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1 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3 2 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL .................................................... 4 3 MÉTODOS OBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ............................ 5 3.1 Peso ......................................................................................................... 7 3.2 Estatura .................................................................................................... 9 3.3 Índice de Massa Corporal (IMC) ............................................................. 11 3.4 Circunferência do Braço (CB)................................................................. 12 3.5 Área Muscular do Braço Corrigida (AMBc) ............................................ 13 3.6 Dobras Cutâneas ................................................................................... 13 4 INDICADORES DE DISTRIBUIÇÃO DE GORDURA CORPORAL .............. 15 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA NO IDOSO .......................................................................................................................17 5.1 Composição corporal ............................................................................. 19 5.1.1 Dobras cutâneas .............................................................................. 20 5.1.2 Bioimpedância elétrica ..................................................................... 20 5.1.3 Parâmetros bioquímicos ................................................................... 22 5.1.4 Proteínas séricas .............................................................................. 22 5.1.5 Índice Creatinina-Altura (ICA)........................................................... 24 5.1.6 Avaliação da Competência Imunológica .......................................... 24 5.1.7 Testes cutâneos ............................................................................... 25 5.2 Consumo alimentar ................................................................................ 26 5.3 Métodos retrospectivos .......................................................................... 27 2 5.4 Recordatório 24 horas (R24h) ............................................................... 27 5.5 Questionário de Frequência Alimentar (QFA) ........................................ 28 5.6 História dietética ou história alimentar .................................................... 29 5.7 Métodos prospectivos ............................................................................ 30 5.8 Registro alimentar estimado ................................................................... 31 5.9 Registro alimentar pesado ..................................................................... 31 6 CONSUMO HABITUAL, ATUAL E PREFERENCIAL DE ALIMENTOS ........ 32 7 MÉTODOS SUBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ........................ 37 7.1 Exame físico ........................................................................................... 37 7.2 Avaliação Subjetiva Global (ASG) .......................................................... 43 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................. 46 9 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .............................................................. 50 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL Fonte: domalberto.edu.br De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o estado nutricional pode ser definido como o resultado do equilíbrio entre o consumo de nutrientes e o gasto energético do organismo para suprir as necessidades nutricionais. O estado nutricional pode ter três tipos de manifestação orgânica: • Adequação Nutricional: manifestação produzida pelo equilíbrio entre o consumo e as necessidades nutricionais. • Carência Nutricional: situação em que deficiências gerais ou específicas de energia e nutrientes resultam na instalação de processos orgânicos adversos à saúde humana. • Distúrbio Nutricional: problemas associados ao consumo inadequado de alimentos, tanto por escassez quanto por excesso, como a desnutrição e o excesso de peso. Os objetivos da avaliação nutricional são: (1) Identificar os indivíduos que necessitam de terapia nutricional severa; (2) Recuperar ou manter o estado nutricional do indivíduo; (3) Identificar o tratamento nutricional adequado. 5 Os pacientes com doenças agudas ou crônicas em risco para a desnutrição devem ser mais bem avaliados. A estado de desnutrição é comum em pessoas obesas, caquéticos ou idosos; que sofreram um trauma; e nos quais a intervenção nutricional é negligenciada. Além disso, o estado nutricional de pacientes hospitalizados por mais de duas semanas se deteriora. Já que muitas faculdades de medicina contam apenas com uma formação mínima em nutrição, os médicos muitas vezes se graduam com pouco conhecimento prático da área e das características da desnutrição. Para manter um alto nível de conscientização, devem-se promover regularmente programas de instrução em temas relacionados à nutrição. 3 MÉTODOS OBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Fonte: endocrino.org.br Os métodos objetivos de avaliação nutricional são considerados indicadores diretos do estado nutricional do indivíduo podendo fornecer tanto informações sobre a ingestão alimentar do paciente quanto, a relação da dieta com o aparecimento de algumas doenças além de ser universalmente aplicável e ter um baixo custo. Porém, podem apresentar desvantagens em relação a exigir um profissional treinado para a 6 aplicação e sofrer alterações que não fossem devido ao estado nutricional propriamente dito. A antropometria é um método que permite a avaliação do peso, da estatura e de outras medidas do corpo humano. Ele representa um importante recurso para a avaliação do estado nutricional do indivíduo e também fornece dados para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. O uso de indicadores antropométricos na avaliação do estado nutricional de indivíduos ou coletividades é a mais adequada e viável para ser adotada em serviços de saúde, considerando as suas vantagens como: baixo custo, a simplicidade de realização, sua facilidade de aplicação e padronização, amplitude dos aspectos analisados, além de não ser invasiva. A avaliação antropométrica é um método de investigação em nutrição baseado na medição das variações físicas de alguns segmentos ou da composição corporal como um todo. É aplicável em todas as fases da vida e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo o seu estado nutricional. Uma outra vantagem adicional da utilização de indicadores antropométricos é a grande quantidade de ferramentas e recursos metodológicos e técnicos já disponíveispara a análise da situação nutricional de indivíduos ou populações e, principalmente, para comunicação e comparação dos resultados. Dessa forma, o método antropométrico estimula o agrupamento dos diagnósticos individuais e permite traçar o perfil nutricional dos grupos de situação nutricional mais vulnerável em faixas etárias, regiões ou em nível nacional. Por serem de uso corrente em todo o mundo, os indicadores antropométricos permitem que se façam comparações internacionais da situação nutricional de grupos em risco nutricional e o amplo estudo de seus determinantes em plano regional, nacional ou internacional. A partir de agora serão estudados alguns itens que compõem o método antropométrico. 