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5 Problemas éticos e morais na atualidade

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Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 05
Problemas éticos e morais na atualidade
Objetivos Específicos
• Relacionar ética e moral nas condições socioculturais da atualidade.
Temas
Introdução
1 Desafios éticos atuais
2 Sociodiversidade e universalidade
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Ética, Cidadania e Sustentabilidade
2
Introdução
Existem muitos aspectos em nossa sociedade sobre os quais devemos refletir, talvez 
até mais do que em qualquer outra época da humanidade. São temas que correm o mundo 
rapidamente, circulam pelas redes sociais e estão acessíveis a todos, como o terrorismo, a 
questão dos refugiados, a miséria, a fome, as epidemias de doenças facilmente curáveis, filas 
à espera de um atendimento médico, corrupção, violência contra mulheres, comércio de 
armas etc. 
Essa infinidade de exemplos representa dificuldades e desafios a serem enfrentados 
e, por outro lado, nos leva a uma reflexão profunda sobre a eticidade de atos citados e 
apresentados diariamente pelos meios de comunicação. 
Esta aula tem o objetivo de trazer uma série de reflexões sobre nossa realidade para que 
possamos analisar tais temas sob um enfoque ético. 
1 Desafios éticos atuais
Existem inúmeros desafios éticos na atualidade. Podemos citar, por exemplo, o apego à 
novidade e o desprezo à autoridade da tradição, o declínio do papel da religião como fonte 
universal de valores de conduta, o declínio da esfera pública, os contatos com outras culturas 
intensificados pela globalização, as questões relativas às diferenças, como intolerância, 
relativismo cultural e moral, entre outras. 
Não se pode deixar de lado, também, os avanços da tecnologia e seus impactos nas 
condições de trabalho, nas relações humanas, na medicina etc. De todas essas situações, temos, 
como fator de alta gravidade, a degradação do meio ambiente, fruto do desenvolvimento 
econômico, e assim por diante.
Marcondes (2009, p. 10-11) apresenta uma reflexão sobre a origem de um dos maiores 
desafios éticos atuais, a relatividade de valores:
Talvez o sentimento de crise que vivemos hoje tenha sua origem mais remota, em 
grande parte, na perda de referência a determinados valores e normas que começa a 
ocorrer após o início do período moderno (séc. XVII), com o surgimento de sociedades 
complexas, caracterizadas pela diversidade e pluralidade de crenças, valores, hábitos e 
práticas. Nesse período, o cristianismo, que havia sido desde a Antiguidade a principal 
referência do ponto de vista ético, passa por uma cisão profunda com o advento da 
Reforma (início do séc. XVI) e das várias correntes do protestantismo que resultam 
desse processo. Encontramos a partir daí a defesa da necessidade de uma ética 
filosófica desvinculada da ética religiosa, que supõe a fé e a adesão a uma religião 
determinada. A descoberta da América (1492) contribui também para isso, revelando 
outros povos e sociedades com hábitos, práticas e valores radicalmente diferentes dos 
adotados pelos europeus daquela época. Temos aí provavelmente a primeira grande 
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experiência social de relatividade de valores e normas de conduta, deixando claro 
que o que é válido, ou considerado ético para alguns não o é para outros. Embora os 
filósofos gregos já houvessem discutido a questão da relatividade dos valores éticos, 
é talvez a partir desse momento que a questão se torna mais crucial e mais ampla, 
vindo a ser objeto central da reflexão filosófica.
As mudanças refletidas em nosso contexto não são gestadas dentro de um 
só período. O mundo não se altera rapidamente de um momento para outro, mas 
as mudanças e os desafios organizam-se até que sejam efetivados. Na citação de 
Marcondes (2009) encontramos justamente isso: desde o mundo moderno, com todas 
as suas alterações, temos consequências reverberadas até hoje. Da mesma forma, fatos 
e situações de hoje terão reflexos no futuro.
Pensar uma sociedade é buscar entender um dos fenômenos mais ricos em nosso mundo 
contemporâneo. Populações formam países, pátrias, e estas produzem situações profícuas 
em muitos aspectos. Precisamos fazer despontar o que há de melhor em nós, na aceitação de 
todos, nas riquezas e belezas minerais, entre outros. O Brasil se destaca em muitas coisas (tem 
tecnologias inovadoras e apresenta espetáculos únicos, como o carnaval) e não devemos nos 
desvalorizar e pensar que somos piores que outras pátrias (“o que se vê é corrupto”, somos 
um país excludente, a violência está generalizada etc.).
Muitos dos nossos valores não são divulgados ou sequer percebidos por nós. Os 
povos representam dicotomias e, como não poderia ser diferente, pessoas também são 
dicotômicas, ou seja, têm dificuldades, defeitos e cometem erros, mas ao mesmo tempo 
podem ter sentimentos positivos, ser solidárias, amigas, companheiras etc. Por um lado, há 
aquelas que agem corretamente e, por outro, as que não o fazem, há pessoas responsáveis e 
outras irresponsáveis e assim sucessivamente.
Nossa realidade é rica de elementos conhecidos e por conhecer – é preciso, então, estar 
atento e disponível para descortiná-la.
