Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
22/08/17 CALCIFICAÇÃO E DEPÓSITOS PATOLÓGICOS 1. CALCIFICAÇÃO PATOLÓGICA ❖ Definição: deposição tecidual anormal de sais de cálcio, juntamente a quantidades menores de ferro, magnésio e outros minerais ❖ Características do cálcio: • Presente em ossos e cartilagens • Níveis séricos próximos à saturação (valor normal de 8 a 10 mg/dl) • Baixo teor intracelular (podendo ser agente de morte celular) devido à redução da fosforilação e ativação de proteinacinases • Elemento não visível ❖ Classificações atribuídas ao cálcio visível: I. CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA – quando tecido sofre, previamente, processo de necrose • Contexto: necessariamente decorrente de dano tecidual e níveis séricos de cálcio normais ▪ Com a necrose, a área celular torna-se ácida e favorece a precipitação do cálcio circulante formando fosfato de cálcio tentativa de tamponar a acidez do tecido • Aparência macroscópica: grânulos ou grumos finos cor cinza-amarelada ou bem branca, palpáveis como depósitos arenosos ou pétreos ▪ OBS: em calcificação com necrose hemorrágica, pode adiquirir coloração pardacenta • Morfologia microscópica: ▪ Aparência granular, amorfa, basofílica, algumas vezes agregada ▪ Pode ser intracelular, extracelular, ou ambas as localizações ▪ Células necróticas individuais podem adquirir várias camadas criando configuração de corpúsculos de psamoma (ex: câncer papilar da tireoide) • Patogenia: A. Necrose caseosa ▪ Ex: pulmões, tuberculose atrai sais de cálcio, podendo definir um nodo pulmonar calcificado B. Necrose coagulativa ▪ Ex: câncer de mama áreas de isquemia devido ao crescimento tumoral sem irrigação adequada causam necrose e atraem o cálcio. Funciona como mecanismo de reconhecimento de tumores de mama na mamografia ✓ OBS: mamografia não é útil para tumores que não proliferam por essa causa ▪ Ex: carcinomas seroso papífero da tireoide e dos ovários a necrose e calcificação possuem padrão de corpos psamomatosos; só é vista microscopicamente C. Necrose gordurosa ▪ Ex: Necrose gordurosa enzimática pós pancreatite aguda libera ácidos graxos pela ação da lipase pancreática, que se combinam com o cálcio na tentativa de neutralizar o local, formando sabões de cálcio e, posteriormente, carbonato de cálcio D. Esteatonecrose ▪ Como evento tardio, pode ocorrer organização do cálcio como cicatrização E. Necrose liquefativa extremamente raro ocorrer deposição de cálcio F. Aterosclerose: placas de ateroma Fundamentos da Patologia Humana | Mariana Gurgel 2 G. Doença valvar: dano necrótico associado à calcificação devido à febre reumática H. Degeneração/ senescência necrose do tecido com calcificação forma buscite I. Inatividade metabólica bócios, cistos, atrofias, cicatrizes J. Trombos vasculares flebolitos K. Rastreio de toxoplasmose, infecção congênita e zika calcificações distróficas no SNC II. CALCIFICAÇÃO MESTATÁTICA – não há lesão previa do tecido, mas resulta de hipercalcemia secundária a algum distúrbio do metabolismo do cálcio • Contexto: ocorre em tecidos previamente sadios; os níveis de cálcio séricos estão altos a) Pode ocorrer por aumento do PTH (hiperparatireoidismo primário) b) Excesso de vit D c) Mobilização do cálcio ósseo (por tumores e doenças renais crônicas que levam ao hiperparatireoidismo secundário) d) Sarcoidose: doença granulomatosa que simula inflamação e forma nódulos no pulmão, linfonodos... cursa na produção de paratormônio e consequente hipercalcemia e) Hipertireoidismo: provoca calcificação metastática pelo aumento da taxa metabólica f) Doença de Addison: a insuficiência na produção do cortisol acaba causando insuficiência renal simultânea, correndo para hipercalcemia g) Leucemias: células cancerígenas acabam corroendo as trabéculas ósseas h) Síndromes paraneoplasicas: a alta produção de PTH por esses tumores causa hipercalcemia i) Imobilização óssea: ocorre reabsorção óssea por desuso • Mecanismo: o cálcio circulante deposita-se em tecidos normais, principalmente os de alto metabolismo (pois estes estão mais ácidos devido à produção dos radicais livres) • Sítios de deposição: ▪ Alvéolos pulmonares ▪ Glândulas ▪ Fundo gástrico ▪ Túbulos renais (nefrocalcinose) pode levar a insuficiência renal e retroalimenta a calcificação