7 3.1 Peso O peso corresponde à somatória de todos os componentes corporais e reflete o equilíbrio proteico-energético do indivíduo. Apesar de ser uma das medidas mais simples de ser pesquisada ainda é excessivamente negligenciada pelos profissionais da saúde. Adiante, serão descritas algumas considerações sobre o peso corporal: (1) Peso atual: Para a sua obtenção, em uma balança calibrada de plataforma ou eletrônica, o indivíduo deverá posicionar-se em pé, no centro da base da balança, descalço e com roupas leves. (2) Peso usual: É utilizado como referência na avaliação das mudanças recentes de peso e em casos onde a aferição do peso atual está impossibilitada. (3) Peso ideal ou desejável: O modo mais prático para o cálculo do peso ideal ou desejável é pela utilização do índice de massa corporal (IMC). Peso ideal ou desejável = IMC desejado x estatura (m)2 (4) Adequação do peso: A porcentagem de adequação do peso ideal ou desejável é calculada a partir da seguinte fórmula: Adequação do peso (%) = peso atual x 100 ÷ peso ideal Classificação do estado nutricional de acordo com a adequação do peso: ADEQUAÇÃO DO PESO (%) ESTADO NUTRICIONAL ≤70 Desnutrição grave 70,1- 80 Desnutrição moderada 80,1- 90 Desnutrição leve 90,1- 110 Eutrofia 8 110,1- 120 Sobrepeso >120 Obesidade Fonte: BLACKBURN, G. L. & THORNTON, P. A., 1979. (5) Peso ajustado: É o peso ideal corrigido para a determinação da necessidade energética e de nutrientes quando a adequação do peso for inferior a 95% ou superior a 115%. É obtida por meio da seguinte equação: Peso ajustado = (peso ideal- peso atual) x 0,25 + peso atual (6) Peso ideal para amputados: Com a finalidade de corrigir o peso corporal ideal de amputados, deve-se subtrair o peso da extremidade amputada do peso ideal calculado. A imagem a seguir mostra as porcentagens do peso correspondentes a cada seguimento do corpo: Fonte: Modelo proposto por Osterkemp (1995) (7) Estimativa de peso: É possível estimar o peso por meio das seguintes equações de Chumlea: 9 Homem: [(0,98 x CP) + (1,16 x AJ) + (1,73 x CB) + (0,37 x PCSE) – 81,69] Mulher: [(1,27 x CP) + (0,87 x AJ) + (0,98 x CB) + (0,4 x PCSE) – 62,35] Onde: CP: circunferência da panturrilha AJ: altura do joelho CB: circunferência do braço PCSE: prega cutânea subescapular (8) Mudança de peso: A perda de peso involuntária compõe uma relevante informação para avaliar a gravidade do problema de saúde haja vista sua elevada correlação com a mortalidade. A determinação da variação de peso é realizada por meio da fórmula: Perda de peso (%)= (peso usual- peso atual) x 100 ÷ peso usual Significado da perda de peso em relação ao tempo: TEMPO PERDA SIGNIFICATIVA DE PESO (%) PERDA GRAVE DE PESO (%) 1 semana 1-2 >2 1 mês 5 >5 3 meses 7,5 >7,5 6 meses 10 >10 Fonte: BLACKBURN, G.L., BISTRIAN, B. R.,1997. 3.2 Estatura Estatura é definida como o tamanho ou altura de um ser humano. Sua aferição deve ser realizada, preferencialmente, de forma direta através de um estadiômetro. O método para medição da estatura deve obedecer as seguintes etapas: 1- O paciente deve permanecer de pé, ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo, a cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos; 10 2- Com os calcanhares, ombros e nádegas em contato com o antropômetro/parede; 3- Com os ossos internos dos calcanhares se tocando, assim como a parte interna de ambos os joelhos; os pés unidos mostram um ângulo reto com as pernas; 4- Abaixar a parte móvel do equipamento, fixando-a contra a cabeça, com pressão satisfatória para comprimir o cabelo. Retirar o paciente, quando tiver certeza de que o mesmo não se moveu; 5- Realizar a leitura da estatura, sem soltar a parte móvel do equipamento. É importante ressaltar que após os quarenta anos de idade ocorre uma redução fisiológica da estatura de 1,0 a 2,5 cm por década, decorrentes da redução dos discos intervertebrais, achatamento das vértebras e acentuação da cifose dorsal, lordose e escoliose. Nem sempre temos em mãos os instrumentos necessários para a efetivação do método antropométrico ou o paciente encontra-se incapaz de submeter ao procedimento, como por exemplo, pacientes acamados. Desta forma, podemos lançar mão de cálculos de estimativas de peso, altura e composição corporal conforme veremos a seguir: • Altura do joelho: o indivíduo deverá estar em posição supina ou sentado o mais próximo possível da extremidade da cadeira, com o joelho esquerdo flexionado em ângulo reto. O comprimento entre o calcanhar e a superfície anterior da perna na altura do joelho pode ser medido utilizando uma régua de medir crianças ou com um calibrador específico para isso. Tal método é indicado principalmente para utilização em idosos e obtido, de acordo com o gênero, por meio das seguintes equações de Chumlea: Homens= [64,19 - (0,04 x idade) + (2,02 x altura do joelho em cm)] Mulheres= [84,88 - (0,24 x idade) + (1,83 x altura do joelho em cm)] • Extensão dos braços: Os braços devem ficar estendidos formando um ângulo reto com o corpo. Deve-se medir a distância entre os dedos médios das mãos 11 utilizando-se uma fita métrica flexível. A medida obtida corresponde à estimativa de estatura do indivíduo. • Estatura recumbente: O indivíduo deverá estar em posição supina e com o leito horizontal completo. Deve-se marcar o lençol na altura da extremidade da cabeça e da base do pé no lado direito do indivíduo com o auxílio de um triângulo, e medir a distância entre as marcas utilizando uma fita métrica flexível. 3.3 Índice de Massa Corporal (IMC) Nos procedimentos de diagnóstico nutricional de adultos, a Vigilância Alimentar e Nutricional recomenda o uso da classificação do IMC proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As vantagens de se usar tal método para avaliação nutricional de adultos são: a) Facilidade de obtenção e padronização das medidas de peso e altura; b) Não requer a informação da idade para o cálculo; c) Possui alta correlação com a massa corporal e indicadores de composição corporal do indivíduo; d) Não requer comparação com curvas de referência. Outra característica a ser ressaltada é a sua capacidade de predição de riscos de morbimortalidade, especialmente em seus limites extremos. Para o cálculo do IMC, adota-se a seguinte fórmula: Índice de Massa Corporal (IMC) = Peso (kg)/ Altura² (m) O quadro a seguir traz os pontos de corte estabelecidos para adultos, segundo o IMC. IMC (kg/m²) DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL < 18,5 Baixo Peso 12 ≥ 18,5 e < 25 Adequado ou Eutrófico ≥ 25 e < 30 Sobrepeso ≥ 30 Obesidade Fonte: World Health Organization (WHO), 1995. Como o IMC não distingue o peso associado ao músculo ou à gordura corporal, deve-se investigar a composição corporal, principalmente quando os valores de IMC estiverem nos limites ou fora da normalidade. Também é importante a interpretação dos pontos de corte do IMC em associação com outros fatores de risco. 3.4 Circunferência do Braço (CB) Esta medida representa a soma das áreas constituídas pelostecidos ósseo, muscular e gorduroso do braço. Para a sua obtenção, o braço a ser avaliado deve estar flexionado em direção ao tórax, formando um ângulo de 90º. Localizar e marcar o ponto médio entre o acrômio e o olécrano. Solicitar ao indivíduo que fique com o braço estendido ao longo do corpo com a palma da mão voltada para a coxa. Contornar o braço com a fita flexível no ponto marcado de forma ajustada evitando compressão da pele ou folga. O resultado obtido é comparado aos valores de referência do NHANES I (National Health and Nutrition Examination Survey). A adequação da CB pode ser determinada por meio da equação abaixo e o estado nutricional classificado de acordo com o quadro a seguir: Adequação da CB (%) = CB obtida (cm) ÷ CB percentil 50 x 100 Classificação do estado nutricional segundo a circunferência do braço: ESTADO NUTRICIONAL CB Desnutrição grave <70% 13 Desnutrição moderada 70-80% Desnutrição leve 80-90% Eutrofia 90-110% Sobrepeso 110-120% Obesidade >120% Fonte: Blackburn. G. L.& Thornton, P. A., 1979. 3.5 Área Muscular do Braço Corrigida (AMBc) Este indicador estima a massa muscular, sendo mais apurado que a circunferência muscular do braço e a área muscular do braço, pois a primeira não desconta a medida óssea, e a segunda considera o braço como uma circunferência perfeita, o que não é verdade. A desvantagem desta medida é que ela ainda não foi validada para idosos e obesos. 3.6 Dobras Cutâneas As dobras cutâneas são medidas utilizando um aparelho denominado adipômetro, paquímetro ou plicômetro (imagem abaixo). Seus valores podem sugerir a composição corporal do indivíduo, porém vem cada vez menos sendo utilizadas, pelo advento de técnicas mais modernas e acuradas. 