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The Jess Files 1 LÍQUIDO ASCÍTICO O acúmulo de fluido na cavidade peritoneal é chamado de efusão peritoneal ou ascite. Segundo a Associação Americana para o Estudo de Doenças Hepáticas (AASLD), a paracentese abdominal em conjunto com a análise do líquido ascite é o método mais rápido e barato de diagnóstico da causa de ascites. Formação do líquido peritoneal/ascítico Esse líquido é um ultrafiltrado do plasma que separa as duas camadas do peritônio. A ascite só se torna aparente quando há mais de 500 mL de fluido acumulado. Técnicas radiológicas como ultra-sonografia retal e transnational são mais sensíveis, conseguindo detectar volumes de até menos que 50 mL de líquido ascítico. Existem dois fatores importantes na formação de ascites: a pressão osmótica coloidal (ou pressão oncótica) do plasma e a pressão venosa portal. A troca de fluidos entre o sangue e os fluido intersticial é controlada por um equilíbrio entre esses dois fatores. A formação do fluido aumenta quando: - o gradiente de pressão hidrostática é elevado - aumento da pressão venosa portal; - diminuição da pressão osmótica coloidal/oncótica; - aumento da permeabilidade dos capilares peritoneais. Ou, a remoção de fluido pode estar diminuída. Causas de ascite Em 80% dos casos a causa é a cirrose. Aproximadamente 50% dos pacientes com cirrose desenvolvem ascite dentro de 10 anos, e metade destes vão a óbito em um espaço de 2 anos. Outras causas de ascite são: malignidades (10%), insuficiência cardíaca (5%) e algumas populações desenvolvem ascite decorrente de tuberculose. No caso de malignidades, 82% se dá devido a adenocarcinomas (de ovário, mama, estômago, colorretal, endométrio, pancreático e pulmonar). 15% dessas malignidades não possuem origem epitelial, sendo neoplasias linforreticulares, melanoma, sarcoma e mesotelioma. Transudato x Exsudato Assim como o líquido pleural, a classificação do líquido ascítico é baseada na dosagem de proteínas totais. O valor de corte geralmente é de 25 a 30g/L, portanto, se o líquido tiver uma concentração de proteínas maior que essa, é considerado um exsudato. Esse valor, no entanto, não é uma regra geral. Metástases hepáticas que têm como causa hipertensão portal, que se dá por um processo de transudato, algumas vezes possuem concentrações menores de proteína. Em algumas infecções o oposto pode ser observado. The Jess Files 2 Por essas divergências, algumas organizações propõem que essa classificação para líquidos ascíticos não seja realizada. Coleta de líquido ascítico A paracentese abdominal é considerada um procedimento seguro, que pode ser realizado à beira do leito. A punção abdominal deve ser feita na junção do terço médio com o terço inferior abdominal, sendo o lado esquerdo o mais seguro. Análise do Líquido Ascítico APARÊNCIA GERAL • Cor amarelo citrino: cirrose hepática em complicações. • Turvo: infecções - peritonite bacteriana espontânea ou secundária. • Leitoso/Quiloso: neoplasia ou trauma do dueto pancreático. • Sanguinolento: punção traumática (geralmente apresenta coágulo na amostra), neoplasia maligna, ascite cirrótica sanguinolenta, tuberculose (raro), punção acidental do baço (em esplenomegalia volumosa) ou trauma abdominal recente. • Cor escura/marrom sem sangue: síndrome ictérica, punção da vesícula biliar, úlcera duodenal. pH Os valores de referência estão entre 7,32 e 7,38. Valores baixos podem estar relacionados com peritonite bacteriana secundária, ascite maligna, peritonite por tuberculose e ascites pancreáticas. CITOLOGIA Contagem de polimorfonucleados (PMN) > 250/mm3 = ascite neutrocítica = peritonite bacteriana espontânea. Nesse caso, tratamento com antibióticos já é iniciado antes mesmo do resultado da cultura do líquido. A citologia para carcinoma peritoneal é muito sensível e precisa, as células neoplásicas geralmente vão ser carreadas da