesia 
Utilizam-se diferentes métodos para controlar os equinos durante a indução da 
anestesia, dependendo os recursos disponíveis. É comum o uso de uma divisória para 
manter o animal contra uma parede durante a perda de consciência, porém a queda livre 
com ou sem suporte humano e orientação, ou o uso de uma mesa inclinável vertical 
constituem alternativas. 
A ventilação artificial é iniciada imediatamente utilizando-se uma válvula de 
demanta continuada de oxigênio enquanto são aplicadas correntes, e o cavalo é içado, 
pronto para transporte. A sonda endotraqueal é conectada ao sistema de administração 
dos anestésicos imediatamente após o animal ser colocado sobre a mesa. 
Os equinos com distensão abdominal excessiva, hipoxemia ou função 
cardiovascular deficiente podem se beneficiar da administração intranasal de oxigênio 
15ml/min, durante a indução da anestesia. A infusão de dobutamina IV durante a 
indução da anestesia e o transporte pode fornecer suporte cardiovascular. 
 
 
Manipulação de potros 
Os potros não devem mamar por 30min antes da indução da anestesia, a fim de 
minimizar o risco de refluxo de leite quando anestesiados pela primeira vez. A égua 
deve acompanhar o potro para mantê-lo calmo até que seja anestesiado. A sedação da 
égua pode ser necessária após a separação. Os potros jovens são de mais fácil contenção 
física e são manualmente sustentados durante o início da anestesia. 
Pode ocorrer refluxo gástrico na orofaringe até mesmo com uma sonda NG em 
posição. A intubação nasotraqueal é aconselhável antes da indução da anestesia em um 
potro com refluxo espontâneo. A sonda nasotraqueal em um potro com cólica não deve 
ser trocada por uma sonda orotraqueal durante a anestesia, visto que pode ocorrer 
refluxo e aspiração do líquido gástrico quando a via respiratória é desprotegida. A 
ventilação deve ser controlada para prevenir a hipoventilação e evitar pressões 
intratorácicas negativas excessivas com a inspiração quando o diâmetro interno da sonsa 
nasotraqueal é substancialmente menor do que a que seria usada para intubação 
orotraqueal. 
A anestesia pode ser induzida em potros muito jovens com diazepam (0,05mg/kg) 
e cetamina (1,0-2,0mg/kg) com ou sem uma dose baixa de opioide, sendo mantida com 
sevoflurano ou isoflurano. A necessidade anestésica (CAM) de agentes inalatórios em 
potros é significativamente diminuída em relação a equinos adultos. Os potros de mais 
idade podem tolerar os efeitos cardiovasculares de um agonista dos receptores α2-
adrenérgicos, geralmente usado em dose baixa, antes da administração de diazepam (ou 
midazolam) e cetamina para indução da anestesia, seguida de anestesia inalatória. 
 
 
Manutenção da anestesia 
A anestesia intravenosa total (TIVA) com um agonista dos receptoresα2-
adrenérgicos e cetamina é mais comumente administrada quando há necessidade de 
rolar um cavalo na tentativa de corrigir um deslocamento do cólon dorsal esquerdo. A 
felinefrina ou a efedrina, na dose de 0,06mg/kg, podem ser administradas por IV ao 
mesmo tempo para diminuir o tamanho do baço e facilitar a liberação do intestino 
encerrado. Raramente, o rolamento do cavalo durante a anestesia resulta em ruptura 
arterial a hemorragia intra-abdominal maciça, que se manifesta pela demonstração de 
sinais iniciais de recuperação de anestesia, seguidos de enfraquecimento e, por fim, 
morte na baia de recuperação. 
A anestesia para celiotomia é habitualmente mantida com um agente inalatório, 
mais comumente isoflurano ou sevoflurano, e fármacos adjuvantes. A administração de 
oxigênio inspirado a 100% com ventilação controlada habitualmente necessária para 
manter a oxigenação arterial sistêmica e normocarbia, contrabalançando os efeitos do 
decúbito dorsal, do peso da ingesta no intestino sobre o diafragma e da pressão intra-
abdominal aumentada. 
 
