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Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III Cardiopatia Isquêmica INTRODUÇÃO A cardiopatia isquêmica (CI) representa um grupo de síndromes fisiologicamente relacionadas que resultam da isquemia miocárdica — um desequilíbrio entre o suprimento miocárdico (perfusão) e a demanda cardíaca por sangue oxigenado, ou seja, uma incompatibilidade entre a demanda metabólica e o suprimento vascular de sangue oxigenado para o músculo cardíaco. A isquemia não só limita a oxigenação do tecido (e logo, a geração de ATP), como também reduz a disponibilidade de nutrientes e a remoção de resíduos metabólicos. As consequências, portanto, são insuficiência de oxigênio (hipóxia, anoxia), suprimento inadequado de nutrientes e diminuição da remoção de metabólitos. Na epidemiologia temos a CI como responsável por mais de 400.000 mortes anualmente nos Estados Unidos e aproximadamente 7 milhões por ano em países desenvolvidos. MedCurso: O termo isquemia significa “desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio”, devido à diminuição da oferta e/ou aumento do consumo. O resultado final da isquemia é a queda na produção celular de energia (ATP), o que leva à perda de função e, se a isquemia for grave e persistente, culmina em necrose da célula. A doença isquêmica do miocárdio é caracterizada pelo surgimento de isquemia em uma ou mais porções do músculo cardíaco. Sua principal etiologia é a aterosclerose das artérias coronárias, sendo as demais causas (ex.: embolia, vasculite, dissecção coronariana) bastante incomuns. RESUMO DA ANATOMIA RELACIONADA VALVAS ATRIOVENTRICULARES ARTERIAIS TRICÚSPIDE Direita Três cúspides (septal, anterior e posterior) MITRAL Esquerda Duas cúspides (anterior e posterior) PULMONAR Direita Folhetos semilunares AÓRTICA Esquerda Folhetos semilunares CORONÁRIAS CORONÁRIA ESQUERDA CORONÁRIA DIREITA Corre lateral e ventralmente entre a raiz do tronco pulmonar e o átrio esquerdo Artéria descendente anterior (DA): irriga a parede anterior do VE, 2/3 anteriores do septo interventricular e o ápice. Artéria circunflexa (CX): irriga a parede lateral do VE. (geralmente dominante) Irriga toda a parede do VD, a região póstero-basal do VE e 1/3 posterior do septo interventricular. FISIOLOGIA Existem dois tipos de células musculares no coração: 1. Células contráteis: miócitos (fazem a função mecânica do coração); 2. Células condutoras que têm como objetivo distribuir rapidamente os potenciais de ação. Estão no nó sinoatrial (SA), no nó atrioventricular (NAV), nos tratos intermodais atriais e no sistema His-Purkinge. No nó sinoatrial elas geram potenciais de ação espontaneamente (potencial marcapasso), lembrando que, exceto pelo nó SA, a capacidade Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III de todos os outros tecidos de gerar potenciais de ação é suprimida. O nó atrioventricular atua na diminuição da velocidade de condução, garantindo que os ventrículos tenham tempo suficiente para relaxar e se encher de sangue antes da nova contração. Conduções rápidas através do nó AV podem levar à diminuição do volume sistólico e do debito cardíaco (Lown Ganong Levine, Wolff Parkinson White). Já o sistema His-Purkinje configura-se como uma via de baixa resistência e condução rápida, sendo essencial para a contração eficiente do coração. SENTIDO: NSA → tratos intermodais atriais → Átrios → NAV→ Feixes de His → Sistema de Purkinje → Ventrículos VELOCIDADES: feixes de His e Purkinje > feixes atriais > feixes ventriculares > NAV MECANISMOS DE ISQUEMIA SÍNDROMES ISQUÊMICAS Robbins: A CI pode se apresentar com uma ou mais das seguintes síndromes clínicas: Infarto do miocárdio (IM), no qual a isquemia causa franca necrose cardíaca. Angina pectoris (literalmente “dor no peito”), na qual a isquemia não é grave o suficiente para provocar infarto, mas, apesar disso, os sintomas apontam para o risco de infarto. CI crônica com insuficiência cardíaca e morte súbita cardíaca (MSC). ANGINA PECTORIS: 1. Estável (típica); 2. Prinzmetal; 3. Instável (atípica); INFARTO DO MIOCÁRDIO MORTE SÚBITA CARDÍACA CARDIOPATIA ISQUÊMICA CRÔNICA ANGINA