Buscar

Meditação e Neurociência

Prévia do material em texto

1 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
Meditação e Neurociência 
História da meditação. 
 
A palavra meditação vem do Latim, meditare, e significa ir para o centro, no sentido de desligar-se do 
mundo exterior e voltar à atenção para dentro de si. 
A meditação é uma forma de prática contemplativa baseada no treinamento da atenção, envolvendo a 
observação sustentada de fenômenos no campo de consciência, com fins diversos. 
 
Meditação, no contexto em que a utilizamos aqui, refere-se inicialmente a uma variedade de práticas de 
contemplação originadas em tradições espirituais de diversas sociedades e culturas, assumindo especial 
importância no continente asiático. 
 
Ao longo dos milênios, técnicas meditativas vem sendo empregadas em diversas tradições e linhagens 
internas, como o Budismo, Vedanta, Yoga, e Taoísmo (GOLEMAN, 1997). Em cada uma destas escolas, a 
meditação se constitui como uma das práticas mais importantes para os que almejam trilhar o caminho 
espiritual. 
 
A meditação é uma prática muito antiga, com origem nas tradições orientais, estando especialmente 
relacionada às filosofias da yoga e do budismo. Ao que parece, vêm da China e da Índia os mais antigos 
relatos sobre meditação, datando de cerca 1.500 a.C. na filosofia Vedanta do hinduísmo, e em torno de 
500-600 a.C. com os taoístas na China. Em 500 a.C. o budismo começa seu legado através dos 
ensinamentos deixados por Sidharta Gautama, o Buda. 
 
Seu objetivo é compreender o que antes não compreendíamos, ver o que antes não víamos e estar onde 
nunca estivemos em relação a um objeto ou sujeito (MOHAN, 2003). Levando a pessoa a tornar-se atenta, 
experimentar o que a mente está fazendo enquanto ela o faz, estar junto com a própria mente e 
desenvolver o autoconhecimento e a consciência. Observa-se os pensamentos, para que seu fluxo seja 
progressivamente reduzido. O que parece simples é extremamente complexo para algumas pessoas, 
principalmente os ocidentais, tão ligados ao que pode acontecer e não ao que está acontecendo. 
 
Preparação para a meditação 
 
Em alguns aspectos, cada método de meditação é como todos os outros, como alguns outros e como 
nenhum outro. 
O primeiro nível é o das propriedades comuns a todos os tipos de meditação. Aqui não levamos em conta 
as variações da técnica, da ênfase ou da crença de qualquer um dos sistemas. Nesse nível, todos os 
 
2 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
sistemas são variações de um único processo que tem como objetivo transformar a percepção. Os 
elementos centrais desse processo se encontram em cada sistema, e as suas peculiaridades determinam 
diferenças marcantes entre as várias escolas de meditação. 
 
Há pelo menos um fundamento comum entre os sistemas de meditação para a preparação exigida do 
praticante de meditação. Os sistemas de meditação representam o amplo espectro das atitudes de que a 
pessoa que medita necessita para se preparar para algum tipo de purificação. Eles vão desde a insistência 
enfática na purificação como uma introdução à meditação, expressa em algumas tradições ,como a 
cabalista e a cristã bhakti, cabalista, cristã e sufi, à concepção de Gurdjieff e Krishnamurti de que tais 
esforços são inúteis se para eles for necessário sair das situações normais da vida. Finalmente, há a idéia, 
por exemplo, entre as escolas da meditação transcendental e zen, de que a pureza que se origina 
espontaneamente, como um subproduto da própria meditação, visto nas escolas de meditação 
transcendentais e zen 
 
O melhor ambiente para a meditação também pode variar muito. Os Pais do Deserto retiravam-se para 
os ermos do Egito, a fim de evitar os lugares públicos e a companhia mundana. A solidão hermética era 
essencial para o seu severo programa de autodisciplina. Os modernos iogues hindus procuram montanhas 
isoladas e refúgios nas matas pelos mesmos motivos. Versões ocidentalizadas da ioga hindu, como a 
meditação transcendental, porém, se opõem a qualquer mudança forçada nos hábitos de vida daquele 
que medita. Em vez disso, a meditação é inserida no esquema normal diário. 
 
