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cruzi (GALVÃO, 2014). Entre 1909 e 1912, Chagas descreveu uma nova enfermidade, seu agente etiológico, seus reservatórios naturais e seu transmissor, fato inédito na medicina mundial até os dias de hoje, é um marco na história, já que a descoberta foi feita na sequência inversa do que é usual, pois a descoberta das doenças geralmente antecede a de seus agentes causais (GALVÃO, 2014). Durante mais de um século, desde a primeira descrição de De Geer, os triatomíneos foram estudados de um ponto de vista puramente entomológico (GALVÃO, 2014). Porém, a partir de 1909, quando Chagas descobriu que eram os vetores de uma nova tripanossomíase, que mais tarde levaria o seu nome, adquiriram um interesse médico sanitário muito grande, despertando a curiosidade de vários pesquisadores que passaram a estudá-los (GALVÃO, 2014). Os vetores da doença de Chagas recebem diversos nomes vulgares, que variam de acordo com as regiões ou países onde são encontrados. No Brasil o nome mais conhecido é “barbeiro”, denominação dada provavelmente devido aos hábitos noturnos desses insetos, que picam geralmente no único local desprotegido do corpo do ser humano adormecido, o rosto (GALVÃO, 2014). Embora aceita pela maioria dos autores, Rezende & Rassi (2008) apud Bastos (2016) acredita que existe uma outra versão na qual o nome “barbeiro” seria uma referência à prática da sangria, realizada por esses profissionais no passado. Morfologia dos ovos Os ovos dos triatomíneos são formados pelo corpo do ovo e opérculo que podem apresentar as mais diversas ornamentações (GALVÃO, 2014). Em Triatoma, os ovos são postos livres na maioria das espécies. O tamanho médio é de 2,05 mm de comprimento e 1,14 mm de diâmetro (GALVÃO, 2014). O formato geral é elipsoide, podendo em algumas espécies ser mais alongado, são frequentemente simétricos e sem chanfradura lateral evidente (GALVÃO, 2014). A maioria das espécies não apresenta “colo”. As cascas são pouco translúcidas e a coloração varia do branco leitoso ao creme claro e permitem passar a coloração alaranjada do embrião maduro (GALVÃO, 2014). Os triatomíneos são insetos hematófagos com desenvolvimento hemimetábolo cujo ciclo de vida de ovo a adulto passa por cinco fases imaturas (GALVÃO, 2014). A necessidade de uma refeição de sangue os levou a estabelecer relações mais ou menos estreitas com os seus hospedeiros vertebrados, incluindo os seres humanos (GALVÃO, 2014). Uma característica importante da sua biologia é que, ao contrário de outros insetos sugadores de sangue, tais como mosquitos e flebótomos, nos quais apenas a fêmea se alimenta de sangue, os dois sexos e todas as fases imaturas dos triatomíneos alimentam-se de sangue (GALVÃO, 2014). Algumas espécies podem defecar durante ou logo após a alimentação, enquanto outras defecam após abandonar a fonte de alimento, longe do local da sucção (GALVÃO, 2014). Este fato classifica as diferentes espécies como “boas ou más” transmissoras da doença, uma vez que as formas infectantes de Trypanosoma cruzi são expelidas nas fezes dos insetos infectados (GALVÃO, 2014). Uma vez que somente os adultos têm asas e são, portanto, capazes de voar, na maior parte da vida destes insetos a locomoção ocorre através do “caminhar” dos seus abrigos até os hospedeiros (GALVÃO, 2014). Além disso, dada a estreita relação estabelecida com eles, muitas vezes, ocorrendo no interior dos ninhos, tocas ou habitação humana, os adultos não precisam voar para chegar a uma fonte de alimento (GALVÃO, 2014). Figura 5: T. cruzi Figura 6: Barbeiro Figura 7: Ciclo do T. cruz Fonte: Bioneogênios (2014) Fonte: Fiocruz (2009) Fonte: CNM (2019) As leishmanioses são doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania e estão presentes em 98 países ou territórios (PIMENTA et al., 2012). Mais de 350 milhões de pessoas estão em áreas de risco e, a cada ano, 500 mil desenvolvem a forma