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Por sermos um mundo com as mais diversas e inimagináveis realidades, nossos 
desafios éticos e morais atuais não foram pensados em outras épocas. Vive-se um 
momento diferenciado em nosso contexto social, assim como ocorreu em outros 
momentos da história da humanidade. Por exemplo: os desafios do Império Romano 
de expandir-se territorialmente para uma população altamente urbanizada e o fim 
dos impérios antigos; a sociedade medieval e seus dilemas filosóficos, econômicos e 
sociais; o surgimento da moeda, a qual tomou o lugar do escambo; o reordenamento 
das cidades no mundo moderno; os desafios da ciência e da urbanização intensa. 
Todos esses momentos levaram a humanidade a defrontar-se com situações jamais 
imagináveis.
Diante disso, cabe perguntar como encontrar um espaço para o bom convívio social. 
Onde pode-se estruturar o respeito, a responsabilidade e a alteridade de uns em relação 
aos outros?
O que está em causa, fundamentalmente, é a metamorfose da população em povo, 
entendendo-se a população como uma pluralidade de raças e mesclas, e povo como 
uma coletividade de cidadãos. Uns querem circunscrever os membros da população à 
condição de trabalhadores: sem luxúria nem preguiça. Outros querem a transformação 
do negro, mulato, índio, caboclo, imigrante em cidadãos. E há aqueles que procuram 
mostrar as desigualdades sociais, econômicas políticas e culturais que constituem 
e reproduzem as desigualdades raciais. No conjunto, todos estão lidando com as 
condições de constituição e organização da sociedade civil (IANNI apud DIMENSTEIN, 
2008, p. 63).
Se analisarmos historicamente, podemos perceber que os direitos atuais não divergem 
daqueles já expressos nas antigas cidades e que tinham, no direito romano, sua justificativa, 
assim como as obrigações, o respeito e o entendimento sobre as diferenças. O que se tem 
hoje é a complexidade das sociedades, cada vez maiores, mais segregadoras e excludentes 
diante de conhecimentos que nos fazem pensar que a humanidade não pode agir e ser 
desse modo.
As fontes dos direitos do homem: são três, pois, as coisas que temos: ‘a liberdade, a 
cidade, a família’. A liberdade era tida como a fonte radical dos direitos do homem; 
a posse de uma família e a posse da cidade (cidadania) requeriam, para cumprir a 
finalidade de outorgar direitos ao homem, a existência prévia da liberdade (ZERON, 
2015, p. 97).
Da forma como o texto está estruturado, percebe-se que os valores foram e são 
fundamentais para todas as pessoas: a liberdade, a família, pertencer a uma cidade ou ser 
cidadão. Cabe chamar a atenção para um fato significativo, que é a referência à família eSenac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
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à cidade. Termos um nome, um lar, uma cidade onde habitar é fundamental para nossa 
identidade e para nosso desenvolvimento humano. Por outro lado, isso também nos traz 
questionamentos: com quantas pessoas nos deparamos na rua, moradores de rua, sem lar, 
sem família e até sem nome? São apenas mais um no rol dos tantos sem “rosto” ou nome, 
relegados a um ostracismo desumano.
Segundo Dimenstein (2008, p. 177):
As questões éticas e morais muitas vezes estão relacionadas com aquelas que o direito 
também prescreve. São as regras de comportamento, os códigos e as leis, com suas 
penas e punições. 
Há também questões bem simples. No convívio social, não é difícil ter noção de como 
agir [...]. Ter consideração pelos mais velhos, solidariedade com o próximo, gentileza 
no trato social, respeito pelo meio ambiente ou urbanidade, no trânsito e nas relações 
de consumo. 
Embora o texto coloque que muitas questões podem ser consideradas simples, a realidade 
humana é complexa, o que leva as pessoas a agirem de formas diferentes. As relações 
humanas geram situações muito difíceis de serem resolvidas e nem sempre a realidade que 
é expressa por uma pessoa é encontrada e vivida por outras. O desafio do convívio social é 
justamente chegar ao consenso de que conviver de forma pacífica é o melhor para todos.
Quando pensamos em questões éticas, é sempre importante pensar o que se entende 
por esse termo: entenderemos ética como a reflexão sobre a realidade, o que se vive em 
determinado contexto e época, como o conhecimento do que é justo e injusto, certo e 
errado, e que visa determinar padrões de conduta, os quais denominamos de moral. A ética 
é uma reflexão sobre as ações humanas, e as ações humanas pautadas pela reflexão ética são 
chamadas de moral.
A história do Brasil é rica em exemplos de homens públicos que agem em benefício 
de seus interesses particulares, desrespeitando as condutas éticas que deles se 
espera. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, entretanto, as manifestações da 
população contra esse tipo de comportamento têm contribuído para afastar da vida 
pública muitas pessoas julgadas culpadas desses desvios (DIMENSTEIN, 2008, p. 157).
Muitos movimentos têm tomado conta das ruas Brasil afora. Por exemplo, movimentos 
sindicais, estudantis, ecológicos, em defesa da Amazônia, pela reforma agrária, contra a 
corrupção etc.
Para vivermos em sociedade, é necessário desenvolver um aspecto fundamental e que 
sempre foi priorizado pelos filósofos, em especial, aqueles que pensaram a ética, que são 
as virtudes. De acordo com Japiassú (2008, p. 182), “em um sentido ético, a virtude é uma 
qualidade positiva do indivíduo que faz com que aja de forma a fazer o bem para si e para 
os outros. [...] designa uma disposição moral para o bem. [...] As virtudes designam formas 
particulares dessa disposição para o bem: a coragem. A justiça e a lealdade”. 
