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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2018 ● PATOLOGIA 1 @medresumosoficial DEGENERAÇÕES CELULARES Degenerações são danos celulares não-letais caracterizados por um acúmulo intracelular de quantidades anormais de várias substâncias, devido a uma alteração metabólica na célula. As substâncias acumuladas pertencem a três categorias: (1) um componente celular normal, tal como água, lipídios, proteínas e carboidratos; (2) uma substância anormal, exógena, como um mineral ou produtos de agentes infecciosos, ou endógena, como um produto de uma síntese anormal ou do metabolismo; e (3) um pigmento. Essas substâncias podem se acumular transitoriamente ou permanentemente no citoplasma ou no núcleo, podendo ser inócuas para as células, mas ocasionalmente são altamente tóxicas. Vários processos resultam em uma deposição intracelular anormal: 1. Uma substância endógena normal é produzida a um índice normal ou aumentado, mas a velocidade de seu metabolismo é inadequada para removê-la. Um exemplo desse tipo de processo é a alteração gordurosa que ocorre no fígado devido ao acúmulo intracelular de triglicerídeos. 2. Mutações genéticas em proteínas específicas geram um defeito no dobramento e excreção da mesma, resultando em seu acúmulo dentro do retículo endoplasmático rugoso, trazendo posterior prejuízo à célula. 3. Uma substância endógena normal que se acumula devido a defeitos genéticos ou adquiridos do metabolismo, armazenamento, transporte ou secreção destas substâncias. Um exemplo é o grupo de condições causadas por defeitos genéticos de enzimas específicas envolvidas no metabolismo dos lipídios e dos carboidratos, resultando na deposição intracelular dessas substâncias, especialmente nos lisossomos. 4. Uma substância exógena anormal é depositada e se acumula, pois a célula não possui as enzimas necessárias para degradá-la nem a habilidade para transportá-la para outros locais. A deposição de partículas de carbono (derivados do petróleo) e substâncias químicas não- metabolizáveis, como a sílica, são exemplos deste tipo de alteração. Qualquer que seja a natureza e a origem da deposição intracelular, ela implica o armazenamento de alguns produtos pelas células individualmente. Se o excesso ocorrer devido a uma alteração sistêmica que pode ser controlada, o acúmulo é reversível. Nas doenças genéticas de deposição, o acúmulo é progressivo e as células podem se tornar tão sobrecarregadas que ocorre lesão secundária, levando, em alguns casos, à morte do tecido e do paciente. As degenerações mais conhecidas e que serão aqui abordadas são: Degeneração hidrópica Degeneração hialina Degeneração lipídica Degeneração com acúmulo de carboidratos Arlindo Ugulino Netto. PATOLOGIA 2018 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2018 ● PATOLOGIA 2 @medresumosoficial DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA A degeneração hidrópica (inchação turva ou hidrópica, tumefação turva ou celular, degeneração vacuolar ou edema celular) é uma alteração que se caracteriza pelo acúmulo de água no citoplasma, que se torna volumoso e pálido com núcleo normalmente posicionado. É vista com mais frequência nas células parenquimatosas, principalmente do rim, fígado e coração. Consiste na lesão não-letal celular mais comum, uma vez que pode ser causada por qualquer agente físico, químico (tetracloreto, toxinas, etc.) ou biológico (deficiência de oxigênio, etc.) que gera um desequilíbrio hidroeletrolítico na célula. A degeneração hidrópica ocorre em função do comprometimento da regulação do volume celular, que é um processo basicamente centrado no controle de sódio (Na + ) e potássio (K + ) no citoplasma. A bomba Na + /K + -ATPase é responsável por retirar o Na + de dentro da célula e colocar e manter o K + intracelularmente. Para este feito, é necessário o gasto de energia (ATP). Qualquer fator que altere o funcionamento desta bomba, seja por destruição