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Logoterapia_04

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
LOGOTERAPIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 
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CURSO DE 
LOGOTERAPIA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
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MÓDULO IV 
 
 
4 PATOLOGIAS DERIVADAS DA AUSÊNCIA DE SENTIDO 
 
 
Ao longo de sua obra, Frankl (2003a) discute os principais sintomas do 
vácuo existencial: a depressão, a agressão e a toxicodependência. 
No caso da depressão, Frankl (2003a) discute sua manifestação extrema, o 
suicídio. Em um estudo norte-americano, jovens que haviam tentado cometer 
suicídio foram entrevistados e encontrou-se que 85% deles referiam sentir que sua 
vida carecia de sentido. E dentre esses, 93% tinham um ambiente socioeconômico 
favorável e uma boa relação com sua família. 
Assim, a falta de um sentido para a vida aparece como um forte elemento de 
motivação para dar fim à própria vida. Obviamente, nem todo suicídio terá esta 
razão, mas, para Frankl (1990), ele certamente não seria cometido, caso a pessoa 
tivesse algo pelo qual viver. 
No caso das agressões, Frankl (2003b) entende que há causas para a 
violência humana; causas de ordem fisiológica, psíquica, econômica e outras. No 
entanto, a agressividade seria um fenômeno carente de sentido. Dentro dessa 
perspectiva, o ódio (assim como o amor) seria uma condição humana carregada de 
intencionalidade, mas a agressividade, ao contrário, estaria vinculada à condição 
animal. O homem mostraria humanidade quando, sentindo ódio, assumisse uma 
posição pessoal diante da agressividade. 
Além das formas de violência mais conhecidas, Frankl (1978/1989 apud 
MOREIRA et al., 2006) aponta que ela também manifesta quando um homem se 
dirige a outro sem objetivar um encontro, mas apenas por uma concepção utilitarista 
que visa um meio para obter satisfação. A violência é assim a própria ausência de 
sentido para a constituição de uma relação com o outro. 
Um estudo na Nova Zelândia obteve que quanto maior a sensação de falta 
de sentido maior a predisposição para o comportamento agressivo. Por outro lado, 
 
 
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quando um sentido é encontrado, especialmente aquele que emerge de uma tarefa 
em comum, em que se encontra um sentido, as agressões são abandonadas 
(FRANKL, 1990). 
Por fim, sobre a toxicodependência, um estudo com 416 estudantes, obteve 
resultados que contestavam a explicação de que o envolvimento com drogas estaria 
ligado a uma “fraca imagem paterna”. Por outro lado, observou-se correlação 
significativa entre o projeto de vida e o índice de envolvimento com drogas: os 
estudantes com projeto de vida elevado tinham um envolvimento muito menor com 
tóxicos (FRANKL, 1989). 
Outros estudos chegaram a resultados semelhantes. Todos apontaram para 
o fato de que a busca e o envolvimento com drogas, como marijuana e 
alucinógenos, estavam estreitamente ligados ao fato do jovem não encontrar um 
sentido para sua vida (FRANKL, 1989). 
Em relação ao alcoolismo, os resultados mantêm sua coerência. Um estudo 
realizado na Califórnia mostrou que 18 em 20 alcoolistas consideravam suas vidas 
sem sentido e sem um objetivo a ser perseguido, ou seja, um índice de 90% dos 
casos. Consequentemente, uma pesquisa encontrou que as técnicas da logoterapia 
são superiores às outras no tratamento do alcoolismo (FRANKL, 1989). 
 
 
FIGURA 18 - ALCOOLISMO 
 
FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSb-
Ck908LE_HWmnzAOCXSeOYwI4DQ5nqLksvbSbqPkPNp4cOTb8Q> Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
 
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Disso entende-se que, se a dependência química, segundo a perspectiva de 
Viktor Frankl (1989), quando motivada por uma frustração existencial, deve ser 
enfrentada com uma psicoterapia que leve em conta essa questão e alcance a 
dimensão espiritual do homem, ligada à vivência da liberdade e da responsabilidade. 
 
