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Resumo: ROCHA, Everardo. Culpa e prazer: imagens do consumo na cultura de massa. O artigo de ROCHA (2005) se proponhe a analisar o consumo, enquanto fenômeno social, nas visões do senso comum e como uma cultura de massa tangenciada pelos campos do mercado – como a publicidade – e da academia – mais especificamente nas ciências sociais. O autor parte da visão de que o consumo está presente no cotidiano da sociedade contemporânea, como fato social capaz de organizar estruturas e práticas nas relações sociais. A motivação de sua análise vem de um desconforto com a falta de pesquisas sobre o tema nas Ciências Sociais, por isso proponhe esmiuçar os aspectos que estigmatizam e impedem uma reflexão sobre o consumo. Através do que foi mencionado, ele faz uma tipologia do significado de consumo se embasando nas dinâmicas deste fenômeno na sociedade moderna. O autor faz uma separação de quatro categorias do termo consumo entre o senso comum, a mídia e outros campos de conhecimento – considerando como uma marca ideológica. As mesmas foram nomeadas de hedonista, moralista, naturalista e utilitária, que podem explicar o fenômeno de forma conjunta, separadamente ou de maneira articulada entre algumas. A hedonista tem como forma o discurso de proporcionar felicidade através de produtos. Sendo a mais conhecida pela cultura de massa e mais disseminada pela publicidade na mídia, normalmente de maneira óbvia e saturada no sentido de intensidade. Pela sua popularidade e recorrência há uma fragilidade neste discurso, pois ele é facilmente identificado nesta procura de criar uma idealização na relação entre consumo e conquistas/sentimentos individuais. A evidência da forma ideológica hedonista, permite entender em contraponto a categoria moralista. A visão moralista é marcada pela culpabilização do consumo sobre os problemas sociais. Há uma tentativa de explicar a origem de conflitos sociais, comportamentos coletivo individualista e também de valores pessoais através do consumo. Esta é considerada uma visão aceita positivamente na sociedade, pois enaltece a produção em detrimento do consumo. O ato de trabalhar muito e ser produtivo é bem visto na sociedade contemporânea, todavia o consumo exacerbado, compulsivo não “consciente” é veemente condenado. Este tipo de julgamento moralista é recorrente em tribunais midiáticos e nas relações cotidianas, e também, se faz fortemente presente nas análises das ciências sociais – uma das razões que explica a falta de estudos sobre o consumo. Há uma tradição acadêmica que prioriza explicar a organização social através da produção, desmerecendo o consumo a partir de uma perspectiva evolucionista, exaltando a razão em detrimento da cultura. A marca ideológica naturalista explica o consumo de forma biológica adotando uma visão determinista que analisa suas facetas sociais com a mesma lógica de fenômenos naturais. O consumo é colocado de maneira intrínseca ao ser humano, sendo uma necessidade universal, fazendo paralelos, como por exemplo, a alimentação e o alimento em si – estabelecimentos e tipos de comidas. Consequentemente impõe um desejo necessário, excluindo a dimensão cultural de consumir determinadas coisas para além do ato de suprimir elementos de subsistência. A quarta e última abordagem é a utilitária que busca entender a relação do produto e seus consumidores com o objetivo mercadológico da venda. Está presente nas pesquisas de mercado que através do comportamento do consumidor possibilita o aumento do consumo de produtos, como também entender o perfil de seus consumidores. O autor destaca que essa visão utilitária, por mais que seja restrita ao objetivo de mercado, tem a possibilidade de enriquecer as pesquisas acadêmicas sobre consumo – principalmente devido à categorização de perfis sociais. Em suma, conclui-se que através de uma visão cultural sobre o consumo é demasiadamente complexo estruturar uma teoria sobre este fenômeno, mas se faz extremamente necessário para enriquecer o debate nas ciências sociais – visto o impacto coletivo em contraponto à falta de aprofundamento no tema. Ponderando os apontamentos feitos, Rocha destaca quatro caminhos para uma reflexão na produção de estudos pensados pela ótica cultural: I. Abandonar a perspectiva biológica para analisar as necessidades, sendo estas pensadas enquanto sistema simbólico; II. A possibilidade do consumo enquanto código entre os indivíduos – uma comunicação presente nas relações sociais; III. A partir deste código, obter um sistema de classificação social que pode ser sempre inclusivo – seja em produtos/serviços ou de grupos/relações sociais; IV. Refletir sobre as funções da cultura de massa – publicidade, marketing, mídia etc. – especialmente a função de transmitir esses códigos à sociedade.
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