Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPACIDADE DE CARGA E TENSÃO ADMISSÍVEL Neste capítulo são apresentadas as principais teorias a respeito da estimativa da capacidade de carga de fundações superficiais, bem como as considerações a serem realizadas para a determinação da tensão admissível. 4.1. INTRODUÇÃO Segundo a NBR 6122, tensão admissível é a carga que, aplicada à sapata, provoca recalques que não produzem inconvenientes à estrutura e, simultaneamente, oferece segurança satisfatória à ruptura ou escoamento da fundação. A determinação da tensão admissível do solo pode ser feita por tabelas (normas ou códigos), por fórmulas de capacidade de carga e suas correlações. A NBR 6122 traz uma tabela, que se aconselha unicamente para obras de pequena importância, ou para anteprojetos de fundações. A obtenção da tensão admissível por meio de testes de carga somente é possível para obras de grande importância, devido aos custos do referido teste. A NBR fixa as condições gerais a satisfazer nas provas de carga sobre o terreno, para fins de fundação sobre sapatas. As fórmulas de capacidade de carga são hoje um instrumento bastante eficaz na previsão da tensão admissível, destacando-se dentre as inúmeras formulações a de Terzaghi, de Meyerhof, de Skempton, e de Brinch Hansen (com colaborações de Vesic). As fórmulas de capacidade de carga são determinadas a partir do conhecimento do tipo de ruptura que o solo pode sofrer, dependendo das condições de carregamento. 4.2. TIPOS DE RUPTURA Ao se aplicar uma carga sobre uma fundação, pode-se provocar três tipos de ruptura no solo, considerado como meio elástico, homogêneo, isotrópico, semi-infinito: RUPTURA GERAL, RUPTURA LOCAL e RUPTURA POR PUNCIONAMENTO. 4.2.1. Ruptura Geral Na ruptura geral, ocorre a formação de uma cunha, que tem movimento vertical para baixo, e que empurra lateralmente duas outras cunhas, que tendem a levantar o solo adjacente à fundação. Na Figura 4.1(a) pode-se ver que a superfície de ruptura é bem definida e na Figura 4.1(b) nota-se bem um ponto de carga máxima na curva carga x recalque. A ruptura geral ocorre na maioria das fundações em solos pouco compressíveis de resistência finita e para certas dimensões de sapatas. (a) (b) Figura 4.1 – Ruptura Geral 4.2.2. Ruptura Local Neste tipo de ruptura, forma-se uma cunha no solo, mas a superfície de deslizamento não é bem definida, a menos que o recalque atinja um valor igual à metade da largura da fundação (Figura 4.2). A ruptura local ocorre geralmente em areias fofas. Carga Recalque Q0 (a) (b) Figura 4.2 – Ruptura Local 4.2.3. Ruptura por Puncionamento Quando ocorre este tipo de ruptura nota-se um movimento vertical da fundação, e a ruptura só é verificada medindo-se os recalques da fundação (Figura 4.3). A ruptura por puncionamento ocorre em solos muito compressíveis, em fundações profundas ou em radiers. (a) (b) Figura 4.3 – Ruptura por Puncionamento Carga Recalque Carga Recalque Q0 A capacidade de carga é a tensão limite que o terreno pode suportar sem escoar (sem romper). 