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PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Instituto De Ciências Humanas
Curso De Psicologia
ATIVIDADE DE ESTUDO DIRIGIDO – PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO
JUNDIAÍ
2020
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
Instituto De Ciências Humanas
Curso De Psicologia
ATIVIDADE DE ESTUDO DOMICILIAR – PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO
 Atividade realizada como parte integrante da disciplina Psicodiagnóstico Interventivo, ministrada pela Professora Orientadora, como parte das atividades bimestrais.
JUNDIAÍ
2020
1. INTRODUÇÃO TEÓRICA
O processo psicodiagnóstico tradicional é o modelo mais difundido na América Latina. Ele resultou de uma série de modificações ao longo da história da Psicologia, iniciadas com a adoção pelo psicólogo, do modelo médico, visando localizar nos protocolos dos testes sinais de patologias específicas, até a incorporação do referencial psicanalítico em sua realização. (DONATELLI, 2013)
Essa incorporação deveria ser parcial, restrita à utilização de conceitos da Psicanálise para a interpretação do material produzido pelo paciente. A transposição da dinâmica do processo psicanalítico para a avaliação psicológica era energicamente reprovada, já que isso significava aceitar condutas do paciente como atrasos, silêncios e produções espontâneas, muitas vezes incompatíveis com a atitude. Ainda hoje a definição de sinais psicopatológicos nas técnicas de avaliação constitui um tema importante na literatura da área e uma prática regular entre profissionais. necessária para responder aos instrumentos de exame. (DONATELLI, 2013)
Os settings avaliativo e terapêutico foram claramente diferenciados, o que implicava que no primeiro não havia lugar para intervenções. Os psicólogos que buscaram aproximar esses dois processos foram vistos como prestando um desserviço à profissão, acusados de distorcê-la devido à sua identificação com o psicanalista. Se tratava de um procedimento considerado como um processo temporalmente limitado, que emprega métodos e técnicas psicológicas para compreender os problemas, avaliar, classificar e prever o curso do caso, culminando na comunicação dos resultados. (DONATELLI, 2013)
Ele teria um caráter científico porque parte de um levantamento prévio de hipóteses, a serem confirmadas ou não por passos predeterminados, e seria estabelecido tão logo as entrevistas permitissem levantá-las. Ele teria como objetivo conseguir uma descrição e compreensão profunda e completa da personalidade do paciente, visando explicar a dinâmica do caso no material recolhido, integrando-o num quadro global para, a partir daí, formular recomendações terapêuticas. (DONATELLI, 2013)
Os passos necessários para alcançar esses objetivos seriam: 1) Entrevista inicial com o paciente, para conhecê-lo e extrair informações visando formular hipóteses para planejar a bateria de testes a aplicar. Tais hipóteses seriam traduzidas em forma de perguntas norteadoras do processo subsequente. 2) Aplicação de testes para investigar as hipóteses anteriores. A bateria de testes deve ser aplicada em uma sequência específica, considerando o aspecto avaliado por cada um, seu nível de estruturação e caráter avaliativo. Os testes projetivos seriam fundamentais na avaliação porque apresentam padronização, o que confere uma segurança importante ao diagnóstico. 3) Entrevista devolutiva, cujo objetivo é comunicar ao paciente o que se passa com ele e orientá-lo com relação à conduta a ser seguida, já que a transmissão da informação é o objetivo básico dessa entrevista, mas, às vezes, ela adquire uma importância transcendental, quando nela surgem lembranças reprimidas ou atitudes inesperadas que podem alterar o plano tático antes construído. 4) No caso de encaminhamento, há redação de informe para o profissional remetente. (DONATELLI, 2013)
Assim, visa-se descrever o problema atual e colocá-lo numa perspectiva histórica para apreender o seu significado dentro de um processo vital, num contexto temporal, afetivo e social. Com referência aos potenciais efeitos terapêuticos da entrevista devolutiva, eles são como involuntários, já que o objetivo de todo o processo seria meramente o diagnóstico, e intervenções terapêuticas nesse momento seriam consideradas perigosas, podendo prejudicar o vínculo com o profissional e provocar abandono, por parte do paciente, pela ansiedade. (DONATELLI, 2013)
