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que olhar para o jeito com que falamos e a situação. Até um simples “eu te amo”, ou “você é um amigo legal” pode soar o inverso dependendo da “nossa cara”, o jeito de nosso corpo, nosso tom de voz ou da situação. Isso pode parecer um “sarro”, humilhar ou criar dúvida. E mais, “a cara” tem que combinar com as palavras, ou a mensagem fica ainda mais confusa. Isso não é bom! Se alguém diz que ficou com raiva num tom de quem pede desculpas, enrolando-se como um caramujo, pode parecer que ela está mais com medo do que com raiva. Pode ter ficado magoado, por exemplo, da amiga ter contado seu segredo a outra pessoa! Então a “tagarela” pode dar com os ombros, e ela se sentirá desrespeitada mais uma vez! Temos que falar, ver como falamos, olhar para o outro sem ficar encarando ou desviando os olhos e combinar a postura, o tom de voz com as palavras. Tudo isso faz parte do comportar-se assertivamente, Sobre as conseqüências de se comportar assertivamente Se ao ler este texto, o leitor está formulando “algumas perguntas que não Expressando sentimentos e comunicando ideias 103 querem calar”, têm razão! Que tal estas: “no mundo em que vivemos, isso é sempre certo? Toda esta transparência não faz mal? Não aumenta a exposição de nossos pontos fracos? Podemos não ser entendidos? Podem se aproveitar disso para nos machucarem? A regra 6 de que ser assertivo é sempre possível, bom, necessário, adequado?”. Serão ótimas perguntas e bastante realistas! E começando pela última pergunta, podemos dizer um grande e sonoro NÃO! Ter uma comunicação mais aberta, tentar ser sempre assertivo e lutar por relacionamentos reciprocamente respeitosos é muito bom como meta, mas a cada passo, devemos avaliar as conseqüências. Muitas vezes, é melhor deixar passar algumas situações, esperar outra oportunidade para nos expressarmos, evitar algumas pessoas e situações mais do que ser assertivos com elas e assim sucessivamente. É sempre bom avaliar alternativas e as conseqüências possíveis, e fazer uma escolha. Isso também é aprendido. Por vezes, é melhor deixar de responder a uma provocação, ignorar um apelido, por exemplo, do que continuar respondendo e demonstrando que ficamos chateados, para um colega que se sente muito feliz em nos provocar irritação! Às vezes, como já dito de início, é preciso revidar a agressão! E se a criança se tornar sem-educação? Bem, deve ter sido notado que o que geralmente chamamos de falta de educação também pode ser chamado de agressividade! Geralmente, comportamentos “não-educados” também trazem certas conseqüências positivas imediatas, mas desrespeitam direitos, limites, sentimentos e pensamentos das outras pessoas. Provavelmente, a resposta alternativa à “falta de respeito” é a asserção. Assim, é preciso corrigir e redirecionar para uma forma “mais educada” de responder. Não é assertivo, por exemplo, dizer à avó de 70 anos que ela é uma chata, porque conta a mesma coisa três vezes e que nunca acerta em nos dar um presente. Se a criança age assim, é o caso de fazê-la desculpar-se, ajudá-la a refletir sobre a situação da avó e seus sentimentos e limites, e combinar uma nova forma de lidar com situações como estas. Outros exemplos são os abusos verbais que alguns infantes podem fazer com empregados da família. Neste caso, devemos interromper firmemente esta conduta e ajudar a criança a resolver o problema que tenha de forma assertiva. É possível ser assertivo com os pais e avós, professores, pessoas mais ve lhas e autoridades, funcionários etc, usando-se os mesmos critérios já colocados anteriormente. 