4.3.1. Teoria de Terzaghi TERZAGHI (1943) desenvolveu uma teoria para o cálculo da capacidade de carga, baseado nos estudos de PRANDTL (1920) para metais. Para tal admitiu algumas hipóteses: • Resistência ao cisalhamento do solo definida em termos da coesão c e do ângulo de atrito φ ; • Peso específico γ constante; • Material com comportamento elasto-plástico perfeito; • Material homogêneo e isotrópico; • Estado plano de deformação. Considera-se que a ruptura se dá ao longo de uma cunha, logo abaixo da sapata, seguida de uma curva espiral logarítmica, que segue até a superfície do terreno (Figura 4.4). Figura 4.4 – Superfícies de deslizamento (Terzaghi) A solução de Prandlt compõe-se das seguintes equações: c 2/45 φ−o α D B Dq ⋅= γ M N I II III a b d e f g 4.3. CAPACIDADE DE CARGA • Para γ = 0: qcu NqNcq ⋅+⋅= 4.1) sendo: +⋅= ⋅ 2 45tan2tan φφπ oeNq 4.2) ( ) )cot(1 φ⋅−= qc NN 4.3) • Para c = 0 e q = 0: γγ N Bqu ⋅⋅= 2 4.4) sendo: ( ) )tan(12 φγ ⋅+⋅≅ qNN 4.5) A solução de Prandtl foi deduzida desprezando-se a resistência ao cisalhamento acima do plano horizontal fd (ou seja, ao longo dos trechos ed, df e fg da Figura 4.4). O peso do material acima deste plano foi considerado como sobrecarga de: Dq ⋅= γ 4.6) Terzaghi superpôs os efeitos das duas situações, admitindo γ, c e q diferentes de zero (tal superposição não é rigorosamente correta do ponto de vista teórico; porém o erro fica a favor da segurança): γγ N BNqNcq qcu ⋅⋅+⋅+⋅= 2 4.7) Na Figura 4.4 observam-se três zonas bem distintas: I. Zona de ruptura ativa (admitindo α = 45° + φ / 2) II. Zona de ruptura por transição III. Zona de ruptura passiva A Figura 4.5 mostra os círculos de Mohr correspondentes aos pontos M e N (Figura 4.4), situados respectivamente nas cunhas I e III e a uma mesma profundidade. O círculo de Mohr do ponto M corresponde ao estado de tensões ativo, enquanto que o círculo de Mohr do ponto N corresponde ao estado de tensões passivo. Figura 4.5 – Estados de ruptura – pontos M e N Segundo a forma da fundação, as equações de Terzaghi para a capacidade de carga são: • Fundação contínua: γγ N BNqNcq qcu ⋅⋅+⋅+⋅= 2 4.8) • Fundação quadrada: γγ N BNqNcq qcu ⋅⋅⋅+⋅+⋅⋅= 2 8,03,1 4.9) • Fundação circular: σ3(M) σ1(M) σ3(N) σ1(N) τ σ τ = c + σ ⋅ tanφ c φ ruptura passiva ruptura ativa σ1 σ1 σ3 σ3 M σ1(M) > σ3(M) σ1 σ1 σ3 σ3 N σ3(N) > σ1(N) γγ N BNqNcq qcu ⋅⋅⋅+⋅+⋅⋅= 2 6,03,1 4.10) sendo que cN , qN e γN são os fatores de capacidade de carga: φ φ cot1 2 45cos2 2 2 ⋅ − +⋅ = o aNc 4.11) +⋅ = 2 45cos2 2 2 φo aNq 4.12) ( ) 2 tan1 cos2 φ φ γ γ ⋅ −= p K N 4.13) φ φπ tan 24 3 ⋅ − ⋅ = ea 4.14) Na expressão 4.14, o valor de φ que aparece fora da função trigonométrica deve ser tomado em radianos. Os termos das demais equações são: uq = capacidade de carga ou carga última c = coesão φ = ângulo de atrito q = sobrecarga B = largura da fundação γ = peso específico do solo (γsub se o solo estiver submerso) γpK e ' γpK = coeficientes de empuxo para ruptura geral e local, e se relacionam com o ângulo de atrito do solo abaixo da fundação (Tabela 4.1). φ (o) γpK ' γpK 0 10,8 6,0 5 12,2 7,0 10 14,7 8,8 15 18,6 11,0 20 25,0 14,5 25 35,0 19,5 30 52,0 26,5 35 82,0 36,5 40 141,0 52,0 Terzaghi aconselhou, para o caso de ruptura local, que geralmente é associada a um movimento vertical do solo, os seguintes parâmetros: cc ⋅= 3 2' 4.15) φφ tan 3 2tan ' ⋅= 4.16) Na Tabela 4.2 são apresentados alguns valores dos coeficientes de capacidade de carga cN , qN