Em suma, o modo de organização e execução do Psicodiagnóstico Tradicional não permite atingir o seu objetivo de obter uma compreensão profunda, integrada e completa de uma pessoa em sua singularidade. Nesse contexto, não faz sentido opor os processos Psicodiagnóstico Tradicional e Interventivo em termos de suas diferenças de paradigmas, já que estes se embatem e se confrontam dentro do próprio modelo clássico de avaliação. Considerando que é exatamente essa prática contraditória que define a nossa identidade profissional, o psicólogo apareceria como uma sobreposição dissociada das identidades do médico. (DONATELLI, 2013)
O Psicodiagnóstico Interventivo é aquele concebido no contexto do referencial de compreensão da personalidade, instrumentalizado pelas técnicas projetivas e entrevista clínica. Ele começou a ser mais bem delineado no início do ano 2000 e, a partir daí, novas contribuições não cessaram. (LOPEZ,1996)
O Psicodiagnóstico Interventivo não se organiza em termos de passos a serem seguidos, mas de eixos estruturantes: 1) Objetivo de elucidar o significado latente e as origens das perturbações; 2) Ênfase na dinâmica emocional inconsciente do paciente e de sua família; 3) Consideração de conjunto para o material clínico; 4) Busca de compreensão globalizada do paciente; 5) Seleção de aspectos centrais e nodais para a compreensão dos focos de angústia, das fantasias e mecanismos de defesa; 6) Predomínio do julgamento clínico, implicando no uso dos recursos mentais do psicólogo para avaliar a importância e o significado dos dados; 7) Subordinação do processo diagnóstico ao pensamento clínico: ao invés de existir um procedimento uniforme, a estruturação do psicodiagnóstico depende do tipo de pensamento clínico utilizado pelo profissional; 8) Prevalência de métodos e técnicas de exames fundamentados na associação livre, como entrevista clínica, observação, testes psicológicos utilizados como formas de entrevistas, cujos resultados são avaliados por meio da livre inspeção. (LOPEZ,1996)
A adoção desses eixos permite alcançar a compreensão da pessoa em sua singularidade, o que é essencial para realizar intervenções. Portanto, há pouco lugar para interpretações oriundas dos estudos de padronização de testes psicológicos. A realização de devolutivas não tem apenas o intuito de informar o paciente, como acontece no trabalho tradicional, mas de oferecer a ele uma experiência transformadora por meio do vínculo com o psicólogo, que coloque em marcha os seus processos de desenvolvimento. (LOPEZ,1996)
Assim, o conhecimento é construído de maneira conjunta no momento da interação entre o profissional/pesquisador e o paciente/participante, com o primeiro fazendo sua interpretação do material oferecido pelo segundo, que o aceita, rejeita, restringe ou amplia, reformando o que foi dito e devolvendo-o ao psicólogo, que efetua as revisões necessárias; assim, o paciente/participante colabora ativamente na geração do conhecimento. (LOPEZ,1996)
Essa cooperação se desenrola no contexto de uma relação profissional e, portanto, permanece qualitativamente assimétrica, mas não autoritária. Como coleta e análise ou avaliação e intervenção são constituídas uma pela outra, o procedimento não é isento do trabalho de levantamento de hipóteses pelo profissional, pois são elas que norteiam a intervenção, do mesmo modo que o pesquisador qualitativo também inicia seu trabalho com algumas pressuposições a respeito do fenômeno em investigação. (LOPEZ,1996)
A diferença com relação ao Psicodiagnóstico Tradicional é que o apego às hipóteses não se mantém necessariamente por todo o processo, já que elas são colocadas à prova no momento de seu surgimento e, a partir daí,
mantidas para aprofundamento, ganhando contornos diferentes, ou substituídas, não determinando, assim, o processo completo de avaliação. Portanto, similarmente às metodologias qualitativas, o início de um processo diagnóstico/interventivo não é o momento mais importante, mas apenas uma tarefa entre outras. Com isso, não há o estabelecimento sistemático de passos a serem seguidos e, consequentemente, o número de sessões não é definido de maneira precisa após a primeira entrevista. (LOPEZ,1996)