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A partir desse conceito, pode-se perceber que temos a possibilidade de desenvolver 
muitas virtudes em nosso convívio social. Elas são importantes e, até mesmo, imprescindíveis 
para a existência de uma sociedade que busca o convívio efetivo de todos. Cabe-nos destacar, 
por ora, algumas dessas virtudes ou valores, que são o respeito, a responsabilidade, a 
alteridade e a multiculturalidade.
1.1 Respeito e alteridade
Respeito significa ser responsável por si, o que, consequentemente, é ser livre. O 
respeito deve fazer-se diante da consciência moral, da honestidade, para consigo e para com 
os demais. Sem o respeito à consciência moral não há dignidade e, portanto, não há um 
autêntico amor a nós. Mas não basta respeito se este não vier junto da responsabilidade. 
A humanidade, em muitos momentos da história, tratou pessoas e determinadas 
civilizações de modo diferenciado, o que as colocava em situações de superioridade/
inferioridade em relação às demais. Quem se encontra nesta última é considerado “menos 
digno” e quem se encontra em uma situação de superioridade – com trabalho, com direito 
a conquistas coletivas, por exemplo –, aparenta ser melhor e essa situação é colocada como 
verdade absoluta. Mas o que se vê é que essa sobreposição de uns sobre os outros fez-se, 
muitas vezes, com imposição de força e poder, e que, em condições de igualdade, as pessoas 
podem, de certo modo, desenvolver o mesmo comportamento.
O entendimento sobre o que vem a ser respeito e alteridade exige que se busque uma 
conceituação e vamos iniciar pela origem da palavra em latim: “respectus: olhar para trás, 
vista (retrospectiva); consideração, refúgio, asilo. Respectus é o particípio passado do verbo 
respicere, isto é, olhar novamente. E a palavra respecto: olhar (muitas vezes) para trás; olhar 
fito, fitar, mirar. Aguardar, esperar” (KOEHLER, 1938, p. 385).
Podemos também buscar o termo em um dicionário atual, no qual encontramos: 
“cumprir, acatar, observar. Considerar, reconhecer, admitir, aceitar. Respeito: consideração, 
deferência, reverência” (BECHARA, 2011, p. 115). 
E em um dicionário de filosofia, encontramos um conceito mais amplo:
O respeito é sentimento da ordem fundadora que se impõe a todos e pela qual todos 
devem zelar: ele não é apenas temor, mas também contenção, pudor, vergonha 
modéstia, recusa de abusar de sua força ou de seu direito, escrúpulo, consideração, 
indulgência, piedade. O respeito dirige-se ao mesmo tempo à força a força a temer 
e à fraqueza a proteger, das quais reconhece o caráter sagrado. [...] Na sociedade 
moderna igualitária, o indivíduo tende a fazer respeitar seus direitos e explorar ao 
máximo seu direito, em vez de respeitar o direito de outrem, ou simplesmente, de 
respeitar outrem. No limite, o irrespeito é erigido como valor ao mesmo tempo em 
que é ironizada, em nome da igualdade, qualquer pretensão a uma diferença de 
condição ou de valor. [...] a sociedade moderna do indivíduo tende a valorizar [...] 
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um presente sempre renovado, sem espessura histórica, sem passado e sem futuro, 
efêmero, no qual tudo se equivale e nada tem valor, e onde a derrisão substitui o 
respeito (CANTO-SPERBER, 2003, p. 502).
Em qualquer um dos sentidos, não se pode pensar em respeito sem a presença do outro 
(alteridade). A alteridade é a visão, a perspectiva do outro, e é justamente por causa da 
presença do outro que encontramos os motivos pelos quais podemos solicitar, pedir, lutar 
para que o respeito se instaure.
É importante compreender que o respeito tem um significado especial provocado pelo 
conhecimento de um valor moral em uma pessoa em relação aos outros (em um sentido 
amplo, atualmente, esse outro pode ser entendido como qualquer ser vivo), e que atinge a 
todos. Ninguém está isento do respeito que deve ter por si e pelos demais. Esse respeito em 
relação ao outro dá-se pelo fato de sermos humanos. Essa relação é uma via de duas mãos, 
eu respeito e devo, do mesmo modo, ser respeitado; é uma relação mútua.
Para desenvolvermos uma relação de respeito, precisamos ser criativos, acolher, 
corrigir, desenvolver uns aos outros, por isso a criatividade é importante. Se realizarmos 
apenas uma descrição dos outros e os olharmos como seres distantes – incapazes de 
desenvolver afetividade e proximidade –, torna-se impossível estabelecer uma relação 
capaz de nos completar plenamente como seres humanos.
Se as pessoas permanecerem alheias umas às outras, elas não conseguirão desenvolver 
laços e relações. Ao mesmo tempo, se permanecerem unidas demais, perdem a sua identidade, 
porque anulam-se mutuamente ou tornam-se objetos da vontade das outras. É nesse sentido 
que entendemos a importância da criatividade, para que saibamos nos encontrar com os 
outros e, ao mesmo tempo, respeitá-los.
