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Por Bruno Carrasco, professor de filosofia e psicologia. www.ex-isto.com | 2020 http://www.ex-isto.com Esta aula tem como intuito apresentar os embasamentos filosóficos e metodológicos da psicoterapia fenomenológico existencial: a filosofia existencialista e o método fenomenológico, destacando sua particularidade na maneira de encarar a existência humana e no modo de proceder ao processo psicoterapêutico. Existencialismo é uma filosofia contemporânea que entende a existência humana em sua manifestação concreta, singular e afetiva, livre para fazer escolhas e responsável por elas, sempre aberto a novas escolhas e possibilidades. O existencialismo busca entender a condição humana enquanto algo não definido, em constante transformação, que se constitui de maneira singular, em seu existir concreto, no mundo e em relação com os outros. A fenomenologia é uma atitude para acessar as singularidades, do modo como se apresentam, que pretende se aproximar da existência em seus distintos modos de ser e se expressar. A fenomenologia propõe uma abertura para o entendimento da existência em seus modos próprios de se manifestar, buscando compreender os traços mais singulares de cada indivíduo, evitando pressuposições, interpretações ou teorizações. As psicoterapias fenomenológico existenciais dispõem uma maneira específica de olhar para a existência humana, entendendo esta como um processo e não enquanto algo fixo, sempre aberta às transformações, constantemente afetada pela relação que estabelece com as outras pessoas, lugares e objetos, aberta a novos entendimentos de mundo e sobre si mesma. Existencialismo Existencialismo O termo “existencialismo” é resultado da soma da palavra ‘existência’ com o sufixo ‘ismo’. Segundo Penha (2014), a palavra ‘existência’ é uma derivação do verbo existir, que se origina do latim existere, cujo significado corresponde a “sair de uma casa, um domínio, um esconderijo. Mas precisamente: existência, na origem, é sinônimo de mostrar-se, exibir-se, movimento para fora.” Existencialismo O existencialismo enquanto vertente filosófica possui influências de Sören Kierkegaard, Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger, e outros que contrariam os cânones da tradição da filosofia ocidental. Foi por meio de Jean-Paul Sartre que o existencialismo tomou corpo enquanto filosofia, ele assumiu a designação e passou a destacar como uma filosofia de engajamento e da ação, evidenciando a liberdade, a angústia e a responsabilidade. “A existência precede a essência” (Jean-Paul Sartre) No livro ‘O existencialismo é um humanismo’, Sartre comenta que “a existência precede a essência” (2014), argumentando que este é o primeiro princípio do existencialismo, complementando que “o homem nada é além do que ele se faz” (2014). Não há nenhuma definição prévia sobre o ser humano, com relação aos seus modos de ser, de se relacionar e de se colocar no mundo. Cada pessoa se constrói na prática da vida concreta, na relação com outras pessoas e por meio das escolhas que faz. Que significa, aqui, que a existência precede a essência? Significa que o homem existe primeiro, se encontra, surge no mundo, e se define em seguida. Se o homem, na concepção do existencialismo, não é definível, é porque ele não é, inicialmente, nada. Ele apenas será alguma coisa posteriormente, e será aquilo que ele se tornar. Assim, não há natureza humana, pois não há um Deus para concebê-la. (SARTRE, 2014, p.19) Existência X essência O conceito de “essência”, segundo a tradição filosófica, referia-se a algo previamente determinado, que caracteriza algo ou de um ser, antes mesmo de sua existência concreta, onde a existência seria resultante desta essência. A filosofia existencialista se contrapõe ao entendimento essencialista de ser humano, entendendo a existência como um processo indefinido, indeterminado e inacabado, num constante devir. Essência X existência Foulquié (1975) descreve o existencialismo partindo de sua diferença para com o essencialismo. Segundo ele, até o século XIX, a filosofia não questionava a primazia da essência sobre a existência, seja no mundo das ideias de Platão, nas categorias em Aristóteles, nas essências na escolástica, e até mesmo as ideias inatas em Descartes. Todas foram tendências que priorizavam à essência