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Logoterapia_01

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AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
LOGOTERAPIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
LOGOTERAPIA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
1 INTRODUÇÃO À LOGOTERAPIA 
1.1 A BIOGRAFIA DE UM SOBREVIVENTE 
1.2 O QUE É LOGOTERAPIA? 
1.3 A BUSCA DE SENTIDO COMO MOTIVAÇÃO HUMANA 
1.4 PATOLOGIAS DECORRENTES DO VÁCUO EXISTENCIAL 
 
MÓDULO II 
2 ANÁLISE DAS BASES CIENTÍFICAS E FILOSÓFICAS DA LOGOTERAPIA 
2.1 FENOMENOLOGIA 
2.2 EXISTENCIALISMO 
2.3 PSICANÁLISE 
2.4 FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS 
 
MÓDULO III 
3 PRINCIPAIS CONCEITOS DA LOGOTERAPIA 
3.1 VONTADE DE SENTIDO 
3.2 VONTADE DE LIBERDADE 
3.3 VÁCUO EXISTENCIAL 
3.4 AUTOTRANSCENDÊNCIA 
3.5 NOODINÂMICA 
3.6 ENCONTRO 
 
MÓDULO IV 
4 PATOLOGIAS DERIVADAS DA AUSÊNCIA DE SENTIDO 
5 O USO DE RECURSOS LOGOTERAPÊUTICOS EM EMPRESAS 
6 LOGOTERAPIA E EDUCAÇÃO 
7 LOGOTERAPIA E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
8 LOGOTERAPIA, PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 
9 APRESENTAÇÃO DE TÉCNICAS LOGOTERAPÊUTICAS E CASOS CLÍNICOS 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
 
 
MÓDULO I 
 
 
1 INTRODUÇÃO À LOGOTERAPIA 
 
 
A logoterapia foi uma doutrina criada no século XX pelo médico Viktor 
Frankl, que afirmava ser a busca de um sentido para a vida o motor básico da 
existência humana. Sua vida teve influência determinante sobre sua obra, de forma 
que não seria possível compreender o sistema teórico por ele criado, sem 
retomarmos os acontecimentos de sua história pessoal (XAUSA, 1988). 
 
 
1.1 A BIOGRAFIA DE UM SOBREVIVENTE 
 
 
Viktor Emil Frankl nasceu em Viena, no dia 26 de março de 1905. Foi 
educado dentro dos costumes judaicos, em uma atmosfera de grande afeto familiar. 
Filho de Gabriel e Elsa, ambos da Tchecoslováquia, era o segundo dos três filhos 
deste casal (XAUSA, 1988). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
 
 
FIGURA 1 – VIKTOR FRANKL (AO MEIO) E SEUS IRMÃOS 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://www.viktorandimovie.com/ResizeImage.aspx?h=500&w=600&img=%2fWebsites%2fviktorandi
%2fPhotoGallery%2f1378861%2f0074_frankl.jpg&0 
Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Desde muito cedo, já manifestava interesse pelo que viria se tornar a 
essência de sua teoria: o sentido da vida. Era um jovem insatisfeito com as teorias 
mecanicistas que vigoravam na época e conta que, aos 13 anos, um professor de 
história natural afirmou que a vida dos organismos, incluindo os homens, nada mais 
era que uma soma de processos físico-químicos, ao que, muito indignado, 
respondeu: “qual então o sentido da vida?”. Esse mesmo questionamento também 
foi tema de uma conferência que pronunciou, ainda na adolescência, aos 16 anos, 
na Comunidade de Trabalho Filosófica (FRANKL, 1990). 
No entreguerras, interessou-se pela leitura dos filósofos da natureza e pela 
psicanálise. Chegou a se corresponder com Sigmund Freud e, em uma dessas 
correspondências, anexou um manuscrito “sobre a origem da afirmação e negação 
mímicas”. Para surpresa de Frankl, Freud encaminhou o manuscrito para o periódico 
Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, que o publicou no ano de 1924. Frankl 
tinha então 19 anos (FRANKL, 1990). 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
 
 
FIGURA 2 – SIGMUND FREUD 
 
FONTE: Disponível em: <http://www.clarku.edu/micro/freudcentennial/images/freud_215.jpg> 
Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Suas leituras da psicanálise freudiana, no entanto, levaram-no com o tempo 
a tecer questionamentos em torno do que ele entendia como uma visão determinista 
e mecanicista do homem. Para Frankl (GOMES, 1992), ao colocar o homem como 
um ser guiado por seus impulsos sexuais e em busca do prazer, a psicanálise 
retirava-lhe a possibilidade de se sobrepor aos condicionamentos e modificar a 
própria vida. 
O distanciamento da teoria freudiana, no entanto, não fez com que Frankl 
(XAUSA, 1988) perdesse o respeito e admiração pela obra de seu mestre, tendo 
guardado consigo cartas e casos clínicos compartilhados com Freud e que 
posteriormente foram confiscadas pelos nazistas. 
Além de Freud, Viktor Frankl aproximou-se do também vienense Alfred 
Adler, fundador da psicologia individual. No seio dessa teoria, Frankl encontrou 
elementos mais próximos daquilo que o estimulava: uma compreensão integrada de 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
homem e a questão do sentido da vida (XAUSA, 1988). E assim como Freud, Adler 
determinou a publicação de outro trabalho científico de Frankl na Internationale 
Zeitschrift für Individualpsychologie, publicado em 1925 (FRANKL, 1990). 
 
