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CONCEPÇOES-PSICOLÓGICAS-NA-FORMAÇÃO-DA-PERSONALIDADE marcando pronto

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SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 A PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE ..................................................... 4 
2.1 O desenvolvimento da personalidade .................................................. 6 
2.2 Definição de personalidade .................................................................. 7 
3 PERSONALIDADE NORMAL ................................................................... 13 
4 MUDANÇA DA PERSONALIDADE .......................................................... 14 
4.1 Mudanças psíquicas no quadro psicodinâmico .................................. 19 
4.2 Personalidade perturbada .................................................................. 23 
4.3 Neurobiologia, tratamento, genética e etiologia dos transtornos citado a 
acima de personalidade ......................................................................................... 34 
5 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE 
NO DSM 64 
5.1 Modelos categoriais e dimensionais de patologia da personalidade .. 67 
6 AS ABORDAGENS COMPORTAMENTAL E COGNITIVA DA 
PERSONALIDADE .................................................................................................... 71 
6.1 Teoria de personalidade de aaron beck ............................................. 71 
6.2 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade ................. 73 
6.3 Os transtornos de personalidade e as síndromes sintomáticas ......... 74 
6.4 Abordagem comportamental .............................................................. 75 
6.5 Abordagem cognitiva do processamento de informações .................. 77 
6.6 A terapia cognitiva .............................................................................. 78 
6.7 A terapia comportamental .................................................................. 79 
6.8 Terapia cognitivo-comportamental ..................................................... 80 
7 REFERÊNCIAS BILBIOGRAFICAS .......................................................... 82 
8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 85 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta 
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. 
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão 
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 A PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
 A psicologia da personalidade é a área que estuda e procura explicar as 
particularidades humanas que influenciam o comportamento. A personalidade pode 
ser definida como o conjunto de características que determinam os padrões pessoais 
e sociais de uma pessoa, sua formação é um processo gradual, complexo e único a 
cada indivíduo. 
 No senso comum o termo personalidade é usado para descrever 
características marcantes de uma pessoa, como “ essa pessoa é extrovertida ou 
aquela menina é tímida” e etc., porém o conceito de personalidade está relacionado 
as mudanças de habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, e ao modo 
constante e particular do indivíduo perceber, pensar, sentir e agir, além da 
interferência de fatores culturais e sociais nessas características. 
Existem muitas teorias que estudam a personalidade, porém uma das mais 
importantes na história do estudo de personalidade está a de Freud. Para Freud, o 
comportamento é resultado de três sistemas que são o Id, o Ego e o Superego. 
O Id é inato (que nasce com o indivíduo, congênito) e regido pelo princípio do 
prazer, exige satisfação imediata dos impulsos, sem levar em conta as consequências 
indesejáveis. 
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O Ego é uma evolução do Id, pois apesar de conter elementos inconscientes 
como Id funciona muito mais a nível consciente e pré-consciente, dessa forma, 
comandado pelo princípio da realidade, o Ego cuida dos impulsos do Id e muitos dos 
desejos acabam sendo não satisfeitos, mas sim reprimidos. 
O Superego contém ideias derivadas dos valores familiares e sociais, por isso 
é um sistema parcialmente consciente que serve como censor das funções do ego, 
de onde derivam sentimentos de punição, medo e culpa. 
Desse modo, podemos considerar o Id como sendo o componente biológico, o 
Ego como o psicológico e o Superego como o social da personalidade, trabalhando 
juntos sobre a liderança do Ego. 
Portanto na teoria da sexualidade, Freud explica que a sexualidade é 
reconhecida como um instinto com o qual as pessoas nascem e que se expressa de 
diferentes formas de acordo com as fases do desenvolvimento que seriam a fase oral 
de (0 a 1 anos), fase anal de (1 a 3 anos), fase fálica de (3 a 6 anos), período de 
latência (6 a 12 anos) e adolescência (a partir dos 12 anos). Essas fases deixarão 
traços que definirão a estrutura da personalidade do indivíduo. 
É interessante também citar a teoria da personalidade estabelecida por Erich 
From. Ele vê a personalidade como um produto das condições culturais, ou seja, a 
personalidade se desenvolve a partir daquilo que a sociedade oferece. 
Acredita que a sociedade está doente e não satisfaz as necessidades do 
homem, porém o homem deve se ajustar a essa sociedade para escapar da solidão 
de outros homens e da natureza tentando se adaptar também a suas exigências 
interiores. Ou seja, a psicologia cientifica busca formar um embasamento teórico da 
personalidade, popularmente a personalidade é atribuída sendo boa ou ruim, porém 
na psicologia ela deve estar alheia a esse juízo de valor, sendo então o estudo das 
características que diferenciam os indivíduos. 
Na tentativa de agrupar e diferenciar as características da personalidade pode-
se dizer que os determinantes inconscientes do comportamento e os determinantes 
conscientes são fatores centrais entre algumas teorias da personalidade, porém 
considera-se também, a hereditariedade, a base biológica e os aspectos sociais do 
indivíduo aspectos relevantes na determinação da personalidade do indivíduo. 
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2.1 O desenvolvimento da personalidade 
Em primeiro lugar, há a concepção de que o ser humano é biopsicossocial, ou 
seja, toda sua dinâmica é composta pela influência dessas três esferas. A origem do 
comportamento humano e, consequentemente, da personalidade, segue essas 
vertentes: de um lado, estão as características genéticas e fisiológicas, e de outro, 
suas experiências em relação com o mundo. 
A influência da hereditariedade na personalidade é uma curiosidade antiga. Em 
1873, Charles Darwin salientou que a genética determina não só os atributos físicos, 
como a cor dos olhos ou a estatura, mas que também a personalidade e o 
comportamento sofrem influências de uma constituição biotipológica herdada. 
Estudos recentes e com técnicas mais avançadas comprovam as ideias de Darwin. 
Outro fator que, aliado à genética, determina a personalidadehumana é a 
interação social do sujeito desde a mais tenra idade, ainda na infância. 
O núcleo primário – e mais importante – de interação da criança é sua família. 
É a partir da relação com seus pais que ela aprende conceitos a respeito de si mesmo 
e do mundo a sua volta. 
Por exemplo, uma criança, cuja família a estimula e encoraja a encarar os 
desafios do seu desenvolvimento (como andar, falar, ir à escola), demonstrando-lhe o 
quanto é amada, terá maiores subsídios para construir uma personalidade com maior 
autoestima e a lidar de forma mais madura e adequada com os desafios e frustrações 
que surgirão ao longo de toda a sua vida. 
Outro exemplo é o da criança cujos pais são superprotetores. Ao evitarem 
expô-la às situações normais do desenvolvimento infantil, como não permitir que 
brinque num parque por temerem que o filho se machuque, ou não deixá-lo ir à casa 
de um amiguinho por acharem que ele não será cuidado adequadamente, essa 
criança aprenderá conceitos a respeito de si e do mundo de que viver é um risco, e 
que pode sofrer danos em muitas situações. Dessa forma, é provável que uma 
personalidade ansiosa seja desenvolvida, se houver pré-disposição biológica para 
isso. 
Esses dois exemplos nos mostram como o papel da família é fundamental no 
desenvolvimento da personalidade, pois criança reproduz o aprendizado que obtém 
na relação com seus pais, para a sua interação social como um todo. A esse 
aprendizado damos o nome de crenças. 
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As crenças são conceitos profundos e fundamentais a respeito de si mesmo, 
as outras pessoas e o mundo. Elas se desenvolvem na infância e são consideradas 
como verdades absolutas. Essas crenças determinam a forma como o indivíduo 
percebe uma situação, o que consequentemente influencia sua forma de pensar, 
sentir e se comportar diante dela. 
Essas crenças podem ser positivas e funcionais, o que proporciona ao sujeito 
uma personalidade saudável, com bom enfrentamento, interação social e escolhas na 
vida. Há também as crenças negativas ou disfuncionais, que podem surgir num 
momento específico da vida, acarretando algum tipo de problema emocional, como 
depressão ou ansiedade, ou dificuldade para lidar com uma dificuldade pontual. 
Isso ocorre com a maioria das pessoas, e, muitas delas, não apresentam 
maiores gravidades. No entanto, há casos em que essas crenças disfuncionais são 
extremamente rígidas, e ativadas constantemente, o que resulta num Transtorno de 
Personalidade. 
2.2 Definição de personalidade 
De um ponto de vista estruturalista, a organização das condutas supõe uma 
hierarquia de integrações que, no seio do sistema nervoso, preparam respostas 
unitárias a partir de informações parciais. De um ponto de vista funcionalista, 
reconhece-se que a coerência da personalidade resulta de uma construção no tempo, 
conseguida através das capacidades e meios do indivíduo. 
 Deste modo, os teóricos defensores dos traços defendem a existência de uma 
predisposição geral e abrangente para um determinado comportamento, 
negligenciando a importância da situação específica como influência desse mesmo 
comportamento. 
O movimento comportamentalista rejeita esta concepção, assumindo o 
comportamento como um número de sequências de estímulo-resposta, em que 
padrões gerais de resposta não são considerados. 
Atualmente, a psicologia orienta-se que numa perspectiva psicodinâmica, que 
privilegia as componentes motivacionais, que numa perspectiva cognitiva que 
sublinha as modalidades de tratamento da informação (Doron & Parot, 2001). 
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Do ponto de vista psicanalítico, a personalidade é determinada pelo 
temperamento e pelo carácter, ou seja, é considerada como uma integração 
dinâmica dos padrões de comportamento do sujeito que têm na sua base o 
temperamento, carácter, sistema de valores internalizados e capacidades 
cognitivas (Kernberg, 2006 apud João David 2010). 