e γN para a ruptura geral, e ' cN , ' qN e ' γN para a ruptura local (sendo que nestes últimos já se leva em conta o valor de φ reduzido para φ ’). Tabela 4.2 – Fatores de capacidade de carga (Terzaghi) φ (o) cN qN γN 'cN ' qN ' γN 0 5,70 1,00 0,00 5,70 1,00 0,00 5 7,34 1,64 0,49 6,74 1,39 0,18 10 9,60 2,69 1,25 8,02 1,94 0,47 15 12,86 4,45 2,54 9,67 2,73 0,92 20 17,69 7,44 4,97 11,85 3,88 1,74 25 25,13 12,72 9,70 14,81 5,60 3,17 30 37,16 22,46 19,73 18,99 8,315,66 35 57,75 41,44 42,43 25,18 12,75 10,14 40 95,66 81,27 100,39 34,87 20,50 18,82 Das fórmulas de capacidade de carga de Terzaghi pode-se concluir: Tabela 4.1 – Valores de γpK e ' γpK • A capacidade de carga cresce com a profundidade da fundação. • Em solos coesivos (φ = 0), a capacidade de carga independe das dimensões da fundação. Na superfície do terreno: cqu ⋅= 7,5 4.17) • Em solos não coesivos (c = 0), a capacidade de carga depende diretamente das dimensões da fundação, mas a profundidade é mais importante que o tamanho da fundação. Para saber quando se considera ruptura geral ou local pode-se fazer uma das considerações a seguir: SOWERS (1962) considerou que se deve utilizar uq (ruptura geral) para areias com densidade relativa maior do que 0,7, e 'uq (ruptura local) para densidade relativa menor do que 0,3. Para Dr entre 0,3 e 0,7, a capacidade de carga deve ser interpolada entre os valores de uq e ' uq . ZEEVAERT (1972) aconselhou utilizar: • Para areias: ( )1,0' +⋅= ruu Dqq 4.18) • Para argilas: + − ⋅= 1,0' IP wLLqq uu 4.19) VESIC (1973) utiliza: ( ) φφ tan75,067,0tan 2' ⋅⋅−+= rr DD 4.20) 4.3.2. Teoria de Brinch Hansen (e Sugestões de Vesic) HANSEN (1961, 1970) fez importantes contribuições ao cálculo da capacidade de carga de fundações superficiais. Posteriormente, VESIC (1975) também publicou resultados de pesquisas sobre o tema, mantendo algumas das soluções encontradas por Hansen, e sugerindo outras. A fórmula geral de capacidade de carga devida a Hansen e Vesic é a seguinte: rgbid qrqgqbqiqdqq crcgcbcicdccu SSSSSSNB SSSSSSNq SSSSSSNcq γγγγγγγγ ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅+ +⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅+ +⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅= 2 ' 4.21) onde c é a coesão do solo, q é a sobrecarga (tensão vertical efetiva no nível da base da sapata) e γ é o peso específico do solo. cN , qN e γN são os fatores de capacidade de carga (Tabela 4.3): +⋅= ⋅ 2 45tan2tan φφπ oeNq 4.22) ( ) φcot1 ⋅−= qc NN 4.23) ( ) φγ tan12 ⋅+⋅≅ qNN 4.24) Tabela 4.3 – Fatores de capacidade de carga (Hansen) φ (o) cN qN γN cq NN 0 5,14 1,00 0,00 0,19 1 5,38 1,09 0,07 0,20 2 5,63 1,20 0,15 0,21 3 5,90 1,31 0,24 0,22 4 6,19 1,43 0,34 0,23 5 6,49 1,57 0,45 0,24 6 6,81 1,72 0,57 0,25 7 7,16 1,88 0,71 0,26 8 7,53 2,06 0,86 0,27 9 7,92 2,25 1,03 0,28 10 8,34 2,47 1,22 0,30 11 8,80 2,71 1,44 0,31 12 9,28 2,97 1,69 0,32 13 9,81 3,26 1,97 0,33 14 10,37 3,59 2,29 0,35 15 10,98 3,94 2,65 0,36 16 11,63 4,34 3,06 0,37 17 12,34 4,77 3,53 0,39 18 13,10 5,26 4,07 0,40 19 13,93 5,80 4,68 0,42 20 14,83 6,40 5,39 0,43 φ (o) cN qN γN cq NN 21 15,81 7,07 6,20 0,45 22 16,88 7,82 7,13 0,46 23 18,05 8,66 8,20 0,48 24 19,32 9,60 9,44 0,50 25 20,72 10,66 10,88 0,51 26 22,25 11,85 12,54 0,53 27 23,94 