14 Fonte: bisturi.com.br Para a aferição correta das dobras cutâneas é importante levar em consideração as seguintes informações: 1- Ser realizado por profissionais treinados e habilitados; 2- Repetir o procedimento três vezes, utilizando o valor médio das medidas; 3- O paciente deve estar despido no local da medida; 4- Em pacientes obesos ou edemaciados os valores perdem confiabilidade; 5- Os dados são melhor avaliados em série, perdendo importância a avaliação pontual; 6- Os aparelhos devem estar calibrados e exercer uma pressão de 10g/mm2; 7- Preferencialmente o lado avaliado deve ser o não dominante. Mais de vinte locais são descritos para realização da medida das dobras cutâneas. A seguir serão analisados os mais comumente utilizados com suas respectivas técnicas de medição: PREGAS CUTÂNEAS TÉCNICAS DE MEDIÇÃO 15 Tricipital No mesmo ponto médio utilizado para a circunferência do braço, separar levemente a dobra do braço não- dominante, desprendendo-a do tecido muscular, e aplicar o calibrador formando um ângulo reto. O braço deverá estar relaxado e solto ao lado do corpo. Bicipital Com a palma da mão voltada para fora, marcar o local da medida 1cm acima do local marcado para a prega tricipital. Segurar a prega verticalmente e aplicar o calibrador no local marcado. Subescapular Marcar o local logo abaixo do ângulo inferior da escápula. A pele é levantada 1 cm abaixo do ângulo inferior da escápula, de tal forma que se possa observar um ângulo de 45º entre esta e a coluna vertebral. O calibrador deverá ser aplicado estando o indivíduo com os braços e ombros relaxados. Supra-ilíaca A dobra deverá ser formada na linha média axilar, com o dedo indicador logo acima da crista ilíaca, na posição diagonal, ou seja, seguindo a linha de clivagem natural da pele no lado direito do indivíduo. Fonte: LOHMAN et al, 1991. 4 INDICADORES DE DISTRIBUIÇÃO DE GORDURA CORPORAL A forma pela qual a gordura se distribui pelo organismo é mais importante que a gordura corporal total na determinação do risco individual de patologias de acordo com as pesquisas científicas sobre o assunto. Dessa forma, em indivíduos obesos ou com tendência à obesidade é fundamental lançar mão de indicadores que determinem esse tipo de distribuição. 16 Denomina-se distribuição de gordura corporal do tipo androide (obesidade superior) quando o tecido adiposo está concentrado na região abdominal e ginoide (obesidade inferior) quando esse tecido se concentra mais na região dos glúteos, quadris e coxas. É de relevância clínica identificar a distribuição de gordura, visto que a obesidade androide está associada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas. Fonte: youtube.com • Circunferência da cintura: É medida no ponto médio entre o rebordo costal inferior e a crista ilíaca ântero-superior. Sua medida está altamente associada ao risco cardiovascular, sendo considerada como normalidade valores menores que 94 cm para homens e 80 cm para mulheres. • Circunferência do quadril: É considerada a maior medida passando-se pelos trocânteres. Já foi muito utilizada para a realização da relação cintura/quadril, que possui consistente associação com risco cardiovascular (valores de normalidade: RCQ ≤ 0,95 em homens e ≤ 0,85 em mulheres), porém vem deixando de ser usada, uma vez que a medida da circunferência da cintura tem demonstrado uma correlação mais legítima. 17 • Relação cintura-quadril (RCQ): É o cálculo que se faz a partir das medidas da cintura e do quadril para verificar o risco de doenças cardiovasculares. Essa é outra medida que pode ser aferida com o auxílio de uma fita métrica. A relação cintura-quadril é calculada dividindo-se a medida da circunferência da cintura em centímetros pela medida da circunferência do quadril em centímetros. O índice de corte para risco cardiovascular é igual ou maior que 0,85 para mulheres e 0,90 para homens. Um número mais alto demonstra maior risco. Quanto menor o valor da relação, melhor. Mulheres com RCQ de 0,8 ou menos, ou homens com RCQ de 0,9 ou menos é considerado seguros. Uma relação de 1,0 ou maior, para qualquer gênero, é considerada em risco. 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA NO IDOSO Fonte: saude.ig.com.com O adequado estado nutricional ao longo da vida pode ser considerado um dos fatores que determinam a longevidade bem-sucedida. O processo de envelhecimento está associado a diversas alterações fisiológicas, que podem ter importantes implicações sobre o estado nutricional do indivíduo. 18 A avaliação nutricional do idoso apresenta características particulares que as diferencia da avaliação nutricional dos demais grupos populacionais. Medidas utilizadas em jovens e adultos, como peso, altura, e cálculo do índice de massa corporal (IMC), não têm sido validadas entre esse grupo etário. Na impossibilidade de que o indivíduo se mantenha em pé para aferição de peso e estatura, é possível a realização do cálculo de estimativas de peso e altura por meio de equações específicas. Essas equações são rotineiramente utilizadas na prática clínica para a avaliação nutricional, entretanto a acurácia e a precisão delas são pouco conhecidas para idosos brasileiros. Caso a pesagem não seja possível, o peso corporal é estimado por meio de fórmulas de estimativa de peso para idosos que utilizam a altura do joelho (AJ), dobra cutânea subescapular (DCSE), circunferência do braço (CB), circunferência da panturrilha (CP) e circunferência abdominal (CA). A classificação do índice de Massa Corporal (IMC) utilizado para a população idosa é distinta dos valores empregados para o diagnóstico nutricional de adultos. Essa diferença deve-se às alterações fisiológicas nos idosos, entre as quais se destacam: 1- Declínio da altura com o avançar da idade, que ocorre em decorrência da compressão vertebral, mudanças nos discos intervertebrais, perda do tônus muscular e alterações posturais; 2- Diminuição do peso com a idade, que está relacionada à reduçãodo conteúdo da água corporal e da massa muscular, sendo mais evidente no sexo masculino; 3- Alterações ósseas em decorrência da osteoporose; 4- Mudança na quantidade e distribuição do tecido adiposo subcutâneo; 5- Redução da massa muscular devido à sua transformação em gordura intramuscular, o que leva a alteração na elasticidade e na capacidade de compressão dos tecidos. O quadro a seguir traz os pontos de corte do IMC empregados para os idosos. É importante ressaltar que para o cálculo do IMC, adota-se a mesma fórmula utilizada para adultos que já foi citada anteriormente: 19 IMC (kg/m²) DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL ≤ 22 Baixo Peso > 22 e < 27 Adequado ou eutrófico ≥ 27 Sobrepeso Fonte: The Nutrition Screening Initiative, 1994. 5.1 Composição corporal Fonte: alphasonic.com.br A avaliação da composição corporal permite diagnosticar possíveis anormalidades nutricionais proporcionando maior eficiência nas intervenções nutricionais. O acompanhamento longitudinal dos componentes corporais, de massa magra e gordura corporal possibilita compreender suas modificações resultantes de várias alterações metabólicas, além de identificar de forma precoce os riscos à saúde associados a níveis excessivamente altos ou baixos de gordura corporal total e a perdas de massa muscular. A composição corporal é usada juntamente com outros fatores de avaliação para fornecer uma descrição precisa da saúde geral de um indivíduo. As diferenças no tamanho do esqueleto e a proporção da massa corporal magra podem contribuir para as http://www.alphasonic.com.br/ 20 variações de peso corporal entre os indivíduos de altura similar. Por exemplo, atletas musculosos podem ser classificados como sobrepeso, pois seu excesso de massa muscular, não sua massa adiposa, aumenta seu peso. Os adultos mais velhos tendem a ter densidade óssea menor e massa corporal magra reduzida e, portanto, podem pesar menos do que os adultos mais jovens da mesma altura. A variação na composição corporal existe entre os diferentes grupos populacionais assim como dentro do mesmo grupo. A maioria dos estudos de composição corporal que foram realizados em brancos pode não ser válida para outros grupos étnicos. A determinação da composição corporal tem grande importância na prática clínica e na avaliação de populações, devido, principalmente, à associação da gordura corporal com diversas alterações metabólicas. Estudos demonstram que a quantidade de tecido adiposo e sua distribuição corporal estão associadas a elevados valores de pressão arterial, dislipidemias, com concentrações elevadas de triglicerídeos e reduzidas de colesterol de alta densidade (HDL), intolerância à glicose e resistência insulínica, os quais contribuem para a elevação do risco cardiovascular. Diante da influência da quantidade de gordura corporal no estado de saúde dos indivíduos, são indispensáveis métodos capazes de avaliar, de forma precisa e confiável, a quantidade de gordura corporal em relação à massa corporal total. A escolha do método a ser utilizado dependerá de quais compartimentos corporais se pretende determinar e de aspectos como, custo, validade, aplicabilidade do método e grau de treinamento necessário ao avaliador. 