PECTORIS Robbins: A angina pectoris é caracterizada por ataques paroxísticos e geralmente recorrentes de desconforto torácico subesternal ou precordial, Fluxo sanguíneo coronariano reduzido 90% dos casos são devido a aterosclerose coronariana, vasoespasmo e/ou trombose. A aterosclerose causa estreitamento progressivo crônico dos lúmens coronários, um processo que pode ser pontuado por ruptura aguda da placa e trombose. Causas incomuns de fluxo comprometido incluem arterite, êmbolos e hipotensão (choque). Aumento da demanda miocárdica Taquicardia e hipertrofia Hipóxia devido ao transporte diminuído de oxigênio (suprimento de nutrientes e remoção dos metabólitos preservados) Anemia, doença pulmonar, envenenamento por monóxido de carbono ou tabagismo. Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III causados por isquemia miocárdica transitória (15 segundos a 15 minutos), que é insuficiente para provocar a necrose de miócitos. A dor em si é provavelmente uma consequência da liberação induzida pela isquemia de adenosina, bradicinina, e de outras moléculas que estimulam os nervos aferentes vagais e simpáticos. Existem três padrões de sobreposição da angina pectoris, que são causados por combinações variadas de diminuição da perfusão, aumento da demanda e doença arterial coronariana. É importante ressaltar que nem todos os eventos isquêmicos são percebidos pelos pacientes; a isquemia silenciosa é particularmente comum na população geriátrica e no cenário de neuropatia diabética. A angina pectoris está ligada a dor precordial ou subesternal paroxística (aperto, facada) que ocorre quando a demanda cardíaca excede o suprimento vascular e quando a duração e gravidade da isquemia não são suficientes para causar infarto. A dor é atribuída à liberação de adenosina, bradicinina e outras moléculas que estimulam os nervos aferentes simpáticos e vagais. A isquemia silenciosa é comum na neuropatia diabética e em pacientes geriátricos. CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE DORES TORÁCICAS Tipo de dor torácica Definição Dor tipo A (definitivamente anginosa) Dor torácica que dá certeza de diagnóstico de SCA, independentemente de exames complementares. Dor tipo B (provavelmente anginosa) Dor torácica que faz da SCA a principal hipótese diagnóstica, mas que necessita de exames complementares para confirmação. Dor tipo C (provavelmente não anginosa) Dor torácica que faz as SCA a principal hipótese diagnóstica, mas necessita de exames complementares para sua exclusão. Dor tipo D (definitivamente não anginosa) Dor torácica que não inclui a SCA no diagnostico etiológico (D1= sem diagnóstico na admissão; D2= com diagnóstico). Dor de IAM Dor torácica sugestiva de IAM pelo tipo, localização, intensidade, duração (≥ a 30 min) e outros sinais/sintomas. Dor de não IAM Dor torácica que não preenche as características da dor de IAM. ANGINA ESTÁVEL Ocorre de forma crescente com o nível de esforço e diminui com o repouso. Tem duração aproximada de 2 a 15 minutos. Geralmente, associada a estenose estável crônica (≥ 70%.), e aliviada pela nitroglicerina. Robbins: A angina estável (típica) é a forma mais comum de angina; ela é causada por um desequilíbrio na perfusão coronariana (devido à aterosclerose coronariana estenosante crônica) em relação à demanda miocárdica, tal como aquela produzida por atividade física, excitação emocional Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III ou estresse psicológico. A angina pectoristípica é variavelmente descrita como uma sensação de pressão profunda mal localizada, de aperto, ou de queimação (como na indigestão), mas raramente é descrita como dor. Ela é geralmente aliviada pelo repouso (que diminui a demanda) ou pela administração de vasodilatadores, como nitroglicerina ou bloqueadores de canais de cálcio (que aumentam a perfusão). ANGINA DE PRINZMETAL A angina de Prinzmetal é devida a vasoespasmo, os sintomas não estão relacionados ao esforço e respondem prontamente a nitroglicerina e a bloqueador de canal de cálcio. Robbins: A angina variante de Prinzmetal é uma forma incomum de isquemia miocárdica episódica; ela é causada pelo espasmo