Respeitar não é ser conivente com o que o outro tem de errado,concordar com o que 
normalmente é admitido como bom com o que tenha valor apenas para alguns. O respeito é 
um ato mais profundo e exige correção. Esta deve ser capaz de levar o outro a dar-se conta 
de seu erro e direcioná-lo a um novo rumo, que possibilite desenvolver suas capacidades o 
mais plenamente possível.
É preciso compreender que cada pessoa é única e irrepetível, com suas peculiaridades, 
seus erros e defeitos, assim como valores positivos. Portanto, o respeito deve acolher o que 
não se pode alterar. Na dimensão da humanidade, isso não ocorre, pois tudo o que a constitui 
pode-se alterar e se adaptar à vontade das pessoas.
O respeito à dignidade das pessoas está fundado em uma crença sobre a nossa 
capacidade e sobre o nosso potencial de ação. Muitas vezes, a falta de respeito está em uma 
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relação direta com a descrença em relação às capacidades do outro – o qual, quando não 
corresponde às expectativas sobre ele colocadas, passa a ser desprezado e desconsiderado. 
Quanto mais diminuímos o outro, mais e mais perdemos a nossa responsabilidade sobre 
nós mesmos. Se não sou responsável pelo outro, também não preciso respeitá-lo, o que é 
uma ilusão baseada em crenças, e não em uma realidade fatídica. Quando uma crença é 
divulgada como verdade e todos passam a crer nela, essa verdade universaliza-se e poucos 
conseguem desmitificá-la. Para Boff (2006, p. 54): “o respeito supõe reconhecer o outro em 
sua alteridade e perceber seu valor intrínseco. [...] reconhecer o outro como outro: tal atitude 
representa um desafio imenso para cada pessoa e para a sociedade”.
A busca pelo respeito não deve se dar isolada de uma visão maior de mundo. As pessoas 
devem dar-se conta de que o respeito é um valor a ser aprendido e que se ensina. Ele surge 
da própria percepção de que todos os seres estão interligados, a criança, o jovem e o adulto 
de hoje são continuação de um idoso que também já foi e contém, em si, tudo o que as 
pessoas nas fases anteriores apenas estão desenhando em sua vida. 
Demócrito foi um dos primeiros filósofos a pensar sobre o respeito sob uma concepção 
de mutualidade, isto é, devemos nos respeitar do mesmo modo como respeitamos os outros 
e vice-versa, nem mais nem menos.
Um dos fundamentos importantes para admitirmos o respeito é que, a partir desse 
conceito, conseguimos ordenar nossa vida em sociedade, mantendo vínculos essenciais para 
nós. O respeito torna-se, assim, fundamento de um bem maior para todos. Não podemos 
ser ingênuos e pensar que o respeito sempre foi praticado. Devemos ser claros e perceber 
que a falta de respeito sempre existiu e existirá, pois somos sempre capazes de transgredir; a 
transgressão nos leva a ter atitudes desrespeitosas em relação aos outros.
Outro aspecto que não podemos deixar de salientar é que o respeito se refere 
às pessoas, não às coisas. Não respeitamos coisas, mas respeitamos pessoas, seres 
capazes de manter uma relação de plenitude, de nos constituir, de nos ajudar a nos 
desenvolver naquilo do que somos capazes.
Perceber o modo de ser e agir respeitosamente nos toca de modo sensível, sentimento 
com o qual não nos deparamos quando nos defrontamos com as coisas. Coisas não são 
capazes de reciprocidade, de afeto, de relação de amor, de desenvolvimento ou de vínculos. 
Coisas são objetos com os quais estabelecemos uma relação de posse, domínio e uso, o que, 
em tese, não pode ser estabelecido com as pessoas.
Assim, podemos dizer que agir com respeito é reconhecer nas pessoas ou em si mesmo 
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uma dignidade que se tem o dever de cuidar, para que ninguém venha a maculá-la, feri-la, 
destrui-la. Esse sentimento vem da consciência que devemos despertar em cada um de nós, 
seja por nossas ações, palavras, lutas ou organizações. 
Muito podemos alcançar se entendermos que somente atingiremos o que desejamos se 
fizermos, em primeiro lugar, o que desejamos que os outros façam e, em segundo lugar, se 
buscarmos formas de levar os outros a entenderem que, como diz o dito popular, “respeito 
é bom e todos nós gostamos”. Tal atitude não pode ser imposta por nenhum código, não se 
compra em balcão de supermercado, mas pode ser desenvolvida pelas pessoas, desde que se 
preparem e se comprometam a agir desta forma. 
1.2 Responsabilidade e multiculturalidade
É mais do que urgente que pensemos no papel dos cidadãos na construção de uma 
sociedade inclusiva e que defenda, em primeiro lugar, uma perspectiva de vida para todos 
e não apenas para alguns. Isso é responsabilidade de todos, não só dos políticos, dos 
empresários e das instituições. Cidadania sem participação não existe e a isso também se 
denomina sociedade multicultural.
É importante perceber que temos um papel a desenvolver dentro da sociedade e que este 
papel pode enriquecer ou empobrecer o mundo. Tudo depende do modo como enfrentamos 
os problemas e vemos a sociedade, e é dessa compreensão que surge a necessidade de 
participação. A partir disso, podemos tornar o mundo melhor ou deixar que os outros o 
façam. Cada um realiza um papel social a partir de seu entendimento de mundo e de sua 
concepção de justiça.