Figura 1 Valva cardíaca calcificada Figura 2 Calcificação na Mama Figura 4 e 5 Útero com mioma e calcificação Figura 3 Calcificação da tireoide Fundamentos da Patologia Humana | Mariana Gurgel 3 armado com crepitação • Morfologia: como também é precipitado o fosfato de cálcio, terá a mesma aparência da calcificação distrófica III. CALCIFICAÇÃO IDIOPÁTICA – quando não é estabelecido o mecanismo de causa e efeito • Características: não possui relação nem com tecido lesado nem com hipercalcemia • Calcinose Escrotal: acomete homens com a formação de nódulos subcutâneos na bolsa escrotal ▪ Pode ser recidiva ▪ Microscopicamente, possui coloração basofilica relativamente mal corada devido à consistência dura e necessidade de inserir ácido para fixação da lâmina • Calcinose intersticial: depósitos de cálcio próximos às articulações • Miosite ossificate: lesão pseudotumoral que aparece após traumatismos em M. esquelético, os quais são substituídos por tecidos calcificados. É uma forma muito rara que pode ter associação genética ou com trauma muscular Figura 6 e 7 Calcificação Metastática do pulmão Figura 8 Calcificação metastática do fundo gástrico Figura 9 Calcificação Mestastática nos rins Figura 10 e 11Calcinose Escrotal Figura 12 Miosite ossificante Fundamentos da Patologia Humana | Mariana Gurgel 4 2. DEPÓSITOS INTRACELULARES ❖ Acúmulos celulares consistem em uma das manifestações dos transtornos metabólicos nas células. As substancias armazenadas enquadram-se nas seguintes categorias: I. Natureza normal – compõe o funcionamento da célula, mas estão em excesso • Ex: água, gotículas de lipídeos (ocorrem na lesão reversível), gotículas de proteínas, carboidratos (principalmente hepatócitos e M. estriado) II. Substância anormal • Exógena: minerais ou produtos de agentes infecciosos. Pode haver entrada por diversas vias. • Endógena: produto da síntese ou metabolismo anormal. ▪ Ex: organismos sintetiza enzimas que não conseguem ser eliminadas • Pigmento: resíduo intracelular que se constitui em pigmentos ❖ Características: • Pode ter caráter permanente ou transitório (Ex: uso de medicamentos) • Pode ter natureza tóxica ou inerte (Ex: maioria dos pigmentos de atv metabólica) • O deposito pode se fazer presente na célula de origem ou ser produzido em uma célula e se depositar em locais distintos • Localização: Depósitos estão, na maioria das vezes, no citoplasma, em fagolisossomos ou podem habitar o próprio núcleo ❖ SITUAÇÕES POSSÍVEIS: I. Célula produz uma substancia endógena normal ou aumentada, mas a taxa de metabolismo é inadequada para removê-la • Ex: ESTEATOSE HEPÁTICA (degeneração gordurosa) ▪ Fígado produz os lipídeos, mas não consegue excretar, formando esteatohepatite ▪ Essa substância em excesso passa a funcionar como um corpo estranho, o que atrai a inflamação e acaba destruindo as células • Ex 2 : ATEROSCLEROSE II. Substância endógena normal ou anormal se acumula devido a defeitos no dobramento, transporte da proteína e/ou uma inabilidade de degradar eficientemente a proteína anormal. Tipicamente produto de um gene mutado (mutação genética ou adquirida) • Ex: GLICOGENOSE: falta aprato enzimático para destruir o carboidratao para que ele participe das reações metabólicas • Ex 2: ACÚMULO DE ALFA-1-ANTITRIPSINA III. Decorrente de substância exógena anormal que se acumula porque a maquinaria celular não é capaz de degradá-la nem a transportar para outros locais. São introduzidas no organismo por meiosdiversos. • Ex: SILICOSE • Ex: ANTRACOSE - respira partículas de carbono, que acaba se precipitando nos alvéolos e linfonodos Fundamentos da Patologia Humana | Mariana Gurgel 5 ❖ DEPÓSITOS INTRACELULARES: A. LIPÍDEOS • ESTEATOSE (degeneração gordurosa) ▪ Acumulo anormal de triglicerídeos nas células parenquimatosas pode resultar de entrada excessiva de triglicerídeos dentro do fígado ou defeitos no metabolismo e exportação desses lipídeos ▪ É mais vista no fígado porque este é o órgão com maior metabolismo de lipídios, mas também ocorre no coração, músculo e rins ▪ Causas: toxinas, desnutrição proteica, diabetes melito, obesidade e anorexia; o mais importante é o abuso do álcool ▪ Morfologia: acúmulos claros dentro das células parenuimatosas ▪ Aparência macroscópica do fígado: pode aumentar o tamanho e