Os instrumentos menos estruturados de avaliação/intervenção, por permitirem uma apropriação pessoal por parte do paciente, possibilitam o alcance do sentido idiossincrático da sua experiência, objetivo também das pesquisas fundamentadas no paradigma qualitativo. Sua análise pelo método da livre inspeção viabiliza a apreensão da singularidade pessoal, ao invés de deixá-la aos moldes das interpretações características dos estudos de padronização. (TAVARES, 2000)
Desse modo, há a possibilidade de geração de novos conhecimentos e do encontro com o inesperado. O termo “interpretação” é utilizado em um sentido amplo. O psicólogo, na medida em que é quem integra o que se diz, torna-se, de fato (em conjunto com o paciente), o elemento mais importante da avaliação/intervenção. O risco de cair em um solipsismo ingênuo é contrabalançado pela participação do paciente no processo, que funciona como um controle da confiabilidade das intervenções; também é essa participação que facilita selecionar o material clinicamente significativo, retirando-o da esfera da consideração solitária do psicólogo. É somente nesse contexto de uma profunda compreensão individual que é possível expandir a ação humana e implementar uma conduta transformadora, objetivos tanto do Psicodiagnóstico Interventivo quanto da investigação qualitativa. (TAVARES, 2000)
2. Desenvolvimento: Análise do estudo de caso 
2.1 Apresentação do caso clínico
O psicodiagnóstico interventivo infantil é um processo de compreensão globalizada, dos aspectos psíquicos, fisiológicos, sociais, cognitivos e familiares, do que se passa com a criança, abordando amplamente os conceitos em que ela se insere, como na família e na escola, assim de proporcionar a melhor compreensão possível das suas necessidades. Compreendo a angústia ou sofrimento pela qual a criança está passando, compreendendo como motivo do comportamento trazido como queixa inicial pelos pais ou encaminhamento escolar. Não olhando apenas para a questão visível da queixa, mas para os motivadores desta, para solucionar profundamente a questão que deve ser diagnosticada. 
Esse processo, deve contar com as seguintes fases: 1. Contato inicial com os responsáveis pela criança, e primeiras entrevistas, que visam identificar o motivo da consulta (queixa inicial), bem como as ansiedades e expectativas colocadas na intervenção; 2. Levantamento das hipóteses iniciais; 3. Planejamento das avaliações, seleção dos instrumentos de diagnóstico e aplicação, como a entrevista clínica, observação clínica, investigação clínica da personalidade, observação lúdica, hora das brincadeiras, procedimento de desenhos e criação de histórias; 4. Análise e integração de todos os dados e informações levantadas; 5. Comunicação dos resultados aos interessados, orientações sobre o caso se houver a necessidade de encaminhamento, e encerramento do processo. 
2.2 Análise Teórica
A partir do caso apresentado, pode-se observar que os objetivos desse psicodiagnóstico interventivo, seriam compreender (a partir da observação dos comportamentos da criança em seus principais ambientes, com a escuta especializada do dizer da paciente, com a escuta especializada do dizer dos responsáveis, e com os resultados das avaliações) as causas do sofrimento da criança, e por consequência, a partir desse trabalho, compreender os comportamentos causados por ele. (OAKLANDER, 1980)
Assim, compreendendo até onde for possível a problemática apresentada pela criança e pela família, elaborar um plano para o trabalho dessa questão, para avaliação das demandas do caso, sendo essas o trabalho do profissional do psicodiagnóstico, mas também de possíveis encaminhamentos para tratamento especializado. Cabe também nesse processo o trabalho do profissional com os responsáveis da criança, abrangendo todos os caminhos para que a criança seja profundamente beneficiada por esse processo, independentemente de suas causas e de quais rumos vai caminhar. (OAKLANDER, 1980)
A partir das informações trazidas pela genitora, pode-se avaliar a constante preocupação da criança em relação à perda. A separação dos pais muitas vezes implica em descontinuidades, rupturas no holding familiar, gerando sentimento de perda e desamparo. Não é somente a presença do casal parental vivendo juntos que promove a saúde mental. Às vezes, conviver com pais em constante conflito prejudica o desenvolvimento dos filhos, por isso é necessário investigar a qualidade do relacionamento do casal antes da separação, para entender a dinâmica familiar na qual a criança estava inserida anteriormente. (BENETTI, 2006)
