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Desenvolvimento cerebral – Mito ou fato? • Mito: ao nascer o cérebro está desenvolvido. Fato: a maioria das células cerebrais são formadas intraútero, mas a maioria das conexões entre as células acontecem durante a infância; • Mito: o desenvolvimento cerebral depende exclusivamente dos seus genes herdados. Fato: as primeiras experiências e a interação com o meio são fundamentais para o desenvolvimento cerebral da criança; • Mito: o cérebro da criança é menos ativo do que o cérebro de um jovem universitário. Fato: o cérebro de uma criança de 3 anos é 2x mais ativo que de um adulto; • Mito: conversar com o bebê não é importante já que ele não entende o que dizemos. Fato: conversar com bebês desenvolve as bases da linguagem durante períodos críticos; • Mito: as crianças precisam de ajuda especial e brinquedos educativos para desenvolver sua capacidade intelectual. • Fato: o que as crianças mais precisam é carinho e experiências, e não atenção especial e brinquedos caros. Falar, brincar, cantar, ler, são algumas das principais atividades que desenvolvem o cérebro infantil. Reflexos primitivos • São reflexos do sistema nervoso central presentes em neonatos, mas, não ocorrem em adultos, já que possuem o sistema nervoso totalmente formado. Aumenta a mielinização dos neurônios, assim como a árvore neuronal e as sinapses, determinando maior controle voluntário das atividades relacionadas com esses reflexos. Em casos de adultos que ainda apresentem esses reflexos ou passam a apresentar depois de um tempo, podem existir lesões ou más formações neurológicas; • O reflexo de moro (The moro reflex): presente somente em neonatos, nos três primeiros meses de vida, desencadeado naturalmente por um susto, barulho ou movimento brusco. É desencadeada por queda súbita da cabeça, amparada pela mão do examinador. Observa-se extensão e abdução dos membros superiores seguido por choro. • Reflexo tônico cervical assimétrico (Tonic neck reflex): paciente em decúbito dorsal. O examinador vira a cabeça da criança para o lado e verifica-se a extensão dos membros superiores e inferiores ipsilaterais, enquanto os membros contralaterais entram em flexão. Normalmente ocorre até os 6 ou 7 meses de idade. • Reflexo de preensão palmar (Grasp reflex): é desencadeado pela prensão da palma da mão. Observa a flexão dos dedos. • Marcha reflexa (Step reflex): é desencadeado por inclinação do tronco do recém-nascido após obtenção do apoio plantar. Observa-se o cruzamento das pernas, uma à frente da outra, como se estivesse marchando. • Reflexo do nadador (Crawl reflex): pode ser estimulado colocando o recém-nascido de bruços (com a face para baixo) em uma superfície plana. O recém- nascido tentará rastejar para a frente usando os braços e as pernas. Ocorre até os 3 ou 4 meses. • Sucção reflexa: é desencadeado pela estimulação dos lábios. Observa-se sucção vigorosa. Sua ausência é sinal de disfunção neurológica grave. • Preensão plantar: é desencadeado pela pressão da base dos artelhos. Observa-se flexão dos dedos. • Preensão palmar: é desencadeado pela pressão da palma da mão. Observa-se flexão dos dedos. • Marcha automática: geralmente ocorre até o primeiro mês de vida. Normalmente surge a partir do 4º dia de vida, quando a criança é mantida abaixo das axilas em um plano reto e a criança flexiona ou estica as pernas alternadamente, como se quisesse caminhar. Se esse reflexo se estende além do primeiro mês de vida e continua seu comportamento reflexo, é considerado um sinal patológico no desenvolvimento do sistema nervoso. Tônus • Sempre flexionado; • O tônus é avaliado pela palpação dos músculos, movimentação passiva dos membros e balanço passivo das extremidades; • Nos