 
5 O USO DE RECURSOS LOGOTERAPÊUTICOS EM EMPRESAS 
 
 
Segundo Calero (2012), as propostas da logoterapia são aplicáveis no 
contexto organizacional e poderiam levar a êxitos incalculáveis. 
Segundo o princípio da autotranscendência, o homem está sempre 
direcionado a algo que vai além dele próprio; algo por meio do qual alcance sua 
realização e só então sua satisfação. O trabalho, quando torna a existência humana 
plena de sentido, pode ser gerador dessa realização. 
 
 
FIGURA 19 – SENTIDO DO TRABALHO 
 
FONTE: Disponível em: <http://blogdoprudencio.files.wordpress.com/2011/10/ambiente.jpg> 
Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Quando os empregados se identificam com a empresa e associam seu 
desempenho profissional com sua realização pessoal, sentem-se motivados a 
realizar seu trabalho da melhor maneira possível. Mas, para tanto, deve haver um 
 
 
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porquê de fazerem o que fazem em seu cotidiano de trabalho. Se, ao contrário, o 
trabalhador não encontra nenhum sentido em sua atividade profissional fica diante 
de uma frustração existencial. 
Por meio do trabalho realizado com inteligência, criatividade e esforço, o 
homem transforma a natureza em benefício de si e da humanidade, o que pode 
ocorrer em qualquer profissão. Dessa forma, o sentido e valor do trabalho não são 
inerentes à atividade que se realiza, mas sim ao que essa contribui com a 
comunidade. 
A profissão dá ao homem apenas a oportunidade de se tornar insubstituível. 
Mas é só o próprio homem – ao se dedicar a seu trabalho, realizando sentidos e 
contribuindo com sua comunidade – pode fazer uso ou não dessa oportunidade. E 
isso nada tem a ver com a profissão que se escolheu: 
 
disse-nos uma vez uma paciente que, como considerava sem sentido a sua 
vida, não tinha o menor interesse em ficar curada; mas, como tudo seria 
diferente e belo se ela tivesse uma profissão que a satisfizesse!; Se, por 
exemplo, fosse médica, ou enfermeira, ou química, para poder fazer 
descobertas cientificas. O indicado, no caso, era fazer ver à doente que o 
que importa não é, de modo algum, a profissão em que algo se cria, mas 
antes o modo como se cria; que não depende da profissão concreta como 
tal, mas sim de nós, o fazermos valer no trabalho aquilo que em nós há de 
pessoal e específico, conferindo à nossa existência o seu ‘caráter de algo 
único’, fazendo-a adquirir, assim, pleno sentido (FRANKL, 2003b, p. 161) 
 
 
O trabalho como campo de possível realização sofre um desvio, em função 
de circunstâncias dominantes. É o caso dos trabalhos mecânicos e impessoais, que 
constituem apenas meio para um fim, ou seja, obter recursos para sobreviver. A 
marcada preocupação com o humano dentro da logoterapia, também aponta para 
caminhos diferentes daqueles observados em muitos ambientes empresariais. 
Segundo Calero (2012), hoje as organizações se contentam em ter empregados 
motivados, possuindo uma mentalidade utilitarista que ignora o valor da vida 
humana que contribui para o andamento das empresas. Nesses casos, a logoterapia 
aponta para a necessidade de que haja uma mentalidade mais humana nas 
organizações do trabalho.
Os administradores das organizações deveriam estimular a busca do 
significado do trabalho e a percepção de que o trabalho possui um significado que 
transcende a simples execução de uma tarefa (GROHMANN, 1999). 
 
 
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Em uma época de crescente automatização, é cada vez maior o tempo livre 
disponível. Ocorre que justamente isso pode aumentar o vácuo existencial, já que o 
homem fica sem meios de se realizar e preencher seu vazio. O trabalho constitui 
uma forma de ocupar o tempo e aquele engajado em uma atividade como essa 
dificilmente se sente vazio e inútil (FRANKL, 2003b). 
 