5.1.1 Dobras cutâneas É a dobra formada por uma camada dupla de pele e gordura subcutânea medida com o adipômetro. Uma vez que a pele humana tem somente 0,5 a 2 mm de espessura, a medida equivale basicamente à quantidade de gordura subcutânea, sendo usada como indicador da quantidade de gordura localizada naquela região do corpo. A dobra é a medida da espessura de duas camadas de pele e gordura subcutânea adjacente. 5.1.2 Bioimpedância elétrica 21 A bioimpedância elétrica (BIA) é um método de avaliação nutricional, que analisa a composição corporal, por meio da resistência e a reactância dos compartimentos corporais a correntes elétricas de baixa voltagem. Através de equações preditivas, o método é apropriada para estimar a porcentagem de gordura corporal e massa magra. Contudo, requer atenção, pois sua utilização possui limitações referentes a alterações hídricas corporais. A BIA está indicada na análise da composição corporal de pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 16 e 34 kg/m2, passíveis de aferição de peso e estado adequado de hidratação. No quadro a seguir estão descritas, resumidamente, as principais vantagens e limitações da BIA. VANTAGENS LIMITAÇÕES Confortável e não-invasiva. Nem sempre os equipamentos dispõem das equações adequadas para avaliar determinados grupos de indivíduos, a exemplo de jovens e idosos. Equipamento portátil, de fácil manuseio e custo relativamente baixo. Apresenta custo mais elevado do que as técnicas antropométricas, comumente utilizadas. Fornece resultados rapidamente. É influenciada pelo estado de hidratação dos indivíduos avaliados, que pode inviabilizar sua utilização. Alta correlação com os métodos antropométricos e técnicas consideradas padrão-ouro para avaliar a composição corporal. A confiabilidade depende do seguimento do protocolo. 22 Não requer a presença de técnicos altamente especializados para a sua utilização. Depende de grande colaboração do avaliado. Fonte: HEYWARD; STOLARCZYK, 2000; COSTA, 2000. 5.1.3 Parâmetros bioquímicos O interesse pelos marcadores bioquímicos como auxiliares na avaliação do estado nutricional surge na medida em que se evidenciam alterações bioquímicas precocemente, anteriores às lesões celulares ou orgânicas. Entretanto, alguns fatores e condições podem limitar o uso desses indicadores na avaliação do estado nutricional, como utilização de algumas drogas, condições ambientais, estado fisiológico, estresse, injúria e processo inflamatório. No entanto, tais indicadores possuem limitações por sofrerem influência de várias patologias; pela sua baixa especificidade para os problemas nutricionais; pela interação droga/nutriente e pela ingestão recente, entre outras razões. Assim, recomenda-se não utilizar, isoladamente, os indicadores bioquímicos para estabelecer o diagnóstico nutricional. 5.1.4 Proteínas séricas As proteínas são essenciais para as funções reguladoras e estruturais. Um homem adulto de referência (70kg) tem 10 a 13 kg de proteínas que possuem funções estruturais, reguladoras e mediadoras da resposta imune. Não existe estoque de proteínas dispensáveis no corpo humano. Sendo assim, a perda de proteínas resulta em perda de elementos estruturais essenciais, assim como perda de funções. A maioria da proteína humana está concentrada no músculo esquelético, compreendendo cerca de 30% a 50% das proteínas totais, seguida das viscerais (18%). • Albumina: Sua principal função é manter a pressão coloidosmótica do plasma sanguíneo e carrear pequenas moléculas. Apesar de muito utilizada na prática 23 clínica, sua vida média longa a torna um índice pouco sensível às rápidas variações do estado nutricional do indivíduo. O intervalo de tempo para repetir a dosagem deve ser no mínimo de 20 dias. Os valores de referência para albumina estão descritos a seguir: NORMAL DEPLEÇÃO LEVE DEPLEÇÃO MODERADA DEPLEÇÃO GRAVE 3,5g/dL 3,0 a 3,5g/dL 2,4 a 2,9g/dL < 2,4g/dL • Transferrina: Possui como função transportar o ferro do plasma. Apresenta como limitações o fato de estar aumentada na carência de ferro, gravidez, hepatites agudas e sangramentos crônicos. Apresenta-se reduzida em várias anemias, doenças hepáticas crônicas, neoplasias, sobrecarga de ferro e, por ser uma proteína de fase aguda negativa, na presença de processo inflamatório e infeccioso. Os valores de referência para essa proteína estão descritos no quadro a seguir: DEPLEÇÃO LEVE DEPLEÇÃO MODERADA DEPLEÇÃO GRAVE 150- 200 mg/dL 100- 150 mg/dL <100 mg/dL • Pré- albumina: É responsável pelo transportede hormônios da tireoide, mas geralmente é saturada com a proteína carreadora do retinol e com a vitamina A. Possui vida média curta o que a torna um índice bastante sensível para a identificação da restrição proteico ou energética. Seus valores de referência são: NORMAL DEPLEÇÃO LEVE DEPLEÇÃO MODERADA DEPLEÇÃO GRAVE 20mg/dL 10-15mg/dL 5-10mg/dL <5mg/dL 24 • Proteína transportadora de retinol: Transporta a vitamina A na forma retinol. Sua vida média curta a torna um índice muito sensível para a identificação da restrição proteica ou energética. 5.1.5 Índice Creatinina-Altura (ICA) O índice de creatinina-altura é a medida indireta da massa muscular e do nitrogênio corporal. É utilizado para estimar a massa muscular, sendo assim um indicador de catabolismo proteico, apresentando correlação positiva entre ICA, área muscular do braço (AMB) e massa corporal magra. É calculado a partir do volume urinário de 24 horas. Considerações sobre a taxa de excreção de creatinina urinária relacionada à massa muscular do indivíduo: • A creatinina é um metabólito derivado da hidrólise não enzimática da creatina e da fosfocreatina. Ela é um composto encontrado quase exclusivamente no tecido muscular (98%) e é sintetizada a partir dos aminoácidos glicina e arginina, no fígado, pâncreas, cérebro, baço, glândula mamária e rim, indo depois para o músculo. Sua síntese depende das vitaminas B12 e ácido fólico. • Considerando que o conteúdo de creatina no músculo é constante, quando um indivíduo consome uma dieta livre de creatinina, o pool muscular é igual ao excretado, possibilitando a avaliação do compartimento proteico somático. • Uma vez formada, a creatinina não possui função biológica específica e é excretada via renal. 5.1.6 Avaliação da Competência Imunológica Existe uma consistente relação entre estado nutricional e sistema imunológico. A alimentação inadequada provoca a diminuição do substrato para a produção de imunoglobulinas e células de defesa, que apresentam sua síntese diminuída proporcionalmente ao estado nutricional. Com isso, a avaliação imunológica pode auxiliar na identificação das alterações nutricionais. 25 No hemograma, o teste para avaliar a competência imunológica é a contagem total de linfócitos (CTL) ou linfocitometria, que mede as reservas imunológicas momentâneas, indicando as condições do mecanismo de defesa celular orgânica. Pode ser calculada a partir do leucograma. Uma das limitações da CTL é que a mesma sofre influência de fatores não nutricionais como infecções, algumas patologias (cirrose, hepatite, queimaduras, entre outros) e medicações. 