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a visão de pessoa pra rogers

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A visão de pessoa na teoria de 
Carl Rogers 
YVES MARIE GILLES DE MAUPEOU 
I. AVIsa0 rogeriana de pessoa; 2. 
Reflexões sobre à visão rogeriana de 
pessoa; 3. Conclusão. 
"Comecei a minha própria pessoa, essa pessoa que tantas vezes se sentia 
como um garoto no meio dos adultos, que tinha medo e deixava que 
o medo o impedisse de viver na realidade, completamente vivo e ativo 
nas relações com outras pessoas. E assim que comecei a ser realmente res-
ponsável por esse 'garoto' que fazia parte de mim, ele começou a crescer 
e a tornar-se forte, ou começou talvez a perder a influência que tinha 
sobre mim. De qualquer modo, comecei a 'ser pessoa'." 1 
Essas linhas tiradas de uma carta citada por Carl Rogers têm ressonân-
cias profundas em cada um de nós. Levados pelas exigências de uma cul-
tura científica cada vez mais impessoal, imersos no meio das massas anô-
nimas, ou perdidos diante da profusão de idéias novas, sentimo-nos como 
o garoto citado por Rogers, como o "Estrangeiro" de A. Camus, estran-
geiros em relação a nós mesmos, estrangeiros em relação aos outros e vi-
vemos interna e externamente na dramática separação. Esperamos "algo 
de novo" como dizia o São Pedro imaginário de Rollo May.2 "Começar 
1 Rogers, C. R. Grupos de encontros. Trad., Moraes Editores, p. 86. 
2 May, Rollo. El dilema existencial deI hombre moderno. Mundo moderno. Paidós, 
p. 18. 
Arq. bras. Psic. apl., Rio de Janeiro, 26 (1) : 55-61, jan./mar. 1974 
a sua própria pessoa", "tornar-se pessoa" é a resposta que Rogers quer 
oferecer ao nosso tempo. Ele não vê solução satisfatória nas miragens do 
progresso nem nos recursos exteriores, e sim, na interioridade que faça cada 
um assumir o que ele é em verdade e permita ao mesmo tempo assumir 
os outros como eles são. A noção de pessoa é a chave da teoria rogeriana 
e queremos deixar algumas reflexões sobre essa visão. Porém, ao começar 
devemos precisar um aspecto indispensável à compreensão de Rogers. Com 
efeito, nossos estudos acostumaram-nos a distinguir, a pormenorizar; no 
plano psicológico, por exemplo, temos na mente a complexidade hierar-
quizada do aparelho psíquico de Freud. Com Rogers, nada disso existe. 
não há objetivação, nem reducionismo, nem classificações possíveis; para 
ele, o que, afinal, vale é a relação dinâmica e vivencial que o indivíduo 
estabelece consigo e com os outros. Tudo isso faz com que os pontos que 
vamos apresentar sejam separados somente por exigência da clareza e per-
maneçam unificados no dado fenomenológico único que constitui cada 
pessoa. 
I . A visão rogeriana de pessoa 
A visão rogeriana de pessoa parte de um núcleo essencialmente pOSItIVO: 
a pessoa é naturalmente racional, realista, progressiva. Porém, para Ro-
gers, essa visão não se situa como o a priori de uma filosofia das essências 
e sim como uma tendência, uma capacidade que se descobre dentro do 
processo dinâmico da existência. O ser humano tem a capacidade, latente 
senão manifesta, de se compreender a si mesmo, de resolver seus proble-
mas, de compreender os outros e de chegar assim à satisfação, à eficácia, 
quer dizer ao bom funcionamento do seu organismo e à felicidade. Visão 
essencialmente dinâmica e fundamentalmente otimista que podemos re-
sumir citando, entre outros, um texto de Carl Rogers: 
"A visão por nós apresentada implica, evidentemente, que a natureza bá-
sica do ser humano, quando atua livremente, é construtiva e fidedigna. 
