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Antropologia da Educação
Solange M
enezes da Silva D
em
eterco
Código Logístico
57327
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6429-8
9 788538 764298
Mesmo sem saber exatamente quem somos, ao aprender com a Antropologia 
da Educação, com certeza desenvolvemos o espírito crítico e uma visão mais 
humanista. Podemos assim ampliar nossa visão de mundo, buscando conhe-
cer e valorizar a diversidade, de modo a nos tornarmos capazes de ser soli-
dários com os demais. Como deixamos claro nesta obra, essas são algumas 
das características esperadas atualmente dos profissionais das mais diversas 
áreas e, em especial, dos docentes. 
Educar é formar, mas não podemos nos esquecer de que isso não significa 
“colocar numa forma”, em um molde igual para todos. O diálogo entre a 
Antropologia e a Educação tornou essas duas áreas mais ricas em termos de 
possibilidades e intercâmbios, inclusive para a institucionalização da profissão 
docente. A Antropologia se consolidou nas escolas normais e nos cursos de 
formação de professores até mesmo antes de se tornar uma disciplina da edu-
cação superior. E isso fez e ainda fará muita diferença na qualidade de atuação 
dos nossos professores.
Antropologia da 
Educação
IESDE BRASIL S/A
2018
Solange Menezes da Silva Demeterco
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D448a Demeterco, Solange Menezes da Silva
Antropologia da educação / Solange Menezes da Silva 
Demeterco. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018. 
160 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6429-8
1. Educação. 2. Cultura. 3. Antropologia educacional. 
I. Título.
18-50457
CDD: 306.43
CDU: 37.015.2
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Annasunny/iStockphoto
Solange Menezes da Silva Demeterco
Doutora e mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 
Especialista em Currículo e Prática (Tutoria a Distância) pela Pontifícia Universidade Católica do 
Rio de Janeiro (PUC-Rio). Graduada em Ciências Sociais pela UFPR. Professora de Ensino Médio 
e Superior nas áreas de Sociologia, História, Geografia e Geopolítica.
Sumário
Apresentação 7
1 A Antropologia e a alteridade 9
1.1 O objeto de estudo da Antropologia 9
1.2 A questão da alteridade: percepção do outro 13
1.3 A Antropologia como atitude 18
2 O conceito de cultura 25
2.1 O conceito de cultura na Antropologia 25
2.2 Cultura e relativismo cultural 30
2.3 Pensar antropologicamente 35
3 O diálogo entre a Antropologia e a educação 41
3.1 Etnocentrismo, relativismo cultural e educação 41
3.2 Escola, cotidiano e educação na atualidade 45
3.3 A Antropologia para pensar o processo educativo 49
4 Os múltiplos olhares na educação 55
4.1 A diversidade cultural em espaços escolares e não escolares 55
4.2 A formação docente na perspectiva da Antropologia 60
4.3 Educação, relações étnico-raciais e formação de professores 65
5 Antropologia e diversidade cultural 75
5.1 Estudos culturais e educação 75
5.2 O currículo e as diferenças: um olhar antropológico 81
5.3 Preconceito, intolerância, discriminação e exclusão 85
6 Pluralidades e diversidade cultural 93
6.1 Temas transversais na visão da Antropologia da Educação 93
6.2 As diferenças religiosas, de gênero, da sexualidade e das relações 
étnico-raciais 98
6.3 Xenofobia e preconceito: o papel da educação 104
7 O multiculturalismo 111
7.1 A Antropologia e a globalização 111
7.2 Assimilação e aculturação: novos rumos 116
7.3 A multidisciplinaridade na educação contemporânea 121
8 A educação inclusiva: novos modelos educacionais 129
8.1 Racismo e outras formas de violência 129
8.2 O conceito de direitos humanos 135
8.3 Os desafios atuais da carreira docente na visão antropológica: educação indí-
gena, quilombola, do campo e de pessoas com necessidades especiais 140
Gabarito 153
Apresentação
Uma das questões mais importantes quando se pensa a educação na atualidade diz respeito 
à formação dos professores. Isso porque fica cada vez mais claro o inestimável papel que exerce 
o professor dentro e fora da sala de aula. Em sala de aula, ele deve ser o orientador da produção 
do conhecimento dos estudantes, colaborando para a formação de indivíduos autônomos, críti-
cos, responsáveis e colaborativos. Fora dela, deve ser o primeiro a compreender que cidadania é 
uma construção social, histórica e cultural. Assim, para que a educação cumpra seu papel social 
é fundamental a percepção do outro, da diversidade social, religiosa, política, socioeconômica, de 
gênero e étnico-racial. 
Somente com a compreensão de que somos todos diferentes, mas que temos direitos iguais, 
é que podemos combater preconceitos e construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual 
todos têm direitos e deveres que devem ser respeitados. Uma sociedade na qual todos tenham as 
mesmas oportunidades.
A Antropologia da Educação é um dos caminhos para se promover reflexões sobre diver-
sas questões fundamentais para a compreensão do homem por inteiro, da cultura e da alteridade. 
Esperamos que as provocações aqui apresentadas despertem em você o desejo de lutar pelo fim da 
intolerância e da exclusão. 
Boa caminhada!
1
A Antropologia e a alteridade
Vamos começar aqui uma jornada de autoconhecimento. Você pode estar se perguntando: 
o que significa isso? Isso quer dizer que procuraremos entender o que nos constitui e como sa-
bemos quem somos. Complicado? Não. Buscaremos nossa identidade para entendermos melhor 
o que nos define como humanos.
A Antropologia é uma das Ciências Sociais e, com a Sociologia e a ciência política, objeti-
va estudar o ser humano em interação com os outros, isto é, seu comportamento em sociedade. 
Mas cada uma dessas áreas do conhecimento tem seu modo único de tratar esse objeto de análise, 
com instrumental teórico e metodológico próprio. A Antropologia objetiva investigar e analisar os 
aspectos culturais e simbólicos das relações humanas e como isso define identidades de indivíduos, 
grupos e sociedades.
Precisaremos entender a ideia de alteridade e suas implicações na construção do pensamen-
to antropológico, compreendendo a importância da percepção e do respeito ao outro. Preparado?
1.1 O objeto de estudo da Antropologia
De modo geral, as pessoas não sabem muito sobre a Antropologia e qual seu objeto de estudo. 
Isso porque, entre outras coisas, é uma ciência relativamente nova e que recentemente passou a fazer 
parte dos currículos de alguns cursos de graduação, particularmente nas licenciaturas. Em cursos de 
formação de professores, ela é essencial. Sabe por quê? Porque trata da nossa constituição como seres 
humanos, e de que forma construímos nossa identidade e cultura. O homem é o único animal que, 
usando a razão, interfere e modifica seu meio ambiente e produz sistemas simbólicos que o definem. 
Somos o que somos em virtude de nossa cultura.
Mais à frente discutiremos melhor a ideia de cultura. Antes, vamos saber mais sobre a pró-
pria Antropologia.
A palavra Antropologia significa estudo do homem. Mas outras ciências, como a Sociologia, 
a Psicologia e a Biologia, também estudam o ser humano. Portanto, qual a diferença? A distinção 
reside na abordagem e na forma como esse estudo é realizado e com que objetivo. A Antropologia 
se propõe a entender o homem como um ser sociável, buscando sua história e tudo aquilo que 
fundamenta seu modo de vida e condiciona sua visão de mundo (valores, leis, regras, tradições, 
ritos, mitos, comportamentos etc.). Além disso, procura compreender como evoluímos ao longo 
do tempo sob o ponto de vista biológico. Assim, essa área do conhecimento tem uma dimensão 
bastante ampla,sendo vista por alguns autores como a ciência da humanidade e do ser humano 
como produtor de cultura. Você consegue perceber como ela é abrangente?
Vamos entender aqui qual o objeto de estudo, seu método de trabalho e os instrumen-
tos teóricos para que, apropriando-se desse conhecimento, possamos conhecer o campo e a 
Antropologia da educação10
abordagem dessa ciência. Discutiremos também a ideia de alteridade e suas implicações na cons-
trução do pensamento antropológico, de modo a compreender a importância da percepção e do 
respeito ao outro.
Um dos traços mais fortes de nós, humanos, é que podemos pensar sobre nossa existência 
e fazermos inúmeras perguntas sobre a vida. Queremos saber de onde viemos e o que é cada um 
dos fenômenos naturais. Questionamo-nos por que estamos aqui e por qual motivo agimos como 
agimos. Enfim, fazemos diversos questionamentos sobre o viver em sociedade. E na ciência temos 
encontrado muitas dessas respostas. Cada uma das áreas do conhecimento, sejam as ciências na-
turais ou sociais, busca fornecer as respostas para que possamos entender melhor nossa existência 
e a nós mesmos.
Ao longo do tempo, os indivíduos tiveram contato com povos com valores, costumes, 
regras e tradições diferentes dos seus. Isso provocou (e ainda provoca) reações positivas e nega-
tivas. Os contatos muitas vezes foram/são difíceis, hostis ou mesmo violentos. Mas, de qualquer 
forma, esse contato com o diferente promoveu mudanças em todos os lados envolvidos, ainda que 
nem sempre transformações desejadas.
São inúmeros os relatos de contatos entre diferentes culturas que causaram intolerância, 
conflito, violência ou conflitos fatais. Um dos exemplos mais evidentes desse choque entre cultu-
ras da história de nosso continente é o contato entre colonizadores europeus e povos nativos das 
Américas, durante o período das Grandes Navegações, a partir do século XV. Surgiu dessa intera-
ção entre povos diferentes um dos maiores genocídios da história humana (isto é, extermínio de 
uma etnia e/ou de uma cultura). Os indígenas no Brasil, por exemplo, foram dizimados em razão 
da incompreensão, por parte dos colonizadores portugueses, dos hábitos, do estilo de vida e das 
crenças dos nativos.