 
 
 
Manejo Anestésico 
 
Os cuidados anestésicos vão além da simples administração de fármacos e 
constituem um importante componente da prevenção de anormalidades fisiológicas, que 
pode ter influência sobre os resultados. 
 
 
Monitoramento 
O cavalo deve ser posicionado em uma mesa que tenha acolcoamento adequado 
para evitar a lesão muscular por compressão. A cabeça precisa ser elevada acima do 
nível do coração para reduzir ao máximo a congestão da mucosa nasal, que irá 
contribuir para a obstrução das vias respiratórias após a extubação traqueal. Caso ocorre 
refluxo refluxo gástrico ao redor da sonda NG, a cabeça precisa ser baixada para 
promover a drenagem e, em seguida, tubo endotraqueal retido durante a recuperação da 
anestesia. Os membros pélvicos não devem ser mantidos na postura de rã durante a 
anestesia, a não ser que seja essencial para a exposição cirúrgica, a fim de evitar a 
indução de miopatia pós-anestésica. 
O monitoramento da anestesia inalatória deve incluir uma avaliação frequente do 
relaxamento muscular (ausência de resposta à cirurgia, posição do bulbo do olho), 
reflexos (reflexo palpebral), função cardiovascular e perfusão periférica [frequência e 
ritmo cardíacos, coloração das mucosas e TPC, força e ritmo do pulso periférico, 
pressão arterial invasiva (PAI) e perfusão do sítio cirúrgico], adequação da ventilação 
(frequência respiratória e profundidade da respiração) e temperatura corporal. 
 
 
Profundidade da anestesia 
A ocorrência de movimento muscular ou uma acentuada elevação da FC ou da 
PAM em resposta à manipulação cirúrgica e a presença de reflexo palpebral ou 
nistagmo de ampla amplitude indicam um plano superficial de anestesia. 
As medições das concentrações do agente inalatório inspirado e corrente final 
fornecem informações úteis para manter uma profundidade constante da anestesia, bem 
como alguma orientação contra uma dose insuficiente ou sobredose. Em geral, obtém-se 
uma profundidade adequada da anestesia para cirurgia em uma concentração de agente 
inalatório corrente final de 1,0 a 1,5 x CAM quando são administrados alguns outros 
agentes. A administração de sedativos e agentes analgésicos antes e durante a anestesia 
diminui a necessidade anestésica (CAM) em graus variáveis, e os efeitos podem ser 
maiores em equinos doented do que em animais saudáveis. 
 
Sistema respiratório 
A medição da pressão parcial de dióxido de carbono expirado (ETCO2) fornece 
uma estimativa razoável de adequação da ventilação em equinos saudáveis anestesiados 
durante a ventilação mecânica. Infelizmente, apear do uso de ventilação com pressão 
positiva intermitente (VPPI), o grau de colapso pulmonar que costuma ser observado 
em equinos anestesiados para cirurgia para cólica frequentemente resulta em 
discrepâncias entre a PaCO2 e a ETCO2. Foi relatado que a PACO2 é, em média, 
12mmHg mais alta do que a ETCO2 (faixa de 0 a 37,5mmHg) para equinos anestesiados 
com cólica, em comparação com 5mmHg para equinos saudáveis. Por conseguinte, 
gasometria arterial deve ser realizada precocemente para determinar a diferença 
ETCO2-PaCO2 no paciente. Em seguida, pode-se utilizar a capnografia para avaliar 
qualquer tendência durante a manutenção da anestesia. 
 
