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Formas de Conhecimento Metodologia Científica Prof.: Bruno Carrasco Como conhecemos? Como conhecemos as coisas do mundo e a nós mesmos? Conhecemos o mundo e as coisas por meio de instrumentos que intermedeiam nossa relação com as coisas do mundo. Conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito do conhecimento e o objeto conhecido, onde neste processo o sujeito se apropria, de certo modo, do objeto conhecido. “A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.” (Marconi & Lakatos) Conhecimento do Senso Comum “Manifestação”, por Antonio Berni, 1934. Senso Comum Toda pessoa desenvolve, em sua história de vida, suas próprias “teorias” ou ideias sobre o mundo, as coisas e sobre si mesma. Porém, nem sempre essas ideias são refletidas, avaliadas ou questionadas. São concepções que muitas vezes partem de um “senso comum”, aprendidas na convivência com outras pessoas. Acostumamos a olhar para as situações de forma encarando as relações entre as pessoas como algo que sempre foi e sempre será da mesma maneira. Atribuímos explicações aos fatos que acontecem em nossa sociedade que baseados em nossas interpretações, estabelecendo juízos de valor sobre as coisas que acontecem. Com isso formamos nosso conhecimento por meio de um senso comum, que é compartilhado e convencionado entre outras pessoas. Senso Comum O senso comum é uma forma de entender o mundo e as coisas que resulta da experiência de vida individual e coletiva. Os hábitos e costumes, as tradições e rituais, os “ditos” e provérbios, as opiniões populares, etc., são manifestações do senso comum. Sua aprendizagem é uma condição necessária para a socialização de cada membro da comunidade, funcionando como um mecanismo regulador do seu pensamento e da sua ação. Segundo a ciência e a filosofia, os argumentos do senso comum são, em grande parte, superficiais e falíveis, e o fato de serem aceitos socialmente não garante que sejam verdadeiros. “Uma Mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade.” (Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha Nazista) Senso Comum O conhecimento por meio do senso comum é empírico, ametódico, assistemático, cotidiano, subjetivo, casual, espontâneo e fragmentado. Depende de juízos pessoais a respeito das coisas, ocorrendo o envolvimento das emoções e dos valores de quem observa. Trata-se de um conhecimento subjetivo, onde uma pessoa seleciona os dados observados, muitas vezes sem nenhum critério de rigor, de forma ametódica e ao acaso, envolvido pelas emoções e restrito pela experiência vivida, elaborando conclusões, geralmente carregadas de preconceitos e estereótipos. Provérbios e ditos populares Os provérbios e os ditados populares são frases curtas que sintetizam sabedorias passadas de pessoas a pessoas. Alguns deles possuem rimas para facilitar sua memorização e repetição. Estão presentes em muitas culturas e surgem das relações cotidianas, deste modo seus autores são muitas vezes desconhecidos. Alguns exemplos de sabedoria popular: ● Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura. ● A pressa é a inimiga da perfeição. Exemplos de ditados populares ● As aparências enganam. ● Cada macaco no seu galho. ● Caiu na rede, é peixe. ● Cão que ladra não morde. ● De grão em grão, a galinha enche o papo. ● De médico e de louco todo mundo tem um pouco. ● Devagar se vai ao longe. ● Deus ajuda quem cedo madruga. ● Diz-me com quem andas e te direi quem és. ● Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Exemplos de ditados populares ● A mentira tem perna curta. ● O barato sai caro. ● Onde há fumaça há fogo. ● Para bom entendedor, meia palavra basta. ● Por ele eu ponho a mão no fogo. ● Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha. ● Quem canta seus males espanta. ● Quem não tem cão, caça com gato. ● Quem ri por último ri melhor. ● Quem tem boca vai à Roma. ● Uma andorinha sozinha não faz verão. "O senso-comum possui um olhar e uma escuta próprios, resistentes a tudo aquilo que o coloca em questão." (Martin Heidegger) Conhecimento Teológico “O Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”, por Jacopo Torriti, 1296. Conhecimento Teológico O conhecimento teológico se constitui por meio da aceitação de explicações desvendadas pelo mistério, que são recebidas por meio da fé diante do conhecimento revelado. Mistério é tudo aquilo que é oculto e que provoca a curiosidade, podendo estar relacionado à temas da natureza, da vida futura, da existência do absoluto, entre outras questões. Aquele que manifesta o oculto é o revelador, que conhece