 
FIGURA 3 – ALFRED ADLER 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://www.alfredadler.org/assets/images/alfred%20adler%20photo%20small.jpg> 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
Em 1926, quando tinha 21 anos, Frankl pronunciou uma conferência sobre o 
sentido da vida, tendo como contexto a situação social da geração que sobrevivera à 
Primeira Guerra. No mesmo ano, no III Congresso Internacional de Psicologia 
Individual, apresentou um trabalho intitulado A neurose como expressão e meio, que 
abordava alguns casos de neurose como uma necessidade profunda de um 
significado para a vida. Ao mesmo tempo em que aí se encontra a semente 
originária da logoterapia, esse episódio lhe rendeu o afastamento de Adler, que não 
tolerou a nova teoria (XAUSA, 1988). 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 9 
 
A partir de 1927, sua história registra novos rumos: 
 
Após a expulsão da Associação de Psicologia Individual o ponto principal da 
minha esfera de interesse transferiu-se da teoria para a prática. Eu 
organizei – primeiro em Viena e depois segundo o modelo de Viena, sem 
seis outras cidades – os chamados postos de aconselhamento da 
juventude, nos quais jovens em dificuldades psicológicas eram 
aconselhados gratuitamente. Como conselheiros apresentaram-se a mim, 
sem receber vencimentos, homens como August Aichhorn, Wexberg e 
Dreikurs, mas também Charlotte Buhler declarou-se pronta, como todos os 
outros, a receber em casa os que procuravam aconselhamento. Em 1930 
organizei pela primeira vez uma ação especial, por época da distribuição 
dos certificados escolares, que teve como resultado que pela primeira vez 
em Viena, por muitos anos, não se registrou o suicídio de nenhum 
estudante (FRANKL, 1990, p. 120). 
 
 
FIGURA 4 – FRANKL COMO TERAPEUTA 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://www.viktorandimovie.com/websites/viktorandi/images/0030_frankl_200.jpg> 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
Esse aconselhamento sistemático de jovens e suas conferências em 
organizações da juventude trabalhadora socialista fizeram com que acumulasse 
grande experiência e realizasse contatos acadêmicosestimulantes com grandes 
nomes que se interessaram por sua atuação, como foi o caso de Wilhelm Reich e 
Otto Potzl, que se tornou um amigo paternal para Frankl (FRANKL, 1990). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
Foi também nessa época que Frankl se deu conta de que seu pai também 
realizara um serviço de assistência aos jovens. Se em sua adolescência achava 
aquilo extremamente tedioso, naquele momento surpreendeu-se, percebendo que 
realizava então trabalho muito semelhante (FRANKL, 1990). 
Em 1930, Frankl, que já tinha um doutorado em Filosofia, licenciou-se em 
Medicina e trabalhou no setor de neurologia, na Universidade de Viena. Seu anterior 
interesse pela psicanálise e pelo atendimento a pessoas em sofrimento o dirigiu para 
as especialidades da neurologia e da psiquiatria (FRANKL, 1990). 
Em 1937, estabeleceu uma clínica particular, mas não pôde mantê-la por 
muito tempo, já que não tardou para que as tropas de Hitler invadissem a Áustria, 
onde com a ajuda de seu amigo Otto Potzl, sabotava a eutanásia de psicóticos 
organizada pelas autoridades nazistas. Na época, a Gestapo, a polícia nazista, 
proibia a admissão de pacientes com doença mental e Viktor burlava essa regra, 
emitindo laudos falsos, que “transformavam” esquizofrenias em simples afasias 
(FRANKL, 1990). 
 
 
FIGURA 5 - VIKTOR E TILLY 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://www.bookjive.com/wiki/images/thumb/9/97/ViktorFrankl4.jpg/200px-ViktorFrankl4.jpg> 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
Durante a Segunda Guerra, Viktor Frankl conseguiu um visto para emigrar 
para os Estados Unidos. Sua irmã emigrou para a Austrália e seu irmão, para a 
Itália, onde foi capturado pelos soldados da SS. Esse visto seria a chance de 
escapar e estabelecer uma vida ao lado de Tilly Grosser, com quem havia se casado 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
em 1941. No entanto, tomado de dúvidas, Frankl decidiu não abandonar seus pais 
sozinhos, em meio aos horrores da guerra. Foi nesse momento que começou a 
escrever sua primeira versão da obra Psicologia Médica (FRANKL, 1990). 
Em 1942, foi enviado para o campo de concentração de Auschwitz. Seus 
pais e Tilly também se tornaram prisioneiros, mas nunca mais teve contato com 
qualquer um deles. 
 