Sistema cardiovascular 
A função circulatória é avaliada com base na coloração das mucosas, TPC, 
avaliação da força e do ritmo do pulso periférico, PAI e observação da força de onda 
arterial, análise do eletrocardiograma (ECG) quanto arritmias e observação do sítio 
cirúrgico quanto a coloração e ocorrência de sangramento. Com frequência, as medidas 
cardiopulmonares em equinos anestesiados estão diminuídas em relação aos valores 
obtidos no animal desperto e não sedado. 
 
Tabela 2: Valores-alvo para variáveis medidas em equinos anestesiados. 
Variável medida Faixa Unidades 
Frequência Cardíaca > 26 e < 50 Batimentos/min 
PAM Periférica > 70 e < 120 mmHg 
pHa > 7,30 e < 7,50 - 
Paco2 > 33 e < 50 
> 4,39 e < 6,65 
mmHg 
Pao2 > 80 (ao nível do mar) 
> 10,64 
kPa 
mmHg 
Excesso de Base -6 a +10 mEq/l 
Volume Globular > 26 e < 45 % 
 
A PANI pode ser usada para fornecer uma estimativa da pressão arterial sistólica 
(PAS) ou da PAM antes da anestesia, porém não é acurada o suficiente para manejo 
anestésico, particularmente em pacientes que estejam doentes ou que estejam sendo 
submetidos a laparotomia. As pressões arteriais são medidas pela inserção de um cateter 
na artéria facial ou facial transversa, com um transdutor colocado em nível com a 
cobertura torácica superior ou ponto do ombro (que se pressupõe corresponda ao átrio 
direito) para equinos em decúbito dorsal. 
A hipotensão frequentemente acompanha a anestesia inalatória em equinos 
saudáveis e doentes. Em geral, a hipotensão é definida como PAM < 60 a 65mmHg em 
outras espécies; todavia, em equinos anestesiados, PAM < 70mmHg justifica a 
instituição de tratamento para sustentar o fluxo sanguíneo dos órgãos e a autorregulação 
e para reduzir ao máximo a incidência de miopatia pós-anestésica. 
O aumento da pressão intratorácica durante a VPPI reduz o retorno venoso 
(diminuição da pré-carga) e aumenta a pós-carga. A redução do volume de ejeção do 
ventrículo direito leva a uma diminuição do enchimento ventricular esquerdo depois de 
alguns batimentos e diminuição subsequente do volume sistólico. As variáveis avaliadas 
consistem na variação da pressão sistólica (VPS) e na variação da pressão de pulso 
(VPP). 
Temperatura 
Pode ser difícil obter uma temperatura corporal precisa em equinos. Somente uma 
sonda introduzida profundamente no reto pode ser exata, visto que a medição logo no 
interior do ânus pode ser alterada pela palpação retal, e as temperaturas medidas na 
cavidade nasal ou na orelha são inferiores à temperatura central. A hipotermia pode 
resultar em aumento da ataxia durante a recuperação da anestesia e aumento do 
catabolismo nos dias que se seguem à anestesia. É difícil aquecer um cavalo durante a 
anestesia, particularmente em uma sala com ar-condicionado. Entretanto, deve-se 
procurar diminuir a velocidade da perda de calor pelo uso de líquidos intravenosos 
mornos, aplicação de cobertor de água aquecida sobre a cabeça, pescoço e tórax do 
animal e manutenção de uma sala de recuperação aquecida. 
 
 
Complicações intraoperatórias 
Como a hipoventilação é tão comum em equinos em decúbito dorsal, com 
compressão do diafragma pela distensão gasosa ou fecal do TGI, preferimos começar 
com uma VPPI no início da anestesia. 
 