A prática zen intensiva é feita de preferência num ambiente monástico, mas, como a meditação 
transcendental, pode fazer parte do dia-a-dia normal da pessoa que medita. Tanto Gurdjieff como 
Krishnamurti insistem que os ambientes da família, do trabalho e dos lugares públicos são o melhor 
contexto para a disciplina interior, fornecendo o material bruto para a meditação. Nos sistemas mais 
clássicos de meditação, contudo, um mosteiro ou ashram é o melhor dos ambientes para a meditação, os 
monges e os iogues são as companhias ideais, o papel da renúncia é a melhor escolha e as Escrituras a 
melhor leitura. 
 
Uma Tipologia Reflexiva Aplicada de Técnicas de Meditação 
 
A meditação treina a capacidade de prestar atenção. Isso a diferencia de muitas outras formas de 
relaxamento que permitem que a mente divague à vontade. Esse aguçamento da atenção dura além da 
própria sessão de meditação. 
 
O ponto de concordância mais forte entre as escolas de meditação é o da importância de se reexercitar a 
atenção. Todos esses sistemas podem ser classificados, a grosso modo, em termos de suas estratégias 
principais para o reexercício da atenção descritas no Visuddhimagga: concentração ou estado consciente. 
 
3 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
 
A tabela na página seguinte classifica técnicas de cada sistema de meditação, de acordo com a tipologia 
Visuddhimagga. O critério de classificação é a mecânica da técnica: concentração, na qual a mente se 
concentra num objeto mental fixo; estado consciente, no qual a mente observa a si mesma; ou ambas as 
operações presentes em uma combinação integrada. 
 
Na concentração, a estratégia de quem medita é fixar o foco em um único preceito, fazendo sempre a 
mente dispersiva voltar para o seu objetivo. Algumas instruções para se conseguir isso insistem na 
importância de uma afirmação ativa da vontade da pessoa que medita em se manter presa ao objeto da 
percepção e resistir às divagações. Outras sugerem um modo passivo de simplesmente voltar ao objeto 
de percepção quando ele se perder no meio de pensamentos estranhos.Na meditação transcendental, 
por outro lado, a pessoa deve "suavemente reiniciar o mantra" cada vez que perceber que sua mente 
divagou. Apesar de essas abordagens serem opostas, elas têm como propósito único a concentração e, 
portanto, desenvolvem a agudeza da percepção. 
 
A maioria das escolas é eclética, usando uma variedade de técnicas de ambas as abordagens. Elas fazem 
concessões para necessidades individuais, moldando técnicas para o progresso do estudante. Sistemas 
diferentes de meditação podem adotar pontos de vista totalmente contraditórios entre si para as 
exigências de cada ato preparatório, sejam elas um ambiente específico, a necessidade de um professor 
ou o conhecimento prévio do que esperar da meditação. O único ingrediente que não varia é a 
necessidade de que a pessoa que medita retenha a sua atenção ou através da concentração ou do estado 
consciente. 
 
Aspectos neurofisiológicos da meditação 
 
Referência: Danucalov, Marcello Arias Dias; Simoes, Roberto Serafim. Neurofisiologia da Meditação. 1ª 
edição. Brasil. Phorte Editora; 2009. 
 
Durante as práticas religiosas contemplativas, ou seja, as que exigem um alto grau de atenção devido ao 
aumento da ativação no CPF, é possível apreciar um concomitante aumento na ativação do núcleo 
reticular do tálamo. A literatura especializada tem afirmado que o aumento da atividade neuronal 
talâmica, em princípio, é geral e proporcional aos padrões de ativação do CPF. Se esta atividade do CPF 
causa um aumento daquela do núcleo reticular do tálamo durante práticas religiosas contemplativas, este 
resultado deve produzir uma diminuição na entrada de informação do LPPS, podendo o indivíduo perder 
o seu senso espacial habitual e, com isso, a delimitação doseu próprio eu no espaço. Ao perder a noção 
de finitude espacial, o indivíduo poderia experimentar estranhos fenômenos, como sentir-se de um 
tamanho ou de uma pequenez enorme ou, também, sentir-se inexistente (vazio). Inúmeros estudos, por 
 
4 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
exemplo, têm demonstrado um aumento nas concentrações séricas do GABA durante a meditação, 
possivelmente como reflexo dos aumentos na liberação central deste neurotransmissor. 
 
O aumento da atividade parassimpática pode estar associado com à sensação subjetiva de relaxamento 
e, eventualmente, a uma profunda “inatividade”. A ativação deste sistema nervoso autônomo ainda 
produz reduções das frequências cardíaca e respiratória. 
 
