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Abdome: diagnóstico diferencial CASO CLÍNICO 1: Mulher, 42 anos, com dor em abdome inferior e piora progressiva há 1 dia. HD: que perguntas serão feitas para descartar ou confirmar cada uma dessas doenças? Começa-se pensando na história da doença – dor e suas características – e depois verifica-se os fatores de risco. • Apendicite DOR – localização, começa com uma dor mal localizada/visceral, habitualmente com uma queixa de dor periumbilical difusa (epigástrio e mesogástrio), depois de 1 dia, i m a g i n a - s e q u e o p r o c e s s o inflamatório se tornou somático, com uma dor mais localizada e mais intensa. Intensidade: é uma dor m o d e r a d a q u e p i o r a progressivamente. O tipo/qualidade da dor é uma dor contínua sem uma boa caracterização. A respeito de fator desencadeante/agravante, é tudo aquilo que faz trepidar o abdome, como pisar no chão, estar no carro que passa em um buraco (há 2 testes que são feitos para apêndice ou qualquer outra irritação peritoneal: mandar o paciente pular e pisar com um pé só no chão, o que vai gerar dor, e pedir para o paciente tossir, o que aumenta a pressão intra abdominal e mexe com o peritônio, intensificando dor). Sobre o fator de alívio, não tem, a não ser um alívio parcial por ana lgés i co . A lguns s in tomas associados podem ser febre, náusea e anorexia (principalmente em criança). Não costuma mudar hábito intestinal. HPP – perguntar se o paciente já operou ou não por apendicite. EXAME FÍSICO – Blumberg positivo. Po r é m a s v e z e s p o d e h a v e r anomalias de posição de apêndice, como retocecal (Blumberg negativo), que demora a manifestar na parede anterior, apenas quando tem pus na cavidade que ocorre a manifestação clássica. No caso de apêndice retocecal, pode-se realiazar teste do psoas, do obturador e manobra de Rovsing. EXAMES COMPLEMENTARES – ultrassom para fase inicial em que o apêndice está edemaciado sem muita distensão de alça (menos invasivo, sem irradiação, porém dependendo do tanto que está inflamada e distendida a alça intestinal pode ficar difícil ver o apêndice). Ainda é pos s í ve l f aze r um B lumberg ultrassonográfico – coloca-se o ultrassom em cima do apêndice, comprime e solta. Em caso que o ultrassom não foi bom, usa-se a tomografia (maior sensibilidade). Em caso de apendicite retocecal, o exame é direto para tomografia. • Doença inflamatória pélvica – ginecológica feminina DOR – localização, normalmente em abdome inferior mais central, infrapúbica sem irradiação, mas se pegar, por exemplo, trompa direita, a dor pode está mais para fossa ilíaca direita. Em termos de intensidade, trata-se de uma dor moderada que piora progressivamente. O tipo/ qualidade da dor é uma dor contínua sem uma boa caracterização. A respeito de fator desencadeante/ ag ravan te , é r e l a ção s exua l (dispareunia). Sobre o fator de alívio, não tem, a não ser alívio parcial por analgésico. Alguns sintomas associados podem ser Abdome: diagnóstico diferencial secreção vaginal com odor fétido, febre, disúria vaginal, prurido. HISTÓRIA – DST de repetição, secreção vaginal crônica, relação sexual desprotegida e quantidade de parceiros. EXAME FÍSICO – DBD + difusa ou localizada. EXAMES COMPLEMENTARES – a parte ginecológica é bem visualizada pelo ultrassom. • Diverticulite DOR – idêntica à apendicite com diferença na evolução: a apendicite é mais dramática e rápida com resolução cirúrgica e a diverticulite é mais insidiosa, podendo evoluir para cura espontânea. Sobre a topografia, a apendicite é de fossa ilíaca direita e a d i v e r t i c u l i t e é m a i s frequentemente de fossa ilíaca esquerda, mas pode ser em qualquer lugar. Sobre sintomas associados, const ipação (com o processo inf lamatório mais intenso da mucosa, piora o trânsito fecal na região) e febre (talvez). Não costuma mudar características das fezes. HISTÓRIA – constipação nos últimos dias (o que mais obstrui óstio de divertículo é fezes), diverticulite prévia, saber que tem divertículo, dieta pobre em fibra, trânsito intestinal ruim e história familiar. EXAME FÍSICO – DBD + tendendo a ser em fossa ilíaca esquerda, porém pode ser negativa no primeiro momento. EXAMES COMPLEMENTARES – igual à apendicite, mas como o processo inflamatório é mais leve e não se sabe o local exato, a chance de errar com o ultrassom é maior. Então, a tomografia é o método de escolha. Porem a tomografia é pedida em caso de necessidade, fora isso inicia o tratamento e verifica se está ocorrendo melhora progressiva nos próximos 2 ou 3 dias. ATENÇÃO: a diverticulite depois que inflama a mucosa edemacia e fecha o divertículo. O antibiótico diminui o processo inflamatório, abre o divertículo, drena a secreção e evita o processo in fecc ioso maior. Raramente, quando a doenças está muito grave, pode haver ruptura do divertículo, nesse caso o abcesso espalha pela cavidade e é necessário d r e n a g e m p e r c u t â n e a p a r a drenagem no abcesso, além do uso do antibiótico, porém as vezes isso não é suficiente e é preciso operar. • Doenças ginecológica/obstétrica (gravidez ectópica ou doença