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EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA E NEUROPSICOPEDAGOGIA JOVANILDA IVÂNIA DARÓZ DE OLIVEIRA AUTISMO E INCLUSÃO ESCOLAR: O APRENDIZADO E OS DESAFIOS DA CRIANÇA AUTISTA. VENDA NOVA DO IMIGRANTE – ES ANO 2020 JOVANILDA IVÂNIA DARÓZ DE OLIVEIRA Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). AUTISMO E INCLUSÃO ESCOLAR: O APRENDIZADO E OS DESAFIOS DA CRIANÇA AUTISTA. VENDA NOVA DO MIGRANTE 2020 Artigo de conclusão de curso (TCC) apresentado ao Curso de Pós-Graduação da FAVENI. SUMÁRIO Resumo .....................................................................................................................1 1. Introdução .............................................................................................................2 2. Desenvolvimento...................................................................................................3 2.1 Aspectos históricos.............................................................................................3 2.2 Conceito do Espectro Autista ............................................................................8 2.3 Docência e Inclusão ..........................................................................................11 3. Considerações Finais – Conclusão ...................................................................13 4. Referências Bibliográficas..................................................................................14 1 RESUMO A presente pesquisa tem como tema “O autismo e a inclusão escolar: o aprendizado e os desafios da criança autista”. O principal objetivo, é analisar as mudanças promovidas pelas políticas de inclusão, em relação a permanência e o acesso da criança com autismo na educação regular. É um artigo bibliográfico sobre a criança autista e seus primeiros momentos na escolarização, objetiva refletir sobre os principais aspectos desta inserção inicial. Estes momentos são intercalados por expectativas quanto ao desenvolvimento e aprendizagem das crianças, principalmente no que se refere ao desenvolvimento social. Por apresentarem dificuldades que afetam diversas capacidades como as comunicativas, interações cognitivas e comportamentais das crianças autistas, as experiências de profissionais comprometidos e capacitados têm mostrado que, o processo de ensino poderá levar tempo. Contudo, os resultados e contribuições para a escolarização dessas crianças poderão se tornar efetivos, o que deve ser trabalhado desde os primeiros momentos. A sensibilização e comprometimento dos pais e capacitação dos educadores nesta perspectiva têm como objetivo refletir sobre o autismo e direcionar o aprendizado às possibilidades de lidar com uma criança autista. Palavras-chave: Autismo. Inclusão Escolar. Aprendizagem. 2 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa parte de reflexões sobre o grande desafio que é a inclusão educativa das crianças autistas, enfatizando a importância de uma adaptação inicial satisfatória como alicerce para este processo. O objetivo deste artigo é refletir sobre os primeiros momentos de escolarização da criança autista, demonstrando os aspectos pedagógicos, afetivos e sociais que permeiam a sua inserção inicial no ambiente escolar. Estes aspectos precisam ser conhecidos e dialogados entre familiares e educadores na busca da superação dos desafios iniciais implicados. Objetivou-se analisar a realidade escolar no processo inclusivo no contexto do autismo, identificando-se as principais dificuldades apresentadas para a inclusão dos autistas na escola de ensino regular, onde se considerou a importância da união entre família e escola como fator necessário para a inclusão dos alunos autistas. Foi utilizado como metodologia, quanto aos meios o estudo bibliográfico, realizando um levantamento de fontes pré-existentes na literatura especializada sobre o autismo. A fundamentação teórica da pesquisa inicia-se com a apresentação de histórico de alguns conceitos sobre autismo, dando ênfase entre os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), às características do Autismo e do Espectro Autista e aos aspectos legais que garantem os direitos do autista no Brasil, a fim de fundamentar a discussão, situando os leitores na especificidade e contexto da temática. O referencial teórico será finalizado com as reflexões sobre os primeiros momentos de escolarização da criança autista, núcleo da problemática anunciada. Sobre