primeiros meses de vida, a cabeça do bebê deve sempre ser centralizada para o exame, pois, a presença do reflexo tônico- cervical assimétrico altera o tono caso a cabeça esteja lateralizada; • Durante o primeiro ano de vida o tônus muscular varia de flexor (do recém-nascido a termo) para hipotônico (entre 6 e 8 meses), até atingir valores normais no fim do primeiro ano de vida. Marcos do desenvolvimento • Primeiro mês: o Hipotonia cervical; o Atitude assimétrica; o Hipertonia flexora geral; o Reflexos primitivos; o Olhar momentâneo; o Choro inarticulado; • Segundo mês: o Postura simétrica; o Tônus cervical momentâneo; o Hipertonia geral leve; o Perde o reflexo esgrimista; o Sorrir espontâneo; o Começa a lalação; o Acompanha objetos em seu campo visual. • Quarto mês: o Apoio no antebraço; o Tonus cervical completo; o Aprende a rolar; o Preensão palmar voluntária; o Estabiliza a lalação; o Perde marcha reflexa e moro inconstante. • Sexto mês: o Ajuda ao sentar-se; o Senta-se com apoio; o Perde o moro e a preensão palmar; o Transfere objetos de mão; o Procura sons com a cabeça. • Nono mês: o Senta-se sem apoio; o Engatinha; o Hipotonia fisiológica; o Perde preensão palmar; o Primeiras palavras; o Pegada em pinça; o Responde diferentemente às pessoas. • Décimo segundo mês: o Fica de pé e marcha com apoio; o Predomina a hipotonia fisiológica; o Fim dos reflexos primitivos; o Palavras sem sentido; o Dá tchau, manda beijo, bate palmas; o Fala não. • A partir de 12 meses: o Anda sem apoio; o Pegada em pinça; o Combina 2 ou mais palavras; o Tira pelas de roupas. Perímetro cefálico Sinais patológicos de desenvolvimento • Manutenção dos reflexos arcaicos por mais tempo; • Perímetro cefálico que não aumenta; • Não aquisição dos marcos de desenvolvimento; • Para quem encaminhar? Verificar se há necessidade de enviar para outro pediatra ou mesmo para um neurologista; • Neuropediatra é necessário para estimulação precoce; Períodos críticos de desenvolvimento • O desenvolvimento cerebral segue padrão específico e partes do cérebro tornam-se mais ou menos ativas em momentos diferentes; • Embora o aprendizado ocorra por toda a vida existem janelas de oportunidade, quando o cérebro é capaz de absorver novas informações mais facilmente proporcionando grandes saltos no desenvolvimento; • Embora o aprendizado mais tarde seja possível, geralmente se dá de forma mais lenta e difícil; • Desenvolvimento visual e auditivo: 4º mês de gestação até 6 anos de vida; • Desenvolvimento da linguagem: 2º mês até 13 meses de vida; • Desenvolvimento emocional: 9º mês até 6 anos de vida; • Desenvolvimento motor: 1º mês até 18 meses; o Motor grosseiro; o Motor fino. Janelas de oportunidades – períodos mais propícios ao desenvolvimento de habilidades FUNÇÕES FAIXA ÓTIMA DE DESENVOLVIMENTO Visão 0 – 6 anos Controle emocional 9 meses – 6 anos Formas comuns de reação 6 meses – 6 anos Símbolos 18 meses – 6 anos Linguagem 9 meses – 8 anos Habilidades sociais 4 anos – 8 anos Quantidades relativas 5 anos – 8 anos Música 4 anos – 11 anos Segundo idioma 18 meses – 11 anos Principais queixas do RDNPM (Retardo do Desenvolvimento Neuropsicomotor) • Agitação; • Teimosia; • Mentiras; • Agressividade; • Dificuldades na escola; • Dificuldades de relacionamento; • Medos; • Não fica sozinho; • Não come bem e dorme mal. Sintomas normais • Medo de estranhos a partir dos 6 – 8 meses; • Inquietação nos primeiros 3 anos de vida; • Birra de 1 a 5 anos; • Amigos imaginários até 6 anos; • Medos específicos a cada idade. Transtornos globais do desenvolvimento Autismo • Alterações na interação social, comunicação e comportamento; • Manifesta-se antes dos 3 anos e persiste até idade adulta; • Criança mantém-se isolada, com pouco contato visual, não