 
FIGURA 20 – CONSTRUÇÃO DE SENTIDO NO AMBIENTE DE 
TRABALHO 
 
FONTE: Disponível em: <http://www.webcontexto.com.br/wp-content/uploads/2011/06/teamwork.jpg>. 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6 LOGOTERAPIA E EDUCAÇÃO 
 
 
Em toda obra de Viktor Frankl há uma preocupação com a comunidade dos 
homens e a educação aparece como um meio para alcançar uma humanidade 
“melhor”, caso incluísse a questão do sentido da vida e dos valores, além dos 
conteúdos básicos (AQUINO, 2012). 
Como orienta o princípio da noodinâmica, o homem se encontra sempre 
diante de possibilidades, em um polo de tensão entre o ser e o vir a ser. No entanto, 
nem todas as possibilidades são dignas de serem efetivadas, por possuírem menos 
sentido. O homem, no uso de sua responsabilidade, deve responder àquilo que tem 
mais sentido, o que implica uma capacidade de escolha. Ao escolher, passa a ser 
portador de valores existencial, esculpindo seu próprio ser, de acordo com suas 
posturas e ações (AQUINO, 2012). 
Nesse sentido, alguém que cumprisse a função de “logo-educador” deveria 
refletir junto com o educando sobre as escolhas que esse está realizando. Isso 
ocorreria por meio de um diálogo que colocasse em evidência os valores latentes de 
cada situação, de forma a descobrir aquele que apresenta mais sentido para a 
consciência (AQUINO, 2012). 
O período da adolescência seria ainda mais crítico, pois nesse momento 
eclode a busca de um sentido para a vida, o que pode ser frustrado nessa fase da 
vida. Ocorre que diante da ausência de perspectivas para o futuro, o jovem pode 
buscar compensação em prazeres imediatos, colocando-se em situações de risco. E 
para superar esse desencanto, é necessário contar com o engajamento de 
diferentes instâncias educadoras, como a família e a escola. A primeira teria sua 
contribuição, transmitindo valores validados na experiência humana em culturas 
específicas. Já a escola ajudaria o jovem na descoberta de seu projeto existencial, 
oferecendo-lhe tanto as condições quanto as habilidades para executá-lo (AQUINO, 
2012). 
A escola aparece assim com uma dupla função: oferecer o conteúdo 
intelectual e ser uma espécie de profilaxia para o vazio existencial. O jovem deve ser 
 
 
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desafiado, nesse contexto, a agir com responsabilidade, fazer escolhas livres e se 
dirigir para aquilo que o transcende (AQUINO, 2012). 
Segundo Xausa (1988), o ideal humanístico da educação tem desaparecido 
sob as técnicas pedagógicas e métodos, baseados em visões reducionistas e 
pragmáticas. Cada vez mais, a dimensão espiritual do homem é excluída do 
processo educacional. Temas como a finitude e a temporalidade, questões inerentes 
à existência, não são considerados no ambiente escolar. 
Para Aquino (2012), uma pedagogia que se volte para o sentido deveria, por 
exemplo, levar em conta a totalidade do seu aprendiz, educando sem 
reducionismos. Além disso, é preciso educar para a autotranscendência, 
proporcionando a abertura ao aprendiz para a sua comunidade, e apresentar a ele 
temáticas existenciais, incentivando a busca de sentido. 
Educar para Frankl (2003) significa formar a consciência pessoal, pois uma 
consciência bem formada permite ao homem detectar e responder a cada situação o 
sentido que a lei moral e os valores apontam como o único adequado. A consciência 
bem formada também evita que o homem ceda ao conformismo e se dobre ao 
totalitarismo. 
 
Vivemos em uma época caracterizada pela falta de sentido. E nesta época 
a educação há de pôr o máximo empenho não só em proporcionar ciência, 
senão também em afinar a consciência, de modo que o homem seja 
bastante afinar a consciência, de modo que o homem seja bastante 
perspicaz para interpretar a exigência inerente a cada uma das situações 
particulares. Em uma era em que os dez mandamentos parecem estar 
perdendo sua validez para muitos, deve o homem pôr-se em condições de 
perceber os 10.000 mandamentos que se desprendem das 10.000 
situações com que se vê confrontado em sua vida. Não somente parecerá, 
assim, que sua vida volve a ter sentido, mas também estará imunizado 
contra todo o conformismo e totalitarismo; porque só uma consciência 
desperta e vigilante pode fazer-se resistente, de tal modo que nem se 
abandone ao conformismo nem se dobre ao totalitarismo. Assim, pois, a 
educação mais do que nunca deve ser educação de responsabilidade 
(FRANKL, 1979 apud XAUSA, 1988, p. 159). 
 
