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121 Terapia Antimicrobiana Prática Antibióticos e quimioterápicos Felipe Carniel PRINCÍPIOS PARA A UTILIZAÇÃO DA ANTIBIOTICOTERAPIA REGRA 1: Escolha do antibiótico pela identificação e caracterização do patógeno, determinação da sensibilidade antimicrobiana, características e localização da afecção e espectro de ação do antibiótico. REGRA 2: Obtenção de concentrações efetivas. Esquema terapêutico correto (dose, frequência, tempo de tratamento, via de administração, necessidade ou não de associação e/ou infusão) e localização da infecção (meningoencefalite, prostatite). REGRA 3: Respeitar as contra-indicações e analisar os possíveis efeitos colaterais como nefro, hepato e neurotoxicidade. Cuidado com gestantes, lactantes, jovens, neonatos e idosos. REGRA 4: Fornecer terapêutica de suporte como fluidoterapia, apoio nutricional, transfusão sanguínea, oxigenoterapia e correção de outros distúrbios concomitantes. RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS Fatores que favorecem a seleção e disseminação de resistência: Uso abusivo de fármacos, uso indiscriminado e incorreto, pacientes imunossuprimidos, uso de antimicrobianos em ração animal. O ideal seria concentrar estratégias preventivas como não utilizar antimicrobianos se possível, antimicrobianos de última geração somente quando só eles vão funcionar, utilizar cultura e antibiograma sempre, utilizar toda informação disponível para otimizar os protocolos de tratamento, minimizar a exposição da população bacteriana ao tratamento com antibióticos e utilizar registros de tratamento e os resultados para otimizar esquemas de antimicrobianos. 122 QUIMIOTERÁPICOS ANTIMICROBIANOS QUIMIOTERÁPICO CARACTERÍSTICAS MECANISMO DE AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO RESISTÊNCIA BACTERIANA FARMACOCINÉTICA EFEITOS ADVERSOS USOS TERAPÊUTICOS SULFONAMIDAS Bacteriostática. É potencializada com o trimetoprim (outro bacteriostático) para tornar-se bactericida. Ex.: Sulfametoxazol, sulfadimetoxina, sulfadiazina. Competem com PABA (não consegue se multiplicar). Em formação de pus NÃO é indicado, pois tem muito PABA – o ATB consegue inibir o PABA, então vai formar ácido fólico (precursor DNA bacteriano). Bacilos G- Cocos G+ Clamídias Toxoplasma Coccídeos. Leptospira, Klebsiella e Pseudomonas são resistentes naturais. Pode ter resistência cruzada (a outros fármacos da mesma classe). Boa absorção oral. Parenteral: IV. NÃO USAR IM/SC: pode causar irritação local, toxidez sem benefício terapêutico. M: HEPÁTICO E: RENAL na forma ativa – significa que pode ser usado para infecção renal – mas sobrecarrega o rim. E: LEITE respeitar período de carência. Necrose hepática aguda, anemia macrocítica, cristalúria renal (terapia longa), trombocitopenia e ceratoconjutivite. Aves: diminui postura e ovos com casca fina e enrugada. Cães e gatos Infecções urinárias, toxoplasma, enterite por Salmonella, parvovirose (enterite bacteriana secundária) e broncopneumonia. Bovinos Actinobacilose, Actinomicose e Pausterelose. Ovinos e caprinos Abscessos no casco, enterite, poliartrite e infecções respiratórias. Aves Enterite, no TR, coccidiose. DERIVADOS DO NITROFURANO São bacteriostáticos. Nitrofurazona, nitrofurantoína e furazolidona (único sistêmico). Inibem a acetilCoA bacterina (não inibe nos mamíferos). G + G– Trypanossoma Giárdia e Trichomonas. Proteus, Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella. USO PROIBIDO PARA ANIMAIS DE PRODUÇAO resquício (subdose) na carne/leite Nitrofurantoina é de aplicação tópica em feridas e para infecções do trato urinário inferior. Não chega a concentração adequada no rim. Furazolidona é usada para enterite bacterinana. 