Figura 1 – Litografia de Jean-Baptiste Debret retratando a escravização de indígenas em território brasileiro
Fonte: DEBRET, Jean-Baptiste. Soldados índios da província de Curitiba escoltando selvagens. c. 1830. Litografia em papel: 21 × 32,5 cm. 
Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
A Antropologia e a alteridade 11
Por muito tempo, os europeus adotaram a lógica das três letras: L (Lei), R (Rei) e F (Fé). 
Na perspectiva dos exploradores portugueses, os povos nativos não apresentavam nenhum desses 
elementos. Essa foi a justificativa para escravizar, catequizar e, aos poucos, exterminar os indígenas.
A visão de que os povos nativos não cultuavam o mesmo deus católico foi determinante para 
que os europeus não os vissem como humanos, o que justificaria o tratamento que dispensavam 
aos nativos e o enorme esforço para catequizá-los.
Tal como ocorreu naquele momento da história, atualmente nem sempre certas práticas 
culturais são compreendidas pelos indivíduos que não compartilham de determinada cultura. 
E, mais do que nunca, diante das novas formas de comunicação e circulação de bens, capitais 
ou pessoas, o contato com o diferente se faz mais presente; no entanto, nem por isso mais fácil.
O surgimento das Ciências Sociais acontece num contexto de grandes transformações sociais, 
políticas, econômicas e culturais, provocadas especialmente pelo Iluminismo e pelas Revoluções 
Francesa e Industrial (ambos os eventos iniciados ou terminados no século XVIII).
Assim como a Sociologia, por exemplo, que buscaria respostas para os novos problemas 
sociais decorrentes dessas mudanças, a Antropologia se debruçaria exatamente sobre a questão 
da diferença entre os homens e a questão da alteridade, isto é, da diversidade. O enigma a ser de-
cifrado era: como explicar a unidade biológica que marca a humanidade e a enorme diversidade 
cultural? Isso significa questionar como, mesmo sendo biologicamente iguais, pode haver tantos 
povos e culturas diferentes. Ao longo de sua existência, o homem sempre se questionou sobre si 
mesmo e sua sociedade.
Mas o surgimento da Antropologia é, como vimos, bastante recente. Tomando o homem 
como objeto do conhecimento, essa ciência passou por diversas fases, mas sempre buscando dar a 
si mesma um caráter científico, com um referencial teórico e metodológico diferente das chamadas 
Ciências Naturais. Há aqui uma mudança significativa na caminhada do homem em busca de si 
mesmo – o ser humano pensando sobre ele mesmo.
O conhecimento científico gerado pela Antropologia caracteriza-se pelo fato de que o 
homem é, ao mesmo tempo, produtor e sujeito desse conhecimento; torna-se objeto de estu-
do numa abordagem totalmente diferente daquela produzida pelo conhecimento filosófico, 
teológico ou mitológico.
Quanto mais as fronteiras do mundo se ampliavam, mais contato havia entre diferentes po-
vos e culturas, o que aumentava a curiosidade de estudiosos sobre novos modos de vida e visões 
de mundo. Foi na Europa que essa nova ciência começou a produzir seus questionamentos e suas 
análises. E isso não foi um acaso, uma vez que os europeus eram os maiores exploradores dos mares 
e de novos continentes no século XVI. Portanto, foram eles que tiveram contato com um número 
grande e variado de povos.
Na primeira fase dos estudos antropológicos, as chamadas sociedades primitivas, consti-
tuídas por grupos sociais geograficamente distantes e em geral tecnologicamente mais atrasa-
dos que os europeus, seriam o objeto de estudo da nova ciência. Trata-se de sociedades mais 
simples, organizadas de forma diferente das sociedades europeias da época, não fazendo parte 
Antropologia da educação12
da chamada civilização ocidental. Assim, por meio da observação realizada no lugar no qual se 
encontram esses grupos, a Antropologia define seu objeto de estudo específico.
No entanto, ainda havia outra questão fundamental: como realizar esses estudos? Até aquele 
momento, todas as ciências constituídas tinham suas ferramentas e técnicas de pesquisa que lhes per-
mitiam alcançar o necessário reconhecimento de sua cientificidade e credibilidade. A Antropologia 
ainda precisava construir seu referencial, o que se consolidou no final do século XIX e início do XX, 
com trabalhos de campo baseados em observação e investigação.
Sua legitimidade como ciência foi constituída quando as sociedades distantes e não eu-
ropeias ou norte-americanas se tornaram o objeto de estudo da Antropologia. Mas consoli-
dou-se também a maior singularidade dos estudos antropológicos: a condição do pesquisador, 
que, ao mesmo tempo que investiga, é também o próprio objeto de estudo. Diferentemente das 
Ciências Naturais, como a Química e a Biologia, na Antropologia não há separação entre ob-
servador e observado. Essa é uma característica importante dessa ciência e, ao mesmo tempo, 
uma das maiores dificuldades para desenvolver suas pesquisas.
Entretanto, surgiu outra questão: com o avanço das sociedades complexas, rapidamente as 
sociedades primitivas tornaram-se escassas, modificaram-se e deixaram de apresentar as caracte-
rísticas que atraíam a atenção dos pesquisadores no início dos estudos antropológicos. Isso con-
figurou um dilema para o pesquisador. O que fazer diante desse quadro? O caminho encontrado 
pela maioria dos antropólogos foi reforçar a especificidade do seu trabalho. Para isso, reforçou-se 
que o importante não era estudar um objeto restrito a um espaço geográfico, a determinada cultura 
ou a uma história em particular. A Antropologia, então, trouxe um novo olhar sobre o homem e 
sua cultura, numa abordagem totalmente nova, a qual tem como objeto de estudo o ser humano em 
todas as suas dimensões. Assim, surge a chamada perspectiva antropológica.
Mais do que as outras Ciências Sociais,a abordagem antropológica é muito mais integrativa e 
até mesmo reveladora, na medida em que trata das múltiplas dimensões que compõem o ser humano, 
sem desprezar suas nuances. Isso fez a Antropologia, ao longo do tempo, especializar-se e acabar por 
constituir áreas de estudo mais específicas: a Antropologia biológica ou física, a pré-histórica, a lin-
guística, a psicológica e a social e cultural, a chamada etnologia. Isso não significa que o pesquisador 
precise dominar cada uma dessas subáreas, e sim que deve considerá-las em suas análises, uma vez 
que estão relacionadas entre si.
Quadro 1 – Campo de estudos da Antropologia
 Definição/objeto de estudo
Antropologia biológica ou física
Caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo; relação entre biologia e 
meios geográfico, ecológico e social; morfologia dos seres humanos; fatores cul-
turais que influenciam as mudanças físicas no homem; genética das populações.
Antropologia pré-histórica
Estudo do homem considerando os vestígios materiais enterrados no solo (os-
sadas ou quaisquer marcas da atividade humana). Ligada à arqueologia, visa 
reconstituir as sociedades desaparecidas (técnicas e organizações sociais, 
produções culturais e artísticas). O pesquisador realiza um trabalho de campo.
(Continua)
A Antropologia e a alteridade 13
 Definição/objeto de estudo
Antropologia linguística
Estudo da linguagem, parte do patrimônio cultural de uma sociedade. É por meio 
dela que os indivíduos que compõem uma sociedade se comunicam e expres-
sam seus valores, suas preocupações e seus pensamentos. Apenas o estudo da 
língua permite compreender como os homens pensam, o que vivem e o que sen-
tem, isto é, suas categorias psicoafetivas e psicocognitivas (etnolinguísticas); 
como expressam o universo e o social (estudo da literatura, seja escrita ou oral); 
como interpretam os próprios saberes e técnicas (área das chamadas etnociên-
cias). Interessa-se também pelas imensas áreas abertas pelas novas técnicas 
modernas de comunicação (mass media e cultura audiovisual).
Antropologia psicológica
Consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. 
O antropólogo é em primeira instância confrontado não com conjuntos sociais, 
e sim com indivíduos – somente por meio dos humanos particulares podemos 
apreender essa totalidade sem a qual não é Antropologia.
Antropologia social e cultural 
(ou etnologia)
Tem abrangência considerável, já que diz respeito a tudo que constitui uma so-
ciedade: modos de produção econômica, técnicas, organização política e jurí-
dica, sistemas de parentesco, sistemas de conhecimento, crenças religiosas, 
língua, psicologia e criações artísticas.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Laplantine, 1989, p. 17-20.
Vale esclarecer que neste livro adotamos a abordagem da Antropologia cultural, procurando 
tratar a educação sob esse viés totalizante. Especialmente por ser uma obra de Antropologia da 
Educação, é preciso entendermos que a visão dessa área de conhecimento é fundamental para com-
preender as várias nuances do sistema educativo e das práticas pedagógicas, uma vez que a escola 
é sempre um microcosmo da sociedade mais ampla, onde se encontrarão as mesmas dificuldades 
e os mesmo preconceitos que nela vigoram. No espaço escolar também é possível “plantar várias 
sementes” de transformação em busca de uma sociedade mais justa, igualitária e que garanta opor-
tunidades iguais a todos seus participantes.
1.2 A questão da alteridade: percepção do outro
Todo o processo de desenvolvimento da Antropologia, de alguma maneira, tem sido mar-
cado pela ideia de evolução, o que nem sempre foi favorável às populações não ocidentais ou não 
europeias. Muitas vezes, como vimos, isso implicou em desrespeito e violência. De acordo com o 
Dicionário Houaiss (2009), evolução, no caso dos estudos promovidos pelas Ciências Sociais (es-
pecialmente pela Sociologia e pela Antropologia), significa “todo processo de desenvolvimento e 
aperfeiçoamento de um saber, de uma ciência etc.”. Infelizmente, a visão eurocêntrica era de que os 
povos/os indivíduos que não tivessem atingido o estágio de evolução igual ao seu estavam atrasados. 