A saída de um dos pais da residência não é a única mudança na vida dos filhos que acompanha o divórcio parental. Podem acontecer: declínio econômico, mudança de casa e de escola e afastamento de amigos, menos acesso a avós, menos contato com um dos pais, instabilidade produzida e o possível prolongamento do conflito parental através de disputas de guarda e pensão. (BENETTI, 2006)
No período inicial da separação é mais comum aparecerem nos filhos dificuldades, preocupações e sintomas. Diante da separação, os filhos têm que enfrentar o medo de também serem separados: perder o contato com uma das figuras parentais. Serem, de fato, abandonados. O medo de perder o contato com o pai que está indo embora é o principal desajuste causado pelo divórcio. É comum os filhos sentirem-se mais deprimidos e irritados, podendo apresentar queda no rendimento escolar, problemas de ajustamento e de relacionamento interpessoal. (BENETTI, 2006)
Por isso, é um caso que deve ser cuidadosamente avaliado durante o processo de psicodiagnóstico, considerando o sofrimento psíquico e emocional na qual a criança está inserida, assim como todo o seu contexto, e não apenas na separação dos pais, mas sim, em todos os aspectos envolvidos, afim de não se diagnosticar previamente, sem que todos os aspectos sejam devidamente analisados. 
	Entrevista inicial
	A entrevista inicial foi realizada apenas com a genitora da criança. Foi feito o questionamento sobre a queixa que a trouxe para atendimento psicológico, e sobre suas expectativas com o procedimento. A mãe alega que procura melhora para os sofrimentos físicos e emocionais que a filha vem sentindo desde a separação dos pais, a cerca de dois anos. Sua mãe relatou que a filha tem medo excessivo em diversas situações, como dormir sozinha, ficar doente ou fazer novas amizades. A mãe descreveu que a menina é muito quieta e tímida, queixa-se constantemente de dor no peito, cefaleia, náusea, que tem pesadelos e chora constantemente. Ela relatou que, depois que se separou do marido, ficou com a guarda da filha e ambas foram morar na casa da avó materna. Desde essa época, percebeu que esses comportamentos se acentuaram. A mãe foi chamada pela escola porque a menina está com dificuldades de realizar atividades em grupo, fica apreensiva quando tem que apresentar um trabalho e não brinca com os colegas durante o intervalo, ficando sozinha no pátio da escola. A orientadora e a professora da escola relataram que o rendimento da menina nas tarefas escolares é muito bom e que não há prejuízo na sua capacidade cognitiva, e que a única preocupação materna no momento, é com o bem estar da filha, que demonstra diversos sofrimentos emocionais e físicos, e que ela como mãe, reconhece ser consequência do fim do relacionamento com o pai da criança. 
	Anamnese/ levantamento da história da criança
	A partir dos dados obtidos pela pesquisa de anamnese, e pelas informações oferecidas pela mãe, foi possível registrar que,
antes da separação dos pais, a criança já apresentava alguns sintomas leves de ansiedade, mas que eram facilmente revertidos com conversas em família e diálogos com um dos genitores. A mãe traz que o relacionamento do pai com a filha era próximo, desde o início da infância, sempre foram “grudados”. A genitora diz que a filha sempre foi muito apegada aos pais e aos avós, paternos e maternos. Traz que a menina nunca teve muitos amigos, mas se apegava fortemente em alguns colegas. “Nunca foi de quantidade, mas os amigos próximos eram muito próximos. Ela só falava neles”. 
A mãe diz que anterior ao divórcio, a menina nunca passou por nenhum trauma, como perdas de familiares ou de rupturas de relacionamento. Nenhum ente faleceu durante sua infância e nunca precisou ficar longos períodos afastados dos pais ou dos familiares. Estuda na mesma escola desde a época de creche, e manteve o contato com os mesmos amigos desde então. Sempre teve bom rendimento escolar, e se dedica aos estudos mesmo não sendo cobrada pelos pais pelos resultados, sendo uma determinação espontânea da criança, que sempre disse gostar dos estudos e de conhecer coisas novas.