em detrimento da existência. Como indica a própria palavra, o existencialismo caracteriza-se sobretudo pela tendência de colocar o acento na existência. O existencialista desinteressa-se das essências, dos possíveis, das noções abstratas: situa-se nas antípodas do espírito matemático; seu interesse dirige-se ao que existe, ou melhor, à existência daquilo que existe. (FOULQUIÉ, 1975, 37p.) Existência e liberdade A existência é um privilégio do ser humano, que não é tido como algo pronto ou previamente determinado, como acreditavam os filósofos essencialistas, mas um constante tornar-se. Por conta disso, a existência humana implica na liberdade, pois para existir precisamos, necessariamente, fazer escolhas. É por meio das relações que estabelecemos com os outros e com nossas escolhas que constituímos nossos modos de existir. “Condenado a ser livre” (Jean-Paul Sartre) Todos somos livres para fazer escolhas e direcionar a nossa existência, de acordo com nossas condições e possibilidades. Porém, não temos nenhuma garantia sobre o caminho que escolhemos seguir, de modo que toda escolha é um risco, e isso nos gera a sensação constante de angústia. Por não termos uma essência que nos defina e que nos constitui, somos nós os responsáveis pelas escolhas que fazemos, e isso nos coloca responsáveis por nossa existência. Mas se realmente a existência precede a essência o homem é responsável pelo que é. Assim, a primeira decorrência do existencialismo é colocar todo homem em posse daquilo que ele é, e fazer repousar sobre ele a responsabilidade total por sua existência. (SARTRE, 2014, 20p,) “Condenado a ser livre” (Jean-Paul Sartre) Toda pessoa pode, em certo sentido, e de acordo com suas possibilidades e com condições externas, escolher o que faz de si mesma, a todo momento de sua existência. O que não é possível, segundo Sartre, é não escolher. É neste sentido onde ele diz que “o homem está condenado a ser livre” (Sartre, 2014), ou seja, a liberdade não é uma opção, mas uma condição. Enquanto condição implica em estarmos sempre escolhendo o que vamos fazer de nossa existência. Sentido da vida Como não há uma essência que determine nossa existência, não há também um sentido prévio para a vida. Essa constatação é angustiante e também libertadora. Nossas escolhas são acompanhadas pelo temor e a falta de tranquilidade, segundo Kierkegaard, pois apesar de todas as nossas avaliações racionais, nunca teremos certeza de que uma de nossas escolhas será como desejamos ou esperamos, ou que será melhor que a outra. Sem a orientação de regras universais de moralidade, da natureza humana ou de um Deus cognoscível, que emitiu certos mandamentos indiscutíveis (e várias teologias podem acordar com isso), devemos dotar o mundo de significado e somente nós podemos fazer isso. Devemos realizar este ato de fé: criar o significado em que buscamos viver. (REYNOLDS, 2014, 17p.) Temas existenciais Segundo Reynolds (2014), entre os temas fundamentais tratados pelos existencialistas, estão: a liberdade, a morte, a finitude, a experiência fenomenológica, a angústia, a náusea, o tédio, a autenticidade e a responsabilidade. Fenomenologia Fenomenologia O termo ‘fenomenologia’ foi utilizado por diversos autores, com intenções distintas. Etimologicamente significa o estudo ou a ciência dos fenômenos, sendo eles as experiências subjetivas. Seu estudo se iniciou entre o final do século XIX e início do século XX, com o matemático Edmund Husserl, tendo sido continuadopor filósofos como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, entre outros. Nova perspectiva de se fazer ciência A fenomenologia se apresenta como um método que parte de uma série de questionamentos e críticas sobre a ciência positivista e sobre a filosofia idealista, criticando o uso do método das ciências naturais nas ciências humanas. A fenomenologia é portanto um contraponto, uma nova perspectiva de se fazer ciência que surge entre o final do século XIX e início do século XX. Entre o discurso especulativo da Metafísica e o raciocínio das ciências positivas deve, pois, existir uma terceira via, aquela que antes de todo raciocínio, nos colocaria no mesmo plano da realidade ou, como diz Husserl, das “coisas mesmas”. (DARTIGUES, 2008, 18p.) Ciência da subjetividade A fenomenologia é uma ciência da subjetividade, que busca olhar