13,20 14,47 0,55 28 25,80 14,72 16,72 0,57 29 27,86 16,44 19,34 0,59 30 30,14 18,40 22,40 0,61 31 32,67 20,63 25,99 0,63 32 35,49 23,18 30,21 0,65 33 38,64 26,09 35,19 0,68 34 42,16 29,44 41,06 0,70 35 46,12 33,30 48,03 0,72 36 50,59 37,75 56,31 0,75 37 55,63 42,92 66,19 0,77 38 61,35 48,93 78,02 0,80 39 67,87 55,96 92,25 0,82 40 75,31 64,20 109,41 0,85 41 83,86 73,90 130,21 0,88 42 93,71 85,37 155,54 0,91 43 105,11 99,01 186,53 0,94 44 118,37 115,31 224,63 0,97 45 133,87 134,87 271,75 1,01 46 152,10 158,50 330,34 1,04 47 173,64 187,21 403,65 1,08 48 199,26 222,30 496,00 1,12 49 229,92 265,50 613,14 1,15 50 266,88 319,06 762,86 1,20 Na expressão (4.21), 'B é a largura efetiva da sapata, que será calculada em função da eventual excentricidade da carga aplicada em relação ao centro da sapata. Os outros fatores são: cS , qS , γS – fatores de correção para a forma da sapata cdS , qdS , dSγ – fatores de correção para a profundidade da sapata ciS , qiS , iSγ – fatores de correção para a inclinação da carga aplicada cbS , qbS , bSγ – fatores de correção para a inclinação da base da sapata cgS , qgS , gSγ – fatores de correção para a inclinação do terreno de fundação crS , qrS , rSγ – fatores de correção para a compressibilidade do solo I. Efeito da excentricidade da carga aplicada na sapata: A excentricidade da carga (distância do ponto de aplicação da resultante de carga em relação ao centro geométrico da sapata) é levada em conta através da adoção de uma área efetiva ''' BLA ⋅= (área onde as tensões de compressão são mais intensas), de tal forma que a carga aplicada fique localizada no centro geométrico da área efetiva (Figura 4.6): Figura 4.6 – Excentricidade da carga aplicada e área efetiva BeBB ⋅−= 2 ' 4.25) LeLL ⋅−= 2 ' 4.26) Terzaghi aconselhou que a excentricidade da carga não deve ultrapassar B/4 e L/4. Pilar B L Be Le Sapata L’ B’ II. Fatores de correção para a forma da sapata: A teoria original de Terzaghi foi formulada a partir da hipótese de que a sapata é contínua ( ∞→'L ). Hansen e Vesic propuseram fatores de correção para abranger diferentes relações entre 'L e 'B . • HANSEN (1970): ( ) ' ' 6tan2,01 L BSc ⋅++= φ 4.27) q c cq N S SS 1− −= 4.28) 2 3 cSS − =γ 4.29) • VESIC (1975): ' ' 1 L B N N S c q c ⋅+= 4.30) ' ' 2,01 L BSc ⋅+= (para φ = 0) 4.30a) φtan1 ' ' ⋅+= L BSq 4.31) ' ' 4,01 L BS ⋅−=γ 4.32) III. Fatores de correção para a profundidade da sapata: • HANSEN (1970): φ4 ' tan71 6,0 35,01 ⋅+ + += D B Scd 4.33) q cd cdqd N S SS 1− −= 4.34) 1=qdS (para φ = 0) 4.34a) cdqd SS = (para φ > 25°) 4.34b) 1=dSγ 4.35) • VESIC (1975): '35,01 B DScd ⋅+= 4.36) cdqd SS = 4.37) 1=qdS (para φ = 0) 4.37a) 1=dSγ 4.38) IV. Fatores de correção para a inclinação da carga: Se a carga aplicada não for vertical, mas sim inclinada, e chamando de Q a componente vertical e H a componente horizontal da carga inclinada R (Figura 4.7), Hansen e Vesic propuseram os seguintes fatores de correção: Figura 4.7 – Carga inclinada e componentes horizontal e vertical • HANSEN (1970): φcot 1 '' ⋅⋅⋅+ −= cLBQ HSqi 4.39) 1 1 − − −= q qi qici N S SS 4.40) 2 qii SS =γ 4.41) B L Be Le PLANTA θ H R Q D CORTE Q H L’ B’ • VESIC (1975): m qi cLBQ HS ⋅⋅⋅+ −= φcot 1 '' 4.42) φtan 1 ⋅ − −= c qi qici N S SS 4.43) c ci NcLB HmS ⋅⋅⋅ ⋅ −= ''1 (para φ = 0) 4.43a) 1 '' cot 1 + ⋅⋅⋅+ −= m i cLBQ HS φ γ 4.44) onde: θθ 22 sencos ⋅+⋅= BL mmm ' ' ' ' 1 2 B L B L mL + + = ; ' ' ' ' 1 2 L B L B mB + + = θ – ângulo que a componente horizontal (H) da carga inclinada faz com a direção L, no plano da sapata. A carga horizontal admissível na sapata será dada pela expressão: FS QBLcH BBadm φtan'' ⋅+⋅⋅ = onde: Bc – aderência entre sapata e solo Bφ – ângulo de atrito entre sapata e solo ( φφ ⋅≅ 3 2 B ) FS – fator de segurança (> 1,5) V. Fatores de correção para a inclinação da base da sapata: Existem situações nas quais pode ser interessante inclinar a base da sapata, para absorver esforços horizontais (Figura 4.8). Figura 4.8 – Sapata com base inclinada • VESIC (1975): 2)tan1( φα ⋅−=qbS 4.45) φtan 1 ⋅ − −= c qb qbcb N S SS 4.46) 2 21 + ⋅ −= π α cbS (para φ = 0) 4.46a) qbb SS =γ 4.47) Nas expressões acima, os valores de α que aparecem fora de funções trigonométricas devem ser tomados em radianos. Ainda, o ângulo α deve ser menor ou igual a 45°.α VI. Fatores de correção para a inclinação da superfície do terreno: Se o terreno de fundação não for horizontal (Figura 4.9): Figura 4.9 – Terreno inclinado • VESIC (1975): 2)tan1( ω−=qgS 4.48) φtan 1 ⋅ − −= c qg qgcg N S SS 4.49) 2 21 + ⋅ −= π ω cgS (para φ = 0) 4.49a) qgg SS =γ 4.50) Nas expressões acima, os valores de ω que aparecem fora de funções trigonométricas devem ser tomados em radianos. Ainda, o ângulo ω deve ser menor ou igual a 45°, e menor do que o ângulo de atrito do solo φ. Quando ω for maior do que φ / 2, deve-se proceder a uma análise de estabilidade de taludes, considerando a ação adicional do carregamento aplicado à fundação (MEYERHOF, 1957). Convém lembrar que, no caso de terreno inclinado, as tensões verticais geostáticas a uma profundidade z são calculadas como: ωγσ cos⋅⋅= zv 4.51) ω VII. Fatores de correção para a compressibilidade do solo: Terzaghi, em sua teoria de capacidade de carga, admitiu por hipótese que o solo é incompressível, sendo portanto a ruptura do tipo generalizada. Porém, se o solo apresentar alguma compressibilidade, a ruptura tenderá a ser local, e a solução de Terzaghi não será mais representativa da realidade. VESIC (1975) propôs os seguintes fatores de correção para a compressibilidade do solo: ( ) + ⋅⋅⋅ +⋅ ⋅+− = φ φ φ sen1 2logsen07,3 tan ' ' 6,04,4 r I L B qr eS 4.52) φtan 1 ⋅ − −= c qr qrcr N S SS 4.53) ( )rcr I L BS log6,012,032,0 ' ' ⋅+⋅+= (para φ = 0) 4.53a) qrr SS =γ 4.54) onde rI é o índice de rigidez do solo, relação entre o módulo de elasticidade transversal G e a resistência ao cisalhamento τ do solo: ( ) ( )φσνφστ tan12tan '' ⋅+⋅+⋅=⋅+== vvr c E c GGI 4.55) sendo E o módulo de elasticidade longitudinal e ν o coeficiente de Poisson do solo. Para estimativa de Ir, os valores de G e τ a serem considerados devem ser valores médios, representativos das propriedades elásticas e de resistência da massa de solo submetida ao processo de deslizamento (ruptura). A profundidade e extensão da superfície de deslizamento é função do ângulo de atrito φ do solo, como mostra a Figura 4.10. Figura 4.10 – Profundidade e extensão da superfície de ruptura (CAPUTO, 1989) Vesic sugere que os valores de G, da coesão c, do ângulo de atrito φ e da tensão vertical