A capacidade de cada um deve ter um fundamento metafísico (ontológico). Ou seja, não 
se tira “o fundamento” de algo que o ser humano faz, ao contrário, ele está em algo que é 
maior que o próprio ser humano. Ou seja, é a capacidade de liberdade, de poder escolher de 
modo consciente e deliberadamente, ou seja, a responsabilidade.
Conforme Gomes e Moretti (2007, p. 3): “O termo responsabilidade social, embora esteja 
em voga no novo vocabulário das empresas, não está plenamente definido e não encontrou 
ainda um grau de estabilidade semântica [...]”. Do mesmo modo, a multiculturalidade é tão 
ampla e rica em possibilidades que não se consegue visualizar em sua totalidade.
A responsabilidade está no poder que temos de causar um dano ou um benefício a todo 
aquele que estiver dentro das possibilidades de ação. A palavra responsabilidade significa 
que eu tenho que responder por minhas ações, assim como respeitar ou não aquilo que é 
valioso. O contrário da responsabilidade é a irresponsabilidade porque não se responde pelo 
que é valioso. Por isso, exercer um poder sem a observância do dever constitui uma ruptura 
a uma fidelidade diante do que é importante.
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Segundo Mora (2001), uma pessoa é responsável quando está obrigada a responder 
por seus próprios atos. A grande maioria dos filósofos está de acordo que o fundamento da 
responsabilidade é a liberdade da vontade. Com efeito, em um mundo cujos fenômenos 
estivessem todos inteiramente determinados, a responsabilidade se desvaneceria. 
Temos visto um crescente desenvolvimento pautado pelo egoísmo e egocentrismo. 
Mas o que se deve buscar dentro de um princípio de responsabilidade é uma posição ética 
baseada na solidariedade, que é uma das primeiras fontes da ética, e na compreensão de 
uns para com os outros.
Só pessoas que pensam a partir de um coletivo podem colocar, em sua reflexão e em sua 
ação, o outro como esse ser que busca uma justiça para poder viver em sociedade. Só tem 
essa compreensão quem entende ser sua responsabilidade a forma de viver em sociedade 
como uma forma de inserção de todos e para todos. Se algum dia houver uma sociedade 
politicamente engajada e empreendedora, poderemos dizer que se vive uma realidade ideal.
Falar de responsabilidade é também falar de cidadania e do papel ativo que devemos 
ter como agentes sociais autônomos e solidários e garantidores dos direitos humanos 
e dos princípios democráticos desde nossos comportamentos e desde a exigência 
ética diante dos demais. Em definitivo, uma ética da responsabilidade deve ser uma 
ética da ação comprometida como a mudança social (MERINO, 2004, p. 6).
Oque devemos entender então por responsabilidade? O tema é complexo e, nesta aula, 
vamos apontar alguns indicativos para que possamos iniciar uma reflexão sobre nosso papel 
de responsáveis pelo social.
Posso ser responsável pelo o que me é confiado e pelo o que emocionalmente estou 
empenhado. Se a responsabilidade tiver, como um de seus motivos, o amor, então, está além 
de um dever, pois está inspirada pela devoção da pessoa que estremece a coisa digna de ser 
amada.
Existem dois tipos de responsabilidade: a natural e a contratual. A responsabilidade 
natural tem, como exemplo maior, a relação familiar; os pais, por exemplo, têm obrigação de 
buscar o desenvolvimento da capacidade e da vida dos filhos. A responsabilidade contratual, 
como diz a palavra, por outro lado, é aquela firmada entre as pessoas, em uma sociedade, 
em um acordo etc. 
Entre as duas, a responsabilidade natural é a mais forte e, ao mesmo tempo, menos 
definida, mas é fundamento original de qualquer outra forma de responsabilidade. Ela 
estabelece como princípio de toda responsabilidade a totalidade, a continuidade e o futuro. 
• Totalidade: porque não se vê nem se trabalha apenas com uma parte, se é responsável 
pelo todo (embora nem sempre consigamos fazer ações que envolvam a totalidade). 
• Continuidade: pois nosso existir deve garantir o direito à existência do outro. 
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• Futuro: somos responsáveis pelo futuro; desta forma, não temos direito de exterminar 
no presente a vida e as possibilidades dos que nos sucederão.
O viver é um exercício de responsabilidade e, ao mesmo tempo, condição impreterível 
para que ela seja exercida. A garantia de toda responsabilidade é a própria vida. 
Nossa primeira responsabilidade é para com o que foi feito pela natureza, ou seja, é 
nossa obrigação cuidar do meio ambiente e preservá-lo, para que não haja desequilíbrio no 
futuro. A segunda, mas não menos importante responsabilidade, é com os mais debilitados, 
mas isso exige que se faça uma transformação da realidade social geradora dessas exclusões, 
por isso, é preciso que se pense em ações políticas que visem essa mudança. 
É preciso tomar atitudes econômicas, o que pode ser, em um primeiro momento, 
retirar as pessoas de uma situação desumana, mas, especialmente, desenvolver atitudes de 
capacitação, para que as pessoas possam atuar socialmente e gerar o próprio sustento. Para 
chegar a esse ponto de consciência ou de ação, é preciso reconhecer o outro ou a realidade 
como recíproca.