5.1.7 Testes cutâneos Os testes de hipersensibilidade cutânea tardia permitem avaliar a imunidade celular do indivíduo. Eles envolvem a injeção intradérmica de pequenas quantidades de antígenos, bem abaixo da pele, geralmente no antebraço, braço e coxa para determinar a reação do paciente. Os antígenos geralmente utilizados são a candidina, tricofitina, estreptoquinase, varidase e tuberculina. A avaliação é feita 24 a 72 horas após a injeção intradérmica. As pessoas saudáveis reagem com induração, indicando que a exposição provavelmente ocorreu e que a imunocompetência está intacta; já os indivíduos desnutridos graves são geralmente anérgicos. CLASSIFICAÇÃO INDURAÇÃO Depleção moderada 5 - 10mm Depleção grave < 5 mm Fonte: Duarte e Castellani (2002) 26 Fonte: veja.abril.com.br 5.2 Consumo alimentar A avaliação do consumo alimentar é realizada para fornecer subsídios para o desenvolvimento e implantação de planos nutricionais e deve integrar um protocolo de atendimento para avaliação nutricional, cujo objetivo deve ser o de estimar se a ingestão de alimentos está adequada ou inadequada e o de identificar hábitos inadequados ou a ingestão excessiva de alimentos com pobre teor nutricional. A avaliação do consumo alimentar individualizada requer, inicialmente, a definição clara da finalidade a ser alcançada para orientar a seleção do método de inquérito. Fatores como estado geral do indivíduo, evolução da condição clínica e os motivos pelos quais o indivíduo necessita de orientação nutricional direcionam a escolha do método de avaliação do consumo alimentar. Dessa forma, no contexto da prática clínica, podem ser estabelecidos três diferentes objetivos para avaliação do consumo alimentar: a avaliação quantitativa da ingestão de nutrientes; a avaliação do consumo de alimentos ou grupos alimentares; a avaliação do padrão alimentar individual. A definição, pelo profissional, de mais de um objetivo pode levar à necessidade de aplicação de mais de um método, porém, deve-se ressaltar que isso pode tornar a consulta nutricional muito extensa e cansativa. 27 Fonte: Pixabay.com 5.3 Métodos retrospectivos São métodos que colhem a informação do passado imediato ou a longo prazo e estão associados à alimentação habitual, ou seja, com o consumo padrão que o indivíduo mantém rotineiramente em um período de tempo prolongado. Para esta investigação, utilizam-se a frequência alimentar, história dietética e recordatório de 24h periódico/seriado. 5.4 Recordatório 24 horas (R24h) O R24h consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridas no período anterior à entrevista, que podem ser as 24 horas precedentes ou, mais comumente, o dia anterior. O questionamento sobre o dia anterior geralmente facilita a recordação, pois o sujeito pode usar vários parâmetros durante a entrevista, como o horário em que acordou ou foi dormir ou sua rotina de trabalho, por exemplo. Além de descrever o tipo de alimento consumido, é necessário que o indivíduo responda detalhadamente sobre o tamanho e o volume da porção consumida. Para 28 favorecer esse processo, o profissional poderá utilizar álbuns de fotografias, modelos tridimensionais de alimentos ou de medidas caseiras. O alimento pode ser registrado em unidades específicas, como: uma fatia, uma banana média, uma bala, um pacote de biscoito. Essa forma de quantificação tem se aprimorado bastante, pois conta-se com softwares, tabelas de medidas caseiras, álbuns fotográficos que possuem diferentes formas de porcionamento e marcas comerciais de alimentos tradicionais O método recordatório de 24 horas de coleta de dados exige que os indivíduos se lembrem especificamente dos alimentos ingeridos e das quantidades consumidas nas últimas 24 horas. As informações são então analisadas pelo indivíduo ou profissional que as solicitou. Os problemas comumente associados a este método de coleta de dados incluem: (1) Uma incapacidade de recordar com precisão os tipos e as quantidades de alimentos ingeridos; (2) Uma dificuldade em determinar se o dia que está sendo descrito representa o consumo típico de um indivíduo; (3) A tendência do indivíduo de superestimar ou subestimar o consumo alimentar. O uso concomitante de questionários de frequência alimentar e recordatório de 24 horas melhora a precisão das estimativas de ingestão. 5.5 Questionário de Frequência Alimentar (QFA) O QFA é considerado o mais prático e informativo método de avaliação em estudos que investigam a associação entre o consumo dietético e a ocorrência de desfechos clínicos, em geral relacionados às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). É amplamente utilizado em grandes estudos epidemiológicos que devem considerar fatores como custo e logística da coleta e análise do inquérito alimentar. No entanto, há um intenso debate na literatura quanto aos seus méritos, face aos erros relativos à acurácia e à precisão amplamente reconhecidos nesse método. Sua habilidade para identificar as relações entre a dieta e doenças crônicas, especialmente 29 o câncer, tem sido questionada em virtude dos recentes resultados nulos observadosem grandes estudos de coorte. O QFA é composto por uma lista de alimentos predefinida e uma seção com a frequência de consumo. Alguns questionários, adicionalmente, podem também conter uma porção média de referência consumida, para que o indivíduo relate se o seu consumo é maior ou menor do que o disponibilizado em medidas caseiras. Quando tal método inclui a quantidade consumida, é chamado de Questionário Quantitativo de Frequência Alimentar (QQFA). A escolha dos alimentos que compõem a lista é norteada pela hipótese do estudo e por outros procedimentos metodológicos. Ainda, o QFA desenvolvido deve ter sua acurácia e precisão avaliada, o que inclui procedimentos complexos e relativamente demorados. Ressalta-se que o QFA pode ser apropriado para estabelecer uma ordenação da ingestão dietética, porém, raramente possui acurácia suficiente para uso quando é necessário estabelecer níveis de adequação de ingestão, como, por exemplo, na avaliação da ingestão dietética segundo valores de recomendação de ingestão de nutrientes. Primeiro, porque não há uma avaliação quantitativa direta das porções individuais consumidas, pois tanto uma porção média para todos os indivíduos de um grupo é assumida, quanto as opções de porções são limitadas a poucas categorias, como pequena, média ou grande. Segundo, por definição do método, o QFA tem uma lista finita de alimento e, portanto, não é capaz de contemplar todos os alimentos consumidos pelos indivíduos. Os alimentos são limitados àqueles considerados como de maior contribuição para os nutrientes investigados. Reconhecendo-se, portanto, as limitações do uso do QFA no ambiente clínico, a utilização desse instrumento não é recomendada quando se objetiva avaliar de forma quantitativa a ingestão de nutrientes. 5.6 História dietética ou história alimentar Refere-se a uma extensa entrevista que objetiva descrever a ingestão dos alimentos sob as perspectivas qualitativa e quantitativa, na qual coleta-se informações referentes aos hábitos alimentares atuais e passados, tratamento dietético anterior, 30 modificações nas condições de vida e na ingestão alimentar, preferências, intolerâncias e aversões alimentares. Além destes aspectos, são comtemplados também fatores como estilo de vida (tabagismo, consumo de álcool e sedentarismo) e uso de medicamentos e/ou suplementos. A entrevista pode incluir o recordatório de 24h, registro alimentar (se possível) ou o questionário de frequência alimentar. É bastante útil em atendimentos de primeira consulta. VANTAGENS LIMITAÇÕES - Leva em consideração as variações sazonais. - Fornece uma completa e detalhada descrição quantitativa e qualitativa da ingestão alimentar. - Elimina variações do dia-a-dia. - Fornece uma boa descrição da ingestão usual. - Descreve o hábito alimentar. -Importante para estudos sobre a relação entre o alimento e patologias clínicas nutricionais. - Alto custo. - Requer um nutricionista altamente treinado para aplicação sem introdução de vieses. - Depende da memória do entrevistado. - Tempo de administração longo. - Dificuldade de padronização da informação na abordagem coletiva. 5.7 Métodos prospectivos São aqueles que registram informações presentes e estão associados à dieta atual, ou seja, ao consumo alimentar em um curto período de tempo corrente. Os métodos utilizados dentro dessa categoria são o recordatório 24h, registro alimentar diário, pesagem da dieta e o orçamento familiar. 