peso, além de tornar-se mais amarelado • ATEROSCLEROSE ▪ Nas placas, as células musculares lisas e os macrófagos na túnica intima estão repletos de vacúolos lipídicos aparência espumosa ▪ Os esteres de colesterol extracelulares podem cristalizar-se na forma de agulhas longas • XANTOMAS ▪ Acumulo intracelular de colesterol em macrófagos devido ao estado hiperlipidêmico hereditário ou adquirido no tecido conjuntivo subepitelial, produzindo massas tumorais (xantomas) • COLESTEROLOSE: Acúmulos focais de macrófagos cheios de colesterol na lamina própria da vesícula biliar por mecanismo desconhecido • DOENÇA DE NIEMANN-PICK TIPO C: Causada por mutações que afetam a enzima envolvida no transporte de colesterol, o qual passa a se acumular em múltiplos órgãos B. PROTEÍNAS OBS: morfologia de gotículas eosinofilicas arredondadas, vacúolos ou agregados no citoplasma • AMILOIDOSE ▪ Deposito de amiloide no tecido delgado (coloração verde claro – vermelho contmann) ▪ Deposição pancreática de proteínas amiloide ▪ Deposição de amiloide nos vasos cerebrais, que perdem a elasticidade AVC hemorrágico em idosos Fundamentos da Patologia Humana | Mariana Gurgel 6 • DEFICIÊNCIA E DEPÓSITO DE ALFA-1-ANTITRIPSINA ▪ Com a deficiência da alfa-1-tripsina, o dobramento torna- se muito lento, levando ao acumulo de intermediários parcialmente dobrados que se agregam no RE do fígado e não são secretados ▪ A resultante dessa deficiência é o enfisema • GOTÍCULAS DE REABSORÇÃO NOS TÚBULOS RENAIS PROXIMAIS: ▪ Em doenças renais com proteinúria, ocorre aumento da reabsorção de proteínas pelas células tubulares proximais por pinocitose ▪ Apresentação de gotículas hialinas róseas dentro do citoplasma ▪ É um processo reversível • ESTRESSE DO RE INDUZIDO POR PROTEÍNAS DEFEITUOSAS: torna-se extremamente distendido, produzindo grandes inclusões eosinofílicas ; indução da apoptose C. CARBOIDRATOS • GLICOGENOSES: ▪ Ocorrem devido a anormalidades no metabolismo do glicogênio, resultando em acumulo maciço e impossibilidade de seu uso para gerar energia ✓ Pode decorrer de defeitos enzimáticos em qualquer uma das 14 enzimas ▪ Massas de glicogênio aparecem como vacúolos claros no citoplasma e que se acumulam nos rins e fígado causa hipoglicemia, organomegalia e convulsões • DIABETES MELITO ▪ Depósitos em células epiteliais dos túbulos contorcidos proximais dos rins, no fígado e nas fibras musculares cardíacas D. PIGMENTOS ➢ PIGMENTOS EXÓGENOS • PARTÍCULAS DE CARBONO ▪ O carbono, quando inalado, é assimilado pelos macrófagos dentro dos alvéolos e transportado pelos canais linfáticos ate os linfonodos traqueobrônquicos ▪ Provoca o escurecimento dos pulmões (antracoses) e dos linfonodos envolvidos ▪ Pode induzir reações fibroblasticas ou enfisema em casos de pneumoconiose do trabalhador de carvão • TATUAGEM os pigmentos inoculados são fagocitados pelos macrófagos da derme. É indolente. ➢ PIGMENTOS ENDÓGENOS • LIPOFUCSINA ▪ Derivada da peroxidação de lipídios poli-insaturados de membranas subcelulares ▪ É sinal de alarme para lesões por radicais livres e peroxidação lipídica ▪ É indolente • MELANINA Fundamentos da Patologia Humana | Mariana Gurgel 7 • HEMOSSIDERINA hemocromatose ▪ Hemossinderina é um pigmento granular ou cristalino, amarelo a castanho-dourado, derivado da hemoglobina, sendo a principal forma de armazenamento de ferro ▪ Em casos de excesso de ferro, a ferritima forma grânulos de hemossiderina (agregados de ferritina + ferro) ▪ Visível em células do fígado, coração e pâncreas (visível em azul da prussia) • BILIRRUBINA icterícia ▪ Pigmento normal derivado da hemoglobina sem o ferro ▪ Seu acumulo leva à icterícia, causando coloração amarelada ▪ Nos adultos é mais um problema estético do que funcional, mas nos recém-nascidos é muito tóxico ao SNC porque a BHE dos RN não é efetiva • ÁCIDO HOMOGENTÍSICO ocronose ▪ alcaptonúria causa deficiência de AA no metabolismo da tirosiana leva a um deposito de ácido homogentísico amarelado na pele, tecido conjuntivo e cartilagens Referências 1. Kumar,V; Abbas, A. K; Fausto, N. Robbins & Cotran: Patologia -Bases Patológicas das Doenças. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 2. MONTENEGRO, M. R. (ed.); FRANCO, M. (ed.). Patologia: Processos Gerais . 4.ed São Paulo: Atheneu, 2004. 320 p.
Compartilhar