entender o que é autismo, SILVA no seu trabalho “Mundo Singular” diz que: “Entender e dominar o mundo singular dos indivíduos com autismo é ter a oportunidade de participar de um milagre diário: a redescoberta do que há de mais humano em nós e neles.” (SILVA, 2012, p.19). Ainda na mesma linha de trabalho, Belisário Filho discorre que: “o Espectro Autista é um contínuo, não uma categoria única, e apresenta-se em diferentes graus. Há, nesse contínuo, os Transtornos Globais do Desenvolvimento e outros que não podem ser considerados como Autismo, ou outro TGD, mas que apresentam características no 3 desenvolvimento correspondentes a traços presentes no autismo. São as crianças com Espectro Autista.” (BELISÁRIO FILHO, 2010, p. 17). A imagem clássica do autismo é que a criança não se relaciona, não se comunica e seus comportamentos são inadequados socialmente. Algumas realmente não o podem. Há sem dúvidas, muito do que se desvendar e conhecer sobre o comportamento autista, muitas dificuldades são encontradas por familiares e educadores, mas, a maior delas ainda é o preconceito. Precisamos pensar numa escola “tradicional” com uma proposta não fingida de uma escola inclusiva, onde os alunos possam exercer o direito de estarem incluídos e que esta escola seja para todos; justa, democrática, solidária, afetiva e receptiva às diferenças. Para que seja garantido assim o que dispõem a LDB nº 9.394/96, onde a Educação Especial veio a ter mais expressão. Esta reflexão nos esclarece, que muitas crianças com Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD), podem aprender a ler e escrever, variando o tempo necessário e o processo de ensino, necessitando o desenvolvimento de metodologias adequadas para a especificidade de cada criança. Portanto, podemos enxergar a criança autista como qualquer ser humano que com suas peculiaridades é capaz de aprender e desenvolver habilidades. Para isto, precisamos nos abrir para entendermos o seu mundo particular e buscarmos aprender delas para elas, dando-lhes assim significados e estímulos, condição fundamental para que se sintam amadas e valorizadas como qualquer criança merece ser. Para tanto, torna-se necessário criar estratégias para uma inclusão efetiva no que se refere ao desenvolvimento e aprendizagem dessas crianças, o quese dá desde os primeiros momentos de escolarização. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Aspectos históricos O referencial histórico do Autismo apresenta grandes evoluções desde seu conceito até as diversas formas que o mesmo pode manifestar-se em diferentes 4 indivíduos, chegando até mesmo ser confundido com outros transtornos. De acordo com Gómez e Terán (2014, p. 447) a respeito do termo Autismo, asseguram que, O termo “Autismo” foi nomeado pelo psiquiatra Leo Kanner tendo como base a terminologia originalmente concebida por seu colega suíço Eugene Bleuler em 1911. Bleuler utilizou o termo “autismo” para descrever o afastamento do mundo exterior observado em adultos com esquizofrenia, que tendem a mergulhar em suas próprias fantasias e pensamentos. A partir do envolvimento com a pesquisa da terminologia sobre autismo em que Kanner nomeou, é que os estudos foram avançando por parte de outros pesquisadores e teóricos, interessados em buscar mais informações sobre suas causas e tratamentos, dentre muitos outros pontos que movem suas indagações. Atualmente, o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos mentais (DSM-V), publicado pela American Psychiatric Association (APA) que traz como nomenclatura Transtornos do Espectro Autista (TEA), apresenta como critérios diagnósticos as seguintes características: “[...] prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades [...]”, sendo aspectos presentes desde a fase inicial de desenvolvimento, prejudicando também a funcionalidade na realização de tarefas do cotidiano e participação em diferentes contextos (APA, 2014). O manual traz que a utilização da palavra espectro se deve ao fato de que há diversificações na manifestação do transtorno, as quais dependem da gravidade, nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo. Além disso, há classificações relacionadas ao nível de gravidade, assim, encontra-se especificados três níveis que se diferem de acordo com o apoio que a criança necessita e é considerado o contexto em que ela está inserida. O autismo engloba diferentes condições marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico e tendo como fonte os teóricos (CUNHA, 2011, p. 20,22) e (SILVA, 2012, p. 159 – 162), (GOMEZ; TERÁN, 2014, p.447) elaborou-se a síntese com os seguintes aspectos históricos: 1911 - o psiquiatra Eugene Bleuler, foi a primeira pessoa a usar o termo autismo, para descrever a fuga da realidade e o retraimento interior dos pacientes acometidos de esquizofrenia. 