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HOBSBAWM, Eric J. O Fazer-se da classe operária 1. A classe nunca está pronta, ela sempre continua a mudar 2. Thompson acertou em marcar a emergência da classe trabalhadora no início do século XIX – a “linguagem de classe” já estava formulada 3. Critica Thompson quando ele fala que as classes trabalhadoras de antes do cartismo ou mesmo durante o movimento eram “a classe trabalhadora” que viria a se observar depois 4. É muito óbvia a descontinuidade dos movimentos operários pré e pós cartismo 5. O owenismo e o cartismo são os ancestrais da classe trabalhadora britânica mais recente, mas são fenômenos diferentes 6. A economia da era pré construção da rede ferroviária é completamente diferente da economia do final da era vitoriana – havia mais sapateiros que trabalhadores de minas de carvão, mais alfaiates que ferroviários 7. Entre 1851 e 1911 aumenta a concentração e o tamanho absoluto da classe operária, embora a porcentagem dos trabalhadores empregados em mineração, indústria e manufatura não tenha crescido – cidades maiores, fábricas maiores 8. Mudança da composição ocupacional da classe: houve um aumento enorme da população de ferroviários e mineiros – bem maior que o crescimento total da população masculina; grande diminuição do trabalho infantil e um pequeno aumento no trabalho feminino 9. Os “aristocratas do trabalho” passam a ter um largo monopólio dos empregos 10. O crescente papel do Estado transforma as condições do conflito industrial 11. Houve ampliação do direito de voto e da política de massa 12. Esses fatores mostram como o microcosmos do trabalho britânico se transformou em algo grande e nacional – criação de uma identidade a nível nacional dos trabalhadores 13. Isso tudo provocou mudanças na própria classe – o boné Andy Capp, que não era comum em 1880, mas que se torna onipresente já em 1914 14. “A classe operária ‘tradicional’, com seus padrões de vida e visões de mundo específicos, não chegou a emergir muito antes da década de 1880, e adquiriu suas feições no par de décadas seguintes” (pg. 280) 15. Foi também o período de surgimento da classe média 16. Década de 1880 – renascimento do socialismo na Grã-Bretanha (mas isso não é tão importante quanto os outros fatores já listados), transformação nas condições materiais e no norteamento social e institucional da classe trabalhadora (esses sim são importantes) 17. Das décadas de 1870 e 1880 começam a surgir (ou crescer em adesão pelos trabalhadores) as lanchonetes de peixe e fritas e o futebol 18. Os 3 aperfeiçoamentos materiais da vida do trabalhador após a década de 1870: queda do custo de vida durante a depressão de 1873-1896; “descoberta” do mercado de massa interno (trabalhadores); by-law housing: habitação regulamentada por lei 19. Institucionalização do sistema de compras a prazo (também nessa época) 20. Surgimento de transporte público de massa a baixo preço na dec 1880 21. Suburbanização da classe trabalhadora – cisão entre o espaço de viver e o espaço de trabalhar (mas nessa época só ocorreu em Londres) 22. Desenvolvimento das férias da classe trabalhadora na dec 1880 – os investimentos para o lazer da classe trabalhadora superaram (em muito) os para a classe média na dec 1890 23. A classe operária nesse período mantinha sua identidade regional (muito mais que a classe média), mas foi também o período de maior homogeneidade nacional até o momento – cultura do futebol (muito importante nessa época), moda fora do trabalho – modelo de uma “nação proletária” 24. Segregação residencial crescente: êxodo da classe média de áreas mistas com a trabalhadora e a criação de bairros e subúrbios para os proletários 25. O crescente uso da educação formal como critério qualitativo, diminuiu a possibilidade de ascensão mesmo dentro da própria classe 26. A fortuna dos ricos, marcada no início do XX pelo uso do automóvel, era um fator gerador de ressentimento 27. A classe operária era segregada de forma a surgir a diferença entre “o que os operários fazem” do que as outras classes fazem 28. “A soma disso tudo é uma percepção crescente de uma classe operária única, algutinada através de um destino comum sem levar em consideração suas diferenças internas” pg. 288 29. Os políticos estavam cientes dessa consciência de classe – aumento do uso do termo Trabalhismo no vocabulário político, para unir os trabalhadores dentro dos padrões estabelecidos da política, de onde eles ameaçavam escapar 30. “Onde o apelo para a religião e a nacionalidade era suficiente, como na Irlanda do Norte e na Liverpool de Salvidge, o conceito de classe não teve grande repercussão – ou obteve resultados significativos – na linguagem da política local” pg. 289 31. Os trabalhadores, independente de se liberais ou conservadores, podiam votar no Partido Trabalhista 32. A política trabalhista era a expressão das necessidades da classe trabalhadora, não como uma classe, mas como o principal elemento constitutivo da nação 33. Não identifica a consciência de classe dos vanguardistas (militantes, ativistas) com a da população em geral – eram diferentes 34. Apesar do enorme aumento da adesão sindical nesse período e do crescente apoio ao partido trabalhista, o pregresso da consciência de classe é praticamente impossível de ser mapeado – entretanto, ele está lá 35. Me parece que para HOBS, consciência de classe e a identificação mútua entre integrantes dessa classe está mais relacionada com a ação política (militância, adesão ao partido, sindicância, liderança socialista), do que a um conjunto de práticas culturas
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