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Resumo: Nem Tudo Era Italiano - São Paulo e Pobreza 1890-1915. Santos, Carlos José Ferreira dos. São Paulo. Annablume/Fapesp, maio de 2008. Assunto: relação entre os grupos sociais durante as transformações ocorridas na modernização da cidade de São Paulo no período de intensa imigração, além de destacar a tentativa de implementação de um modo de vida europeu e como tais mudanças se relacionaram com os modos de vidas dos nacionais e outros grupos sociais vigentes. Resumo por capítulo Introdução O presente trabalho observa as fisionomias tanto no aspecto urbano quanto cultural da formação da cidade de São Paulo. Para isso, o autor dá atenção à relação entre grupos sociais existente e sua interação com as transformações, formas de trabalho nos diferentes espaços, com a sociedade é dividida, além dos hábitos e costumes dos habitantes da cidade. Capítulo I - Os Elementos Indiscutíveis de Nosso Progresso O primeiro capítulo destaca a presença dos pobres da população e como eles interagiam com as transformações que aconteciam em São Paulo, principalmente após a abolição da escravatura e vinda de um fluxo intenso de imigrantes, sobretudo, italianos. Tal crescimento, que se associa a expansão demográfica entre 1872 a 1895, implicou em mudanças não só na estrutura da cidade, mas também na composição étnica e cultural a população que passava a englobar índios, africanos, americanos, europeus e asiáticos. Entretanto, a imigração, entendida como elemento de progresso, revelava uma vontade grupos ligados ao governo e parte intelectualizada de São Paulo de europeizar a região, ou seja, ter uma população branca e europeia e excluir da população a camada dos nacionais. Tal desejo era fortemente expresso nos anuários da época, no qual destaca a participação dos estrangeiros no desenvolvimento e inferioriza ou excluía a participação dos nacionais. Assim, mesmo que houvesse um crescimento quantitativo de negros na cidade, eles só eram destacados quando falavam de sua inferioridade. Com isso, houve uma grande polarização dos grupos sociais: por um lado, havia a parcela nacional considerados desqualificados e inferiores culturalmente e socialmente, por outro havia os imigrantes classificados como qualificados e modelo de comportamento. Devido a isso, os cargos de trabalho eram ocupados preferencialmente por imigrantes, já que os nacionais não atendiam os interesses produtivos e expectativas sociais e culturais que se esperava ter, o que revelava uma rejeição ao modo de vida dos nacionais pobres. Vale ressaltar que o modo de vida desta parcela da população tinham a sua imagem depreciada frequentemente a fim de justificar os seus modos de vida, sendo a mortes e condições ruins de saúde uma consequência dela. A não subordinação desse grupo a um comportamento desejado e a frequente depreciação da sua imagem impediu os nacionais de ocuparem áreas mais dinâmicas da economia, sendo preferencialmente ocupadas por imigrantes, como o comércio e a indústria. Porém, o argumento da desqualificação dos nacionais não condizia com os dados analisados pelo autor, já que mesmo em funções que não era exigido especialização os imigrantes eram maioria. Além disso, a não subordinação dos nacionais aos modos de vida desejados, são aspectos de um modo de marginalizado que não incorporava a ideologia do trabalho exaustivo, que era o que se esperava nesta sociedade, ou seja, não se tratava somente de uma introdução de um novo comportamento, mas sim de uma lógica de trabalho intenso que aumentava os lucros. Isso deixa visível a resistência dos nacionais que ressalta aspecto moral e civilizador do trabalho em contrapartida à barbárie e miséria resultando dessa lógica de produção que estavam tentando estabelecer. Capítulo II - Em Busca da Presença dos Nacionais Pobres: Espaços Urbanos, Trabalho, Cultura e Transgressão Neste capítulo, o autor discute como a modernização da cidade teve a intenção de especializar os espaços, além de dividir os que eram encarados como trabalhadores do que eram considerados desqualificados. Cada grupo social passa a ter um espaço vinculado ao seu trabalho, modo de vida e nacionalidade. Os que não ocupavam cargos que eram qualificados honrados eram considerados perigosos, o que revela, novamente, uma tentativa de destruir a imagem dos nacionais. Esta modernização conservadora não só mantinha como intensificava a desigualdade da sociedade. O autor analisa as fotografias feitas