A solução encontrada foi ajudar esses grupos a alcançarem o desenvolvimento desejável, sempre 
tendo como meta a civilização. Isso ocorreu em virtude do fato de os europeus analisarem as cultu-
ras diferentes de sua de modo negativo, tendo-as como inferiores. E aí está o problema.
Essa visão fundamentou uma corrente teórica chamada de darwinismo social, que influenciou 
tanto a Sociologia quanto a Antropologia. Essa concepção era baseada na teoria de Charles Darwin, 
que estudou o processo de evolução dos seres na natureza. E, quando aplicada à vida em sociedade 
e ao comportamento social dos indivíduos, produziu graves distorções e serviu de fundamentação 
inclusive para teorias racistas, hoje desacreditadas pelo avanço do conhecimento biológico.
Antropologia da educação14
Sabe-se que é impossível comparar estágios de evolução entre populações, muito menos 
entre diferentes raças ou etnias. Entretanto, o evolucionismo biológico e o evolucionismo social 
aplicados ao estudo de sociedades diferentes geram discriminação e preconceito e, sobretudo, 
fundamentaram uma visão etnocêntrica das diferenças culturais. Perceba que aqui cultura sig-
nifica civilização e progresso, numa perspectiva de que todas as sociedades primitivas deveriam 
desenvolver-se rumo à civilização. Os evolucionistas acreditavam que o que era bom para a 
sociedade europeia, tecnologicamente mais desenvolvida, seria bom para qualquer outra socie-
dade. E qual foi o resultado disso?
Como vimos, os povos nativos das Américas, no início do processo colonial, sofreram as 
consequências dessa visão. Não foi diferente durante o chamado neocolonialismo, também chama-
do de imperialismo, no final do século XIX, quando os países mais industrializados exploraram 
nações africanas e asiáticas em busca de novas matérias-primas, mercados consumidores e mão 
de obra barata, a fim de avançarem em seus processos de industrialização e ampliarem suas áreas 
de influência. Foram décadas de exploração e sofrimento para essas populações, que não tiveram 
o direito à autodeterminação, isto é, não puderam decidir o próprio destino. Esses países foram 
explorados até quando foi possível. Depois disso, precisaram encontrar uma forma de retomar sua 
autonomia, o que foi um processo bastante caótico, tendo em vista as guerras civis advindas de 
disputas entre diferentes grupos que ambicionavam chegar ao poder nessas regiões. Assim, não é 
mero acaso que muitos países africanos e asiáticos estejam atualmente numa situação de penúria 
e subdesenvolvimento. Alguns deles (não poucos) são governados por ditadores corruptos que 
exploram o próprio povo, em virtude de não conseguirem estabelecer instituições democráticas 
em seus territórios.
Podemos resumir o que estudamos até aqui na Figura 2.
Figura 2 – Objeto e método de trabalho da Antropologia
Objeto de estudo
Estudo do outro/da diferença/ 
da alteridade
Método de estudo
Observação e trabalho de campo
Fonte: Elaborada pela autora.
Estamos tratando aqui do contexto de alteridade. Mas, afinal, o que significa esse termo?
Tendo como objetivo o estudo do outro e definindo-se por essa premissa, a Antropologia 
faz esse trabalho de modo relacional. O que isso quer dizer? Significa que essa ciência estuda o 
outro em relação a nós. O outro é aquele que não sou eu, e os outros são aqueles diferentes de 
mim, que partilham de referências culturais distintas das minhas. Nesse ponto precisamos enten-
der que a análise antropológica é realizada de maneira comparativa, e isso não é necessariamente 
ruim. Essa comparação objetiva detectar exatamente as diferenças e não tecer juízo de valor entre 
culturas, indivíduos e povos. Só podemos exercer a alteridade na medida em que pontuamos as 
diferenças, o que permite o reconhecimento do outro.
No convívio social, estamos sempre em interaçãocom várias pessoas e vários grupos, 
cada um exercendo diferentes papéis sociais, com base nos próprios padrões de comportamento 
Etnocentrismo é a 
análise ou avaliação 
de uma cultura com 
base na lógica dos 
próprios referenciais 
culturais, desva-
lorizando o que é 
diferente.
A Antropologia e a alteridade 15
e visão de mundo. É nessa convivência que nos damos conta do outro, exercendo a alteridade. 
Dessa maneira, a análise antropológica é relacional – eu e o outro. É nessa relação que encontra-
mos a alteridade. Ela se faz presente na relação de um indivíduo com outro, entre grupos, entre 
indivíduos e culturas e delas com o meio ambiente. Como dissemos anteriormente, é isso o que 
nos torna humanos. Por isso se diz que a perspectiva antropológica é totalizante, isto é, procura 
compreender o homem em suas dimensões biológica, psicológica e cultural, hoje e no passado.
A alteridade é plural e sempre flexível, ou seja, não pode ser analisada e explicada por meio de 
esquemas teóricos rígidos, particularmente na atualidade. O mundo contemporâneo vive a chamada 
globalização, fenômeno que envolve aspectos econômicos, políticos, sociais e, obviamente, culturais. 
Constitui a chamada economia-mundo, que integra mercados e pessoas, aproximando-as de forma 
jamais vista na história. Nos dias atuais, em razão da internet e das redes sociais, é muito fácil co-
nhecermos pessoas que estão do outro lado do mundo, falam outra língua e, portanto, têm cultura 
diferente da nossa. Como você vê isso? Encara como um problema?
Para muitos indivíduos, esse contexto provocou vários questionamentos e desconfortos. 
Nem todos se sentem à vontade com a presença tão próxima, ainda que virtual, de pessoas que não 
são semelhantes a elas, seja qual for a natureza da diferença: etnia, nacionalidade, língua, religião, 
gênero, enfim, de uma cultura com valores, princípios, regras, costumes e história distintos.
Assim, a convivência no mundo atual, tal como no passado, nem sempre ocorre pacífica ou 
harmoniosamente. Pelo contrário, notamos o crescimento da xenofobia – definida como aversão ao 
estrangeiro, àquele que vem de fora –, o que gera cada vez mais preconceito, discriminação, exclusão e 
ódio. Ao mesmo tempo, aumenta o individualismo, outra característica da sociedade atual, chamada 
por alguns teóricos de pós-moderna. Segundo Scott (2010), o pós-moderno “é vinculado a noções 
de ‘pós-industrialismo’, ‘pós-capitalismo’ e sociedade do conhecimento”. Alguns pensadores, além de 
se contraporem à ideia de modernidade, “consideram que a condição pós-moderna contemporânea 
envolve pluralidade, diversidade e relativismo no conhecimento” (2010, p. 231).
Alteridade, segundo o Dicionário Houaiss (2009), diz respeito à “natureza ou condição do 
que é outro, do que é distinto”. É a condição de ser outro. Perceba como é um conceito relacional, 
tal como afirmamos anteriormente: é diferente, distinto em relação a quê? Veja como é preciso ter um 
ponto de partida. Essa referência inicial com base na qual se pode avaliar é o eu. Assim, só podemos 
saber o que é diferente se tivermos noção do que/quem somos nós. O outro será aquele/aquilo que 
não sou eu. É necessariamente uma relação entre mim e o outro, ou entre nós e eles. Consegue, então, 
entender a perspectiva relacional na qual a Antropologia apoia a própria existência?
Para termos a percepção da alteridade, é preciso entendermos e nos colocar no lugar do 
outro e compreender sua visão de mundo, baseada em valores, tradições e costumes que são pró-
prios a ele, e não a nós mesmos. E qual seria a melhor maneira de captar a lógica de uma cultura 
diferente da nossa? Como dito há pouco, pela empatia e, sobretudo, pelo diálogo. Analise um 
exemplo: o mundo está dividido entre Oriente e Ocidente, tendo como referencial especialmente 
a questão religiosa. Para muitos indivíduos, o mundo atual divide-se entre cristãos e muçulmanos. 
Especialmente após o evento de 11 de setembro de 2001, quando um grupo de terroristas de ori-
gem muçulmana cometeu uma série de atentados em solo americano, incluindo a destruição das 
Antropologia da educação16
duas torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, o islamismo quase se tornou sinôni-
mo de terrorismo para muitas pessoas, incluindo autoridades. No entanto, será que isso é verdade? 
Todo muçulmano é um terrorista em potencial? É claro que não!
Figura 3 – Ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001.
Com o avanço do terrorismo, impulsionado muitas vezes por políticas externas de vários 
países que reforçaram esse preconceito, a divisão do mundo se agravou, o que fez aumentar a 
xenofobia. Com a crise migratória decorrente de conflitos em países do Oriente Médio, piorou 
ainda mais a situação de indivíduos de origem islâmica ou de nacionalidade de países em con-
flito com os Estados Unidos e/ou seus aliados. O que se percebe nessa situação é o crescimento 
da intolerância em relação ao diferente e à sua cultura, muitas vezes vista como “atrasada” em 
virtude de algumas tradições morais ou religiosas.
Atitudes como essas serão sempre um empecilho para o diálogo e o entendimento entre 
diferentes, o que favorece manifestações de discriminação e ódio e dificulta o entendimento e as 
relações pacíficas entre grupos, povos e nações.
O choque cultural decorrente do contato entre diferentes não precisa necessariamente ser 
violento, marcado pela intolerância e pela impossibilidade do diálogo. Sem a percepção da alte-
ridade, diminui o espaço para o entendimento, e as relações ficam comprometidas. Deve haver 
respeito ao outro e às suas características em nome do bem maior, que é exatamente a alteridade e 
a riqueza que ela traz.
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A Antropologia e a alteridade 17
Um dos aspectos mais importantes ao se estudar Antropologia, especialmente num curso 
de formação de professores, é compreender que não há sociedades ou culturas melhores ou piores. 