O trem avançava muito devagar, diria-se que estava indeciso, como se 
quisesse evitar seus passageiros, como se fosse possível, a atroz 
constatação: Auschwitz! À medida que ia amanhecendo faziam-se visíveis 
os perfis do imenso campo: a larga extensão de cerca das várias fileiras de 
arames farpados; a torre de observação, os focos e as intermináveis 
colunas de esfarrapadas figuras humanas, pardas à luz grisácea do 
amanhecer, arrastando-se pelos desolados campos para um destino 
desconhecido. Ouviam-se vozes isoladas e silvos de mando, mas não 
sabíamos o que queriam dizer. Minha imaginação me levava a ver forcas 
com gente pendurada nelas. Estremeci de horror, mas não andava muito 
desencaminhado, já que passo a passo nós fomos acostumando a um 
horror imenso e terrível (FRANKL apud XAUSA, 1988, p. 30-31). 
 
Esse trecho faz parte do livro Em Busca de Sentido – um psicólogo no 
campo de concentração, onde Frankl registrou sua experiência nos quatro campos 
de concentração pelos quais passou em um período de três anos. 
Para a escrita do livro, Frankl permaneceu em uma espécie de isolamento 
catártico, ao longo de nove dias, ditando sua história. De início, ele não queria 
publicar o livro em seu nome, por ser contra exibições sobre as experiências vividas. 
No entanto, seus amigos acabaram o convencendo de que uma publicação anônima 
perderia o valor (FRANKL, 1990). 
Com esse relato, o teórico não tinha como objetivo descrever os grandes 
horrores de um campo de concentração, o que, segundo ele, já estavam sendo 
bastante denunciados, mas sim as pequenas torturas, tentando responder de que 
modo se refletia na mente do prisioneiro médio a vida cotidiana dos campos. 
“Médio”, porque Frankl estava preocupado com o prisioneiro comum e desconhecido 
e não com aqueles, denominados Capos, que dispunham de privilégios e 
colaboravam com os guardas dos campos (FRANKL, 1984). 
Frankl reconheceu que essa vivência nos campos de concentração foi o 
experimentum crucis, ou seja, o experimento decisivo para o desenvolvimento de 
sua teoria (FRANKL, 1984). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
Ali pôde verificar e validar existencialmente que aqueles capazes de se 
orientar para o futuro tinham maiores chances de sobreviver aos horrores 
vivenciados cotidianamente ou, em outras palavras, quem tinha um sentido pelo qual 
viver era capaz de suportar qualquer sofrimento (FRANKL, 1984). 
Desde o primeiro momento nos campos, Frankl, com olhar curioso, 
observava as reações de seus companheiros e as suas próprias. Conta que quando 
seu transporte se aproximou do campo em que ficariam ele e seus companheiros 
foram confrontados com um primeiro choque: tratava-se de Auschwitz, com suas 
câmeras de gás, fornos crematórios e execuções em massa (FRANKL, 1984). 
 
 
FIGURA 6 – ENTRADA DO CAMPO DE AUSCHWITZ 
 
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-omoZjiuHBJs/TyMYctmr-
fI/AAAAAAAAAi0/187Ty75VtYo/s1600/trabajo.jpg> 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
De imediato, as bagagens de todos foram tomadas e os prisioneiros, 
separados em dois grupos. Para o primeiro deles, foram enviados aqueles 
capacitados para o trabalho; para o segundo, os doentes e incapacitados. Essa 
primeira seleção já significou a sentença de morte para cerca de 90% dos que 
estavam no mesmo transporte que Frankl, já que este segundo grupo – o de 
incapacitados e doentes – foi encaminhado diretamente para um dos prédios 
crematórios, identificado em várias línguas como “casa de banho” (FRANKL, 1984). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
O grupo diminuto que restou, e do qual Frankl fazia parte, acabou também 
tendo seus pertences pessoais, como joias e relógios, recolhidos pelos guardas da 
SS. Foi nesse momento que Frankl perdeu o manuscrito de Psicologia Médica, que 
até então havia conseguido ocultar (FRANKL, 1984). 
Depois desse choque inicial, Frankl observou que, aos poucos, os 
prisioneiros passavam a vivenciar uma profunda apatia. Com o passar dos dias, 
qualquer esperança de sair daquela situação se desfazia e era possível observar um 
humor negro entre os presos. A apatia pelo próprio sofrimento e dos demais ficava 
cada vez mais evidente e o que nos primeiros dias causava compadecimento, 
revolta e nojo já não parecia atingir ninguém (FRANKL, 1984). 
Passavam a se sobrepor os instintos primitivos, como à fome e o único 
objetivo passava a ser o de preservar a própria vida. O momento da rala sopa diária 
era ansiosamente aguardado e falava-se e fantasiava-se sobre comidas a todo o 
tempo (FRANKL, 1984). 
Tudo aquilo que fugisse ao propósito de sobreviver era descartado como 
supérfluo, o que levava a um retraimento frente às questões intelectuais e culturais, 
sendo que quase nada interessava aos presos, exceto a religião e a política. Era 
marcante também a inibição sexual dos presos (FRANKL, 1984). 
É importante lembrar que a apatia também encontrava suas causas 
fisiológicas na fome, na falta de sono e na ausência de tóxicos como a nicotina e a 
cafeína (FRANKL, 1984). 
Outro fator que afetava o humor do preso era o fato de que se antes era 
“alguém”, passava então a ser tratado como “ninguém”, apenas um número. O 
próprio Frankl deixara de ser um médico respeitado para se tornar o prisioneiro 
119.104. Sobre essa desumanização que ocorria nos campos, Frankl relata: 
 