104 FAT.O 01 .VV) FALO? Vale a pena tentar. Pessoas assertivas geralmente são mais respeitadas e valorizadas que as agressivas e passivas. A falta de assertividade ou a agressivida de não asseguram que todos vão gostar de nosso filho. Ser considerado o mais poderoso (bravo) ou bonzinho não é garantia de felicidade. Aprendendo com o Caso de Carol e sua terapeuta a fazer análise do problema junto a seu filho. A mãe de Carol, de 10 anos, diz que sua filha é iinalura, chorona e cha ta, devido aos comportamentos que apresenta em casa e com as amigas. Carol também se acha chata e se queixa muito dos comportamentos do irmão, da mãe e das amigas. Em casa, ela briga muito com o irmão (12 anos), grita muito alto quando provocada e briga muito com a mãe sem que nenhuma mudança ocorra no comportamento deles. Eles não fazem as coisas da forma como ela quer e ela fica muito brava e agride sua mãe, enquanto esta lhe dá muitos conselhos para se acalmar. Carol expressa o que sente de um modo desagradável e disfuncional. Torna-se malcriada nessas situações, e não identifica formas mais convenientes de solucionar seus problemas. Com as amigas, não fala sobre as coisas de que não gosta, pois tem medo de perdê-las e ser chamada de chata. Ouvir que é chata, imatura e chorona interfere na formação do autocon- ceito da criança. O que os outros dizem colabora para o processo de formação do autoconceito (acreditamos que somos aquilo que nossa comunidade verbal diz que somos). Ao dizer que a criança é ‘‘legal'1, agradável, boa aluna, esperta e inteligente, podemos favorecer a formação de autoconceito positivo. Ao dizer que a criança é burra, chata, desagradável e irritante, podemos favorecer a formação do autoconceito negativo para essas condições. A criança pode estabelecer novas relações e acreditar que se é burra, chata, desagradável e irritante, ninguém pode gostar dela. Carol também estabelece novas relações: se sou chata, ninguém gosta de mim, então tenho que aceitar o que Bete fala, pois assim não serei chata e não perderei minhas amigas. Carol conta que sua melhor amiga (Bete), com a qual faz tudo junto, fica muito brava quando Carol não concorda com tudo o que ela quer. Carol passou a concordar com tudo, mesmo com as coisas que lhe desagradam muito. Essa "amiga” Bete, então, passou a exigir que ela ficasse no recreio só com ela; se Expressando sen timen los e comunicando idéias 105 Caro! conversasse com outras crianças, Bete inventava para as meninas que Carol havia falado mal delas ou contava “segredos” que Carol tinha confiado só a Bete. Carol não queria mais ser amiga de Bete, mas tinha medo de dizer isso para ela. Uma vez, quando não estava mais agüentando a situação, começou a dizer para Bete que não queria mais ser sua amiga. Bete disse a Carol que se não fosse mais sua amiga, ela faria toda a classe ficar contra ela. Carol ficou com muito medo de ficar sozinha e continuou ficando no recreio, somente com Bete, e fazendo tudo que ela queria. Esse tipo de interação mostra a dificuldade de Carol em expressar seus sentimentos de modo assertivo para enfrentar a amiga controladora. Se Carol não fosse tão insegura com relação a conseguir novas amigas, teria sido capaz de não aceitar ser amiga exclusiva de Bete. Se tivesse aprendido habilidades sociais para ser agradável com as amigas, não teria medo de ficar sozinha e desta forma enfren taria Bete e conquistaria outras amigas. Bete, ao perceber que não poderia fazer de Carol sua refém, tem de fazer algumas escolhas: ou muda seu comportamento com Carol e amplia o número de amigas sem ser controladora ou continua da mesma forma e fica sem amigas, até adquirir novas habilidades sociais. É possível que Carol fosse insegura com relação a agradar às pessoas, porque os comportamentos aprendidos em casa de chorar e brigar, ao invés de buscar a solução que mais funcionasse no momento, provocou uma limitação na interação agradável com as pessoas. 0 irmão de Carol aprendeu a provocá-la para vê-la chorar. Quando Carol vai tomar banho, o irmão apaga a luz e desliga a água quente, quando ela está ensaboada. Ela grita muito, chama a mãe, que ri dos gritos dela e diz que é muito chorona. O irmão liga a água quente novamente, depois de rir muito. Quando desce ao playground do prédio e só o irmão está em casa, Carol costuma deixar a porta aberta. O irmão tranca a porta e demora