Cada uma tem a própria lógica, e é com base nela que deve ser entendida. Qualquer tentativa de 
usarmos nossos valores e costumes para avaliar as práticas ou visões de mundo de pessoas de cul-
turas diferentes trará como consequência conflito e incompreensão.
Entretanto, não podemos esquecer que é necessário considerar em que medida, por exem-
plo, uma tradição cultural que comprometa a integridade física ou intelectual do indivíduo pode 
ser aceita. O conceito de direitos humanos, recente na história da humanidade, exige que proble-
matizemos algumas ações praticadas por grupos ou indivíduos e que, com base nessa premissa, 
passam a ser vistas como atos de violência contra a pessoa.
A questão primordial é saber como determinar o que seja um valor universal e, com base 
nessa universalidade, avaliar realidades concretas particulares. Como, em nome dos direitos hu-
manos, os quais são universais, podemos julgar práticas culturais?
Como exemplificamos, com o contato entre povos nativos americanos e exploradores e co-
lonizadores europeus, a imposição de uma cultura sobre outra pode ser trágica. No entanto, é pos-
sível fazermos outro questionamento: não teria a sociedade ocidental criado o conceito de direitos 
humanos e passado a julgar as demais culturas com base em suas premissas, desconsiderando 
assim o restante do mundo? Podemos usar como exemplo a tradição por muito tempo praticada 
em várias sociedades e ainda presente em certos grupos minoritários: o infanticídio, isto é, a prática 
de matar crianças – em geral por serem portadoras de alguma deficiência (muitas vezes vista como 
um castigo dos deuses). Atualmente isso não é mais tolerado, punindo-se aqueles que a praticam 
sempre que a sociedade dominante assim determinar.
Pode-se afirmar com segurança que práticas e tradições culturais não mudam apenas por-
que alguém assim o quis, especialmente se a necessidade da transformação for defendida por in-
divíduos de outra cultura, com base em valores, regras, normas eleis que não foram criadas pelos 
pertencentes àquela cultura.
Existem vários exemplos que ilustram práticas polêmicas: abandono de idosos; mutilação de 
criminosos; ritos de passagem violentos para a idade adulta impostos a adolescentes em algumas 
tribos; mutilação genital de mulheres ainda na infância em vários países do mundo, entre outros.
Assim, é possível perceber que é muito complicado uma cultura, por ser dominante, colocar-se 
acima de outras, julgar aspectos de tradições diferentes e impor-se sobre estas. Devemos reconhecer 
que, em todos os lugares, encontraremos tradições violentas ou destrutivas coexistindo com outras 
que evocam e reforçam valores como respeito ao outro, solidariedade e tolerância. O que se defende 
hoje é que o fato de uma ou outra prática cultural ser mais antiga não justifica sua permanência se 
isso implicar em violência e risco de morte a seus praticantes. Ainda que se busque a lógica interna 
daquela cultura, havendo riscos, é preciso rever a permanência dessa tradição cultural.
Antropologia da educação18
O grande desafio, portanto, é encontrar princípios éticos universais que contribuam para des-
pertar nos indivíduos o sentimento de respeito mútuo e evitar que, em nome do que quer que seja – 
religião, tradição cultural ou sentimento de pertencimento –, certas ações continuem a ser praticadas.
Percebe o quanto a educação pode contribuir para esse processo de construção e dissemi-
nação de valores universais de preservação da vida e da paz? Lembra-se das pesquisas das quais 
falamos anteriormente? Elas mostram que, quanto maior o índice de escolaridade dos indivíduos, 
menor é a aceitação de práticas culturais violentas e maior é o desejo que de elas acabem. Isso refor-
ça uma ideia bastante difundida: a ignorância muitas vezes é a base da intolerância e do desrespeito 
ao outro.
No entanto, antes de criticar essas sociedades, é preciso fazer esses valores universais che-
garem até elas, no intuito de que os integrantes de determinada cultura em que haja tais práticas 
adotem o princípio de respeito à dignidade do outro e compreendam a importância de certas mu-
danças. Quando não se conhecem determinados valores, não é possível haver adoção de práticas 
de respeito mútuo, impossibilitando transformações culturais. A imposição externa, forçada e com 
base apenas em sanções ou punições, não surtirá efeito se o que se deseja é a extinção de uma práti-
ca violenta. É preciso tempo, educação, diálogo e, em alguns casos, medidas punitivas (mas apenas 
estas não serão eficientes). Foi assim que, ao longo do tempo, a tortura, a escravidão e o racismo 
passaram a ser inaceitáveis e condenados no mundo todo, ainda que isso não signifique a completa 
extinção de tais práticas. Nesses casos, são aplicadas medidas elaboradas ao longo do tempo para 
coibir e/ou punir quem ainda insiste em praticá-las.
Mais recentemente, a xenofobia, o feminicídio e a homofobia, por exemplo, são questiona-
dos e combatidos em nome dos direitos humanos e de valores universais. A luta contra a exclusão, 
a segregação e qualquer ato que comprometa a integridade física, psicológica e emocional de um 
indivíduo deve ser de todos nós, especialmente os educadores.
Dessa forma, o que estamos discutindo até aqui diz respeito a uma questão primordial para a 
Antropologia e o pensar antropológico: a alteridade, isto é, a percepção do outro. Toda ação huma-
na precisa fazer sentido para seu praticante, e é assim que a cultura se torna o pilar sobre o qual são 
fundadas a estrutura de uma sociedade e suas tradições. Por isso, qualquer manifestação cultural é 
compreendida com base na própria lógica, construída ao longo do tempo e reforçada por rituais e 
valores que fundamentam essa cultura. Estudar essas manifestações permite conhecermos melhor 
determinado grupo e captarmos a coerência interna que há naquela cultura.
1.3 A Antropologia como atitude
Como vimos, desde o século XV os limites e as distâncias entre os diversos povos diminuí-
ram. Com isso, a presença de culturas diferentes da nossa se fez cada vez mais presente. Será que 
podemos dizer que a diversidade faz parte de nós? O que você acha? Observe a Figura 4.
Feminicídio: crime de 
homicídio de mulheres, 
decorrente de violência 
ou discriminação de 
gênero.
A Antropologia e a alteridade 19
Figura 4 – Crianças de diferentes etnias
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Não lhe parece que essa fotografia representa um pouco da diversidade que encontramos 
nas escolas? E você, como se “classificaria”?
O estudo da Antropologia nos ajuda exatamente a compreender que a diferença, a diver-
sidade e a alteridade estão presentes em nosso mundo e que há muito elas despertam o interesse 
de diversos pensadores, os quais vêm investigando como todos esses elementos nos tornam mais 
humanos. Eles nos ajudam a entender que toda cultura tem os próprios pressupostos e que por 
meio deles é possível compreendê-las. Isso significa que toda cultura tem uma lógica própria, ainda 
que nos pareça estranha, e que faz parte de nosso projeto de civilização entender que nenhuma é 
melhor que a outra.
Você já pensou como podemos aprender com os outros? E como essa experiência pode ser 
riquíssima para nossas vidas? A Antropologia nos ensina que podemos saber mais sobre nós mes-
mos por meio do que aprendermos com o diferente de nós. Já pensou como o mundo seria menos 
interessante se todos fôssemos iguais?
Nessa perspectiva chegamos a outro ponto importante: nossa cultura não é a única nem é 
a melhor ou a mais verdadeira de todas. No entanto, somos tão importantes quanto qualquer in-
divíduo de qualquer lugar do mundo. A percepção da diversidade nos transforma e com isso nos 
tornamos pessoas mais inclusivas.
Diversos pensadores e pesquisadores elaboraram o pensamento antropológico, e em todos 
encontramos a noção de que essa ciência surgiu para explicar fatos, fenômenos sociais e visões de 
Antropologia da educação20
mundo construídos e consolidados ao longo de toda a história da humanidade. Tais estudiosos 
reforçam que o objetivo é captar o ponto de vista do nativo de determinada cultura e decifrar sua 
lógica, preferencialmente sem traçar nenhum juízo de valor a respeito, respeitando-se as premissas 
apresentadas, relacionadas à discussão sobre direitos humanos.
A Antropologia, na abordagem que estamos adotando nesta obra, analisa fenômenos 
complexos da convivência humana, em sua maioria muito presentes em nosso dia a dia, tais 
como hábitos alimentares, ritos religiosos, rituais de vários tipos, transações comerciais, práticas 
funerárias, leis e outros códigos, tabus etc., sempre objetivando captar quais são e de onde vêm 
as práticas culturais. E é nesse contexto que a educação se coloca como uma das práticas sociais 
mais importantes em qualquer sociedade.
Como abordamos anteriormente, o antropólogo poderá se defrontar com o dilema de não 
conseguir reproduzir num laboratório aquilo que vê (fenômenos sociais e antropológicos). Ele de-
verá lidar com os valores e a visão de mundo que fundamentam a própria cultura, sem se desfazer 
ou ignorar as implicações de sua biografia, como sua educação e seus preconceitos, enfim, aquilo 
que o constitui como pertencente a determinado sistema cultural. Mas isso não implica em falta de 
objetividade, que deve ser garantida pelo corpo teórico e metodológico adotado.
Quando percebemos e valorizamos a alteridade, assumimos uma atitude antropológica, 
que significa tentar se colocar no lugar do outro e compreender a lógica da cultura deste. E sabe 
qual é um dos maiores impedimentos para assumirmos uma atitude antropológica? Acharmos 
que não precisamos do outro e que não temos nada a aprender com ele, ou ainda que já sabemos 
tudo. Quando cultivamos tais atitudes, tendemos a construir preconceitos, os quais geralmente 
se mostram equivocados. Como exemplo, podemos citar uma pessoa que não gosta de deter-
minado gênero musical apenas por achá-lo que é popular demais ou por considerá-lo muitodiferente daquilo que costuma ouvir, mas que, no entanto, nunca se dispôs a ouvir tal tipo de 
música, buscando compreendê-la. Uma pessoa assim julga um objeto cultural sem conhecê-lo. 