efetiva 'vσ sejam tomados a uma profundidade igual a 2 'BD + (Figura 4.11). Figura 4.11 – Cálculo do índice de rigidez do solo ≅ B’ B’ ',,, vcG σφ zw B’/2 D B’ 8,5⋅B’ 6,3⋅B’ 4,8⋅B’ 2,5⋅B’ 1,5⋅B’ 0, 7⋅ B’ 1, 0⋅ B’ 1, 6⋅ B’ 1, 9⋅ B’ 2, 3⋅ B’ φ = 40° φ = 35° φ = 30° φ = 15° φ = 0° Antes de se calcular os fatores crS , qrS e rSγ , deve-se verificar se o solo é compressível ou pode ser considerado incompressível. Para isso, deve-se determinar o índice de rigidez crítico: −⋅ − ⋅= 2 45cot ' ' 45,03,3 2 1 φo L B critr eI 4.56) Se rI > critrI , o solo pode ser considerado incompressível, e os fatores crS , qrS e rSγ serão iguais à unidade. VIII. Influência da água: A presença de água altera o peso específico do solo. De acordo com a profundidade wz do nível d´água em relação ao nível do terreno (Figura 4.10), o peso específico γ a ser considerado na expressão (4.21) será: subw Dz γγ =→≤ 4.57) ( )subnatwsubw B Dz BDzD γγγγ −⋅ − +=→+<< ' ' 4.58) natw BDz γγ =→+≥ ' 4.59) Quanto à influência da água na sobrecarga q, a ser considerada na expressão (4.21), devem-se fazer as seguintes considerações: Dqz subw ⋅=→= γ0 4.60) ( )wsubwnatw zDzqDz −⋅+⋅=→<< γγ0 4.61) DqDz natw ⋅=→≥ γ 4.62) 4.3.3. Teoria de Meyerhof Retomando os estudos de Terzaghi, MEYERHOF (1951, 1963) considerou na análise dos mecanismos de ruptura, superfícies de deslizamento como mostradas na Figura 4.12. Figura 4.12 – Superfícies de deslizamento (Meyerhof) Meyerhof levou em conta a resistência ao cisalhamento do solo acima da base da fundação, o que Terzaghi considerou apenas como sobrecarga. Das equações para os fatores de capacidade de carga de Meyerhof, pode-se notar que os valores se situam entre os de ruptura geral e local de Terzaghi, quando D = 0. φφ φ θθ cot 2 45tan sen1 2 tan2 ⋅ +⋅ + = ⋅⋅ oeNc 4.63) +⋅ + = ⋅⋅ 2 45tan sen1 2 tan2 φ φ θθ oeNq 4.64) ( ) )4,1tan(1 φγ ⋅⋅−= qNN 4.65) Nas expressões anteriores, os valores de θ que aparecem fora das funções trigonométricas devem ser tomados em radianos. Meyerhof também propôs fatores de correção de forma, profundidade e inclinação. Seus fatores são levemente diferentes dos de Terzaghi e Hansen, entretanto, estes últimos são recomendados por existirem já tabelados. Meyerhof deu uma boa contribuição ao problema das sapatas localizadas em θ β encostas e taludes. A ausência de solo de um lado da sapata (lado da encosta) tenderá a reduzir a capacidade de carga da fundação. As Figuras 4.13 e 4.14 mostram os dois casos estudados: sapatas posicionadas no topo do talude e no próprio talude. Figura 4.13 – Sapata posicionada no topo do talude (MEYERHOF, 1957) Figura 4.14 – Sapata posicionada no talude (MEYERHOF, 1957) A capacidade de carga é dada por: γγγ SN BSNcq qccqu ⋅⋅⋅+⋅⋅= 2 ' 4.66) onde cqN e qNγ são obtidos das curvas das Figuras 4.13 e 4.14 e já incluem os fatores de profundidade. As curvas são correspondentes a sapatas contínuas. 