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Emergências Pediátricas - 7º semestre - UniFTC Nícia Torres Estrela Coma em Crianças: CONCEITO: Estado agudo de inconsciência no qual a pessoa não pode ser despertada. Não consegue perceber o ambiente. Pode entrar num estado vegetativo persistente (percebe o meio, mas não consegue se a expressar a isso). Consciência: estado de alerta, com percepção do meio ambiente e de si mesmo. O paciente que sai do estágio de coma pode curar/melhorar (com sequela ou não), vir a óbito ou entrar no estado vegetativo persistente. EPIDEMIOLOGIA: Emergência médica, principalmente neurológica, mais importante → junto com o mal convulsivo. Intervalo entre diagnóstico e intervenção curto → Junto com o mal convulsivo, à medida que é diagnosticado o coma, deve-se tratá-lo imediatamente. Incidência → coma traumático (TCE, por exemplo) é muito mais frequentes do que o coma não traumático. Meningoencefalite → uma da principais causas infecciosas FISIOPATOLOGIA: Estado de consciência pleno: SARA (Sistema Reticular Ativador Ascendente) funcionando adequadamente. ● Formação reticular: diencéfalo → ponte e bulbo → córtex cerebral bilateral Estado de inconsciência e coma: comprometimento estrutural da conexão entre os núcleos responsáveis pelo estado de vigília no diencéfalo e no tronco encefálico para o córtex. Causas não estruturais: ● Lesões ● Substâncias; ● Acometimento difuso do córtex e alteração: seja metabólico, infeccioso (meningoencefalite), por hipóxia, sangramentos, HSA, etc ESTADOS DE CONSCIÊNCIA: Sonolência ou letargia: paciente acordado com estímulos brandos e verbais Estupor: paciente acordado com estímulos vigorosos, dolorosos (manobras de dor) e repetidos para despertar. Estágio pré-coma. Coma: ausência de resposta a estímulo. Delirium: desorientação, déficit de atenção, irritabilidade e alterações da percepção de estímulos sensoriais (alucinações visuais). Quadros metabólicos (intoxicações) e doenças psíquicas. Demência: perda permanente e progressiva das funções cognitivas (principalmente da memória), sem alteração do estado de alerta ou nível de consciência (substância reticular está preservada). Estado vegetativo: padrão de sono-vigília e manutenção das funções vegetativas, mas com quase completa ausência de funções cognitivas. Costuma suceder o estado de coma: o paciente em coma (evento agudo) pode se manter vivo e estabilizar clinicamente, mas as funções cognitivas são perdidas. Emergências Pediátricas - 7º semestre - UniFTC Nícia Torres Estrela Morte encefálica: lesão encefálica irreversível com repercussões sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais, com danos permanentes estruturais focais ou difusos no encéfalo. O paciente se mantém vivo graças à função do bulbo. ETIOLOGIA: Alterações simétricas e não estruturais: ● Intoxicações: chumbo, metanol, CO ● Drogas: álcool, sedativos, barbitúricos, anfetaminas ● Metabólica: hipo e hipernatremia, hipo ou hipercalcemia, hipo e hiperglicemia, hipoxia, hipercapnia, uremia, encefalopatia hepática, hipo ou hipertermia graves ● Infecções: meningite e encefalite ● Quadros psiquiátricos; ● Causas acidentais: trauma encefálico, afogamento, aspiração de corpo estranho, PCR ● Outras causas metabólicas: aminoacidemia, hiperamonemia, porfiria, crise addisoniana, hipotireoidismo Alterações estruturais, simétricas e focais: ● Supratentoriais bilateral: oclusão carotídeas, cerebral anteriores; hemorragia subaracnoidea; hidrocefalia ● Infratentoriais bilateral: tumor de ponte, hemorragia pontina, oclusão de basilares Alterações estruturais, assimétricas e focais: ● Supratentoriais: tumor hemisférico, sangramento parenquimatoso cerebral ● Infratentoriais: infarto de tronco, hemorragia de tronco AVALIAÇÃO: Avaliação primária: ● ABCDE: ○ A: posição de conforto, cabeceira elevada. Queda de base de língua? → Cânula orofaríngea (Guedel). ○ B: avaliar o drive respiratório satisfatório e o tipo de respiração (existem respirações específicas de lesões do tronco cerebral). ○ C: o paciente está em estado de choque? Acesso venoso, iniciar a reposição volêmica, avaliar a PA e a pulso perfusão. ○ D: avaliar a disfunção