Avaliações prévias e apressadas tendem a ser injustas e levianas, uma vez que não estão funda-
mentadas em argumentos consistentes que justifiquem tais percepções.
Existem muitos exemplos desse tipo de comportamento. Você se lembra de algum? Já se viu 
fazendo isso? Provavelmente mais de uma vez... Isso é bastante comum, mas nem por isso pode ser 
aceito sem questionamentos ou criticidade. Posteriormente discutiremos mais sobre esses julgamen-
tos, especialmente quando são problemáticos, como o racismo e qualquer tipo de discriminação.
Cada grupo social observa, define e classifica os fatos e fenômenos que acontecem em sua 
realidade com base em seus interesses e suas necessidades. Assim, podemos concluir que é por 
meio da cultura que cada sociedade compreende e explica seu mundo.
A atitude antropológica se baseia sempre num intercâmbio de experiências entre indivíduos, 
numa troca igualitária. Fundamenta-se na ideia de que nos civilizamos cada vez mais quando nos 
dispomos a aprender com qualquer pessoa. O interessante é que, ao mesmo tempo que aprende-
mos, ensinamos, ainda que muitas vezes isso seja um processo inconsciente.
A Antropologia e a alteridade 21
Já que estamos no âmbito da Antropologia da Educação, devemos nos lembrar da atitude das 
crianças em relação ao novo. Você já reparou como uma criança geralmente fica animada quando 
se vê diante de outra criança? É comum que ambas fiquem curiosas, interessadas e abertas a apren-
der. E é com essa atitude, por exemplo, que elas começam a frequentar a escola. Nesse momento, 
muitas vezes elas tomam consciência da diferença, uma vez que encontrarão entre seus colegas de 
turma crianças de outras etnias, com comportamentos, gostos, hábitos e desejos diferentes dos seus. 
E como elas tendem a reagir? Procuram trocar experiências entre si. Isso é básico quando se pensa 
na educação, porque a escola é, antes de tudo, um espaço de socialização e, portanto, deve favore-
cer o intercâmbio e estimular o diálogo.
A abordagem antropológica parte da perspectiva e da visão de mundo do outro. Quando 
o antropólogo se coloca diante do seu objeto de estudo (ou seja, o outro), ainda que incons-
cientemente adotará vários “filtros” para analisá-lo: a própria teoria antropológica, seus valores, 
princípios e sua experiência de vida, o que não pode tirar a objetividade de seu trabalho. Observe 
que, de certa forma, como educadores, ao entrarmos em sala de aula, em contato com um grupo 
de alunos, muitas vezes bastante diferentes entre si, colocamo-nos numa posição muito similar. 
Levamos para a sala de aula nossa vida pessoal, nossos valores, costumes, hábitos e nossa visão 
de mundo. No entanto, ainda assim precisaremos estar abertos a cada uma dessas realidades e 
histórias de vida, em geral diferentes da nossa. Construir preconceitos em relação a alguma coisa 
dificulta muito o diálogo e diminui a possibilidade de trocas, o que gera preconceitos, discrimi-
nação e exclusão – tudo o que deve ser combatido nos espaços escolares e não escolares.
Um indivíduo, ao assumir uma prática antropológica, torna-se um sujeito que terá como 
missão traduzir a complexidade de uma cultura diferente da sua ou, se dentro do próprio uni-
verso cultural, que deverá decifrar para outros que não a conheçam. É o caso, por exemplo, da 
Antropologia urbana, uma das áreas de atuação da antropologia na atualidade, ao investigar, por 
exemplo, os bailes funks. O pesquisador, sendo ou não frequentador desses eventos, deve adotar a 
teoria e o método próprios dessa ciência e, com base nisso, precisa “decifrar” objetivamente essa 
prática cultural para os próprios integrantes, especialmente para a parcela da sociedade mais ampla 
que não conhece tais eventos. Dessa forma, há uma troca por meio da qual todos aprendem sobre 
o fenômeno em questão – nesse caso, o baile funk.
Outro exemplo clássico da Antropologia que ilustra essa questão é a pesquisa antropológica 
realizada em comunidades indígenas. Ela traz à luz uma cultura e um estilo de vida pouco conhe-
cidos pelas populações urbanas. Trata-se de aprender com elas. Veja que, ainda que os indígenas 
sejam parte da cultura brasileira, sua cultura própria não está acessível a todos nós. Ainda que 
sejamos brasileiros, podemos não conhecer ou saber tudo sobre todas as manifestações culturais 
de nosso país. Devemos sempre nos lembrar que, ao vermos um costume diferente, reconhecemos 
em nós, por contraste, o que somos ou não.
Quando vai a campo, num trabalho de observação participante, o antropólogo busca narra-
tivas que podem ser distintas e variar de acordo com o informante. Dessa forma, sua análise será 
sempre uma interpretação daquilo que viu, não necessariamente a única verdade. Temos nisso a 
Antropologia da educação22
ideia de pluralidade que marca o trabalho antropológico. Percebe como essa abordagem pode ser 
rica para a educação? Reconhecer que não se sabe tudo e que é preciso captar as percepções, as 
histórias de vida e as visões de mundo do outro, o qual pode (ou deve) aprender nesse contato, 
ajuda-nos, como educadores, a destacar e valorizar as diferenças, de modo a promover a inclusão.
E por que é possível falar em inclusão? Porque, quanto mais cedo entendermos que a uni-
dade está na diversidade e que não há superioridade entre uma cultura e outra, mais receptivos à 
diversidade nos tornamos.
A atitude antropológica tem como fundamento a capacidade de relativizar, isto é, compreen-
der a lógica da sociedade com base no ponto de vista do indivíduo, deixando seus preconceitos de 
lado e transformando o exótico em familiar. Para isso, é necessário questionar os elementos desse 
código. Discutindo a ideia do relativismo cultural, Da Matta (1987) reafirma essa atitude como 
positiva e valorativa, buscando compreender o outro, o diferente, o exótico e o não familiar, fenô-
menos que muitas vezes não estão distantes de nós.
Considerações finais
No desenvolvimento das Ciências Sociais, a Antropologia surgiu da preocupação em en-
tender o que na época se chamava de sociedades primitivas. Durante seu desenvolvimento e 
consolidação como ciência, a percepção acerca dessas sociedades foi mudando, sobretudo a 
partir do momento em que se percebeu que não era viável analisar sociedades diferentes com 
base em premissas construídas por meio de visões etnocêntricas e/ou eurocêntricas.
O campo de atuação se ampliou, e o método de trabalho desenvolvido para o estudo 
antropológico, com base no trabalho de campo e na observação participante, configurou-se em 
sua especificidade como ciência.
O próprio conceito de cultura evoluiu ao longo do tempo e foi desdobrado até se construir 
a ideia de relativismo cultural, isto é, a capacidade de compreender o diferente, desvendando e 
decifrando a lógica das diferentes culturas. Com isso aprendemos que, às vezes, o que achamos 
natural é culturalmente construído e que nem tudo o que é estranho é necessariamente de menor 
valor ou ruim. Por isso se diz que viver em sociedade é um aprendizado contínuo, que começa 
quando nascemos e só termina quando morremos. Durante nossa vida, devemos aprender com o 
outro, ampliar nossos horizontes e lutar contra preconceitos.
Dessa forma, percebemos que o conhecimento antropológico da nossa cultura passa ine-
vitavelmente pelo conhecimento das outras culturas. Devemos especialmente reconhecer que 
somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única (LAPLANTINE, 1989, p. 21).
Assim, podemos praticar a alteridade e a atitude antropológica como ferramentas 
para se construir um mundo marcado pela tolerância, pela aceitação do outro, pelo diálogo 
e pela inclusão.
A Antropologia e a alteridade 23
Quando se pensa na educação, tudo isso se torna ainda mais importante, uma vez que a 
escola é uma das principais instituições sociais, na qual tambémacontece o processo de sociali-
zação dos indivíduos. Nela está presente a diversidade, com a qual nós, educadores, precisamos 
estar preparados para lidar, por meio de ações de resistência e combate aos diferentes tipos de 
preconceito e discriminação. Do contrário, podemos ter na escola mais um espaço de reprodu-
ção da injustiça e exclusão do diferente.
A construção do outro é uma das tarefas impostas à escola numa sociedade que se propõe 
justa, igualitária e equitativa, isto é, que colabore para formar indivíduos que tenham as mesmas 
oportunidades de inclusão e ascensão social. Valores como respeito ao outro e à sua dignidade 
devem ser construídos também na escola. Se ela, tal como já afirmamos, é um fenômeno social 
e cultural, torna-se também um interlocutor fundamental para a Antropologia.
Atividades
1. Ao longo do tempo, os indivíduos tiveram contato com povos com valores, costumes, re-
gras e tradições diferentes dos nossos. Isso provocou reações positivas e negativas. Os con-
tatos muitas vezes foram/são difíceis, hostis e até violentos. Explique por que isso ocorreu 
e, em alguns casos, ainda ocorre.
2. O surgimento das Ciências Sociais aconteceu num contexto de grandes transformações so-
ciais, políticas, econômicas e culturais, provocadas especialmente pelo Iluminismo e pelas 
revoluções Francesa e Industrial. A Antropologia se debruça exatamente sobre a questão da 
diferença entre os homens e a questão da alteridade, isto é, do reconhecimento da diversida-
de. Qual era o objetivo a ser alcançado por essa ciência em seus primórdios?
