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Curso de formação de Conselheiros: Conselho de defesa dos direitos das Pessoas Com defiCiÊnCia 2018 2 Índice APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 5 MÓDULO 1 - EVOLUÇÃO DAS CONQUISTAS E CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ............................................................................................................... 7 *ORIENTAÇÃO SOBRE O MÓDULO I: VAMOS APRENDER QUAIS SÃO AS FERRAMENTAS? ...... 7 1. Contextualização .......................................................................................................................................... 8 2. Fases evolutivas de tratamento da pessoa com deficiência ................................................................ 9 3. Terminologia .................................................................................................................................................. 11 4. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência .......................................................... 14 5. O tratamento da temática “pessoas com deficiência” no direito brasileiro .................................. 16 5.1. Constituição Federal .............................................................................................................................. 16 5.2. Legislação Infraconstitucional ............................................................................................................. 18 5.3. Outras normativas úteis para o processo de construção de políticas públicas ....................... 21 5.3.1. Acessibilidade ................................................................................................................................... 21 Acessibilidade nos transportes .............................................................................................................. 22 Acessibilidade na comunicação do poder público............................................................................. 23 5.3.2. Passe livre no transporte coletivo interestadual ...................................................................... 24 5.3.3. Assistência social – Habilitação e Reabilitação e BPC ............................................................ 25 5.3.4. Aquisição de veículo por pessoa com deficiência ................................................................... 27 5.3.5. Inserção no mercado de trabalho ................................................................................................ 30 Concursos públicos – adaptações e vagas reservadas ..................................................................... 30 Cotas de contratação em empresas privadas ..................................................................................... 32 MÓDULO 2 - NORMAS E REGULAMENTOS PARA ORIENTAÇÃO DA FORMAÇÃO DOS CONSELHOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ......................................................................38 *ORIENTAÇÃO SOBRE O MÓDULO II: VAMOS APRENDER COMO ORGANIZAR AS FERRAMENTAS? ................................................................................................................................................. 38 1. Contextualização ......................................................................................................................................... 39 2. A função pública dos Conselhos para fiscalização e controle ........................................................... 41 2.1. O desafio do exercício da representatividade política .................................................................. 41 2.2. A importância do Controle Social para a efetivação da representatividade ...........................42 3 2.3. Os Conselhos de Direitos da Pessoa com Deficiência como instância de Controle Social ..43 2.4. A atuação do Conselho na proposição de termos de colaboração com organizações da sociedade civil. ............................................................................................................................................... 44 3. Diretrizes orientadoras para a criação, funcionamento e aprimoramento do papel dos Conselhos ........................................................................................................................................................... 46 3.1. Quem pode ter a iniciativa de criação e/ou reformulação do conselho? .................................. 46 3.2. O que deve conter a norma que cria o conselho? ........................................................................... 46 3.2.1. Secretário Executivo ....................................................................................................................... 46 3.2.2. Fundo para a política da pessoa com deficiência .................................................................... 46 3.2.3. Cargos de acessibilidade ................................................................................................................ 46 3.2.4. Orçamento ........................................................................................................................................ 47 3.2.5. Órgão de vinculação e procedimento de escolha dos conselheiros .................................... 47 3.2.6. Especificação de instrumento para o exercício da função pública do Conselho .............. 47 3.3. Previsão da função pública do Conselheiro ..................................................................................... 47 3.4. Estabelecimento das principais competências do Conselho ........................................................ 48 3.5. Como deve ser a estrutura básica do Conselho? ............................................................................ 49 3.6. A regulação do funcionamento do Conselho ................................................................................... 50 4. Quais são os órgãos que podem auxiliar os Conselhos para a efetivação do Controle Social ..56 4.1. Ministério Público .................................................................................................................................. 56 4.2. Defensoria Pública ................................................................................................................................ 57 4.3. Tribunais de Contas ................................................................................................................................ 57 4.4. Ouvidorias de órgãos setoriais ........................................................................................................... 58 4.5. Conselhos e Sindicatos de categorias profissionais ....................................................................... 58 5. Mecanismos de Participação .................................................................................................................... 59 5.1. Conferências ............................................................................................................................................ 59 5.2. Audiências Públicas ............................................................................................................................... 59 5.3. Consultas Públicas ................................................................................................................................. 59 MÓDULO 3 – A COMPLEXIDADE DA ATUAÇÃO DO CONSELHEIRO .................................60 *ORIENTAÇÃO SOBRE O MÓDULO III: VAMOS APRENDER A OTIMIZAR NOSSAS FERRAMENTAS? ................................................................................................................................................. 60 1. Exercício prático de algumas possibilidades de melhoria da atuação dos Conselhos ................. 61 1.1. Articulação entre os conselhos ........................................................................................................... 61 1.2. Fundos para a Políticada Pessoa com Deficiência ......................................................................... 62 1.3. Acesso ao mercado de trabalho .......................................................................................................... 63 1.4. Divulgação e sensibilização para o trabalho dos Conselhos ........................................................ 65 2. Conselhos que fizeram acontecer! ........................................................................................................... 69 2.1. Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONSEP) - Campo Grande/MS ...................................................................................................................................................... 69 2.2. Conselho estadual de direitos da pessoa com deficiências (COEDE) - Boa Vista/RR ............70 2.3. Conselho Municipal de Defesa dos direitos da Pessoa com deficiência (CMDDPD) – Petrópolis/RJ ................................................................................................................................................... 70 4 2.4. Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPD) - Porto Velho/RO .71 2.5. Conselho Estadual para Política de Integração da Pessoa com Deficiência (CEPDE) - Rio de Janeiro/RJ ........................................................................................................................................................ 71 3. Contatos dos principais órgãos de defesa dos direitos da pessoa com deficiência em nível federal, estadual e distrital ............................................................................................................................. 