arterial coronariano. Embora os indivíduos com essa forma de angina possam ter aterosclerose coronariana significativa, os ataques anginosos não estão relacionados com a atividade física, frequência cardíaca ou pressão arterial. A angina de Prinzmetal geralmente responde de modo imediato a vasodilatadores. Prinzmetal/ instável Angina isquêmica/estável Nível de atividade Geralmente muito ativo. Pode andar longas distâncias e não apresentará sintomas. Pode andar alguns quarteirões e sente dor/pressão no peito e precisa descansar ou tomar NTG (nitroglicerina). Quando ocorrem os sintomas Geralmente em repouso e se apresenta como um IM com uma dor no peito esmagadora. Mais comumente da meia noite às 3 da manhã. Ocorre com qualquer esforço, requer descanso ou NTG (nitroglicerina) para aliviar. Sempre que eles se esforçam. ECG e sem sintomas Ritmo sinusal normal. Ritmo sinusal normal. ECG e com sintomas ST elevado. ST diminuído. Achados de cateterismo Artérias coronárias limpas, podendo haver um espasmo da artéria. Bloqueio nas artérias coronárias. ANGINA INSTÁVEL A angina instável (em crescimento) é um padrão de dor que ocorre com quantidades sucessivamente menores de esforço ou mesmo em repouso. Ela é frequentemente prolongada (> 20 minutos) e é causada por ruptura da placa aterosclerótica, geralmente sem obstrução trombótica completa ao vaso. Aproximadamente metade dos pacientes realmente tem necrose miocárdica. E é também um prenúncio preocupante do IM iminente (“Princípio de Infarto” (sic)). Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III Robbins: A angina instável ou crescente refere-se a um padrão de angina ou desconforto torácico grave, com frequência crescente ou duração prolongada (menos de 20 min), que é descrita como dor evidente. Ela é precipitada por níveis progressivamente menores de atividade física ou ocorre mesmo em repouso. Na maioria dos pacientes, a angina instável é causada pela ruptura de uma placa aterosclerótica, com trombose parcial superposta e, possivelmente, embolização ou vasospasmo (ou ambos). Aproximadamente metade dos pacientes com angina instável apresenta evidência de necrose do miocárdio; em outros, o infarto agudo do miocárdio pode ser iminente. INFARTO DO MIOCÁRDIO Também conhecido como “ataque cardíaco” consiste na morte do músculo cardíaco resultante de isquemia grave prolongada. Quando a epidemiologia, cerca de 1,5 milhão de pessoas nos Estados Unidos sofrem IM anualmente. Cerca de 10% dos infartos do miocárdio ocorrem em pessoas com menos de 40 anos, e 45% ocorrem em pessoas com menos de 65 anos. Negros e brancos são igualmente afetados. Homens > Mulheres (proteção durante a vida reprodutora). PATOGÊNESE 1. OCLUSÃO ARTERIAL CORONARIANA Hemorragia intraplaca / Erosão da placa / Ruptura com trombose sobreposta. Vasoespasmo (fatores liberados por plaquetas). Embolização da circulação coronária (FA, Endocardite). Isquemia sem aterosclerose e trombose coronariana detectáveis. – Desordens de pequenos vasos intramurais coronarianos, (vasculites, anormalidades, doença falciforme, deposição de amiloide nas paredes vasculares e dissecção vascular). 2. RESPOSTA DO MIOCÁRDIO Isquemia grave → depleção de ATP e perda da função contrátil em 60 segundos → insuficiência miocárdica → Tumefação celular (reversível). A privação completa do fluxo sanguíneo por 20 a 30 minutos leva a lesão miocárdica irreversível. O comprometimento grave (mas não o bloqueio completo) do fluxo por períodos prolongados (2 a 4 horas) também causará danos irreversíveis. A necrose é geralmente completa dentro de 6 horas de isquemia severa. – Com extensa circulação colateral coronária, a necrose pode ocorrer em um curso mais prolongado (> 12 horas). Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III Robbins: A obstrução da artéria coronária diminui o fluxo sanguíneo para uma região do miocárdio, causando isquemia, rápida disfunção miocárdica e, por fim — com comprometimento vascular prolongado —, morte de miócitos. A localização precisa, tamanho e características morfológicas específicas dependem: Do local, intensidade e taxa de desenvolvimento das obstruções ateroscleróticas coronarianas devido a aterosclerose e trombose; Do tamanho do leito vascular irrigado pelos vasos obstruídos; Da duração da oclusão; Das necessidades metabólicas e de oxigênio do miocárdio em risco; Da quantidade de vasos sanguíneos colaterais; Da presença, local e intensidade de espasmo arterial coronariano; De outros fatores, tais como frequência cardíaca, ritmo cardíaco e oxigenação sanguínea. Frequência da coronária afetada e local da lesão: Descendente Anterior Esquerda (40% a 50%): a área de infarto envolve a parede anterior do ventrículo esquerdo, próximo ao ápice; a parte anterior do septo ventricular e o ápice de modo circular; Coronária Direita (30% a 40%): a área de infarto envolve a parede inferior/posterior do ventrículo esquerdo; a parte posterior do septo ventricular; e a parede livre inferior/posterior do ventrículo direito em alguns casos; Circunflexa Esquerda (15% a 20%): a área de infarto envolve a parede lateral do ventrículo esquerdo, com exceção do ápice. Padrões de infarto: Transmurais (a espessura total da parede ventricular é acometida): A maioria ocorre dentro da distribuição de uma única artéria coronária; São devidos a aterosclerose e alteração aguda de placa com trombose; Mostram elevações do segmento ST no ECG. Subendocárdicos: Limitam-se a 30% -50% da parede interna do ventrículo; Podem envolver mais território do que perfundido por uma única coronária; Não mostram elevação do segmento ST no ECG; Causados por lise de uma oclusão trombótica antes do infarto de espessura total. Microinfarto multifocal: Ocorre com microembolização de pequenos vasos, vasculite ou espasmo vascular (epinefrina endógena ou drogas como a cocaína); dependendo da extensão e localização do envolvimento vascular, os microinfartos apresentam alterações inespecíficas ou podem ser eletrocardiograficamente silenciosos. Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III Reperfusão: O restabelecimento do fluxo pode restaurar a viabilidade, mas deixa as células fracamente contráteis (miocárdio atordoado) por 1 a 2 dias; O miocárdio de reperfusão geralmente é hemorrágico devido à lesão vascular isquêmica; Miócitos irreversivelmente lesados que são reperfundidos também mostram necrose da banda de contração devido à sobrecarga de cálcio; Lesão de reperfusão pelo aumento do recrutamento de células inflamatórias e lesão microvascular. Miocárdio isquêmico reperfundido: Marcadores de lesão: 1. Início do infarto do miocárdio; 2. Membrana plasmática de miócitos necróticos torna-se perfurada; 3. Moléculas vazam para fora da célula e chegam à circulação; 4. Essas moléculas podem ser usadas como biomarcadores para o diagnóstico; COMPLICAÇÕES DO INFARTO DO MIOCÁRDIO Disfunção contrátil:Hipotensão sistêmica e edema pulmonar; A falha grave da bomba (“choque cardiogênico”) ocorre em 10% a 15% dos pacientes, tipicamente com perda de massa ventricular esquerda ≥40%. O choque cardiogênico tem uma taxa de mortalidade de 70%; Arritmias; Ruptura ventricular (1% a 2% dos infartos transmurais): Tipicamente nos primeiros 10 dias (mediana, 4 a 5 dias); A ruptura da parede livre causa tamponamento pericárdico; A ruptura do septo provoca um shunt da esquerda para a direita com sobrecarga de volume no lado direito; Infarto do músculo papilar: Regurgitação mitral (surgimento de sopro recente – insuficiência valvar); Pericardite fibrinosa (síndrome de Dressler) é comum 2 a 3 dias após um infarto do miocárdio; A trombose mural adjacente a uma área não contrátil pode causar embolização periférica; Alongamento de uma grande área de infarto transmural (expansão) pode ocasionar aneurisma ventricular; Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III Hipertrofia e dilatação (remodelação ventricular) do miocárdio adjacente: Inicialmente benéfico hemodinamicamente → podem se tornar substrato para aneurismas ou para áreas de isquemia secundária e arritmia. TRATAMENTO Segundo a III diretriz sobre tratamento do IAM da SBC, na fase pré-hospitalar o IAM deve ser tratado com administração de oxigênio (3 l/min a 100%, por meio de cateter nasal), tratamento da dor (sulfato de morfina endovenosa de preferência, mas