123 QUIMIOTERÁPICO CARACTERÍSTICAS MECANISMO DE AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO RESISTÊNCIA BACTERIANA FARMACOCINÉTICA EFEITOS ADVERSOS USOS TERAPÊUTICOS QUINOLONAS São bactericidas de amplo espectro e preferenciais GRAM NEGATIVOS. Só contra aeróbico. Penetra bem em barreiras orgânicas (BHE, BO, BP). Ex.: Enrofloxacina, ciprofloxacina, marbofloxacina, orbifloxacina e difloxacina. Inibem a DNA girasse, causando morte bacteriana. Amplo espectro, mas é preferencial G – Atua apenas contra aeróbicos. Em geral tem pouca resistência. Possui RESISTÊNCIA CRUZADA com cefalosporinas cloranfenicol e tetraciclinas. M: HEPÁTICO E: RENAL (exceto difloxacina, que também é eliminada 50% via biliar – não aconselhada pra infecção de TU) Teratogenia em fêmeas prenhas. Filhotes de raças pequenas (até 8 meses) e grandes (até 18 meses) tem erosão na cartilagem articular. Associação com AINE causa excitação no SNC. Com warfarina, sangramento. Com Zn e Mg, absorção inadequada. (adm 2h antes ou depois). Com flotril 10% inflamação na derme quando é feito SC (só IM). Infecções ósseas como osteomelite por gram–. Infecção respiratória por gram – (Atinge concentração adequada na secreção brônquica e dentro do osso). Infecções do TU, enterites, prostatites, piodermites, meningoencefalites (com e sem inflamação) e endocardites. NITROIMIDAZOIS Metronidazol é mais conhecido na veterinária. É bactericida (só contra anaeróbicos) e protozoaricida (giárdia principalmente) Inibe replicação, inativa o DNA VO ou IV apenas. M: HEPÁTICO E: RENAL Muda cor da urina castanha clara Pode causar teratogenia. Nistagmo, comportamento compulsivo, perda da noção do equilíbrio, cabeça pendida, convulsão. (IV muito rápida ou em superdosagem). Infecções bacterianas anaeróbicas, supercrescimento bacteriano intestinal por enterite bacteriana secundária a parvovirose, pancreatite aguda e giardíase. A principal causa de colite são as bactérias do gênero Clostridium. 124 ANTIBIÓTICOS ANTIBIÓTICO CARACTERÍSTICAS MECANISMO DE AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO RESISTÊNCIA BACTERIANA FARMACOCINÉTICA EFEITOS ADVERSOS USOS TERAPÊUTICOS CEFALOSPORINAS E ANÁLAGOS 1ª geração: cefalexina, cefalotina e cefazolina. 2ª geração: ceftiofur, cefoxitina e cefuroxima. 3ª geração: ceftriaxona e cefotaxima. 4ª geração: cefovecina (CONVENIA). CUIDADO! ÉTICA! Penetra a parede celular. 1ª geração: G+ 2ª geração: G– 3ª geração: amplo espectro. Atua nos 4 quadrantes e penetra barreiras orgânicas. M: HEPÁTICO E: RENAL 1ª geração: utilizadas para piodermites (atingem altas concentrações na pele). 3ª geração: metrite pós parto, infecções urinárias, pré e trans cirúrgico e fraturas. AMINOPENICILINAS (PENICILINAS SEMISSINTÉTICAS) São bactericidas. Ampicilina (IV) e amoxicilina (ótima absorção oral). Penetra a parede celular. G– e G+, mas é preferencial G+. Atua nos 4 quadrantes. Klebsiella, Proteus, Pseudomonas. Amoxicilina e ampicilina apresentam 100% de resistência cruzada. M: HEPÁTICO E: 100% RENAL! Cuidar com nefropatas. Absorção 100% intestinal (exceto em cavalos). São boas para tecidos moles e não atravessam barreiras orgânicas. Hipersensibilidade, doença renal crônica. Leptospira. Atinge ótima concentração em pulmão e bile (bom para hepatite). Não atinge concentração tão boa na pele. Utilizadas também para gastroenterite,pneumonias (principalmente G+) e profilaxia para neutropênicos. 