neurológica. Fazer o AVDN (no estágio de coma, o paciente não vai responder a nada – N). ● Monitor cardíaco ● Oximetria de pulso Avaliação secundária: ● Histórico com anamnese detalhada: doenças prévias, tratamento e medicação atuais, risco de intoxicação, parto, história de falta de oxigênio/anóxia, dados sugestivos de infecção recente ● Exame físico específico: sinal sugestivo de infecção? Avaliação terciária: exames laboratoriais (essenciais para a confirmação diagnóstica no coma) e exames de imagem Disfunção - Avaliações convencionais: ● Escala de resposta pediátrica – AVDN (alerta, voz, dor, nenhum) ○ Nenhum: não responde a nenhum estímulo → COMA ● Escala de Coma de Glasgow ○ Lactentes: avaliação é feita com o choro, com o sorriso, sons emitidos, etc, através de uma escala modificada ● Resposta das pupilas à luz: pupila midriática? Anisocórica? Puntiforme? ● Exame neurológico específico: importante nos casos de coma profundo (coma de Glasgow 3). Esses testes específicos avaliam se o tronco encefálico está vivo ou não, e se o paciente tem um dano irreversível que possa gerar morte encefálica Emergências Pediátricas - 7º semestre - UniFTC Nícia Torres Estrela ○ Reflexo oculocefálico: avalia o tronco encefálico ■ Reflexo normal: olho tende a movimentar-se para o lado oposto ao movimento da cabeça; ■ Reflexo alterado (“movimento dos olhos de boneca”): os olhos acompanham o mesmo sentido do movimento da cabeça. ○ Reflexo calórico: injeta-se o soro gelado no canal auditivo, que atinge a membrana timpânica. ■ Reflexo normal: olho desvia para o local onde está sendo injetado o soro. ■ Reflexo alterado: assimétrico (apenas um olho desvia –> comprometimento de um lado da conexão) ou nenhuma resposta de desvio (comprometimento total dos núcleos) ○ Reflexo córneo-palpebral: testa a conjuntiva através de algodão ou gaze. ■ Reflexo normal: paciente piscará o olho. ■ Reflexo alterado: comprometimento dos núcleos do tronco → paciente não pisca. ○ Avaliação das pupilas: o ambiente deve estar um pouco menos iluminado. Realizar o reflexo direto e o reflexo consensual. Lesão da ponte → pupilas puntiformes ■ Isocóricas: normais ■ Mióticas: lesões no SNC, uso abusivo de drogas (álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos) ■ Midriáticas: anóxia, hipóxia severa, inconsciência, estado de choque, PCR, TCE → lesões do mesencéfalo ■ Anisocóricas: AVC, TCE → É necessário intervir imediatamente, para tentar reduzir a PIC e o efeito de massa Avaliação motora: ● Postura: ○ Flácida/hipotônica: lesão completa de tronco cerebral. ○ Postura de descerebração: hipertonia lesão mais baixa (nível da ponte), postura extensora (Glasgow 2). Mais grave. ○ Postura de decorticação: lesão é mais superior (final do mesencéfalo), postura flexora (Glasgow 3). Menos grave que a postura de descerebração. ● Tônus: hipotônicos sugerem tanto intoxicações exógenas, quanto estágiode coma com comprometimento de tronco encefálico. ● Força ● Reflexos: ○ Pressão na ponta do leito ungueal (mais usado nas crianças, mais efetivo) ○ Pinçamento do trapézio ○ Incisura supraorbitária e glabela (muito usado em adultos). SÍNDROMES NO COMA: Herniação transtentorial: lesão cerebral expansiva com aumento rápido da PIC. ● Efeito de massa e edema cerebral → desvio da linha média gerando herniação uncal. ● Sinais clínicos: tríade de Cushing (Hipertensão + Bradicardia + Bradpneia), postura de descerebração ou decorticação a depender do nível de lesão, respiração periódica (Cheyne Stokes, respiração apneustica), anisocoria Encefalopatia metabólica: alteração do nível de consciência que pode flutuar, muito comum nas intoxicações e abstinência por drogas. ● Sinais clínicos: delirium (alucinações visuais, auditivas), hipotonia (intoxicações), alteração de reflexos, mioclonus. Intoxicações: apresentação clínica depende do tipo de intoxicação. ● Hiperatividade adrenérgica: ansiedade, agitação, sudorese, aumento de FC e PA (taquicardia e hipertensão), rubor na pele. ○ Midríase / IAM, AVE, arritmias ○ Graves: hipertermia, rabdomiólise, convulsão ○ Ex: anfetaminas, cocaína, ergot, levotiroxina estimulam o sistema de catecolaminas. ● Anticolinérgica: hiperatividade