5 1943 - o psiquiatra Leo Kanner, publicou um estudo no qual observou 11 crianças que apresentavam isolamento desde o início da vida, apego às rotinas, preferência por objetos inanimados em detrimento das pessoas, ecolalia imediata e tardia, e inversão pronominal. 1944 – o pediatra e pesquisador Hans Asperger, em sua tese de doutorado, com o tema: “A psicopatia autista da infância”, observou mais de 400 crianças onde avaliou seus padrões de comportamento e habilidades. Descreveu um transtorno da personalidade que mostrava, falta de apatia, baixa capacidade de fazer amizades, monólogo, um foco diferenciado para assuntos específicos, dificuldade motora. Posteriormente, teve sua denominação para Síndrome de Asperger. 1949 – O psiquiatra Leo Kanner, verificou um subtipo de autismo, o “Autismo secundário”, que segundo ele aparece no segundo ano de vida. “Nestes casos, as crianças parecem desenvolver-se normalmente durante 18 a 20 meses, mas logo se retraem, perdem a linguagem, interrompem seu desenvolvimento social e reduzem as atividades normais” (GÓMEZ; TERÁN, 2014, p.447). Ainda em 1949, o Dr. Hans Asperger, cientista austríaco, fez uso do termo “psicose autista”, referindo-se assim, às crianças com comportamentos similares ao autismo. Possivelmente, ambos os cientistas estiveram diante de grupos semelhantes, mas devido às diferentes interpretações, foram formuladas as chamadas “síndrome de Asperger” e “autismo de Kanner”, para se referir a autismos de alto e baixo nível de funcionamento, respectivamente (GÓMEZ; TERÁN, 2014, p.448). Em 1968, Kanner acrescentou às suas contribuições a necessidade do diagnóstico diferente com deficientes mentais e afásicos, fazendo uma revisão dos primeiros casos estudados por ele, propondo que novas possibilidades fossem estudadas. A origem de uma investigação e intervenção mais controlada e sistematizada deu-se com o surgimento das teorias cognitivas na década de 70 e a alteração comportamental (GÓMEZ; TERÁN, 2014). O Dia Mundial de Conscientização do Autismo foi criado dois de abril de 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o objetivo da data é garantir a https://brasilescola.uol.com.br/geografia/onu.htm 6 conscientização a respeito do Transtorno do Espectro Autista e desse modo, reduzir cada vez mais o preconceito existente contra esse público. No DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos mentais) é possível verificar em seu prefácio a explanação de algumas questões em relação à sua nova estrutura, a qual inclui a modificação da denominação do autismo e a fusão de outros transtornos (APA, 2014). Sendo assim, observa-se a junção de Transtorno Autista, Transtorno de Asperger e Transtorno Global do Desenvolvimento que se unificam em Transtorno do Espectro Autista (TEA), tal mudança é explicada da seguinte forma: As manifestações desses transtornos representam uma série de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos. Essa mudança foi implementada para melhorar a sensibilidade e a particularidade dos critérios para o diagnóstico de transtorno do espectro autista e para identificar alvos mais focados de tratamento para os prejuízos específicos observados. (APA, 2014, p. 42). Comprovando com Mora (2002 apud GOMÉZ; TERÁN 2014, p. 468) "Atualmente o autismo é concebido como uma síndrome de múltiplas causas, onde estariam inter-relacionados o biológico e o anímico, a genética orgânica e a genética vincular durante todo o processo de constituição do ser". Com o lançamento da 5ª edição do DSM, os subtipos dos transtornos do espectro do autismo são eliminados. Os indivíduos são agora diagnosticados em um único espectro com diferentes níveis de gravidade. O DSM-V passa a abrigar todas as subcategorias da condição em um único diagnóstico guarda-chuva denominado Transtorno do Espectro Autista – TEA. A Síndrome de Asperger não é mais considerada uma condição separada e o diagnóstico para autismo passam a ser definidos em duas categorias: alteração da comunicação social e pela presença de comportamentos repetitivos e estereotipados (AUTISMO E REALIDADE, 2013). Nota-se, pois, que a historicidade do autismo