para o fenômeno do modo como este se mostra por si mesmo, libertado de seus encobrimentos, de teorizações e interpretações sobre este. Trata-se de um método e uma atitude que busca descrever os fenômenos, do modo como são experimentados subjetivamente e singularmente. A fenomenologia tem por objeto as coisas que se manifestam ou se mostram, tais como se manifestam os fenômenos; neste sentido, as coisas constituem aquilo que é rigorosamente dado, aquilo que eu encontro e que é, para mim, originalmente presente. (...) É a filosofia do inacabamento, do devir, do movimento constante, onde o vivido aparece e é sempre ponto de partida para se chegar a algo. (LIMA, 2014, 12-13p.) Método fenomenológico O método fenomenológico consiste num esforço para ir de encontro com as experiências subjetivas sem estar permeado pelas especulações teóricas, mas também sem buscar explicações metafísicas. Deste modo, não parte da generalização teórica nem da abstração, mas busca reconhecer e valorizar as singularidades, olhando para a existência humana partindo da própria existência concreta e singular. Trata-se, na verdade, de um “retorno”, um caminho de volta, em que o “fim” nada mais é do que o começo: “de volta às coisas mesmas”, para citar a tão famosa expressão husserliana. A fenomenologia é, portanto, o caminho de volta às coisas mesmas, ao mundo da experiência vivida ou Lebenswelt (mundo-da-vida). (STRUCHINER, 2007, 242p.) Exemplo A constatação da fenomenologia pode ser exemplificada na relação que ocorre quando olhamos para um objeto qualquer como uma pintura. O que vemos não são as moléculas e ondas de luz que atingem a nossa retina, mas estabelecemos uma consciência intencional com este objeto, de modo que nos abrimos para uma percepção deste, o capturamos enquanto belo ou feio, interessante ou desinteressante, alegre ou triste. Intencionalidade Esta percepção é sempre intencional, pois resulta da relação entre a nossa consciência, do modo como esta se direciona para um objeto, e o objeto, do modo como este se apresenta a uma consciência. Porém, nunca captamos um objeto em sua totalidade, sempre observamos por um ponto de vista, de modo que há sempre muitos ângulos e variações que podem alterar a nossa percepção das coisas e do mundo. A consciência é sempre intencional, está constantemente voltada para um objeto, enquanto este é sempre objeto para uma consciência; há entre ambos uma correlação essencial, que só se dá na intuição originária da vivência. A intencionalidade é, essencialmente, o ato de atribuir um sentido; ela é que unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo. Com a intencionalidade há o reconhecimento de que o mundo não é pura exterioridade e o sujeito não é pura interioridade, mas a saída de si para um mundo que tem uma significação para ele. (FORGHIERI, 2019, 15p.) Experiência e aparição A experiência que tenho com algo é apenas uma aparição deste algo, e o interesse da fenomenologia não é exclusivamente sobre a consciência ou sobre o objeto, mas está justamente na correlação entre ambos, no que surge na experiência da relação entre consciência e objeto, deixando de lado qualquer intenção de formular hipóteses ou estabelecer inferências sobre o que é percebido, de modo a permitir que o que é percebido se mostre em seu modo de aparecer. (...) os filósofos tradicionais costumavam começar por teorias ou axiomas abstratos, mas os fenomenólogos alemães iam direto à vida como a viviam a cada momento. Deixavam de lado quase tudo o que vinha alimentando a filosofia desde Platão: enigmas sobre a realidade das coisas ou sobre a possibilidade de conhecermos com certeza alguma coisa sobre elas. Esses fenomenólogos alemães, em vez disso, ressaltavam que qualquer filósofo que faça tais perguntas já está inserido num mundo cheio de coisas — ou, pelo menos, cheio de aparências de coisas ou “fenômenos” (da palavra grega que significa “coisas que aparecem”). Então por que não se concentrar nesse encontro com os fenômenos e ignorar o resto? Não é necessário abandonar para sempre os velhos enigmas, mas eles podem ser postos entre parênteses, por assim dizer, para que os filósofos possam lidar com assuntos mais terrenos. (BAKEWELL, 2017, 10p.) Epoché Para proceder com o método fenomenológico, é preciso praticar a redução, ou a ‘epoché’, termo grego que significa