72 ENCERRAMENTO E AGRADECIMENTO ESPECIAL ...................................................................74 ANEXO .................................................................................................................................................... 75 LEIS .................................................................................................................................................................... 75 DECRETOS: ..................................................................................................................................................... 79 PORTARIAS: .................................................................................................................................................... 82 5 aPresentação O presente curso foi elaborado como contribuição para a formação básica em direitos humanos ligados ao atendimento especial às pessoas com deficiência. O público-alvo do curso serão os membros de conselhos municipais, estaduais, distritais e federais. Todavia, outros setores interessados na temática como ativistas e membros de organizações da sociedade civil, servidores públicos diretamente ou indiretamente vinculados aos conselhos, assim como organizadores de conferências, ouvidorias, audiências e consultas públicas também podem usufruir do material preparado, auxiliando na execução da tarefa dos conselhos, qual seja, a de efetuar o controle social sobre as políticas públicas voltadas a defesa dos direitos das pessoas com deficiência. O curso está dividido em três módulos de ambientação e treinamento para a atuação nesses conselhos da pessoa com deficiência nos diversos níveis da federação (municipal, estadual, distrital ou federal). Ao longo do curso serão trabalhados conceitos básicos presentes em diversas legislações e atos normativos, visto constituírem a fonte primária para a atuação dos conselheiros e demais entidades envolvidas. Vale salientar que o objetivo do curso não será o estudo aprofundado do tema e sim o reforço das atividades práticas e cotidianas dos Conselhos. Desta forma, alguns documentos de referência como tratados, atos normativos, artigos e pesquisas empíricas serão mencionados ao longo das apresentações e poderão ser consultados para o aprofundamento de pontos específicos. Vídeos e depoimentos também irão compor a metodologia de trabalho, tendo em vista a importância da experiência dos entrevistados como fator legitimador e motivador para um maior engajamento da sociedade. Além disso, como o enfoque principal será a prática cotidiana dos conselhos, ninguém melhor do que os próprios envolvidos para testemunhar sobre suas lutas e vivências. Nesta linha, avaliações serão propostas ao fim de cada módulo, compostas por questões de múltipla escolha a partir de textos motivacionais e situações hipotéticas. Tanto os textos, quanto as questões estarão ligados ao conteúdo do módulo, permitindo ao participando a fixação de alguns pontos, a partir de uma leitura atenta do material associada ao desenvolvimento de habilidades necessárias para interagir nesses conselhos. Por fim vale destacar que ao longo dos módulos serão disponibilizados links para materiais de apoio que não necessariamente precisarão ser estudados para a conclusão do curso, levando em consideração seu caráter básico, mas que poderão ser consultados por aqueles que desejarem se aprofundar em determinados temas. Cada módulo foi desenvolvido pensando em um evolução do conhecimento: 6 1. Evolução das conquistas e consolidação dos direitos da pessoa com deficiência; 2. Normas e regulamentos para orientação da formação dos conselhos das pessoas com deficiência; 3. A complexidade da atuação do conselheiro Boa vontade e interesse pela causa são portanto pré-requisitos fundamentais para este curso, que buscará mostrar o caminho das pedras para uma maior efetivação do trabalho e da atuação dos Conselhos das Pessoas com Deficiência. 7 MÓdULO 1 - evOLUçãO das cOnqUistas e cOnsOLidaçãO dOs direitOs da pessOa cOM deficiência *Orientação sobre o Módulo I: Vamos aprender quais são as ferramentas? Prezado participante, seja bem-vindo ao Módulo I, Neste módulo será apresentado o panorama geral do conjunto de normas e regulamentos nacionais e internacionais que deverão ser vistos como instrumentos a serem utilizados na luta pela construção do controle social exercido pelos Conselhos. Lembrando que a proteção das pessoas com deficiência no âmbito brasileiro é um reflexo da evolução desta questão no âmbito internacional. Sendo assim, importa verificarmos como se deu esta evolução em paralelo entre as negociações em Organismos Internacionais e a incorporação de alguns preceitos em nosso ordenamento. Neste módulo serão abordados os seguintes tópicos: 1. Fases evolutivas de tratamento da pessoa com deficiência 2. Terminologia 3. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 4. O tratamento da temática “pessoas com deficiência” no Brasil 4.1. Constituição Federal 4.2. Legislação Federal 4.3. Outras normativas úteis para o processo de construção de políticas públicas BOns estUdOs e fOcO nOs instrUMentOs! 8 1. Contextualização A proteção das pessoas com deficiência no âmbito brasileiro é um reflexo da evolução desta questão no âmbito internacional. Sendo assim, importa verificarmos como se deu esta evolução em paralelo entre as negociações em Organismos Internacionais e a incorporação de alguns preceitos em nosso ordenamento. No âmbito internacional, a proteção às pessoas com deficiência foi marcada pela inexistência de uma proteção efetiva até a assinatura da Convenção sobre as pessoas com deficiência no âmbito da Organização das Nações Unidas em 2006. Já existiam algumas regras esparsas e sem real observância pelos Estados, mas somente com a Convenção é que a comunidade internacional consolida a busca por um atendimento real e adequado às pessoas com deficiência. No Brasil, podemos destacar que além da adoção desta Convenção, já tínhamos uma Constituição Federal de 1988 que como um marco de transição para o regime democrático, manteve alguns direitos previstos nas Constituições anteriores e ampliou o tratamento às pessoas com deficiência, em grande medida devidoà participação das associações representativas desse grupo vulnerável. Em resumo: A proteção das pessoas com deficiência no âmbito brasileiro é um reflexo da evolução desta questão no âmbito internacional. 9 2. Fases evolutivas de tratamento da pessoa com deficiência Durante o processo histórico de tratamento da temática das pessoas com deficiência podemos identificar quatro fases1: �1ª fase: marcada pela intolerância às pessoas deficientes. Nesta época, a discriminação era total, visto que os deficientes eram considerados impuros, marcados pelo pecado e pelo castigo divino. Sendo assim, a sociedade acabava segregando essas pessoas, muitas vezes as internando em instituições mantidas de forma precária. �2ª fase: marcada pela invisibilidade das pessoas deficientes. Nesse contexto existia um verdadeiro desprezo pela condição destas pessoas. �3ª fase: marcada pelo assistencialismo. Nesse momento as pessoas eram vistas como doentes, sendo tal fase pautada pela perspectiva médica de busca pela “cura” da deficiência. �4ª fase: marcada pela visão de proteção aos direitos humanos das pessoas com deficiência. Este é o momento de transição que o Brasil está passando, em que a ênfase é dada à relação da pessoa deficiente com a sociedade e com o meio no qual está inserida. Configura-se, portanto, uma mudança metodológica, a partir da qual o problema passa a ser do meio e das demais pessoas e não da pessoa deficiente. No contexto internacional, esta fase prepondera nas negociações e formulação de ações. 1 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Direito Constitucional Internacional. 13” ed. São Paulo: Editora Saraiva: 2013, p. 289/290. 10 Interessante considerar o depoimento de pessoas envolvidas no movimento de defesa dos direitos das pessoas com deficiência apresentando como se deu as conquistas desses direitos através do tempo. Para apresentar esse contexto das pessoas com deficiência e suas conquistas através do tempo, convidamos Izabel Maior que é membro do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Rio de Janeiro. Na mesma medida em que o tratamento das pessoas com deficiência foi evoluindo, a terminologia empregada para se referir a tais pessoas também foi modificada. 