31 5.8 Registro alimentar estimado O indivíduo registra, no momento de consumo, todo o alimento e bebidas ingeridos em um período que varia de um dia a uma semana. Costuma-se utilizar o registro de três dias, incluindo um dia de final de semana. As quantidades ingeridas são estimadas em medidas caseiras pelo indivíduo e depois convertidas em gramas. VANTAGENS DESVANTAGENS - Não depende da memória. - Proporciona maior acurácia e precisão quantitativa dos alimentos. - Identifica tipos de alimentos e preparações consumidos e horários das refeições. - Pode interferir no padrão alimentar. - Requer tempo. - Exige que o indivíduo saiba ler e escrever. - A subestimação é comum. - Exige alto nível de motivação e colaboração. - Apresenta dificuldade para estimar a quantidade ingerida. 5.9 Registro alimentar pesado A confiabilidade e validade dos métodos de consumo alimentar são significativamente importantes na prática nutricional. Quando a atenção está voltada para a dieta, os indivíduos podem alterar consciente ou inconscientemente a sua ingestão ou simplificar o registro ou impressionar o entrevistador, diminuindo assim a validade das informações. A validade das informações dos métodos de consumo alimentar de indivíduos obesos muitas vezes é questionável, porque eles tendem a subestimar a ingestão. O mesmo pode ser verdade para as crianças, indivíduos com transtornos alimentares, aqueles que estão gravemente enfermos, aqueles que abusam de drogas ou álcool, indivíduos que estão confusos e aqueles cujo consumo é imprevisível. 32 O registro alimentar pesado é semelhante ao registro alimentar estimado, porém, ao invés de utilizar medidas caseiras, os alimentos são pesados. Esse método aumenta a precisão do tamanho das porções e consequentemente dos nutrientes ingeridos, porém, exige tempo, pode restringir a escolha dos alimentos, o consumo pode ser alterado nos dias de registro, apresenta um custo elevado e é de difícil aplicabilidade na rotina. 6 CONSUMO HABITUAL, ATUAL E PREFERENCIAL DE ALIMENTOS Fonte: Pixabay.com A permanência na alimentação do brasileiro de vários itens alimentares como preparações a base de feijão, milho e preparações a base de milho, batata doce, abóboras, cará, quiabo, ricos em micronutrientes como vitaminas e que contêm alto teor de fibra e baixo índice glicêmico, é um aspecto muito positivo. As fibras e o baixo índice glicêmico, que indica o aumento da glicemia no sangue após ingestão dos alimentos, são características muito favoráveis de uma alimentação, pois reduzem o colesterol e protegem quanto ao aparecimento de diabetes. Interessante que esses alimentos são mais consumidos nas faixas de menor renda e nas populações que vivem na área rural. 33 Os dados sobre consumo alimentar no Brasil são bem abrangentes, pois têm sido realizadas várias pesquisas de âmbito nacional que retratam a alimentação do brasileiro. Um inquérito realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, em 2008-2009, avaliou mais de 30.000 indivíduos de todas as regiões do país. Todos os indivíduos com 10 anos ou mais dos domicílios sorteados para a pesquisa preencheram dois dias de registro de todos os itens alimentares consumidos em casa ou fora de casa. Os dados desse inquérito permitiram distinguir as diferenças urbanas e rurais, por sexo, por faixa de idade e por regiões do Brasil. Nas áreas rurais, as médias de consumo per capita diário foram muito maiores para arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina e peixes. Em contraste, nas áreas urbanas, destacaram-se produtos processados e prontos para consumo como pão, biscoitos recheados, sanduíches, salgados, pizzas, e também refrigerantes, sucos e cerveja, caracterizando uma dieta com alto teor energético. Alguns alimentos como doces, refrigerantes, pizzas e frituras são considerados menos saudáveis, pois sua ingestão leva a um grande consumo calórico. Além disso, esses alimentos apresentam baixo teor de vitaminas e minerais necessários como cálcio, ferro e outros. Destaca-se que o consumo desses alimentos cresce com o aumento da renda per capita da população e é mais expressivo entre os jovens. Por outro lado, o consumo de frutas e verduras, alimentos protetores para doenças como o câncer e as cardiopatias,se reduz muito nas faixas de menor renda e também entre os mais jovens. Pode-se citar como aspecto negativo da alimentação brasileira o alto consumo de açúcar refinado e de sal. A pesquisa do IBGE mostrou que a proporção de indivíduos com ingestão de sódio acima do nível seguro foi de 89% entre os homens e de 70% entre as mulheres adultas. Os alimentos com a maior concentração de sódio são as carnes salgadas e as processadas (presunto, salames, salsicha, mortadela, peito de peru), os queijos e os biscoitos salgados. No ciclo de vida adolescência destaca-se a alta frequência de consumo de biscoitos industrializados, linguiça, salsicha, mortadela, sanduíches e salgados e os 34 valores per capita indicam um menor consumo de leguminosas como o feijão, saladas e verduras. Pelo lado doce, o Brasil é o segundo maior consumidor per capita de açúcar, e as bebidas adoçadas correspondem a quase metade do consumo total de açúcar. Refrigerantes e sucos adoçados estão presentes em quase todas as refeições e lanches realizados no Brasil. Cabe salientar que não há nenhuma necessidade de se beber líquidos quando nos alimentamos e que seu consumo concomitante – líquidos e sólidos – é, por um lado, uma estratégia de mercado e, por outro, uma necessidade biológica causada justamente pela alta concentração de sal ou de açúcar – ou os dois – nos alimentos processados. Em países desenvolvidos, ações visando reduzir o consumo de refrigerantes, pelo menos entre os jovens, têm sido uma das principais estratégias para redução da obesidade. Por outro lado, as redes de fast food internacionais utilizam cada vez mais gigantescas porções de refrigerantes que, além do tamanho, são de consumo permitido. Os alimentos consumidos fora de casa no Brasil são menos saudáveis do que os consumidos em casa, porém, ainda é pequena a parcela de alimentação fora do domicílio no Brasil, correspondendo a 16% das calorias diárias per capita. Em outros países, como nos Estados Unidos, quase toda alimentação já é comprada em porções individuais e o ambiente doméstico pouco influencia na preparação dos mesmos. O Brasil caminha a passos rápidos para um maior consumo fora de casa, que aumenta muito com o aumento da renda. Deveriam ser pensadas políticas de alimentação inovadoras que auxiliassem as famílias a produzir refeições mais ricas nutricionalmente. O desafio para as políticas de saúde pública em relação a uma alimentação saudável no Brasil é enorme, dado que recém incorporamos grande parcela da população ao mundo do consumo e que suas opções aumentam todo dia. A mobilização efetiva da população e das políticas públicas, até muito recentemente, se dava no campo de promover qualquer consumo alimentar e diminuir a fome. Assim, as ações do sistema de saúde em relação ao tema da alimentação são ainda muito restritas e quase não existe mobilização social em prol da alimentação saudável. Embora haja uma avidez por notícias sobre comida e alimentação, não conhecemos reivindicações organizadas de 35 sindicatos, partidos ou grupos populares para melhorar a alimentação, vista cada vez mais como uma questão de opção individual. Equipamentos públicos, particularmente os de educação e saúde, devem ser fomentadores de mudanças tanto do consumo familiar, quanto do papel que esse núcleo desempenha nessas mudanças. Temos oferta de calorias mais do que suficiente para alimentar toda população e alguns produtos baratos, já de ampla produção, poderiam tirar da faixa de inadequação em nutrientes ampla parcela da população. Por exemplo, consumir um bife de fígado uma vez por semana tem impacto muito grande na redução de anemia ferropriva, inadequação de vitamina A, vitamina B1, associada ao beribéri, vitamina B12, associada à anemia megaloblástica. Incluir na alimentação pequenas porções de oleaginosas como castanha do Pará, amendoim e castanha de caju reduziria