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por cada pessoa ao longo de seu próprio desenvolvimento. Inúmeras pesquisas, desenvolvidas em diferentes países e em diferentes épocas, particularmente nas décadas finais do século XX, confirmam a influência da música no desenvolvimento psicomotor e cognitivo da criança. Isto porque as canções, desde os momentos iniciais da vida de uma pessoa, incluindo o período intra-uterino, fazem parte da nossa formação. As mães de todo o mundo, de maneira instintiva, utilizam a música como um recurso para criar laços afetivos com seus filhos, mesmo sem saber que, além dos laços afetivos estão estimulando sensorialmente seus bebês. Tal estimulação ganha importância na evolução da aprendizagem da criança, uma vez que a música auxiliará o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento psicomotor de tal indivíduo. A estimulação pela música encontra suporte em outros processos de estimulação que ocorrem concomitantemente com o desenvolvimento do sentido auditivo. O conjunto dessas estimulações sensoriais vai ser responsável por parte do desenvolvimento da inteligência humana, segundo Wallon. Além disso, as atividades relacionadas ao desenvolvimento psicomotor estão intimamente relacionadas com o fato de o movimento humano desenvolver-se pelo ritmo (cadência dos movimentos em compasso com o espaço-tempo), do equilíbrio (sustentação tônica do corpo em torno de um eixo central), da postura (sustentação tônica do corpo através dos músculos, que podem estar em estado de retesamento, quando estamos parados ou em movimento, mantendo uma posição estática ou que exija do corpo tonicidade maior para possibilitar o movimento; ou em estado de relaxamento, como quando estamos dormindo) e da lateralidade. Esta última, além de ter correspondência com a compreensão dos sentidos de esquerda e direita, tem ligação também com as funções auditivas responsáveis pelo equilíbrio. Este fato é facilmente percebido em pessoas com labirintite, uma síndrome sensorial relativa à alterações nas estruturas auditivas (ou ocasionada por questões emocionais, como estresse contínuo) que afeta a lateralidade e, por conseqüência, o equilíbrio humano. Ainda sobre o desenvolvimento psicomotor, podemos afirmar que existe uma proximidade e uma ligação aparente entre a educação psicomotora, as brincadeiras e as músicas, pois o encontro da música com as brincadeiras não só acompanha o desenvolvimento como estimula as habilidades das crianças e permite também que elas venham a ter uma noção de espaço e conheçam seus limites. Psicomotricidade Relacional Muitos estudos sobre a psicomotricidade humana partem do pressuposto teórico que afirma serem os primeiros anos de vida de suma importância para a evolução da criança como pessoa autônoma, criativa e socializada. É a etapa básica para o posterior equilíbrio da personalidade e para o desenvolvimento da inteligência. Teorias da Aprendizagem 86 A Psicomotricidade Relacional diz respeito aos problemas de relacionamento enfrentados no âmbito do desenvolvimento motor. Várias são as atividades que podem ser desenvolvidas pelos educadores no interior de suas salas de aula, que têm por objetivo auxiliar na adaptação das crianças comprometidas afetiva ou motoramente ao ambiente escolar/educacional. Apesar de seus profissionais reconhecerem que a psicomotricidade relacional não se desenvolve a partir de princípios pedagógicos, podemos afirmar que sua aplicação, aliada ao desenvolvimento pedagógico realizado pela criança, pode ser bastante útil para aproximar os alunos, criar laços afetivos entre os mesmos e os professores, além de contribuir, em seu sentido amplo, na incorporação da dimensão emocional-afetiva e intelectual. Deste modo, a função da Psicomotricidade Relacional seria a de desenvolver os núcleos psicoafetivos dos sujeitos em relação, potencializando, por meio do movimento, a compreensão de si e do outro, uma vez que favorece também momentos de contato nos quais a percepção sobre o corpo se altera na relação, em que cada um tem a possibilidade de reconhecer e reconstruir a imagem de sua própria unidade corporal ou de seu próprio esquema corporal. O olhar de Wallon sobre o desenvolvimento psicomotor Segundo Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor na medida em que o ato motor é o responsável por propiciar as interações do sujeito com o meio. Apesar disso, à medida que o ato mental vai sendo construído e fortalecido, se sobrepõe ao ato motor, criando um jogo de oposição entre pensamento e ação. No que se refere à atividade muscular, Wallon diferencia duas funções: a atividade cinética, visível pela mudança de posição do corpo ou de partes do corpo; e a atividade postural, responsável por manter a posição assumida pelo corpo ou partes do corpo. Tais funções estão presentes em todas as nossas ações e funcionam como recurso mediador, por exemplo, na expressão das emoções. É justamente pela emoção que cativamos o meio para que este nos forneça as informações necessárias ao nosso desenvolvimento cognitivo. Desta forma, quando bebês nos agitamos muito (ato motor) na tentativa de chamar a atenção do meio (afetividade/emoção) sobre a satisfação de alguma das nossas necessidades. Uma vez que somos atendidos ou não, o meio passa anos a fornecer informações que vão sendo aprendidas gradativamente, nos levando até o ponto em que não são mais necessárias agitações corporais ou grandes demonstrações de afeto para nos relacionarmos com o meio, pois somos já capazes de ações mentais que prescindem em grande parte do ato motor e da afetividade. A esta mudança de contágio do meio que ora se faz pelo ato motor/ emocional, ora pelo ato mental, Wallon chamou de alternância, sugerindo que A teoria de Henri Wallon: emoção, movimento e cognição 87 em cada fase do desenvolvimento humano, uma dessas formas (motora, afetiva ou mental) prevalece sobre a outra. Ainda segundo Wallon, o papel da Educação seria então o de favorecer o desenvolvimento de cada uma dessas formas de contágio do meio, compreendendo que a sobreposição de uma sobre a outra é momentânea e que ora o aluno terá seu nível cognitivo diminuído em função dos seus afetos (caso dos bebês e, em parte, dos adolescentes), ora o aluno terá seu nível afetivo diminuído em função de suas necessidades intelectuais (caso das crianças em idade escolar e, em parte, dos adolescentes). Psicomotricidade (FIALHO, 2005) A Psicomotricidade reflete um estado da vontade, que corresponde à execução de movimentos. Os movimentos podem ser voluntários ou involuntários. Dos movimentos involuntários, temos os automatismos elementares inatos e os adquiridos. Os inatos são aqueles que nascem conosco e são representados pelos reflexos, que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e execução. Estes reflexos podem ser agonistas, antagonistas ou deflexos (alternantes), que são mais hierarquizados que os reflexos puros, permitindo certo grau de variabilidade, conforme a adaptabilidade individual. Referem- se a necessidades orgânicas. Influindo nestas respostas, temos os instintos, responsáveis pela autoconservação individual. No Homem eles são misturados com o afeto, produzindo tendências ou inclinações. Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem devido a aprendizagem e nos formam hábitos, que, quando bons, nos poupam tempo e esforço; porém, se exagerados, eliminam nossa criatividade e nos deixam embotados. Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos etc.). Os reflexos condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos condicionados geralmente começam como atividade voluntária e depois, por já estarem aprendidos, são mecanizados. Os atos voluntários estão relacionados e dependem da