Segundo McWilliams (2005), dentro da abordagem psicanalítica, é possível 
identificar diferentes perspectivas relativamente ao modo como a personalidade é 
entendida e, consequentemente, diferentes formas de intervenção. 
De acordo com a Teoria Pulsional, de Freud, é importante compreender em que 
fase desenvolvimento precoce o indivíduo se fixou, sendo que a personalidade é 
concebida como uma manifestação dos efeitos a longo prazo dessa fixação. 
A fixação ocorre, segundo este modelo, por uma excessiva frustração ou 
gratificação da criança, identificando-se aspectos problemáticos de determinado 
estágio de desenvolvimento. A psicologia do Ego, que deriva do Ego e Id, de Freud 
(1923), muda o foco de interesse dos conteúdos do inconsciente para os processos 
pelos quais esses conteúdos são mantidos fora da consciência, ou seja, a 
personalidade passa a ser entendida segundo o tipo de defesas do ego. 
Para além desta concepção, introduz-se ainda a hipótese de que a saúde 
psicológica envolve não só ter defesas maduras, mas ser capaz de utilizar vários 
processos defensivos, o que só é possível se o indivíduo tiver uma personalidade 
flexível, dotada de plasticidade. 
Na Escola das Relações de Objeto, Fairbain (1954) defende que as pessoas 
não procuram a satisfação pulsional, mas sim a relação, ou seja, não importa tanto o 
leite da mãe que satisfaz a criança, mas a experiência de ser cuidado e o vínculo que 
daí se estabelece. 
 Portanto, para compreender a personalidade, não é preciso identificar a pulsão 
com a qual se lidou mal na infância, saber a fase de desenvolvimento em que se fixou, 
nem saber as defesas do ego predominantes, mas sim perceber como foram os 
primeiros objetos vivenciados, como foram internalizados. 
A personalidade é, então, “considerada como padrões razoavelmente 
predizíeis de comportamentos parecidos com os dos objetos experenciados 
da infância precoce ou de indução de outros a comportarem-se como esses 
objetos” (McWilliams, 2005, apud, João David 2010). 
A Psicologia do Self, surge nos anos 60, como resposta a um sentimento de 
insuficiência dos outros modelos teóricos, face à problemática de alguns pacientes 
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que não podia ser respondida com problemas de gestão de impulsos instintivos e seus 
inibidores, funcionamento inflexível de determinadas defesas contra a ansiedade, nem 
ativação de objetos internos dos quais o paciente se diferenciou inadequadamente. 
Rogers (1951, 1961) sai da tradição psicanalítica e desenvolve uma teoria e terapia 
que tenta fazer da afirmação do self e da crescente autoestima do cliente uma marca 
distintiva. 
Para Kohut, era importante perceber as necessidades normais de idealização 
e as implicações na psicopatologia do adulto, de crescer sem objetos que possam ser 
idealizados e gradualmente desidealizados. 
 Embora existam, dentro do campo da psicanálise, diferentes modelos teóricos 
sobre a personalidade, qualquer teoria psicanalítica realça dinamismos, processos 
dinâmicos, em detrimento dos traços de personalidade, que são qualificados como 
atributos estáticos. Para as diferentes teorias psicanalíticas, “as pessoas organizam-
se em dimensões significativas para si e, emblematicamente, mostram características 
que expressam ambas as polaridades de qualquer dimensão saliente” (McWilliams, 
2005,). 
Do ponto de vista cognitivo, a personalidade pode ser entendida como um 
conjunto de características sócio emocionais de um indivíduo, que revelam alguma 
estabilidade temporal e que varia entre indivíduos da mesma cultura, atendendo à 
individualidade dos traços (Asendorpf, 2008). 
A personalidade, no adulto, resulta de uma combinação entre interação 
genética e influências do ambiente externo, ao longo do desenvolvimento. Portanto, a 
personalidade consiste em vários traços específicos que podem ser descritos sobre a 
forma de um padrão individual de traços (o que acontece, por exemplo, nos Big Five/ 
Cinco grandes), possibilitando a criação de um perfil estável individual. 
Estudos realizados na área das diferenças entre padrões estáveis de 
personalidade sugerem a hipótese de a estabilidade da personalidade ser maior em 
indivíduos que se revelaram mais competentes e resilientes ao longo da sua vida, o 
que aponta para o constructo de plasticidade. 
A plasticidade da personalidade parece estar pouco relacionada com 
influências ambientais ao longo do desenvolvimento, mas mais com aspectos 
genéticos (Asendorpf, 2008 apud João David, 2010). 
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O autor apresenta três princípios para o desenvolvimento da 
personalidade: 
 O primeiro prende-se com a alta plasticidade da personalidade ao longo 
do curso de vida; 
 o segundo refere-se à estabilidade a longo prazo da personalidade, o 
que depende de fatores genéticos (Rutter, 2006, cit por Asendorpf, 
2008), do fato de o próprio indivíduo escolher e modificar o seu ambiente 
externo como extensão da sua personalidade, do desenvolvimento e 
comprometimento com uma identidade pessoal que providencia pontos 
de referência para tomadas de decisão (assumindo uma função de filtro 
de experiências de vida e de interpretação de acontecimentos de forma 
concordante com a sua personalidade) e do fator resiliência, ou seja, da 
capacidade para enfrentar os desafios do ambiente externo; 
 O terceiro princípio do desenvolvimento da personalidade, princípio 
corresponsivo (Roberts et al., 2003, cit por Asendorpf, 2008), diz respeito 
ao fato de os traços que selecionam determinado ambiente serem os 
traços mais influenciados por esse próprio meio externo. 
Segundo Debray e Nollet (2004), o cognitivismo possibilita o estabelecimento 
da origem e coerência da personalidade, na medida em que se estuda o conteúdo 
mental (pensamentos, representações, imagens, crenças e interpretações), segundo 
um modelo informático do funcionamento mental. 
A psicologia cognitiva atribui um papel importante ao conceito de esquemas, 
no estudo da personalidade do indivíduo. A esquematização é um processo de 
categorização social, ou seja, da visão de si, dos outros e do mundo, de onde resultou 
a tríade de Beck. 
Segundo Beck (1955), influenciado pelo trabalho de Kelly (que afirma que a 
personalidade de um indivíduo resulta do conjunto dos seus constructos 
pessoais, através dos quais interpreta a realidade de forma singular) e pelas 
noções piagetianas, substitui a noção de constructo pela de esquema, (Beck 
1955). 
Os esquemas são “estruturas cognitivas que organizam a experiência e o 
comportamento, e são os principais organizadores da visão de si, dos outros, do 
mundo e do tempo” (Debray & Nollet, 2004), sendo específicos de cada sujeito. 
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Os esquemas dizem respeito às experiências precoces, aos traumatismos 
psicoafectivos, aos valores e preconceitos do seu meio socioeducativo e cultural, 
estando na base da personalidade de cada indivíduo. 
Para além do conceito de esquema, quando se aborda as questões da 
personalidade do ponto de vista cognitivo, é fundamental a noção de enviesamento 
de atribuição, ou seja, enviesamentos no processo de inferência que confere 
significado causal aos eventos, aos seus próprios comportamentos e aos dos outros, 
processos através do qual “o homem apreende a realidade, pode predizê-la e dominá-
la com vista a introduzir coerência, estabilidade e sentido na percepção do ambiente” 
(Heider, 1958, cit por Debray & Nollet, 2004). 
Segundo os autores, os enviesamentos de atribuição encontram-se em 
atividade nas perturbações de personalidade (e.g. atribuições externas estáveis de 
hostilidade e perigosidade caracterizam sujeitos paranóides, entre outros, e 
atribuições internas estáveis de vulnerabilidade ou precariedade vão mais no sentido 
de personalidades depressivas, entre outras). 
De forma não vinculativa às várias correntes teóricas sobre a personalidade, 
surgem dois modelos que assentam em cinco traços de personalidade, mas que têm 
origens diferentes: 
O Modelo dos Cinco Fatores da Personalidade (Costa & McCrae, 1992), que 
resulta de investigações feitas com base em questionários, e os Big Five (Goldberg, 
1992), que resulta de uma abordagem semântica e psicolexical. 
 No seguimento dos trabalhos de Cattel e Eysenck, foram identificados dois 
componentes essenciais da estrutura da personalidade: 
 A Extroversão 
 E o Neuroticismo, (Boyle, 2008; De Raad & Perugini, 2002). 
Depois de identificados como os Big Two, por Wiggins (1968), Costa e MacCrae 
(1976, 1985) incluíram a dimensão Abertura à Experiência (Openness to Experience) 
e, mais tarde, acrescentaram as dimensões Conscienciosidade (Conscientiousness) 
e a Amabilidade (Agreeableness) (De Raad & Perugini, 2002). 
Os Big Five (cincos grandes) serviram de base para o desenvolvimento de 
instrumentos de avaliação, funcionando como um modelo de referência. A dimensão 
Extroversão (e Introversão), tendo por base uma concepção junguiana, é a mudança 
de direção da energia psíquica das profundezas da psique para o exterior, estando o 
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indivíduo mais interessado no outro e predisposto para investir no exterior. Introversão 
é refletida por um interesse na própria psique e na preferência pela solidão. 
A dimensão Amabilidade diz respeito às relações interpessoais, ao sentimento 
de comunhão que é condição para pertencer a uma comunidade social e espiritual, 
estando associada a questões relacionadas com a saúde ou recuperação de uma 
situação frágil. 
 A dimensão Conscienciosidade diz respeito ao desejo de realização, 
caracterizando-se por aspectos como: ser organizado, sistemático, eficiente, prático e 
firme, sendo uma dimensão importante em contextos de trabalho e aprendizagem. 