(...) certa vez estive trabalhando numa estrada de ferro, em plena 
tempestade de neve. A tempestade seria razão suficiente parainterromper 
o trabalho; e para não sentir muito frio, aplico todo o ímpeto em ‘entupir’ 
com pedras os espaços debaixo dos trilhos. Paro por um momento, a fim de 
tomar fôlego, e me apoio na ferramenta. Por infelicidade, no mesmo instante 
o guarda se vira em minha direção e pensa naturalmente que estou 
vadiando. O que me dói agora, apesar de tudo e a despeito da 
insensibilidade crescente, não é a perspectiva de alguma carraspana ou 
bordoada, e sim o fato de que para aquele guarda essa figura decrépita e 
esfarrapada, que só de longe lembra vagamente um ser humano, não 
merece sequer uma repreensão. Ao invés, ele não faz mais do que levantar 
uma pedra do chão e, como se estivesse brincando, atira-a em minha 
direção. Desse jeito - foi o que senti - chama-se a atenção de um bicho 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
qualquer, assim se adverte o animal doméstico de seu ‘dever’, o animal com 
que se tem uma relação tão superficial que ‘nem’ se chega a castigá-lo 
(1984, p. 17). 
 
Outra vivência dos prisioneiros dos campos era a de falta de futuro. A partir 
do momento em que se entrava em algum campo de concentração nazista, não 
havia mais certeza sobre quanto tempo ali permaneceria e como aquilo terminaria. O 
problema é que sem um ponto fixo no futuro, o homem não consegue propriamente 
existir. Vive-se apenas o presente, sem um rumo. A consequência disso, é que o 
homem não consegue se propor a nenhuma missão e a vida passa a carecer de 
sentido (FRANKL, 1984). 
Para Frankl ter um objetivo marcado no futuro forma justamente o que ele 
chama de apoio espiritual, capaz de preservar o homem de sucumbir. No campo de 
concentração, os prisioneiros que tinham um objetivo marcado no futuro, 
apresentavam mais chances de suportar a experiência. Ele próprio estava 
convencido de que para sua sobrevivência contribuíra sua decisão, ainda no campo, 
de reescrever o manuscrito perdido de Psicologia Médica, o que fez utilizando-se de 
um toco de lápis e do verso em branco de formulários da SS (FRANKL, 1984). 
Além de se apoiar em sua obra, Frankl também encontrava no amor de Tilly 
e suas lembranças, assim como na esperança de reencontrá-la, um motivo para 
sobreviver: 
 
Passo a compreender que a pessoa, mesmo que nada mais lhe reste neste 
mundo, pode tornar-se bem-aventurada - ainda que somente por alguns 
momentos – entregando-se interiormente à imagem da pessoa amada. Na 
pior situação exterior que se possa imaginar, numa situação em que a 
pessoa não pode realizar-se através de alguma conquista, numa situação 
em que sua conquista pode consistir unicamente num sofrimento reto, num 
sofrimento de cabeça erguida, nesta situação a pessoa pode realizar-se na 
contemplação amorosa da imagem espiritual que ela porta dentro de si da 
pessoa amada (1984, p. 25) 
 
Para aqueles que não conseguiam encontrar um sentido para a existência 
dentro dos campos, – seja pela realização de uma obra, do amor a alguém ou da 
capacidade de suportar dignamente o sofrimento - o esgotamento físico se somava, 
não raro, à perda dos princípios morais. E diante disso, Frankl se dirigia o seguinte 
questionamento: 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
Onde fica a liberdade humana? Não haveria ali um mínimo de liberdade 
interior (geistg) no comportamento, na atitude frente às condições 
ambientais ali encontradas? Será que a pessoa nada mais é que o 
resultado da sua constituição física, da sua disposição caracterológica e da 
sua situação social? E, mais particularmente, será que as reações anímicas 
da pessoa a esse ambiente socialmente condicionado do campo de 
concentração estariam de fato evidenciando que ela nem pode fugir às 
influências desta forma de existência às quais foi submetida à força? 
Precisa ela necessariamente sucumbir a essas influências? Será que ela 
não pode reagir de outro modo, "por força das circunstâncias” (1984, p. 41) 
 