	 Contato inicial com a criança
	O contato inicial com a criança foi de certa forma tenso. Desde o início da sessão, ela se mostrou desconfiada e reservada em praticamente todos os diálogos que foram iniciados. 
Não fez nenhum questionamento ou falas espontâneas, respondendo apenas o que lhe foi perguntado ou solicitado, ainda sim, de forma breve e não aprofundada. Em todas as respostas, refletiu antes de suas falas, indicando que estava escolhendo as informações que estava disposta a compartilhar com a terapeuta. Após ser explicado para a criança o porquê de sua presença ali, e o objetivo das suas visitas, ela se mostrou um pouco mais relaxada em sua postura defensiva, mesmo assim, se manteve breve e desconfiada em suas respostas
	Sessões lúdicas
	Nas primeiras sessões, a criança não fez nenhum movimento para iniciar conversas ou brincadeiras espontâneas, mas aceitava as sugestões e as atividades propostas pela terapeuta. 
Depois de algumas sessões, logo que chegava a menina questionava de pronto qual seria a atividade ou brincadeira do dia, mostrando mais entusiasmo com o processo terapêutico. 
Algumas vezes, deixou e compartilhou momentos com outras crianças em processo, brincando junto e conversando timidamente com elas, embora não tivesse a atitude de procurá-las para tal, sempre aceitou de prontidão a aproximação. 
Depois de cerca de duas sessões onde houve essas aproximações, foi possível notar um laço entre ela e outra menina de sua idade que estava no processo. Chegaram inclusive, segundo as mães das meninas, a marcarem de dormir na casa da minha paciente. 
Nas últimas sessões, a menina brincava mais livremente entre as outras crianças, e convidava a terapeuta para participar das atividades, mostrando estar mais receptiva e confiante nessa relação. 
	Visitas escolar e domiciliar
	Durante a visita escolar, foi observado o mesmo comportamento que a criança apresentava durante as sessões iniciais, de desconfiança e isolamento. Não havia muita aproximação dos colegas, e por isso, a menina pouco conversou e não brincou com os colegas em nenhum momento, falando principalmente com a professora, sobre as atividades da aula. 
Na visita domiciliar, foi observado também esse comportamento de retração, embora houve muito mais contato físico com a mãe e a avó, e mais diálogo também, a criança pouco brincou ou apontou gestos espontâneos, mostrando apenas receptiva a abordagens externas, mas não de atitudes próprias. Foi observada uma dinâmica familiar estável, em que mãe e avó dialogam com frequência e aparentam estar sempre próximas da menina, ambas preocupadas com seu bem-estar. Foi observado um ambiente organizado e limpo, não muito grande, mas confortável o suficiente para a comodidade das três, em praticamente todos os cômodos, há presença de fotografias da família e desenhos produzidos pela menina. 
	Devolutiva com a criança
	Após as sessões lúdicas com a criança serem finalizadas, foi produzido para a criança um pequeno livro infantil, com a história de uma lagarta, muito tímida e solitária. Um dia, essa lagarta ficou observando as borboletas brincando no alto, voando perto uma das outras, em uma brincadeira que aparentava ser muito divertida. A lagarta ficou com muita vontade de brincar também, mas tinha medo de pedir e não deixarem que ela participasse da brincadeira, por isso, ficou apenas olhando. Por vários dias, a lagarta ficou apenas olhando as borboletas, desejando ser uma delas também. Um dia, a lagarta acordou presa em um casulo, e não sabia como sair de dentro dele, ficou assustada, e se sentindo muito sozinha sem poder observar as borboletas. Ela percebeu que era a mesma sensação que sentia fora do casulo, mas agora, sem poder ver ninguém brincar alegremente. Então, ela se conformou que não precisaria sair mais do casulo. No dia seguinte, o casulo estava ainda mais apertado, e cansada de ficar sozinha, começou a se mexer, tentando sair de dentro dele, e percebeu que iria conseguir se quisesse muito, e fizesse força o suficiente. Dito e feito, depois de um tempo tentando, a lagarta rompeu o casulo, ficou com medo de cair, mas percebeu que estava no ar, quando uma borboleta passou ao seu lado. Quando se olhou, viu que tinha se tornado uma delas, e que era tão bonita quanto as outras, ela brilhava. Assim, saiu voando e entrou no grupo das borboletas brincalhonas, sem se importar com o medo de ser rejeitada. E isso não aconteceu, as borboletas ficaram muito felizes com a nova amiga, e ela ficou muito feliz em ser amiga. Ela entendeu que não precisava mais estar sozinha, porque não estava, ela tinha um brilho todo seu. Então, a lagarta, que agora era uma linda borboleta azul, passou os dias brincando alegremente com todas as borboletas que encontrava, porque agora, era livre. 