 A dimensão Neuroticismo (ou Estabilidade Emocional) é um bom fator de 
avaliação de perturbações de personalidade, sendo um bom preditor de stress 
psicológico, estados de humor positivos ou negativos e estando associado a um 
elevado interesse em comparações sociais e em reações pouco favoráveis em 
pacientes vítimas de cancro. 
 A dimensão Abertura à Experiência, num contexto clínico, está associada a 
graves distúrbios comportamentais (De Raad & Perugini, 2002). De acordo com Boyle 
(2008) e De Raad & Perugini (2002), o Modelo dos Traços de Personalidade Big Five 
foi um dos que forneceu maior contributo à tentativa de organização do complexo 
domínio da personalidade, através da sua taxonomia e do ressurgimento dos traços 
como constructos centrais na análise da personalidade. 
Não obstante algumas críticas referentes à falta de uma teoria explícita para o 
desenvolvimento das disposições de personalidade, o modelo deseja apenas fornecer 
uma descrição da personalidade razoavelmente compreensível, apresentando os 
traços que são mais importantes nas descrições do próprio e dos outros, de uma forma 
que não favorece nenhum modelo teórico particular, enquanto a validade de outras 
descrições da personalidade dependem substancialmente da validade da perspectiva 
teórica particular de que derivam. 
Estudos mais recentes apontam para a necessidade de rever os Big Five, no 
sentido de se acrescentarem novas dimensões como Moralidade e Honestidade 
(Ashton & Lee, 2001; Ashton, Lee e Son, 2000), devendo este modelo ser entendido 
como ponto de partida e não como ponto de chegada (Boyle, 2008). 
Em suma, e face à variedade de definições do conceito que serve de base ao 
nosso estudo, a personalidade será definida como um conjunto de traços de 
carácter e temperamento pelos quais as pessoas se diferenciam entre si, na 
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forma como se relacionam consigo mesmas e com a sociedade que a rodeia. 
A formação da personalidade é assumida como uma construção individual, 
de desenvolvimento gradual e complexa (Doron & Parot, 2001apud João 
David 2010). 
3 PERSONALIDADE NORMAL 
A personalidade normal,de acordo com Kernberg (2006), assenta em quatro 
aspectos estruturais. Primeiro, caracteriza-se por um conceito integrado do self e 
outros significativos, que se refletem “na consciência interna e na aparência externa 
da coerência do self, formando uma pré-condição fundamental à autoestima normal, 
ao prazer consigo mesmo e gosto pela vida”. 
Este sentimento de integração vai permitir um investimento emocional no outro, 
o que requer uma dependência madura associada a uma noção de autonomia sólida. 
Segundo, deriva da identidade e força do ego, nomeadamente na capacidade para 
sentir afetos e controlar impulsos, para confiar, estabelecer relações recíprocas, o que 
é determinado pelas funções superegóicas. 
 Terceiro, uma personalidade normal requer um superego maduro e integrado, 
o que se revela numa consciência de responsabilidade, capacidade para uma 
autocrítica realística, flexibilidade na tomada de decisão e compromisso com normas, 
valores e ideias. 
Quarto, é necessária uma gestão adequada dos impulsos libidinais e 
agressivos, o que requer uma expressão completa das necessidades sexuais e 
sublimação de impulsos agressivos, sobre a forma de assertividade, resistindo aos 
ataques sem uma reação excessiva e sem voltar a agressividade contra o próprio self 
(Kernberg, 2006). Para Coleman (2005), a normalidade assenta na flexibilidade do 
uso das defesas, sendo que a sua maioria deve assentar em defesas maduras, não 
obstante a possibilidade (reduzida) de se utilizar defesas imaturas. 
Para Bergeret (2004), a personalidade normal “corresponde a uma estrutura 
profunda, neurótica ou psicótica, não descompensada (e que talvez nunca o venham 
a estar), estruturas estáveis e definitivas em si que se defendem contra a 
descompensarão por uma adaptação à sua originalidade. ” 
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4 MUDANÇA DA PERSONALIDADE 
Atualmente, no contexto terapêutico, define-se mudança de personalidade 
(Rogers, 2007) como uma mudança a nível estrutural, tanto superficial como em 
profundidade, que visa uma estrutura mais madura, com uma maior integração do eu 
e menos conflito interno. 
 Rogers continua, no seu artigo original de 1957 e que continua a ser relevante 
nos paradigmas psicoterapêuticos de hoje, afirmando que esta mudança só acontece 
no contexto relacional da psicoterapia, estendendo-se posteriormente para as 
relações exteriores (Silberschatz, 2007). 
No debate sobre este tema, existe uma questão que se coloca e que divide os 
teóricos em dois grupos: o fato de ser ou não possível mudar a personalidade de um 
paciente, em contexto psicoterapêutico, havendo os que defendem que é possível 
alterar a personalidade fundamental de um sujeito e os que defendem que tal 
mudança não é possível. 
Para tentar esclarecer este problema, tentaremos responder a duas questões 
que nos parecem essenciais quando abordamos este tema: 
A personalidade é passível de mudança? Se sim, em que aspectos essa 
mudança incide? 
Investigações recentes apontam para o fato de que tanto o tratamento 
psicodinâmico como o cognitivo, comportamental e farmacológico conduzem a 
mudanças na personalidade (Piper & Joyce, 2001; Paris, 2005, cit por Livesley, 2007). 
Segundo um estudo realizado por Coleman (2005), tanto a terapia psicanalítica como 
a cognitivo-comportamental produzem efeitos na mudança de cognições e defesas. 
Carl Rogers (2007) propõe seis condições necessárias e suficientes ao 
processo de mudança de personalidade, em contexto de psicoterapia: 
 Em primeiro lugar, é obrigatório que se estabeleça a relação, no sentido 
de seus dois intervenientes estarem em contato psicológico (sem 
relação, não há mudança); 
 Em segundo lugar, é necessário que o cliente esteja a vivenciar um 
estado de incongruência, sentindo-se vulnerável ou ansioso (ou seja, 
que haja uma discrepância entre a experiência atual e a forma como o 
indivíduo representa essa experiência); 
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 Em terceiro lugar, o terapeuta deve, no contexto relacional, revelar-se 
congruente, genuíno e integrado; 
 Em quarto lugar, o terapeuta deve aceitar incondicionalmente os 
aspectos do cliente não colocando condições de aceitação, o que implica 
uma predisposição a cuidar do outro, como pessoa separada, e não de 
forma possessiva ou como satisfação própria; 
 Em quinto lugar, o terapeuta deve experienciar um entendimento 
empático do quadro de referência interno do cliente, promovendo a 
comunicação desta experiência com o cliente (ou seja, o terapeuta deve 
conseguir sentir o mundo do seu cliente como se fosse seu, sem perder 
a sua identidade. Só quando o terapeuta consegue aceder a este mundo 
livremente e percebe-lo de forma genuína e empática, é que ele 
consegue comunicar com o cliente estes aspectos, partilhando a 
linguagem e compreensão do mesmo) e; 
 Em sexto lugar, a comunicação para o cliente do entendimento empático 
e aceitação incondicional do terapeuta deve ser feita a um nível mínimo, 
uma vez que está presente no comportamento, palavras e atitude do 
terapeuta e é entendida, quando de uma boa relação, pelo cliente 
(Rogers, 2007). 
Nesta proposta, o autor realça o fato de ser necessária alguma permanência 
temporal desta relação e coloca as possibilidades de mudança nos fatores relacionais, 
em detrimento das técnicas utilizadas pelos diferentes modelos. 
Segundo Silberschatz, critica Rogers no sentido de acreditar que com alguns 
pacientes é necessário focar as técnicas utilizadas e que a mudança de 
personalidade em psicoterapia também depende das características próprias 
do paciente, quer de forma direta (e.g. motivação para a mudança), quer pelo 
que essas características pessoais reativam no terapeuta (processos 
contratransferências) (Silberschatz 2007). 
Alguns estudos sobre mudança de personalidade (Roberts & Mroczek, 2008) 
tem revelado que esta ocorre ao longo dos diferentes períodos vida, de forma única e 
pessoal, associada às diferentes experiências de vida. 
 
 
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Quando comparados em estudos cross-sectional - transversal e longitudinais, 
adultos de meia-idade mostram valores mais elevados de Amabilidade e 
Conscienciosidade do que adultos mais jovens e têm pontuações mais baixas na 
Extroversão, Neuroticismo e Abertura. 
Num outro estudo (Roberts, Walton & Viechbauer, 2006, cit in Roberts & 
Mroczek, 2008; Asendorpf, 2008), que utilizou o modelo dos Big Five, verificou-se que 
nos jovens adultos (20-40 anos) aumentou a extroversão (na sua dimensão de 
domínio social), a conscienciosidade e a estabilidade emocional, diminuindo o 
neuroticismo; a amabilidade aumenta significativamente entre os 50 e 60 anos e a 
abertura à experiência aumenta depois dos 22 anos, diminuindo aos 60 anos. 
A maior variação dos traços ocorre entre os 18 e os 30 anos, estabilizando 
entre os 40 e os 50 e voltando a mudar entre os 50 e os 60. 
 A maioria dos estudos que os autores referem, verificou que as mudanças 
ocorrem num sentido positivo. 
McWilliams (2005), dentro de uma perspectiva psicanalítica, afirma que, apesar 
da personalidade poder ser substancialmente modificada pela terapia, ela não pode 
ser transformada. 
As pessoas mantêm os seus principais guiões, conflitos, expectativas e defesas 
internas, embora mantenham a possibilidade de expandir a sua autonomia e 
autoestima se forem clarificadas as componentes da sua personalidade básica. 