Como resposta a essa questão, Frankl percebeu que alguns poucos 
prisioneiros mostravam-se capazes de agir “fora do esquema”, de forma que era 
possível privá-los de tudo, menos da liberdade de assumir uma atitude alternativa 
frente às condições dadas por aquele ambiente. Havia os que iam de barracão em 
barracão consolando os demais. Da mesma forma, o próprio Frankl, mesmo 
correndo riscos de infecção, voluntariou-se para prestar serviços como médico, 
durante uma epidemia de tifo exantemático em um dos campos. “Sabendo que no 
grupo de trabalho poderia morrer em pouco tempo, preferiu ajudar os seus 
camaradas como médico, pois, com isso, daria algum sentido à sua morte” (XAUSA, 
1988, p. 36). 
Foi assim, com essa rica bagagem de observações que Frankl foi libertado 
do campo de concentração, ao fim da guerra. No entanto, nesse primeiro momento 
após a libertação, o mundo parecia ainda não causar impressão, como se o 
sentimento de alegria tivesse sido desaprendido (FRANKL, 1984). 
O corpo, por outro lado, corria em satisfazer suas necessidades. A primeira 
delas, a de comer, era buscada com voracidade. A segunda, curiosamente, era a de 
falar sem pausas sobre as experiências vividas nos campos (FRANKL, 1984). 
Somente com o passar dos dias, os sentimentos voltavam a aparecer. Entre 
eles, a amargura e a decepção e a revolta, contra a inércia e superficialidade das 
outras pessoas, incapazes de alcançar a gravidade das experiências vividas nos 
campos. Além dos próprios horrores que experimentou, Frankl perdeu seus pais, 
seu irmão e sua primeira esposa, que não sobreviveram aos campos em que 
estiveram. O trabalho passou a ser a única atividade que o interessava e assim 
iniciou a escrita de uma terceira versão de Psicologia Médica (FRANKL, 1984). 
Frankl retornou às suas atividades como chefe de um departamento de 
neurologia da Policlínica, onde conheceu sua segunda esposa, Eleonore, com quem 
se casou em 1947 (XAUSA, 1988). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
 
 
FIGURA 7 – FRANKL E ELEONORE 
 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://www.viktorandimovie.com/ResizeImage.aspx?h=500&w=600&img=%2fWebsites%2fviktorandi
%2fPhotoGallery%2f1378861%2ffrankl_wedding_1948.jpg&0>. Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
Foi a partir daí que sua doutrina, a logoterapia, teve um desenvolvimento 
pleno. Apesar de seus postulados já terem sido formulados por Frankl antes da 
guerra, foi só após a experiência nos campos e sua libertação que a logoterapia 
ganhou forma. Passou a lecionar nas décadas seguintes e realizar publicações 
científicas que conquistaram públicos do mundo todo. A edição inglesa de O Homem 
em Busca de Sentido, por exemplo, vendeu milhões de exemplares, sendo 
considerado um best-seller (XAUSA, 1988). 
Em abril de 1984, Viktor Frankl veio ao Brasil, onde realizou uma conferência 
durante o I Encontro Latino-Americano Humanístico Existencial, na cidade de Porto 
Alegre. A partir disso, foram organizadas a Sociedade Brasileira de Logoterapia e 
várias outras associações voltadas para essa forma de psicoterapia (RODRIGUES, 
1991). 
 
 
 
 
 
Figura 8. Viktor e Eleonore 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 17 
 
 
1.2 O QUE É LOGOTERAPIA? 
 
 
FIGURA 8 – “PRA QUE A GENTE ESTÁ NO MUNDO?” 
 
FONTE: Disponível em: <https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRbZDWW2AJfqT4rPTaa-
cSa32gZO6JME4xlzXUvy38McEnXLdG6>. 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
A tirinha acima, utilizando-se do humor, apresenta uma preocupação 
inerente à vida humana. Como se questiona a personagem Mafalda, “afinal de 
contas para que a gente está no mundo?” ou, em outras palavras, qual o sentido da 
existência? 
É com base nessa questão que se construiu a doutrina de Viktor Frankl. O 
termo grego “logos” significa sentido e, assim, é possível entender logoterapiacomo 
o “tratamento através do sentido” (RODRIGUES, 1991). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 18 
Essa escola teve origem na cidade de Viena, nas décadas de 20 e 30, 
quando Viktor Frankl percebeu que as pessoas, principalmente as mais jovens, 
vindas das ruínas da Primeira Guerra Mundial, estavam terrivelmente abaladas e 
que só poderiam se recuperar quando se dedicassem a encontrar um sentido para 
suas vidas (RODRIGUES, 1991). 
Foi nesse momento que Frankl se afastou das escolas freudiana e adleriana 
e se aproximou do “movimento existencial de psiquiatria” (ou Escola Existencial), 
que representava um complexo conjunto de teorias, abarcando a filosofia, a 
antropologia e a psicologia. Ali encontrou considerações sobre a dimensão espiritual 
do homem; uma dimensão que o leva a buscar sentido e realizar valores por meio 
do seu trabalho, de seu poder criativo, do amor ou do sofrimento (RODRIGUES, 
1991). 
Mas apesar dessa teoria encontrar suas sementes já nesse período, é só 
após o experimentum crucis da Segunda Guerra, em que foi prisioneiro dos campos 
de concentração nazistas, que Frankl consolidou sua teoria (XAUSA, 1988). 
Durante os três anos como o prisioneiro 119.104, ele pôde comprovar que o 
homem, apesar dos horrores que enfrenta, tem maiores chances de sobreviver, a 
partir do momento em que encontra um sentido, um objetivo pelo qual dedicar sua 
vida. Aqueles que perdiam a capacidade de enxergar um sentido, que sentiam que 
nada mais os esperava para além do sofrimento, desesperavam-se, adoeciam ou se 
jogavam aos fios de arame farpado eletrificados, que cercavam os campos 
(RODRIGUES, 1991). 
A logoterapia se volta para o sentido da existência humana, bem como para 
a busca de cada homem por este sentido (FRANKL, 2003a). Mas o que seria esse 
sentido da existência humana, este “sentido para a vida”? 
Primeiramente, Frankl (1984) esclarece que não cabe pensar “no” sentido 
“da” vida, assim como seria impossível dizer qual a melhor jogada do xadrez, sem 
saber quais as condições particulares de cada partida e a personalidade singular do 
adversário. O sentido se alteraria de pessoa para pessoa e de momento a momento, 
podendo apenas ser encarado frente a situações concretas. 
O sentido é aquilo que é preciso fazer diante de cada situação que se 
apresenta diante do homem. Mas além de uma necessidade, o sentido é uma 
 