é longa, diante de toda a literatura abordada e pesquisada é possível verificar que desde a definição do que é 7 considerado autismo, vários teóricos contribuíram para que fosse possível construir uma linha sobre a evolução do assunto estudado. Apesar de muitas pesquisas, ainda há grandes lacunas no que diz respeito à questão de compreensão do autismo e suas causas, visto que, há grandes desafios para sua intervenção em todas as áreas. O autismo tem sido tema de grande repercussão no Brasil e em vários países onde, acredita-se que seja uma “epidemia” de tão alarmantes que são os números de casos de autismo infantil. As discussões estão entre os profissionais da educação, saúde, nas famílias e leigos. O tema hoje tem um caráter de políticas públicas. No Brasil foi sancionada pela Presidenta da República, Dilma Rousseff a Lei Nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que faz valer os direitos da pessoa comTranstorno do Espectro Autista. Enquadram-se nesta lei as pessoas portadoras de síndrome clínica caracterizada como: I - deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; II - padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos. Considerando que a lei traz uma definição clara e precisa da síndrome clínica que caracteriza o espectro autista em termos abrangentes, respeitando as formas singulares de manifestação do transtorno. Quanto aos direitos, destacamos alguns pontos que fundamentam a lei: Art. 4º A pessoa com transtorno do espectro autista não será submetida a tratamento desumano ou degradante, não será privada de sua liberdade ou do convívio familiar nem sofrerá discriminação por motivo da deficiência. Art. 5º A pessoa com transtorno do espectro autista não será impedida de participar de planos privados de assistência à saúde em razão 8 de sua condição de pessoa com deficiência, conforme dispõe o art. 14 da Lei no 9.656, de 3 de junho de 1998. Observa- se que estes direitos garantem a inclusão educativa e social, onde as pessoas portadoras do espectro autista devem ser integradas à vida escolar, familiar, institucional e social, livres de discriminações e preconceitos. A lei organiza- se a partir das seguintes diretrizes de efetivação desses direitos. O presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos a Lei 13.977, de 2020, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA). A norma foi batizada de Lei Romeo Mion, filho do apresentador de televisão Marcos Mion e tem transtorno do espectro autista. A sanção foi publicada na data 09/01/2020 no Diário Oficial da União (DOU). O texto altera a Lei Berenice Piana (12.764, 2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA). De acordo com a nova lei, a (CIPTEA) deve assegurar aos portadores atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. Compete aos educadores e familiares conhecer estes direitos e lutar pela sua efetivação já que a lei é um passo importante na garantia desses, porém a concretização necessita da participação ativa de toda a sociedade. 2.2 Conceito do Espectro Autista O autismo e a síndrome de Asperger são os mais conhecidos entre os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID), condições que reúne desordens pelo início precoce de atrasos e desvios no desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e alterações comportamentais. O autismo também conhecido como transtorno artístico, autismo da infância, autismo infantil e autismo infantil precoce, é o TID mais conhecido. Pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou interação social (como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13977.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm 9 como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, caracterizando assim o isolamento social do sujeito. No seu trabalho “Autismo e Inclusão: psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família”, Cunha descreve: Aparecendo nos primeiros anos de vida, proveniente de causas genéticas ou por uma síndrome ocorrida durante o período do desenvolvimento da criança, o autismo possui no seu espectro as incertezas que dificultam, na maioria dos casos, um diagnóstico precoce. Ele tem demandado estudos e indagações, permanecendo ainda desconhecido de grande parte dos educadores. Não há padrão fixo para a forma como ele se manifesta, e os sintomas variam muito. (CUNHA, 2011, p. 19-20) A síndrome do autismo pode ser encontrada em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar nenhuma causa