11 3. Terminologia Em vários textos inclusive normativos, temos a adoção da terminologia “pessoa portadora de deficiência” para se referir àqueles que possuem alguma limitação física ou psíquica. Contudo esta expressão não é adequada. Tal denominação está relacionada a fase ou modelo adotado, sendo que no modelo médico da deficiência entende-se a deficiência como uma doença que precisa ser tratada ou curada. Esse modelo gerou a falta de atenção às práticas sociais que acabavam agravando as condições de vida das pessoas com deficiência. Este modelo já está sendo superado e hoje a sociedade está muito mais aplicada em reconhecer e desenvolver estratégias para reduzir as barreiras no ambiente e na atitude das pessoas. Neste modelo social ou de direitos humanos há um esforço para propiciar aos deficientes o gozo de direitos sem discriminação. Sendo assim, o termo “pessoa com deficiência” é mais adequado. Importa ainda definirmos o conceito de pessoa com deficiência adotado pelo Brasil, segundo o qual pessoa com deficiência seria aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, e que ao interagir com barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Ou seja, as limitações que possuem as pessoas com deficiência só se transformam em deficiência a partir da interação com as barreiras presentes no ambiente social ou na atitude das pessoas. Se não tivermos a barreira da sociedade, ainda que o indivíduo tenha uma limitação ele conseguirá exercer suas atividades. No Brasil, os indicadores demográficos incluem informações sobre deficiência desde 1872, mas sobretudo limitações de caráter físico. A partir de 1920, os indicadores passaram a incluir as categorias mentais que se mantiveram até o Censo de 1940, seguindo a tendência internacional da época de imprecisão em relação a informação sobre a deficiência, então nomeada como espécie de demência (idiotismo, cretinismo e alienação mental). O Censo 2000 já trouxe dados oficiais de deficiência coletados sob a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que utiliza um critério baseado em dois esquemas: o primeiro baseado nas características corporais como em 1991 e o segundo construído sobre uma escala de gradação de dificuldade na realização de tarefas pelo indivíduo. O último Censo de 2010 demonstrou que o Brasil possui 45.623.910 de pessoas que apresentam pelo menos uma das deficiências pesquisadas, representando 23,92% do total da população. O questionário organizado pelo Censo buscou a incidência de deficiências visual, auditiva e motora, além da intelectual e mental. Para os três primeiros tipos foi colocado uma opção ao entrevistado sobre o grau de severidade da deficiência: não consegue de modo algum, tem grande dificuldade ou tem alguma dificuldade. Para a deficiência mental não há essas opções. 12 Do gráfico abaixo verifica-se que do total da população brasileira, a maior incidência de pessoas com pelo menos um tipo de deficiência é na Região Sudeste com 9,7%, talvez em função da maior concentração populacional. Em seguida vem a Região Nordeste com 7,4%, a Região Sul com 3,2%, a Região Norte com 1,9% e o Centro-Oeste com 1,6%. A partir do grau de severidade da deficiência visual, constatou-se que há, no Brasil, aproximadamente 528.624 pessoas cegas e 6.056.684 pessoas que enxergam com grande dificuldade. Participação das Pessoas com Deficiência nas Regiões Brasileiras DESCRIÇÃO DO GRÁFICO: Em forma de pizza fatiada, com cinco pedaços, representando assim as cinco regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Cada região está estimada em porcentagem, ajustando a proporção dos pedaços correspondentes ao valor. Norte 1,9%, Nordeste 7,4%, Sudeste 9,7%, Sul 3,2 e Centro-Oeste 1,7%. 13 Uma tabela completa demonstra todos esses dados: Para maiores informações sobre esses indicadores ver: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/indicadores/censo-2010 14 4. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Protocolo Facultativo foram assinados em Nova Iorque em 2006 e incorporados ao direito brasileiro em 2009. Durante muitos anos a comunidade internacional vinha discutindo a necessidade de um diploma específico no âmbito da Organização das Nações Unidas sobre o tema, visto que aproximadamente 10% da população mundial é deficiente. Em muitas sociedades o deficiente continua sendo visto como um doente ou como uma pessoa com direitos e garantias invisíveis. Isso porque até então o enfrentamento da questão era baseado na condição da pessoa, mas com o advento da Convenção, o enfrentamento passa a se dar a partir da sociedade. Afinal, o problema da deficiência não está nos deficientes e sim no tratamento discriminatório e desigual oferecido pela sociedade a tais pessoas. A Convenção adota a terminologia “pessoa com deficiência”, demonstrando um apoio a consolidação do modelo social, sendo que o compromisso principal dos Estados passa a ser com a dignidade e com os direitos das pessoas com deficiência, sobretudo com a igualdade e não-discriminação. São princípios gerais da Convenção: • respeito pela dignidade • não-discriminação • participação e inclusão na sociedade • respeito pela diferença e aceitação das pessoas com deficiência • igualdade de oportunidades • acessibilidade • igualdade entre o homem e a mulher • desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência A Convenção traz um extenso rol de direitos, entre eles direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais voltados para a preservação da dignidade dessegrupo de pessoas e com responsabilidades aos Estados signatários, entre eles o Brasil. Entre essas obrigações está a formação de bancos de dados para avaliação das políticas de implementação desses direitos com a criação de órgãos específicos e a devida adequação do sistema jurídico e administrativo. 15 Buscando tornar o conhecimento da Convenção mais acessível, apresentamos uma versão em libras do texto: 16 5. O tratamento da temática “pessoas com deficiência” no direito brasileiro O Brasil demonstra uma grande preocupação com a inclusão de direitos e garantias legais e constitucionais das pessoas com deficiência, sobretudo a partir da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei Brasileira de Inclusão - Lei 13.146/2015), da lei 11.126/2005 que dispõe sobre o direito da pessoa com deficiência visual ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia e da própria Constituição Federal de 1988. Além disso, dispõe de normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida (Lei 10.098/2000 e Dec. 5.296/2004), juntamente com regras sobre priorização de atendimento às pessoas com deficiência (lei 10.048/2000 e Dec. 5.296/2004), sobre direitos no sistema de transporte coletivo (lei 8.899/1994 e dec. 3.691/2000) e sobre apoio às pessoas com deficiência e sua integração social (lei 7.853/1983 e Dec. 3.298/1999). Percebe-se portanto que devemos partir deste conjunto de normas e regulamento afim de definirmos a variedade de direitos a serem defendidos pelos Conselhos das pessoas com deficiência, seja na formulação de políticas públicas, seja na utilização de instrumentos de controle social. 5.1. Constituição Federal A Constituição Federal de 1988 é considerada “Constituição Cidadã” por inovar no trato das questões sociais, impondo ao poder público o dever de executar políticas que minimizem as desigualdades sociais, incluindo seis artigos atinentes às pessoas com deficiência: • Art. 7º XXXI: “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;” • Art. 37, VIII: “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pes- soas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;” • Art. 40, par. 4º, I: “É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: I portadores de deficiência;” 17 • Art. 203, IV e V: “A assistência social será prestada a quem dela necessitar, indepen- dentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: IV - a habilita- ção e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua inte- gração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.” • Art. 208, III: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: III - II - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;” • Art. 227, par. 2º: “A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.” Esses dispositivos foram estabelecidos em relação direta com a garantia dos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da cidadania e da democracia. Além disso, sendo preceitos constitucionais devem ser adotados em todos os atos governamentais, quais sejam: na elaboração legislativa, na interpretação jurídica e no desenvolvimento de atividades administrativas. Afinal, o ideal a ser alcançado é de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.2 Importante ainda ressaltar que a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Protocolo Facultativo foram incorporados no direito brasileiro com status de emenda constitucional. Ou seja, recebe o mesmo tratamento que um norma constitucional, sendo inclusive considerada Cláusula Pétrea que não pode ser modificada por nenhuma outra lei ou ato normativo. Com isso, foi elevada à categoria máxima o nível de proteção das pessoas com deficiência, sendo considerada uma grande evolução para o tratamento da temática. Vale ressaltar que a falta de implementação de tais direitos subsiste, mas o papel das associações e instituições como os Conselhos pode trazer uma maior efetividade de tais direitos que muitas vezes são deixados de lado por falta de conhecimento dos agentes mobilizadores ou por falta de vontade política de alguns segmentos. 2 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 6ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 429. 18 5.2. Legislação Infraconstitucional No âmbito federal, temos a lei 7.853/89 que dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. De modo focado na causa das pessoas com deficiência temos a menção ao importante trabalho do Ministério público em dois artigos: • Art. 5º: “O Ministério Público intervirá obrigatoriamente nas ações públicas, coletivas ou individuais, em que se discutam interesses relacionados à deficiência das pessoas.” • Art. 6º “O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou particular, certidões, infor- mações, exame ou perícias, no prazo que assinalar, não inferior a 10 (dez) dias úteis.” Ainda no âmbito federal temos a lei 10.048/2000 que estabelece a prioridade de atendimento às pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos. Repartições públicas, concessionárias de serviço público e instituições financeiras são obrigadas a dispensar tratamento prioritário a essas pessoas. 