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CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964 Antes de tratar do Golpe propriamente dito, precisamos relembrar, mesmo que brevemente, alguns acontecimentos do Governo Goulart. Jango foi eleito vice-presidente do Brasil em 1960, sendo o presidente eleito Jânio Quadros. Ambos tomaram posse em 1961 após a saída de Juscelino Kubistchek. Jânio governou de forma desastrosa, tomou medidas de pouca importância e assumiu uma postura autônoma nas relações internacionais que desagradou seu próprio partido. Em pouco tempo, o presidente conseguiu ficar isolado e quase sem nenhum apoio. Nesse sentido, optou por renunciar, na expectativa de que os setores conservadores não aceitassem a sua renúncia e ele poderia negociar maiores poderes. Contudo, isso não acontece e sua saída é apenas aceita. Inicia-se uma crise sucessória no Brasil, uma vez que Goulart visto como herdeiro de Vargas e próximo demais das esquerdas, não era um nome muito bem recebido pelos conservadores. Parte dos militares tentam barrar o retorno de Jango e parte defende sua posse. Nesse momento, podemos dizer que as Forças Armadas já estavam divididas entre Golpistas e Legalistas. Os primeiros defendiam um golpe na Constituição, materializado no impedimento de Goulart. Os segundos defendiam o respeito a Carta Magna do Brasil e a posse de Jango como presidente. O país ficou à beira de uma guerra civil, impedida de acontecer pelo Ato Adicional à Constituição de 1946 que estabeleceu o parlamentarismo no Brasil. Jango inicia seu governo sem poderes, dentro do regime parlamentar. Coube ao Primeiro- Ministro Brochado da Rocha antecipar o plebiscito previsto para 1965 para o ano de 1963. O resultado foi claro, o povo queria o retorno do presidencialismo e assim aconteceu. Ainda em 63, Jango tomou posse, agora com poderes absolutos. Goulart acirrou seus problemas com os conservadores em 64 quando tentou por meio de comícios pelo Brasil solicitar a população que pressionasse o Congresso pela aprovação das Reformas de Base, incluindo a reforma agrária. Esse é um dos eventos que marca a queda de Goulart. Para as Forças Armadas, por que o presidente incitaria a população pobre para pressionar o legislativo? Outros eventos são marcantes nesse sentido, como a Revolta de Sargentos em Brasília que chegou a prender oficiais e autoridades, a perda no Congresso da aprovação do Estado de Sítio, a anistia concedida a marinheiros revoltosos e o discurso na Assembleia de Sargentos no Automóvel Clube no Rio de Janeiro. Esses eventos, são entendidos pelas Forças Armadas como quebra de hierarquia. Jango ao anistiar os marinheiros estaria incentivando a quebra de um princípio quase sagrados para os militares. Além disso, o alto escalão das Forças Armadas não recebeu bem o discurso do presidente no Rio de Janeiro. Porque Jango falaria de política com baixa patente? O somatório desses eventos com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, evento que levou milhares de pessoas às ruas em manifestação contra Jango. Essa marcha mostrou para os setores golpistas que, em caso de golpe, eles teriam respaldo na população. Em 31 de março de 1964 o golpe foi iniciado, Olímpio Mourão Filho iniciou uma marcha de militares em Minas Gerais com destino ao Rio de Janeiro com apoio do Governador mineiro Magalhães Pinto. Esse movimento contou ainda com a participação do II Exército sob comando do General Amauri Kruel. Kruel era amigo de Jango, e eles chegaram a se comunicar por telefone durante o andamento CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves do golpe. Porém, ambos tinham convicções muito fortes para que abandonassem suas bases. Jango sabia do perigo desse movimento e que poderia se desencadear no Brasil uma guerra civil. Goulart sabia ainda da presença no litoral brasileiro de embarcações americanas que dariam respaldo aos golpistas no caso de confronto. Jango era horrorizado com a possibilidade do derramamento de sangue e sempre optou por medidas e atitudes que evitassem ao máximo o