A ativação do sistema nervoso autônomo durante atos religiosos é percebida na diminuição da frequência 
cardíaca, respiratória, metabólica e da pressão arterial, fatos estes que podem resultar na estimulação de 
outras estruturas cerebrais. As estimulações da parte lateral do hipotálamo, por exemplo, podem implicar 
em alterações na atividade do neurotransmissor serotonina (5-HT), diminuindo seus receptores e, 
consequentemente, aumentando sua concentração livre. 
 
Também durante a meditação, especificamente, as concentrações plasmáticas da melatonina tendem a 
aumentar, assim como se observa haver metabólitos da melatonina na urina, logo após as práticas 
religiosas introspectivas. Isso poderia contribuir para o aparecimento de sensações de tranquilidade, além 
de uma menor consciência dos estímulos dolorosos. É lícito então supor que a glândula pineal possa 
também estar envolvida nos atos religiosos contemplativos. 
 
Atualidades: 
 
Meditação e COVID-19 
 
Existe uma nova necessidade de identificar estratégias que ajudem a prevenir e tratar a infecção por SARS-
COV-2, e a medicina chinesa e ayurvedica ajudaram nesse processo. 
 
Algumas práticas complementares podem ser meios auxiliares úteis de tratamento ou prevenção da nova 
doença e na redução da severidade do COVID-19, incluindo os efeitos colaterais e sequelas. Apesar de 
ainda ser muito especulativo para essa situação, existem estudos na literatura que falam acerca dos 
efeitos anti-inflamatórios e anti-estresse de certas práticas de meditações sentadas. esses estudos 
incluem a demonstração de efeitos imunes promissores relevantes para a melhoria da saúde pulmonar e 
reduzir a susceptibilidade viral e melhorar as infecções respiratórias agudas. Esses potenciais benefícios 
das práticas se estendem para o sistema neuroimune, uma vantagem quando se tratando de uma doença 
com uma desregulação sistêmica, como o COVID-19. Essas práticas complementares têm sido 
descobertas. 
 
 
5 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
Um pesquisador descobriu, há alguns anos, que a inflamação pode ser controlada por uma estimulação 
no complexo do nervo vago, que também controla respostas ao estresse psicossocial e a estimulação que 
pode reverter a resposta de “luta ou fuga” em uma resposta de relaxamento. Foi descoberto que a 
meditação, assim como yoga, é capaz de aumentar significativamente o tom vagal, podendo ser efetivo 
contra questões de estresse psicológico e doenças inflamatórias. 
 
Bower et. al mostrou que 20 minutos de meditação mindfulness por 6 semanas resultou em uma 
diminuição da transcrição de alguns agentes inflamatórios e aumento de receptores anti-inflamatórios, 
ligado ao tratamento do SARS-COV-2. 
 
Outros estudos mostraram que houve redução de níveis circulantes de IL-12 (pró-inflamatória) e aumento 
de IL-10 (anti-inflamatória). Além disso, uma outra pesquisa refere que meditação e yoga podem 
aumentar a liberação de melatonina, a qual aparenta ter a capacidade de regular o sistema 
antiviral/imune de acordo com o estado do meio ambiente em que está presente. Em outras palavras, a 
melatonina bioquimicamente detecta a natureza inflamatória e / ou viral (ou mais geralmente infecciosa) 
de seu meio interno e, então, parece gerar os efeitos necessários para se adequar à situação, a partir de 
seu amplo repertório pleiotrópico de efeitos potenciais. 
 
Meditação e SUS: 
 
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), publicada em 2006, instituiu no 
SUS abordagens de cuidado integral à população por meio de outras práticas que envolvem recursos 
terapêuticos diversos. Desde a implantação, o acesso dos usuários tem crescido. O Brasil é referência 
mundial na área de práticas integrativas e complementares na atenção básica. É uma modalidade que 
investe em prevenção e promoção à saúde com o objetivo de evitar que as pessoas fiquem doentes. 
 
As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são tratamentos que utilizam recursos terapêuticos 
baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças como depressão e 
hipertensão. Em alguns casos, também podem ser usadas como tratamentos paliativos em algumas 
doenças crônicas. 
 