19 Temos ainda a lei 10.098/2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Nesta lei aparecem importantes definições como: acessibilidade, barreiras (urbanísticas, arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações e na informação), pessoa com deficiência, pessoa com mobilidade reduzida, acompanhante, elemento de urbanização, mobiliário urbano, tecnologia assistiva ou ajuda técnica, comunicação, desenho universal. A lei estabelece que a acessibilidade é garantida pela remoção de barreiras como por exemplo a imposição de que entre os elementos de urbanização, 5% dos brinquedos em parque de diversão devem ser acessíveis e 2% no mínimo das vagas de estacionamento devem ser próximos e sinalizadas para uso exclusivo de pessoas deficientes. Ainda que privado, edifícios públicos ou de uso coletivo devem ser acessíveis como shopping centers e repartições públicas, além da importância da acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização. De toda a legislação infraconstitucional, talvez a mais relevante seja a lei 13.146/2015 que estabelece o Estatuto da pessoa com deficiência. Esta lei, também conhecida como Lei Brasileira de Inclusão, logo no artigo primeiro apresenta seu propósito: “ ... destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.” Apresenta como base a Convençãosobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, reproduzindo o conceito de pessoa com deficiência da Convenção. Consagra direitos fundamentais da pessoa com deficiência tais como: vida, habilitação e reabilitação, saúde, educação, moradia, trabalho, assistência social, previdência social, cultura, esporte, turismo e lazer, transporte e mobilidade. 20 Interessa mencionar que de acordo com o artigo 6º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a deficiência não afeta a plena capacidade civil dessas pessoas inclusive para casar-se ou exercer direitos reprodutivos ou de família como guarda, tutela, curatela e adoção. Reafirmando o compromisso do Estado em assegurar a estas pessoas as mesmas condições de vida que os demais. Em relação ao direito ao trabalho, interessa mencionarmos que as pessoas com deficiência possuem liberdade de escolha e aceitação no trabalho, em ambiente acessível com igualdade de condições. Além disso, os empregadores devem garantir ambientes acessíveis e inclusivos, vedando-se a discriminação no trabalho em razão da condição de deficientes, assegurando- se igual remuneração para igual trabalho. Importa ainda mencionarmos a importância da assistência social que deve ter por objetivo a segurança de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária para a promoção do acesso a direitos e plena participação social. Como forma de instrumentalizar essa assistência temos a possibilidade do benefício de prestação continuada (BCP) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) que garante um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência independente da idade e ao idoso com 65 anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção, nem de tê-la provida por sua família. 21 5.3. Outras normativas úteis para o processo de construção de políticas públicas Existem ainda outras leis, decretos e portarias fundamentais para o exercício da ati- vidade do Conselheiro por especificar pontos importantes do Estatuto da Pessoa com Defi- ciência. Neste tópico vamos sistematizar as regras já apresentadas, acrescidas destas outras normativas úteis para o processo de construção de políticas públicas. Para isso, vamos siste- matizar em quatro tópicos que representam os pontos mais recorrentes dentre as situações enfrentadas pelas pessoas com deficiência: 5.3.1. Acessibilidade � Acessibilidade nos transportes � Acessibilidade na comunicação do poder público 5.3.2. Passe livre no transporte coletivo interestadual 5.3.3. Assistência social – Habilitação e Reabilitação e BPC 5.3.4. Aquisição de veículo por pessoa com deficiência 5.3.5. Direito ao trabalho � Concursos públicos – adaptações e vagas reservadas � Cotas de contratação em empresas privadas 5.3.1. Acessibilidade Acessibilidade é a garantia de acesso da pessoa com deficiência ou dificuldade de locomoção à informação, à comunicação, aos edifícios, espaços e serviços públicos, em igualdade de oportunidade com os demais indivíduos. A acessibilidade é uma medida de inclusão social, pois possibilita às pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida em sociedade. Podemos ter barreiras no interior de prédios e edifícios que impedem ou dificultam o fluxo de pessoas com ausência de rampas, corredores estreitos e com cadeiras, banheiros não acessíveis, portas estreitas e não adaptadas, mobiliário inadequado e falta de piso tátil. Temos ainda as barreiras urbanísticas que impedem ou dificultam a locomoção das pessoas com deficiência pelos espaços urbanos prejudicando o convívio social, como calçadas sem rebaixamentos, desniveladas e com degraus, inexistência de vagas de estacionamento preferenciais, mobiliário urbano inadequado, falta de rota acessível entre outros. A acessibilidade garante as pessoas com deficiência mobilidade urbana, devendo ser previsto projetos arquitetônicos e urbanísticos em atendimento às normas de acessibilidade 22 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e os princípios do desenho universal (concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente a todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade). Após ser realizada a adaptação, deve ser colocado em espaços ou locais de ampla visibilidade o “Símbolo Internacional de Acesso”. Acessibilidade nos transportes A acessibilidade nos transportes deve ser garantida pela adaptação para transportes coletivos. Cada meio de transporte possui suas necessidades de adaptação. os meios de transporte rodoviários, por exemplo, é obrigatório que haja assentos reservados para deficientes e para seus acompanhantes. Além disso, elevadores ou rampas auxiliam o transporte de deficientes físicos que utilizem cadeira de rodas no momento de embarque e desembarque. Saiba com detalhes como o ônibus deve ser adaptado no manual da ABNT, NBR 15320. Vale ressaltar que de acordo com a Lei Federal nº 8.899, é concedido passe livre às pessoas com deficiência, comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual. As empresas devem reservar duas vagas nos ônibus para passageiros com essas características. Nos meios ferroviário e metroviário, a frota de veículos, assim como a infraestrutura de serviços deverão estar acessíveis. Essa acessibilidade obedece ao disposto nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT (NBR 14020 e NBR 14021). Para o transporte aéreo comercial, foi produzida a norma 14273, que estabelece, entre outras obrigatoriedades e recomendações, que seja destinado assento de corredor, com braços removíveis ou escamoteáveis, para pessoas em cadeiras de rodas. Quanto ao transporte aquaviário, a norma 15450 estabelece as diretrizes. As normas da ABNT são bastante técnicas e portanto não iremos abordar cada uma delas de modo detalhado em nosso curso. No entanto, a Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência disponibiliza uma lista com as principais normas ABNT relacionadas a adequação do transporte para garantia da mobilidade urbana da pessoa com deficiência 23 a partir do link: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/normas-abnt. Além disso, esta Secretaria também disponibiliza um “Manual de Adaptações de Acessibilidade” em que dispõe sobre procedimentos para a elaboração e publicação de relatórios sobre acessibilidade e adaptações em edificações disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/ node/1358 Acessibilidade na comunicação do poder público De acordo com o art. 17 da Lei 10.098/2000, “o Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas com deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer.” O Dec. 5.296/2004 regulamenta esta lei e estabelece especificações sobre acessibilidade na comunicação entre os artigos 47 a 60. O decreto estabelece que a partir do dia 02 de dezembro de 2005 é obrigatória a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na internet, para o uso das pessoas com deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis. Em portais de grande porte, desde que justificado, esse prazo pode ser estendido até 02 de dezembro de 2006. Os portais devem ser sinalizados com símbolo que represente a acessibilidade na internet. Os telecentros comunitários, instalados ou custeados pelos Governos Federal, Estadual, Municipal ou do Distrito Federal, devem possuir instalações plenamente acessíveis e, pelo menos, um computador com sistema desom instalado, para uso preferencial por pessoas com deficiência visual. As empresas prestadoras de serviços de telecomunicações deverão garantir o pleno acesso às pessoas com deficiência auditiva, por meio das seguintes ações: I - no Serviço Telefônico Fixo Comutado - STFC, disponível para uso do público em geral: a) instalar, mediante solicitação, em âmbito nacional e em locais públicos, telefones de uso público adaptados para uso por pessoas portadoras de deficiência; b) garantir a disponibilidade de instalação de telefones para uso por pessoas portadoras de deficiência auditiva para acessos individuais; c) garantir a existência de centrais de intermediação de comunicação telefônica a serem utilizadas por pessoas portadoras de deficiência auditiva, que funcionem em tempo integral e atendam a todo o território nacional, inclusive com integração com o mesmo