Hipotensão 
Não se deve deixar que a PAM diminua para menos de 70mmHg, devido ao risco 
bem documentado de miopatia. A urgência do tratamento é maior quando a pressão 
arterial baixa é acompanhada de um TPC prolongado, coloração pálida ou cinzenta das 
gengivas, ciclagem da pressão do pulso, PaO2 < 60mmHg (8kg Pa), coloração pálidado 
intestino ou hemorragia moderada ou rápida. 
Pode ocorrer início agudo de hipotensão após indução de anestesia, mudança da 
posição do corpo, administração de um anestésico ou antibiótico e manipulação 
cirúrgica ou correção da torção do intestino. A manipulação cirúrgica de um intestino 
isquêmico pode resultar na liberação de endotoxina e mediadores inflamatórios na 
circulação, desencadeando, algumas vezes, uma redução abrupta e acentuada da PAM e 
pHa. O tratamento imediato pela suspensão do anestésico e administração crescente de 
um agente vasoativo é essencial. 
O tratamento com líquidos ou agentes vasoativos não irá corrigir efetivamente a 
hipotensão causada por compressão aortocava. A taquicardia constitui a principal 
resposta à administração de doses crescentes de agentes inotrópicos ou vasopressores 
nessa situação. Pode-se melhorar a PAM quando a pressão abdominal for reduzida após 
incisão do abdome. O diagnóstico é confirmado pela elevação cirúrgica ao trato 
intestinal afastando-o da aorta e veia cava caudal, resultando em rebote imediato da 
PAM. 
O tratamento com base nos resultados anormais das mediações é delineado no 
fluxograma apresentado na Figura 2. A hipotensão em consequência de hipovolemia 
deve ser tratada pela administração por IV de líquidos para expandir o volume 
sanguíneo, inicialmente com líquidos cristaloides, em incrementos de 5ml/kg. 
A administração de líquidos para assegurar o volume sanguíneo normal nem 
sempre restaura a estabilidade hemodinâmica. Os mecanismos fisiológicos que resultam 
em PAM baixa e perfusão diminuída podem ser variados, incluindo vasodilatação 
(agente inalatório, hipercarbia ou sepse), diminuição do retorno venoso (hipovolemia, 
distensão abdominal excessiva, mudança na posição do corpo, compressão aortocava ou 
hemorragia) ou diminuição da função miocárdica (depressão pelo agente anestésico, 
antibiótico IV, endotoxemia, acidemia, hipocalemia ou doença cardíaca e arritmias). As 
causas da hipotensão devem ser avaliadas e o tratamento essencial deve ser direcionado 
para remover ou neutralizar a causa. 
A escolha do fármaco vasoativo para suporte cardiovascular deve basear-se na 
situação clínica e pode ser necessário o uso de mais de um fármaco para obter um 
balanço ótimo. Com frequência, a dobutamina é utilizada como agente vasoativo de 
primeira linha no tratamento da hipotensão. Administrada em uma dose baixa (0,1-
0,5µg,,qkg/min) a dobutamina pode aumentar a PAM por meio de um leve aumento não 
estatisticamente significativo da RVS. A eferdrina aumenta a PAM e o IC e pode ser 
administrada isoladamente ou com dobutamina, por bolus intermitentes ou infusão 
contínua. A efedrina (0,06mg/kg) IV na forma de bolus pode aumentar a FC e a PAM, 
geralmente com início lento (5min) e duração de menos de 30min. 
A hipotensão induzida por vasodilatação atribuída ao agente inalatório pode ser 
parcialmente tratada pela redução da concentração do anestésico inalatório. A adição de 
lidocaína possibilita uma redução da dose do agente inalatório necessária para a 
anestesia, porém pode não levar a melhora da PAM. A vasodilatação também pode ser 
tratada pela administração de um vasopressor, como norepinefrina ou felinefrina. As 
infusões de norepinefrina (0,05-0,4µg/kg/min) em potros saudáveis conscientes ou 
anestesiados aumentam a PAM de modo dependente da dose induzir vasoconstrição, 
porém diminui o IC e a FC. 
A fenilefrina (0,13-0,42µg/kg/min) tem sido usada para aumentar a PAM durante 
a anestesia de equinos com cólica. A vasopressina endógena é liberada durante o 
estresse e a hipotensão resultante de anestesia, hipovolemia e hemorragia, causando 
vasoconstrição, que pode interromper o declínio da PAM ou melhorá-la. 
Os problemas de vasoconstrição induzida e o benefício de melhor pressão 
sistêmica sobre a função GI e a mortalidade não estão resolvidos. A elevação da PAM 
pode resultar de aumento da RVS em associação do DC diminuído e redução do fluxo 
sanguíneo tecidual. A perfusão intestinal pode ser reduzida por vasocontrição periférica, 
e a melhora das variáveis hemodinâmicas sistêmicas pode fornecer uma falsa sensação 
de segurança e nenhuma indicação do estado em nível tecidual. 
 