no caso de hipersensibilidade ou indisponibilidade utilizar sulfato de meperidina), nitratos, ácido acetilsalicílico (aspirina), betabloqueadores e heparinas. OBS.: TRATAMENTO DE DOENÇA ISQUÊMICA DO MIOCÁRDIO: MedCurso: Mudanças no estilo de vida, antiagregantes plaquetários, anticoagulante oral – cumarínico, drogas antilipêmicas – as estatinas, e drogas antianginosas (nitratos, betabloqueadores, antagonistas do cálcio, IECA e BRA, entre outros, como a ivabradina, alopurinol e trimetazidina). TODOS os portadores de Doença Arterial Coronariana (DAC) estável devem receber tratamento clínico otimizado, lançando mão das medidas anteriormente estudadas (no mínimo, mudanças no estilo de vida + AAS + estatina, na ausência de contraindicações). Alguns, no entanto, necessitam também de uma abordagem intervencionista, isto é, procedimentos de revascularização! O termo “revascularização miocárdica” se refere aos procedimentos que restabelecem o aporte sanguíneo ao miocárdio sob risco, o que, no caso da DAC estável, tem a função de eliminar a isquemia esforço-induzida. As indicações GERAIS de revascularização miocárdica na DAC estável são apenas duas: 1. Angina estável refratária ao tratamento clínico otimizado, ou intolerância a este. 2. Situações de ALTO RISCO onde a literatura mostrou ganho de sobrevida com a revascularização, mesmo na ausência de sintomas. PROGNÓSTICO Quase todos os IMs transmurais que afetam o ventrículo esquerdo; 15% também envolvem o direito, particularmente em infartos do ventrículo esquerdo postero-inferior; O infarto do ventrículo direito isolado ocorre em 1% a 3% dos casos; Metade dos óbitos associados ao IM ocorre na primeira hora, a maioria antes de chegar ao hospital; A mortalidade geral é de 30% no primeiro ano após um infarto do miocárdio, com 3% a 4% de mortalidade por ano a partir de então; O prognóstico a longo prazo depende, sobretudo, da função ventricular esquerda residual e da extensão de quaisquer obstruções vasculares nos vasos que perfundem o miocárdio viável restante. Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III PROGRESSÃO DA CARDIOPATIA ISQUÊMICA Adicional: LIVRO FISIOPATOLOGIA DA DOENÇA: O fluxo sanguíneo coronariano leva oxigênio aos miócitos e remove produtos do catabolismo, como dióxido de carbono, ácido láctico e íons hidrogênio. O coração tem uma demanda metabólica tremendamente alta; embora represente apenas 0,3% do peso corporal, ele é responsável por 7% do consumo de oxigênio em repouso. Isquemia celular ocorre quando há uma demanda aumentada por oxigênio em relação ao suprimento arterial máximo, ou uma redução absoluta do suprimento de oxigênio. Embora situações de demanda aumentada, como tireotoxicose e estenose aórtica, possam causar isquemia do miocárdio, a maioria dos casos clínicos deve-se a suprimento de oxigênio diminuído. A redução do suprimento de oxigênio pode raramente se originar de diminuição do conteúdo de oxigênio do sangue - como acontece na intoxicação por monóxido de carbono ou na anemia -, mas, mais comumente, é causada por anormalidades de artérias coronárias, particularmente doença aterosclerótica. Isquemia miocárdica pode surgir por uma combinação de demanda aumentada e suprimento diminuído; o abuso de cocaína aumenta a demanda de oxigênio (por inibição da recaptação de noradrenalina nos terminais nervosos Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III adrenérgicos no coração) e pode reduzir o suprimento de oxigênio por causar vasospasmo. Aterosclerose de artérias coronárias grandes continua sendo a causa predominante de angina e infarto do miocárdio. Placas gordurosas elevadas, que aparecem como manchas ou estrias amarelas nas paredes de vasos, são visualizadas em quase todos os membros de qualquer população por volta dos 20 anos de idade. Elas são encontradas principalmente em áreas expostas a forças de cisalhamento aumentadas, como pontos de curvatura e bifurcações, e provavelmente surgem da migração isolada de células espumosas derivadas de macrófagos para áreas de lesão mínima crônica da íntima. Em muitas pessoas, esse processo progride, com migração adicional de células