Para mim, trata-se da inevitável conclusão de mais de trinta anos de 
experiência em psicoterapia. Quando somos capazes de libertar o indivíduo 
das suas defesas, de modo que ele se abra à ampla variedade das exigên-
cias ambientais e sociais, pode-se confiar em que suas reações serão posi-
tivas, voltadas para o futuro, construtivas. Não precisamos perguntar quem 
o socializará, pois uma de suas aspirações mais profundas é de associar-se, 
de comunicar-se com os outros. Quando é, plenamente, ele próprio, não 
pode deixar de ser realisticamente socializado." 3 
Partindo dessas linhas, podemos ver que Rogers não considera a pes-
soa em termos analíticos, nem estabelece categorias ou momentos na for-
mação de consciência, nem distingue, dentro da personalidade, sistemas 
de influência opostas. Falando do eu, ele escolhe o termo sel! que é mais 
dinâmico, mais vivencial e mais amplo; o sel! é a concepção que o su-
3 Rogers, C. R. Liberdade para aprender. Trad., Interlivros de Minas Getais, 1972. 
p. 268. 
56- A.B.P .A. -1/74 
Jetto tem dele mesmo, é a percepção de si, incluindo a consClencia e a 
avaliação do comportamento. O que interessa a Rogers não é· a essência, 
filosoficamente definida, da pessoa e sim o processo dinâmico do indiví-
duo. O ponto de partida desse processo é o núcleo positivo da personali-
dade, suas necessidades organísmicas (afeto, consideração positiva, valo-
rização de si, consideração dos outros, etc ... ) que não vêm da aprendi-
zagem, nem da educação mas são inatas no homem. O organismo, ao 
longo da vida, visa satisfazer a essas necessidades e prossegue na direção 
dos seus próprios fins; é a tendência atualizante. Caminhando na existên-
cia e crescendo, o sujeito vive novas experiências e com isso aumenta sua 
visão e as necessidades do seu mundo interior; sua estrutura experiencial 
vai modificando-se dando origem a novas significações e a novos valores; 
é a capacidade" de regulação. A visão de pessoa, para Carl Rogers, está 
incluída na totalidade do organismo; o que existe é um indivíduo que 
vai atualizando-se e regulando-se internamente, avaliando suas experiên-
cias passadas, preparando as experiências futuras e caminhando na direção 
do pleno funcionamento. Pessoa é rumo significante. 
Para Rogers, todo processo de desenvolvimento parte das forças in-
ternas positivas, mas o homem vive em sociedade, e a atualização dessas 
forças vai depender do clima do encontro com as forças externas. Este 
encontro situa-se ao nível das relações interpessoais. Partindo da idéia 
de que o sujeito tem necessidade de se compreender e de ser compreen-
dido, ele vê a pessoa em situação que poderíamos chamar de teedback 
com as outras pessoas; o outro torna-se significativo para o sujeito. Po-
demos distinguir: 
a) ou o outro valoriza de maneira incondicional a expenencia do SUJeI-
to; neste caso, este encontra o clima em que vão-se atualizar as potencia-
lidades, vai~se aceitar a experiência tal qual ela é, vai-se reduzir a dis-
tância entre o ser real e o ser existencial, vai-se estabelecer a congruência 
que é a unidade total da personalidade. O indivíduo torna-se máduro, 
é capaz de autodireção e de auto-avaliação porque encontrou o clima per-
missivo que facilitou o desenvolvimento das suas capacidades e permitiu 
a consciência de suas experiências. Ele fez suas as experiências que viveu. 
b) ou o outro não valoriza ou valoriza de maneira condicional, selecio-
nando, julgando, estabelecendo condições de valores; neste caso o su-
jeito chega a se valorizar também de maneira condicional. Há incongru-
ência, quer dizer, ruptura entre o ser real e o ser existencial e distância 
entre a consciência que o sujeito tem de si mesmo e as experiências vi-
vidas. O indivíduo tem uma falsa idéia de si, é neurótico e incapaz de 
assimilar o que VIveu. 