Arritmias 
A fibrilação atrial está comumente associada à hipotensão arterial durante a 
anestesia. Felizmente, a hipotensão frequentemente pode ser tratada de modo 
satisfatório por meio de infusão de dobutamina. A fibrilação atrial que se desenvolve de 
modo espontâneo durante a anestesia geralmente reverte para o ritmo cardíaco normal 
em poucas horas após a anestesia. 
O bloqueio cardíaco AV de segundo grau é uma arritmia que ocorre com 
frequência em equinos saudáveis conscientes em repouso. Em geral, essa arritmia 
desaparece durante a anestesia, exceto quando se administra detomidina ou uma infusão 
de agonista dos receptores α2-adrenérgicos. Não há necessidade de tratamento quando a 
FC e a perfusão tecidual são adequadas, e não há hipotensão. A bradicardia, com ou sem 
bloqueio AV de segundo grau, é algumas vezes observada pouco depois de iniciar uma 
infusão de dobutamina. Se houver diminuição da PAM, a velocidade de infusão da 
dobutamina deve ser reduzida e deve-se administrar um agente vasiativo diferente, 
como a efedrina, para manter a PAM. 
O bloqueio cardíaco AV de terceiro grau raramente se desenvolve em equinos 
anestesiados e precisa ser tratado como parada cardíaca. O tratamento consiste na 
administração imediata de dopamina (7-15µg/kg/min) IV, com ou sem atropina, e 
redução ou interrupção da administração do anestésico. Se o bloqueio de terceiro grau 
for contínuo (não intercalado com complexos normais), o cavalo deve ser reposicionado 
em decúbito lateral para massagem cardíaca externa. A ausência de resposta à dopamina 
e à massagem cardíaca deve ser seguida de outros componentes de reanimação cerebral 
cardiopulmonar. 
A bradicardia (<24bpm) associada com hipotensão pode ser combatida pela 
administração de um agente anticolinérgico, com obtenção de resposta variáveis, 
dependendo do fármaco administrado. Tanto a atropina (0,02mg/kg) quanto a hioscina 
(0,2mg/kg) IV induziram taquicardia, hipotensão e aumento do IC em equinos 
saudáveis sedados com detomidina (0,02mg/kg). 
A taquicardia, definida como uma FC de >55bpm pode ter numerosas causas 
durante a anestesia. A pressão intra-abdominal elevada em consequência de distensão 
intestinal ou compressão aortocava pode reduzir acentuadamente o retorno venoso, 
desencadeando taquicardia reflexa, embora a taquicardia nem sempre ocorra em 
resposta à hipotensão durante a anestesia. A distensão excessiva do estômago ou da 
bexiga pode ser responsável pela taquicardia. Os efeitos cardíacos da endotoxina, alguns 
fármacos vasoativos como a dobutamina e efedrina, a hipercarbia podem causar 
taquicardia. O tratamento deve ser direcionado para descartar possíveis causas de 
taquicardia. A taquicardia que persiste no período pós-anestésico tem sido assicada a 
um aumento da morttalidade. 
 