3. A visão antropológica fundamentou uma corrente teórica que influenciou tanto a Socio-
logia quanto a Antropologia, chamada de darwinismo social, baseada na teoria de Charles 
Darwin, o qual estudou o processo de evolução dos seres na natureza. Como isso impactou 
os estudos antropológicos?
4. No convívio social, estamos sempre em interação com várias pessoas e grupos, cada um 
exercendo diferentes papéis sociais, com base nos próprios padrões de comportamento e 
visão de mundo. Nessa convivência nos damos conta do outro e exercemos a alteridade. 
Para a Antropologia, como se define alteridade?
Antropologia da educação24
Referências
ALTERIDADE. In: INSTITUTO HOUAISS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2009.
DA MATTA, R. Relativizando: uma introdução à antropologia social. 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
EVOLUÇÃO. In: INSTITUTO HOUAISS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2009.
LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1989.
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
SCOTT, J. (Org.). Sociologia: conceitos-chave. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
SIQUEIRA, E. D. Cultura e senso comum. Brasília, DF: Sistema Universidade Aberta do Brasil, 2007. p. 59-61.
2
O conceito de cultura
Entender o conceito de cultura e suas implicações na construção do pensamento antropológi-
co é fundamental para compreender a importância desse conhecimento para o processo educativo. 
São muitas as acepções para esse termo, porque ele transita por várias ciências, especialmente nas 
chamadas humanidades.
A dualidade natureza versus cultura é discutida na Antropologia em razão da importância 
dessa duplicidade para compreendermos o quanto nos humanizamos ao alterarmos o ambiente 
no qual vivemos. Fazemos isso desde os primórdios da humanidade, e certamente esse processo 
continuará acontecendo. Construímos valores comuns a todos os grupos sociais, ao mesmo tempo 
em que surgem práticas, padrões e hábitos bastante distintos entre as sociedades. Mas ainda assim 
estamos falando de totalidade.
Num curso de formação de professores, a Antropologia da Educação colabora para a refle-
xão em torno da diversidade e da necessidade de se repensar práticas culturais que se constituíram 
tradições numa cultura e que, como vimos, atualmente podem atentar aos direitos humanos. Vale 
ressaltar que é extremamente importante que sejam formados profissionais da educação mais críti-
cos e conscientes, em virtude das características do mundo contemporâneo, cada vez mais próximo 
em função da interdependência entre o países e das novas tecnologias.
2.1 O conceito de cultura na Antropologia
Afinal de contas, o que significa cultura, palavra tão utilizada desde o início da nossa re-
flexão? Já sabemos que ela envolve vários aspectos da produção humana, tais como valores, leis 
e costumes. Também faz parte da cultura de um povo sua produção material. Ou seja, artefatos, 
utensílios, vestuário, moradia, alimentação e tudo o que o homem construiu ou produziu para se 
adaptar ao meio ambiente e atender às suas necessidades de sobrevivência e conforto. Mas não 
podemos adotar apenas uma lógica utilitarista, porque, se fosse assim, encontraríamos soluções 
absolutamente iguais para problemas comuns em todos os lugares do mundo. O que se observa 
é a existência de questões subjetivas além das questões materiais. Daí a diversidade encontrada 
entre os povos.
Diante disso, podemos perceber que a cultura é bastante ampla e complexa, não sendo única, 
assim como também não há uma mais verdadeira ou perfeita que outra. Percebemos isso quando o 
padrão europeu serviu de referencial para julgar os povos ameríndios, classificando-os como “sel-
vagens”, “primitivos”, não civilizados. Devemos falar em culturas, e não cultura. Com elas o homem 
enxerga o mundo, transforma sua realidade e o mundo que o cerca e constrói sua identidade com 
base no que por elas é definido como válido. Colocando-se como centro do mundo, numa postura 
antropocêntrica construída desde o século XVII, o ser humano constrói sistemas simbólicos para 
explicar e orientar o mundo em que vive.
Antropologia da educação26
Observe que, nessa linha de pensamento adotada pela Antropologia, a cultura é tão abstrata 
quanto concreta. Por exemplo, o homem não se alimenta apenas para sobreviver, mas por várias 
outras razões, entre elas o prazer de comer. Assim podemos perceber que, no que diz respeito à 
alimentação, a separação natureza x cultura é muito clara. Se não fosse assim, todas as sociedades 
adotariam insetos em seus padrões alimentares, mas isso não ocorre porque as pessoas tendem a 
comer aquilo que lhes é familiar, que aprendem a comer e que faz parte dos hábitos alimentares de 
sua sociedade.
Observe as imagens a seguir.
Figura 1 – Insetos como parte da alimentação de muitas culturas
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Figura 2 – Bolo de chocolate tradicional da cultura ocidental 
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Qual dos pratos você teria vontade de provar? Arriscamos dizer, mesmo desconhecendo 
seus hábitos alimentares, que você escolheria o bolo. Por quê? Porque os insetos não fazem parte de 
nossa culinária ocidental cotidiana e despertam um misto de sentimentos que não ajudam a agu-
çar o apetite, correto? Isso ilustra o que estamos discutindo aqui: a particularidade das culturas e, 
ao mesmo tempo, a universalidade da espécie humana. Queremos o familiar, resistimos ao novo. 
O conceito de cultura 27
Mas, para adotarmos uma atitude antropológica, é preciso transformar o exótico em familiar e 
assumir uma postura de estranhamento diante do que já conhecemos e do que nos é familiar.
Sabe a impressão de andarmos no “piloto automático” que sentimos algumas vezes no nos-
so dia a dia? É um pouco sobre isso que estamos falando. Se alguém lhe perguntasse por que não 
comeria o prato com os insetos e você apenas respondesse “porque não!” ou “porque tenho nojo!”, 
estaria reforçando sem questionamento os padrões já conhecidos, enquanto poderia se dispor a 
experimentar e “se familiarizar” com o novo, o exótico. O que acha?
Então, cultura é mais do que a simples soma de valores, rituais, costumes, crenças, leis, 
utensílios e artefatos; é também um conjunto de sistemas simbólicos e de códigos por meio dos 
quais o indivíduo e os grupos decifram e explicam seu mundo.É muito comum entre os antropó-
logos a seguinte comparação: a cultura seria similar às regras de um jogo, a que todos os jogadores 
devem conhecer e respeitar. Em alguns casos, como no jogo de truco, pequenos gestos podem 
significar muita coisa no andamento e na definição da partida. Assim, o mesmo acontece na so-
ciedade: o convívio entre os indivíduos é mais tranquilo e equilibrado na medida em que as regras 
são conhecidas e respeitadas por todos. Por isso se diz que a cultura é um código que precisa ser 
descoberto e decifrado.
Pensemos em outro exemplo: você fala japonês? Como se imagina chegando ao Japão sem 
dominar o idioma? O que poderia fazer para se comunicar e se integrar? Deveria, aos poucos, deci-
frar aquele código linguístico, ao mesmo tempo que seus novos interlocutores também precisariam 
se esforçar para compreender você.
Laraia (1989), como já dissemos anteriormente, afirma que a cultura condiciona a visão 
de mundo do homem, e na base disso há um sistema de classificações e de codificação que 
constitui nossa herança cultural, que determina nosso comportamento em relação ao outro. 
Para ele, “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes 
comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança 
cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura” (LARAIA, 1989, p. 70).
Roberto da Matta, um dos maiores antropólogos brasileiros, por sua vez, reforça que o social 
e o cultural são inseparáveis, sendo a cultura uma tradição transmitida de geração a geração – ela é 
o que diferencia uma sociedade da outra. O social, para ele, seria tudo aquilo que independe da na-
tureza interna (biologia/genética) ou externa (fatores ambientais), sendo também “um fenômeno 
coletivo, globalizante, múltiplo” (DA MATTA, 1987, p. 17). Trata-se de “uma totalidade ordenada 
de indivíduos que atuam como coletividade”. Existe uma “tradição viva conscientemente elaborada 
que passa de geração para geração, que permita individualizar ou tornar singular e única uma dada 
comunidade relativamente às outras, constituídas de pessoas da mesma espécie”. Da Matta (1987, 
p. 48) diz que “sem uma tradição, uma coletividade pode viver ordenadamente, mas não tem cons-
ciência do seu estilo de vida”. O autor afirma que em cada sociedade há uma tradição cultural que 
se assenta no tempo e se projeta no espaço. É por isso que pode haver uma sociedade sem cultura, 
mas não o inverso. Dessa forma, Da Matta (1987, p. 57) revela que, ao se observar as sociedades e 
buscar suas percepções sobre aquilo que vivem, creem ou realizam, suas ações concretas podem 
compreender seus valores e suas ideologias.
Antropologia da educação28
Por exemplo, veja que por isso é possível, inclusive, haver vestígios da cultura de uma 
sociedade já extinta, objeto de estudo da Antropologia pré-histórica. Da Matta reforça que o 
homem, ao transformar a natureza, assim o faz por inúmeras razões, sobretudo para atender às 
suas necessidades de sobrevivência. Mas também precisa compreender o mundo em que vive e, 
para isso, inventa todo um sistema de valores que depois nortearão seu comportamento.
Outro antropólogo que contribuiu significativamente para a discussão sobre os fundamen-
tos da Antropologia é François Laplantine. Ela afirma:
o social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, de 
dominação...) que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo conjunto 
(etnia, região, nação...) e para com outros conjuntos, também hierarquizados. 
A cultura por sua vez não é nada mais que o próprio social, mas considerado 
dessa vez o sob o ângulo dos caracteres distintivos que apresentam os compor-
tamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções 
originais (artesanais, artísticas, religiosas...). (LAPLANTINE, 1989, p. 122, 
grifos do original)
Mais uma vez, devemos lembrar o caráter relacional na análise antropológica, que, como 
afirma Laplantine, procura dar conta da relação entre o social e o cultural. É por isso que mui-
tas vezes há certa confusão entre as abordagens e os objetivos da Sociologia e da Antropologia, 
parecendo que não existe distinção entre as duas ciências. No entanto, nelas há diferenças funda-
mentais, sobretudo em termos metodológicos. Enquanto a Sociologia procura compreender o ho-
mem em interação, isto é, vivendo em sociedade, a Antropologia pretende compreender o homem 
por inteiro, sua produção cultural, isto é, o homem em sua totalidade.