Responsabilidade social não deve ser confundida com altruísmo, filantropia ou realizar 
alguma atividade com vista a algum ganho futuro. Devemos nos interessar pelos outros de 
modo não interesseiro. Essa compreensão quebra a lógica de políticos que agem para ganhar 
votos e daqueles que gostariam de beneficiar-se socialmente e até fazer uma propaganda 
“barata” (de baixo custo) para seus produtos. 
Quem pensa desse modo não age em vista de um benefício social. Ser responsável 
socialmente é entender que quem está em primeiro lugar é a sociedade e que se a sociedade 
como um todo é beneficiada, todos em sua individualidade também o são. Por isso, a 
responsabilidade social é a ação que tomamos com o intuito de evitar danos e produzir o 
maior número possível de benefícios sociais.
Adaptando o conteúdo expresso no Livro Verde da União Europeia, podemos conceituar 
a responsabilidade social da empresa como: conceito pelo qual as pessoas decidem 
contribuir voluntariamente para melhorar a sociedade e preservar o ambiente mais limpo. 
Ser socialmente responsável não se restringe ao cumprimento de todas as obrigações 
legais – implica ir mais além por meio de um “maior” investimento em capital humano, no 
ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais (COMISSÃO 
DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2001).
Compreender a vida e a organização social, conforme expresso nessa publicação, leva à 
conscientização sobre o impacto da ação que se realiza em sociedade e, em especial, expressa 
o compromisso de contribuir para o desenvolvimento econômico, para melhorar a qualidade 
de vida das pessoas, das famílias e da comunidade local.
A ação desenvolvida deve começar a partir dos menos favorecidos socialmente, até 
chegar àqueles que, não tendo a mesma consciência, possam despertá-la por meio de 
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um processo de desenvolvimento de políticas públicas, de empresas que incentivem seus 
trabalhadores e familiares a realizar ações, de partidos políticos, igrejas, ou seja, de toda a 
sociedade civilmente organizada. 
A responsabilidade social ocorre quando as pessoas tomam consciência de seu papel 
social, isto é, quando percebem que, com sua participação, podem contribuir para que as 
melhorias almejadas por cada um e por todos venham a concretizar-se. Quando se supera a 
visão egocêntrica, os outros são colocados como um parâmetro para a realização de ações 
de melhorias efetivas. 
Estabelecer quais valores são bons para a sociedade não pode ser feito isoladamente. É 
preciso buscar nas organizações, no público participante e contar com a ajuda dos envolvidos 
na situação-problema para que se possa efetivar uma ação socialmente ética com o devido 
equilíbrio. 
Desta maneira, a definição da responsabilidade como qualidade humana deve dar-se 
de forma contextualizada e em função de três atributos: o papel social que estamos 
desempenhando, a situação relacional na qual este se dá e as peculiaridades pessoais 
dos atributos que interagem na mesma (MERINO, 2004, p. 5).
Quando a ação envolve seres humanos, é preciso estabelecer um diálogo, uma negociação 
entre os envolvidos, para que o que se realize seja o melhor. Isso é um entendimento amplo 
de responsabilidade, que só é efetiva porque é desenvolvida socialmente. Quem realmente 
entender esse conceito compreenderá que não se pode ficar de braços cruzados diante da 
realidade presente. Eis a nossa responsabilidade.
2 Sociodiversidade e universalidade
Sabemos que as sociedades são resultantes de formações múltiplas, compostas por 
vários povos que se deslocam de um lugar para outro, com os mais diferentes propósitos. 
Os indígenas que aqui estavam quando da ocupação europeia, os africanos escravizados 
que se espalharam pelo mundo todo, os advindos do processo migratório atual (para fugir 
de guerras, conflitos e pobreza), os europeus, os árabes, os japoneses, chineses e, assim, 
sucessivamente, foram espalhando-se pelo mundo. 
No século XIX, havia a esperança de encontrar uma terra prometida. No século XX, há o 
princípio de globalização, quando as barreiras entre os países são cada vez mais efêmeras. 
E, no princípio do presente século, por motivos religiosos, econômicos, políticos etc., há o 
deslocamento de pessoas pelo mundo. 
Somos cada vez mais um planeta globalizado, isto é, um planeta no qual as fronteiras 
são cada vez menos rígidas. Dessa situação, formam-se novos contextos culturais e percebe-
se, cada dia mais, que valores se universalizam, porém, admitidos geralmente pela classe 
dominante, que se estrutura para fazer com que seus valores sejam aceitos: consumo, difusão 
cultural, língua universal etc. são alguns exemplos. 
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Com a vinda de diversos povos para o Brasil, são trazidos traços culturais, históricos 
e o anseio de atingir objetivos para a melhoria de sua situação social e econômica. Assim, 
alguns partem com o intuito de enriquecer e voltar para sua terra de origem, outros vão 
atrás do sonho da terra prometida, na qual possam encontrar abundância e possibilidade de 
crescimento. De acordo com Demanat (2015, p. 377), “o bom senso sugere que ‘quanto mais 
diferentes, mais difícil será a coexistência’ [...] Mais importante do que a distância cultural 
parece a existência de ‘tons de cinza’.[...] Existe no Brasil uma escala infinita de graus de cor 
de pele que mitigam (mas também mascaram) a questão racial”.