confronto. Carlos Lacerda sabia do andamento do golpe e se entrincheirou na sede do Governo do Estado esperando um ataque da parte da Marinha Legalista. Contudo o ataque não veio. Na verdade, a resistência não foi acionada. Como sabemos, muitos grupos estavam preparados, talvez não treinados, para um conflito armado. Mas o start de resistência não veio. Goulart conseguiu evitar que essa ordem não fosse acionada, pois para ele, o conflito traria uma grande quantidade de mortes, o que ele não admitiria jamais. Com a notícia da saída do presidente do Rio de Janeiro, Lacerda liberou as forças golpistas que tomaram prédios, espancaram estudantes e depredaram sindicatos. Jango voou do Rio de Janeiro para Brasília e da capital federal voou para Porto Alegre. Leonel Brizola ainda tentou organizar uma resistência armada, mas sem apoio do presidente isso não era possível e a resistência, como já mencionado nesse texto, não ocorreu. Os militares do movimento ainda tentaram diversas vezes através de contato com o presidente fazer um acordo no qual ele repudiaria o comunismo, romperia com a Central Geral dos Trabalhadores, reprimiria as greves e negociaria com os rebelados. Jango, porém, não aceitou esse papel. Apesar de Goulart ainda estar presente em território nacional, foi declarado vaga a presidência da república e Ranieri Mazzilli foi convocado a assumir, uma vez que ele era o primeiro na linha sucessória. O Supremo Tribunal Federal deu aval ao golpe, seu presidente, Álvaro Ribeiro da Costa foi ao Congresso assistir a posse de Mazzilli como presidente. Jango, por sua vez, partiu de Porto Alegre para o Uruguai onde se exiliou. Apesar de carregar a faixa, Mazzilli, já não era mais o presidente. O Movimento que tomou o poder se autointitulou de Revolução. Eles iniciaram o processo que alteraria as bases das instituições democráticas no Brasil. Nesse sentido, o poder de fato era exercido via Atos Institucionais, decretos-leis que eram baixados conforme o interesse do movimento. O primeiro deles, o AI 1 estabeleceu dentre outras medidas, a realização de eleições indiretas para presidência da república. O vencedor deveria ocupar o cargo até 1966, quando passaria a faixa para um presidente democraticamente eleito. Inicialmente, não era objetivo daqueles militares ocupar a presidência por tantos anos e mais adiante veremos como isso ocorreu. As eleições deram vitória quase unanime ao General Humberto de Alencar Castelo Branco. O general era um homem muito bem visto pelas Forças Armadas e por civis que estiveram envolvidos no Golpe. O novo presidente era de um seleto grupo de militares intelectualizados chamado de Sorbonne, em alusão a prestigiosa universidade francesa. Castelo Branco era de um grupo dentro das forças armadas e envolvidos no Movimento de 64 que acreditava, em certa medida, na necessidade de devolver o poder aos civis após um processo de limpeza. Esse grupo é conhecido como Castelistas. Contudo, como veremos ainda nesse texto, foi no Governo Castelo Branco que se estabeleceram as bases da ditadura que duraria até 1985. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves GOLPE OU REVOLUÇÃO? Como vimos, o Movimento de 1964 se autointitulou de Revolução. Inclusive, esse termo foi utilizado por muitos jornais no início da ditadura para se referir aos militares que estavam no poder nesse momento inicial. Contudo, até o momento, tratamos nesse texto de referir ao Movimentode 64 como Golpe Civil-Militar. Nesse sentido, se faz necessário algumas considerações. É difícil conceituar revolução, mas podemos entender a mesma como um movimento amplo da sociedade que envolve um grande número de pessoas. Esse movimento deve atuar de forma a gerar mudanças políticas, sociais e econômicas. Além disso, esse conceito está muito próximo da ideia de ruptura. A revolução marca uma ruptura com a ordem vigente até então e estabelece uma nova. Tanto nos campos políticos e sociais, como econômico. Existem diversas correntes históricas que tratam do assunto, algumas ampliam a abrangência desse conceito, outras reduzem e