Quando a Antropologia toma o próprio homem como objeto de conhecimento, inicia-se 
uma nova forma de perceber o mundo, um novo modo de pensar, baseado, como vimos, no agir 
com alteridade. Isso é bastante recente na história da humanidade e trouxe muitas consequên-
cias, entre elas a ideia de que não há uma hierarquia entre culturas diferentes. Não há como 
classificar culturas diferentes numa escala de valoração com base na ideia de progresso ou atraso. 
Quanto mais se ampliavam os horizontes da humanidade, mais se percebeu que o estranhamen-
to em relação ao outro poderia ser algo bastante positivo se houvesse uma atitude de curiosidade 
e, ao mesmo tempo, de respeito em relação ao diferente. Soube-se, então, que o olhar sobre o ou-
tro e as interpretações possíveis de construir acerca das suas práticas culturais tornam viável nos 
conhecermos melhor. Por meio da etnologia, estudo das culturas e dos povos, a Antropologia 
possibilita a construção de um mundo mais tolerante e de pessoas mais críticas.
Ao falarmos em cultura, referimo-nos à multiplicidade presente nas diferentes comunidades 
humanas. Os indivíduos se organizam em grupos e em sociedades com base em elementos que os 
aproximam, no que constroem em comum e com o que se identificam. Pode ser a língua, o mesmo 
referencial histórico, determinada organização política e social, a relação com o sagrado, a religião... 
Enfim, os indivíduos organizam seu mundo de maneira a fazer sentido para eles mesmos.
Há elementos que unem e existem aqueles que separam os seres humanos. Por exemplo, 
quando se pensa na educação, observamos que em todas as culturas há uma forma de se transmitir 
às novas gerações o conhecimento acumulado. Isso é cultura. Entretanto, cada grupo/povo pode 
O conceito de cultura 29
fazer isso distintamente, muitas vezes sem um sistema formal de educação. Em sociedades sem 
escrita, a oralidade garante que as tradições do grupo sejam passadas aos mais jovens para que elas 
não se percam. Nesse sentido, a abordagem antropológica possibilita ao educador uma visão mais 
ampla do valor das práticas culturais e sua importância para a construção de identidades.
Tendo isso em mente, o olhar antropológico nos mostra que práticas, costumes e concepções 
de mundo só fazem sentido se forem compreendidas com base na lógica do grupo que os produziu, 
numa relação dialógica. Fica clara a necessidade de inter-relacionar os diferentes elementos que 
compõem a cultura, ao mesmo tempo que se tenta explicá-los aos indivíduos que a produziram.
Ao discutirmos o papel da cultura, devemos destacar que, ao contrário do que marcava o 
contexto inicial da Antropologia, o isolamento entre grupos sociais diminuiu ao longo do tempo; 
hoje praticamente não existe mais. Inevitavelmente, diante dessa realidade, foi possível observar que 
os grupamentos humanos se desenvolveram em ritmos, formas e tempos variados. Entretanto, isso 
não impediu que, apesar dessas diferenças, houvesse também algumas tendências e acontecimen-
tos comuns. O exemplo mais clássico desse desenvolvimento humano diz respeito ao surgimento 
da agricultura – a chamada Revolução Neolítica. Historiadores e antropólogos se perguntam até 
hoje como, em diferentes lugares do planeta, povos distintos e nômades descobriram a agricultu-
ra na mesma época. Em virtude disso, tornaram-se sedentários. Assim, ao lado da caça e da co-
leta, passaram a exercer uma nova atividade econômica que mudaria para sempre a história da 
humanidade. Com issosurge também a ideia de Estado e uma nova forma de organização social, 
que dá início a várias civilizações. Durante a Antiguidade, elas fundamentaram algumas bases de 
tudo o que veio em seguida em termos de organização social, política, religiosa e, claro, cultural. 
A domesticação de animais, a diversificação de culturas agrícolas e o uso dos recursos naturais 
marcaram diferentes grupamentos humanos, ainda que não tivessem entrado em contato entre si. 
Tais práticas podem ser vistas como tendências dominantes. Seria possível cuidar das culturas agríco-
las (plantio e coleta) e da domesticação de animais se os homens continuassem a ser nômades?
Vale lembrar novamente que isso não significa que se possa avaliar as mudanças e os 
avanços alcançados por diferentes grupos numa escala de passagem da selvageria à civilização, 
passando pela barbárie, estágio intermediário. Como vimos, o evolucionismo, ainda que tenha 
sido importante na construção teórica da Antropologia, não foi suficiente para explicar os gru-
pos sociais que não se encontravam no universo conhecido pelos europeus e americanos no 
século XIX. Ficou claro, ao longo do tempo, que diferenças físicas, como a cor da pele, não deter-
minavam um sistema cultural e que, portanto, seria necessária outra forma de explicar a diversi-
dade. Mas, enquanto essa concepção se manteve, muitas visões distorcidas sobre povos e grupos 
não europeus foram marcadas por preconceito, resultando até em extermínio de populações.
Cabe aqui uma observação: ainda que não exista uma única linha evolutiva da humanidade 
e que a variedade de práticas e sistemas culturais seja uma realidade, não se pode relativizar tudo. 
É preciso entender que, ao procurarmos decifrar a cultura de um povo, estamos adotando critérios 
que são também construções culturais. Assim, é extremamente importante que, ao adotarmos a 
abordagem antropológica, tenhamos em mente que todos os grupamentos humanos fazem parte 
da história de nossa espécie como um todo. Todas as culturas particulares devem ser vistas como 
Antropologia da educação30
integrantes de um conjunto. Por exemplo, podemos estudar a cultura de tribos indígenas que vi-
vem isoladas, sem considerar a realidade histórico-social-econômica do Brasil como um todo? 
Podemos nos questionar, por exemplo, por que (e como) elas ainda conseguem se manter isoladas 
do restante da “civilização”, enquanto outras tribos foram extintas ou vivem hoje à margem da so-
ciedade mais ampla.
Figura 3 – Indígenas vivendo em tribo isolada da sociedade, no Acre (2009).
Não é à toa que, por bastante tempo, muitos antropólogos escolheram comunidades indígenas 
como objeto de estudo. Esses grupos estavam à margem da sociedade mais ampla, o que possibilitava 
a realização do trabalho de campo e a observação – técnica de pesquisa clássica da Antropologia.
Assim, a cultura se torna o conceito-chave das análises antropológicas. Outros conceitos 
derivam dessa categoria de análise: diversidade cultural, etnocentrismo e relativismo cultural. 
Por meio destes a Antropologia se debruça sobre as diferenças e particularidades das sociedades, 
mas de modo a buscar o que nos aproxima como humanidade.
2.2 Cultura e relativismo cultural
Você deve ter notado que já empregamos algumas vezes aqui a expressão relativismo cultu-
ral. Vamos explorar uma pouco mais essa ideia? Vimos que o pesquisador, ao analisar uma cultura, 
baseia-se nas teorias que fundamentam a Antropologia, mas também adota diferentes filtros. Isso 
porque não é possível se desfazer de tudo o que constitui sua cultura. Esta, de alguma forma, interfere 
na interpretação que ele faz de outra cultura. Se não fundamentar sua pesquisa nos princípios teóri-
co-metodológicos da Antropologia, não produzirá um conhecimento realmente científico.
Vamos a um caso concreto para entendermos melhor esse aspecto. Se um antropólogo está 
estudando uma sociedade que tem como parte da sua cultura um ritual de passagem para os me-
ninos com o qual ele não concorde por ser extremamente cruel, deve procurar ser muito objetivo 
em sua observação. Há ritos de passagem que marcam a entrada do garoto na vida adulta que 
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implicam em várias etapas, e algumas delas exigem muito deles em termos físicos e psicológicos. 
Podem, por exemplo, ser isolados por alguns dias em um local fora de sua aldeia, devendo so-
breviver sozinhos, sem nenhuma ajuda. Ou, como forma de provar sua coragem, são obrigados a 
colocar a mão dentro de um formigueiro de uma espécie de formiga bastante perigosa, cuja toxina 
causa muita dor e sofrimento. Se esse menino não suportar tal situação por um tempo mínimo, 
não será considerado adulto, e isso pode significar muita humilhação diante do grupo. Mas qual é 
a dificuldade para o pesquisador numa situação como essa? É se desprender dos valores impostos 
pela própria cultura, que, nesse caso, determina que a criança e o jovem devem ser protegidos e 
poupados de alguns riscos à sua integridade como um todo, sem tecer juízos de valor.
Assim, sob esse ponto de vista é que se diz que tudo é relativo, mas é importante entender 
que o relativismo não pode servir de justificativa para a imposição de uma cultura dominante sobre 
outras, nem para aceitar que, em nome da tradição, sejam mantidas práticas hoje inaceitáveis.
Agora vamos discutir um pouco sobre a questão da mutilação genital feminina, tema po-
lêmico, que sempre gera muita indignação e nos ajuda a refletir mais sobre essa questão. Trata-se 
de extirpar o clitóris da menina. A mutilação ocorre normalmente entre os três e os cinco anos de 
idade. Na maioria das vezes, isso acontece de forma muito rudimentar, usando lâminas comuns ou 
facas, sem nenhum tipo de higiene ou anestesia. Isso implica em enorme dor física e psicológica, 
além do risco de sangramento, infecção (inclusive pelo vírus da Aids), infertilidade e anomalias 
físicas irreparáveis na genitália. Então nos perguntamos: o que leva a comunidade a ainda acei-
tar essa prática? Diversas pesquisas, algumas conduzidas pela própria Organização das Nações 
Unidas (ONU), por meio da Unesco, órgão de proteção da infância e da juventude, mostram que, 
ainda existindo a rejeição tanto de homens quanto de mulheres a essa prática, em alguns locais há 
também a percepção de que isso é importante para que a mulher seja aceita em sua comunidade. 