psicológica, ou no meio ambiente destas pessoas que possa causar o transtorno. Os sintomas, causados por disfunções físicas do cérebro, podem ser verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o indivíduo, estas características são: Distúrbios no ritmo de habilidades físicas, sociais e linguísticas; Reações anormais às sensações, alterações na visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo; Fala ou linguagem ausente ou atrasada e certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. As definições utilizada pela APA (2013) apud Zanon et al (2014) vão de encontro com as concepções já mencionadas. [...] as manifestações comportamentais que definem o TEA incluem comprometimentos qualitativos no desenvolvimento sociocomunicativo, bem como a presença de comportamentos estereotipados e de um repertório restrito de interesses e atividades (SCHMIDT, 2013, p. 13). Sendo que os sintomas nessas áreas, quando tomados conjuntamente, devem limitar ou dificultar o funcionamento diário do indivíduo, essas dimensões são inseparáveis. (APA, 2013 apud ZANON et al, 2014, p.25). Comumente, o autismo é diagnosticado por médico neuropediatra, por psicólogo ou por psiquiatra especializado em autismo (os critérios de diagnósticos utilizados são avaliações completas com base na DSM.IV ou, no Brasil, o CID, porém ao receber um paciente ainda sem diagnóstico no consultório psicopedagógico, o 10 profissional precisa ter conhecimento suficiente para reconhecer o transtorno e fazer a intervenção e o encaminhamento correto. As causas do autismo ainda são desconhecidas, mas as pesquisas na área são cada vez mais intensas. Possivelmente, há uma combinação de fatores que levam ao autismo. Sabe-se que a genética e agentes externos desempenham um papel chave nas causas do transtorno. De acordo com a Associação Médica Americana, as chances de uma criança desenvolver autismo por causa da herança genética são de 50%, sendo que a outra metade dos casos pode corresponder a fatores exógenos, como o ambiente de criação. De qualquer maneira, muitos genes parecem estar envolvidos nas causas do autismo. Alguns tornam as crianças mais suscetíveis ao transtorno, outros afetam o desenvolvimento do cérebro e a comunicação entre os neurônios. Outros, ainda, determinam a gravidade dos sintomas. Quanto aos fatores externos que possam contribuir para o surgimento do transtorno estão; a poluição do ar, complicações durante a gravidez, infecções causadas por vírus, alterações no trato digestório, contaminação por mercúrio e sensibilidade a vacinas. O termo autismo origina-se do grego autós, que significa “de si mesmo”. [...] O autismo compreende a observação de um conjunto de comportamentos agrupados em uma tríade principal: comprometimentos na comunicação, dificuldades na interação social e atividades restrito repetitivas. O DSM-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), publicado pela American Psychiatric Association, e o CID 10 (Classificação Internacional de Doenças), da Organização Mundial de Saúde (OMS), são consoantes ao descreverem o autismo. (CUNHA, 2011, p. 20) Na obra, “Mundo Singular: entenda o autismo”, Silva traz uma forma de se entender o espectro autista; as variações que vão de traçosleves, que na maioria das vezes impede que profissionais especialistas fechem o diagnóstico, até quadros de grande complexidade e de sintomas também variados. A autora se expressa assim: Quando jogamos uma pedrinha em um lago de água parada, ela gera várias pequenas ondas que formam camadas, mais próximas e mais distantes do ponto no qual a pedra caiu. O espectro autista é assim, possui várias camadas, mais ou menos próximas do autismo clássico (grave), que poderia ser considerado o centro 11 das ondas, o ponto onde a pedra atingiu a água. Esse espectro pode se manifestar nas pessoas de diversas formas, mas elas terão alguns traços similares, afinal todas as ondulações derivam do mesmo ponto. (SILVA, 2012, p. 63) O DSM IV (1994), descreve como características de pessoas com autismo a presença de um desenvolvimento muito prejudicado na interação social e comunicação, além de interesses muito restritos. Podem ignorar outras crianças, não fazem contato visual, expressão facial. Aqueles que chegam a falar podem ocorrer prejuízo na capacidade de iniciar ou manter um diálogo, com uso repetitivo e estereotipado da linguagem. O diagnóstico acontece na maioria das vezes por volta da idade dos três anos, baseado em critérios comportamentais. 