Deus e revele aos homens o mistério divino. Aquele que recebe a manifestação é o portador de fé no revelador. Jesus Cristo é um exemplo de transmissor deste conhecimento. Conhecimento Teológico O conhecimento revelado e aceito pela fé teológica constitui o conhecimento teológico. Trata-se de um conjunto de verdades que os homens e as mulheres alcançaram não por meio de sua inteligência ou experiência, mas por meio da aceitação da revelação e da autoridade divina. São estes os conhecimentos adquiridos por meio dos Livros Sagrados e aceitos pelas pessoas que possuem fé na revelação, aceitando assim as verdades reveladas muitas vezes como o único conhecimento válido sobre o mundo, as pessoas e as coisas. O conhecimento teológico apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas, por terem sido reveladas tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis. É um conhecimento que oferece respostas sobre a origem, o significado, a finalidade e o destino da vida, por meio da obra de um criador divino. Suas evidências não são verificáveis, pois demandam a atitude de fé para aceitação. A adesão das pessoas a tais verdades passa a ser um ato de fé, pois o mundo é interpretado como decorrente do ato de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida. Conhecimento Teológico Conhecimento Científico “A Lição de Anatomia do Dr. Tulp”, por Rembrandt, 1632. Conhecimento Científico O conhecimento científico é metódico, sistemático, organizado, verificável, objetivo, generalizado. A ciência moderna surge com a determinação de um objeto específico de investigação e com o método pelo qual se fará o controle desse conhecimento. A preocupação do cientista está na descoberta das ‘regularidades’ que existem em determinados fatos. Por isso, a ciência é ‘geral’, isto é, as observações feitas para alguns fenômenos são generalizadas e expressas pelo enunciado de uma lei. Conhecimento Científico Segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), só conhecemos uma coisa de maneira absoluta quando sabemos qual a causa que a produz e o motivo de sua produção. Para Francis Bacon (1561-1626), “conhecer verdadeiramente, é conhecer pelas causas”. A ciência é um conjunto sistemático de proposições rigorosamente demonstradas, constantes e gerais, ligadas entre si por meio de relações de subordinação entre os seres, os fatos e os fenômenos da experiência. Sendo um conhecimento apoiado na demonstração e na experimentação, aceitando somente fatos provados por meio do método experimental. Características do conhecimento científico ● É verdadeiro e explicativo, explica os motivos de suas certezas, por meio de argumentos indutivos ou dedutivos; ● É generalista, busca conhecer o que há de mais universal e válido para todos os casos da mesma espécie; ● É metódico e sistemático, entende que os seres e os fatos estão ligados entre si por relações específicas, buscando entender e explicar esse encadeamento, buscando leis e princípios, constituindo um sistema próprio; ● É objetivo, pois evita a compreensão por meio da experiência subjetiva, buscando encontrar uma neutralidade de entendimento perante os objetos estudados. Conhecimento Científico A ciência tal como conhecemos hoje, é relativamente recente, pois somente na Idade Moderna que o conhecimento adquiriu um caráter científico tal como utilizamos nos dias dehoje. Porém, desde o início da humanidade já se encontram traços rudimentares de conhecimentos e técnicas que constituíram a ciência. A revolução científica aconteceu entre os séculos XVI e XVII, com Copérnico, Bacon e seu método experimental, Galileu, Descartes e outros. O filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) buscou estabelecer as condições para que possamos obter um conhecimento seguro da verdade. Tudo aquilo que se mostrasse incerto teria que ser analisado a partir do elemento verdadeiro revelado ao final do processo. Francis Bacon (1561-1626) O filósofo inglês Francis Bacon foi o fundador do empirismo moderno. Sua preocupação era a de estabelecer bases seguras para o conhecimento válido e ele as procurava no campo das experiências pessoais, porém é necessário dar à razão uma base nas experiências dos sentidos, na percepção, desde que essa percepção tenha sido purificada, liberada de erros e ilusões a que está submetida no cotidiano. René Descartes (1596-1650) René Descartes é tido como inaugurador da modernidade no sentido em que ele marca o fim de todo um conjunto de crenças que fundamentavam o conhecimento. O homem moderno não busca a verdade num além, em algo transcendente; a verdade agora