125 ANTIBIÓTICO CARACTERÍSTICAS MECANISMO DE AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO RESISTÊNCIA BACTERIANA FARMACOCINÉTICA EFEITOS ADVERSOS USOS TERAPÊUTICOS AMINOGLICOSÍDEOS São bactericidas. Ex.: neomicina, gentamicina, tobramicina e estreptomicina. Bloqueia o RNAt e RNAm G– aeróbicos. Não atravessa bem as barreiras orgânicas. Anaeróbias obrigatórias, Listeria. Via parenteral ou tópica! VIA ORAL NÃO! E: 100% RENAL ativa Nefrotoxicidade (ordem mais tóxico/menos tóxico): neomicina, gentamicina, tobramicina e estreptomicina. Se associar com AINE ou Fe aumenta a nefrotoxicidade. Septicemia, bacteremia, artrite séptica e infecções respiratórias. ANFENICOIS Ex.: cloranfenicol e florfenicol. Competem com RNAm na subunidade 50s, impedindo a síntese proteica. G+, G–, Clamídias, Mycoplasma e Rickettsias. Em geral tem pouca resistência, porém apresenta resistência cruzada com macrolídeos e lincosaminas (competem pelo mesmo sítio). Ultrapassam bem as barreiras (entra dentro da célula) e tem boa difusão tecidual. M: HEPÁTICO E: RENAL E BILIAR Alta dose faz supressão na medula óssea de cães. Neonatos possuem fígado insuficiente em enzimas para metabolizar adequadamente. Fêmeas lactantes passam para o filhote. Florfenicol é indicado para meningoencefalite secundária à cinomose e pododermatite em ruminantes. Cloranfenicol tópico para úlcera de córnea (Moraxella bovis). TETRACICLINAS São bacteriostáticos. Inibe a síntese proteica no RNA (subunidade 30s). G+, G–, aeróbica, anaeróbica, Clamídias, Rickettsias, Epiroquetas, Mycoplasma e Erlichia. Bem baixa, porém tem resistência cruzada com as quinolonas. VO Esofagite, principalmente em felinos (administração em cápsulas). Micoplasmose, erliquiose, ceratoconjuntivite infecciosa e Rickettsia rickettsii. MACROLÍDEOS São bacteriostáticos. Ex.: eritromicina, azitromicina, tilosina e espiramicina Competem com o RNAm na subunidade 30s, impedindo a síntese proteica. Eritromicina: cocos G+, Mycoplasma, alguns G–, Pasteurella e Campilobacter. Tilosina: Mycoplasma Com anfenicois e lincosaminas. Eritromicina e tilosina em forma de drágea, devido à sensibilidade ao pH estomacal. São lipossolúveis, mas não penetram no SNC e nem no ouvido médio. Azitromicia (interior de leucócito). Espiramicina: periodontite e gengivite. Cães: Campilobacteriose entérica. Suínos: artrite séptica e rinite atrófica. Bovinos: metrite. Aves: coriza infecciosa. 126 ANTIBIÓTICO CARACTERÍSTICAS MECANISMO DE AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO RESISTÊNCIA BACTERIANA FARMACOCINÉTICA EFEITOS ADVERSOS USOS TERAPÊUTICOS LINCOSAMINAS São bacteriostáticos. Ex.: clindamicina e lincomicina. Competem com o RNAm na subunidade 50s, impedindo a síntese proteica. Atua nos 4 quadrantes (G+, G–, aeróbicos e anaeróbicos. Atua também em protozoários e Mycoplasma. Resistência cruzada com anfenicois e macrolídeos. Clindamicina atua em bem ossos, tecidos moles e tendões. M: HEPÁTICO E: RENAL ativa Bloqueio neuromuscular em cães, gatos e suínos, levando à paralisia flácida. Enterotoxicicidade em coelhos e equinos. Clindamicina: toxoplasmose, neosporose, osteomielites e periodontites. Lincomicina: ruminantes e suínos – Staphylococcus, Streptococcus e Mycoplasma. PENICILINAS E ANÁLAGOS (BETA- LACTÂMICOS) Produzidas por fungos. São bactericidas. Boa penetração em tecidos moles e não penetra em barreiras orgânicas. Se administrar penicilina quando há inflamação, ela penetra, porém quando desinflama não penetra mais e gera resistência. Ex.: Penicilina G cristalina, G procaína e G benzatina. Lise osmótica celular, inibindo a transpeptidase de membrana. G+, cocos G–, aeróbicos e anaeróbicos, epiroquetas e actinomicetos. Bactérias que produzem beta- lactamases destroem o anel beta-lactâmico. Bacilos G– M: HEPÁTICO E: RENAL Eficaz apenas quando administrada via PARENTERAL! Tem pouca ligação a PP. Quanto a duração: a benzatina é a que age por mais tempo e a cristalina por menos. Penicilina associada a AAS ou fenilbutazona gera toxocicidade (competem pelo mesmo sitio ativo de PP, sobrando ATB disponível). Elimina via leite e deixa resíduos na carne. NUNCA associar com tetraciclinas, por que uma antagoniza a outra. Pode causar doenças imunomediadas e a infusão rápida pode causar distúrbios neurológicos. Apenas a cristalina pode em infusão rápida. Pneumonia em grandes, clostridioses gangrenosas, listeriose, pasteurelose, manqueia em bovinos e ovinos, tétano, endometrite em bovinos e ovinos, Erysipelothrix em suínos. Bom para tecidos moles. Infecções cutâneas geram muita resistência. ISOXAZOLILPENICILINAS (PENICILINA SEMISSINTÉTICA) São bactericidas. Ex.: oxacilina e dicloxacilina (VO). Inibem a síntese da parede celular. Somente G+. A vantagem é que inibem algumas beta-lactamases. Bactérias meticilina- resistentes. Não efetivas para G– E: 100% RENAL (cuidar nefropatas). Estáveis em pH ácido. Staphylococcus, Streptococcus, Listeria, Clostridum e produtores de beta-lactamases em geral. 127 ANTIBIÓTICO CARACTERÍSTICAS MECANISMO DE AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO RESISTÊNCIA BACTERIANA FARMACOCINÉTICA EFEITOS ADVERSOS USOS TERAPÊUTICOS CARBOXIPENICILINAS E UREIDOPENICILINAS Ticarcilina e piperacilina. G– Pseudomonas e Proteus são multirresistentes. Otite externa por Pseudomonas aeruginosa. CARBAPENÊMICOS E MONOBACTÂMICOS Imipenem e meropenem. NÃO utilizar em animais de produção. Ultrapassa barreiras orgânicas. Lise osmótica celular. TUDO, exceto a superbactéria (KPC – Klebsiella pneumoniae carbapenemase). Só IV. Nefrotóxico se associado com cilastatina. Se adminar junto com lactato, a ação é inibida. Infecção hospitalar e septicemia. POLIPETÍDEOS São bactericidas. Polimixina E, polimixina B e bacitracina. Polimixina B e E: G– Bacitracina: G+ Baixa absorção via oral. Nefrotóxico em altas doses. Otites. Em animais de produção a colistina (polimixina E) é misturada na ração. GLICOPEPTÍDEOS São bactericidas. Ex.: vancomicina e teicoplanina Inibem a síntese da parede celular. G+ As meticilinas são sensíveis a essa classe. NÃO tem absorção oral. Atravessa BHE. Ototóxico e nefrotóxico. Não usar em animais de produção. OXAZOLIDINONAS Linezolida. Liga-se ao loco 235 do RNAr na subunidade 50s, inibindo a formação da 70s. Staphylo-meticilina resistente, Streptococcus de pulmão resistente à penicilina e Enterococcus resistente à vancomicina. RIFAMICINAS São bactericidas. Ex.: rifampicina e rifamicina. G+ Uso tópico e parenteral. Rhodococcus equi e dermatite úmida em cães. MUPIROCINA Ex.: mupirocin Inibe a síntese proteica. Só tópico. Piodermite pustular superficial, piodermite dos filhotes e acne canina (secundária à alergia).
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