Independentemente de o contrato terapêutico incluir ou não um acordo para mudar a 
personalidade, a consideração da sua natureza por ambas as partes vai facilitar o 
trabalho da relação terapêutica. 
Segundo Debray e Nollet (2004), os esquemas das perturbações da 
personalidade são muito difíceis de mudar, apontando para uma impossibilidade na 
mudança de personalidade de um paciente. Para estes autores, o que é possível fazer 
é reforçar um esquema alternativo ou orientar para uma perspectiva socialmente 
proveitosapara o cliente. 
Na tentativa de responder à nossa segunda questão – Se a personalidade 
muda, em que aspectos essa mudança incide? 
Livesley (2007), entendendo a personalidade como um sistema organizado de 
componentes e subsistemas, afirma que cada um dá origem a diferentes domínios da 
psicopatologia. 
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O autor reconhece seis domínios da personalidade perturbada: 
A componente sintomática (e.g. ansiedade, depressão, comportamentos 
impulsivos), mecanismos de controlo que regulam emoções e impulsos, 
predisposições genéticas, sistema interpessoal (que é constituído por representações 
do outro, crenças, expectativas e estratégias comportamentais que influenciam a 
relação), sistema do self (conjunto de esquemas usados para organizar o 
autoconhecimento de forma coerente, o que atribui estabilidade às experiências e 
direção à ação). 
Na base destes dois últimos domínios, que se encontram interligados, esta a 
compreensão das regras que governam o comportamento humano (e.g. Teoria da 
Mente, o que sugere um trabalho de mentalização). 
Finalmente, o último domínio diz respeito ao meio ambiente, na medida em que 
o indivíduo seleciona, dá a forma, estrutura os seus contextos de forma a suportar a 
sua personalidade. Portanto, para o autor, quando se procura intervir, em contexto 
terapêutico, nas perturbações de personalidade, é necessário atender a estes 
aspectos. 
Livesley (2007) define cinco fases que constituem o processo de 
mudança: 
 Segurança – ocorre no início do tratamento e respeita ao momento de 
crise (descontrolo emocional, comportamento desorganizado, 
agressividade virada para o self ou para o outro), providenciando uma 
estrutura e suporte; 
 Contenção – associada à anterior, pretende conter impulsos e afetos, 
restituindo a capacidade de controlo comportamental, o que requer uma 
forte aliança, validação e compreensão empática; 
 Controle e regulação – Fase que continua após a resolução da crise, 
objetivando a redução dos sintomas, violência e ataques ao self, pela 
aquisição de competências de controlo do self que compensem as 
deficiências dos mecanismos regulatórios do self; 
 Exploração e mudança – O tratamento conduz à exploração e mudança 
de processos cognitivos, afetivos e motivacionais que estão subjacentes 
à problemática do paciente; 
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 Integração e síntese – O fim do tratamento requer a integração de 
fragmentos da personalidade e a síntese da nova estrutura, 
nomeadamente dos limites interpessoais, de um self mais coerente e de 
uma representação do outro mais integrada 
Segundo Livesley, o trabalho no tratamento de personalidades perturbadas 
implica a construção de uma relação de colaboração, a manutenção de um 
processo de tratamento consistente, a promoção da validação e a construção 
da motivação e do sentido de compromisso para a mudança, (Livesley 2007). 
Estas intervenções gerais permitem ao paciente uma vivência de um self 
estável em relação (com o terapeuta), o que contribui para a construção de um self 
mais coerente. 
Relativamente a intervenções mais específicas, o autor afirma que é importante 
aumentar do autoconhecimento (expandindo a visão dos pacientes dos seus 
problemas e aspectos do self, sobretudo em pacientes com perturbações de 
personalidade, nos quais o conhecimento do self está limitado, desorganizado e 
dividido ou suprimido), proporcionar novas experiências (dentro e fora do contexto 
terapêutico, nomeadamente experiências emocionais corretivas com o terapeuta, que 
poderão ser assimiladas e alargadas a outros contextos) e novas aprendizagens. 
Para o autor, é inconcebível esperar que os pacientes consigam mudanças 
profundas sem que lhes seja dada uma ajuda na construção de um novo script de 
vida, que lhes permita atribuir sentido ao que se passa consigo. Por outro lado, 
também é fundamental trabalhar com o paciente a manipulação e mudança no seu 
meio ambiente. 
A intervenção cognitiva tem um papel importante na modulação de esquemas 
mal adaptativos e modos de pensamento. As intervenções psicodinâmicas são úteis 
na modificação de padrões cíclicos de comportamentos interpessoais e na 
manipulação do evitamento e outras estratégias que criam resistências ao tratamento 
(Livesley, 2008). 
Dois importantes níveis de mecanismos de mudança são os que envolvem o 
paciente e os que envolvem o processo terapêutico, incluindo as técnicas utilizadas 
pelo terapeuta. 
O nível dos mecanismos cognitivos e defensivos do paciente são um aspecto 
importante: para a terapia cognitivo-comportamental, a incidência da intervenção para 
alcançar mudanças é nas cognições distorcidas. 
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 Para a terapia psicanalítica, a intervenção passa pelas defesas. Do ponto de 
vista cognitivo-comportamental, os sintomas são causados por pensamentos 
automáticos mal adaptativos que refletem a estrutura cognitiva. 
 Este modelo teórico utiliza como técnicas o questionamento socrático, a 
psicoeducação e o coaching para observar e modificar padrões de pensamento, afeto 
e comportamento. 
Do ponto de vista psicanalítico, a intervenção nos mecanismos de mudança é 
feita através das defesas, do tornar consciente o inconsciente ou da relação objetal, 
pela internalização do self e do outro. 
Neste modelo teórico, a relação é por si só uma ferramenta que estimula o uso 
de defesas mais maduras e promove o insight, através de técnicas interpretativas 
(Coleman, 2005). 
4.1 Mudanças psíquicas no quadro psicodinâmico 
Dentro da psicoterapia psicanalítica e da psicanálise, a avaliação das 
mudanças psíquicas revela-se uma tarefa complexa, dependendo dos diferentes 
fatores que intervêm no processo psicoterapêutico como a aliança terapêutica, a 
transferência, a conta transferência, a interpretação, entre outros (Alexandre, 2007). 
Estas dependem, ainda, da gravidade da patologia do paciente, bem como do 
modelo teórico e das concepções que o analista e o analisando fazem desta mesma 
transformação (Alexandre, 2007). 
Segundo Blum, no que respeita à natureza da concepção de mudanças da 
estrutura psíquica, existem algumas divergências decorrentes de diferentes 
modelos teóricos que sustentam a sua forma de entender o indivíduo e a sua 
estrutura (Alexandre, 2007). Contudo, a mudança, independentemente do 
modelo teórico, é entendida como um processo lento, silencioso e 
inconsciente (Blum, 1992). 
Neste sentido, torna-se relevante revisitar algumas perspectivas psicanalíticas, 
no que respeita à mudança e relação. 
O que define o terapeuta e o que, de fato, pode conduzir a uma mudança, são 
as atitudes que ele transporta para a relação terapêutica e não tanto as técnicas e 
instrumentos que utiliza. 
Esta atitude comporta a valorização do cliente e da sua experiência, um 
verdadeiro interesse pela pessoa, a confiança depositada pelo terapeuta na 
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capacidade de o paciente conseguir superar incongruências e o respeito pelo seu 
direito de ser livre na sua escolha. O fundamental na relação terapêutica é a 
autenticidade do terapeuta, que se espelha nesta relação pela sua humanidade 
(Santos, 2005). 
De acordo com Matos (1994), o melhor instrumento que o psicoterapeuta tem 
ao seu dispor é a sua capacidade empática e tolerância à espera, através das quais 
as comunicações contratransferências serão não intrusivas e promotoras do 
desenvolvimento da relação e mudança do paciente. Neste sentido, os movimentos 
de transferência e contratransferência assumem um importante papel no processo de 
mudança, no decorrer da psicoterapia. 
Para Symington (1999), a transferência é o “local central da cura”, uma vez que 
é através dela que o paciente transfere os seus maus objetos internos e requer ao 
analista uma capacidade emocional da zona específica onde se deu a falha no seu 
desenvolvimento. 
Freud introduz a noção de contratransferência,em 1910, como conceito que 
espelha a influência que o paciente exerce sobre o médico, influência esta que incide 
sobre os sentimentos inconscientes do analista (Tamburrino, 2007). 
Ferenczi, a propósito deste conceito, sublinha a necessidade de contato afetivo 
com o paciente e atribui um carácter fundamental, para a terapia, à capacidade de 
amar do próprio analista. 
 Para Freud, a mudança prende-se com a transformação do que é inconsciente 
em inconsciente, processo através do qual o ego adquiriria capacidades de 
elaboração dos conflitos psíquicos e uma maior plasticidade nas estruturas 
defensivas, o que conduziria a uma relação mais saudável entre as pulsões internas 
e a realidade (Rodrigues & Hutz, 1998). 
Klein, em 1946, debruça-se sobre o conceito de identificação projetiva, 
colocando em evidência a projeção de sentimentos de um no interior de outro, sendo 
que esta intrusão teria o objetivo de destruir, controlar ou tomar posse. 
Desta forma, embora não fale de contratransferência (por medo de que a 
aprovação do seu uso autorizasse os analistas a protegerem-se dos seus sentimentos 
através do paciente, projetando-os nele), aborda o fato de o analista ser afetado pelo 
analisando (Tamburrino, 2007). 