4.3.4. Solo de Fundação Estratificado Quando ocorrem duas camadas de solos diferentes sob a fundação, como na Figura 4.15, BROWN e MEYERHOF (1969) obtiveram a seguinte expressão para a capacidade de carga da sapata (admitindo, por hipótese, situação não-drenada, ou seja, φ 1 = φ 2 = 0): qNcq mu +⋅= 1 4.67) Figura 4.15 – Duas camadas sob a fundação Na expressão 4.67, mN é um fator de capacidade de carga modificado. Para o caso de camada mole sobre camada mais rígida (c1 < c2), VESIC (1975) sugeriu a expressão: D H B’ q c1, φ1 c2, φ2 ( ) ( ) ( )[ ] ( )[ ] ( )[ ] ( ) ( )[ ]11111 1111 ***** *2*** +⋅−+⋅−−+⋅+⋅−++⋅+⋅ −+⋅⋅++⋅+⋅−+⋅⋅ = ccccc cccc m NNkNNkNkk NkNkNNk N ββββ βββ 4.68) onde: HLB LB ⋅+⋅ ⋅ = )(2 '' '' β → índice de puncionamento da fundação 4.69) ccc SNN ⋅= * → fator de capacidade de carga corrigido para a forma 4.70) 1 2 c ck = → razão entre as resistências não-drenadas 4.71) Nas Tabelas 4.4 e 4.5 são apresentados valores de mN para fundações contínuas (L > 5⋅B) e quadradas ou circulares. Tabela 4.4 – Valores de mN para sapatas contínuas (L > 5⋅B) k B’/H 2 4 6 8 10 20 ∞ 1,0 5,14 5,14 5,14 5,14 5,14 5,14 5,14 1,5 5,14 5,31 5,45 5,59 5,70 6,14 7,71 2 5,14 5,43 5,69 5,92 6,13 6,95 10,28 3 5,14 5,59 6,00 6,38 6,74 8,16 15,42 4 5,14 5,69 6,21 6,69 7,14 9,02 20,56 5 5,14 5,76 6,35 6,90 7,42 9,66 25,70 10 5,14 5,93 6,69 7,43 8,14 11,40 51,40 ∞ 5,14 6,14 7,14 8,14 9,14 14,14 ∞ Tabela 4.5 – Valores de mN para sapatas circulares ou quadradas (L =B) k B’/H 4 8 12 16 20 40 ∞ 1,0 6,17 6,17 6,17 6,17 6,17 6,17 6,17 1,5 6,17 6,34 6,49 6,63 6,76 7,25 9,25 2 6,17 6,46 6,73 6,98 7,20 8,10 12,34 3 6,17 6,63 7,05 7,45 7,82 9,36 18,51 4 6,17 6,73 7,26 7,75 8,23 10,24 24,68 5 6,17 6,80 7,40 7,97 8,51 10,88 30,85 10 6,17 6,96 7,74 8,49 9,22 12,58 61,70 ∞ 6,17 7,17 8,17 9,17 10,17 15,17 ∞ Para o caso de camada mais rígida sobrejacente a camada mole (c1 > c2), BROWN e MEYERHOF (1969) sugerem a expressão: *1 cm NkN ⋅+= β 4.72) Porém, os resultados publicadospor Brown e Meyerhof indicam uma redução na resistência da camada superior, que pode ser atribuída ao fenômeno de ruptura progressiva. Assim, sugere-se utilizar uma coesão reduzida ( '1c ) para o solo, sendo que para argilas com sensibilidade igual a 2: 1 ' 1 75,0 cc ⋅= 4.73) Para φ ≠0, e quando a camada superior for mais resistente que a camada inferior, pode-se calcular a capacidade de carga pela seguinte expressão (VESIC, 1975): 11 '1 tan ' ' 12 11 '' cot1cot1 φφ φ ⋅⋅−⋅ ⋅⋅+= ⋅⋅⋅ +⋅ c K ec K qq B HK L B uu 4.74) onde: '' uq → capacidade de carga apenas do solo menos resistente (supondo H = 0), calculada por qualquer método anteriormente apresentado. 1 2 1 2 sen1 sen1 φ φ + − =K 4.75) Em solos sem coesão (c1 = 0), e para 25° ≤ φ1 ≤ 50°, a expressão se reduz a: '' ' 167,0 '' B H L B uu eqq ⋅ +⋅ ⋅= 4.76) Da expressão 4.78, pode-se determinar uma profundidade crítica para a camada superior, além da qual a capacidade de carga passa a ser pouco afetada pela presença da camada inferior fraca: +⋅ ⋅ ⋅= ' ' '' ' ' 12 ln3 L B q q BH u u crit 4.77) onde: ' uq → capacidade de carga do solo mais resistente (supondo H = ∞), calculada por qualquer método anteriormente apresentado. 