ovariana) DOR – gravidez ectópica quando rompe e vai para a cavidade abdominal tem uma evolução mais rápida e causa uma dor muito intensa, além da dor ser difusa e extensa. Não tem característica própria, nem fatores agravantes ou atenuantes (apenas parcialmente com analgésico). Sobre os sintomas associados pode haver febre (talvez), amenorreia. No caso de cisto ovariano a dor é mais discreta, é um quadro menos inflamatório e problemas ovarianos são mais comuns no período de ovulação. Abdome: diagnóstico diferencial EXAME FÍSICO – dor à palpação superficial e profunda, DBD + para gravidez ectópica e dor à palpação, DBD -, sem aumento de tensão para cisto ovariano. EXAMES COMPLEMENTARES – ultrassom. O B S E RVA Ç Ã O : s o b r e o s e x a m e s complementares, sempre que possível, EVITE solicitar. Não sobrecarrega o sistema, e economiza dinheiro. CASO CLÍNICO 2: Homem, 52 anos, crise de dor abdominal em cólica no mesográstrio há 1 dia com piora progressiva associada à distensão abdominal. • Obstrução intestinal DOR – em có l i ca que p io ra p r o g r e s s i v a m e n t e p e g a n d o mesogástrio e evoluindo com distensão abdominal. A dor não guarda relação com o local da obstrução e, sim, com o local da distensão. A não ser que a obstrução seja proximal e a distensão seja caracteristicamente epigástrica, mas uma obstrução distal a dor é difusa e mesogástrica pro intestino delgado que habitualmente tem peristalse a u m e n t a d a . F a t o r e s d e d e s e n c a d e i a m c r i s e d e d o r a b d o m i n a l o b s t r u t i v a é a alimentação e que alimento que habitualmente vai tender a causar obstrução total em caso de obstrução parcial ou alça aderida? É a fibra. A gordura sofre digestão e é absorvida, não interfere. Fator de alívio é a posição fetal. Sintomas associados são parada de eliminação de gases e fezes, vômito (característica depende de onde foi a obstrução). Do ponto de vista de manifestação clínica, não há diferença se essa obstrução é por tumor, por aderência intestinal ou bolo de áscaris. EXAME FÍSICO – distendido, RHA aumentado (no memento inicial), RHA ausente numa fase mais avançada, timpânico, aumento de tensão superficial por distensão de alça. EXAMES COMPLEMNTARES – raio X de abdome em pé e deitado (quando o paciente está deitado observa-se alça intestinal distendida e acúmulo de gases, quando ele está em pé observa-se vários pontos de níveis, o líquido desce e o gás sobe – nível hidroaéreo). OBSERVAÇÃO: o tratamento muitas vezes c o n s i s t e e m h i d r a t a ç ã o e s o n d a nasogástrica que drena o líquido do TGI, a alça intestinal vai murchando e desfaz a torção da aderência. Caso não resolva, operação. CASOCLÍNICO 3: Mulher, 52 anos, com dor de forte intensidade de início súbito há 6 horas. • Isquemia mesentérica DOR – dor de início súbito e de forte i n t e n s i d a d e n a r e g i ã o d o mesogástrio que espalha para toda barriga (difusa) e sem característica de irradiação. Fator agravante é a alimentação, uma vez que ao estimular a função do intestino Abdome: diagnóstico diferencial delgado, ele necessita de mais sangue (angina mesentérica). Trata- se de uma doença aterosclerótica que fissura uma placa, trombosa e f a z u m a i s q u e m i a a g u d a mesentérica, mas, vale lembrar, que a rede de colateral da mesentérica é muito grande, então dificilmente uma placa de mesentérica obstrui e gera dor aguda. É mais comum a angina: come e sente dor. O tratamento é com estatina, AAS ou fazer um stent. HISTÓRIA – aterotrombose, doença tromboembólica (lembrando que qualquer êmbolo venoso só pode chegar no pulmão, para chegar na artéria mesentérica, o êmbolo precisa ter vindo do coração esquerdo – provavelmente por uma f ibri lação atrial), história de arritmia. E X A M E F Í S I C O – a b d o m e difusamente doloroso (1ª fase – maior chance de salvar o paciente) - distensão de alça - i rr i tação peritoneal (necrose com vazamento de suco entérico pela cavidade). EXAMES COMPLEMENTARES – arteriografia (exame e terapêutica). Mas, se tem tempo, a escolha é pela t omogra f i a com con t r a s t e e angiotomografia. • Aneurisma de aorta dissecante DOR – súbita, intensa e progressiva. Irradia seguindo o vaso e não tem man i f e s t a ção de abdome . O tratamento precisa ser em poucas horas, caso contrário, gera necrose maciça e o paciente morre. EXAME FÍSICO – se rompe e vaza sangue para a cavidade (sangue é muito irritante para a cavidade) gera irritação peritoneal com DBD +. Nesse caso, dificilmente o paciente será salvo. EXAMES COMPLEMENTARES – em caso de suspeita, tomografia com contraste e depois arteriografia. • Úlcera perfurada DOR – pode ter característica de queimação ou ser muito intensa sem característica. A localização tende a ser epigástrica, mas perfurar e espalhar HCl por todo abdome, essa dor se torna difusa. Não dá tempo de ver relação com fatores de melhora ou piora. EXAME FÍSICO– abdome em tábua, dor epigástrio, aumento de tensão no epigástrio, DBD + (desde o início quando rompeu). É um quadro grave, mas menos dramático que os outros. EXAMES COMPLEMENTARES – raio X para ver pneumoperitônio.