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Segundo a noção bioniana de continente-conteúdo, o bebê projeta na mãe as 
suas ansiedades e esta recebe as suas projeções, devolvendo-as desintoxicadas 
(continente). Fazendo um paralelismo com a relação terapêutica, o paciente vai 
projetar as suas angústias sem forma e o terapeuta recebe, contendo e devolvendo-
as transformadas (Rodrigues & Hutz, 1998; Leitão, 2003). 
Desta forma, a contratransferência pode ser compreendida a partir da 
capacidade de rêverie- devaneio, “entendida como a (in) capacidade por parte da mãe 
ou do analista para desenvolver um devaneio criativo que possa envolver o paciente 
ou o filho” (Cintra e Figueiredo, 2004, cit in Tamburrino, 2007). 
Tal remete para a importância da experiência corretiva, quando a criança 
experiencia algo de mais destrutivo contra a figura materna, elaborando fantasias 
agressivas de que ela à pode castigar, por um lado, a criança tem de ter a certeza de 
que tem capacidade para destruir o objeto mas tem de certificar-se de que ele não é 
destruído, por outro lado, é fundamental que a mãe seja capaz de receber e zangar 
e, contê-la, transformar a vivência e devolvê-la à criança de forma mais tolerável para 
a mesma. 
Esta é a resposta desintoxicante bioniana, que faz parte do papel do próprio 
terapeuta: o paciente fantasia uma resposta agressiva por parte do terapeuta mas 
recebe uma diferente das anteriormente vivenciadas (Azevedo e Silva, 2008). 
Para Bion, o aparelho psíquico está em constante evolução e tem capacidade 
para aceder à função analítica do pensamento (Rodrigues & Hutz, 1998). 
Winnicott realçou a importância da integração do indivíduo com o seu meio 
ambiente, desenvolvendo e sistematizando o seu corpo teórico em torno da premissa 
de que o aparelho psíquico se constitui por meio de processos, nos quais a 
participação do meio ambiente facilitador é fundamental. 
Este meio ambiente teria as suas raízes na primeira relação, nos cuidados 
adequados de uma mãe suficientemente boa, ou seja, o holding materno seria o 
primeiro facilitador desta integração com o meio (Winnicott, 1960; cit. in Rodrigues & 
Hutz, 1998). O autor transpõe esta noção de colo materno para a relação terapêutica, 
acreditando que o holding analítico era um fator imprescindível para o 
desenvolvimento do processo de análise e, consequentemente, para a mudança. 
Para Heimann (1995), a contratransferência “é a forma mais dinâmica na qual 
lhe chega a voz do paciente” (cit in Tamburrino, 2007). 
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 Kernberg (2004) vai no sentido desta afirmação, ao dizer que as fontes 
primárias da informação sobre a situação analítica são a experiência subjetiva do 
paciente, a manifestação não verbal e a contratransferência, mas realça que a 
contratransferência como caminho para conhecer o paciente varia consoante a maior 
ou menor capacidade do paciente para conter uma experiência primitiva na sua 
consciência subjetiva, uma vez que esta pode conduzir a reações contratransferências 
muito negativas. 
Segundo Kohut, o objetivo é a reabilitação da estrutura do self que, nas 
perturbações de personalidade, se encontra deficitária. Esta reestruturação é 
feita através da internalização do bom objeto (terapeuta) e de experiências 
passadas, que são revividas por uma psique mais madura (Kohut apud 
Rodrigues & Hutz, 1998). 
Um outro aspecto fundamental, e já identificado por Rogers, para que seja 
possível trabalhar a personalidade, na relação, é a empatia. Para Kohut (1971) e 
Greenson (1959), a empatia depende da capacidade introspectiva e do sentido de 
identidade do terapeuta, sendo um aspecto crucial da relação terapêutica. 
A perspectiva de Kohut sublinha que “a empatia possibilitava a condição de o 
analista se colocar no lugar do outro, propiciava uma vivência emocional 
compartilhada e possibilitava no paciente uma internalização transmutadora” 
(Zimerman, 1999, cit in Leitão, 2003). 
Complementando a importância da empatia, transferência e 
contratransferência, o insight é um dos processos de maior alcance da psicanálise. 
Embora não seja consensual, entre os analistas, a importância dada interpretação e 
ao insight, em detrimento da importância da nova relação e experiência alterada, a 
maior parte concorda que o insight é o motor que permite o desenvolvimento dos 
processos de mudança (Cooper 1992). 
Cooper (1992), ao fazer uma revisão histórica dos diferentes conceitos sobre a 
mudança psíquica, confronta-se com uma multiplicidade de pontos de vista que 
nascem dos diferentes modelos e práticas da maioria dos analistas. Este autor refere 
a existência de dois modelos principais de referência: 
O primeiro – spontaneous growth crescimento espontâneo – defende que o 
funcionamento do processo analítico lança as bases para que o paciente consiga 
retomar um crescimento normal que fora falhado. 
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O crescimento surge como uma metáfora comum para os analistas, quando 
pretendem descrever a mudança nos pacientes. O padrão de crescimento é um 
potencial inato do indivíduo que irá sendo preenchido na falta de resistências e 
obstáculos, durante o processo psicoterapêutico; o segundo modelo – assisted 
repair/reparação assistida, descreve o terapeuta como cirurgião, que apresenta uma 
função reparadora dos órgãos do paciente e que o ajuda e ensina a utilizar essas 
mesmas estruturas recentemente reparadas (Cooper 1992). 
A avaliação da estrutura de personalidade de um indivíduo, mesmo na ausência 
de uma perturbação, dá ao terapeuta uma orientação sobre o tipo de intervenção 
susceptível de ser assimilado pelo cliente e qual o estilo de relacionamento que o 
tornará mais receptivo à psicoterapia. 
 Ainda que ninguém corresponda integralmente às descrições sobre 
perturbações da personalidade, é possível situar a maior parte das pessoas numa 
área geral que dá ao clínico uma orientação quanto à direção a seguir para que a 
intervenção seja terapêutica (McWilliams, 2005). 
A mudança psíquica é o maior objetivo da psicanálise e das teorias que delas 
derivam. A grande maioria dos estudos revistos, sobretudo dentro da área da 
psicanálise, conclui que nenhum indivíduo é estanque, uma vez que se edifica na sua 
história e nas suas transformações (Doron & Parot, 2001), pelo que a psicoterapia 
poderá ter um papel ativo na reconstrução dessa história, como agente ativo no e para 
o processo de mudança. 
4.2 Personalidade perturbada 
De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), formula-se um diagnóstico de 
Perturbação de Personalidade quando se verificam os seguintes critérios: 
(A) - Padrão duradouro de experiência interna e comportamento que se desviamarcadamente do esperado na cultura da pessoa. Este padrão é expresso 
em 2 (ou mais) das seguintes áreas: 
 Cognição (formas de percepção e interpretação de si próprio, dos outros 
e dos acontecimentos); 
 Afetividade (variedade, intensidade, labilidade e adequação da resposta 
emocional); 
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 Funcionamento interpessoal; 
 Controle de impulsos. 
(B) - O padrão duradouro é inflexível e global numa grande variedade de 
situações pessoais e sociais. 
(C) - O padrão origina sofrimento clinicamente significativo ou deficiência na 
vida social, profissional ou noutras áreas importantes de funcionamento. 
(D) - O padrão é estável, de longa duração e o seu começo ocorreu, o mais 
tardar, na adolescência ou no início da idade adulta. 
(E) - O padrão persistente não é melhor explicado como manifestação ou 
consequência de outra perturbação mental. 
(F) - O padrão não é devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância 
(e.g. abuso de drogas, medicamentos) ou a um estado físico geral (e.g. 
traumatismo craniano). 
 As 10 perturbações de personalidade definidas no DSM-IV-TR estão 
divididas em 3 grupos, de acordo com semelhanças descritivas: 
No grupo A: 
 Caracterizado por comportamento e estilos de pensamento bizarros ou 
excêntricos, estão as Perturbações de Personalidade Paranoide, 
Esquizoide e Esquizotípica (com dificuldades sociais, seja por proteção 
a um sentimento de desconfiança ou um desligamento por indiferença 
ou incapacidade de manter relações íntimas). 
No grupo B: 
 Caracterizado por aparência dramática, emocionais e inconsistentes, 
estão englobadas as Perturbações de Personalidade Antissocial, 
Estado-Limite, Histriónica e Narcísica. 
No grupo C: 
 Caracterizado por pessoas geralmente ansiosas ou medrosas, estão 
incluídas as Perturbações de Personalidade Dependente, evitante e 
Obsessivo-Compulsiva. Este sistema de grupos descritivos ainda não foi 
validado cientificamente, apesar de se revelar útil no ensino e 
diagnóstico. 
Abaixo estão descritos o perfil disfuncional das características de cada um dos 
Transtornos de Personalidade, qual é a visão de si e dos outros, as principais crenças 
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centrais existentes e o padrão de comportamento esperado para cada um deles. 
Ressaltamos que o diagnóstico de um quadro patológico sempre deve ser feito por 
um profissional de saúde mental, com base num padrão comportamental rígido, 
inflexível e constante. 
AGRUPAMENTO A 
Transtorno de Personalidade Paranóide: 
Características principais: Desconfiança e suspeita quanto aos outros, 
interpretando as atitudes alheias como malévolas. 
Visão de si: Correto, inocente, nobre, vulnerável. 
Visão dos outros: Maliciosos, abusadores, discriminadores. 
Crenças: “As pessoas e suas ações são suspeitos”; “Nunca confie”; “Proteja-
se.” 
 Comportamento: Desconfiança, cautela, suspeita e busca motivos ocultos, 
sente-se ameaçado ou atacado sem que existem evidências concretas, acusação e 
contra-ataque. 
Transtornos associados ao Eixo I: Ansiedade, depressão, abuso de 
substâncias. 