4.3.5. Fórmulas Empíricas Baseadas em Dados de Ensaios de Simples Reconhecimento (SPT) MEYERHOF (1956) propôs as seguintes fórmulas: - Para solos arenosos: ( )DBNqu +⋅⋅= 32 4.78) - Para solos argilosos: Nqu ⋅= 16 4.79) sendo a unidade de uq igual a kN/m 2. Os valores de D e B devem ser tomados em metros. N é a média dos valores de NSPT em uma espessura 1,5⋅B abaixo do nível da fundação. Os valores de uq devem ser divididos por dois quando ocorrer presença de nível d´água no solo. É possível a obtenção das Equações 4.78 e 4.79 a partir da solução teórica 4.21, como já demonstrado por VELLOSO (1977). Admitindo que todos os fatores de correção sejam iguais à unidade, e que a carga seja centrada (B’=B): γγ N BNqNcq qcu ⋅⋅+⋅+⋅= 2 4.80) Para as areias, admitem-se ainda as seguintes hipóteses: • c = 0 • 12 ≅⋅ γN Nq Assim, substituindo em 4.80: ( )BD N NB N DNBNDq qu +⋅ ⋅ =⋅⋅+⋅⋅=⋅⋅+⋅⋅= 2222 γ γ γ γ γ γγγγ Se o lençol freático estiver abaixo da profundidade igual a B+D (ver Figura 4.13), o peso específico a ser considerado será o natural (γnat). Admitindo para a areia um γnat igual a 18,5 kN/m3, e admitindo ainda a seguinte relação: • NN ⋅≅ 5,3γ obtém-se: ( ) ( ) ( ) ( )BDNBDNBDNBD N qu +⋅⋅≅+⋅⋅=+⋅ ⋅⋅ =+⋅ ⋅ = 324,32 2 5,35,18 2 γγ No caso de lençol freático na superfície do terreno, o peso específico a ser considerado será o submerso (γsub). Admitindo, simplificadamente, que γsub seja igual à metade de γnat, a capacidade de carga obtida pela Equação 4.78 deve ser dividida por 2 quando em presença de lençol freático elevado. Para as argilas, admite-se a hipótese de que φ = 0, e, portanto, da Tabela 4.3: • 14,5=cN • 00,1=qN • 00,0=γN Assim, substituindo em 4.80: DSNBNDNcq uqcu ⋅+⋅=⋅⋅+⋅⋅+⋅= γγγ γ 14,52 sendo Su a resistência não-drenada da argila. Admitindo ainda a seguinte relação (embora bastante questionável do ponto de vista teórico): • NSu ⋅≅ 3 (em kN/m 2) obtém-se: NDNDNDSq uu ⋅≅⋅+⋅=⋅+⋅⋅=⋅+⋅= 164,15314,514,5 γγγ desprezando a parcela D⋅γ . 4.4. TENSÃO ADMISSÍVEL A tensão admissível, que será a máxima tensão de trabalho da fundação, quando relacionada à capacidade de carga, é expressa pela equação: FS q q uadm = 4.81) Na escolha do fator de segurança FS, é importante levar em consideração o nível de conhecimento do terreno e as características da estrutura. Na Tabela 4.6 tem-se uma sugestão para a escolha dos fatores de segurança (VESIC, 1975). Tabela 4.6 – Fatores de segurança TIPO DE CARACTERÍSTICAS INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO ESTRUTURA AMPLA LIMITADA Pontes ferroviárias A carga máxima pode Depósitos, silos ocorrer com freqüência. Obras hidráulicas Ruptura com conseqüências 3,0 4,0 Muros de arrimo desastrosas. Chaminés Pontes rodoviárias A carga máxima ocorre Prédios industriais ocasionalmente. 2,5 3,5 ou públicos de Ruptura com conseqüências pequeno porte sérias. Edifícios de A carga máxima tem pouca apartamentos probabilidade de ocorrer. 2,0 3,0 ou escritórios Observações sobre a Tabela 4.6: 1. Em estruturas provisórias pode-se adotar valores de FS da ordem de 75% dos indicados na tabela, mas nunca inferior a 2. 2. Para estruturas muito altas, tais como chaminés e torres, ou em geral, quando se teme fenômenos de ruptura progressiva, os coeficientes indicados devem ser aumentados de 20 a 50%. 3. Deve-se dar especial atenção a problemas de variação de umidade, do nível de lençol freático (submersão), ou da erosão do terreno de fundação. 4. Deve-se analisar o problema nos seus aspectos de carregamento rápido e de longo prazo, no caso da solução mais desfavorável não ser claramente identificável. 5. O problema de recalques, total e diferencial, deve também ser analisado para fixação da carga admissível.
Compartilhar