serviço oferecido pelas prestadoras de Serviço Móvel Pessoal; e d) garantir que os telefones de uso público contenham dispositivos sonoros para a 24 identificação das unidades existentes e consumidas dos cartões telefônicos, bem como demais informações exibidas no painel destes equipamentos; II - no Serviço Móvel Celular ou Serviço Móvel Pessoal: a) garantir a interoperabilidade nos serviços de telefonia móvel, para possibilitar o envio de mensagens de texto entre celulares de diferentes empresas; e b) garantir a existência de centrais de intermediação de comunicação telefônica a serem utilizadas por pessoas portadoras de deficiência auditiva, que funcionem em tempo integral e atendam a todo o território nacional, inclusive com integração com o mesmo serviço oferecido pelas prestadoras de Serviço Telefônico Fixo Comutado. O Poder Público deve incentivar a oferta de aparelhos de televisão equipados com recursos tecnológicos que permitam sua utilização de modo a garantir o direito de acesso à informação às pessoas com deficiência auditiva ou visual. Tais recursos envolvem circuito de decodificação de legenda oculta; recurso para Programa Secundário de Áudio (SAP); e entradas para fones de ouvido com ou sem fio. Caberá aos órgãos e entidades da administração pública, diretamente ou em parceria com organizações sociais civis de interesse público, sob a orientação do Ministério da Educação e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, por meio da CORDE, promover a capacitação de profissionais em LIBRAS. O Poder Público deverá adotar mecanismos de incentivo para tornar disponíveis em meio magnético, em formato de texto, as obras publicadas no País. A indústria de medicamentos deve disponibilizar, mediante solicitação, exemplares das bulas dos medicamentos em meio magnético, braile ou em fonte ampliada e os fabricantes de equipamentos eletroeletrônicos e mecânicos de uso doméstico devem disponibilizar, mediante solicitação, exemplares dos manuais de instrução em meio magnético, braile ou em fonte ampliada. 5.3.2. Passe livre no transporte coletivo interestadual Em conformidade com a Lei 8.899/94, regulamentada pelo Decreto 3.691/2000, bem como a Portaria Interministerial 003/2001, foi garantido plenamente às pessoas com deficiência, comprovadamente carentes, o livre acesso (passe livre) ao sistema de transporte coletivo interestadual de passageiros, nas modalidades rodoviário, ferroviário e aquaviário. De acordo com o Dec. 3.691/2000, art.1º da lei 8.899/94, as empresas permissionárias e autorizatárias de transporte interestadual de passageiros reservarão dois assentos de cada veículo, destinado a serviço convencional, para ocupação dessas pessoas. O Passe Livre consiste num documento fornecido à pessoa com deficiência, comprovadamente carente, que preencha os requisitos estabelecidos na Portaria Interministerial 003/2001, para 25 utilização nos serviços de transporte interestadual de passageiros. A Pessoa com Deficiência comprovadamente carente é aquela que demonstra ter renda familiar mensal “per capita” igual ou inferior a um salário mínimo estipulado pelo Governo Federal. Para obter o benefício do Passe Livre, a pessoa com deficiência deve apresentar requerimento junto ao Ministério dos Transportes ou aos órgãos ou entidades conveniados, em formulário próprio, devidamente assinado pelo interessado ou por procurador, tutor ou curador, acompanhado dos documentos que comprovem as condições exigidas, não sendo obrigatória a presença do requerente para esse fim. A deficiência ou incapacidade será atestada por equipe multiprofissional do Sistema Público de Saúde. Feito o requerimento para a concessão do benefício do Passe Livre, o Ministério dos Transportes, os órgãos autorizados, ou as entidades conveniadas terão o prazo de 15 (quinze) dias para emitir e enviar aos beneficiários o Passe Livre, ou comunicar o seu indeferimento. O portador de Passe Livre deverá solicitar o Documento de Autorização de Viagem junto à empresa de serviço de transporte interestadual de passageiros, com antecedência mínima de até 3 (três) horas em relação ao horário de partida. O Documento de Autorização de Viagem é um documento fornecido pela empresa prestadora do serviço de transporte ao portador do Passe Livre, a fim de possibilitar o seu ingresso no veículo ou embarcação. *Passe livre no transporte coletivo intermunicipal: deve ser regulamentado por lei estadual. Vários Estados como o Rio Grande do Sul, Piauí, Mato Grosso do Sul e Goiás já disciplinaram, na legislação estadual, a concessão do Passe Livre Intermunicipal. *Passe livre no transporte coletivo municipal: deve ser regulamentado por lei municipal. A lei municipal no 7.201/2007 de Salvador assegura tal gratuidade. 5.3.3. Assistência social – Habilitação e Reabilitação e BPC O direito à assistência social não se confunde com o direito à previdência, pois em conformidade com o art. 203, da CF, é dirigido a todas as pessoas que dela necessitar, seja ou não contribuinte da previdência social, consistindo em dois benefícios: a) Habilitação e reabilitação para o trabalho e para sua integração à vida social; b) o direito da pessoa com deficiência ou idosa de obter um salário mínimo mensal (benefício de prestação continuada), quando comprovado que não possuem meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. A habilitação para o trabalho consiste no processo de aquisição de conhecimentos, habilidades e competências para o desenvolvimento de trabalho profissional e consequente 26 ingresso e reingresso no mercado de trabalho, conforme o art. 89 da Lei Federal n.º 8.213/91, arts 17, 18,21 e 22 do Decreto n.º 3.298/99, e Ordem de Serviço n.º 90, do Ministério da Saúde e Previdência Social. O benefício de prestação continuada encontra-se previsto no art. 203, inciso V, da Constituição Federal, e no art. 2º, inciso I, alínea e da Lei Federal 8.742/93, regulamentada pelo Decreto 7.617/11. Consiste, como dito acima, no pagamento de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência, que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, independentemente de contribuição, e será devido durante o tempo em que perdurar a situação autorizadora. A Portaria Conjunta n. 1, de 3 de janeiro de 2017 do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário regulamenta regras e procedimentos de requerimento, concessão, manutenção e revisão do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social - BPC. Para receber o BPC, a pessoa com deficiência deve comprovar que a renda da sua família é inferior a 1/4 do salário mínimo por pessoa e que não recebe nenhum benefício previdenciário. Deve comprovar, também, a sua deficiência e o nível de incapacidade por meio de avaliação do Serviço de Perícia Médica do INSS. A renda familiar por pessoa é a soma total da renda de toda a família, dividida pelo número de membros que fazem parte do núcleo familiar, vivendo na mesma casa, entre eles: esposa/ esposo, companheiro/companheira, filhos menores de 21 anos ou inválidos,pai/mãe. Caso a pessoa com deficiência se encaixe nos critérios ela deve comparecer a uma agência do INSS e apresentar: Documentos pessoais: • Certidão de nascimento ou casamento; • Documento de identidade, carteira de trabalho ou outro que possa identificar quem é você; • CPF, se tiver; • Comprovante de residência; • Documento legal, no caso de procuração, guarda, tutela ou curatela. Documentos da sua família: • Documento de identidade, carteira de trabalho, CPF, se houver, certidão de nascimen- to ou casamento ou outros documentos que possam identificar todas as pessoas que fazem parte da família e suas rendas. 27 Em seguida deve preencher o Formulário de Declaração da Composição e Renda Familiar. Este documento faz parte do processo de requerimento. Após análise, o INSS envia uma carta para o endereço informando se o indivíduo irá receber ou não o BPC. Essa carta também informará como e onde o indivíduo irá receber o BPC. O pagamento é feito em conta vinculada a cartão magnético fornecido gratuitamente ao beneficiário. Para que mais de uma pessoa receba o BPC na sua família, a regra não muda: a renda familiar por pessoa tem que ser menor que 1/4 do salário mínimo. Mas atenção as regras: Se o beneficiário é idoso – Se já existe um idoso que recebe o BPC na família, este valor NÃO entra no cálculo da renda familiar. Se o beneficiário é pessoa com deficiência – Se já existe alguém na família, idoso ou pessoa com deficiência, que já receba o BPC, este valor entra no cálculo da renda familiar. Em caso de morte o benefício não é transferido, somente os valores não retirados em vida pelo beneficiário pode passar para outras pessoas da família. Para maiores informações consultar: • Secretarias de Assistência Social municipais • Centros de Referência de Assistência Social – CRAAS municipais, se houver. • Agência do INSS ou telefone 135 para informações. Fonte: http://www.deficienteeeficiente.com.br/passo-a-passo-como-requerer-o-beneficio-bpc-loas/ 5.3.4. Aquisição de veículo por pessoa com deficiência A legislação brasileira prevê a concessão de alguns benefícios e isenções fiscais para pessoas com deficiência e doenças graves. As seguintes doenças, procedimentos ou deficiências podem ter direito à compra de veículo com isenções, se houver comprometimento da capacidade física sempre comprovada por laudo médico: • Amputações, artrite reumatóide, artrodese, artrose, AVC, AVE, autismo, alguns tipos de câncer, doenças degenerativas, deficiência visual, deficiência mental (severa ou pro- funda), doenças