Transtorno de Personalidade Esquizóide: 
Características principais: falta de relacionamentos interpessoais e falta de 
desejo de obter tais relacionamentos. 
Visão de si: solitário e autossuficiente. 
Visão dos outros: Intrusivos e indesejados, não compensadores 
Crenças: “Relacionamentos trazem problemas”; “As pessoas não são 
gratificantes”; “A vida é menos complicada sem outras pessoas”; “Simplesmente, não 
vale a pena se preocupar com relacionamentos humanos”; “Eu sou vazio por dentro”, 
“Tudo é sempre sem graça” 
Comportamento: Quase nenhum contato social, não deseja e nem gosta de 
relacionamentos íntimos, nem mesmo fazer parte de uma família, frieza emocional, 
distanciamento afetivo. 
Transtornos associados ao Eixo I: Devido à falta de sentimentos, é difícil um 
esquizóide apresentar algum quadro de Eixo I. Podem apresentar depressão, devido 
a crença de que a vida não vale a pena. Podem apresentar ansiedade quando da 
exposição a situações sociais. 
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A escassez de relacionamentos sociais pode levar a uma perda de contato com 
a realidade, e assim podem apresentar episódios psicóticos breves. 
Transtorno da Personalidade Esquizotípica: 
Características principais: formas excêntricas no comportamento e no 
pensamento; percepção distorcida da realidade e tendência ao isolamento. Ocorrem 
delírios e alucinações. Os pacientes apresentam ideias de referência, ou seja, 
acreditam ter poderes especiais para prever acontecimentos, ou para determinar a 
ação do outro. (Por exemplo, dizer que uma pessoa pegou um copo de água porque 
imaginou que isso deveria ocorrer horas antes). 
Também sustentam que determinadas situações se relacionam especialmente 
a eles, de forma mágica. As crenças distorcidas estão entre as mais severas dentre 
todos os Transtornos de Personalidade. Pode ser considerado uma forma leve de 
esquizofrenia. 
Visão de si: Ser especial, dotado de poderes mágicos; vulnerável aos outros. 
Visão do outro: Perigosos, intrusivos 
Crenças: “Existe uma razão para tudo, nada acontece por acaso”; “Posso ler o 
pensamento do outro”; “Alguém vai me fazer algum mal, preciso me cuidar o tempo 
todo”. “As pessoas me perseguem”; “Eu sou defeituoso. ” 
Comportamento: Ansiedade social, desconfiança, distanciamento afetivo, 
aparência e comportamentos esquisitos, crenças bizarras, superstições excessivas, 
acreditam ter “sexto sentido”. 
Transtornos associados ao eixo I: Esquizofrenia 
AGRUPAMENTO B 
 Transtorno de Personalidade Anti-Social 
Características principais: comportamento criminoso, desrespeito e violação 
às regras e aos direitos dos outros. Conhecido popularmente como “psicopatia”. Não 
possuem sentimento de culpa. 
Visão de si: Solitário, autossuficiente, forte, inteligente. 
Visão do outro: Vulneráveis e exploráveis. 
Crenças: “Tenho o direito de quebrar as regras”; “As pessoas são otárias e 
exploráveis”. 
Comportamento: Agressividade, impulsividade, ataque e crueldade a pessoas 
ou a animais, destruição da propriedade do outro, roubos, estupros. 
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É frequente a manipulação do outro para atingir seus desejos e objetivos, por 
isso, é comum mentir e enganar. Dificuldade em se adaptar a regras, ocorrendo perda 
de emprego repetidas vezes. Fracasso em planejar o futuro, mudando-se de um lugar 
para outro constantemente. Irresponsabilidade consigo mesmo e com os outros. 
Insensibilidade. Transtornos associados ao Eixo I: dependência química e depressão 
(apresentam muitas dificuldades em lidar com frustrações). 
Questão 06 - Transtorno de Personalidade Borderline: 
Características principais: Medo intenso de ser abandonado. Instabilidade 
nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nos sentimentos. Impulsividade 
marcante desde a adolescência. 
Visão de si: Ruim, impossível de ser amado e aceito. 
Visão do outro: Inconstante, variando entre a idealização e a desvalorização 
para uma mesma pessoa: “Ele é maravilhoso, vai me salvar”; “Essa pessoa não 
merece nenhuma consideração, é a pior do mundo”. 
Crenças: “Eu ficarei sozinho para sempre”; “Sou uma pessoa má”; “Ninguém 
me amaria se me conhecesse realmente”; “Nunca tem ninguém que satisfaça as 
minhas necessidades, que seja forte e que se preocupe comigo”. 
Comportamentos: O intenso temor ao abandono pode levar o indivíduo a não 
medir esforços para evitá-lo. A percepção, real ou imaginária, do abandono provoca 
ações impulsivas como automutilações ou comportamento suicida. Idealizam o outro 
e as relações, acreditando que a pessoa é um cuidador ou parceiro em potencial já 
no primeiro encontro; num segundo momento, passam a exigir a presença e o cuidado 
constante do outro, e como isso geralmente não ocorre, desvaloriza-o, considerando 
que o outro não se importa o suficiente. 
Oscilações frequentes: seja no humor,nos objetivos, nas opiniões, carreira, 
tipos de amigos e até da identidade sexual. A impulsividade se manifesta através de 
atos inconsequentes como: jogar, gastar e comer excessivamente, abusar de 
substancias, praticar sexo inseguro ou dirigir de forma irresponsável. 
 Apresentam reações emocionais intensas e desproporcionais à situação. 
Sentimentos crônicos de vazio. Transtornos associados ao Eixo I: Depressão, 
Transtorno Bipolar, abuso de álcool e drogas, Transtornos alimentares, principalmente 
bulimia. 
 
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Transtorno da Personalidade Histriônica 
Características principais: Excessiva emotividade, comportamento dramático 
e busca constante da atenção dos outros. 
Visão de si: Glamuroso e impressionante 
Visão do outro: Admiradores, seduzíveis 
Crenças: “As pessoas estão aí para me servir e admirar”; “Ninguém pode negar 
meus justos direitos. ” 
Comportamento: Desconforto quando não são o centro das atenções; para 
tanto, podem fazer algo dramático, como inventar estórias, dramatizar uma situação 
sem tanta importância, ou relatar um mal-estar. 
Utilizam da aparência física e de um apelo sexualizado para atrair a atenção e 
o elogio do outro, mesmo que para isso despendam muito tempo e um gasto excessivo 
para se vestir e se arrumar. Apresentam uma forte convicção a respeito de uma 
pessoa ou situação, porém com um embasamento vago, por exemplo, podem dizer 
que alguém é “maravilhoso”, mas sem conseguir fornecer detalhes que sustentem 
essa opinião. 
A exagerada expressão pública de emoções pode embaraçar os demais, por 
exemplo, abraços demasiadamente calorosos em conhecidos casuais, ou chorar e 
soluçar incontrolavelmente em situações de menor importância. Também costumam 
considerar os relacionamentos mais íntimos do que a realidade, descrevendo uma 
pessoa recém-conhecida como “amiga” ou “querida”. 
Transtornos associados ao Eixo I: Transtorno de Somatização, Transtorno 
Conversivo e depressão. 
Transtorno de Personalidade Narcisista: 
Características principais: Sentimento de grandiosidade, arrogância, 
necessidade da admiração dos outros e falta de empatia 
Visão de si: Ser especial, superior e único, merecedor de regras especiais. 
Visão do outro: Inferiores e admiradores 
Crenças: “Sou uma pessoa especial, então mereço regras especiais”; “Estou 
acima das regras”; “Sou muito melhor que os outros”. 
Comportamento: Esse sentimento de grandiosidade se manifesta por uma 
supervalorização de sua importância, de suas capacidades e realizações. 
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Essa crença é tão arraigada que se mostram surpresos ou irritados quando não 
recebem o louvor que idealizam ter, ou quando não recebem o tratamento que julgam 
merecer. 
Em suas relações, exigem que o admirem excessivamente e também a 
obediência automática às suas expectativas. 
Há um sentimento de menosprezo e desvalorização do outro, considerando-o 
com o inferior. Não levam em consideração os sentimentos e as necessidades alheias; 
essa falta de empatia aliada à grandiosidade pode resultar na exploração e 
manipulação do outro, para que sejam atingidos seus próprios desejos. A inveja é um 
sentimento muito comum, bem como a ideia de que é uma pessoa invejada. 
Transtornos associados ao Eixo I: Depressão, distimia, anorexia, e abuso de 
substâncias, principalmente cocaína. 
AGRUPAMENTO C 
Transtorno de Personalidade Esquiva 
Características principais: Também conhecido como personalidade evitativa, 
é marcado principalmente por uma esquiva comportamental, emocional e cognitiva 
generalizada. Esse comportamento é explicado pelo medo intenso de uma avaliação 
negativa por parte dos outros. 
Visão de si: Incompetente, socialmente incapaz, vulnerável à depreciação e à 
rejeição. 
Visão do outro: Crítico, superior, depreciador. 
Crenças: “É terrível ser rejeitado ou rebaixado”; “Se as pessoas conhecerem 
meu verdadeiro eu, me rejeitarão”; “Não consigo tolerar sentimentos desagradáveis”. 
Comportamento: Esses pacientes evitam atividades profissionais ou acadêmicas que 
envolvam contato interpessoal, por medo de serem criticados ou rejeitados. Além 
disso, recusam promoções no emprego por medo de serem desaprovados na nova 
função; também evitam novas amizades e relacionamentos, a menos que se 
certifiquem que serão amados e aceitos. 