a alta inadequação de consumo de vitamina E (tocoferol). Incluir sardinhas e outros peixes no consumo semanal reduziria muitas carências como a de vitamina D. Adicionar no consumo diário frutas e verduras poderia nos livrar da inadequação de vitamina C e melhoraria a adequação de cálcio, ou seja, mudanças que no Brasil são muito factíveis do ponto de vista do abastecimento. Medidas de âmbito coletivo, como a política de enriquecimento das farinhas do Ministério da Saúde em relação ao ferro e ácido fólico, já mostraram impacto muito positivo com redução das prevalências de inadequação desses nutrientes. Por outro lado, mudanças na forma de produção da indústria de alimentos são fundamentais. Por exemplo, as oleaginosas são, na sua maioria, apresentadas com alto teor de sal, o que é desnecessário. Os alimentos industrializados são as principais fontes do consumo excessivo de sódio, grande parte proveniente do sal adicionado aos alimentos. Destaca-se como ponto de conflito para as políticas públicas a visão do consumo alimentar como um ato de escolha individual entre os vários bens disponíveis. Mesmo no Brasil já existem críticas cristalizadas sobre o papel interventor do Estado na definição do que se deve ou não fazer ou comer no Brasil. Essas críticas vão além dos representantes da indústria de alimentos, o que já seria esperado, pela possível perda de mercados, mas conta inclusive com cientistas respeitados em suas áreas de atuação 36 que acreditam que indivíduos devem fazer suas escolhas, mesmo as alimentares, sem nenhuma interferência. Essa parece ser uma pequena armadilha, dado que não há grandes opções de escolha de alimentos a preços similares e, mais grave, não há como optar sem conhecer os riscos associados ao grande consumo de sal, de gordura saturada, de açúcar e poucas fibras, que caracterizam grande parte dos alimentos industrializados e de alta circulação no Brasil. Quando itens isolados são analisados observa-se que os indivíduos que referem consumir, por exemplo, biscoitos recheados, salgadinhos industrializados e refrigerantes são os que também consomem mais energia, gordura saturada, menos fibras e mais sal. Não seria possível, portanto, falar em adequação da alimentação sem tentar eliminar itens que concorrem para as altas prevalências de inadequação. Analisando-se a alta prevalência de obesidade – hoje um problema importante de saúde pública no Brasil –, se, por um lado, é fato que ela é o resultado de um consumo de energia, qualquer que seja ele, maior do que o gasto, por outro lado, alguns alimentos de ampla circulação contribuem com muitas calorias e pouquíssima densidade nutricional. Por exemplo, se fosse retirado da alimentação somente as bebidas açucaradas, a inadequação em relação ao consumo de açúcar se reduziria muito e também as calorias consideradas vazias. Populações mais informadas, como ocorre, por exemplo, em países de primeiro mundo, optam por exigir ações do poder público, relacionadas à maior oferta de produtos saudáveis, como frutas, verduras e legumes, maior disponibilidade de tempo para produzirem refeições nutricionalmente adequadas para suas famílias, ausência de alimentos não saudáveis em creches e escolas, assim como em hospitais, afastando-se da tendência crescente de maior consumo de alimentos de conveniência. Os dados do Brasil indicam diversos caminhos para promover possibilidades de alimentação mais saudável, resta saber quanto tempo ainda vamos levar para estimular gestores, mídia e a população em geral a discutir e buscar ações públicas visando uma adequada alimentação saudável que possa prevenir várias doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e, particularmente, o aumento exagerado que se observa das prevalências de obesidade, particularmente entre as crianças e os jovens brasileiros. 37 7 MÉTODOS SUBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Fonte: rj.senac.br Os métodos subjetivos trazem informações indiretas do estado nutricionalcomo história clínica, exame físico e capacidade funcional, porém destacam-se pela sua aplicabilidade, alta reprodutibilidade e confiabilidade, contribuindo de forma a adicionar informações ao profissional da saúde para um real diagnóstico nutricional. Apresentam desvantagens quanto ao treinamento do aplicador, falta de conhecimento sobre o seu emprego e não possuir sensibilidade adequada para detectar todas alterações nutricionais carecendo a combinação com outros métodos de avaliação nutricional. 7.1 Exame físico A realização do exame físico, tanto geral como específico, é importante, pois irá complementar a história clínica, alimentar e nutricional e proporcionar elementos capazes de apoiar hipóteses sobre o diagnóstico nutricional. O exame físico geral pode avaliar uma série de dados do indivíduo, incluindo os antropométricos e sinais clínicos. O exame físico engloba observações dos diversos tecidos de proliferação rápida, os quais refletem precocemente problemas nutricionais, quando comparados a outros 38 tecidos, sistemas corporais (cardiovascular, respiratório, neurológico e gastrointestinal) dos tecidos adiposo e muscular e da condição hídrica do paciente, buscando sempre investigar a presença de alterações específicas. Inicialmente, deve-se registrar a impressão sobre o estado geral do paciente por meio da observação e relato deste. Depressão, fraqueza, tipo físico, estado de consciência, discurso e movimentos corporais devem ser investigados. O exame deve ser realizado de forma sistemática e progressiva, a partir da cabeça até a região plantar. Inicia-se pelo cabelo, seguido dos olhos, narinas, face, boca (lábios, dentes, língua), pescoço (tireoide), tórax (abdome), membros superiores (unhas, região palmar) e inferiores (quadríceps, joelho, tornozelo, região plantar), pele e sistemas (cardiovascular, neurológico, respiratório e gastrointestinal). Cada parte do corpo deve ser examinada de forma cuidadosa, para que, associada ao relato dos sintomas e de outras informações, seja possível a definição ou suspeita diagnóstica para subsidiar a solicitação dos exames laboratoriais. Antes de dar início à realização do exame, deve-se ter atenção aos critérios de preparação e organização: • O profissional deve ter cuidado com a contaminação pessoal e ao paciente: deve- se ter uma higiene criteriosa, tanto das mãos do avaliador, quanto dos equipamentos que serão utilizados. Lembrando que essa higiene deve sempre acontecer antes do início da avaliação e entre um paciente e outro. Caso seja necessário, o profissional deve fazer uso de EPI’s (equipamentos de proteção individual) como luvas, máscaras, jaleco, etc. Isso irá garantir uma maior segurança, tanto para o avaliador como para o paciente; • O paciente deve ser preparado previamente para a realização do exame; o avaliador deve explicar todos os procedimentos a serem realizados, os equipamentos utilizados, as posições necessárias e dar uma prévia do tempo de duração. Assim, o paciente melhor informado poderá colaborar com a avaliação e evitar situações constrangedoras; 39 • A vestimenta deve ser adequada, tanto para o profissional como para o paciente, procurando sempre manter o corpo do avaliado o mais coberto possível, deixando descobertas somente as áreas a serem avaliadas; • Realizar os procedimentos sempre em locais adequados: o paciente deve se sentir à vontade; é importante a privacidade, um ambiente silencioso, suficientemente iluminado e com temperatura agradável; • Para avaliação do abdome, o paciente deve estar com a bexiga vazia. Os procedimentos como aferição do peso devem ser feitos, de preferência, antes das refeições. Em pacientes hospitalizados, recomenda-se que sejam feitas as aferições de peso com o paciente em jejum; • Na aferição da pressão arterial sistêmica, o paciente não deve estar agitado. A mensuração deve ser realizada quando o indivíduo estiver tranquilo, preferencialmente do meio para o final da consulta. Deve ser questionada ao paciente a realização de atividade física antes da consulta, bem como o uso de medicamentos e de alimentos energéticos e/ou estimulantes, uma vez que estes elevam a tensão arterial durante um período determinado de tempo, podendo