A forma como cada um chegou ao país fez com que se formassem concepções errôneas 
e preconceituosas, algumas reproduzidas até hoje. Por exemplo, a crença de que os pobres 
permanecem nessa condição porque não querem trabalhar e estudar; e a ideia de que 
todos têm as mesmas oportunidades e são iguais perante a lei. Isso não se reflete, porém, 
na realidade.
Há uma necessidade de praticar-se a inclusão social urgente em nosso país, que pode 
ser favorecida pela educação, uma forma de desenvolver as capacidades e potencialidades 
das pessoas. Uma vez tendo as mesmas oportunidades, existiriam as mesmas chances 
para todos. 
Na prática, não é isso que encontramos, pois nem todos têm as mesmas oportunidades 
e as discriminações são grandes. Uma coisa é certa e não podemos deixar de refletir: há um 
ditado popular no Brasil que todos já devem ter ouvido falar alguma vez em nossa realidade: 
“não adianta só dar o peixe, é preciso também ensinar a pescar”. 
O sociólogo Betinho (Herbert de Souza), após lançar a ação da cidadania contra a 
miséria e pela vida, em 1992, costumava dizer “quem tem fome, tem pressa”. Ou 
seja, “dê o peixe agora para evitar que a pessoa morra de fome”. Mas também 
ensine a pescar para que deixe de depender de quem lhe dá o peixe (DIMENSTEIN, 
2008, p. 297).
Segundo Luca (2015, p. 487-488):
O direito de voto foi universalizado, por meio da extensão facultativa aos maiores de 
16 anos e aos analfabetos, que tiveram sua cidadania política reconhecida. Ampliou-
se a noção de democracia, entendida como ativa e participativa, tal como estipula o 
artigo 14. O ministério público, por sua vez deixou de ser parte do poder executivo 
para tornar-se uma instituição independente.
Se observarmos o que foi dito anteriormente, já se poderia dizer o quanto é benéfica, 
por exemplo, a inclusão de cidadãos à margem da sociedade e que, por ora, são inseridos 
no contexto social. Mas Luca (2015, p. 488) vai além, citando alguns exemplos para reforçar 
essa ideia:
Os direitos foram amplamente assegurados pelo artigo 52 e seus mais de setenta 
incisos, que inovaram ao criar o habeas data, que assegura aos cidadãos o 
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conhecimento de informações constantes em entidades de caráter governamental 
ou público; ao assegurar a prática do racismo como crime inafiançável, condenar 
expressamente a tortura. Ao estabelecer o mandato de injunção cabível quando a 
falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades, 
e ao determinar a defesa do consumidor, cujo código passou a vigorar em 
março de 1991.
Estamos tão acostumados com essa realidade em nosso cotidiano que tudo o que foi dito 
parece óbvio. Somos membros de uma sociedade que já passou por estágios e os mencionados 
também não são novos, embora se possa dizer que ainda não foram efetivamente realizados 
em sua totalidade. 
O intervalo de tempo entre a promulgação da Constituição de 1988 e os dias de hoje 
nos leva a entender que a realidade brasileira, por sua própria complexidade, ainda precisa 
enfrentar grandes desafios. Ainda é preciso um maior engajamento de todos em projetos 
educacionais. A melhora na distribuição de renda, por exemplo, está entre os maiores desafios 
que temos. E toda sociedade sempre os terá, pois, uma vez atingindo um patamar, surgirão 
outros, e está aí a dinâmica da vida e do ser humano.
Durante um longo período os grupos étnica ou culturalmente diferenciados sofreram 
um processo de exclusão, sendo exterminados, marginalizados ou absorvidos pela 
sociedade nacional sem qualquer reconhecimento às suas formas peculiares de viver 
e de agir. Após a abertura dos espaços de reivindicação proporcionados pela afirmação 
da democracia, a expressão de identidades diferenciadas num mesmo cenário 
nacional passou a se tornar possível, ocasionando uma significativa transformação 
ocorrida no relacionamento entre o Estado e grupos sociais minoritários, baseada 
fundamentalmente no reconhecimento constitucional acerca do caráter pluricultural 
da composição de sua população (FERREIRA; FERREIRA, 2012, p. 151).
A diversidade social surge pela própria constituição da sociedade. Cada indivíduo é 
diferente, tem suas características próprias e ao reunirem-se em sociedade, as diferenças 
entre as pessoas surgem como algo natural. A diversidade também pode ser criada pela 
forma como a sociedade se estrutura e organiza. Assim, criam-se as diversidades naturais e 
que são altamente positivas, pois, ao sermos diferentes, conseguimos fazer uma sociedade 
melhor. Quando, porém, observamos a diversidade excludente, identificamos problemas 
sociais sérios e que demandam a intervenção dos poderes constituídos para que essas 
diversidades não sejam motivos de conflitos maiores, porque, em si, já são conflituosas. 
Cabe às autoridades intervir para que essas diversidades sejam equacionadas da melhor 
forma possível.
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Leonardo Boff, em seu livro A águia e a galinha (2010), chama a atenção para a dicotomia 
e a diversidade do ser humano. Vivemos e, do modo como nos educamos, nos constituímos 
socialmente de forma que podemos agir de uma ou de outra maneira, mas nunca conseguimos 
destruir esses dois seres que habitam em nós: a galinha, que representa a acolhida, é a ave que 
sempre está junto ao ser humano. Já a águia tem a possibilidade de lançar voos cada vez mais 
altos, mas sem perder a dimensão, o objetivo e o que busca. Essa diferença entre os seres nos 
leva a viver de um modo ou de outro.