naquela época para entender como os sujeitos sociais interagiam e eram divulgados pela sociedade. Em espaços mais públicos e centrais quase não havia a presença de nacionais, somente em segundo plano, sendo somente destacado a presença dos imigrantes. Os nacionais, normalmente, aparecem exercendo algum trabalho, o que não condiz com o discurso de desqualificação retratado. Ou seja, os nacionais foram importantes para o funcionamento da sociedade e desenvolvimento da modernidade, entretanto tiveram suas ocupações invisibilizadas e rejeitadas por serem contrários a lógica desejada. As áreas ocupadas pelos nacionais pobres fugiam do modelo urbanístico pretendido, já que eram considerados lugares perigosos e insalubres, onde associavam a pobreza ao crime. Lugares como a Várzea do Carmo, Largo Nossa Senhora do Rosário e Sul da Sé eram exemplos de lugares ocupados pelos nacionais pobres e que viviam sob constante tentativa de controle de comportamento por parte das autoridades governamentais a fim de impedir que aquele tipo de vida se espalhasse. Capítulo III - Serviços de Negros - Na Cadência de Modas Indígenas e Africanas Neste capítulo o autor demonstra como na tentativa de sobreviver e resistir aos padrões comportamentais imposto e manter o seu modo de vida, os nacionais usavam formas criativas, como nos ofícios, trabalhos nas ruas e praças de São Paulo com manifestação cultural que exaltavam o modo de vida dos negros, índios e caipiras. Os trabalhos executados pelos nacionais não eram valorizados, mas sim invisibilizados. Entretanto, eram de grande importância para o desenvolvimento da sociedade, como no caso dos carroceiros que tinham grande importância na circulação de mercadorias e abastecimento de estabelecimentos comerciais, mercados e da população em geral. Os carroceiros eram os principais agentes no transporte, elemento indispensável para a modernidade, embora sua imagem não fosse vinculada ao progresso, mas sim ao perigo Para além do transporte, os nacionais estavam presentes nas quitandas, vendas e atuavam como ambulantes, embora sempre estivessem em segundo plano nas fotografias. O principal produto comercializado eram fruto do trabalho caseiro, e as ruas haviam as manifestações culturais de seus modos de vida de origem popular Tais ocupações eram desmerecidas e marginalizadas pelas autoridades vigentes, que tentavam estigmatizar tudo o que não era do seu controle. Devido a isso, haviam atividades que eram consideradas indignas não só pela atividade em si, mas também por quem exercia. Era os serviços de negros,que consistiam na coleta de lixo e outras que eram mal remuneradas. Tais serviços eram considerados subalternos e eram constantemente vigiados, mas eram fundamentais para o funcionamento da sociedade Considerações Finais Através desse estudo, o autor conclui que os sujeitos sociais mantendo suas formas de vida, experiência e relações de acordo com a sua cultura sempre interagiram com as transformações que aconteciam em São Paulo e com os diferentes grupos sociais. Para além disso, os nacionais foram importante para o funcionamento e desenvolvimento de modernidade, mesmo resistindo com seus modos de vida. Tese defendida pelo autor Nesta obra, o autor defende a ideia de que no projeto de modernização da cidade São Paulo foi pautada na invisibilização e marginalização dos nacionais em relação aos imigrantes, no qual o modo de vida europeu de comportamento foi implementado e desejado pelos intelectuais e autoridade vigentes. Além disso, o autor não ignora a contribuição dos imigrantes nesse processo, mas demonstra que os nacionais tiveram papel fundamental na construção da cidade e constituíram um polo de resistência aos novos padrões que tentavam se estabelecer que invisibiliza e apaga o passado da cidade. Frases que resuma ponto de vista “‘Formando a nossa nacionalidade” e “constituindo a nossa raça” sugere um desejo latente: o de reconstruir a Paulicéia inferiorizando, silenciando e excluindo aqueles que estivessem fora dos padrões socioculturais desejados ou fossem vinculados a aspectos de um passado que se desejava apagar - entre esses os nacionais pobres” (SANTOS, página 42). “Nota-se que, mais uma vez, palavras como civilização, progresso, prosperidade, modernização, europeização confundem-se com especialização dos espaços e exclusão, o que aponta não só a visão sobre a cidade como em relação ao seus sujeitos sociais” (SANTOS, página 73).
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