As Práticas Integrativas e Complementares estão presentes em quase 54% dos municípios brasileiros, 
distribuídos pelos 27 estados e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras. 
Dentre as praticas incluídas no atendimento pelo SUS estão: 
• Aromaterapia 
• Ayuerveda 
• Constelação Familiar 
• Medicina tradicional chinesa → acumputura 
 
6 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
• Meditação 
• Musicoterapia 
• Fitoterapia 
• Quiropraxia 
• Reiki 
• Terapia de florais 
• Yoga 
 
Curiosidades: 
 
Efeitos de um curso de meditação de atenção plena em estudantes da saúde no Brasil: 
 
Os estudantes de saúde geralmente experimentam altos níveis de estresse durante a vida acadêmica, que 
podem resultar em sentimentos de autocrítica e baixa autoestima. O sofrimento psicológico vivenciado, 
combinado a sentimentos negativos, tem forte impacto na qualidade de vida e pode levar a alterações de 
humor, desespero e ansiedade. 
 
Um estudo propõe um curso eletivo de 9 semanas, na qual visava o desenvolvimento de um entendimento 
de espiritualidade e neurociências para esses estudantes. Os resultados: os estudantes do grupo de 
estudo relataram os efeitos benéficos da meditação na redução da ansiedade e apresentaram escores 
mais baixos no afeto negativo, especificamente medo e hostilidade. O estresse percebido também foi 
menor entre esses estudantes, que descobriram a origem de sua ansiedade na dificuldade de viver o 
momento presente e constante antecipação de problemas futuros. Eles se tornaram mais conscientes de 
suas emoções e perceberam a importância de saber como lidar com elas e aceitá-las. 
 
Por que meditar? A experiência subjetiva da prática de meditação 
 
Afinal, por que meditar? Através de um estudo feito, os entrevistados afirma que a prática meditativa trás 
uma série de resultados positivos, como benefícios emocionais, cognitivos, físicos, espirituais e sociais, 
porém predominaram as respostas relacionadas às áreas cognitiva e emocional, (Chambers et al., 2008; 
Jain et al., 2007; Tang et al., 2007). palavras que os entrevistados usaram para caracterizar sensações que 
a meditação traz foram maior consciência, calma, concentração, foco, atenção plena, autoconhecimento, 
bem-estar, aceitação, senso de interconexão e menor ansiedade. 
 
A influência do tempo de prática pode ser importante, assim, quanto maior for o treino em meditação, 
maior poderá ser a capacidade do indivíduo de se autorregular positivamente e, possivelmente, de forma 
mais automática, sem estar, necessariamente, consciente do processo. 
 
7 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
 
 Diante de todo este ritmo em que vivemos, falar sobre meditação pode trazer a sensação de 
perda de tempo ou até mesmo causar estranheza, pois todos têm que estar conectados o tempo todo, e 
talvez o que falte ao mundo moderno seja desligar o piloto automático das reações e refletir a respeito 
de práticas que evoluíram ao longo dos séculos, auxiliando no processode autoconhecimento, 
determinação de objetivos e melhora na qualidade de vida, de uma forma natural. Desta forma, 
concluímos que o encontro entre o passado milenar (através da meditação e práticas semelhantes) e os 
avanços tecnológicos pode ser muito produtivo, potencializando a capacidade de criar e recriar, através 
da busca pela melhora e pelo equilíbrio na qualidade de vida. 
 Por fim, com base na predominância de benefícios cognitivos e emocionais, sugere-se que a 
prática meditativa pode se constituir como uma ferramenta útil à neurociência. 
 
Contribuições do mindfulness às condições médicas: uma revisão de literatura. 
Meditação e tratamento das doenças (PABLA E TOMÁS) 
A maior parte dos estudos que utilizaram follow-up (21) demonstraram a manutenção dos ganhos com o 
uso do Mindfulness ao longo do tempo. Conclui-se que programas baseados em Mindfulness podem atuar 
como aliados aos tratamentos tradicionais já aplicados a diversas condições médicas. 
O câncer foi a mais frequente, seguida por diabetes, fibromialgia, HIV, hipertensão, burnout e dor crônica. 
“Existem evidências crescentes, a partir de estudos observacionais e experimentais, incluindo ensaios 
clínicos controlados e randomizados e meta análises, de que a prática de meditação regular pode 
contribuir para a prevenção e tratamento de diversas doenças e de condições clínicas [...]”esse fato é 
justificado pelo ao aumento da qualidade de vida e redução dos níveis prejudiciais de estresse 
encontrados como principais resultados nas pesquisas realizadas sobre a temática. 
A meditação Mindfulness foi utilizada pela primeira vez de maneira sistematizada como terapia clínica no 
ocidente no final da década de 1970 por Jon Kabat-Zinn (e colaboradores), médico, budista e professor 
emérito da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos. Eles desenvolveram um programa de 
redução de estresse baseado na meditação Mindfulness denominado Mindfulness-based Stress 
Reduction(MSBR) 
Atualmente, o MBSR ocorre em encontros semanais, também em grupo, de duas horas e meia durante 
oito semanas, conforme formato original. Ao longo desse período são realizadas atividades como: prática 
de meditação guiada, alongamento e prática de yoga, discussões e diálogo em grupo voltadas para 
aumentar a percepção durante a vida diária, instruções individuais e tarefas a serem realizadas em casa 
(Miró, 2006). 
 