Quando a diversidade é produzida socialmente, ela gera desigualdade, colocando as 
pessoas em diferentes realidades, por exemplo: níveis de escolaridade; falta de atendimento 
de saúde; falta de moradia; exploração pelo trabalho; uso dos bens da terra (enquanto em 
algumas regiões há desperdício de água, falta água potável em outras); falta de luz elétrica 
por carência de redes e assim por diante. 
Exemplos não nos faltam para mostrar que a sociedade produz os incluídos e os 
excluídos, e se essa exclusão é produzida pela sociedade para benefício de alguns em 
detrimento de outros, cria-se uma diversidade não aceitável e eticamente injustificável. 
Vamos nos aprofundar em um exemplo de diversidade para termos ainda mais clareza sobre 
o tema: a questão de gênero.
2.1 A questão de gênero
Muito tem sido escrito e pensado sobre a questão de gênero e o enfoque que mais se 
destaca é em relação à mulher. Isso não é sem razão: em nossa sociedade, ainda impera 
uma cultura machista e de poderio do homem. Destaca-se aqui o que se deve entender 
pelo conceito de gênero: “Quando falamos de ‘gênero’, estamos nos referindo aos processos 
sociais e históricos nos quais os indivíduos se constroem e se reconhecem enquanto ‘homens’ 
ou ‘mulheres’” (MORAES; CAMARGO; NARDI, 2015, p. 148).
O papel social desempenhado pelas mulheres foi sempre visto como inferior e essa 
realidade aparece no contexto social há muito tempo: o homem tem o poder e coordena 
e domina a sociedade, tudo é feito por ele e para ele. Nas cidades-estado, encontramos 
situações parecidas com as que se presencia atualmente:
[...] embora a posição das mulheres variasse em cada cidade, em cada âmbito cultural, 
é fato que elas permaneceram à margem da vida pública, sem direito à participação 
política, restringidas em seus direitos individuais, tuteladas e dominadas por homens 
que consideravam o lar, o espaço doméstico, como o único apropriado ao gênero 
feminino. As mulheres eram, certamente, membros da comunidade – mas membros, 
por assim dizer, menores (GUARINELLO, 2015, p. 37).
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Esses conhecimentos históricos são importantes para fazermos uma análise da situaçãoatual e verificarmos que a exploração de pessoas sobre pessoas não é fato recente. Nos 
serve ainda para constatar a importância do resgate e da inclusão de todos para dentro 
da sociedade. 
O ideal da domesticidade estipulou para as mulheres um modo de vida restrito à 
administração doméstica; na medida do possível, as filhas de ‘boa família’ deveriam 
ficar em casa. Entretanto, as práticas sociais nem sempre seguiam à risca os discursos. 
[...] Ao mesmo tempo em que as tradições relativas aos sexos se renovavam, mesmo 
mulheres das classes privilegiadas [...] encontraram formas de atuação no espaço 
público, nas cidades, e viram suas vidas transformadas (PINSKY; PEDRO, 2015, p. 273).
Não basta que leis e direitos sejam reconhecidos, é preciso ações efetivas para 
que esses direitos sejam garantidos. Não adianta a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos reconhecer que todos nascemos iguais em direitos se estes não forem 
concretamente praticados. Esse é um dos tantos desafios éticos para nós atualmente.
A liberdade e as possibilidades de expressão presentes podem ser manipuladas e 
aprisionadas por um tempo, mas não para sempre. Mais cedo ou mais tarde, elas aflorarão. 
O ser humano é um ser de liberdade. Esse é um exemplo visto aqui com as mulheres, mas 
pode-se ver isso na situação dos escravos que buscaram constantemente sua libertação, dos 
presidiários, que buscam a liberdade por meio da fuga, e assim sucessivamente. Ser livre é 
uma condição indispensável do humano.
Considerações finais
Diante de todas as situações que vimos no decorrer desta aula, poderia parecer que 
vivemos em um contexto não tão bom, mas não é isso. Se por um lado temos problemas 
sociais, como os apontados (pobreza, racismo, preconceitos, exploração da mulher etc.), por 
outro, há muito a sociedade vem se dando conta de que sua responsabilidade social é mais 
do que apenas exigir que alguém faça por nós. A grande pergunta que se coloca é o que nós 
podemos fazer por nós? Não se pode mais esperar que alguém o faça. A organização social e 
das pessoas em seus contextos traz grandes mudanças para o atual contexto social.
O importante é percebermos que há saídas, que há avanços, que muito a sociedade 
andou para que vivamos hoje o que se tem diante de nós. E isso já basta? Claro que não. 
Como já foi dito anteriormente, o ser humano é dinâmico e, uma vez tendo atingido um 
patamar, outros se apresentarão para que ele os enfrente. Que bom que é assim, porque, se 
não o fosse, estaríamos ainda vivendo um período pré-social.
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Referências
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História da cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto. 2015.
	Introdução
	1 Desafios éticos atuais
	2 Sociodiversidade e universalidade
	Considerações finais
	Referências

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