espumosas, proliferação de células musculares lisas e depósito extracelular de gordura e colágeno. A extensão e incidência dessas lesões avançadas variam entre pessoas de diferentes regiões geográficas e grupos étnicos. Os processos fisiopatológicos subjacentes diferem para cada apresentação clínica de doença arterial coronariana. Em pacientes com angina estável, o estreitamento fixo de uma ou várias artérias coronárias geralmente está presente. Como as grandes artérias coronárias muitas vezes funcionam como condutos e não oferecem resistência ao fluxo, o lúmen arterial deve estar diminuído em 90% para produzir isquemia celular, quando o paciente está em repouso. Entretanto, com o exercício, uma redução de 50% no tamanho do lúmen pode levar a sintomas. Em pacientes com angina instável, fissuras da placa aterosclerótica podem levar a acúmulo de plaquetas e episódios transitórios de oclusão trombótica, geralmente durando de 10 a 20 minutos. Além disso, a liberação de fatores plaquetários vasoconstritores, como tromboxano A 2 ou serotonina, e a disfunção endotelial podem causar vasoconstrição e contribuir para a diminuição do fluxo. No infarto do miocárdio, a lesão arterial profunda por ruptura de placa pode causar a formação de um trombo relativamente fixo e persistente. Pesquisas recentes têm enfatizado que a composição da placa mediada por inflamação exerce um papel importante na apresentação clínica. Perda da matriz extracelular e necrose celular devidas à resposta inflamatória parecem ser os principais mediadores para ruptura da placa. O coração recebe sua energia principalmente de ATP gerado por fosforilação oxidante de ácidos graxos livres, embora glicose e outros carboidratos possam ser utilizados. Dentro de 60 segundos após oclusão de artéria coronária, a tensão de oxigênio nas células miocárdicas afetadas cai essencialmente para zero. Os estoques cardíacos de fosfatos de alta energia são exauridos rapidamente, e as células mudam prontamente para metabolismo anaeróbio, com a consequente produção de ácido láctico. Disfunção do relaxamentoe contração do miocárdio ocorre dentro de segundos, mesmo antes que aconteça a depleção de fosfatos de alta energia. A base bioquímica para esta anormalidade não é conhecida. Se a perfusão não for restabelecida dentro de 40 a 60 minutos, inicia-se um estágio irreversível de dano, caracterizado por tumefação difusa de mitocôndrias, lesão da membrana celular e depleção acentuada de glicogênio. O mecanismo exato pelo qual dano irreversível ocorre não está claro, mas depleção intensa de ATP, concentrações extracelulares de cálcio aumentadas, acidose láctica e radicais livres têm sido postulados como possíveis causas. Em preparações experimentais, se o miocárdio for perfundido dentro de 5 minutos, a função sistólica retorna prontamente, ao passo que anormalidades diastólicas podem levar até 40 minutos para normalizar. Com períodos prolongados de isquemia - até 1 hora-, pode levar 1 mês para a restauração da função ventricular. Quando o coração demonstra este período prolongado de função diminuída apesar de perfusão normal, diz-se que o miocárdio está "atordoado". A base bioquímica para o atordoamento é mal compreendida. Se o restabelecimento da perfusão ocorrer posteriormente ou não ocorrer, a função sistólica frequentemente não retornará na área afetada. Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III QUESTÕES DE REVISÃO: 01. Quais são as principais manifestações clínicas e complicações da CI? 02. Quais são as causas mais comuns de doença arterial coronariana/cardiopatia isquêmica? 03. Como diferem as fisiopatologias de angina estável, angina instável e infarto do miocárdio? CASO CLÍNICO Um homem de 55 anos vai ao médico com queixas de dor torácica. Ele declara que nos últimos cinco meses tem notado opressão subesternal intermitente, se irradiando para o braço esquerdo. A dor ocorre principalmente quando se exercita vigorosamente, e é aliviada pelo repouso. Ele nega associação com dispneia, náusea, vômito ou diaforese. Ele tem uma história médica significativa para hipertensão e hiperlipidemia; está tomando atenolol para sua pressão arterial alta e está ingerindo uma dieta baixa em colesterol. Sua história familiar é notável pelo pai que morreu de infarto do miocárdio aos 56 anos. Ele relatou que fuma 50 maços de cigarro por ano e atualmente está tentando parar de fumar. Seu exame físico está dentro de limites normais, com exceção da pressão arterial que é de 145/95 mmHg, com uma frequência cardíaca de 75 bpm. A. Qual é o diagnóstico provável? Como você classificaria seu diagnóstico clinicamente? B. Quais são as causas mais comuns desta doença? Qual é a mais provável neste paciente? C. Quais são os fatores de risco deste paciente para doença arterial coronariana? D. Qual é o mecanismo hipotético pelo qual se formam as placas ateroscleróticas? E. Qual é o mecanismo patogênico pelo qual a formação de placas resulta nos sintomas mencionados? RESPOSTAS: A. O diagnóstico mais provável neste paciente é doença arterial coronariana, especificamente angina de peito. Como os sintomas ocorrem somente ao exercício e têm sido estáveis por vários meses, este paciente teria angina estável. Ele teria angina instável se a dor ocorresse em repouso, com atividade cada vez menor, com mais frequência ou com uma duração mais longa, apesar de níveis de atividade semelhantes. B. A causa mais comum de doença arterial coronariana é aterosclerose das grandes artérias epicárdicas, e esta é a causa mais provável neste paciente. Uma causa menos comum é vasospasmo de artéria coronária, encontrado mais comumente em indivíduos japoneses. De maneira frequente, a angina por vasospasmo não ocorre devido a exercício. Causas raras incluem êmbolos e anomalias congênitas. Gabriela Bordignon – T5 PATOLOGIA, BBPM III C. Este paciente tem vários fatores de risco cardíaco, inclusive gênero masculino, história familiar de doença arterial coronariana, hiperlipidemia, tabagismo e hipertensão. D. O mecanismo pelo qual placas ateroscleróticas se formam permanece desconhecido e é assunto de muito debate. Parece que a aterosclerose começa cedo na vida, quando os revestimentos endoteliais dos vasos sanguíneos são expostos a estresse de cisalhamento. A lesão que resulta indica que as células endoteliais liberem moléculas de adesão a células vasculares às quais os monócitos se prendem e entram no subendotélio, onde eles englobam lipoproteína de baixa densidade (LDL) oxidada, formando células espumosas. O endotélio danificado, em combinação com as células espumosas, forma a estria de gordura característica da aterosclerose. A LDL oxidada causa a liberação de citocinas e inibição de NO. A musculatura lisa vascular move-se da média para a íntima, onde prolifera, depositando colágeno e matriz e captando LDL oxidada para formar mais células espumosas. Células T também se acumulam na placa em crescimento. Células T, células musculares lisas e células endoteliais produzem várias citocinas e fatores de crescimento responsáveis por migração e proliferação celular adicional. Finalmente, a parede arterial espessada e distorcida capta cálcio, criando uma placa friável. E. A dor torácica deve-se à isquemia miocárdica, que acontece quando a demanda cardíaca por oxigênio excede o suprimento. No caso da angina estável, ocorre estreitamento fixo de uma ou mais artérias coronárias por placas ateroscleróticas. Quando o paciente se exercita, a demanda cardíaca por oxigênio aumenta. Contudo, devido ao diâmetro diminuído das artérias coronárias, fluxo de sangue insuficiente e, portanto, oxigênio insuficiente, é fornecido ao coração. A dor torácica tem sido atribuída a essa isquemia; entretanto, tem sido demonstrado que até 80% de todos os episódios isquêmicos são assintomáticos. Quando presente, acredita-se que a dor torácica seja desencadeada por liberação de adenosina, causando estimulação das fibras aferentes simpáticas que inervam o átrio e o ventrículo. Essas fibras então atravessam os gânglios simpáticos e cinco raízes dorsais torácicas superiores da medula espinal; elas convergem com fibras de outras estruturas na medula espinal, o que é responsável pela sensação frequente de dor na parede torácica, nas costas e no braço.
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