Segundo Aquino (2012), a palavra “educar”, se analisada em sua origem 
latina, significaria o ato de “conduzir para fora” ou levar a pessoa do educando para 
o mundo. 
 
 
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7 LOGOTERAPIA E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 
 
 
Como afirma Brandão (2001), vivemos em uma sociedade marcada pela 
insegurança e incerteza quanto a valores, pela ausência de pontos de referência 
estáveis, o que gera crise e confusão. O homem assim encontra dificuldades em 
identificar aquilo que vale para sua vida, algo pelo qual se dedicar. 
Nesse contexto, o momento da escolha profissional tem representado um 
momento difícil para os jovens, que, diante da ausência de critérios claros para 
tomar decisões, não conseguem se posicionar e realizar sua escolha. A isso se 
somam fatores como a instabilidade da economia e do mercado de trabalho e a alta 
competitividade, o que tem exigido uma escolha profissional cada vez mais precoce 
(BRANDÃO, 2001). 
Nesse contexto, é preciso oferecer aos jovens algo que transcenda as 
perspectivas negativas do mercado de trabalho, questão percebida por educadores 
que apontam a necessidade de uma educação que se volte não só para o mercado, 
mas para o mundo do trabalho (BRANDÃO, 2001). 
 
 
FIGURA 21 - ESCOLHAS 
 
FONTE: Disponível em: <http://www.institutoinnove.com.br/wp-
content/uploads/2013/03/orienta%C3%A7%C3%A3o_profissional.jpg>. Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
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Justamente por isso, diante da escolha sobre a profissão a seguir, o jovem 
deve ser convidado a se questionar sobre o sentido e finalidade de sua vida. Assim, 
além das questões tradicionais, que giram em torno do que o jovem gosta de fazer e 
o que sabe fazer, devem ser acrescentadas outras: ‘a que sou chamado?’, ‘que 
sentido pode haver no trabalho que desejo realizar?’, ‘qual a finalidade do meu 
existir?’. Considerar essas questões indica uma preocupação com o todo e não 
apenas com sua aplicação utilitária e imediata de um trabalho (BRANDÃO, 2001). 
A vocação é uma proposta à liberdade e responsabilidade do homem, um 
convite ao qual ele pode atender ou não. Mas antes de se olhar para a vocação 
profissional, deve-se olhar para a vocação antropológica, para quem é a pessoa e o 
que ela deseja ser, dentro de sua trajetória biográfica. É este ‘alguém’ que oferece 
forma e significado para aquilo que será realizado (BRANDÃO, 2001). 
O trabalho é um aspecto fundamental da vida, porque atende às 
necessidades materiais e espirituais do homem,
já que por meio de tarefas 
concretas o homem se sustenta e expressa seu modo original de realizar valores 
diante das situações. Considerando-se uma sociedade em que o individualismo, o 
isolamento e a competitividade são valorizados, a possibilidade de descobrir o valor 
de sua contribuição para a sociedade, por meio do trabalho, é fundamental 
(BRANDÃO, 2001). 
Um trabalho pode ainda constituir uma possibilidade de encontro genuíno, 
por meio dos valores que serão compartilhados na realização de um bem comum 
(BRANDÃO, 2001). 
Desse modo, mais que a tarefa em si, importa que o trabalho constitua uma 
forma de se colocar a serviço dos outros, de forma que o homem, por meio dele, 
possa se expressar originalmente. Cada pessoa trabalha de modo único e, 
independente da profissão escolhida, o homem se realiza ao poder exprimir sua 
singularidade em suas atividades profissionais (BRANDÃO, 2001). 
Todas essas questões acerca do trabalho, que ultrapassam seu valor 
utilitário, devem ser consideradas no momento da escolha profissional para que 
essas não sejam frágeis e superficiais (BRANDÃO, 2001). 
 