parede peritoneal para o líquido. No entanto, menos de 10% de pacientes com carcinoma hepatocelular e metástase hepática vão possuir uma citologia positiva para células neoplásicas. Neutrofilia em líquido ascítico, decorrente de peritonite bacteriana. The Jess Files 3 CULTURA O ideal é que o líquido seja inoculado no meio de cultura (garrafa de hemocultura) no momento da coleta do líquido. A espera para inoculação quando a amostra chega ao laboratório pode diminuir o número de bactérias viáveis, diminuindo a sensibilidade da cultura. Testes para screening de tuberculose não são recomendados, já que a sensibilidade para micobactérias na extensão é muito baixa, e a sensibilidade na cultura é de somente 50%. BIOQUÍMICA Gradiente de albumina sérica e albumina do líquido ascítico (GASA) Diferença entre albumina do soro e albumina do líquido ascítico. Devem ser colhidos simultaneamente. Difere entre ascite relacionada ou não à hipertensão portal e possui uma precisão de 97%. GASA > 1,1 Hipertensão portal (HP) - HP sinusoidal: cirrose hepática, albumina baixa. - HP pós-sinusoidal: insuficiência cardíaca, albumina normal (>3,0). - Síndrome nefrótica, hipotireoidismo. GASA < 1,1 Doença peritoneal - Carcinomatose. - Tuberculose. Proteína total (PT) Como já discutido, o uso desse parâmetro para distinguir entre transudato e exsudato no líquido ascítico pode ser falho. Segundo Gupta et al. uma concentração de proteína total <25 g/L possui uma especificidade diagnóstica e valor preditivo positivo de 100% para cirrose, mas a sensibilidade era de 76%, dando uma precisão diagnóstica de 88% (menor que a GASA). A maior parte da variação de PT no líquido ascítco de pacientes com doença hepática crônica se dá pelas diferenças nas concentrações de proteína no soro e na pressão portal, e por ser relativamente independente da permeabilidade peritoneal. Assim, um processo transudativo gera uma concentração ascítica de proteína alta, se a pressão oncótica do sangue (determinada pela albumina) for preservada. O inverso também é verdade e baixas concentrações de proteína podem ser observadas em ascites por exsudato se a albumina sérica estiver baixa. Lactato desidrogenase (LDH) Uma concentração aumentada de LDH indica que a causa da ascite provavelmente não é doença hepática e pode apontar para uma malignidade ou infeccções. No entanto, baixas concentrações de LDH não excluem malignidades. Peritonite bacteriana secundária por ruptura de vísceras ou abscesso loculado - LDH > 225 mU/L - Glicose < 50 mg/dL - Proteína total > 1g/dL - Presença de múltiplos organismos na coloração de gram. The Jess Files 4 Amilase Amilase alta é geralmente encontrada em pancreatite crônica junto com aumento de proteínas totais. O aumento da amilase também pode ser observado em perfuração intestinal, ruptura de um pseudocientífico ou de um duto pancreático, isquemia e trombose mesentérica, portanto, não é totalmente específica. Bilirrubina alta: perfuração biliar ou intestinal. Colesterol Importante para distinguir entre líquido turvo (devido a alta concentração de leucócitos) ou leitoso/quiloso. A sensibilidade dessa dosagem é baixa, porém alta concentração de colesterol está presente em 80% das neoplasias e malignidades em ascites. Isso ocorre pelo aumento da permeabilidade vascular e pelo aumento da síntese e liberação de colesterol por células neoplásicas. Na suspeita de carcinomatose peritoneal, o líquido deve ser enviado para a anatomia patológica para realização de citologia oncótica. Deve ser encaminhado em um frasco com metade álcool e metade líquido ascítico. REFERÊNCIAS Tarn, A.C; Lapworth, R. Biochemical analysis of ascetic (peritoneal) fluid: what should we measure? Ann. Clin. Biochem, 2010. 47: 397-407. Management of Adult Patients With Ascites Due to Cirrhosis - AASLD Practice Guideline - Hepatology, 2013.
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