Essas pessoas apresentam timidez excessiva, e se comportam de modo 
bastante reservadas, são muito quietos e tem dificuldade para falar sobre si mesmas 
e expressar sentimentos por medo de serem ridicularizadas. 
Referem que gostariam de ser invisíveis, pois qualquer atenção dirigida a elas 
pode resultar numa degradação. Qualquer crítica que recebam, por menor que seja, 
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pode acarretar-lhes reações intensas, como, por exemplo, sentirem-se gravemente 
magoados. Acreditam não ter nenhum atrativo. O medo intenso de se expor a 
situações sociais resulta num estilo de vida bastante limitado. 
Transtornos associados ao Eixo I: Fobia social, depressão. 
Transtorno de Personalidade Dependente 
Características principais: esse transtorno se caracteriza principalmente por 
uma necessidade excessiva de ser cuidado e protegido, levando o indivíduo a uma 
submissão e um apego intenso ao outro, devido ao medo da separação. 
Visão de si: Carente, fraco, indefeso e incompetente. 
Visão do outro: Idealizam os outros como sendo provedores, apoiadores e 
competentes. 
Crenças: “Só conseguirei sobreviver se alguém cuidar de mim”; “Necessito das 
pessoas para ser feliz”. 
Comportamento: Dificuldade em tomar decisões simples, como escolher a 
roupa que irão vestir, solicitando conselhos excessivos a outras pessoas. Apresentam 
uma forte passividade em suas relações, deixando com que outra pessoa tome a 
iniciativa e faça escolhas para áreas importantes de sua vida. 
Por exemplo, é comum que outra pessoa decida que tipo de trabalho vai 
exercer, ou com quais pessoas deve se relacionar. 
A convicção de serem incapazes de funcionar de modo independente e o 
sentimento de incapacidade são tão intensos, que esses pacientes não discordam da 
opinião do outro, e concordam com coisas mesmo que as considerem erradas, por 
medo de perder o apoio e atenção que tanto necessitam. Não possuem iniciativa para 
suas realizações, e esperam que o outro dê o ponto de partida por acreditam que o 
outro é quem sabe fazer melhor. 
A necessidade de manter o vínculo com o outro é tão exagerada, que leva o 
indivíduo a se submeter às vontades do outro, mesmo que lhe sejam desagradáveis, 
somente para não perder o apoio e o cuidado. 
Geralmente, esse padrão resulta em relacionamentos bastante 
desequilibrados, permeados de agressões físicas e verbais. 
Quando um vínculo importante se rompe (por exemplo, término de um 
relacionamento ou morte de um dos pais), os pacientes com essa personalidade 
buscam, rapidamente, substituir a pessoa que perderam, muitas vezes de forma 
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indiscriminada. Transtornos associados ao Eixo I: Depressão, transtornos de 
ansiedade, transtornos de ajustamento. 
Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva 
Características principais: Preocupação excessiva com organização, 
detalhes, perfeccionismo, controle emocional e polidez. 
Visão de si: Responsável, confiável, obstinado e competente. 
Visão do outro: Irresponsáveis, negligentes, incompetentes e autoindulgentes. 
Crenças: “Só eu sei o que é melhor”; “Os detalhes são cruciais”; “Eu preciso fazer com 
perfeição”; “Os outros deveriam fazer com mais afinco”; “Cometer um erro é fracassar” 
Comportamento: Necessidade de controlar as situações através de um apego 
extremo a regras, detalhes, procedimentos, listas, horários e formalidades. Repetem 
diversas vezes uma mesma tarefa, a fim de buscar possíveis erros. 
O perfeccionismo que exige de si mesmo resulta em perda de prazos. Por 
exemplo, um relatório jamais é finalizado, pois cada detalhe deve estarabsolutamente 
perfeito. São extremamente dedicados às obrigações, como trabalho e produtividade, 
excluindo totalmente situações de lazer e relacionamentos afetivos. Quando se 
permitem um momento de descanso, como no final de semana, sentem-se 
desconfortáveis e culpados, por sentirem que estão “perdendo tempo”. 
Seguem padrões morais bastante rígidos, restritos e inflexíveis, e exigem que 
o outro siga o mesmo padrão, exigindo que tudo seja feito à sua maneira. 
 Recusam-se a fazer um favor para o outro, considerando que este deveria se 
prevenir para não ter nenhum problema, e que deve “aprender a andar com as 
próprias pernas”. Relutam em descartar objetos usados e inúteis, por considerarem 
um desperdício e também para serem utilizados numa “emergência”. 
Tendem a não delegar tarefas por acreditarem que o outro não as fará bem. 
Quando delega, o faz com uma riqueza de detalhes e exigências, sem permitir que o 
outro sugira um modo alternativo. 
 Levam um padrão de vida muito abaixo do possível, pois acreditam que os 
gastos devem ser rigorosamente controlados, a fim de se prevenirem de futuras 
catástrofes financeiras. São muito rígidos em suas opiniões; seus planos são 
minuciosamente detalhados e são extremamente avessos às mudanças. Necessitam 
estar no controle de tudo. 
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Transtornos associados ao Eixo I: Transtorno obsessivo-compulsivo, 
depressão. 
Transtorno da Personalidade Passivo-Agressiva: 
As pessoas com esse transtorno apresentam um estilo oposicional. O principal 
problema é um conflito entre seu desejo de obter benefícios por meio das autoridades 
e seu desejo de manter a autonomia. 
 Então procuram manter o relacionamento, permanecendo passivos e 
submissos, mas, à medida que sentem a perda da autonomia, subvertem a 
autoridade. Possuem uma visão de si como sendo auto-suficientes, vulneráveis ao 
controle e a interferência; veem os outros como intrusivos, exigentes, interferentes, 
controladores e dominadores. Suas principais crenças são: “os outros interferem em 
minha liberdade de ação”, “o controle por outros é intolerável”, “tenho de fazer as 
coisas a minha maneira” (Beck & Freeman). 
De acordo com J. Beck (2007), as estratégias compensatórias tanto 
hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: fingir cooperação; evitar afirmações, 
confronto e recusa direta; resistir ao controle dos outros; resistir a assumir 
responsabilidades; resistir em atender às expectativas dos outros. 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar assumir 
responsabilidades razoáveis para si e para os outros; fazer de maneira direta a 
solução de problemas interpessoais. 
Os atuais critérios diagnósticos desse transtorno mudaram de um 
conglomerado de comportamentos oposicionais para um constructo de personalidade 
mais dimensional, a personalidade negativista. Atualmente, o diagnóstico é 
formalmente categorizado como transtorno da personalidade, sem outra 
especificação (APA, 2002). 
A personalidade se constitui nas características que diferenciam cada um dos 
seres humanos. Não há uma forma certa ou errada de ser e se comportar. O mundo 
necessita dessas diferentes personalidades para que possa funcionar em todos os 
níveis, e de forma saudável. 
Cada tipo de personalidade se encaixa num tipo de profissão, ou combina 
melhor para se relacionar, etc., no entanto, podemos ver que existem quadros 
patológicos ou Transtornos de Personalidade. 
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Nesses casos, que tem gravidade importante, e é necessária a intervenção 
integrada entre psicólogo que vai auxiliar o paciente a desenvolver padrões de 
pensamentos mais flexíveis e comportamentos mais adaptativos e o psiquiatra, já que 
em todos os casos é necessária a intervenção com medicamentos. 
Segundo APA, está, ainda, englobada uma categoria para Perturbação de 
Personalidade Sem Outra Especificação, para Perturbações de 
Personalidade de definição ambígua ou externa à classificação (APA, 2002). 
Dentro do paradigma Cognitivo-Comportamentalista (Beck, 1990), podemos 
compreender a perturbação de personalidade como uma manifestação patológica do 
sistema de esquemas cognitivos, que atrás foi referido. Uma metáfora fácil e de uso 
comum nos anos 60 é a do “computador defeituoso”, cujos “programas” são 
enviesados, produzindo resultados errados. 
Enviesamentos cognitivos são esquemas cognitivos patológicos, que através 
da alteração da percepção e interpretação aos eventos exteriores se tornam mal 
adaptativos, mas com ganhos secundários que se reforçam, rigidificando-se a nível 
psíquico. Estes enviesamentos podem ser relativos ao contexto, relativos ao 
observador ou a ambos (Debray & Nollet, 2004). 
Do ponto de vista psicanalítico, só é apropriado considerar que alguém tem um 
caráter patológico ou uma perturbação de personalidade quando as suas defesas são 
tão estereotipadas que impedem o desenvolvimento psicológico e a adaptação. 
Determinadas situações destacam aspectos da personalidade de qualquer pessoa 
que, sobre outras circunstâncias, podem manter-se latentes, ou seja, é fundamental 
que, ao realizar o diagnóstico, o terapeuta avalie o impacto relativo dos fatores 
situacionais e dos fatores caracterológicos (McWilliams, 2005). 
Embora, como temos vindo a demonstrar, a patologia seja entendida de forma 
diferente, segundo os modelos teóricos existentes, é transversal às várias teorias que 
a perturbação de personalidade envolve distúrbios crônicos nas relações 
interpessoais e uma falha na construção de um self e identidade coesos. 
Muitos dos problemas encontrados nos tratamentos respeitam às 
problemáticas do self e da relação, que impedem o estabelecimento de um trabalho 
relacional, e aos padrões mal adaptativos e reações emocionais que acabam por 
impedir a terapia (Livesley, 2007). 
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4.3 Neurobiologia, tratamento, genética e etiologia dos transtornos citado a 
acima de personalidade 
Transtorno da personalidade paranoide: 
Diagnóstico Diferencial e Comorbidades 
A personalidade paranoide possui comorbidades com outros TPs do Grupo A 
esquizoide e esquizotípico, fato que contribui para a dificuldade de estudar esse tipo 
de transtorno como entidade distinta. 