visceral e 1,5 milhões a forma tegumentar da doença (PIMENTA et al., 2012). Ocorrências de mais de 90% dos casos são registradas nos países da África, Ásia e América Latina. Os dados mais antigos sobre as leishmanioses nas Américas são possivelmente do Peru, da época dos Incas (PIMENTA et al., 2012). Achados arqueológicos desse período já mostravam deformidades semelhantes às lesões destrutivas de narinas e lábios em humanos, sugerindo que foram causadas pelas leishmanioses cutâneas. Portanto, a leishmaniose tegumentar americana é considerada autóctone do continente americano (PIMENTA et al., 2012). O protozoário Leishmania - Durante o século XIX, Cunningham, Borovsky, Leishman, Donovan, Whright, Linderberg e Vianna, em pesquisas independentes, identificaram o protozoário como causador de leishmanioses, sendo que em 1903, Ronald Ross, um pesquisador militar inglês, deu o nome genérico Leishmania (PIMENTA et al., 2012). Protozoários parasitos do gênero Leishmania são membros da família Trypanosomatidae (ordem Kinetoplastida) que compreendem organismos unicelulares caracterizados pela presença de um flagelo e de uma organela rica em DNA, o cinetoplasto (PIMENTA et al., 2012). A Leishmania possui duas formas principais: os amastigotas intracelulares - células ovóides, imóveis e sem flagelo aparente encontradas em fagócitos mononucleados de mamíferos e os promastigotas - células alongadas, flageladas e com grande mobilidade encontrada exclusivamente no intestino do vetor (PIMENTA et al., 2012). As formas genericamente denominadas “promastigotas” são facilmente cultiváveis e, portanto, as mais estudadas. Deve ser ressaltado que durante o ciclo de vida no inseto vetor, “morfotipos” distintos de promastigotas estão presentes como será discutido posteriormente (PIMENTA et al., 2012). Quanto aos amastigotas, é também possível cultivá-los infectando macrófagos e outras células de mamíferos, entretanto, na ausência de células hospedeiras exige condições apropriadas dependente das espécies de Leishmania (PIMENTA et al., 2012). O inseto vetor - A associação de doenças em humanos com insetos é conhecida desde os tempos antigos. Registros históricos sugerem que eles são reconhecidos como transmissores das leishmanioses nas Américas desde 1764, quando habitantes dos Andes Peruvianos diziam que a doença era causada pela picada de um pequeno inseto chamado “Uta” (PIMENTA et al., 2012). No Brasil, dependendo da região geográfica, eles são popularmente conhecidos como: “mosquito palha”, “birigui”, “flebótomo”, “asa dura”, “asa branca”, “cangalhinha” ou “provarinho” (PIMENTA et al., 2012). Pimenta et al. (2012) acredita que a maioria destes nomes populares dados aos flebotomíneos tem relação com as suas características físicas ou comportamentais (por exemplo: mosquito palha = cor do inseto; cangalhinha = posição do tórax semelhante a uma “cangalha”; asa dura e asa branca = características das asas; “provarinho” = ato de “provar” a pele antes de picar os hospedeiros, etc.). Segundo Beaty & Marguardt (1996) apud Bastos (2016), a primeira descrição científica de um flebotomíneo (Diptera, Insecta, Psychodidae, Phlebotominae) foi feita por Philippo Bonanni em 1691, em Roma. Entretanto, a evidência experimental da transmissão de protozoários do gênero Leishmania pela picada de uma fêmea só ocorreu por Shortt e colaboradores em 1931 (BASTOS, 2016). Desde então, eles são considerados os únicos insetos comprovadamente capazes de transmitir a doença. Atualmente, é possível encontrar na literatura informações escassas sobre o possível papel de outros artrópodes na transmissão de leishmanioses, mas nada ainda é conclusivo (PIMENTA et al., 2012). Os flebotomíneos são distribuídos em dois gêneros de acordo com a sua morfologia e a sua distribuição geográfica: Phlebotomus (Velho Mundo) e Lutzomyia (Novo Mundo). A maioria das espécies está presente nas regiões tropicais e subtropicais sendo poucas