	Devolutiva com os pais
	O pai da criança compareceu ao último atendimento junto com a mãe. Nesse atendimento, foi explicado e passado para os pais todas as percepções que foram observadas na criança durante o processo de psicodiagnóstico. 
Foi repetidamente explicado que é de extrema importância o cuidado da presença paterna no cotidiano da criança, que sofre por essa ausência e pela sensação de abandono e separação parental. 
Foi observado a necessidade de encaminhamento da criança para psicoterapia, para acompanhamento do processo de adaptação a nova realidade em que está inserida. 
Foi mandado um relatório à escola, exemplificando a melhor maneira de abordar e socializar a criança, no sentido de convidá-la ao contato, não esperando que essa tenha a iniciativa. 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A natureza e qualidade do vínculo estabelecido entre as crianças e seus pais, especialmente o apego, modifica-se com o tempo. Assim, reafirma a concepção de que o enfrentamento do divórcio por parte dos filhos depende em muito do relacionamento anterior estabelecido entre eles e os pais. Pode -se ressaltar que o tipo de vínculo que as crianças estabelecem com seus pais é um importante fator de resiliência no enfrentamento das transições familiares. Também é preciso considerar a existência de uma “resiliência familiar”, ou seja, a capacidade da própria família de reconstruir os seus laços afetivos.
 Pode-se acrescentar que, se o vínculo “suficientemente” positivo que o filho tem com seus pais é rompido, enfraquecido ou ameaçado, a resiliência presente até então pode se transformar num potencial de vulnerabilidade e, consequentemente, gerar sintomas, que descortinam um sentimento de perda, abandono e desamparo. O divórcio parental é uma situação complexa, que envolve uma série de variáveis que precisam ser identificadas e estudadas em favor da saúde mental das pessoas envolvidas. É nesse campo que podem se estabelecer as vulnerabilidades que colocam em risco o processo de individuação em andamento, a ruptura dos relacionamentos poder predispor a criança ao aparecimento de desajustes, ou
prematuridade. Portanto, destaca-se a importância da natureza das relações entre pais e filhos e a continuidade desses laços após a separação, a fim de manter a qualidade da saúde psíquica e emocional da criança. 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ANCONA-LOPEZ, Silvia. A porta de Entrada: da entrevista de triagem à consulta psicológica. Tese de Doutorado. São Paulo: PUC-SP, 1996, p. 9-21 e 166-182 (capítulos II e X).
BENETTI, S. P. C. (2006). Conflito conjugal: impacto no desenvolvimento psicológico da criança e do adolescente. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19, 261-268.
DONATELLI, Marizilda. Psicodiagnóstico Interventivo Fenomenológico Existencial. In: ANCONA-LOPEZ, Silvia. Psicodiagnóstico Interventivo: Evolução de Uma Prática. São Paulo, Cortez Ed., 2013, p. 45-64.
OAKLANDER, Violet. Descobrindo Crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. São Paulo: Summus Editorial, 1980, p. 205-229 (capítulo 9).
TAVARES, Marcelo. A entrevista clínica. In: CUNHA, Jurema Alcides et al. (Org.). Psicodiagnóstico V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000, p. 45-56.
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