8 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
Porém, o Mindfulness ainda não é reconhecido em todas as esferas de saúde. A terapia medicamentosa 
ainda é o tratamento mais comum e visto como mais eficaz no ocidente. Além disso, esse tipo de 
intervenção também oferece alívio aos sintomas de maneira relativamente rápida, o que aumenta riscos 
como a utilização compulsiva de medicações, o sofrimento por efeitos colaterais e reações adversas que 
podem superar as vantagens do seu uso e a automedicação (Leite, Vieira & Veber, 2008). 
O MBSR vem em corrente contrária a esta visão medicamentosa que prima pela fuga dos sintomas. Kabat-
Kinn (1982) comenta sobre a utilização de medicação para o tratamento da dor crônica e como 
pensamentos e sensações aversivas ligadas ao “sentir” a dor podem desaparecer pela ação de observar a 
estimulação dolorosa e se deixar senti-la, ao invés de combatê-la com um coquetel de analgésicos que 
farão efeitos por tempo determinado. 
Quanto à relevância específica em condições médicas, o Mindfulness tem sido aplicado em diferentes 
grupos com resultados satisfatórios (Baer, 2003; Kabat-Zinn, 2003; Pareja, 2006; Peréz & Botella, 2006; 
Pastor, 2009). 
Desse modo, investigações sobre Mindfulness no Brasil podem contribuir para que profissionais da saúde 
o conhecem e possam incorporá-lo a sua prática, uma vez que no país já existem diversas instituições que 
promovem o treinamento em Mindfulness, no caso: “Centro Cearense de Mindfulness” (Fortaleza), 
“Centro de Vivência em Atenção Plena” (São Paulo), “Centro de Mindfulness e Redução de Estresse” (Rio 
de Janeiro), “Iniciativa Mindfulness” (São Paulo e Porto Alegre), “Instituto Brasileiro de Mindfulness” 
(IBMID - São Paulo), “Instituto Sedes Sapientiae” (São Paulo), “Mente Aberta” (Centro Brasileiro de 
Mindfulness e Promoção da Saúde da Universidade Federal de São Paulo) e “Sociedade Vipassana de 
Meditação” (Brasília). 
 
MEDITAÇÃO E DOENÇAS CARDIOVASCULARES 
Os estudos mostraram reduções significativas das pressões arteriais sistólica e diastólica, principalmente 
em pacientes com hipertensão ou pré-hipertensão. Essas práticas integrativas resultaram também em 
melhora na saúde mental, como ansiedade, depressão, angústia e estresse em pessoas com condições 
relacionadas a doenças cardiovasculares. 
Sobre o estudo, incluiu revisões sistemáticas nos idiomas inglês, espanhol e português e teve como 
pergunta: Qual a eficácia/efetividade e segurança do uso complementar da meditação/mindfulness para 
o tratamento de doenças cardiovasculares na população adulta e idosa? 
Em uma revisão sistemática que avaliou os efeitos de MT e mindfulness em pacientes com pré-
hipertensão ou hipertensão estágio 1 ou estágio 2, a meditação diminuiu a pressão arterial sistólica (PAS) 
em pacientes pré-hipertensos e estágio 1 e a pressão arterial diastólica (PAD). No que diz respeito aos 
participantes idosos, para aqueles na faixa etária de 60 anos não houve diminuição significativa da PAS ou 
PAD. Já nos de 70 anos ou mais houve redução acentuada tanto na PAS quanto da PAD. O mecanismo de 
 
9 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
ação propõe um efeito sobre o controle reflexo do sistema cardiovascular via adaptação de receptores de 
estiramento pulmonar e a resposta barorreflexa. A respiração lenta também pode resultar em aumento 
da atividade parassimpática e tônus vagal e/ou redução do simpático ativação como resultado da 
atenuação do RSA (arritmia sinusal respiratória) conforme observado em estudos de freqüência cardíaca. 
No entanto, embora alguns estudos demonstram reduções concomitantes na pressão sanguínea e 
frequência cardíaca após treinamento de respiração lenta, outros não. 
MEDITAÇÃO E ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) 
Os avaliaram o impacto do mindfulness em doentes e/ou cuidadores ELA, sendo os benefícios mais 
frequentes a melhoria da qualidade de vida e a diminuição da ansiedade e da depressão. 
 