Diz Rogers: 
"Isto é a alienação fundamental do homem. Não foi fiel a ele mesmo, a 
seu processo natural e organísmico de valorização da experiência; ao 
contrário, para preservar a atenção positiva dos outros, chegou a falsificar 
A pessoa em Rogers 57 
certos valores de sua expenencia e a percebê-la somente através do valor 
atribuído pelo outro." 4 
Torna-se pessoa é ter possibilidades de atualizar suas potencialidades, 
de assimilar as situações vividas e de simbolizar suas experiências. A pes-
soa, para Rogers, não se constrói de fora mas realiza-se a partir das po-
tencialidades internas; por isso ela situa-se acima de qualquer essência 
definida, de qualquer lei, dogma ou tradição. No capítulo inicial de Tor-
nar-se pessoa, encontramos algumasafirmações significativas: 
"posso ter confiança na minha experiência" ~ 
"a apreciação dos outros não me serve de guia" 6 
"sinto-me satisfeito em descobrir uma ordem na minha experiência" 7 
"a experiência é, para mim, a suprema autoridade. A minha própria 
experiência é a pedra-de-toque de toda a validade. Nenhuma idéia de 
qualquer outra pessoa, nem nenhuma das minhas próprias idéias, tem 
a autoridade que reveste a minha experiência. É sempre à experiência que 
regresso, para me aproximar cada vez mais da verdade, no processo de 
descobri-la em mim. Nem a Bíblia, nem os profetas, nem Freud, nem a 
investigação - nem as revelações de Deus ou dos homens - podem ga-
nhar procedência relativamente à minha própria experiência direta." 8 
Falando de pessoa, Rogers afirma sua confiança sem limites nas pos-
sibilidades do crescimento de cada um. Situando assim o sujeito acima 
de qualquer instituição ele não pensa em exaltar o laisser faire, os ca-
prichos ou a anarquia, mas quer tirar a personagem para que apareça a 
pessoa. Com efeito, nossas sociedades organizam-se a partir de normas de 
julgamentos de valores que cada indivíduo deve respeitar. As religiões, 
as famílias, as escolas etc. sempre definem os objetos mais desejáveis para 
os sujeitos: razão, coragem, obediência, caridade, fé, fidelidade etc ... 
Essas normas são transmitidas, geralmente acompanhadas de recompensas 
ou castigo, e suas raízes são apresentadas ou em Deus, ou na natureza 
universal do homem, ou na sobrevivência da sociedade. São valores con-
cebidos, introjetados de fora fazendo com que a pessoa ou se conforme, 
usando máscara, ou reaja, ficando desajustada; em ambos os casos ela 
não teve oportunidade de ser ela mesma, nem de assumir livremente sua 
experiência. Para encontrar o equilíbrio e descobrir o verdadeiro sentido 
da vida, Rogers convida-nos a partir da pessoa criatura singularizada, va-
lor primário e ser único. Da sociedade projetam-se os valores objetivos e 
concebidos; da pessoa nascem os valores operativos que estão inscritos na 
própria natureza humana, não como categorias abstratas ou estruturas 
universais e sim como capacidades organísmicas. Tudo jorra da própria 
pessoa. Da mesma maneira que a criança constrói seu mundo e sabe o 
• Pagés, M. L'orientation non directive. 2. ed. Paris, Dunot. p. 18. 
S Rogers, C. R. Tornar·se pessoa. Trad., Moraes Editores. p. 33. 
6 Id. ibidem. p. 34. 
Id. ibidem. p. 35. 
8 Id. ibidem. p. 35. 
58 A.B.P.A. 1/74 
que é bom e o que é ruim para ela, assim o adulto pode confiar nos cri-
térios do seu organismo. Tornar-se pessoa é ter possibilidade de ser. "So-
mos nossas escolhas", dizia Sartre; para Rogers, isso significa que nossas 
escolhas devem ser incorporadas dentro da consciência que a pessoa tem 
de si mesma para que possa olhar-se sem se condenar e caminhar sem 
se flagelar. Incorporando tudo, o indivíduo não esconde nem foge, nem 
condena mas assume o conjunto da sua personalidade e daí caminha para 
o ser mais e não para o parecer mais. Bernanos escreveu uma vez que 
o "ferreiro tentando à força torcer uma barra de ferro consegue menos 
que o curtidor dando forma ao flexível couro" e ele aplicou isso à vida. 
A pessoa, para Rogers, segue o mesmo caminho quando visa a se liberar, 
por dentro, assimilando e amando simplesmente o que ela é para ser mais, 
em lugar de tentar, à força, liberar-se dos constrangimentos exteriores. E 
vivendo assim a sinceridade consigo mesmo, os homens vão-se encontrar, 
pois acima de qualquer cultura, Rogers descobre tendências semelhantes 
emergindo de todos os homens porque pertencem à mesma espécie. Assim 
reconciliam a realização pessoal e a convivência em sociedade. Visão de 
pessoa é, para Rogers, visão do mundo. 