neurológicas, encurtamento de membros e más-formações, esclerose múltipla, escoliose acentuada, LER (Lesão por Esforço Repetitivo), linfomas, lesões com 28 sequelas físicas, manguito rotador, mastectomia, nanismo, neuropatias diabéticas, pa- ralisia, paraplegia, Parkinson, poliomielite, próteses internas e externas (joelho, quadril, coluna, etc), problemas na coluna, quadrantomia relacionada a câncer de mama, renal crônico com uso de fístula, síndrome do túnel do carpo, tendinite crônica, tetraparesia e tetraplegia. O deficiente físico que é condutor de automóveis está isento de IPI, IOF, ICMS, IPVA e rodízio municipal. Já o portador de necessidades especiais não condutor que tenha deficiência física, visual ou autismo está isento de IPI, e o carro no qual circula fica livre do rodízio municipal. Em resumo: • IPI – isenção total a cada 2 anos para compra de carro com qualquer valor; • ICMS – isenção total a cada 4 anos na compra de carros de até R$ 70 mil; • IOF – isenção total quando o valor financiado é superior a 70% do total do veículo. Pode ser obtida uma única vez por CPF; • IPVA – isenção total e válida para apenas um veículo daquele proprietário. A isenção é válida para pessoas com deficiências, debilidades ou ainda com alguma doença incapacitante – inclusive crianças. Neste caso, é necessário obter o laudo da Receita Federal assinado por dois médicos credenciado ao SUS (Sistema Único de Saúde). Caso o paciente tenha deficiência mental, o exame precisa ser feito por um psiquiatra e um psicólogo. Em caso de deficiência física, o exame deve ser atestado por um especialista correspondente à deficiência e que prestem serviço para a Unidade Emissora do Laudo (UEL). O benefício da isenção poderá ser exercido apenas uma vez a cada dois anos, sem limite do número de aquisições, conforme a vigência da Lei nº 8.989, de 1995, atualmente prorrogada pela Lei 13.146/2015, art. 77. Caso o beneficiário queira vender seu veículo adaptado em menos de dois anos (no caso do IPI) ou em menos que 4 anos (no caso de ICMS), terá que pagar todos os impostos que teve isenção na hora da compra, com a atualização monetária e acréscimos legais desde a data da aquisição do bem. Depois desse período poderá vender o veículo pelo preço normal de mercado, como se não tivesse sido comprado com isenção. Não há impedimento que o carro seja usado por outros motoristas esporadicamente, desde que cumpra sua função para transportar a pessoa necessitada quando necessário. Passo a passo para obter a isenção: 1º passo: se a pessoa já possui CNH, terá que solicitar ao Detran a alteração para a 29 habilitação de portadores de deficiência. Caso ainda não tenha CNH ainda, terá que tirá-la já como o portador da enfermidade. Em ambos os casos é necessário passar por avaliação médica e exame prático específico. Caso a compra seja de um não condutor, não é necessário ter CNH (Carteira Nacional de Habilitação) ou realizar a mudança. Então, o requerente pode pular para o 2º passo. 2º passo: a primeira isenção a ser solicitada é a do IPI, que deve ser requisitada à Receita Federal. Será necessário ter um laudo médico, que pode ser particular, comprovando a doença. Já é possível fazer a solicitação pela internet e os pedidos devem ser liberados em até 72 horas. A pessoa então receberá uma carta de isenção do IPI que tem validade de 270 dias corridos. 3º passo: a isenção do ICMS deve ser pedida diretamente na Secretaria da Fazenda de cada estado apenas depois da liberação do IPI e se o veículo desejado custar até R$ 70 mil. O prazo para a liberação do ICMS é de 60 dias e a carta de isenção também tem validade de 270 dias corridos. 4º passo: com as cartas de isenção de IPI e ICMS em mãos, o cliente pode comprar o veículo desejado, que pode não estar disponível imediatamente, já que a demanda está alta. 5º passo: depois de receber o carro, o proprietário deve procurar a Secretaria da Fazenda do estado e solicitar a isenção do IPVA. Isso deve ser feito em até 30 dias depois do faturamento do veículo, caso contrário, a isenção só valerá a partir do ano seguinte. 30 Um guia completo sobre as etapas para obter isenção de impostos para compra de veículo novo para condutor com deficiência pode ser acessado em: http://www.detran.am.gov.br/wp-content/uploads/2017/09/Cartilha-revisada- edicao-final-ok.pdf https://quatrorodas.abril.com.br/auto-servico/como-funciona-a-isencao-de- impostos-para-deficientes/ Outras informações: https://g1.globo.com/carros/noticia/2018/07/26/carros-para- deficientes-prazo-de-revenda-com-isencao-de-icms-sobe-de-2-para-4-anos.ghtml 5.3.5. Inserção no mercado de trabalho A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho tanto quanto qualquer outro indivíduo. O trabalho permitirá à pessoa com deficiência que mantenha sua própria subsistência, reafirmando sua posição social e pessoal do exercício da dignidade humana. Concursos públicos – adaptações e vagas reservadas Segundo o art. 37 da a Constituição Federal, a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei. Com base nisso, desde 1988, todas as seleções de candidatos para cargos públicos são realizadas por meio de concurso. A Constituição Federal também estabelece que é necessário proceder a reserva de percentual doscargos e empregos públicos para as pessoas com deficiência (CF/1988 – Art. 37, VIII), garantia também abordada pela Lei 8.112/1990, que assegura o direito de a pessoa com deficiência se inscrever em concurso público, reservando até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no certame (lei 8.112/1990 – Art. 5º, § 2º). Vale ressaltar ainda que pelo decreto n. 9.508/2018, ficam reservadas às pessoas com deficiência, no mínimo, 5% (cinco por cento) das vagas oferecidas para o provimento de cargos efetivos e para a contratação por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, no âmbito da administração pública federal direta e indireta. (Art. 1º § 1º). Vale ressaltar que deve ser garantida a igualdade de oportunidades a pessoa com deficiência, mas isto não afasta a exigência de aprovação da pessoa com deficiência em etapas do concurso público onde se avaliam capacitações específicas para o exercício do cargo, como a capacitação física, indispensável ao desempenho de algumas funções públicas, pois a pessoa com deficiência deve adequar-se ao exercício do cargo. 31 A Lei nº 7.853/1989 estabelece que cabe ao Poder Público assegurar às pessoas com deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive o direito à educação, ao trabalho e a outros que propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. Determina ainda que, para a consecução desses direitos, devem ser adotadas medidas como a reserva de mercado de trabalho nas entidades da Administração Pública (Lei nº 7.853/1989 – Art. 2º, parágrafo único, III, d). A Lei nº 10.048/2000 cria a obrigação de atendimento prioritário, por meio de serviços individualizados que assegurem tratamento diferenciado e atendimento imediato (Lei nº 10.048/2000, arts. 1º e 2º). E na Lei nº 10.098/2000, verifica-se a obrigação da promoção da acessibilidade como forma de garantir às pessoas com deficiência o direito de acesso, com segurança e autonomia, à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. Por fim, analisando o Decreto nº 3.298/1999, verifica-se que são princípios da política nacional para a inclusão da pessoa com deficiência o desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a assegurar a plena inclusão da pessoa com deficiência no contexto socioeconômico e cultural; o estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e operacionais que assegurem o pleno exercício de seus direitos básicos, que devem receber igualdade de oportunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhes são assegurados, sem privilégios ou paternalismos (Decreto nº 3.298/1999 – Art. 5º). Com base nesses preceitos, podemos estabelecer algumas práticas para viabilizar acessibilidade das pessoa com deficiência em concursos e processos seletivos. Os cuidados com a adaptação do certame para pessoas com deficiência deve começar pelo edital que é o aviso oficial e público de que uma seleção será realizada e em que condições a mesma ocorrerá. O edital deve estar em formato acessível e em linguagem direta e simples, além de possuir os seguintes itens obrigatórios e acessíveis: Número total de vagas disponibilizadas em cada cargo e emprego público: A reserva é feita em até 20% do total das vagas oferecidas no concurso, conforme art. 37, VIII da Constituição Federal e art. 5º, § 2º da Lei nº 8.112/1990 e no mínimo 5% conforme decreto 9.508/2018. • Denominação do cargo ou emprego público, a classe de ingresso, a remuneração inicial e a descrição das atribuições a serem exercidas • Período, local e valor da inscrição • Data, horário e local da prova • Documentação para a inscrição • Existência e condições das provas práticas e do curso de formação • Prazo de validade do concurso • Apoios e recursos a serem disponibilizados • Conteúdo e bibliografia indicada 32 O momento da inscrição também deve ser observado de modo a garantir os padrões mínimos de acessibilidade. Devem ser adotados formatos acessíveis, observando-se as recomendações do eMAG, que é o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico e consiste em um conjunto de recomendações a ser considerado para que o processo de acessibilidade dos sítios e portais do governo brasileiro seja conduzido de forma padronizada e de fácil implementação. Atualmente, o padrão é a linguagem HTML, que deve ser adotada como referência. O momento