adrenérgica + redução dos RHA / retenção urinária / tremores ○ Pele quente, seca e avermelhada (principal sinal), rubor facial, pupila midriática com RFM discreto. ○ Graves: convulsões, IrpA Emergências Pediátricas - 7º semestre - UniFTC Nícia Torres Estrela ○ Ex: ADTs, anti-histamínicos, antiparkinson. ● Hipoatividade: bradipneia, RNC, hipercapnia ○ Pupila muito mióticaopioides ○ Não miótica: álcool, BZDs, anticonvulsivantes. ● Colinérgica: Bradicardia, miose, salivação, diarreia, vômitos, broncorreia, sudorese, fasciculações. ○ Graves: IrpA, PCR, convulsões. ○ Ex: carbamatos, fisostigmia, organofosforados (chumbinho, veneno de ratos). A diferença de intoxicação por chumbinho para as demais é a salivação. Paciente com broncorreia e salivação pensar em intoxicação por chumbinho AVALIAÇÃO TERCIÁRIA: Exames laboratoriais: ● Gasometria arterial ou venosa: avaliar se há hipóxia, hipercapnia. ● Hemograma, glicemia, eletrólitos, função renal, função hepática, sumário de urina (suspeita de infecção ou cetoacidose diabética) e culturas (suspeita de infecção). Exames de imagem: TC de crânio ou RNM de crânio (realizar antes de colher líquor) ● TC: mais fácil e mais rápida. Detecta 90% das lesões. ● RM: investigação específica, como suspeita de doenças desmielinizantes. Exames específicos: ● Líquor após TC (suspeita de infecção ou doença metabólica que possa fazer lesão a nível de encéfalo), toxicológico sérico e urina (suspeita de intoxicação), dosagem de amônia (suspeita de erro inato). ● EEG (pacientes com convulsão ou na suspeita de meningoencefalite herpética ou mal epiléptico não convulsivo) PILARES DO TRATAMENTO: Avaliação e estabilização imediata: ● Definir as possíveis causas (lesão estrutural, infecciosa ou metabólica) ● ABCDE; ● Preparar para intubar quando necessário, garantir via aérea, ventilar. Avaliar profundidade do coma: com base na escala de Coma de Glasgow e na resposta motora. ● Se Glasgow 3: testar os reflexos de tronco encefálico para saber se ele está evoluindo com morte encefálica. ○ Paciente com morte encefálica: não tosse (ao estímulo de aspiração), não tem movimento respiratório nem resposta motora, as pupilas estão bastante midriáticas e não respondem à luz, e os reflexos de tronco encefálico estão ausentes. ○ Confirmação de morte encefálica: exame de imagem (EEG ou Doppler). Identificar local da lesão e pistas da etiologia Tratamento com medidas gerais e específicas ALGORITMO DO TRATAMENTO: Avaliação inicial (10s): ● Paciente sem pulso, com falência cardiorrespiratória (PCR): iniciar RCP ● Paciente com pulso: ABCDE ○ Abrir via aérea → Estabilizar cervical se trauma ○ Oxigenação ou ventilação, Oximetria, Manter sat > 94%, ○ Monitor cardíaco; Acesso venoso → Iniciar BZD se convulsão ○ IOT se GCS ≤ 8 ou falência respiratória → Se glicemia capilar < 60 push 2mlkg glicose 10% ou 25% TRATAMENTO: EMPÍRICO → confirmação etiológica é feita posteriormente. Emergências Pediátricas - 7º semestre - UniFTC Nícia Torres Estrela ● Ceftriaxone 100mg/kg/d → Associar aciclovir se suspeita meningoencefalite herpética (encefalite herpética é uma das principais presentes e é uma das causas de coma nessa faixa de idade). ○ Colher: hemocultura e o LCR só quando o paciente estiver estabilizado e com exame de imagem. ● Naloxone: 0,1 mg/kg máx 2mg se intoxicação por opioide (metadona, morfina, etc) Flumazenil se intoxicação por BZDs (antídoto benzodiazepínico) Podem ser feitos IM ou EV (preferencialmente EV). ● Manitol 0,5 a 1g/kg ou solução salina hipertônica 3% 5ml/kg se suspeita de hipertensão intracraniana, herniação transtentorial. Reduzem a PIC. Manitol age mais rápido. Podem ser feitos em bolus e repetir se necessário. ○ IMPORTANTE: manter cabeceira elevada a 30º, estabilizar PA e volemia. ● Corticoides: metilprednisolona ou prednisona 1 a 2 mg/kg/dia → tumores, abcessos, manipulação cirúrgica que gerou bastante edema, meningoencefalite. Intoxicações orais: retirar o agente causador → lavagem gástrica com carvão ativado 1 g/kg com sonda nasogástrica, usado principalmente na primeira hora de intoxicação porque depois ele perde seu valor.
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