abstração libera o visualizador das exigências de representar a solução final e consumada, permitindo assim que aflorem à superfície as forças estruturais e subjacentes dos problemas compositivos, que apareçam os elementos visuais puros e que as técnicas sejam aplicadas através da experimentação direta. E um processo dinâmico, cheio de começos e falsos começos, mas livre e fácil por natureza. Não é de es- tranhar que muitos artistas se interessem pela pureza desse nível. Como já se observou anteriormente, o artista e o visualizador podem ter se sentido liberados para assumir uma abordagem mais livre da expressão visual, graças ã competência mecânica natural da câmera para a reprodução de uma manifestação visual consumada e definitiva. Por que competir com ela? Sempre houve artistas com formação, talento e interesse suficientes para dar continuidade à tradição do realismo, de Salvador Dali e suas obras hiper-realistas, mas subjetivamente interpretadas como surrealistas, à sutileza das pinturas representacionais de Andrew Wyeth. Com toda certeza, os artistas desse tipo nunca deixarão de existir. O interesse em encontrar soluções visuais através da livre experimentação constitui, contudo, um dever imprescindível de qualquer ar-lista ou designer que parta da folha em branco com o objetivo de chegar à composição e à finalização de um projeto visual. O mesmo não se pode dizer do fotógrafo, do cineasta ou do câmera. Em todos esses casos, o trabalho visual básico é dominado pela informação realista detalhada, ficando inibida portanto, em todo aquele que pensa em termos de filme, a investigação de um pré-projeto visual. No cinema e na televisão há um componente lingüístico inerente ao processo de planejamento, mas, é triste constatar, as palavras costumam ser muito mais usadas na pré-visualização de um filme do que os componentes visuais. Uma consciência mais aprofundada do nível abstrato das mensagens visuais de parte de todos aqueles que usam a câmera, pode abrir novos caminhos para a expressão visual de suas idéias. O último nível de informação visual, o simbólico, já foi objeto de extensos comentários aqui. O símbolo pode ser qualquer coisa, de uma imagem simplificada a um sistema extremamente complexo de significados atribuídos, a exemplo da linguagem ou dos números. Em todas as suas formulações, pode reforçar, de muitas maneiras, a mensagem e o significado na comunicação visual. Em termos de impressão, é um componente importante e subsiancial dos atributos lotais de um livro, de uma revista ou de um pôster, e deve ser trabalhado na criação de um projeto em forma de dados visuais abstratos, a despeito do fato de constituir informação, com forma e integridade próprias. Para o designer, trata-se de uma força interativa que ele deve abordar em termos de significado e aspecto visual. O processo de criação de uma mensagem visual pode ser descrito como uma série de passos que vão de alguns esboços iniciais em busca de uma solução até uma escolha e decisão definitivas, passando por versões cada vez mais sofisticadas. Há algo a ser acrescentado aqui: o termo definitivo descreve qualquer ponto que seja determinado pelo visualizador. A chave da percepção encontra-se no fato de que todo o processo criativo parece inverter-se para o receptor das mensagens visuais. Inicialmente, ele vê os fatos visuais, sejam eles informações extraídas do meio ambiente, que podem ser reconhecidas, ou símbolos passíveis de definição. No segundo nível de percepção, o sujeito vê o conteúdo compositivo, os elementos básicos e as técnicas. E um processo inconsciente, mas é através dele que se dá a experiência cumulativa de inpui informativo. Se as intenções compositivas originais do criador da mensagem visual forem bem-sucedidas, ou seja, se para elas foi encontrada uma boa solução, o resuliado será coerente e claro, um todo que funciona. Se as soluções forem extremamente acertadas, a relação entre forma e conteúdo poderá ser descrita como elegante. Quando as soluções estratégicas não são boas, o efeito visual final será ambíguo. Os juízos estéticos que se valem de termos como "beleza" não precisam estar presentes nesse nível de interpretação, mas devem ficar restritos ao âmbito dos pontos de vista mais subjetivos. A interação enire propósito e composição, e entre estrutura sintática e substância visual, deve ser mutuamente reforçada para que se atinja uma maior eficácia em termos visuais. Constíluem, em conjunto, a força mais importante de toda comunicação visual, a anatomia da mensagem visual. Exercícios 1. Fotografe ou encontre um exemplo de cada um dos três níveis do material visual: representacional, abstrato e simbólico. 2. Tire uma foto desfocada e outra com foco e estude a versão desfocada em termos da sensação compositiva que transmite. Avalie o modo como sente que a mensagem abstrata se relaciona com a manifestação representacional. Seria possível melhorá-la alterando-se o ponto de vista a partir do qual a foto foi tirada? Faça um croqui para ver como poderia modificá-la alterando a posição da câmera. 3. Encontre um símbolo que você seja capaz de desenhar, e compare a facilidade com que pode reproduzi-lo com as letras do alfabeto ou os números. 4. Divida uma foto em faixas da mesma largura, tanto horizontais quanto verticais, e reordene-as em função de um determinado plano. Qualquer reordenaçâo romperá a ordem representacional e revelará a estrutura compositiva abstrata.