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Cardiotônicos e Farmacoterapia da Insuficiência Cardíaca Luciano Sampaio Guimarães - Medicina UFPE 144 · Fisiologia · As principais causas da IC são: HAS, isquemia miocárdica (IAM), doenças valvares · Ocorre quando o débito cardíaco é insuficiente para prover o oxigênio necessário · A pressão elevada no sistema arterial (RVP) por longos períodos faz com que o m. cardíaco precise de uma contração maior, gerando hipertrofia ventricular (não significa IC, mas é um sinal) · Remodelação: substituição do tecido cardíaco (células vivas, contráteis) por tecido fibroso. É muito prejudicial, gera dilatação ventricular. · O coração ejeta 55-65% de seu volume numa sístole; · Na insuficiência, sobra mais volume residual: · Esquerda: ventrículo esquerdo está mais cheio do que o normal após a sístole → átrio esquerdo fica mais cheio → as veias pulmonares não conseguirão desembocar totalmente o sangue → há congestão pulmonar porque o sangue não flui. · Gera quadro clínico de dispneia (comprometimento do lado esquerdo do coração) · Direita: geralmente ocorre após comprometimento do lado esquerdo; artéria pulmonar não desemboca toda → ventrículo direito cheio → átrio direito não consegue desembocar totalmente → veias cavas não conseguem desembocar no átrio direito. · Gera quadro clínico de hepatomegalia, ascite, edema de m. inferior · Causa primária: hipertensão arterial pulmonar (+ comum), estenose pulmonar, IAM OBS: geralmente, a art. pulmonar fica cheia justamente pelo pulmão já estar congestionado porque a veia pulmonar estava cheia. · Classes Funcionais da IC · I: sintomas (dispneia) apenas com esforços extra-habituais. Nenhuma limitação, apesar de doença cardíaca diagnosticada · II: paciente assintomático em repouso, sintomas com esforços habituais; limitação física leve · III: sintomas com esforços menores que os habituais, limitação física moderada · IV: sintomas em repouso, grave limitação física · Objetivos do Tratamento da ICC · Diminuir a pré-carga e a pós-carga · Reduzir os efeitos do SNS e do SRAA · Evitar remodelamento do tecido muscular cardíaco · Quando não consegue se atingir os objetivos acima, o objetivo passa a ser aumentar a contração muscular cardíaca · Classes Farmacológicas 1. Cardiotônicos: aumentam a força de contração cardíaca (inotrópicos positivos) [1.1] Glicosídeos digitálicos · Ação: inibição da Na+/K+ ATPase da célula muscular cardíaca · Aumenta o Na+ intracelular, inibindo o trocador Na+/Ca2+ e aumentando o Ca2+ intracelular → ↑ força de cont. · Em dose terapêutica, reduzem a FC por aumentarem a atividade do nervo vago (parassimpático), retardando a condução atrioventricular, lentificando-a · Inotropismo positivo e cronotropismo negativo · Efeitos adversos: arritmias, distúrbios visuais, desorientação, alucinação, agitação, crises convulsivas, ginecomastia, náusea, vômito e diarreia [1.2] Agonistas adrenérgicos: · Utilizados em situação de grave redução do DC (IC descompensada), geralmente em UTIs ou no choque cardiogênico [1.3] Inibidores da fosfodiesterase III: · Provocam aumento do AMPc intracelular, gerando ↑ contratilidade cardíaca e ↓ RVP [1.4] Levosimendana/Sensibilizador do Ca2+: · ↑ afinidade da troponina ao cálcio, estimulando a contração do m. cardíaco · Ativa canais de K+ dependentes do ATP, gerando hiperpolarização da musculatura lisa arterial, causando vasodilatação, melhorando o DC · Usado em ambiente hospitalar e na IC descompensada 2. Diuréticos: · Usados para a redução do componente congestivo da ICC e para o tratamento de complicações