da bomba Na + /K + ou por carência de ATP celular, ocorre uma retenção de Na + no citoplasma, deixando escapar o K + e com isto há um aumento de água citoplasmática no intuito de manter as condições isosmósticas e o consequente inchaço da célula. A causa mais comum de degeneração hidrópica é a hipóxia (como ocorre no choque). A falta de oxigênio altera a respiração celular, reduzindo a respiração aeróbica, levando à queda de ATP. Todos os processo que requerer ATP, como a própria bomba Na + /K + -ATPase são afetados. Enfim, todos os processos que interfiram na fosforilação oxidativa que produzirá ATP, seja por hipóxia ou por falta de substratos como ocorre na desnutrição grave, seja pela lesão da membrana por enzimas de oxidação (toxinas bacterianas/químicas e radicais livres produzidos no processo inflamatório), podem produzir degeneração hidrópica. Condições que agridem a membrana celular como, por exemplo, os vírus, o cálcio, substâncias químicas e toxinas bacterianas podem lesar diretamente a membrana plasmática e levar a um edema celular. A hipóxia força, ainda, a célula a entrar em respiração anaeróbica, o que leva a um aumento na produção de ácido láctico. Esta condição leva a uma redução do pH, culminando no desacoplamento dos ribossomos e um decréscimo na síntese proteica, o que afeta, também, na síntese da Na + /K + -ATPase. Nos estados de vômitos constantes e diarreia, há perda acentuada de vários eletrólitos, incluindo o potássio (hipocalemia). Acredita-se que este fator reflita em uma alteração da bomba Na + /K + pela perda do potássio intracelular, O K + tem ainda uma importante função nas reações enzimáticas e na manutenção da permeabilidade da membrana. Todos estes fatores levam a uma retenção de Na + e água dentro da célula seguidos de uma expansão isosmótica. ASPECTOS MORFOLÓGICOS Os órgãos acometidos por este tipo de degeneração aumentam de volume e apresentam certa palidez por motivo da compressão da microcirculação. Entretanto, a função dos órgãos continuará preservada. Microscopicamente, observa-se uma distensão das células, que passam a apresentar citoplasma completamente vacuolizado, mais alargado e mais claro. EVOLUÇÃO E CONSEQUÊNCIAS A degeneração hidrópica é um fenômeno reversível que, se o agente lesivo for retirado, a célula pode voltar ao normal, sem levar a nenhum comprometimento da função do órgão. DEGENERAÇÃO HIALINA O termo hialino refere-se simplesmente a qualquer material que, ao microscópio óptico, apresente-se homogeneamente corado em róseo pela HE, amorfo e acidófilo (coloração rósea). É importante conhecer tais constituições pois existe uma série de doenças de diferentes patogenias que cursam com o acúmulo deste material hialina. A degeneração hialina é classificada em extracelular (quando o material hialino se acumula no espaço intersticial ou ao longo da parede dos vasos) e intracelular (quando o material se acumula dentro das células). Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2018 ● PATOLOGIA 3 @medresumosoficial DEGENERAÇÃO HIALINA EXTRACELULAR (CONJUNTIVO-VASCULARES) Pode se apresentar na forma de degeneração hialina (DH) propriamente dita ou na forma da amiloidose. DH propriamente dita: é o tipo mais comum de DH, atingindo o tecido conjuntivo fibroso colágeno e a parede dos vasos. A hialinização do tecido conjuntivo fibroso é encontrada em cicatrizes antigas decorrentes de organização de processos inflamatórios. Ao microscópio, vê-se que nesta área cicatricial branca corada pela HE existem poucos fibroblastos, além de alargamento, fusão e compactação das fibras colágenas, dando a este tecido o aspecto eosinofílico e, portanto, hialinizada. o Cicatrizes antigas: quando ocorre um acúmulo de fibrina para o local de uma lesão prévia, acontece um recrutamento de fibroblastos que passam a sintetizar fibras colágenas e, posteriormente, desaparecem. Na microscopia, aparecem apenas feixes espessados de colágenos (praticamente acelular) corados