 
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 19 
possibilidade e, assim que realizado, fica guardado e protegido no passado na forma 
de uma realidade (FRANKL, 2003b). 
Langle (1992) explica que o sentido pode ser visto como um modo 
específico de dar forma às situações que se apresentam. E ao “dar forma”, o 
homem, fazendo uso de sua liberdade condicional, precisa decidir dentre as 
possibilidades oferecidas, diferenciar, planejar e agir. 
Uma vida com sentido é aquela em que o homem, em sua forma única e de 
modo criativo, coloca-se a serviço da proposta de cada hora. Assim, o sentido é uma 
forma de envolvimento, de engajamento dedicado a uma dada tarefa ou causa 
(LANGLE, 1992). 
E onde a logoterapia se enquadra dentro das diferentes formas de 
psicoterapia? 
Sobre isso, Lukas (1989) explica que a logoterapia foi chamada de Terceira 
Escola de Viena, em comparação às escolas criadas por dois outros vienenses: 
Sigmund Freud, criador da psicanálise, considerada da Primeira Escola de Viena, e 
Alfred Adler, fundador da psicologia individual, tida como a Segunda Escola de 
psicoterapia. 
Já nos compêndios americanos, a logoterapia é entendida como pertencente 
à “terceira força”. A primeira força se refere à psicanálise, a segunda ao 
behaviorismo e a terceira, à psiquiatria existencial. Essa última ficou conhecida na 
Europa como Psicologia Humanística, termo criado por Charlotte Buhler, e abarcaria 
a Gestalt, a psicoterapia do diálogo, o psicodrama, a análise transacional e a 
logoterapia (LUKAS, 1989). 
Os esquemas abaixo, apresentados por Lukas (1989) são bastante 
ilustrativos para que se compreenda o modo como as diferentes escolas de 
psicoterapia se distribuem. 
Enquanto no primeiro desenho (gráfico 1), as três escolas (psicanálise, 
psicologia individual e logoterapia) se mostram equivalentes, no segundo (gráfico 2), 
referente à classificação norte-americana, há diferença nas tendências e número de 
adeptos de cada escola. 
Nos Estados Unidos, a psicanálise passa, cada vez mais, para o segundo 
plano; a terapia comportamental ocupa uma posição média e a psicologia 
humanística inunda o mercado. 
 
 
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GRÁFICO 1. Classificação das três escolas de Viena, com os nomes de seus fundadores e 
as respectivas datas de nascimento e morte
1
 (LUKAS, 1989) 
 
1 A edição do livro de Lukas, que contém este esquema, data de 1989, não contendo assim a data de falecimento 
de Frankl, em 1997. 
 
 
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GRÁFICO 2. Classificação norte-americana da psicoterapia (LUKAS, 1989) 
 
 
Apesar de integrar a psicologia humanística, a logoterapia se distingue em 
um ponto fundamental. Enquanto os defensores da psicologia humanística 
defendem que a autorrealização é a mais alta meta da existência humana, a 
logoterapia se utiliza do conceito de autotranscendência, pelo entendimento de que 
a autorrealização não seria uma meta da existência, como um fim em si mesmo, 
mas sim uma consequência da capacidade do homem de encontrar um sentido fora 
de si (LUKAS, 1989). 
A terapia que tem como base a doutrina de Frankl não objetiva chegar a um 
sentido por meio do tratamento, mas o contrário: seria pelo sentido que o tratamento 
se daria (FRANKL, 1989). 
Frankl (1989) pontua que as abordagens terapêuticas tradicionais não 
consideram o valor do sentido e de sua busca para a existência humana e, assim, só 
 
 
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 22 
podem oferecer um auxílio incompleto. A logoterapia teria assim um papel 
complementar às outras terapias, possibilitando que o homem receba cuidado em 
todas as suas dimensões. 
Esse cuidado oferecido, no entanto, não implica que o logoterapeuta dê um 
sentido para a vida de seus pacientes. Isso porque o sentido só pode ser encontrado 
pela própria pessoa e em algo externo a ela. Mas apesar de não ser possível a 
nenhum psicoterapeuta indicar ao paciente um sentido, ele pode lhe afirmar que a 
vida tem um sentido, mesmo nas situações mais degradantes (FRANKL, 1978) 
A teoria da Gestalt, fundada por Max Wertheimer e Kurt Lewin, ajuda a 
compreender porque esse sentido deve ser encontrado, como algo objetivo, e não 
apenas dado, atribuído ao bel-prazer. O encontro do sentido está em estreita relação 
com a percepção da realidade. Haveria um desafio inerente a cada situação e este 
teria uma qualidade objetiva. Assim, não se trata de injetar sentido, mas sim extrair 
um sentido das coisas e situações. 
 