outras estabelecem um conceito pelo qual a revolução seria praticamente impossível. Contudo, como não é o objetivo desse curso, nem dessa aula, vamos considerar apenas o disposto acima. Por sua vez, os golpes são atos que partem de um pequeno grupo, geralmente as elites, e que não possuem grande participação popular como nas revoluções. Além disso, os golpes, apesar de alterar a ordem vigente, não causa transformações profundas. Geralmente são desencadeados para manter um aspecto específico preservado, evitando sua alteração ou para gerar uma alteração pontual que não passaria por meios legais. Esse ponto é comum entre revoluções e golpes, o desrespeito ao termo ou processo legal. Nesse sentido, o Movimento de 1964 rompeu com a ordem constitucional, uma vez que um presidente legalmente empossado foi derrubado do poder pela força das armas, a presidência foi declarada vaga mesmo com Jango ainda em solo nacional (A Constituição dizia que se o presidente se ausentar do país sem autorização do Congresso, o cargo é declarado vago), o sucessor natural, Ranieri Mazzilli, foi obrigado a passar a faixa para Castelo Branco, eleito indiretamente e o Executivo tinha mais força que os demais poderes, sobretudo pela expedição dos Atos Institucionais. Porém, só esses aspectos não permitem conceituar como golpe. Além disso, um segundo ponto diz respeitos as manutenções. A ditadura foi um governo que garantiu a continuidade de uma série de aspectos da sociedade brasileira. A preservação de privilégios, de diferenças sociais e econômicas na sociedade, da propriedade rural improdutiva e que não é destinada à reforma agrária, do lucro do empresariado, etc. Nesse sentido, não tivemos uma ruptura forte do status quo. Até em termos eleitorais, a população ainda votou para alguns cargos. Portanto, não houve forte ruptura, como é característico das revoluções. Devemos ainda destacar que João Goulart, apesar de ser assim visto por muitos, como um líder revolucionário de esquerda ou como aquele que implementaria uma república sindicalista no Brasil, não era a figura revolucionária que estaria disposto a isso (Talvez Brizola fosse, mas Goulart não era). Jango era herdeiro de Vargas, de sua aproximação com as massas e de seu nacionalismo. Isso preocupava os conservadores que utilizaram dessa postura para associá-lo ao comunismo e assim criar repulsa por parte de setores como a classe média. Porém, não podemos associar Goulart ao comunismo, nem dizer que ele planejava tomar o poder em uma ditadura comunista. Nesse sentido, o CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves argumento principal das Forças Armadas que era impedir um golpe de esquerda no Brasil, não se justifica. As Reformas de Base tinham o objetivo de modernizar o Brasil e solucionar problemas estruturais do país. Jango, para isso, se aproxima de sua base, que eram os trabalhadores e tenta se aliar a esse grupo para pressionar o Congresso pela aprovação das reformas. Por fim, como veremos nas aulas seguintes, a Ditadura Militar (1964-1985) vai ser um dos períodos mais obscuros da história do Brasil. São inúmeros os casos de repressão, tortura de estudantes, jornalistas, músicos, padres, mulheres e inclusive crianças. Perseguição à indígenas que lutavam pela terra. Perseguição aos trabalhadores que lutavam por melhores condições. Ataques a imprensa e censura. Os relatórios da Comissão da Verdade, que serão tratados na última aula sobre ditadura e na aula final do curso sobre os Governos Petistas, trouxeram à tona muitos desses crimes. Dessa forma, é difícil dar o peso de uma revolução para um movimento desses. Lembrando que os militares que tomaram o poder em 1964, incialmente não pretendiam ficar no poder por muito tempo. Vai ser ao longo do Governo Castelo Branco que isso se consolida. Essas pessoas que atuaram pela realização do golpe, buscaram a moralidade da política, o combate a corrupção e sobretudo a luta contra o comunismo. As Forças Armadas estavam dispostas a manter o jogo democrático, desde que certos limites não fossem ultrapassados. Quando