Hipoxemia 
A oxigenação arterial varia amplamente em cavalos anestesiados com cólica. A 
hipoxemia definida como uma PaO2 < 60mmHg (8kg Pa) pode surgir em qualquer 
momento durante o período anestésico com prevalência de 6 e 37,8%. O esperado é que 
a hipoxemia pudesse influenciar a viabilidade do intestino com fluxo sanguíneo já 
comprometido. A sobrevida após hipoxemia prolongada sem sinais neurológicos óbvios 
pode constituir, em parte, o resultado do fluxo sanguíneo cerebral mantido acima do 
nível crítico pelo uso de suporte cardiovascular e, em parte, pelo efeito protetor da taxa 
metabólica cerebral diminuída pelos agentes anestésicos e pela hipotermia. 
Como a pressão exercida pelo TGI sobre o diafragma constitui uma causa de 
ventilação inadequada e colapso pulmonar, conforme esperado, a PaO2 pode aumentar 
quando o cólon é exteriorizado do abdome. 
Uma consequênciasignificativa do decúbito dorsal em equinos anestesiados 
consiste em aumento da proporção do débito cardíaco que perfunde regiões não 
ventiladas do pulmão dependente (shunt). A redução na fração do shunt pode ser obtida 
pelo recrutamento dos alvéolos colapsados usados a PEEP, a pressão positiva contínua 
nas vias respiratórias (PAP),a PEEP com expansão do pulmão (recrutamento) e ao 
redistribuir a perfusão por meio de administração de um fármaco por via inalatória que 
resulta em broncodilatação, como salbutamol ou vasodilatação como óxido nítrico 
(NO). 
O salbutamol produz broncodilatação por meio de um efeito agonista direto dos 
receptores β2-adrenérgicos no músculo loso brônquico e tem sido usado no tratamento 
de equinos com obstrução recorrente das vias respiratórias (ORVR). O salbutamol é 
facilmente administrado a equinos anestesiados pela sua introdução no circuito 
respiratório através de um adaptador na peça em Y. O fármaco é administrado durante a 
inspiração para assegurar o seu fornecimento nos pulmões, efetuando várias aplicações 
por vez. Na dose de 2µg/kg quando administrado por inalação a equinos anestesiados 
para cirurgia de cólica, resultou em elevação significativa da PaO2 em 20min. 
 
 
 
Recuperação da Anestesia 
 
Todas as complicações que são observadas durante a recuperação da anestesia em 
equinos saudáveis também ocorrem em equinos que se recuperaram de cirurgia para 
cólica: obstrução das vias respiratórias, edema pulmonar, excitação, tempo 
excessivamente rápido ou prolongado para posição quadrupedal, miopatia, neuropatia, 
deslocamento ou fratura de ossos longos, ataxia e lacerações. 
 