significa adquirir uma representação correta do mundo. Essa representação passa a ser interna, a verdade reside no homem e se dá para ele. Conhecimento Científico Aos poucos o método experimental é aperfeiçoado e aplicado em novos setores, com o desenvolvimento do estudo da química e biologia surge, no século XVIII, um conhecimento mais objetivo de estrutura e funções dos organismos vivos. No século XIX há uma modificação geral nas atividades intelectuais e industriais, surgem novos conhecimentos sobre a evolução, o átomo, a luz, a eletricidade, ao magnetismo e a energia. Já no século XX, a ciência, com seus métodos objetivos e exatos, desenvolve pesquisas sobre questões físicas e humanas, atingindo um alto grau de precisão em muitos aspectos. Conhecimento Filosófico "A Morte de Sócrates", por Jacques-Louis David, 1787. Conhecimento Filosófico O conhecimento filosófico é diferente do científico tanto em seu objeto de investigação quanto em seu método de investigação. O objeto das ciências são dados próximos e imediatos, perceptíveis pelos órgãos dos sentidos ou com auxílio de instrumentos específicos. Já o objeto da filosofia nem sempre é perceptível pelos sentidos e, muitas vezes, ultrapassa as experiências. Tal como a ciência, o procedimento parte de dados materiais e sensíveis, porém esses dados são elevados à ordem metempírica, não mais sensível. O filosofar é um interrogar e um contínuo questionar a si mesmo e a realidade. A filosofia não é e nem nunca será algo feito e acabado, mas sim uma busca constante de sentidos, compreensões, possibilidades, justificações e interpretações. Filosofar é interrogar A tarefa fundamental da filosofia é a reflexão. Em nossa vida adquirimos conhecimentos em variadas áreas do saber, e a filosofia busca refletir sobre estes saberes, colocando eles em questão e problematizando. Filosofar é interrogar os fatos e os problemas que envolvem o ser humano, em sua vida concreta, inserido num contexto histórico e geográfico. Algumas questões da Filosofia são, por exemplo: Qual o sentido da vida? Existe algo absoluto? O ser humano será dominado pela técnica? As máquinas vão substituir as pessoas? O progresso tecnológico é benéfico para a humanidade? Quais os valores da sociedade atual? A filosofia não oferece respostas definitivas A filosofia não oferece soluções definitivas para a grande parte de suas questões, porém possibilita as pessoas a refletirem melhor e mais profundamente sobre o que acreditam, sobre o modo como vivem e sobre o que acreditam, permitindo reavaliar nossos valores e a vida que levamos. O ato de filosofar é justamente questionar saberes e rever o que entendemos, colocando em dúvida o que sabemos sobre o mundo, as pessoas, as ideias e as coisas, para que possamos perceber e compreender as coisas de maneira mais aprofundada. Não há nada mais curioso e aberto do que se questionar sobre o que já sabe, ou sobre o que se supõe saber. "As perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta." (Karl Jaspers) Áreas da Filosofia ● Epistemologia: questiona sobre o modo como conhecemos e os métodos utilizados para adquirir conhecimento; ● Estética: estudo da percepção estética e sobre as diferentes formas de expressão artística; ● Ética: estuda os costumes e as maneiras das pessoas se relacionarem no tempo e na história, valores éticos e morais que orientam a conduta; ● Filosofia da Linguagem: relação entre a linguagem, o pensamento, e o conhecimento, investigando suas origens, transformações e funções; Áreas da Filosofia ● Filosofia Política: estuda os modos de organização de uma sociedade, as formas de governo, as relações humanas na coletividade e as instituições; ● Lógica: estuda os raciocínios e argumentos que validam certas concepções e ideias, com o intuito de conhecer os princípios e verificar sua validade; ● Metafísica: estudo das essências das coisas, de suas causas e princípios primeiros, tudo o que está além da física e da experiência sensível. Conhecimento Artístico "O Nascimento de Vênus", de Sandro Botticelli (1485), representa a deusa Vênus emergindo do mar, já adulta. “A Noite Estrelada”, pintura de Vincent van Gogh de 1889, retrata a vista da janela de um quarto de um hospício. "Saturno Devorando um Filho" (1823), de Francisco de Goya. Um dos quadros mais famosos da história da arte que mostra a cena do deus Cronos (Saturno na mitologia romana) devorando o recém-nascido. “Operários”, de Tarsila do Amaral, 1933, representa a variedade racial das pessoas vindas de todas as partes do Brasil para trabalhar nas fábricas em São Paulo na década de 1930, impulsionando o capitalismo e a imigração. "A Queda", de René Magritte (1953) onde apresenta os homens caindo do céu, como uma chuva. A arte é uma forma de conhecimento intuitivo de mundo. Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana - o mito fortemente na emoção, e a ciência na razão -, a arte também oferece uma forma de entendimento da experiência humana por meio da intuição. O entendimento do mundo não se dá somente por meio de conceitos logicamente organizados, mas também pode se dar pela intuição, como as expressões artísticas, que oferecem um conhecimento imediato da forma concreta e individual, que não fala à razão, mas ao sentimento e à imaginação. Conhecimento artístico Arte como expressão intuitiva A arte é uma expressão privilegiada de entendimento intuitivo sobre o mundo, tanto para o artista que cria obras concretas e singulares quanto para o apreciador que se entrega a elas para buscar ou atribuir possíveis sentidos e interpretações. O artista intui sobre os objetos ou eventos que lhe acontecem. Ele percebe um cenário mais amplo e até profundo sobre o que está por trás da aparência exterior do mundo. Todo artista percebe, pela capacidade seletiva e interpretativa de seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser reduzidas num discurso verbal explicativo, pois precisam ser sentidas, não explicadas. Obras de arte Por meio da intuição o artista cria símbolos de sua experiência no mundo e das formas de vida e emoções humanas. As obras de arte são objetos sensíveis, concretos e individuais, que representam a experiência vital intuída pelo artista. Essa apreensão do concreto, do imediato, do vivido, é transportada para a obra de arte que se torna outro objeto concreto para o espectador. Quando apreciamos uma obra de arte, o fazemos por meio de nossos sentidos, e por meio deles intuímos a vivência que o artista expressou numa visão sobre a experiência humana de vida. Percepção e apreensão A luz, a cor,a intensidade, o espaço e o volume são percebidos e usados para ampliar o horizonte de nossa experiência sensível, de modo que nossa apreensão de realidade pode ser alterada pela percepção de diferentes usos de cores ou sons, pela organização de um espaço, por uma textura ou uma forma dada a um material. A arte é um modo de conhecimento intuitivo que fala mais do sentimento do que a razão, nos abre perspectivas para que possamos compreender múltiplas possibilidades do mundo da vida. Ela altera o modo como vemos a realidade ao apresentar novas percepções possíveis. Afetividade Isso é possível por meio da imaginação criativa, que permite ao artista criar obras sobre o que não existe, onde o público as recebe preenchendo-as de sentido. Esse sentido será encontrado por meio do acolhimento da obra pela afetividade, ou seja, deixando que a obra afete nossos sentimentos. Por isso, o conhecimento que a experiência estética de uma obra nos oferece não se resume ao conhecimento de um objeto, uma pessoa ou uma paisagem, mas de todo um mundo de valores, de possibilidades e desejos, que possibilita inclusive o conhecimento de nós mesmos e de nossas reações a este novo mundo descortinado. “Homem Vitruviano”, desenho de Leonardo da Vinci, feito em 1490, representa o ideal clássico do equilíbrio, da beleza, da harmonia e da perfeição das proporções do corpo humano. Referências Bibliográficas ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, Maria Helena. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013. OLIVA, Alberto. Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. SEVERINO, Antonio J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1996. Por: Bruno Carrasco Professor de filosofia e psicologia, terapeuta, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e em pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia e em psicologia existencial humanista e fenomenológica, pós-graduando em aconselhamento filosófico. www.brunodevir.blogspot.com www.instagram.com/brunodevir www.fb.com/brunodevir http://www.brunodevir.blogspot.com http://www.instagram.com/brunodevir http://www.fb.com/brunodevir ex-isto Ex-isto é um projeto dedicado ao estudo e pesquisa sobre a existência, a subjetividade e seus possíveis desdobramentos, a partir da filosofia antiga e contemporânea, da psicologia, da história e das artes, iniciado no final de 2016. www.ex-isto.com www.fb.com/existocom www.youtube.com/existo www.instagram.com/existocom http://www.ex-isto.com http://www.fb.com/existocom http://www.youtube.com/existo http://www.instagram.com/existocom
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