 
 
 
 
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8 LOGOTERAPIA E PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 
 
 
A Organização Mundial de Saúde define saúde como o perfeito bem-estar 
biopsicossocial. No entanto, o homem por ser saudável física e psiquicamente, 
estando frustrado existencialmente. Do mesmo pode, ele pode ter problemas físicos 
ou psíquicos e, ainda assim, ser saudável do ponto de vista existencial. Entende-se 
assim que ter qualidade de vida e saúde significa mais que um estado de bem-estar 
biopsicossocial, devendo-se considerar a presença de uma dimensão espiritual no 
homem (BENICÁ, 2007). 
Frankl reconheceu essa dimensão especificamente humana, situada além 
do psíquico, do biológico e do social, e chamou-a de noética ou espiritual. Ela não se 
resume de modo algum à questão religiosa e inclui aspectos valorativos, intelectuais 
e criativos do ser (BENINCÁ, 2007). 
 
 
FIGURA 22 – PROMOÇÃO DE SAÚDE 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://www.salutarsaude.com.br/admin/artigos/fotos/meditacao.jpg> 
Acesso em: 01 jul.2013. 
 
 
É também nessa dimensão que o indivíduo transcende a si mesmo, fazendo 
dos significados e valores uma parte fundamental de sua vida. Assim, quando se 
 
 
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objetiva promover a saúde dos indivíduos é indispensável considerar estes outros 
aspectos (BENINCÁ, 2007). 
A logoterapia, partindo da ideia de que o homem é capaz de superar 
qualquer sofrimento se tem uma razão pela qual viver, uma missão à qual se 
dedicar, tem como princípio incentivar e auxiliar o paciente na busca de um sentido 
para sua vida. Esse sentido não se encontra na própria pessoa, em sua psique; ele 
deve ser descoberto no mundo, por meio da capacidade humana de 
autotranscendência (BENINCÁ, 2007). 
Em sua relação com o mundo, desenvolvendo ativamente um trabalho, 
amando outra pessoa ou mesmo por meio de um sofrimento inevitável, o homem 
pode descobrir e realizar um sentido para si. No caso do sofrimento é possível 
realizar sentido, a partir do momento em que essa situação de dor resulte no 
desenvolvimento do ser (BENINCÁ, 2007). 
Desse modo, a Logoterapia busca promover a saúde do sujeito, por meio do 
encontro com um sentido para sua vida, o que facilita o enfrentamento de situações 
que envolvam ou não algum nível de sofrimento. A partir do momento em que o 
indivíduo encontra esse “para quê” de sua existência, ele pode inclusive enfrentar 
com saúde situações que envolvam uma doença (BENINCÁ, 2007). 
 
 
 
 
9 APRESENTAÇÃO DE TÉCNICAS LOGOTERAPÊUTICAS E CASOS CLÍNICOS 
 
 
Depois de apresentados os princípios, conceitos e bases epistemológicas da 
logoterapia, apresentaremos alguns casos clínicos e técnicas utilizadas durante uma 
psicoterapia que se baseie na busca do logos. Isso apresenta algumas dificuldades, 
pois, como explica Kroeff (2011), uma das lacunas que os logoterapeutas encontram 
na obra deixada por Viktor Frankl se refere aos modos de atuar durante as sessões 
de logoterapia, já que não há nenhum escrito que detalhe e sistematize de fato essa 
questão. 
 