Jango se decide pela esquerda e atua em afronta a hierarquia quase sagrada dos militares, isso se perde. Ao longo do Governo Castelo Branco esses militares, que não eram um grupo coeso, mesmo entre aqueles que defendiam a manutenção de uma ditadura, vão querer implementar o seu projeto de Brasil. E por conta disso, decidem quebrar de vez o jogo democrático e a própria função das Forças Armadas em prol desse projeto. IMAGEM 01 – Tropas se deslocam durante o Movimento de 1964. Fonte: Memorial da democracia. Disponível em: http://memorialdademocracia.com.br/card/golpe-de-1964 Acesso em 04 de fevereiro de 2021. http://memorialdademocracia.com.br/card/golpe-de-1964 CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Como vimos, o Comando Supremo da Revolução, em 09 de abril, baixou o Ato Institucional número 01. Inicialmente, esse decreto não possuía o número 01, uma vez que este seria o único Ato Institucional. Todavia, vários outros foram baixados ao longo da ditadura. Este documento permitia a cassação de mandatos de políticos em qualquer esfera. Dessa forma, diversos governadores, senadores e deputados perderam o mandato nesse momento. Além disso, permitia ao Executivo enviar projetos de lei ao Congresso para que fossem aprovados no máximo em 60 dias em cada casa. Na hipótese de não ocorrer tal apreciação, o projeto era aprovado por decurso de prazo. Os funcionários públicos perderam a estabilidade de forma temporária. Iniciou-se assim os expurgos no serviço público que atingiram cerca de 1400 colaboradores. O mesmo ocorreu nas Forças Armadas, onde cerca de 1200 perderam seus postos. Ademais, os juízes perderam sua vitaliciedade, sendo que cerca de 49 foram afastados de suas funções. Além disso, o AI 1 estabeleceu eleições indiretas para presidente da república. O candidato que vencesse a disputa, ocuparia o cargo até 1966, quando passaria a faixa para outro presidente democraticamente eleito. Devemos ressaltar que nesse momento, os militares aparentemente não tinham a intenção de permanecer no poder por muito tempo. O grupo que tomou o poder em 1964, fez todo esse movimento com a intenção de derrubar João Goulart, mas não tinham claramente um projeto a ser executado depois que isso ocorresse. Não que os militares não tivessem um projeto de Brasil, inclusive eles permanecem no comando para implementar esse plano, mas não existia um passo a passo pensado de antemão para ser executado depois que Jango caísse. No tange a eleição, chegou-se à conclusão que deveria ser formada uma lista tríplice, dentro da qual o Congresso escolheria o novo presidente. Lembrando que o Legislativo já tinha sofrido uma primeira leva de cassações. A disputa contou com Humberto de Alencar Castelo Branco, Juarez Távora e Eurico Gaspar Dutra, todos militares. Prevaleceu o nome de Castelo Branco, nesse momento, Chefedo Estado-Maior do Exército. Castelo ganhou com pouco mais de 98% dos votos. O PTB foi o partido que fez campanha para que seus membros não participassem da eleição. Por conta disso, existe um número considerável de abstenções. Para vice-presidente prevaleceu o nome do Secretário de Finanças do Governo de Minas Gerais, José Maria Alkmin. Humberto de Alencar Castelo Branco era um homem muito respeitado no meio militar e no meio civil. Seu nome surgiu por indicação de membros das Forças Armadas, mas também de alguns governadores que participaram do golpe, como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros. Castelo era de um seleto grupo de militares intelectualizados conhecido como Sorbonne. Uma referência a universidade francesa, famosa no mundo todo. Ele ainda era famoso por ter participado de importantes eventos da política brasileira, como a repressão ao Movimento Constitucionalista de 1932 em São Paulo e a participação no comando da Força Expedicionária Brasileira, missão que lutou na Itália durante a Segundo Grande Guerra Mundial. Castelo e os homens que assumem o poder no Brasil nesse momento, eram ligados a Escola Superior de Guerra (ESG). Ele próprio foi Diretor do Departamento de Estudos. Ademais, o Marechal Cordeiro de Farias e o Marechal Juarez Távora, ministros de Castelo Branco, também eram ligados à escola. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves IMAGEM 02 – Foto oficial de Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do Brasil durante a Ditadura Militar. Fonte: Governo Federal. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/conheca-a-presidencia/acervo/galeria- de-presidentes/humberto-de-alencar-castello-branco/view Acesso em 05 de fevereiro de 2021. Castelo Branco ficaria no poder até 1966, que era o último ano do Governo Goulart. Porém, o AI 1, não impedia a realização de eleições estaduais. Dessa forma, o ano de 1965 é marcante devido a realização de eleições em alguns estados nos quais o pleito foi permitido pelo Comando Supremo da Revolução. O resultado, no entanto, não agradou os militares. As urnas revelaram a derrota da grande maioria dos candidatos governistas. O resultado dessas eleições fez com que militares da chamada Linha Dura (em oposição aos moderados ou castelistas) pressionassem pelo endurecimento do regime. Lembrando que enquanto os castelistas eram moderados em seu discurso e sobretudo defendiam o retorno a normalidade democrática, os militares da linha dura eram defensores do fechamento maior do regime e da permanência deles por mais tempo no poder para de fato “organizar casa”, varrendo do país o comunismo e a corrupção. A pressão desses grupos levou ao estabelecimento de mais um Ato Institucional, o AI 2. Esse documento trouxe modificações importantes para entender o prosseguimento da Ditadura no Brasil. O AI 2 estabeleceu a eleição indireta para presidente da república. O Congresso deveria escolher o chefe do executivo em votação nominal e com voto aberto. Além disso, aumentou ainda mais os poderes do Executivo que agora poderia baixar atos adicionais ao ato e decretos-leis em matéria de segurança nacional. Porém a alteração mais famosa desse ato institucional diz respeito ao estabelecimento no Brasil do Bipartidarismo. Todos os partidos existentes até então foram extintos e os políticos deveriam se organizar nos dois oficiais: ARENA (situação) e MDB (oposição consentida). https://www.gov.br/planalto/pt-br/conheca-a-presidencia/acervo/galeria-de-presidentes/humberto-de-alencar-castello-branco/view https://www.gov.br/planalto/pt-br/conheca-a-presidencia/acervo/galeria-de-presidentes/humberto-de-alencar-castello-branco/view CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves Abaixo seguem alguns artigos do Ato Institucional número 02, transcritos na integra, que são importantes para entender o descrito acima: “Art. 9º - A eleição do Presidente e do Vice-Presidente, da República será realizada pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão pública e votação nominal. Art. 13 - O Presidente da República poderá decretar o estado de sítio ou prorrogá-lo pelo prazo máximo de cento e oitenta dias, para prevenir ou reprimir a subversão da ordem interna. Art. 15 - No interesse de preservar e consolidar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 (dez) anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais. Art. 18 - Ficam extintos os atuais Partidos Políticos e cancelados os respectivos registros.” (BRASIL, ATO INSTITUCIONAL Nº 2, DE 27 DE OUTUBRO DE 1965. Mantem a Constituição Federal de 1946, as Constituições Estaduais e respectivas Emendas, com as alterações introduzidas pelo Poder Constituinte originário da Revolução de 31.03.1964, e dá outras providências. Diário Oficial da União 27.10.1965, republicado em 28.10 e 05.11.1965) Durante toda a ditadura militar no Brasil serão esses dois partidos que irão atuar no cenário político nacional. A ARENA era o partido governista e recebeu a esmagadora maioria dos políticos da União Democrática Nacional e parte dos políticos do Partidos Social Democrático. O MDB que era a oposição permitida pelos militares, recebeu a maioria dos políticos do PTB e alguns do PSD. Apesar da existência de um partido de oposição, a grande maioria dos líderes e militantes que poderiam fazer oposição efetiva já tinha sido expulso do cenário político brasileiro. Dessa forma, o MDB não era capaz de fazer uma oposição forte contra a situação, sobretudo nesse momento inicial da ditadura. IMAGEM 03 – Presidente Castelo Branco (a esquerda) e Charles de Gaulle, presidente franc6es, em visita ao Brasil. Fonte: CPDOC FGV. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel- castelo-branco-e-outros-por-ocasiao-da-visita-de-charles-de-gaulle-ao-brasil Acesso em 05 de fevereiro de 2021. http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-castelo-branco-e-outros-por-ocasiao-da-visita-de-charles-de-gaulle-ao-brasil http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-castelo-branco-e-outros-por-ocasiao-da-visita-de-charles-de-gaulle-ao-brasil CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves Ainda no governo Castelo Branco serão baixados o AI 3 e o AI 4. O primeiro estabeleceu as eleições indiretas para governadores e o segundo convocou o Congresso e forçou a aprovação de uma nova Constituição para o Brasil. A Carta de 1967 incorporou os decretos já publicados e aquilo que já vinha sendo feito pelos militares e ampliou ainda mais os poderes do Executivo. De fato, o Congresso estava fechado por ordem do Comando Supremo da Revolução e foi convocado as pressas apenas para aprovar esse projeto. Como foi possível perceber, o Governo Castelo Branco, apesar de não gostar de ser identificado como uma ditadura, na verdade, lançou as bases que sustentariam os demais presidentes generais ao longo de todos os anos de governos ditatoriais no Brasil. O bipartidarismo, as eleições indiretas, o controle exercido pelo Estado, a tortura (que já aparece no governo de Castelo) e ausência de algumas liberdades e direitos, bem como a sobreposição do Executivo sobre os outros poderes são características de todo o período ditatorial e que são lançados no Governo Castelo Branco. Castelo Branco morreuno ano de 1967 devido a um acidente aéreo. O grupo castelista ou moderado não fez um sucessor e o militar que assume é Artur da Costa e Silva. Esse general pertence a chamada Linha Dura, opositor direto do grupo Castelista. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves ECONOMIA NO GOVERNO CASTELO BRANCO O General Castelo Branco precisou enfrentar, em termos econômicos, os mesmos problemas que os presidentes anteriores se depararam: alta inflação, aumento do custo de vida nas grandes cidades, dívida externa elevada, além da revolta de trabalhadores na cidade e no campo. Esses militares que tomam o poder em 64 são ligados a chamada Doutrina de Segurança Nacional. Esse grupo acreditava ser necessário uma luta constante contra o comunismo, que para eles, era uma ameaça real. Nesse sentido, era preciso modernizar o sistema econômico a fim de aperfeiçoar o capitalismo para conter o comunismo. Para atingir esse fim, Castelo Branco lançou o Plano de Ação Econômica do Governo – PAEG. Esse plano foi elaborado por dois civis: Roberto Campos, que já havia sido deputado, senador, presidente do BNDE e agora, Ministro do Planejamento. E Otávio Gouveia de Bulhões, ministro de Café Filho, presidente que governou brevemente após o suicídio de Vargas e logo teve que se afastar por problemas de saúde. Bulhões ocupou o cargo de Ministro da Fazenda de Castelo Branco. O PAEG buscou solucionar o problema do déficit no setor público. Para isso, foi necessário a tomada de uma série de medidas. O governo cortou o subsídio concedido ao petróleo e ao trigo, proibiu que os estados se endividassem sem autorização federal, aumentou a arrecadação das empresas públicas, contraiu o crédito e comprimiu os salários. Além disso, introduziu a correção monetária para pagamento de dívidas públicas. Essa última medida é interessante, pois era comum deixar as contas atrasarem para serem pagas posteriormente. Como a inflação corroía o dinheiro muito rápido, era como se a conta ficasse mais barata, quanto mais tempo se demorasse para pagar. As outras medidas geram um impacto forte de curto prazo na vida das pessoas, sobretudo