Que pensar de tudo isso? Visão real? Caminho de salvação para a 
humanidade? Vamos tentar responder. 
2. Reflexões sobre a visão rogeriana de pessoa 
Situando a personalidade dentro da totalidade organísmica e confiando 
na pessoa como capacidade de auto-realização, Rogers reconcilia a psico-
logia com as raízes mais profundas da biologia. Com efeito, tendências 
atualizantes e capacidade de regulação são noções que parecem inscritas 
na realidade fisiológica dos seres vivos; verificamos isso na planta cortada 
que se refaz ou na lesão de um hemisfério do cérebro, recuperável em 
parte, pela adaptação do outro hemistério à situação imprevista. Porém, 
a biologia revela também que há outros fatores puramente exteriores que 
condicionam o desenvolvimento. Sabemos, por exemplo, a influência do 
meio exterior (clima, solo, condições de sobrevivência ... ) sobre a evo-
lução das espécies. Isso nos leva à interrogação a respeito do crescimento 
pessoal considerado a partir das forças internas sem levar em conta as 
forças externas. Rogers afirma que o indivíduo possui a capacidade de 
se entender, de organizar sua personalidade e "de se desenvolver nas di-
reções naturais do organismo humano". Este postulado não inclui o con-
texto cultural nem as influências externas e por isso é difícil de admitir. 
Sabemos todos que muitas determinações influem nas relações interpes-
soais bem como na relação da pessoa consigo mesma: legislação, sistema 
educacional, política e até a própria estrutura da linguagem. O homem 
não pode pretender à auto-realização sem levar em conta esses fatores. 
Temos a impressão de que Rogers eliminou a mudança das estruturas 
como fator de mudança das pessoas. O debate não é de hoje e não é sim-
ples: estrutura, pessoa? Quem modifica o outro? Ambas são muito rela-
cionadas e se influem mutuamente. Recusando os determinismos sociais, 
Rogers parece voltar ao conceito de natureza que Rousseau defendeu. 
J. pessoa em Rogers 59 
A psicologia incondicionalmente pOSItIVa de Rogers desestrutura a 
verticalidade das relações autoritárias inscritas nas tradições, nas leis e 
nos rituais; o ponto de referência está no ser e não no exterior. Levando 
este pensamento até o fim, chegamos ao ponto em que a pessoa se cons· 
trói não somente fora de qualquer diretivismo, mas também fora de qual-
quer diretiva. Para ser ele mesmo, o indivíduo deve desestruturar-se, por-
que o ambiente gravou nele uma série de critérios externos e, depois, pode 
encontrar o campo livre para uma reconstrução eminentemente pessoal. 
As conseqüências desta atitude vão longe e podem, afinal, deixar a pessoa 
perdida. A ausência de rumo traçado tem implicações que são capazes 
de se vingar, voltando-se contra o sujeito. Elas terão o nome de ilusão, 
ruptura entre o homem e a sociedade, dominância dos fortes sobre os fra-
cos. Rogers responde que o ser individual se confunde com o ser social. 
Será que isso é o verdadeiro significado da vida? É possível concor-
dar. Será que isso está ao alcance de muitos? É bem difícil concordar. Às 
vezes Rogers dá a impressão de imaginar a pessoa em função de uma certa 
elite. Que o homem se torne o que ele é, que possamos acreditar na so-
berania de uma pessoa, qualquer que seja sua mente e seus sentimentos, 
é o problema crucial. Sabendo-se o que significa um erro genético na 
constituição de um organismo, sabendo que nenhum organismo está em 
pleno funcionamento, voltamos a interrogar-nos a respeito do homem ro-
geriano. Será o homem privilegiado nos seus cromossomos? Será o homem 
privilegiado no seu ambiente social? Será o homem que deveria ser se 
tirassem todos os se da existência? A valorização incondicional chega às 
vezes ao angelismo. 