 
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Lukas (1992) aponta que alguns princípios terapêuticos muito importantes no 
decorrer da logoterapia. Primeiramente, é necessário fortalecer no paciente a 
capacidade de perceber o valor em si. Um grande exemplo da importância desse 
princípio se encontra no tratamento da toxicodependência que, além da 
desintoxicação, abstinência, orientação familiar e reabilitação social, exige que o 
paciente passe a perceber os valores objetivos a sua volta. 
Para dar um exemplo que clarifique o que seriam esses valores objetivos, 
Lukas (1992) descreve a situação de um rapaz que, tendo sofrido uma desilusão 
amorosa, passa a ser irritadiço com seus familiares, que tentam apoiá-lo em vão. 
Nesse caso, o valor objetivo para o qual esse rapaz está cego é o apoio familiar que 
tem recebido. O papel da logoterapia aqui seria clarear um motivo para o paciente, 
mostrando o valor em si. A partir daí caberá ao paciente decidir se irá se engajar por 
esse valor. 
Outro exemplo de um caso relatado por Lukas (1992) é o de uma jovem que 
sofria de anorexia. Essa moça possuía uma graça natural, que foi logo percebida por 
sua terapeuta. A partir disso, o tema da dança foi explorado na sessão, procurando-
se evidenciar os valores contidos nessa forma de expressão. A paciente se 
entusiasmou e passou a frequentar aulas de expressão corporal. Como 
consequência, passou a se alimentar melhor, para ter condições físicas de realizar 
as aulas, e conheceu um novo grupo de amigos. 
O segundo princípio fundamental durante o tratamento baseia-se em “como 
aumentar a sensação de valor da vida”. Essa sensação tem estreita relação com a 
motivação básica de uma pessoa. 
Lukas (1992) desenvolve uma analogia para falar da sensação de valor da 
vida. Um menino encontra uma senhora que está carregando uma pesada cesta de 
maçãs. Ele então decide ajudar essa senhora, com o objetivo de ganhar alguma das 
frutas, o que de fato acaba acontecendo. Nesse caso, temos dois resultados: a 
senhora recebeu ajuda e o menino ficou satisfeito com sua recompensa. Em outra 
situação bastante semelhante, outro menino encontra uma senhora que está 
carregando uma cesta pesada, também repleta de maçãs. Mas naquele momento, 
ao invés de pensar nas maçãs, ele se preocupa com o peso que a senhora carrega 
e decide ajudá-la. Esse garoto também foi recompensado com maçãs, mas, 
 
 
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diferente do primeiro, ele encontrou o “valor em si” da situação, algo positivo e com 
sentido, ao se dispor a ajudar, mesmo sem recompensa. 
Pelo fato de ter encontrado esse “valor em si” e o realizado, o segundo 
garoto tem aumentado seu sentimento de valor próprio e o sentimento de valor da 
vida. Sua vida, em particular, no momento em que se dedicou a uma tarefa que o 
transcendia, mostra-se então plena de sentido. Há aqui um porquê viver. 
Lukas (1992) dá ainda outros exemplos de pessoas que parecem ter perdido 
a capacidade de terem a sensação de valor da vida. Nesses casos, ela recomenda 
que essas pessoas sejam colocadas diante de tarefas com sentido, que possam 
realizar. No caso de pichadores ou danificadores de construções públicas, segundo 
a autora, seria interessante exigi-los em tarefas de embelezamento ambiental. Já 
com motoristas detidos por dirigirem embriagados, o atendimento em um pronto-
socorro, durante alguns dias, poderia auxiliar no aumento de valor da vida. 
Por fim, como último princípio, Lukas (1992)
questiona como lidar com os 
conflitos de valores e com a perda de valores. Primeiramente, vamos discutir o que a 
autora apresenta sobre como lidar com um conflito de valor. Nesse caso, ela alerta 
que a logoterapia não pretende facilitar uma tomada de decisão do paciente, nem 
tomá-la por ele. Por outro lado, ela estimulará a atenção à consciência e a 
responsabilidade diante de cada situação. Lembremos que a responsabilidade aqui 
se liga muito mais a necessidade de responder diante dos desafios que nos são 
postos, do que ao sentido moral. 
Seria por meio da consciência que o paciente poderia valorar os diferentes 
valores e, a partir disso, poder tomar um posicionamento diante de conflitos que, por 
exemplo, envolvam os pares profissão – família, vocações artísticas - 
responsabilidades do trabalho e promessa dada – situação que se modificou. 
Por vezes, o paciente dirige ao logoterapeuta a seguinte pergunta: “o que 
faço diante dessa situação?”. Lukas (1992) esclarece que há meios de responder ao 
paciente, deixando sempre que a decisão final seja dele próprio. Uma técnica 
possível de ser utilizada nestes casos é a do denominador comum. 
Lukas (1992) conta de uma paciente que estava aflita, pois precisava se 
decidir entre seu marido e seu amante. Enquanto ao lado do marido possuía uma 
situação de estabilidade pessoal e financeira, o amante lhe oferecia carinho e 
 