nos trabalhadores assalariados. Uma vez que o aumento de preço de derivados de trigo, da gasolina e de energia elétrica (devido o aumento da arrecadação via empresas públicas) impacta negativamente a vida das pessoas mais pobres. Outra necessidade para o Governo era o controle dos trabalhadores que obviamente não ficariam felizes em assumir o impacto inicial das medidas do PAEG. Nesse sentido, o Governo tratou de aprovar a Lei de Greves. O que praticamente impossibilitava a realização de greves legais. Além disso, o Movimento de 64 já havia atuado fortemente nos sindicatos e nas Ligas Camponesas, de forma que essas organizações já estavam, de certa forma, fragilizadas. Ainda no campo trabalhista, o direito a estabilidade no emprego após 10 anos no cargo foi abolido. Esse era um direito presente na CLT e mais valorizado pelos trabalhadores. Em substituição, foi criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS. Esse fundo era como uma reserva financeira depositada de forma obrigatória e automática pelos empregadores em uma conta bancária do trabalhador. Na prática não era muito vantajoso, uma vez que essa reserva só poderia ser acessada em casos muito específicos e era corroída pela inflação, já que esse valor não era ajustado acima do índice. A vantagem ficou com os empresários que passaram a demitir e contratar de forma mais livre. Muitas empresas alegavam que os funcionários estáveis dificultavam a modernização dos negócios. No campo do comércio exterior, o PAEG aboliu uma lei restritiva de 1962 que impedia, em certa medida, a remessa de lucros para o exterior. Essa lei havia causado desconforto nos investidores e CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre Alves empresários estrangeiros, sobretudo nos norte-americanos. Portanto, no governo Castelo Branco, ocorre o rompimento com a ideia de estrangulamento das remessas de lucros. Medidas que facilitaram ao Brasil conseguir renegociar a dívida externa com os credores estrangeiros. O PAEG foi vitorioso em diversos aspectos. Conseguiu reduzir o déficit público, controlar em parte a inflação e fazer o PIB voltar a crescer. Mas não podemos nos enganar, o Plano alcançou seus objetivos devido a uma congruência de fatores. Primeiro, o regime autoritário no qual ele foi implantado permitiu jogar o ônus desse tipo de medida em alguns grupos sem que esses pudessem revidar. Como vimos nas aulas anteriores, era muito difícil para os presidentes eleitos resolver a situação econômica, pois nenhum grupo queria sofrer o impacto dessas medidas no curto prazo. Na ditadura, esse ônus foi jogado sobretudo sobre os trabalhadores que não puderam protestar. Não que a ditadura seja sinônimo de estabilidade econômica, como veremos mais adiante, o regime militar também passou por uma série de problemas no campo da Economia. Em segundo lugar, a dívida externa que era uma forte preocupação dos presidentes foi temporariamente resolvida, graças ao sinal do FMI que permitiu a renegociação e a ajuda monetária dos EUA ao Brasil. Lembrando que os estadunidenses apoiaram o Movimento de 64 na operação conhecida como Brother Sam. IMAGEM 04 – Otávio Gouveia de Bulhões (o segundo da esquerda para direita, sentado e de gravata) um dos autores do PAEG e Castelo Branco (o terceiro da esquerda para direita, de terno preto). Fonte: CPDOC FGV. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-otavio-gouveia-de-bulhoes-castelo-branco- e-outros-em-visita-a-curitiba Acesso em 06 de fevereiro de 2021. http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-otavio-gouveia-de-bulhoes-castelo-branco-e-outros-em-visita-a-curitiba http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-otavio-gouveia-de-bulhoes-castelo-branco-e-outros-em-visita-a-curitiba CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre A. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1964: Reportagem Especial | Governo Castelo Branco. Canal UNIVESP TV. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dMp2BZ9QwgY Acesso em 04 de fevereiro de 2021. Arquivos Pessoais. CPDOC FGV, 2021. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/acervo/arquivospessoais Acesso em 06 de fevereiro de 2021. BRASIL, ATO INSTITUCIONAL Nº 1, DE 9 DE ABRIL DE 1964. Dispõe sobre a manutenção da Constituição Federal de 1946 e as Constituições Estaduais e respectivas Emendas, com as modificações instroduzidas pelo Poder Constituinte originário da revolução Vitoriosa. Diário Oficial da União 9.4.1964 e republicado em 11.4.1964. BRASIL, ATO INSTITUCIONAL Nº 2, DE 27 DE OUTUBRO DE 1965. Mantem a Constituição Federal de 1946, as Constituições Estaduais e respectivas Emendas, com as alterações introduzidas pelo Poder Constituinte originário da Revolução de 31.03.1964, e dá outras providências. Diário Oficial da União 27.10.1965, republicado em 28.10 e 05.11.1965 BRASIL, ATO INSTITUCIONAL Nº 3, DE 5 DE FEVEREIRO DE 1966. Fixa datas para as eleições de 1966, dispõe sobre as eleições indiretas e nomeação de Prefeitos das Capitais dos Estados e dá outras providências. Diário Oficial da União 7.2.1966. BRASIL, ATO INSTITUCIONAL Nº 4, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1966. Convoca o Congresso Nacional para se reunir extraordináriamente, de 12 de dezembro de 1966 a 24 de janeiro de 1967, para discursão, votação e promulgação do projeto de Constituição apresentadopelo Presidente da República, e dá outras providências. Diário Oficial da União 7.12.1966 e retificado em 12.12.1966. Castelo Branco. Acervo O Globo, 2021. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/o- presidente-castelo-branco-21564000 Acesso em 04 de fevereiro de 2021. COELHO, Gabriela. Justiça proíbe comemorações dos 55 anos do golpe de 1964. Conjur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mar-29/justica-proibe-comemoracao-55-anos-golpe-1964 Acesso em 04 de fevereiro de 2021. FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006. FERREIRA, Jorge. DELGADO, Lucília Almeida Neves (org). O governo Goulart e o golpe civil-militar de 1964. Civilização Brasileira, 2003, v.3. FERNANDES, Cláudio. "O que é golpe de Estado?"; Brasil Escola. 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Disponível em: https://educacao.uol.com.br/album/2014/03/06/confira-imagens-historicas-do-golpe-militar-de- 64.htm Acesso em 05 de fevereiro de 2021. https://www.youtube.com/watch?v=dMp2BZ9QwgY https://cpdoc.fgv.br/acervo/arquivospessoais https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/o-presidente-castelo-branco-21564000 https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/o-presidente-castelo-branco-21564000 https://www.conjur.com.br/2019-mar-29/justica-proibe-comemoracao-55-anos-golpe-1964 https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-golpe-estado.htm https://educacao.uol.com.br/album/2014/03/06/confira-imagens-historicas-do-golpe-militar-de-64.htm https://educacao.uol.com.br/album/2014/03/06/confira-imagens-historicas-do-golpe-militar-de-64.htm CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 05 – O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64 E GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) Alexandre A. Galeria de Presidentes: Humberto de Alencar Castelo Branco. Governo Federal, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/conheca-a-presidencia/acervo/galeria-de-presidentes/humberto-de- alencar-castello-branco/view Acesso em 04 de fevereiro de 2021. NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2016 SACRAMENTO, Mafalda Felix do. Os Golpes de Estado como principal meio de subversão. Uma análise comparativa com outros sistemas subversivos. In: Sol Nascente – Revista do Centro de Investigação sobre Ética Aplicada. n. 4. SILVA, Daniel Neves. "Golpe Militar de 1964 e o início da ditadura no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/golpe-militar.htm. Acesso em 04 de fevereiro de 2021. SILVA, Daniel Neves. "Governo Castello Branco"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/castelo-branco.htm. Acesso em 04 de fevereiro de 2021. SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. 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