 
Recuperação (em posição quadrupedal) 
A continuação da infusão de lidocaína no final da anestesia pode resultar em 
maior ataxia e exercer um efeito adverso sobre a qualidade da recuperação. Em 
consequência, a prática comum é suspender a administração de lidocaína 
aproximadamente 30min antes de transferir o cavalo para a sala de recuperação. 
Existem alguns aspectos da manipulação que são especificamente pertinentes a 
equinos submetidos a cirurgia de cólica. A sonda NG deve ser removida no final da 
anestesia, a fim de evitar a ocorrência de complicações durante a recuperação. A sonda 
NG aumenta o risco de sangramento nasal se for empurrada, e a sonda pode passar pela 
laringe e causar obstrução das vias respiratórias após extubação endotraqueal. A sonda 
pode aderir firmemente à mucosa nasal depois de uma hora ou mais de anestesia, devido 
ao ressecamento das membranas, de modo que deve ser removida lentamente para 
reduzir ao máximo o risco de lacerações e sangramento da mucosa nasal. O risco de 
sangramento aumenta quando a sonda foi inserida ao meato nasal dorsal, em lugar do 
meato ventral maior. A remoção da sonda no centro cirúrgico antes do final da anestesia 
é aconselhável, de modo que a cabeça do animal possa ser abaixada em caso de 
hemorragia grave, e o tratamento como tampão nasal seja implementado com mais 
facilidade. 
Os anestesiologistas variam quanto à sua preferência do controle para o período 
de transição da ventilação controlada para respiração espontânea. Como a hipoxemia é 
prevalente em equinos no período inicial de recuperação em consequência de mudanças 
na posição do corpo, ventilação diminuída e diminuição da concentração inspirada de 
O2, os autores preferem adiar o desmame para respiração espontânea até o cavalo estar 
na baia de recuperação. 
A xilazina (0,2mg/kg) ou romifidina (0,02mg/kg) são administradas IV à medida 
que a profundidade da anestesia parece diminuir, conforme julgado pela força do 
reflexo palpebral (5-10min após a suspensão do agente inalatório). O momento de 
administração do fármaco pode ser ajustado pela avaliação da profundidade da anestesia 
inalatória, raça e temperamento individual do paciente e condições de recuperação, 
como por exemplo, tempo longo de transferência entre o centro cirúrgico e a sala de 
recuperação. 
A sonda endotraqueal pode ser mantida no local e fixada com fita, de como que a 
sonda sala da boca através do espaço interdental ou ser retirada, com a inserção de uma 
sonda ligeiramente menor através do meato nasal ventral e guiada na traqueia para a 
intubação nasotraqueal, fixada com fita ao redor da sonda e ao redor do focinho do 
cavalo para segurança ou ser totalmente retirada após a respiração espontânea do 
cavalo. Em todos os equinos, deve-se fornecer oxigênio suplementar através de um tubo 
introduzido dentro da sonda endotraqueal, quando presente, ou a dois terços no meato 
nasal ventral. O fluxo de oxigênio é de 5ml/min para potros e 15ml/min para equinos 
adultos. 
Como diretriz geral, os autores recomendam o uso de um cabresto e corda (na 
cabeça e na cauda, se o local permitir) para equinos que se recuperam de cirurgia para 
cólica, que apresentam qualquer um dos seguintes eventos durante a anestesia: 
 Hipoxemia; 
 Hipotensão; 
 Hipotermia; 
 Hemorragia moderada a grave; 
 Duração da anestesia >3h; 
 Idade > 20; 
 Exaustão em consequência de um episódio prolongado de cólica; 
 Indicação clínica sugestiva de endotoxemia; 
 Claudicação preexistente. 
 
 
Cuidados pós-operatórios 
Foram desenvolvidas escalas de dor especificamente para equinos após 
laparotomia exploratória. As escalas podem se basear na observação dos 
comportamentos quando o animal está só ou em resposta à presença humana e podem 
incluir variáveis fisiológicas e resposta à palpação. As atividades dentro das categorias 
recebem um valor numérico de 1 a 4 ou de 0 a 6, com um escore final predeterminado 
indicando dor intensa. Os efeitos residuais na anestesia precisam ser considerados 
quando se avalia o comportamento do animal em 5h após o término da anestesia, como 
posição das orelhas para baixp, pálpebras caídas e diminuição na sustentação do peso 
dos membros posteriores, embora o ângulo do pescoço possa permanecer inalterado. 
O controle da dor pós-operatória geralmente consiste na administração de AINE, 
lidocaína e opioide. A contribuição da lidocaína na analgesia pode estar relacionada 
com a incisão abdominal, visto que um estudo experimental realizado em equinos 
despertos indicou que a lidocaína pode proporcionar analgesia somática, mas não 
visceral (determinada pela pressão de distensão duodenal e colorretal). O butorfanol 
administrado por infusão IV por 24h quando os equinos retornam à baia retardou 
significativamente o tempo da primeira evacuação de fezes. Entretanto, foi sugerido um 
efeito analgésico, visto que, durante esse período, em comparação com equinos que não 
receberam butorfanol, os escores de comportamento foram melhores, as concentrações 
plasmáticas de cortisol diminuíram, e houve menor perda de peso.

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