da avaliação também é muito importante devendo ser coerente e proporcional ao cargo ou vaga a que a pessoa se candidata, sendo garantida a acessibilidade, para que as pessoas com deficiência possam ter o seu desempenho medido de maneira correta e equânime. A lista de aprovados e a convocação para a nomeação também devem aparecer em duas partes: i) uma geral e II) uma de reserva de vagas. Os candidatos com deficiência disputam todas as vagas: as de ampla concorrência e as da reserva. Isso ocorre na medida em que, caso o candidato com deficiência obtenha nota suficiente para ser classificado dentro da lista geral, o mesmo não será computado para as vagas reservadas, mesmo que tenha optado por concorrer a elas. Na fase de provas práticas e curso de formação é imprescindível a disponibilização de todos os apoios e ajudas técnicas necessários, de acordo com as informações contidas no laudo multiprofissional, que deverá atestar o tipo e grau de deficiência e que também servirá de base para as adaptações necessárias e obrigatórias dessa etapa do concurso. Por fim, na fase de estágio probatório deve ser obrigatória a disponibilização de todos os recursos de tecnologia assistiva e apoios para que o candidato com deficiência realize suas tarefas, sua avaliação deve ser feita de maneira a levar em conta as especificidades da condição apresentada, não podendo ser reprovado o candidato sob a alegação de não apresentar aptidão plena. Para maiores informações ver: http://www.mpgo.mp.br/portal/arquivos/2017/01/12/16_48_46_177_Cartilha_ Processos_Seletivos_e_Pessoa_com_Defici%C3%AAncia_Boas_Pr%C3%A1ticas_em_ Acessibilidade.pdf Cotas de contratação em empresas privadas Quanto às empresas privadas, a Lei Federal nº 8.213/91, no art. 93, prevê a proibição 33 de qualquer ato discriminatório no tocante a salário ou critério de admissão no emprego das pessoas com deficiência. Além disso, a empresa com 100 (cem) ou mais empregados encontra-se obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência, habilitadas. O percentual a ser aplicado, portanto, será sempre de acordo com o número total de empregados das empresas: I – até 200 empregados - 2%. II – de 201 a 500 – 3%. III – de 501 a 1000 – 4%. IV – de 1001 em diante – 5% Esta lei dispõe ainda que a dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário reabilitado da Previdência Social ao final de contrato ou por dispensa imotivada somente poderão ocorrer após a contratação de outro trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da Previdência Social, garantindo a manutenção da cota, que para ser cumprida deve excluir o aprendiz com deficiência, considerando somente as contratações diretas. Vale ressaltar que nem toda pessoa com deficiência tem direito à reserva de vagas em concursos públicos ou empresas privadas. Essa cota se destina somente àqueles que estejam habilitados ou reabilitados, ou seja, que tenham condições efetivas de exercer determinados cargos. É preciso, então, que apresentem nível suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso e reingresso no mercado de trabalho e participação na vida comunitária. Esta lei de cotas foi apresentada em perguntas e respostas com conteúdo acessível em: http://www.pcdlegal.com.br/leidecotas/wp-content/themes/leidecotas/livrodigital/files/ assets/basic-html/index.html#1 Para efetuar o cumprimento de cotas pelas empresas privada, importante considerar que em seu § 2o, a lei dispõe que incumbe ao Ministériodo Trabalho e Emprego estabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar dados e estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por pessoas com deficiência e por beneficiários reabilitados da Previdência Social. A partir de 1999, com a edição do Decreto n. 3.298, agentes da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério Público do Trabalho iniciaram um processo formal de notificações às empresas para que informassem oficialmente se estavam cumprindo a Lei de Cotas e, com isso, a iniciativa privada realmente passou a contratar tantas pessoas com deficiência quantas jamais imaginaria fazê-lo. Diversos Termos de Ajustamento de Conduta foram assinados e várias autuações foram lavradas. Somente em agosto de 2012, o Ministério do Trabalho e Emprego lançou a Instrução 34 Normativa nº 98, que orienta o Auditor Fiscal do Trabalho sobre como proceder quando fiscalizar o cumprimento da Lei de Cotas. (http://www.anamt.org.br/site/upload_arquivos/ legislacao_-_instrucoes_normativas_2012_181220131710287055475.pdf ) A partir dessa Instrução normativa a coordenação, monitoramento, execução e avaliação dessas fiscalizações ficou concentrado em superintendências regionais de Trabalho e Emprego (SRTEs) de acordo com as circunscrições em que atuam. Para garantir o acesso das pessoas com deficiência às vagas reservadas, os auditores deverão observar o acesso às etapas de recrutamento, a distribuição dos empregados pela empresa, a manutenção do posto, a jornada de trabalho, a acessibilidade e as condições de saúde e segurança. Em caso de irregularidade, o fiscal poderá lavrar auto de infração e consequente imposição de multa ou ser encaminhado relatório ao Ministério Público do Trabalho para medidas legais cabíveis. Na prática, existe uma base de dados chamada Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED que foi instituído pelo Ministério do Trabalho e Emprego para controlar as admissões e demissões de empregados sob o regime da CLT de forma permanente. A partir desses dados os gestores das unidades do Ministério do Trabalho e Emprego são informados mensalmente sobre empresas com “indícios de irregularidades”. Esta informação pode ser obtida por exemplo, pelo cruzamento dos números de funcionários versus o número de deficientes contratados. Com este alerta, os gestores notificam, via Correios, estas empresas para comprovarem suas regularidades, com dia e hora determinados. Não havendo tal comprovação de regularidade por parte da empresa, esta é autuada e fica em fiscalização até sua regularização, sujeita a multas e outras penalidades. A multa é a prevista no art. 133 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, calculada na seguinte proporção, conforme estabelece a Portaria nº 1.199, de 28 de outubro de 2003: I – para empresas com 100 a 200 empregados, multiplicar-se-á o número de trabalhadores portadores de deficiência ou beneficiários reabilitados que deixaram de ser contratados pelo valor mínimo legal, acrescido de zero a 20%; II – para empresas com 201 a 500 empregados, multiplicar-se-á o número de trabalhadores portadores de deficiência ou beneficiários reabilitados que deixaram de ser contratados pelo valor mínimo legal, acrescido de 20 a 30%; III – para empresas com 501 a 1.000 empregados, multiplicar-se-á o número de trabalhadores portadores de deficiência ou beneficiários reabilitados que deixaram de ser contratados pelo valor mínimo legal, acrescido de 30 a 40%; IV – para empresas com mais de 1.000 empregados, multiplicar-se-á o número de trabalhadores portadores de deficiência ou beneficiários reabilitados que deixaram de ser contratados pelo valor mínimo legal, acrescido de 40 a 50%. § 1º O valor mínimo legal a que se referem os incisos I a IV deste artigo é o previsto 35 no art. 133 da Lei nº 8.213, de 1991. § 2º O valor resultante da aplicação dos parâmetros previstos neste artigo não poderá ultrapassar o máximo estabelecido no art. 133 da Lei nº 8.213, de 1991. No cumprimento das normas de reforço da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, outros órgãos podem ser chamados a atuar em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego, como o Ministério Público do Trabalho (MPT) cumprimento das normas de incremento do trabalho das pessoas com deficiência. A princípio deve ser tentada uma aproximação entre empresários e poder público, mas caso se frustrem as conversações e a lei continue sendo descumprida, o Ministério Público do Trabalho tentará resolver a situação por meio do Termo de Ajuste de Conduta que estipulará prazo para sua adequação. Sendo impossível, ainda mais uma vez, o entendimento, ajuíza-se Ação Civil Pública, que fixará multa inerente à obrigação de contratar, até que a cota se preencha, bem como indenização social pelo descumprimento da lei. A gestão de políticas voltadas para integração da pessoa com deficiência no âmbito federal deve ser feita pela Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), órgão de assessoramento da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. De modo complementar, o CONADE e os Conselhos Estaduais e municipais de defesa dos direitos das pessoas com deficiência deve acompanhar e avaliar o desenvolvimento da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Segundo dados divulgados pela Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – (http:// pdet.mte.gov.br/dados-pcd-por-cota), em 2016, houve um aumento de 3,79% no número de pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal brasileiro, em relação ao ano anterior, totalizando 418.521 pessoas com deficiência com carteira assinada. Entre 2009 a 2016 houve um acréscimo de 45% de PcDS no mercado de trabalho, enquanto o mercado formal de emprego só cresceu 12%. São Paulo é o estado que mais contrata com 127.464 trabalhadores com deficiência com carteira assinada. Na sequência estão: Minas Gerais (42.295); Rio de Janeiro (33.115); Rio Grande do Sul (32.366); e Paraná (28.560). Para assegurar o cumprimento das cotas, o Ministério do Trabalho realizou em todo Brasil 10.324 fiscalizações que não se limitam a multar as empresas, mas buscar também conscientizar os empregadores sobre vantagens de contratação de trabalhadores com deficiência. O Sistema Nacional de Emprego (SINE) tem sido um grande intermediador entre as empresas e o trabalhador com deficiência, participando inclusive de campanha como o Dia D – Dia Nacional de Contratação da Pessoa com Deficiência e do Beneficiário Reabilitado do INSS. Durante a campanha, os SINES fazem o atendimento exclusivo de pessoas com deficiência, com grande divulgação. 