 A personalidade paranoide se assemelha à personalidade esquizoide por 
causa da presença compartilhada de frieza e distanciamento, porém difere pela 
ausência de ideias paranoides na TP esquizoide. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: estudogeral.uc.pt 
O TP paranoide difere da personalidade esquizotípica pela ausência de 
pensamentos estranhos, sonhos e de perturbações perceptivas. 
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Possivelmente, no contexto de estresse, a paranoia transitória talvez seja uma 
característica da personalidade emocionalmente instável (borderline ou limítrofe), 
embora essas pessoas sejam diferentes de indivíduos com TP paranoide devido à 
presença de relacionamentos intensos, ideias suicidas, autoflagelação e do 
sentimento de apego e abandono. 
Além disso, acredita-se que a paranoia seja uma característica de outros 
transtornos do espectro da esquizofrenia, como o transtorno esquizofrênico e delirante 
(em particular, os tipos persecutórios ou ciumento), embora ela seja distinguida pela 
ausência de desorganização, desilusões e alucinações. 
Entretanto, a personalidade paranoide possivelmente seja suscetível a 
episódios psicóticos breves, embora eles possam diminuir em alguns minutos ou 
algumas horas, ao passo que os sintomas das pessoas esquizofrênicas tenham 
duração mais prolongada. 
Comorbidade é a regra, e não a exceção, devido à natureza dimensional geral 
da paranoia e inclui o diagnóstico de outros tipos de TP e transtorno de humor, tais 
como o transtorno depressivo maior, ou o diagnóstico de transtorno por estressepós-
traumático (TEPT). Além disso, há registros de taxas mais elevadas de alcoolismo e 
de comportamento agressivo em pessoas com TP paranoide, em comparação com 
outros transtornos de personalidade. 
Embora os pacientes com TP paranoide provavelmente apresentem taxas mais 
elevadas de comorbidades médicas, os estudos na literatura médica sobre esse tema 
são muito limitados. Um estudo registrou uma prevalência maior de determinados 
tipos de TP, incluindo TP paranoide, em uma amostragem de pacientes com síndrome 
de fadiga crônica em comparação com controles saudáveis 
Os relatos indicam que o TP paranoide também está relacionado ao aumento 
no risco de doença cardiovascular, assim como outros TPs do Grupo Além disso, um 
estudo apresentou taxas elevadas de TPs (61%), incluindo TP paranoide (21,3%), em 
pacientes com o transtorno de somatização. Porém, são necessários estudos 
adicionais para estabelecer a ligação entre personalidade paranoide, morbidade 
médica e resultados. 
Etiologia: 
Há uma forte correlação entre trauma e abuso na infância (físico, sexual ou 
verbal) e o desenvolvimento subsequente de sintomas consistentes com TP 
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paranoide. Essa relação é menor em outros tipos de TP, incluindo os transtornos 
emocionalmente instável, antissocial e obsessivo-compulsivo, que também 
apresentam índices mais elevados associados a traumas na infância. Além disso, 
alguns relatos indicam que o TP paranoide está entre os três TPs mais comuns em 
pessoas com lesões cerebrais traumáticas. 
Genética: 
A maior parte das pesquisas sobre TPs do Grupo A tem como foco as 
comparações genéticas com os transtornos do espectro da esquizofrenia. Embora a 
ligação entre esses transtornos do Grupo A e esquizofrenia seja mais forte nos casos 
de transtorno de personalidade esquizotípica (TPE), alguns estudos de associação, 
mas não todos eles, indicam que há taxas mais elevadas de TP paranoide em 
parentes de primeiro grau de pessoas com esquizofrenia. 
Ainda que haja uma grande variação nos estudos de herdabilidade, alguns 
estudos de gêmeos registraram uma herdabilidade de 0,28 e 0,21%, usando uma 
amostragem da população norueguesa. Provavelmente, o TP paranoide tenha uma 
relação genética mais forte com o transtorno delirante, o que parece lógico, levando-
se em conta a sobreposição de sintomas entre os dois diagnósticos. 
Neurobiologia: 
Há uma grande escassez de estudos biológicos ou laboratoriais 
sobre personalidade paranoide, sendo que a maior parte das pesquisas tem como 
foco os transtornos do Grupo A. A grande maioria dos estudos imagiológicos, 
neurocognitivos, psicofisiológicos e outros tipos de estudos sempre teve como foco 
a personalidade esquizotípica. 
No entanto, existem evidências da existência de uma conexão entre surdez e 
paranoia, que possivelmente esteja relacionada às alterações na detecção e no 
processamento de estímulos auditivos nos casos de TP paranoide, em comparação 
com outros tipos de TP, criando uma certa suspeição em relação às informações de 
outras fontes. 
Prevalência: 
De acordo com o DSM-5, a prevalência de TP paranoide está na faixa de 2,3 a 
4,4%, enquanto que um estudo realizado na população norueguesa registrou uma 
prevalência de 2,4% e uma amostragem coletada na Grã-Bretanha registrou uma 
prevalência de 0,7%. Outro artigo documentou uma taxa de 4,2% entre pacientes 
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psiquiátricos na comunidade, embora a taxa tenha sido muito mais baixa (0,7%) nos 
casos das comorbidades incluídas no estudo. Os relatos indicam que a ocorrência 
de TP é mais comum em homens. 
Prognóstico: 
O curso da personalidade paranoide é marcado pelo isolamento social e por 
problemas de relacionamento interpessoal que, ulteriormente, agravam o 
desempenho das pessoas na escola e no trabalho. Na realidade, há evidências de 
uma queda geral na qualidade de vida, semelhantes às evidências observadas 
no TPE e no TP esquizoide, em comparação com pessoas sem nenhum TP. 
Ocorre também uma queda no desempenho funcional, medido pela Global 
Assessment of Funcioning (GAF), nas situações em que os participantes forem 
comparados entre as idades de 22 e 33 anos. Um dos estudos registrou o fato de que 
o TP paranoide foi o diagnóstico de TP feito com mais frequência (73%) em uma 
amostragem de pessoas sem teto em um centro de acolhimento na Cidade de Nova 
Iorque, e de pessoas com determinados tipos de TP, incluindo TP paranoide 
(personalidades antissocial, evasiva e dependente), sendo que todas elas tinham 
maior probabilidade de receber assistência médica pública. 
De um modo geral, as pessoas com TP paranoide são marcadas por traços 
como indiferença, excesso de hostilidade e tendência para discussões e, às vezes, se 
tornam verbalmente agressivas e poderão se tornar belicosas ou se envolver em 
disputas prolongadas sobre assuntos aparentemente menos importantes. 
Como resultado, eles criam problemas específicos para os médicos e para as 
equipes de hospitais ou de clínicas, tendo em vista que geralmente essas pessoas 
são inflexíveis, e sua teimosia poderá levar a longas ausências ou mesmo faltas às 
consultas e aos tratamentos. Talvez essa seja a razão que dificulta a localização 
desses indivíduos e o estabelecimento do diagnóstico na população clínica. 
Tratamento: 
Há poucas publicações, se é que há alguma, de estudos sobre o tratamento 
controlado de TP paranoide, sendo que aqueles mencionados na literatura publicada 
consistem de estudos de paranoia ou testes que investigaram uma combinação de 
TPs. Os únicos estudos de psicoterapia para TP paranoide são relatos de casos 
isolados que consideraram os possíveis efeitos positivos da terapia cognitiva. 
 
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Transtorno de Personalidade Esquizoide 
Diagnóstico Diferencial e Comorbidades: 
Com frequência, as características comportamentais comuns levam os 
médicos a confundir personalidade esquizoide com outros transtornos de 
personalidade do Grupo A e com transtornos do espectro da esquizofrenia, tais como 
esquizofrenia e transtorno delirante. 
 Os pacientes com TP esquizoide podem ter episódios psicóticos breves, com 
duração de alguns minutos ou horas, embora esse tipo de transtorno seja diferente de 
esquizofrenia e de transtorno delirante pela ausência de delírios persistentes, 
alucinações e desorganização. 
A ausência de paranoia e de TPE, definida pela ausência de sonhos e de 
déficits cognitivos, facilita a distinção entre TPE e TP paranoide. Com frequência, o 
TP esquizoide é confundido com transtorno de personalidade emocionalmente 
instável (TPEI) e, de um modo geral, embora possam ser diagnosticados em conjunto, 
esses transtornos podem ser diferenciados pelo fato de que as pessoas com TPEI se 
sentem incomodadas e embaraçadas pelo isolamento social, ao passo que os 
indivíduos com TP esquizoide não se incomodam com seu desprendimento 
emocional. 
Por essa razão, acredita-se que pessoas com TP esquizoide tenham também 
o transtorno do espectro autista, embora não apresentem nível tão elevado de 
problemas nas interações sociais (observados nas formas mais graves de autismo) 
ou comportamentos ou interesses estereotipados (observados nas formas mais 
brandas anteriormente conhecidas como síndrome de Asperger, que, atualmente, é 
classificada no espectro do autismo).2 
O TP esquizoide tem altas taxas de comorbidade com distimia, fobia social, 
ansiedade generalizada, transtorno do pânico e outros TPs do Grupo A. 
Embora as pesquisas de comorbidades médicas individuais do TP esquizoide 
sejam limitadas, os estudos feitos com outros TPs indicam que há um aumento no 
risco de ocorrência de doença cardiovascular, obesidade e síndrome de fadiga 
crônica. 
 
 
 
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Etiologia: 
As evidências sugerem que o abuso sexual, verbal ou emocional na infância 
provavelmente aumente o risco de desenvolver sintomas

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