agudas (EAP) · No início, pode-se usar diuréticos tiazídicos, mas os de escolha são os diuréticos de alça (↓ volemia – ↓ pré-carga) 3. Bloqueadores β-adrenérgicos · Usa-se os de 3ª geração, porque além de β-bloqueadores, possuem ações cardiovasculares adicionais · Carvedilol: antagonista β não seletivo e antagonista α1 – vasodilatação, ↓ RVP, ↓ pós-carga · Metoprolol, bisoprolol e nebivolol: antagonista β1 seletivo e indutor da formação de NO · NO: ação vasodilatadora, diminui pré-carga, melhora pós-carga · Seu uso gera diminuição do tônus simpático (↓ FC e PA) e ↓ liberação de renina no aparelho justaglomerular · ↓ FC: aumenta o tempo de enchimento ventricular · A diminuição indireta da RVP pela inibição da lib. de renina facilita o débito cardíaco · ↓ remodelamento cardíaco por bloquear ação da noradrenalina 4. Inibidores do SRAA: cumprem todos os objetivos do tratamento da IC, exceto o último · Antagonistas da Renina · Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (iECA) · Bloqueadores dos Receptores AT1 da Angiotensina II (BRA) · Diminui remodelamento cardíaco (angt. II é muito fibrogênica); · Reduzem pré-carga (↓ lib. de aldosterona – ↓ volemia, portanto ↓ enchimento ventricular) e pós-carga (vasodilatação) · Benefícios: · Diminuição da pré-carga (por redução da retenção de sal e água via aldosterona e via própria angiotensina II) · Diminuição da pós-carga (por redução da resistência vascular periférica) · Diminuição do tônus simpático · Diminuição da remodelação do tecido cardíaco 5. Antagonistas da Aldosterona: · Diminuição da pré-carga · Diminuição da remodelação do tecido cardíaco · Se uso concomitante com diurético de alça, reduz o risco de hipocalemia (faz parte do grupo dos poupadores de potássio) 6. Inibidor da Neprisilina: nova classe, só existe um (SACUBITRIL) · A neprisilina é uma enzima que degrada os peptídeos natriuréticos (produzidos por átrios e ventrículos), que têm liberação estimulada pela distensão da parede do coração (↑ volemia) e seriam responsáveis pelo aumento da natriurese – ↑ excreção de Na+ – ↑ excreção de água · Ao inibir a enzima que degrada, há ↑↑ dos níveis de peptídeo natriurético · A neprisilina degrada, também, a bradicinina, gerando ↑↑ níveis de bradicinina (vasodilatação) · Casos Práticos · Paciente de 60 anos, com diagnóstico de HAS de longa data, recebe o diagnóstico recente de ICC. Não apresenta queixa de dispneia quando realiza as atividades habituais, somente quando as extrapola. ↳ iniciar protocolo de IC. Se ele já usa algum desses fármacos, associa com os outros, se não, inicia-los. ↳ uso de inibidor de SRAA (iECA ou BRA), β-bloqueador de 3ª geração e bloqueador de aldosterona · Paciente de 52 anos, com história de IAM há 6 anos, chega ao ambulatório queixando-se de dispneia que surgiu recente, mesmo realizando as atividades que executava antes sem sintomas, além de edema de membros inferiores. ↳ edema de m. inferiores já indica congestão, comprometimento do lado direito do coração ↳ uso de inibidor de SRAA (iECA ou BRA), β-bloqueador de 3ª geração, bloqueador de aldosterona e diurético de alça (devido ao edema, sinal de congestão) · Paciente de 63 anos, com diagnóstico de insuficiência cardíaca há 3 anos, em uso de carvedilol, enalapril, furosemida e espironolactona, vem referindo piora progressiva da dispneia. ↳ já usa tudo em dose máxima, déficit contrátil significativo; entrar na fila de transplante; pouco antes, usar fármaco digitálico (cardiotônico) para ter menos dispneia, melhorar qualidade de vida
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