abstenção ou suspensão do juízo, colocando todas as suposições, hipóteses ou imaginações entre parênteses. Isso não corresponde a eliminar as pressuposições, mas deixá-las de lado, para se abrir ao que se apresenta. Redução fenomenológica Fenômeno é tudo aquilo que se apresenta à consciência, seja um objeto, uma situação, uma imagem ou uma lembrança, seja esta real ou não. A redução consiste em focar nossa atenção não nos objetos, mas na experiência dos objetos. Trata-se do procedimento de descrever os fenômenos, tal como se apresentam à consciência, deixando de lado abstrações, ideias feitas, teorias e hábitos. O que é, então, uma xícara de café? Posso definir a bebida em termos da química e da botânica da planta, acrescentar resumidamente como os grãos são cultivados e exportados, como são moídos, como a água quente passa pelo pó e então esse líquido é vertido num recipiente de determinado formato, para ser apresentado a um integrante da espécie humana que o ingere oralmente. Posso analisar o efeito da cafeína no corpo ou abordar o comércio internacional do café. Posso encher uma enciclopédia com esses fatos e ainda assim estarei longe de dizer o que é esta xícara de café em particular, à minha frente. Por outro lado, se procedo ao inverso e invoco um leque de associações puramente pessoais e sentimentais. (...) essa xícara de café é um aroma rico, ao mesmo tempo agreste e perfumado; é o movimento indolente de uma voluta de vapor erguendo-se de sua superfície. Quando o levo à boca, é um líquido que se move placidamente e um peso dentro da xícara de bordas grossas em minha mão. É um calor que se aproxima, então um intenso sabor carregado em minha língua, começando com um impacto levemente austero e então se distendendo num calor reconfortante, que se espalha da xícara para meu corpo, trazendo a promessa de um estado duradouro de alerta e revigoramento. A promessa, as sensações antecipadas, o cheiro, a cor e o sabor fazem, todos eles, parte do café como fenômeno. Todos emergem ao serem experimentados. (BAKEWELL, 2017, 46p.) Fenomenologia A fenomenologia possibilita tratar-mos de qualquer objeto como experiência subjetiva, do modo como é sentida e captada por uma consciência, voltando-se, portanto, para as vivências de cada pessoa. Deste modo, pretende-se descrever as experiências tais como elas ocorrem, se ocupando justamente das aparências e das experiências e aparições das coisas, pessoas, lugares e situações. Análise intencional De acordo com Dartigues (2008), os fenômenos ocorrem para nós enquanto experiências que se dão a nóspor meio dos sentidos, de modo que as vivências sempre estão dotadas de sentido. E o sentido do fenômeno pode ser percebido por meio da análise intencional. O princípio da intencionalidade é que a consciência é sempre “consciência de alguma coisa”, que ela só é consciência estando dirigida a um objeto (sentido intentio). Por sua vez, o objeto só pode ser definido em sua relação à consciência, ele é sempre objeto-para-um-sujeito. (DARTIGUES, 2008, 22p.) Redução fenomenológica Por meio da redução, podemos retornar às “coisas mesmas”, ao estágio pré-reflexivo, às nossas percepções e afetos experimentados antes das elaborações e teorizações sobre eles. É justamente este estágio anterior e originário que interessa à fenomenologia, para que se possa restabelecer os sentidos da pessoa atendida, retomando a si mesma em meio a confusão de suposições racionais e idealistas. Análise intencional e “coisas mesmas” Essa análise intencional parte das “coisas mesmas”, ou seja, do modo como as coisas são percebidas, enquanto vivências originais para a pessoa que experimentou. Os objetos percebidos nunca são “objetos em si”, independente dos indivíduos que os captam, mas são sempre “objetos para uma consciência”, seja este um objeto-percebido, objeto-pensado, objeto-rememorado, objeto-imaginado, ou tantas outras possibilidades. Consciência, objeto e correlação A consciência e o objeto não são duas instâncias separadas, mas estão sempre em relação, e essa relação estabelece o que entendemos por “real”, que não deixa de ser uma possibilidade captada por meio da correlação entre consciência e objeto. A análise fenomenológica busca a compreensão dessa correlação, que se dá de modos distintos em cada sujeito e situação. Método fenomenológico O método fenomenológico consiste justamente em retornar a uma experiência anterior ao mundo teórico, anterior aos conceitos, indo em direção ao mundo e a si mesmo, enquanto experiência pré-reflexiva e originária da vivência da consciência, retomando a vivência momentânea, que se acostumou a ser descartada pelas tendências da objetividade, da conceituação e da interpretação. Psicoterapia Fenomenológico Existencial Psicoterapia Fenomenológico Existencial A psicoterapia fenomenológico existencial é uma abordagem de psicoterapia que utiliza como embasamento teórico o existencialismo e como método a fenomenologia. Seu objetivo é proporcionar uma maior conscientização da pessoa atendida sobre seus sentimentos, percepções e valores, estimulando sua autonomia psicológica. Foco na existência da pessoa Esta psicoterapia não tem como objetivo “curar” as “perturbações mentais”, como se propõe o modelo médico-científico, mas tem como intuito “facilitar o encontro do indivíduo com a autenticidade da sua existência, de forma assumi-la e projectá-la mais livremente no mundo” (Teixeira, 2006, 289p.), onde o foco principal é a existência da pessoa e não suas “perturbações”. Os sofrimentos emocionais apresentados pelas pessoas que procuram a psicoterapia são entendidos como resultantes de “dificuldades do indivíduo em fazer escolhas mais autênticas e significativas” (Teixeira, 2006). Por conta disso, a psicoterapia enfatiza a aproximação dos afetos da pessoa atendida, para que esta possa se apossar de sua existência e fazer escolhas mais significativas e coerentes com seus sentimentos. Sofrimentos emocionais Autonomia e possibilidade de escolhas A psicoterapia existencial promove o reconhecimento e a valorização da responsabilidade de cada indivíduo na construção de sua existência, favorecendo sua autonomia e a ampliação das possibilidades de escolhas. Trata-se de um processo de se perceber e se reconhecer, para um viver mais autêntico, lidando as dificuldades, assumindo seus modos de existir e responsabilizando-se por suas escolhas e abrindo-se a novas possibilidades. Em síntese, trata-se de facilitar ao indivíduo o desenvolvimento de maior autenticidade em relação a si próprio, uma maior abertura das suas perspectivas sobre si próprio e o mundo e, ainda, de ajudar a clarificar como é que poderá agir no futuro de uma forma mais significativa. O centro é a responsabilidade da liberdade de escolha do indivíduo. A palavra-chave é a construção, uma vez que se trata de desafiar o indivíduo a ser o construtor da sua existência. (TEIXEIRA, 2006, 294p.) Abertura, liberdade e autenticidade Entre as principais características no processo da psicoterapia estão a abertura para receber a pessoa tal como se mostra, a liberdade para se fazer escolhas e a valorização da autenticidade e da singularidade de cada indivíduo, que corresponde em receber a pessoa tal como esta se mostra, sem buscar explicações racionais, científicas ou metafísicas sobre o modo como ela se apresenta, mas se aproximando dela mesma, se aproximando do modo como esta percebe e sente sua existência. O psicoterapeuta fenomenológico existencial Para o psicoterapeuta, é necessário uma postura de abertura com relação ao outro, de modo a captar como este se apresenta, em seus afetos e desafetos, suas vivências, seus sentidos, enfim, se abrir para a totalidade de suas experiências subjetivas e a relação que a pessoa estabelece com sua história de vida. Deste modo é possível estimular a consciência de si, compreender seu papel nas decisões e escolhas de sua vida e promover uma maior autonomia e autenticidade. Estes pressupostos existencialistas tornam-se fundamentais na construção da postura do psicólogo e dos objetivos de um processo diagnóstico. Dentro dessa abordagem, o psicólogo não tenta explicar e enquadrar a pessoa examinada em categorizações e parâmetros arbitrariamente teorizados, pois ele acredita que a vivência dessa pessoa é sua própria explicação, sendo ela a melhor interprete de si mesma. (TENÓRIO, 2003, 41p.) Aproximação da pessoa atendida É por meio da aproximação da pessoa atendida, do modo como ela se sente e se mostra que o psicoterapeuta vai incentivar sua liberdade de ser e fazer escolhas autênticas, promovendo uma abertura a novas possibilidades. Segundo Tenório (2003), o enfoque fenomenológico existencial está embasado numa compreensão de ser humano enquanto livre e aberto às possibilidades, responsável por suas escolhas e capaz de se inventar e cuidar de sua existência. A pessoa, no processo diagnóstico, deve ser apreendida como sendo um fenômeno único e, como tal, respeitada em sua totalidade; não deve, portanto, ser avaliada segundo normas e padrões de comportamento preestabelecidos, numa total revelia a sua própria existência. Seu nível de crescimento ou de maturidade deve ser dimensionado por meio dos projetos de vida por ela própria idealizados e de acordo com seu próprio mundo e contexto existencial. (TENÓRIO, 2003, 41p.) Caracterização da psicoterapia A filosofia existencialista aliada à fenomenologia na psicoterapia possibilita um processo muito valioso para se reconhecer a singularidade e os afetos da pessoa atendida. Diferente dos modelos tradicionais, não busca resolver um “problema” ou interpretar os significados “ocultos”, mas permitir que a existência se manifeste do modo como a pessoa se sente e se percebe, demandando do psicoterapeuta uma postura de abertura e disposição. Dificuldades emocionais e relação inautêntica A psicoterapia fenomenológico existencial entende que grande parte das dificuldades emocionais se desenvolvem por conta de uma relação inautêntica consigo mesmo e com os outros. Sua prática possibilita o contato da pessoa atendida com sua própria existência de modo a proporcionar uma vivência mais autêntica, alinhada com seus afetos, livre para fazer escolhas e ir de encontro com (ou crie) o que faça sentido para si. Postura e preparo do psicoterapeuta Para tanto, o psicoterapeuta necessita deum grande preparo teórico e experiências práticas. É necessário um profundo embasamento para se dedicar a este modo de fazer psicoterapia, pois não é nada simples. Além de conhecer os pressupostos, é necessário também uma postura pessoal de abertura e disposição fundamental para a prática. Referências Bibliográficas BAKEWELL, Sarah. No café existencialista. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017. CERBONE, David. Fenomenologia. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia? 10ª ed. São Paulo: Centauro, 2008. FORGHIERI, Yolanda. Psicologia Fenomenológica. 1ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019. FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. 3ª ed. São Paulo: DIFEL, 1975. LIMA, Antônio Balbino, org. Ensaios sobre fenomenologia. Ilhéus, BA: Editus, 2014. PENHA, João da. O que é Existencialismo. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2014. Referências Bibliográficas PENNA, Antonio. Introdução à psicologia fenomenológica. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001. REYNOLDS, Jack. Existencialismo. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014. SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014. STRUCHINER, Cinthia. Fenomenologia: de volta ao mundo-da-vida. Rev. abordagem gestalt., Goiânia , v. 13, n. 2, 241-246, dez. 2007. TEIXEIRA, José. Introdução à psicoterapia existencial. Aná Psicológica Lisboa, v. 24, n. 3, 289-309, jul. 2006. TENÓRIO, Carlene. A psicopatologia e o diagnóstico numa abordagem fenomenológica-existencial. UniCEUB. Universitas Ciências da Saúde, Brasília, v. 1, n. 1, p. 31-44. 2003. Por Bruno Carrasco Professor de psicologia e filosofia, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, especializado em Psicoterapia Fenomenológico Existencial, pós-graduando em Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica. www.fb.com/brunodevir www.instagram.com/brunodevir http://www.fb.com/brunodevir http://www.instagram.com/brunodevir ex-isto Ex-isto é um projeto dedicado ao estudo e pesquisa sobre a existência, a subjetividade e seus possíveis desdobramentos, a partir da filosofia antiga e contemporânea, da psicologia, da história e das artes, iniciado no final de 2016. www.ex-isto.com www.fb.com/existocom www.youtube.com/existo www.instagram.com/existocom http://www.ex-isto.com http://www.fb.com/existocom http://www.youtube.com/existo http://www.instagram.com/existocom ex-isto www.ex-isto.com www.fb.com/existocom www.youtube.com/existo www.instagram.com/existocom 2020 http://www.ex-isto.com http://www.fb.com/existocom http://www.youtube.com/existo http://www.instagram.com/existocom
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