Olhada deste ponto de vista, a vida não se assemelha àquele ‘teste de 
Rohrschach’, em que o indivíduo recebe uma folha cheia de manchas de 
tinta e deve dizer que figura elas lhe sugerem, a fim de que essa figura, 
projetada pelo âmbito subjetivo da pessoa, forneça ao psicólogo algum 
indício sobre o caráter e o inconsciente da pessoa em observação. A vida 
assemelha-se antes a um quebra-cabeça, em que é preciso achar a figura 
do ciclista; temos que virar o desenho de um lado para outro, até acharmos 
a sua silhueta, escondida de cabeça para baixo entre as árvores atrás da 
capela. Ele está lá: é uma realidade objetiva (FRANKL, 2003a, p. 28) 
 
Além disso, a logoterapia se diferencia das demais escolas de psicoterapia, 
por não poupar o paciente de uma confrontação como sentido específico que ele 
deve realizar. O logoterapeuta auxilia o paciente no percurso de busca desse 
sentido, que está ante o ser, sem se confundir com ele (FRANKL, 1989). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1.3 A BUSCA DE SENTIDO COMO MOTIVAÇÃO HUMANA 
 
 
FIGURA 8 – O SENTIDO DA VIDA 
 
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-
u6ltJk87OsA/Tfl7RnTqJPI/AAAAAAAABZY/_EWoAE3nNMs/s1600/sentido1.gif> 
Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Para Frankl (2003a), a busca de sentido constitui uma motivação primária na 
vida dos homens, além de constituir aquilo que o diferencia dos outros animais. 
Com o apoio de pesquisas realizadas na Europa e em sua clínica em Viena, 
constatou que a grande maioria das pessoas precisa de “algo” em função do qual 
viver e que, diferente do que formulam as teorias psicodinâmicas, essa necessidade 
não se trataria de uma racionalização secundária: 
 
A busca do indivíduo por um sentido é uma força primordial em sua vida, e 
não uma "racionalização secundária" de impulsos instintivos. Esse sentido é 
exclusivo e específico, uma vez que precisa e somente pode ser cumprido 
por aquela determinada pessoa. Somente então esse sentido assume uma 
importância que possa satisfazer à sua própria vontade de sentido. Alguns 
autores sustentam que sentidos e valores são ‘ainda mais que mecanismos 
de defesa, formações reativas e sublimações’. Mas, pelo que toca a mim, eu 
Imagem 7. 
 
 
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 24 
não estaria disposto a viver função dos meus ‘mecanismos de defesa’. Nem 
tampouco estaria pronto a morrer simplesmente por amor às minhas 
‘formações reativas’, O que acontece, porém, é que o ser humano é capaz 
de viver e até de morrer por seus ideais e valores! (FRANKL, 1984, p. 58) 
 
Além disso, a busca de um sentido independe, na maior parte dos casos, da 
satisfação de outras necessidades humanas. No caso de situações de extrema 
necessidade, é provável que as pessoas busquem primeiramente satisfazer suas 
necessidades básicas e, só a partir daí, dedicarem-se a buscar um sentido. No 
entanto, no outro oposto, uma vida de abundância não garante que um sentido seja 
buscado e encontrado (FRANKL, 1990). 
 
 
FIGURA 9 – QUAL O SENTIDO DA VIDA? 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://2.bp.blogspot.com/_imUKCPla1_c/S6Y8OuPfm2I/AAAAAAAABe8/5yLySRsf2FM/s400/calvin+s
entido_de_vida1.jpg> Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Na busca por um sentido, o homem conta com sua consciência, chamada 
por Frankl (1990) de “órgão do sentido”. Ela teria a função não só de descobrir o 
sentido inerente a cada situação, mas também vetar aqueles meios que abrem mão 
da responsabilidade para realização do sentido. 
 
 
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 25 
Em alguns casos, a vontade de sentido pode ser frustrada. Quando isso 
ocorre, temos o que a logoterapia denomina de frustração existencial, que pode 
resultar nas chamadas neuroses noogênicas, que teriam origem em problemas 
existenciais (FRANKL, 1989). 
Apesar de terem muitas vezes sintomas semelhantes, é muito importante 
não confundir uma frustração existencial com uma patologia. A preocupação 
humana a respeito do sentido da vida e se essa vale ser vivida constitui uma 
angústia existencial, não uma doença mental e decidir calar essa questão implica 
calar algo essencialmente humano (FRANKL, 1990). 
Diferente das neuroses psicogênicas, relacionadas aos complexos e 
conflitos no sentido tradicional, a neurose noogênica estaria mais ligada aos conflitos 
de natureza moral e à sensação de falta de sentido, ou seja, está voltada aos 
problemas de ordem existencial (FRANKL, 1990). 
Frankl explica que, em alguns casos, a sensação de falta de sentido pode 
não ser a origem de doenças, mas justamente um de seus sintomas – e isso vale 
tanto para doenças psíquicas quanto para as doenças somáticas. Como exemplo, 
aponta as depressões endógenas, que encontrariam em componentes bioquímicos 
e hereditários sua causa e teriam como sintoma a sensação de que a vida não 
possui qualquer sentido. Nesses casos, frisa o autor, a logoterapia isolada não teria 
condições de auxiliar o paciente, sendo necessário lançar mão de uma farmacologia 
adequada. Mas ela teria uma função complementar às demais formas de tratamento, 
possuindo um efeito terapêutico mesmo que não se trate de uma neurose noogênica 
(FRANKL, 1990). 
Diante disso, é importante que se faça corretamente o diagnóstico diferencial 
entre depressão endógena, psicogênica ou noogênica para empreender uma 
intervenção adequada, considerando as terapêuticas disponíveis e a necessidade de 
olhar para o homem, considerando suas diferentes dimensões: somática, psíquica e 
espiritual (FRANKL, 1990). 
 
 
 
 
 
 
 
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1.4 PATOLOGIAS DECORRENTES DO VÁCUO EXISTENCIAL 
 
 
Frankl (1990) afirma que cada época tem sua própria forma de "neurose 
coletiva" e sua própria psicoterapia para lidar com ela. Baseado nas notícias e 
pesquisas que lhe chegavam de centros universitários, atentando-se às principais 
queixas de seus pacientes, concluiu que a neurose de nosso tempo seria o vácuo 
existencial, estado marcado por uma sensação de falta de sentido, de futilidade e 
absurdo diante da vida. Os principais sintomas do vácuo existencial constituiriam a 
chamada “tríade da neurose de massa”, ou seja, a depressão, a agressão e a 
toxicodependência. 
No caso da depressão, Frankl (2003a) discute sua manifestação extrema, o 
suicídio. Em uma pesquisa realizada na Idaho State University, um de seus 
doutorandos entrevistou 60 jovens que haviam tentado cometer suicídio. Em 85% 
desses casos, o entrevistado referiu que sua vida carecia de sentido. E, dentre 
estes, 93% tinham um ambiente socioeconômico favorável e uma boa relação com 
sua família. 
 
 
FIGURA 10 – FRUSTRAÇÃO EXISTENCIAL 
 
FONTE: Disponível em: <https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ7NWTp-
UGpzOLgFbknTye2dAXG1beDNXhxWUgJ_u0tIEX3dJy_zw>. Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Assim, a falta de um sentido para a vida aparece como um forte elemento de 
motivação para dar fim à própria vida. Obviamente, nem todo suicídio terá esta 
 
 
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 27 
razão, mas, para Frankl (1990), ele certamente não seria cometido, caso a pessoa 
tivesse algo pelo qual viver. 
No caso das agressões e, mais marcadamente, da criminalidade, Black e 
Gregson, de uma universidade na Nova Zelândia, encontraram que quanto maior a 
sensação de falta de sentido maior a predisposição para o comportamento 
agressivo. Por outro lado, quando um sentido é encontrado, especialmente aquele 
que emerge de uma tarefa em comum, as agressões são abandonadas. Foi o que 
constatou a socióloga Carolyn Wood Sherif, ao estudar um acampamento de 
escoteiros: as agressões recíprocas que ocorriam entre três grupos foram 
abandonadas, a partir do momento em que os jovens precisaram se mobilizar para 
desatolar um carro que transportava alimentos (FRANKL, 1990). 
Por fim, sobre a toxicodependência, um estudo com 416 estudantes, obteve 
correlação significativa entre o grau da sensação de falta de sentido com o índice de 
envolvimento com drogas. Em outra pesquisa, realizada por Annemarie 
Forstmeyerm na Universidade do oeste da Califórnia, 90% dos casos crônicos de 
alcoolismo investigados revelaram uma forte sensação de falta de sentido (FRANKL, 
1990). 
 
Nowlis levantou o problema sobre porque os estudantes seriam atraídos 
pela droga e achou que uma das razões, com frequência afirmada por eles, 
era o ‘desejo de encontrar um significado para a vida. Uma pesquisa sobre 
455 estudantes da área de San Diego,conduzida por Judd e outros para a 
National Comission of Marijuana and Drug Abuse, concluiu que os 
consumidores de marijuana e alucinógenos denotavam ser preocupados 
pela falta de sentido para suas vidas mais que os não consumidores 
(FRANKL, 1989, p. 21) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 28 
 
 
FIGURA 11 - TOXICODEPENDÊNCIA 
 
FONTE: Disponível em: http://www.boasnoticias.pt/img/drogas-11.jpg>. Acesso em: 01 jul. 
2013. 
 
 
E quais seriam as causas dessa "neurose coletiva"? Para Frankl (1990), ao 
contrário dos animais, o homem não possui instintos que determinem o que ele 
precisa fazer e, ao contrário dos homens de tempos antigos, as tradições não lhes 
dizem mais o que devem fazer. O resultado disso é que os homens de nosso tempo 
parecem não saber mais o que querem e, com facilidade, aderem ao que querem 
dele (casos de totalitarismo) ou apenas querem o que os outros fazem (casos de 
conformismo). 
Além das patologias propriamente ditas, o vácuo existencial também se 
evidencia em diversas formas de fuga, observáveis no homem contemporâneo. 
Frente ao tédio, algumas pessoas dedicam-se excessivamente ao trabalho, ao 
divertimento; refugiam-se nos romances, na televisão, nas atividades esportivas. 
São meios de obter pseudossentidos que alienam o homem de sua consciência e 
liberdade (XAUSA, 1988). 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I

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