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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA DE PATOLOGIA GERAL VETERINÁRIA DEGENERAÇÃO HEPATOCELULAR INDUZIDA POR GLICOCORTICOIDES 2o Período do Ensino Remoto Emergencial 2020 Maria Antônia Aguiar Eufrosino Reis de Carvalho GRR20194438 Professor Antônio Waldir da Cunha Silva e Professor Renato Silva de Souza Curitiba, Paraná. Novembro de 2020 1.Objetivo do Estudo: Discorrer sobre a Degeneração Hepatocelular induzida por Glicocorticóides e suas alterações Patológicas, com ênfase para Medicina Veterinária. 2.Glicocorticóides: 2.1. Conceito Glicocorticóides são uma classe de hormônios esteroidais análogos ao hormônio cortisol, o qual é envolvido na regulação do estresse, redução de inflamações, funcionamento do sistema imune, manutenção dos níveis constantes de açúcar no sangue e pressão arterial. Devido a estrutura química similar, os glicocorticóides possuem habilidades análogas ao Cortisol, com ênfase na mudança do metabolismo de carboidratos e diminuição da resposta inflamatória. 2.2. Aplicação Na rotina clínica da medicina humana, os glicocorticóides são amplamente utilizados no tratamento para Insuficiências Suprarrenais, Distúrbios Reumáticos, Distúrbios Renais, Doenças Alérgicas, Asma, Neoplasias Malignas, Transplantes de Órgãos e Maturação Pulmonar Fetal. Já, na Clínica Veterinária de Pequenos Animais, a principal aplicação é para casos de Insuficiência Adrenal de cães, a fim de se obter os efeitos antiinflamatórios e imunossupressores (Andrade, 2002). 2.3. Mecanismo Biológico Assim, como o Cortisol, os glicocorticóides agem sobre um receptor intranuclear responsável pela regulação da transcrição gênica, alterando a atividade de vários genes e suas respectivas proteínas. O principal afetado, são as porções de DNA responsáveis pela síntese das ciclooxigenases e colagenases, diminuindo assim, por meio de indução de apoptose, inibição de citocinas e da migração celular, as respostas inflamatórias (Torres et al, 2012). Devido a demora da transcrição gênica, os efeitos da administração de fármacos com glicocorticóides demora algumas horas. 1 3.Degeneração Hepatocelular: 3.1. Conceito Degeneração celular que acomete principalmente os Hepatócitos. 3.2. Mecanismo As lesões celulares podem ser reversíveis ou irreversíveis. Esse último grupo engloba os processos de necrose e morte celular. Já a primeira classe, envolve as degenerações pela acúmulo intracelular anormal de água (tumefação celular), lipídio (esteatose), proteínas (degeneração hialina) ou de glicogênio (degeneração glicogênica). A degeneração glicogênica tem importância clínica especialmente por uma de suas causas ser a administração prolongada de corticoides. Os corticóides, assim como o cortisol, estimulam por meio de alterações na transcrição gênica, a síntese de proteínas da gliconeogênese, principalmente a glicogênio sintetase, estimulando essa via. Assim há mais glicogênio armazenado no sendo armazenado no interior das células, que em períodos prolongados de quebra da homeostasia, levam a lesões importantes. Também, há alterações no metabolismo de lipídeos. Nesse caso, ocorre um estímulo da lipólise e consequentemente um novo estímulo a gliconeogênese. Assim, todo esse acúmulo de glicogênio, com ênfase pelos hepatócitos, sobrecarrega o fígado, gerando o funcionamento anormal desse órgão e, consequentemente alteração de toda homeostasia do paciente e presença de sinais clínicos. 3.3. Aparência Microscópica As análises citopatológicas e histopatológicas demonstram presença de vacuolização e granulação citoplasmática, o que aumenta a dimensão celular, principalmente dos hepatócitos. Além disso, é possível observar o deslocamento do núcleo nos casos de hepatopatia por esteróides. (Fig. 1) Figura 1: Esquema comparativo das alterações celulares pelo acúmulo interno de Glicogênio. Fonte: Ilustração feita por Maria Antônia Aguiar. 2 O Glicogênio Intracelular, para confirmação do diagnóstico e natureza dessa molécula, precisa ser diferenciado de outros mucopolissacarídeos e do acúmulo intracelular de outros compostos. Isso é possível por meio da técnica de coloração especial pelo Ácido Periódico de Schiff (PAS) e tratamento da lâmina com amilase porque o glicogênio é o único carboidrato evidenciado, em magenta, pelo PAS e não catabolizado pela amilase. (Fig. 2) Figura 2: Hepatócitos Humano em coloração PAS. Fonte: Atlas of Human Histology. 