 
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erotismo. No entanto, o amante tinha uma namorada e não estava disposto a 
abandoná-la para assumir um relacionamento com essa paciente. 
Com a técnica do denominador comum, havia o objetivo de avaliar o peso 
(positivo ou negativo) que a decisão da paciente teria para cada um dos envolvidos 
na história – ela própria, o marido, o amante e a namorada do amante. Juntas, a 
paciente e a logoterapeuta montaram uma tabela. Com isso, obteve-se que, caso ela 
optasse por permanecer ao lado do marido e abdicar do amante, “beneficiaria” o 
marido e a namorada do amante. Cada um deles recebeu, na tabela, um sinal (+). 
Por outro lado, se ela decidisse se divorciar, ficando com o amante, haveria um 
resultado negativo para seu marido e a namorada do amante. Aqui, cada um deles 
recebeu um sinal (-). No caso dela, tendo em vista sua ambivalência, e do amante, 
em face de seu desinteresse em assumir uma relação, as duas decisões foram 
pontuadas com um sinal (+ -), indicando indiferença. 
Assim, enquanto a decisão favorável ao marido teria um sentido positivo 
para duas pessoas e não seria negativa para nenhum dos envolvidos, a decisão a 
favor do amante teria como saldo um sentido negativo para duas pessoas e nenhum 
sentido positivo. 
Mas isso ainda não seria suficiente para que a paciente tomasse uma 
decisão. Era preciso que ela respondesse a seguinte questão, feita pela 
logoterapeuta: “quanta felicidade ou infelicidade a senhora quer que decorra de suas 
ações?”. Nesse momento, a paciente se deu conta de que precisava, além da 
consciência, contar com a responsabilidade para tomar essa decisão. 
Além do denominador comum, há duas outras técnicas de logoterapia muito 
citadas por Frankl (1989): a intenção paradoxal e a derreflexão. A primeira começou 
a ser utilizada por ele no ano de 1929 e se volta principalmente para os casos de 
ansiedade antecipatória. São situações em que o temor leva justamente à situação 
que se teme, ou seja, o objeto do medo é o próprio medo e a ansiedade é causada 
pela própria ansiedade. O que ocorre é que o paciente que sofre de ansiedade 
antecipatória passa a evitar as situações que lhe provocam essa tensão. 
Frankl (1989) explica que nesses casos o melhor é encorajar o paciente a 
fazer ou desejar que aconteça justamente aquilo que teme. Isso evita a fuga do 
medo e encerra-se o círculo vicioso. Assim, a um paciente que sua em excesso ao 
falar em público, solicita-se justamente que ele deseje suar em público. Já no caso 
 
 
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de um paciente que gagueja ou treme em situações sociais, da mesma maneira, 
deve-se convidá-lo a enfrentar tais situações e até desejar a manifestação de sua 
gagueira ou tremor. Por mais paradoxal, como o nome da técnica aponta, Frankl 
observou que os pacientes, ao utilizarem a intenção paradoxal em seu cotidiano, 
conseguem se livrar do temor ao temor. Grande contribuição nesses casos é 
também o uso do senso de humor naqueles que conseguem se distanciar de si e 
rirem de si mesmos e de seus medos. 
Já a técnica da derreflexão é utilizada com pacientes que têm uma 
hiperintenção e uma hiper-reflexão em torno de determinado assunto. Assim, por 
exemplo, tanto o homem quanto a mulher falharão em sua busca se focarem demais 
em obter prazer durante uma relação sexual, ou seja, intencionarem e refletirem em 
excesso a esse respeito. 
A capacidade de autodistanciamento é de grande relevância para a 
logoterapia. Kroeff (2012) conta de um menino de 10 anos que havia sido assaltado 
a caminho da escola e, desde então, mostrava-se triste, temeroso e desinteressado. 
O tratamento desse caso foi possível, pois o logoterapeuta criou uma brecha entre o 
paciente e seus sintomas por meio do autodistanciamento, permitido pelas 
conversas e pela elaboração de um desenho da situação de violência sofrida. 
Estimou-se, além disso, uma atitude de aceitação frente ao inevitável, de abandono 
da passividade e impotência. Não tardou para que os sintomas desaparecessem, já 
que, afastado do bloqueio paralisante do medo, o menino voltou a enxergar um 
sentido para sua vida. 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
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FIM DO CURSO

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