 
Burden = exaustão. 
Interessante é ainda notar que o bem-estar de um doente ELA está muito relacionado com a qualidade 
de vida do seu cuidador (Pagnini et al., 2011), podendo haver um benefício bidirecional: “uma melhoria 
na condição do doente pode reduzir a exaustão do cuidador e, por sua vez, melhorar o bem-estar do 
doente” (Pagnini et al., 2014, p. 273) 
 
MEDITAÇÃO E DOR 
Quem tem a meditação como hábito sente menos dor. O pesquisador Joshua Grant, do Departamento de 
Fisiologia da Universidade de Montreal comprovou esta hipótese encostando placas aquecidas nas nucas 
 
10 Grupo 2 – Meditação e Neurociência 
de 26 pessoas, 13 delas sem contato com a técnica e outras 13 com mais de 1000 horas de experiência 
em meditação. A placa era aquecida a 46 graus, depois 47, e assim sucessivamente, até 56. Todos os 
meditadores suportaram temperaturas acima dos 52 graus. 
Nenhuma das pessoas inexperientes aguentou mais do que 50 graus. Na medida, o grupo que medita 
respirou 12 vezes por minuto. O outro respirou 15 vezes, um indício de stress maior. "As pessoas que 
meditam precisam menos de analgésicos. Elas sofrem menos pela antecipação da dor", diz Grant, que, no 
cruzamento de dados, concluiu que o hábito de meditar provocou uma resistência à dor 18% maior. De 
acordo com um grupo de neurocientistas do Center for Investigating Healthy Minds da Universidade de 
Wisconsin-Madison, a resistência de quem medita é maior em situações em que o stress influencia 
diretamente no nível de dor – caso de artrite e inflamações intestinais. 
O sistema imunológico também é favorecido. "Oaumento da atividade cerebral relacionada a 
pensamentos positivos tem influência direta na maior produção de anticorpos. A meditação também 
intensifica a ação da enzima telomerase", diz Judson A. Brewer, de Yale. As implicações desta descoberta 
são fundamentais para o tratamento de tumores malignos. A Associação Americana de Urologia já 
declarou que a meditação é recomendada para ajudar a conter o câncer de próstata. 
Também ajuda a lidar com o câncer de mama. Um grupo de 130 mulheres com a doença, todas com mais 
de 55 anos, aceitaram participar de um teste que reforça esta teoria. Ao longo de dois anos, elas foram 
divididas em dois grupos, um deles fazendo meditação. A situação foi monitorada pelos médicos do Saint 
Joseph Hospital, em Chicago. A metade que meditou teve maior resistência para lidar com as dores 
provocadas pela quimioterapia e experimentou uma reação física melhor à doença. 
MEDITAÇÃO E CÂNCER 
Câncer devido à prevalência e incidência → problema importante de saúde pública. 
Foi observada a eficácia do mindfulness em mulheres com câncer de mama, que é caracterizado por 
aspectos negativos, incluindo sintomas físicos, mentais e psicológicos. Os sintomas psicológicos mais 
prevalentes são estresse, ansiedade, depressão e função cognitiva prejudicada, bem como sintomas 
físicos como dor, distúrbios do sono e fadiga, que pode desencadear medo da morte, recorrência, 
alteração da imagem corporal e diminuição do bem-estar, entre outros. 
Muitos pacientes com câncer de mama recorrem a terapias complementares para lidar com os sintomas 
da doença. A meditação é uma das alternativas complementares que influenciam positivamente a 
reabilitação ao reduzir a dor, o estresse, a ansiedade, a depressão, a fadiga e até mesmo os efeitos 
colaterais causados pelos tratamentos medicamentosos. Estudos mostram muitos benefícios da 
meditação para pacientes com câncer de mama, como diminuição do estresse e ansiedade, melhora dos 
fatores psicossociais, qualidade do sono e perspectiva de vida e sentimentos de empoderamento, 
competência, força pessoal, sensação de calma, serenidade e equilíbrio.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes