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LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL APLICADA Tiago Ferreira Santos Revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa Advogado Graduado em Ciências Sociais Especialista em Processo Civil Mestre em Direito Público Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB 10/2147 L514 Legislação empresarial aplicada / Tiago Ferreira Santos... [et al.]; [revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 304 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-437-3 1. Direito empresarial. 2. Direito comercial. I. Santos, Tiago Ferreira. CDU 347.72 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 2 29/05/2018 15:27:33 Atividade empresarial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Caracterizar a atividade empresarial. Analisar a inscrição do empresário, bem como a sua capacidade. Explicar a importância do registro da empresa. Introdução Na contemporaneidade, é inegável a importância das empresas na sociedade. Diversas tecnologias, antes inexistentes, foram desenvol- vidas pela criatividade de pessoas que trabalhavam para elas e, além disso, muitos dos inventos apenas puderam ser objeto de produção em larga escala devido a essa forma específica de atividade econômica. Na verdade, mesmo áreas que em outros momentos eram incum- bidas exclusivamente ao Estado, atualmente estão sendo exercidas empresarialmente. Neste capítulo, você vai estudar os requisitos que caracterizam a atividade empresarial, bem como as principais disposições normativas acerca da inscrição e da capacidade do empresário. Ademais, será capaz de indicar a importância do seu registro e destacar os prejuízos decor- rentes do seu exercício irregular. Caracterização da atividade empresarial Na primeira fase do Direito comercial, a sua atividade era caracterizada por uma perspectiva subjetiva proveniente do registro das pessoas nas corporações de ofício e respaldo em usos e costumes. Posteriormente, surgiu a teoria dos atos do comércio de natureza objetivista, a qual infl uenciou o Direito brasileiro. Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 15 29/05/2018 15:27:34 Por fi m, atualmente, após a edição do atual Código Civil (CC), adotou-se a teoria da empresa de caráter subjetivista, mas com a peculiaridade de que ser empresário independe, em regra, de inscrição, bastando apenas o cumprimento de certos requisitos. A seguir serão estudadas as duas teorias que mais influenciaram o Direito brasileiro, acerca da forma de caracterização da atividade empresarial e de- signação mais condizente com o atual momento, embora não se negue que, por tradição, há ainda quem a designe como comercial. Teoria dos atos de comércio Na França, com o Código Comercial vigorante a partir de 1º de janeiro de 1808, um dos códigos napoleônicos, consolidou-se a teoria dos atos do comércio nesse país, o que infl uenciou, durante um largo período da história, o restante do mundo, sendo certo que no Brasil foi aprovado o Código Comercial de 1850 sob essa inspiração. Por essa teoria, as normas jurídicas exemplificavam os atos de comércio, os quais delimitavam, apenas por consequência, a figura do comerciante. Desse modo, ela é considerada pela doutrina como objetiva. O Direito brasileiro a adotava na primeira parte do mencionado código, o qual foi revogado, parcialmente, pelo CC de 2002, que preferiu a teoria da empresa de origem italiana. Segundo Tarcísio Teixeira (2018, p. 34), essa crise pela qual passou a teoria dos atos de comércio no Direito brasileiro se justifica, historicamente, pelo desenvolvimento das atividades econômicas industriais e de prestação de serviços, sendo que “[...] a teoria dos atos de comércio tornou-se insuficiente como disciplina jurídica para o Direito Comercial, até porque as novas ativi- dades econômicas não eram alcançadas” por ela. Em verdade, mesmo que o rol de atos de comércio previsto em normas jurídicas pudesse ser ampliado para fins de alcançar as novas atividades econômicas, ainda assim, terminologicamente, essa teoria de influência francesa parecia ser inadequada, além disso, tal situação poderia ser solu- cionada de forma mais satisfatória de acordo com a teoria da empresa de inspiração italiana. Teoria da empresa e atividade empresarial Em 1942, com a adoção da teoria da empresa pelo Direito italiano, espe- cialmente no art. 2081 do seu CC, ainda vigente, uma nova fase iniciou Atividade empresarial16 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 16 29/05/2018 15:27:34 no Direito empresarial, sendo esta mais adequada ao diminuído papel do comerciante, em contraste com o crescimento dos setores industriais e de serviços. Essa teoria, tanto no Direito italiano como no brasileiro, conceitua legal- mente a figura do empresário. Assim, é considerada uma teoria subjetiva moderna, ou seja, a conceituação jurídica de atividade empresarial não é diretamente proveniente da lei, mas, sim, de uma construção doutrinária e jurisprudencial. Nesse sentido, por uma interpretação do art. 966 do CC brasileiro, entende- -se que a atividade empresarial é aquela econômica, organizada e exercida profissionalmente para a produção ou a circulação de bens e serviços. A influ- ência da teoria da empresa é evidente. Na verdade, as disposições brasileiras e italianas são quase idênticas. Em consequência de uma interpretação dos requisitos de empresarialidade, a doutrina destaca ainda a habitualidade. Há de se destacar que não há empresarialidade, portanto, quanto à fina- lidade for atender ao consumo próprio ou familiar em vez de produção ou circulação de bens e serviços para o mercado. Nesse sentido, André Luiz Santa Cruz Ramos (2016, p. 38): “[...] só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destinar-se o mercado, e não ao consumo próprio”. Essa é a regra adotada pelo CC no art. 966, caput, consoante visto até o momento. Entretanto, há uma exceção relevante. Em princípio, essa atividade que será analisada a seguir atende, integralmente, aos requisitos estudados até aqui, mas, por determinação legal, especificamente do art. 966, parágrafo único, não é enquadrada na condição de atividade empresarial. Assim, no âmbito da teoria da empresa adotada no Brasil por influência italiana, o conceito de atividade empresarial decorre de uma interpretação doutrinária e jurisprudencial acerca da definição legal de empresário. Pois bem, ao dispor sobre a exceção, não foi diverso o tratamento. A lei afirmou, expressamente, que não “[...] se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou 17Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 17 29/05/2018 15:27:34 artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002, documento on-line). Profissão intelectual = científica, literária ou artística A profissão intelectual não é atividade empresarial, salvo se o exercício da profissão constituir elemento da empresa. A profissão intelectual de natureza científica “[...] está relacionada com quem é pesquisador ou cientista, ou seja, alguém especializado em uma ciência (conhecimentos sistêmicos)” (TEIXEIRA, 2018, p. 53). Nesse sentido, segue lição elucidativa: As atividades realizadas pelos profissionais de uma das áreas do conhecimento (humanas, exatas e biológicas) podem se enquadrar na atividade intelectual, citando-se, como exemplos, o preparador físico, o fisioterapeuta, o psicólo- go, o químico, o médico etc. Pode-se dizer que esses são cientistas nas suas respectivas áreas (TEIXEIRA, 2018, p. 53). Por sua vez, a profissão intelectual de natureza literária “[...] está relacio- nada com a expressão da linguagem, ideias, sentidos e símbolos, especial- mente por meio da escrita” (TEIXEIRA, 2018, p. 53). São seus exemplos, conforme aponta doutrina, “[...] o escritor, o compositor, o poeta, o jornalista etc.” (TEIXEIRA,2018, p. 53-54). Por fim, a profissão intelectual de natureza artística “[...] está relacionada com a arte, que é a produção de algo extraordinário com a utilização de habilidades e certos métodos para a realização. Também está relacionada com a expressão de sentidos e símbolos por meio de linguagem não escrita” (TEIXEIRA, 2018, p. 54), sendo seus exemplos “[...] o ator e o cantor (que não são intérpretes), o desenhista, o fotógrafo, o artista plástico” (TEIXEIRA, 2018, p. 54). Importa destacar, entretanto, que mesmo os profissionais intelectuais podem exercer atividade empresarial, mas apenas caso constitua elemento da empresa. Ou seja, se um médico abre um consultório em seu nome e atende pessoas, ainda que com o auxílio de empregados, não é uma atividade Atividade empresarial18 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 18 29/05/2018 15:27:34 empresarial por preponderar, especialmente, a sua intelectualidade para atração dos pacientes. Noutro giro, caso comece a ampliar seu consultório cada dia mais, até o ponto em que haja tantos médicos que a intelectualidade do sócio pouco importe e as pessoas passem a visitar a clínica ou o hospital inaugurado devido à credibilidade da instituição, não mais pela intelectualidade desse sócio, então há, inegavelmente, uma atividade empresarial. Afinal, vê-se que, nessa hipótese, a profissão intelectual se tornou tão somente um elemento da empresa. Enunciado 194 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal (CJF) Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida. Enunciado 195 da III Jornada de Direito Civil do CJF A expressão elemento de empresa demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. A pessoalidade exerce papel decisivo entre os profissionais intelectuais, também chamados de profissionais liberais. Entretanto, na atividade empresa- rial, ao contrário, essa característica é absorvida pela empresa, constituindo-se apenas como um de seus elementos. Ainda nesse assunto, circunstância peculiar há nos escritórios de advo- cacia, porque não são admitidas, nem podem funcionar todas as espécies de sociedades que apresentam forma ou características empresariais, consoante diretriz do art. 16, do Estatuto da Advocacia, considerado destoante da rea- lidade por parte da doutrina. Inscrição e capacidade do empresário Neste tópico, serão estudadas a inscrição e a capacidade do empresário. De logo, a incapacidade acontece nas mesmas hipóteses da Legislação Civil, arts. 3º e 4º do Código Civil, embora haja regramentos específi cos sobre o 19Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 19 29/05/2018 15:27:34 assunto em Direito empresarial, com destaque para o art. 972 e seguintes do referido diploma normativo. Após essas análises, serão estudados, ainda neste título, os principais dispositivos acerca da inscrição do empresário, regidos tanto pelo Código Civil, quanto pela Lei nº 8.934/94, a qual regula o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afi ns. Da capacidade do empresário A incapacidade do empresário para o exercício individual de sua atividade acontece nas mesmas hipóteses em que as pessoas são absolutamente ou rela- tivamente incapazes para atos civis. Assim, os artigos que regulam a matéria são os 3º e 4º do Código Civil. Portanto, são incapazes, para o exercício da atividade empresarial, os absolutamente incapazes consistentes nos menores de 16 anos (art. 3º, caput, do Código Civil), bem como os relativamente, os quais são os seguintes: I — os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II — os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; III — aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV — os pródigos. (BRASIL, 2002, documento on-line). Entretanto, há uma relevante exceção à exigência da maioridade para a capacidade civil com repercussão direta no Direito empresarial. Ela está prevista no art. 5º, parágrafo único, inciso V, do Código Civil, ao dispor que cessará, “[...] para os menores, a incapacidade pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria” (BRASIL, 2002, documento on-line). Nessa hipótese acima trazida, há a emancipação civil, ou seja, a capa- cidade civil pelo estabelecimento civil ou comercial que gera economia própria ao menor com 16 anos ou mais. Outra situação interessante a ser estudada é a possibilidade excepcional de o empresário individual exercer a sua atividade, mesmo sendo incapaz. Assim, o art. 974 dispõe que poderá, “[...] o incapaz, por meio de re- presentante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança” (BRASIL, 2002, documento on-line). Atividade empresarial20 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 20 29/05/2018 15:27:35 Enunciado 203 da III Jornada de Direito Civil do CJF O exercício da empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte. Ressalta-se, inclusive, que a vedação é para titularizar a empresa na con- dição de empresário, ou seja, não há qualquer vedação para que ele assuma a condição de quotista ou acionista, observando-se o fato de que não poderá ser administrador de nenhuma delas (art. 974, parágrafo terceiro, inciso I, do Código Civil) (BRASIL, 2002). Caso o representante ou assistente legal sejam impedidos do exercício da atividade empresarial, será incumbido ao juízo nomear gerente, ainda que sob a fiscalização do responsável pelo civilmente incapaz de exercer os atos. Da inscrição do empresário Quem pratica uma atividade empresarial (empresa em sentido funcional) tem alguns deveres a cumprir de natureza formal, entre eles, o de se registrar na Junta Comercial (COELHO, 2017). Nesse sentido, o art. 967 do Código Civil é categórico: “É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade” (COE- LHO, 2017, p. 105). Atuar sem o registro, portanto, importa em irregularidade. A todo ato constitutivo de empresa será atribuído um Número de Identificação do Registro de Empresas (NIRE). É como o CPF das pessoas físicas, mas é de empresas e é obtido na Junta Comercial. Há, entretanto, uma exceção importante. O empresário rural tem o registro facultativo, nos termos do art. 971, e sua natureza, consoante aponta o Enun- ciado 202 da III Jornada de Direito Civil da CJF, é constitutiva porquanto inaplicável o regime empresarial até a inscrição. 21Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 21 29/05/2018 15:27:35 Já se apontou que o registro é executado na Junta Comercial, entretanto, importa conhecer todos os órgãos que compõem o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis e suas respectivas principais funções. Primeiro, o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), consoante designa a legislação, atualmente Departamento de Registro Empre- sarial e Integração (DREI) (COELHO, 2017, p. 107) por prática administrativa, tem suas competências reguladas pelo Código Civil e é um órgão federal (COELHO, 2017). Entre outras funções, incumbe-lhe “supervisionar e coordenar, no plano técnico, os órgãos incumbidos da execução dos serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins” (art. 4º, inciso I, da Lei nº 8.934), quer-se dizer, Juntas Comerciais; [...] exercer ampla fiscalização jurídica sobre os órgãos incumbidos do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, representando para os devidosfins às autoridades administrativas contra abusos e infrações das respectivas normas, e requerendo tudo o que se afigurar necessário ao cum- primento dessas normas. (art. 4º, inciso V, da Lei nº 8.934); [...] promover ou providenciar, supletivamente, as medidas tendentes a suprir ou corrigir as ausências, falhas ou deficiências dos serviços de Registro Pú- blico de Empresas Mercantis e Atividades Afins (art. 4º, inciso VII, da Lei nº 8.934). (BRASIL, 1994, documento on-line). Além disso, é sua atribuição ainda “organizar e manter atualizado o cadastro nacional das empresas mercantis em funcionamento no País, com a cooperação das Juntas Comerciais) (art. 4º, inciso IX, da Lei nº 8.934) e [...] instruir, examinar e encaminhar os processos e recursos a serem decididos pelo Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo, inclusive os pedidos de autorização para nacionalização ou instalação de filial, agência, sucursal ou estabelecimento no País, por empresa estrangeira, sem prejuízo da competência de outros órgãos federais (art. 4º, inciso X, da Lei nº 8.934) (BRASIL, 1994, documento on-line). Como se pode verificar nos enunciados legais destacados, o DREI exerce “[...] funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa, no plano técnico; e supletiva, no plano administrativo” (art. 3º, inciso I, da Lei nº 8.934) (BRASIL, 1994, documento on-line). Assim, em caso de dúvidas sobre as nor- mas que incidirão para realizar registro do empresário, a sugestão é pesquisar pelas suas instruções normativas sobre a matéria. Atividade empresarial22 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 22 29/05/2018 15:27:35 Segundo as Juntas Comerciais, são órgãos locais presentes “[...] em cada unidade federativa, com sede na capital e jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva” (art. 5º, da Lei nº 8.934/94) (BRASIL, 1994, documento on-line). Estes são administrativamente vinculados à esfera estadual, ao passo que tecnicamente são subordinados ao DNRC, atualmente DREI, tendo de seguir suas instruções normativas. A exceção a esse caráter híbrido da subordinação hierárquica das juntas fica com o Distrito Federal, onde ela é um órgão federal. Assim, o profissional irá se direcionar à Junta Comercial da capital da unidade federativa (Estados ou Distrito Federal) para realizar o registro do ato constitutivo da empresa, observando as instruções normativas do DREI. Afinal, a ela incumbe o registro pelo arquivamento. No caso de empresário, o requerimento conterá, nos termos do art. 968 do Código Civil, os seguintes dados: I – o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II – a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1o do art. 4º da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006; IV – o capital; V – o objeto e a sede da empresa. (BRASIL, 2002, documento on-line). O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá inscrevê-la com a prova da inscrição originária. Nesse ínterim, ainda cabe ressaltar o relevante papel exercido pelo advo- gado no registro dos atos constitutivos de sociedades empresárias, porquanto, nos termos do art. 1º, parágrafo segundo, do Estatuto da Advocacia, os “atos e contratos administrativos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados”. Tal norma tem exceções, a saber, microempresas e empresas de pequeno porte, nos termos do art. 9º, parágrafo segundo, da Lei Complementar nº 123/06. 23Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 23 29/05/2018 15:27:35 Algumas terminologias técnicas devem ser usadas de forma adequada sobre essa matéria, importando distingui-las devidamente. Assim, há três atos que podem ir ao registro empresarial. A matrícula e seu cancelamento são os registros de profissionais elencados no art. 32, inciso I, da Lei nº 8.934/94, ou seja, “[...] leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais” (BRASIL, 1994, documento on-line). O arquivamento envolve, em princípio, nos termos do art. 32, inciso II, da Lei nº 8.34/94, “[...] constituição, alteração, dissolução e extinções de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas”, bem como “[...] atos relativos a consórcio e grupo de sociedade” e “[...] declarações de micro- empresa”. Por fim, a autenticação se destina aos instrumentos de escrituração (art. 32, inciso III, da Lei nº 8.934/94) (BRASIL, 1994, documento on-line). Há de ser destacado, ainda, que sociedades cooperativas são, nos termos da legislação, sociedades simples e, assim, não regidas pelo Direito empre- sarial, situação oposta às sociedades por ações. Excetua-se, desse modo, o art. 966, caput, do Código Civil, para incidir o art. 982, parágrafo único, cuja redação segue: “Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. Entretanto, é-lhes exigido o registro por arquivamento de seus atos constitutivos nas Juntas Comerciais, sendo, portanto, uma situação atípica. Importância do registro da empresa O registro público preserva informações importantes em repartições oficiais, além de dar-lhes publicidade para a segurança dos envolvidos e de terceiros (MAMEDE, 2018). Assim, sócios, “credores, trabalhadores, clientes e o próprio Estado podem necessitar de informações, atuais ou passadas, socorrendo-lhes o registro mercantil” (MAMEDE, 2018, p. 54). No entanto, esclarece-se que não há nenhuma necessidade de indicar interesse para a obtenção de informações nas Juntas Comerciais, portanto, qualquer um pode requerê-las e obtê-las, desde que o faça adequadamente, assumindo os ônus, inclusive. As finalidades de tal registro são “[...] dar garantia, publicidade, auten- ticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis” (art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.934/94); e “[...] cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes” (art. 1º, inciso II, da Lei nº 8.934/94). Além disso, o registro Atividade empresarial24 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 24 29/05/2018 15:27:35 empresarial objetiva, ainda, a “[...] proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento” (art. 1º, inciso III, da Lei nº 8.934/94) (BRASIL, 1994, documento on-line). Entretanto, mesmo com as relevantes finalidades apontadas acima, ressalta- -se, para a caracterização da atividade empresarial, que não há necessidade de registro, ainda que seja inegável o fato de, pelo reconhecimento de sua situação irregular, haver restrições. Enunciado 198 da III Jornada de Direito Civil do CJF A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvas as incompatibilidades com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. Sobre isso, Fábio Ulhoa Coelho (2017) indica algumas dificuldades que empresários irregulares terão ao desenvolver suas atividades. Por exemplo, não serão realizados contratos com a administração pública, nem contrairão empréstimos em instituições bancárias, além disso, estes estarão impossibi- litados de requerer a recuperação judicial. Além dessas hipóteses, o art. 33, da Lei do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, indica que a “[...] proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firmaindividual e de sociedades, ou de suas alterações” (BRASIL, 1994, documento on-line), ou seja, também essa segurança não lhes aplicará integralmente. A impossibilidade de celebrar contratos com a administração, entre outros, é consequência do art. 28, da Lei nº 8.666/93, o qual dispõe sobre a necessi- dade de comprovar documentalmente a habilitação jurídica. Noutro giro, a restrição à recuperação judicial decorre de expressa vedação legal do art. 48, caput, da Lei nº 11.101/05. Pode-se apontar, ainda, que, na hipótese de empresa irregular, haverá res- ponsabilidade ilimitada decorrente da incidência também do regime da socie- dade em comum reconhecida pelo Direito (art. 990 do Código Civil), a única questão é saber se haverá benefício de ordem, ou seja, se os bens sociais serão executados inicialmente. No caso, apenas aquele que contrate por ela perderá 25Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 25 29/05/2018 15:27:35 até mesmo esse direito. Elucidativa é a lição de Fábio Ulhoa Coelho (2017, p. 112), como segue: “O sócio que se apresentou como representante da sociedade tem responsabilidade direta, enquanto os demais, subsidiária (CC, art. 990”. Essa é a adequada interpretação do Art. 990, o qual, sem muito acerto, afirma que todos “[...] os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade” (BRASIL, 2002, documento on-line). Enunciado 208 da III Jornada de Direito Civil As normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis, independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária). Assim, embora não seja o registro o que caracteriza a atividade empresarial, não é por isso que a atuação irregular se sujeitará integralmente ao regime empresarial, afinal, como explicado, há exceções decorrentes de incompati- bilidade ou expressa disposição normativa em contrário. Mais um prejuízo da ausência do devido registro consiste na ausência de “[...] legitimidade ativa para o pedido de falência de outro comerciante” (COELHO, 2017, p. 112). Por fim, ainda há de se destacar dificuldades trazidas por Fábio Ulhoa Coelho sobre alguns cadastros: [...] o descumprimento da obrigação comercial acarretará a impossibilidade de inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), e nos cadastros estaduais e municipais; também impossibilitará a matrícula do empresário no Instituto Nacional da Seguridade Social. Aliás, são simultâneos o registro na Junta e a matrícula no INSS (Lei nº 8.212/92, art. 49, I) (COELHO, 2017, p. 112). É importante ressaltar a exceção. Para o caso do empresário cuja atividade rural constitua sua principal profissão, o registro não é obrigatório, mas, sim, facultativo. Entretanto, é constitutivo do regime empresarial, ou seja, antes da inscrição não lhe incidirão tais normas. Assim, “[...] se aquele que desenvolve atividade rural não efetuar sua inscrição no Registro Público das Empresas Mercantis, não será Atividade empresarial26 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 26 29/05/2018 15:27:35 tido como empresário” (TEIXEIRA, 2018, p. 70) e, portanto, não se submeterá à disciplina da recuperação judicial e das falências, por exemplo. Dessa forma, para quem exerce atividade rural, o registro tem importância diferenciada. Ademais, é importante destacar também a relevância de se realizar o registro no prazo correto, afinal, o arquivamento na Junta, dentro de 30 (trinta) dias 27Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 27 29/05/2018 15:27:36 BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacionalcontados da assinatura do documento, implicará retroatividade dos efei tos àquela data, o que não se aplica quando for fora desse prazo, situação em que o r- quivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder. da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/LCP/ Lcp123.htm>. Acesso em: 26 fev. 2018. BRASIL. Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências. Brasília, DF, 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8934.htm>. Acesso em: 26 fev. 2018. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 16 abr. 2018. BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extra- judicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101. htm>. Acesso em: 26 fev. 2018. COELHO, F. U. Curso de direito comercial: direito empresa. 21. rev., atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. v. 1. MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2018. RAMOS, A. L. S. C. Direito empresarial esquematizado. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. TEIXEIRA, T. 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