influenciar na aferição da real pressão arterial desse paciente; • Expressar sempre interesse e respeito pelo relato do paciente, por uma questão humanista e ética e pela contribuição que pode dar para a definição do estabelecimento do diagnóstico; Existem várias técnicas e procedimentos para a realização do exame físico. Dentre essas, abordaremos aqui as que são direcionadas para a avaliação nutricional: • Inspeção: Para esta técnica o avaliador usa a visão, olfato e audição na avaliação do indivíduo, por exemplo, verificando a presença de obesidade, caquexia, condição hídrica, integridade da pele, cicatrização de feridas, icterícia, ascite, capacidade funcional, estado mental, etc. • Palpação: Trata-se de uma avaliação tátil, na qual seu uso tem como objetivo sentir pulsações e vibrações. Por meio desta técnica, o profissional é capaz de 40 avaliar as estruturas corporais como a textura, tamanho, temperatura, consistência e mobilidade, a exemplo do turgor, a elasticidade da pele, integridade da derme, tamanho de órgãos, edema periférico, massas abdominais, massas tumorais, ascite, perda de peso, entre outros. • Percussão: Consiste na avaliação de sons, para determinar o contorno, formato e posição destes. Permite avaliar também se o órgão está sólido ou se há presença de líquidos ou gases. • Ausculta: Nesta técnica avalia-se os sons corpóreos, que podem ser ouvidos com ou sem o estetoscópio (ex.: sons do coração, dos pulmões- presença de líquidos, intestinais- ruídos hidroaéreos e dos vasos sanguíneos). Para algumas carências, o exame físico torna-se específico, como no raquitismo (vitamina D), bócio endêmico (iodo), mancha de Bitot/xerose da conjuntiva (vitamina A), bem como no excesso de tecido adiposo, em que é possível diagnosticar obesidade. As principais vantagens do exame físico são o baixo custo e a execução simples, desde que que o profissional tenha a habilidade necessária. Contudo, é necessário que o avaliador treine seu olhar clínico e é possível que alguns distúrbios nutricionais sejam identificados tardiamente, uma vez que algumas manifestações exteriores só são perceptíveis quando as alterações internas já se encontram graves. Cada parte do corpo deve ser examinada de forma cuidadosa, para que, associada ao relato dos sintomas e de outras informações, seja possível a definição ou suspeita diagnóstica para subsidiar a solicitação dos exames laboratoriais. REGIÃO/SITUAÇÃO EXAMINADA CARACTERÍSTICAS A SEREM AVALIADAS CARACTERÍSTICAS EM CONDIÇÕES NORMAIS Cabelo Coloração, brilho, quantidade, espessura, hidratação, ocorrência de alopecia. Brilhantes, firmes e difíceis de arrancar, aparência normal e espessa, crescimento normal, 41 macios ao tato e coloração adequada. Face Presença de edema ou depleção. Apresentação de: palidez, atrofia unilateral ou bitemporal; Fácies agudo: exausto, cansado, não consegue manter os olhos abertos por muito tempo; Fácies crônico: aparência deprimida, triste, pouco diálogo. Bom Estado Geral, sem sinais de depleção ou edema. Olhos Aspecto, cor das mucosas e membranas, sinais de excesso de nutrientes – xantelasma, arco córneo lipídico, sinais de deficiência de nutrientes: desnutrição – olhos escavados, escuros e flacidez ao redor, hipovitaminoses – xeroftalmia, nictalopia, etc. Brilhantes, membranas róseas e úmidas, sem manchas e boa adaptação visual no escuro Lábios Coloração da mucosa, presença de lesões decorrentes de hipovitaminoses. Lábios macios e sem inflamações. Língua Coloração, integridade papilar, edema, espessamento.Língua vermelha, sem edema, com superfície normal e paladar preservado. Gengivas Edema, porosidade e sangramento Ausência de sangramentos e edema. 42 Peças dentárias Presença de cáries, ausência de peças dentárias, uso de prótese (bem adaptada ou não), alterações em função de excesso ou escassez de nutrientes. Arcada dentária íntegra, sem ausência de peças dentárias ou uso de prótese bem adaptada – não ocasionar comprometimento da mastigação. Pele Cor, pigmentação, integridade, turgor, presença de edema, brilho e temperatura, manifestações decorrentes de deficiência ou excesso de nutrientes. Cor uniforme, lisa, aparência saudável, turgor preservado ou compatível com a idade (no caso de idosos). Unhas Forma, ângulo, coloração, contorno, rigidez e presença de micoses. Uniformes, arredondadas, lisas e firmes. Abdôme Quanto à rigidez: flácido ou tenso; quanto ao volume: distendido, plano, globoso ou escavado; quanto à presença de gases: poucos gazes (normal), maciez (quando há tumor) ou timpânico. Ausência das alterações referidas. Tecido subcutâneo Excesso de tecido adiposo, ou déficit de tecido subcutâneo – flacidez; presença de edema* Ausência das alterações referidas. Tecido Muscular esquelético Retração ou atrofia Ausência das alterações referidas. Sistema nervoso Perdas do controle na contração ou parestesias Ausência das alterações referidas. Condição hídrica Desidratação ou edema* Ausência das alterações referidas. Fonte: Adaptado de Bevilacqua (1997); Martins (2008). 43 *O edema de causa nutricional deve ser: frio, mole, indolor, geralmente não forma cacifo e é bilateral. Fonte: multisaude.com.br 7.2 Avaliação Subjetiva Global (ASG) A AGS representa essencialmente o raciocínio clínico sobre a história nutricional. É composta por anamnese dirigida e exame físico simplificado para aspectos nutricionais. O doente é questionado sobre mudanças do peso habitual, alterações de hábitos alimentares, presença de sintomas e sinais gastrointestinais, assim como distúrbios da capacidade funcional. A doença também é considerada no contexto geral e de acordo com o diagnóstico de base do indivíduo, atribui-se-lhe grau de demanda metabólica leve, moderado e alto. Por último, o paciente é submetido a exame físico simples, objetivando verificar mudanças da composição subcutânea, massa muscular e presença de edema. Esta técnica é eficiente, rápida, prática, de baixo custo, não invasiva e não demanda o uso de aparelhos, além de ter sensibilidade e especificidade apropriadas Nos últimos anos a ASG padronizada tem ganhado adeptos, na medida em que favorece a avaliação do estado nutricional por meio de abordagem ampla, essencialmente clínica, podendo ser realizada em poucos minutos à beira do leito. A 44 ASG contempla por meio da anamnese, a história clínica completa. Essa valoriza essencialmente a progressão de perda de peso do doente e o período em que ocorreu, além de outras variáveis clínicas significantes como a existência de alterações do apetite, a presença de sintomas gastrointestinais e as mudanças da capacidade funcional. Todas essas variáveis são fatores relevantes que interferem no estado nutricional e que devem ser pesquisados. Além dos dados clínicos, o exame físico é dirigido para aspectos nutricionais que possam sugerir deficiências. Fonte: adiva.hr Em quase todas as áreas de atuação, o nutricionista terá que fundamentar a sua prática em informações sobre o perfil nutricional do indivíduo ou grupos populacionais. Assim, avaliar o estado nutricional de um indivíduo ou de uma coletividade é um instrumento importante no processo de trabalho do nutricionista nas diferentes áreas de atuação, a saber: 1- Na área da alimentação coletiva, necessária para o planejamento dos cardápios, de acordo com as condições de saúde e nutrição da clientela; para o monitoramento do estado nutricional e para ações educativas ou outras intervenções necessárias para promoção da saúde, alimentação saudável e prevenção de problemas nutricionais; 45 2- No que se refere à nutrição e saúde pública, conhecer o estado nutricional da população é de fundamental importância para o planejamento de políticas públicas e programas na área da alimentação e nutrição; para o monitoramento e execução de ações de promoção da alimentação saudável e de prevenção dos distúrbios nutricionais; 3- Na nutrição clínica, em que a obtenção do diagnóstico nutricional e as causas a ele relacionadas é condição necessária para a elaboração do plano de atenção alimentar e nutricional para o paciente, incluindo a prescrição da dieta. 46 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. 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