1 Os vacúolos intracelulares causados pelo acúmulo de glicogênio podem ser diferenciados de vacúolos causados por outros acúmulos, devido sua forma irregular e tamanho (Fig. 3). Figura 3: Hepatócitos Canino com Acúmulo de glicogênio em HE Fonte: Departamento de Anatomia Patológica Veterinária da Universidade de Lisboa. 3.4. Aparência Macroscópica Em decorrência, principalmente, da vacuolização dos hepatócitos, o Fígado fica aumentado (hepatomegalia) com bordas arredondadas, textura friável e coloração castanho claro ou bege (Fig. 4). 1Disponível em: http://histologyguide.com/slideview/MH-128-liver/01-slide-1.html?x=16233&y=24180&z=100.0&page=1 3 Figura 4: Esquema Comparativo da Aparência Macroscópica Hepática Normal e nos Casos de Hepatopatia por glicocorticóides Ilustração feita por Maria Antônia Aguiar A fim de monitoramento para pacientes que necessitam do uso contínuo de glicocorticóides, o uso do exame ultrassonográfico e histograma, permitem de forma não invasiva, a avaliação da ecotextura e ecogenicidade do órgão (Costa, 2011), o que pode ser percebido antes de alterações radiográficas ou laboratoriais (Mamprim, 2004). Isso é possível devido às alterações celulares dos hepatócitos, principalmente o acúmulo de glicogênio que alteram de maneira perceptível o nível de refração da onda de ultra som. 3.5. Diagnóstico Além dos exames básicos de hemograma para analisar a saúde geral do paciente, o estudo do prontuário, e uma anamnese meticulosa, é de extrema importância, já que a Degeneração Hepatocelular por Glicocorticóides é consequência uma administração prolongada dessa classe de compostos, normalmente recomendada pelo Médico Veterinário. Para a construção do diagnóstico definitivo, pode-se ainda solicitar a biópsia hepática, porém, uma vez que a retirada do medicamento ocorre, e o quadro do paciente melhora, o prognóstico é favorável. Assim, é preciso a reflexão se tal medida invasiva faz-se necessária. 4.Considerações Finais: Drogas como a Prednisona, mesmo em quantidades terapêuticas, causam alterações no parênquima hepático (Costa, 2018), o que confirma a necessidade da realização, pelo Médico Veterinário em conjunto dos Tutores, de um balanço entre os efeitos desejáveis e os prováveis efeitos colaterais de Fármacos com Glicocorticóides, principalmente durante longos períodos. Além disso, medidas de acompanhamento frequentes com ultrassom podem ser estabelecidas para o monitoramento dos danos ao Fígado, em pacientes que necessitam do tratamento constante com corticoides. 4 5.Referências QUEIROZ, L. Neupatimagem. Disponível em: <http://anatpat.unicamp.br/xnptmeningioma22a.html>SANAR. Glicocorticóides: Tudo o que você precisa saber. Disponível em: <https://www.sanarsaude.com/portal/carreiras/artigos-noticias/farmacia-glicocorticoides- artigo-tudo-que-voce-precisa-saber> TORRES, R. C. et al. Mecanismos celulares e moleculares da ação antiinflamatória dos glicocorticóides. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/18370> SPINOSA, H. D. E. S.; GÓRNIAK SILVANA LIMA.; BERNARDI, M. M . Farmacologia aplicada à medicina veterinária . Tradução . [s.l.] Guanabara Koogan, 2006. ZACHARY, J. F.; MCGAVIN, D.; MCGAVIN, M. D. Bases da Patologia em Veterinária . Tradução . [s.l.] Elsevier Editora Ltda., 2018. JUNQUEIRA, C. U.; JUNQUEIRA, L. M. M. S. Técnicas básicas de citologia e histologia. São Paulo: Santos, 1983. COSTA, S.F. et. al.; Avaliação dos efeitos da terapia com prednisona em cães utilizando análises ultrassonográfica, citopatológica e histopatológica. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-737X2011000500005 > SILA, V. L. et. al; Conceitos e Métodos para a Formação de Profissionais em Laboratórios de Saúde. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/publicacao/livro/conceitos-e-metodos-para-formacao-de-p rofissionais-em-laboratorios-de-saude-volum-0 > SORENSON, R.; BRELJE T. C. Atlas of Human Histology, A Guide to Microscopic Structure of Cells, Tissues and Organs, 2008. Hepatócito Canino com Sobrecarga de Glicogênio, Departamento de Anatomia Patológica, Universidade de Lisboa. Disponível em: <http://www.fmv.ulisboa.pt/atlas/figado/paginas_pt/figad_011.htm> 5 http://anatpat.unicamp.br/xnptmeningioma22a.html http://www.epsjv.fiocruz.br/publicacao/livro/conceitos-e-metodos-para-formacao-de-profissionais-em-laboratorios-de-saude-volum-0 http://www.epsjv.fiocruz.br/publicacao/livro/conceitos-e-metodos-para-formacao-de-profissionais-em-laboratorios-de-saude-volum-0
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