36 *** Outras temáticas podem ser apresentadas como políticas públicas para pessoas com Deficiência, como por exemplo as relacionadas a acessibilidade em locais públicos, mas que já foi abordada na apresentação da lei 10.098/2000. Acessibilidade é uma temática tão importante e com tantas especificidades que foi desenvolvido uma cartilha chamada “Todos juntos por um Brasil mais acessível” que apresenta de modo claro e esquematizado todos os itens imprescindíveis na elaboração de projetos de calçadas, rampas, escadas entre outros. Para maiores informações ver: http://www.ampid.org.br/v1/wp-content/uploads/2015/03/Cartilha_miolo_curvas_ WEB.pdf Apresentamos em anexo uma lista de leis, decretos e portarias que podem ser acessadas pelos conselheiros, na busca por instrumento de apoio a elaboração e implementação das políticas públicas para pessoa com deficiência. *** Para finalização deste primeiro módulo, consideramos interessante a apresentação do panorama das conquistas das pessoas com deficiência no direito brasileiro apresentado por Marta Almeida Gil, consultora na área de inclusão de pessoas com deficiência. 37 38 MÓdULO 2 - nOrMas e regULaMentOs para OrientaçãO da fOrMaçãO dOs cOnseLhOs das pessOas cOM deficiência *Orientação sobre o Módulo II: Vamos aprendercomo organizar as ferramentas? Prezado participante, seja bem-vindo ao Módulo II. Esperamos que vocês tenham apreciado a apresentação do panorama geral do conjunto de normas e regulamentos nacionais e internacionais que deverão ser vistos como instrumentos a serem utilizados na luta pela construção do controle social exercido pelos Conselhos no Módulo I. Todavia, para ser um bom conselheiro não basta apenas conhecer o conjunto de regras e regulamentos que o Brasil se comprometeu a cumprir no âmbito internacional e doméstico. Tais direitos seriam como uma linda caixa de ferramenta que sem organização e indicação sobre o modo de utilização não serviriam para grande coisa. Nesse sentido, apresentamos nesse módulo 2 esclarecimentos sobre as normas e regulamentos para a formação dos conselhos das pessoas com deficiência, por acreditarmos que um conselho bem constituído e consciente de suas funções e competências poderá realizar um trabalho mais efetivo na utilização dos instrumentos apresentados no Módulo I. Neste módulo serão abordados os seguintes tópicos: 1. A função pública dos Conselhos para fiscalização e controle 2. Diretrizes orientadoras para a criação, funcionamento e aprimoramento do papel dos Conselhos 3. Quais são os órgãos que podem auxiliar os Conselhos para a efetivação do Controle Social 4. Mecanismos de participação BOns estUdOs e fOcO na OrganizaçãO dOs instrUMentOs! 39 1. Contextualização A rede de conselhos específicos para as pessoas com deficiência é coordenada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONADE, vinculado à Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos. O CONADE é órgão paritário, composto por governo e sociedade civil, de deliberação colegiada e cuja competência é exercer o controle social, acompanhando e avaliando a política nacional para inclusão da pessoa com deficiência em todas as áreas: educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer, política urbana dentre outras. Os Conselhos Estaduais, Municipais e do Distrito Federal integram essa rede sendo instâncias de participação e de controle social em suas esferas de governo. A partir de Conferências Nacionais dos Direitos da Pessoa com Deficiência, os Conselhos se reúnem para a troca de experiências e fortalecimento das frentes de trabalho buscando aprimorar a formulação e acompanhamento da implantação e implementação de políticas públicas voltadas à inclusão da pessoa com deficiência. Um trabalho articulado e efetivo deve começar pela compreensão da função pública dos Conselhos para fiscalização e controle de políticas públicas, indo muito além do atendimento de demandas e denúncias individuais. Partindo deste entendimento, os indivíduos interessados em criar ou reformular um conselho devem conhecer algumas diretrizes orientadoras e essenciais para o aprimoramento do papel deste importante órgão. Por fim, deve ser estabelecido os limites de atuação do conselho e a necessidade do auxílio de determinados órgãos para a efetivação do controle social no atendimento das políticas públicas de defesa dos direitos das pessoas com deficiência. *** 40 Para iniciar nosso Módulo II, convido vocês para assistir a um vídeo de apresentação de Izabel Maior, membro do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Rio de Janeiro, que nos explica com muita clareza e propriedade a temática da Criação e Reformulação dos Conselhos, reforçando a importância deste para a elaboração, fiscalização e monitoramento das políticas públicas de defesa da pessoa com deficiência. 41 2. A função pública dos Conselhos para fiscalização e controle Existe muita confusão em relação a real função pública dos Conselhos. Algumas pessoas consideram que estes serviriam para o atendimento de demandas e denúncias individuais, o que não está correto. A principal função do Conselho está em sua utilização no controle social. O controle social surgiu a partir da Constituição Federal de 1988 estabelecendo o controle, monitoramento e avaliação de políticas públicas, por meio de conselhos setoriais ou de defesa de direitos. 2.1. O desafio do exercício da representatividade política A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 1º, parágrafo único que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Com isso, verifica-se a instituição da obrigatoriedade da regulamentação de políticas públicas a partir da criação de órgãos de controle social no governo, denomina- dos Conselhos. Algumas dessas políticas estão previstas em alguns atos normativos como: • PPD: 7.853/89 - Apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração so- cial, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pes- soas, disciplina a atuação do Ministério Público. • ECA: 8069.90 - Proteção integral às crianças e adolescentes • SAÚDE: 8080/90 - Sistema Único de Saúde • LOAS: 8742/93 - Assistência Social • LDB: 9394/96 – Diretrizes e Bases da Educação • Dec 3.298/99 – Regulamentação Lei 7853/89 - Política Nacional para a Integra- ção da Pessoa Portadora de Deficiência, • Convenção sobre os Direitos das PcD - DECRETO LEGISLATIVO 186\2008 • LBI: 13.146/2015 -Lei Brasileira de Inclusão 42 Nos últimos anos o Brasil tem avançado no que se refere ao incremento da democracia participativa. As práticas representativas/participativas são desempenhadas desde as mais tradicionais como referendo e plebiscitos até as mais contemporâneas como audiências e conferências que permitem uma maior participação social para os processos de evolução e mudanças fundamentais. Dentre esses instrumentos temos os Conselhos de Políticas Públicas que tem demonstrado um real avanço em sua atuação. A lei 13.019/2014 estabelece o Marco Regulatório da Sociedade Civil e prevê em seu artigo 2º, inciso IX que Conselho de política pública é um órgão criado pelo poder público para atuar como instância consultiva, na respectiva área de atuação, na formulação, implementação, acompanhamento, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Isso demonstra a importância dos conselhos no processo de controle social. 2.2. A importância do Controle Social para a efetivação da representatividade Segundo a Política Nacional de Assistência Social de 2004, controle social consiste na “participação do cidadão na gestão pública, formulando, fiscalizando e monitorando o controle das ações da administração pública no acompanhamento das políticas, portanto um importante mecanismo de fortalecimento da cidadania” 3 O controle social pode ser estabelecido a partir de três dimensões: • Dimensão Política - relaciona-se à mobilização da sociedade para influenciar a agenda governamental e indicar prioridades; • Dimensão Técnica - diz respeito ao trabalho da sociedade para fiscalizar a gestão de recursos e a apreciação dos trabalhos governamentais, inclusive sobre o grau de efeti- vidade desse trabalho na vida dos destinatários; • Dimensão Ética - trata da construção de novos valores e de novas referências, funda- mentadas nos ideais de solidariedade, da soberania e da justiça social. Em cada uma dessa vertentes, deve ser operacionalizado o exercício de democratização da gestão público e privada a partir de três ações: • Proposição e direcionamento das políticas públicas para o atendimento das necessida- des prioritárias da população; • Controle da observância das normas gerais que regulam as atividades auxiliares ou meio; • Fiscalização da execução das atividades, dos programas, ações, projetos e serviços públicos, bem como a efetiva aplicação dos recursos. 3 Para maiores informações sobre a Política Nacional de Assistência Social ver http://www.mds.gov.br/we- barquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf Acesso em 06/09/2018 43 Sendo assim, percebemos o importante papel
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