Rogers sabe de tudo isso e quer manter sua confiança na pessoa. É 
o grito com que nos enriquece. Não há, para ele, a situação acabada; 
toda pessoa tem um dever; qualquer passo abre para um futuro, por 
princípio o homem é limitado; a pessoa não é o que a sociedade pensa; 
não é a essência descrita por Platão. É muito mais do que tudo isso. Dar 
chance para que o homem possa ser, é valorizar cada indivíduo. Rogers 
não se situa no pensamento dos que analisam a pessoa e sim dos que vi-
vem o drama da vida e procuram situar cada momento dentro dorumo 
significante da existência. São muitas as doutrinas que tentaram encontrar 
assim o homem na situação existencial e, ao terminar, queremos situar a 
noção rogeriana de pessoa, em paralelo com outras doutrinas que dela se 
aproximam. 
Um autor, sem muitas nuances, situou Rogers como uma mistura de 
"cristianismo e de anarquia". Os termos são injustos no seu aspecto drás-
tico, mas representam alguma idéia que talvez mereça ser aprofundada. 
Com efeito, o Cristianismo sempre situou a realização pessoal, o núcleo 
fundamental dos atos e a raiz do espírito, no íntimo da pessoa, no face 
a face com sua consciência que é, acima de qualquer lei e mesmo de 
qualquer revelação, o caminho que se deve seguir. O Evangelho situa a 
liberdade na capacidade de ser e não de parecer. Até aqui vemos que 
Rogers se encaixa muito bem no Cristianismo. A diferença aparece quan-
do se tenta definir as origens de núcleo. Rogers apela simplesmente para 
a natureza; o Cristianismo chega à valorização total de pessoa porque, 
60 .A.B.P.A. 1174 
.. 
.. 
antes, sabe que ela é imagem de Deus. Rogers, além disso, se distancia 
do Cristianismo, da Redenção, que admite existirem, dentro e fora de 
cada indivíduo, as forças do mal que devem ser vencidas pelas forças do 
bem. Na linha religiosa devemos também mencionar a relação entre Ro-
gers e o Budismo na sua preocupação de libertar o homem por dentro e 
permitir um autocrescimento até chegar ao nirvana que é situação de li-
berdade pessoal (nir = sem; vana = grilhões). Outros paralelos pode-
riam ser feitos principalmente com os existencialistas e entre eles S. Kier-
kegaard que marcou a evolução de Rogers. Mas isso exigiria outro estudo 
e vamos. simplesmente dizer que paralelos não significariam filiações. 
Rogers quer distanciar-se das escolas filosóficas ou científicas. Quer sim-
plesmente se juntar às aspirações do nosso tempo que, além das expli-
cações, buscam a pessoa na sua totalidade. 
3. Conclusão 
Rogers não está sozinho nesta busca que anima os espíritos contemporâ-
neos denunciando os riscos de uma tecnologia que faz do homem um ob-
jeto anônimo. Parece que, para todos, o grande problema situa-se na 
união entre verdade e amor. 
Verdade científica ou verdade filosófica, sempre o homem tentou ex-
plicar, demonstrar, estabelecer leis universais e definir teorias. E a defesa 
da verdade sempre levou os homens a sacrificar tudo até a própria vida. 
Dogmas das Igrejas ou experiências dos cientistas, sempre se escrevia a 
verdade em termos absolutos. 
Hoje, assistimos ao relativismo dogmático, à primazia da existência 
sobre a essência e sábio tornou-se pesquisador. Parece que o amor quis 
passar acima da verdade; o desejo de saber mais passou a ser a preocupa-
ção de saber melhor. É a grande mudança do nosso tempo. 
Rogers escolhe o amor, não como oposição à verdade mas como o 
essencial primeiro. Verdade ou amor? Escolhendo um sem o outro, cor-
remos o risco de perder tudo: a verdade exasperada é dominância anônima 
e intolerância, o amor sem rumos pode conduzir a um indiferente subje-
tivismo. Talvez o grande trabalho dos que estudam Rogers seja a crítica 
científica ao seu subjetivismo, a reconcialiação entre amor e verdade. Mas 
seria provavelmente, ao mesmo tempo, a negação de Rogers: um amor 
passando pelo crivo da análise torna-se objeto e não é mais amor. Prefe-
rimos lembrar, ao terminar, a frase de Agostinho de Hipona, que Rogers 
não rejeitaria: 
"Que o amor pela verdade jamais me faça esquecer a verdade do 
amor." 
A pessoa em Rogers 61

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