Mesmo sabendo dos inúmeros riscos às meninas, dados mostram que a aceitação da permanência 
desse ritual é maior entre as mulheres, com receio de serem excluídas do próprio grupo social. 
Entretanto, atualmente há várias mulheres, vítimas ou não desse rito, que se tornaram ativistas para 
tentar conscientizar as pessoas dentro e fora de seus países, no sentido de pôr fim a essa prática em 
nome dos direitos humanos.
Esse é um exemplo que nos mostra o quanto é difícil esse processo de relativização cultu-
ral. A diversidade que caracteriza grupos, países e sociedades pode ser percebida na pluralidade 
e originalidade de identidades. Atualmente, essa diversidade se acentua ainda mais, exigindo de 
todos nós um olhar mais aberto ao outro, sob diversos aspectos: raça, etnia, orientação sexual ou 
religiosa, nacionalidade, posicionamento político, hábitos alimentares etc. O conviver se torna um 
exercício de superação de preconceitos e uma luta para desenvolver conexões empáticas com o ou-
tro, de modo a acolher, estabelecer o diálogo e valorizar suas características e seus pontos de vista, 
ainda que divergentes dos nossos.
O relativismo cultural significa também se colocar no lugar do outro, uma ferramenta para 
o entendimento e um caminho para construir sociedades intelectual, afetiva, ética, moral e econo-
micamente equilibradas. Reconhecer e respeitar a diversidade é a condição para a defesa da digni-
dade humana e dos direitos humanos. Você já se deu conta de quantos conflitos estão acontecendo 
Antropologiada educação32
atualmente no mundo em virtude do não reconhecimento dessas premissas básicas que constituem 
nosso caráter de humanidade? Vejamos alguns deles.
Um dos mais antigos é o conflito entre árabes e palestinos na região da Palestina e do Estado 
de Israel. Esse conflito se estende há décadas, sob o argumento de que, para a criação do Estado 
judeu, grandes parcelas de terras palestinas foram tomadas para constituir os limites de Israel e 
construir assentamentos para colonos judeus. Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) 
aprovou um plano de partilha da Palestina que previa a criação de dois Estados: um judeu e outro 
palestino. A recusa árabe em aceitar a decisão culminou em intenso confronto entre Israel e países 
árabes: a guerra árabe-israelense de 1948, quando grande parte da população palestina foi expulsa 
(Figura 4). Depois de várias guerras e discussões sobre a cidade de Jerusalém, considerada sagrada 
para as três grandes religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), e sob a justificativa 
de ser uma questão religiosa, de disputas territoriais e de rivalidades étnicas dos dois lados, gerações 
inteiras até hoje não sabem o que é viver em paz. Fala-se que a questão religiosa é um dos motivos, 
mas há também fatores econômicos envolvidos – um deles é o controle da água na região e a posição 
estratégica em relação à geopolítica do petróleo.
Figura 4 – Refugiados palestinos em 1948 
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Outro exemplo mais recente é o grande deslocamento populacional em movimentos migra-
tórios em virtude de guerras, muitas delas alimentadas por conflitos étnico-religiosos. É o caso da 
Síria, país cuja população se divide em várias etnias, nem todas muçulmanas. Além disso, rebeldes 
e grupos terroristas atuam em seu território. O que se vê é uma das maiores crises humanitárias 
desde a Segunda Guerra Mundial.
Há também desrespeito à diversidade e aos direitos humanos em vários outros países, 
como Congo, Nigéria, Etiópia, Somália, Chade e Iraque (na região da etnia curda – o maior povo 
sem Estado do mundo). Se buscarmos as razões para tantos conflitos, encontraremos motiva-
ções econômicas, mas também questões étnico-raciais e/ou religiosas. Nesses casos, vemos na 
O conceito de cultura 33
prática o menosprezo ao direito de minorias no sentido de preservarem e verem reconhecidas 
suas culturas, o que configura desrespeito aos direitos culturais.
Cada cultura tem o direito de se expressar, tentar manter suas tradições e transmiti-las às no-
vas gerações. Além disso, culturas dominantes não têm o direito de subordinar aquelas minoritá-
rias, sob pena de negar aos mais novos o conhecimento de tradições e valores que configuram suas 
identidades. O direito à liberdade, inclusive à de expressão, é de todos e é base para a convivência 
baseada no relativismo e respeito à diversidade. Essa é uma das tarefas da educação em todas as so-
ciedades: oportunizar o compartilhamento do sistema cultural de cada sociedade ou grupo social 
de modo a construir ou reforçar identidades individuais e coletivas.
Mas como opera a cultura? Laraia (1989, p. 67-105) define algumas formas pelas quais a 
cultura se concretiza na sociedade e como é percebida e praticada pelos indivíduos. Inicialmente o 
autor afirma que, como dito anteriormente, ela condiciona a visão de mundo do homem e tem uma 
lógica própria. No primeiro caso, o modo de ver a realidade e os julgamentos morais e valorativos, 
os diferentes comportamentos e até posturas corporais são produtos de uma herança cultural e 
determinam como vemos a diferença. Você já não identificou facilmente um turista em sua cidade? 
Isso foi possível porque, de alguma forma, ele se comportou ou apresentou indícios (atitudes, ves-
tuário, sotaque etc.) que o diferenciou dos membros da sociedade na qual estava naquele momento.
Como vimos, a consequência do fato de vermos o mundo por meio da lente da nossa cultura 
pode levar a julgamentos equivocados e preconceituosos em relação ao outro. É preciso ter muito 
cuidado. Para que isso não ocorra, segundo Laraia (1989), devemos tomar como ponto de referên-
cia a humanidade, e não o grupo ou o indivíduo.
Quando o autor diz que cada cultura tem a própria lógica, lembra que só é possível analisar 
a coerência de um hábito cultural com base no sistema a que pertence, procedimento que consiste 
em um sistema de classificação. E os diferentes sistemas divergem entre si de acordo com essa lógica.
A cultura, ainda de acordo com Laraia (1989), também interfere no plano biológico, uma 
vez que aspectos físicos ou psíquicos podem definir formas de comportamento e construir siste-
mas de classificação acerca do mundo no qual o indivíduo e seu grupo se inserem. Ele exemplifica 
essa interferência ao citar a questão das doenças psicossomáticas (doenças reais ou imaginárias 
e sua cura – real ou imaginária) e a sensação de fome, que depende de muitos fatores. Estamos 
condicionados, por exemplo, a sentir fome ao meio-dia. Mas será assim em todos os lugares do 
mundo? Sabemos que não, uma vez que os horários das refeições são definidos culturalmente em 
cada sociedade.
Outro aspecto importante apontado por Laraia (1989) é o fato de os indivíduos da mesma 
sociedade participarem diferentemente de sua cultura. O autor afirma que o envolvimento de cada 
um de nós em nossa cultura é limitado e nenhuma pessoa é capaz de praticar todos os elementos 
da sua cultura. E isso é mais claro em sociedades mais complexas como a nossa, que impõe limites 
a essa vivência com base em diferentes critérios, tais como sexo e idade. Algumas dessas limitações 
são realmente de ordem cronológica, enquanto outras são estritamente culturais. O autor dá como 
exemplo as várias atividades que uma criança não pode realizar, enquanto outras são proibidas a 
pessoas de mais idade, por incapacidades de ordem física. Mas há situações nas quais os critérios 
Antropologia da educação34
são bastante questionáveis e frutos de uma definição arbitrária, como é o caso de os jovens de 16 
anos poderem votar, mas não dirigir antes dos 18. Outro exemplo apresentado pelo autor é o do 
jovem de 17 anos, 11 meses e 20 dias, para o qual não é aconselhado assistir a um filme cuja clas-
sificação é para 18 anos. Qual é realmente a diferença, uma vez que se trata de poucos dias entre 
uma idade e outra? O que explicaria essas imposições culturais? Convenções culturais que foram 
construídas pela própria sociedade e que passam a definir as diferentes participações dos indiví-
duos na própria cultura.
Finalmente, ao dizer que a cultura é dinâmica, Laraia (1989) aponta para o fato de que as 
mudanças pelas quais ela passa podem ser internas ou externas, mais lentas ou mais rápidas, sendo 
o tempo um elemento importante na constituição dos sistemas culturais. Isso significa que um com-
portamento ou um valor aceito atualmente em determinada sociedade pode não o ser no futuro.
Assim, percebemos que a cultura é uma condição essencial para nossa constituição como 
humanidade e diz respeito à nossa capacidade de significarmos o que fazemos e o mundo que nos 
cerca. Veja como essa ideia é importante para o que nos propomos aqui, ou seja, abrir uma nova 
frente para discutir a educação e a prática educativa. Isso porque cultura diz respeito a todas as for-
mas de pensar e agir compartilhadas pelos indivíduos de determinado grupo ou sociedade, numa 
dimensão de tempo e espaço, em qualquer sociedade (indígena, camponesa, urbana etc.). É por 
isso que reforçamos que a análise antropológica busca o relativismo e a totalidade.
Dessa forma, o estudo das culturas e as formas por elas escolhidas para transmitir o conheci-
mento acumulado é fundamental para a Antropologia da Educação, lembrando que a relação entre 
culturas diferentes nem sempre acontece de forma igualitária. São relações de poder. Percebemos 
ao longo da história que pode haver tentativas de imposição de uma cultura sobre outra. Quando 
se fala em educação,

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