procura conforto quando se machuca, não se interessa pelas pessoas; • O autista tem dificuldade de ajustar seu comportamento ao contexto social sem responder adequadamente às emoções • Prevalência 2 a cada 1000 crianças, sendo maior em meninos(3:1); • Comunicação: o Dificuldade afeta a linguagem e gestos, sendo que 50% dos autistas não conseguem desenvolver fala compreensível; o Quando há fala desenvolvida, ela é tipicamente atrasada e com ritmo e entonação anormais; o Apresenta ecolalia, neologismos e usa frases prontas que repete consistentemente; o Na maioria das vezes não mantém diálogo, simplesmente fala com a outra pessoa. • Interesses e atividades: o São resistentes a mudanças e seguem rotinas; o Mantém rituais e insistem em movimentos; o Preferem brincadeiras de ordenamento (enfileirar); o Tem fascinação por objetos que as outras crianças pouco observam como zíperes, cabelos, dentre outros. o Preocupam-se excessivamente com temas restritos; o Em crianças < 1 ano, há aversão ao colo • Patogenia: o Estudos genéticos: ▪ Recorrência na irmandade; ▪ Concordância em gêmeos monozigóticos; ▪ Comorbidade com síndromes monogênicas; ▪ Muitas em regiões cromossômicas envolvidas; ▪ Triagem genômica; ▪ Pesquisa de mutações em genes candidatos; ▪ Detecção de genes de suscetibilidade. o No autismo: 90% do fenótipo é explicado por fatores genéticos. • Tratamento e manejo: o Psicofarmacologia: ▪ Efeitos neuroquímicos sobre sinais autísticos: • Haloperidol, risperidona, clomipramina, fluoxetina, fluvoxamina, sertralina, naltrexone. ▪ Tratamento de transtornos comportamentais frequentemente associados ao autismo: • Buspirona, metilfenidato (resultados variáveis, com risco de efeito paradoxal), propranolol, clonidina. ▪ Poucos resultados positivos comprovados: • Secretina, vitaminas B6 e B12, magnésio, dieta sem glúten e caseína. • Transtorno do espectro autista: • A maior parte das crianças com autismo apresentam os níveis mais leves. São mais raros os casos de alta complexidade. Síndrome de Rett • Anomalia no gene mecp2, mais comum em meninas, atingindo 1 a cada 10.000 nascidas; • Retardo mental acentuado, progressivamente compromete as funções motora e intelectual; • Provoca distúrbios de comportamento e dependência; • Após um período de desenvolvimento normal (6 a 18 meses) há perda progressiva dos ganhos neurológicos e motores, surgindo estereotipias manuais. • Sinais e sintomas: o Epilepsia, retardo mental; o Demência, apraxia (tem o desejo mas não consegue efetuar a tarefa), ataxia (falta de equilíbrio e coordenação); o Perda do uso funcional da mão (fica sempre batendo palmas); o Disfunção oculomotora; o Atraso de resposta. Transtorno desintegrativo da infância • Após 2 anos de desenvolvimento normal há regressão em múltiplas áreas; • Há perdas em pelo menos 2 das áreas: linguagem, comportamento social, controle vesical ou esfincteriano, habilidades motoras. Transtorno de movimento estereotipado • Movimento repetitivo, não funcional e aparentemente intencional; • Pode ocorrer retardo mental colaborando para que esse movimento possa se tornar autodestrutivo; • Esse comportamento persiste no mínimo por 4 semanas. Síndrome de Asperger • Síndrome do espectro autista que não comporta nenhum atraso global do desenvolvimento cognitivo ou de linguagem; • Os pacientes têm dificuldades em mudanças, no comportamento social e fazem estereotipias; • A síndrome é definida por 6 critérios: 1. Prejuízo severo e persistente na interação social; 2. Desenvolvimento de padrões repetitivos e restritos de comportamento e interesses; 3. Prejuízo importante na área ocupacional; 4. Sem atraso da linguagem; 5. Não há prejuízo no desenvolvimento cognitivo; 6. Não há prejuízo no comportamento adaptativo.