2.3 DOCÊNCIA E INCLUSÃO Quando a criança com autismo chega a escola regular gera grande preocupação tanto por parte da família quanto da escola. Nesse momento a família e os profissionais da educação se questionam sobre a inclusão dessas crianças, pois a escola necessita de adequações. Para as autoras, Brande e Zanfelice (2012, p. 44), receber alunos com deficiência, mais especificamente com transtornos invasivos do desenvolvimento, é um desafio que as escolas enfrentam diariamente, pois pressupõe utilizar de adequações ambientais, curriculares e metodológicas. Para que haja inclusão escolar, é necessário comprometimento por parte de todos os envolvidos, ou seja, alunos, professores, pais, comunidade, diretor, enfim, todos que participem da vida escolar direta ou indiretamente. Quando discutimos sobre a inclusão, recaímos sobre o papel do professor frente a esse processo, tendo em vista que ele estabelece um contato contínuo e duradouro com a criança. Com as mudanças sociais que vêm ocorrendo na sociedade, novas atribuições recaem sob a responsabilidade do professor, e este tem que estar preparado para lidar com as situações mais desafiadoras no dia a dia, incluindo a educação de crianças com autismo. A inclusão está diretamente relacionada com o processo de ensino- aprendizagem, não basta só incluir, a escola deve ofertar um ensino de qualidade e para isso o professor deve desenvolver metodologias diversificadas e flexíveis. Para 12 que se possa obter uma resposta positiva ao seu trabalho, essa desenvoltura terá que existir independente da heterogeneidade encontrada em sala de aula. Lopez (2011) atribui o papel do professor como o mediador, ela o define como aquele que no processo de aprendizagem favorece a interpretação do estímulo ambiental, chamando a atenção para seus aspectos cruciais, atribuindo significado à informação concebida, possibilitando que a mesma aprendizagem de regras e princípios sejam aplicados às novas aprendizagens, tornando o estímulo ambiental relevante e significativo, favorecendo desenvolvimento. Com relação a sua participação na inclusão da criança com autismo em escolas de ensino regular, o professor tem um papel determinante, pois é ele quem recepciona e estabelece o primeiro contato com a criança, seja positivo ou negativo, dessa forma ele é um grande responsável por efetivar ou não o processo de inclusão, considerando que é seu dever criar possibilidades de desenvolvimento para todos, adequando sua metodologia as necessidades diversificadas de cada aluno. O papel do professor deve desenvolver na criança a autoconfiança e a independência, pois são características ausentes em sua personalidade. Para o professor também recai a responsabilidade de desenvolver atividades de acordo com o grau de conhecimento da criança, para que ela possa desempenhar as atividades de forma correta, possibilitando o surgimento de novas aprendizagens e o avanço no desenvolvimento de atividades escolares. Uma elaboração por parte da família e uma agenda escolar clara e objetiva, dará a esses pequeninos mais segurança. A criança pode até não entender instantaneamente, mas a rotina e toda a vivência escolar irão proporcionar sua socialização. Se na vida da criança típica a rotina familiar e escolar precisam ser trabalhadas conjuntamente; com a criança autista isto deve ser tão ou mais importante. Explica Cunha: A escola está inserida na educação entre a família e a sociedade, onde se adquire princípios e regras estabelecidas para o convívio. Ainda que seja normal existir em qualquer aluno posturas comportamentais diferentes em casa e na escola, no autismo, isto poderá trazer grande prejuízo. Por isso, é necessário que os pais e os profissionais da escola trabalhem da mesma forma, estabelecendo princípios que permitirão uma articulação harmoniosa na educação. (CUNHA, 2012, p. 93) 13 A criança da escola regular aprende facilmente, tudo favorece para o seu desenvolvimento e aprendizado. Para a criança autista, os estímulos precisam ser ainda mais constantes. Suas habilidades precisam saltar de dentro para fora; dos esconderijos, da alma. Precisa transpor as barreiras do isolamento para se descobrir e enxergar o mundo que o cerca. A criança autista precisa ser trabalhada em várias áreas, por isto, cabe ao professor, observar igualmente, várias propostas pedagógicas. E ainda, reflete Cunha a esse respeito: Quem avalia um educando com autismo deve, desde o contato inicial, na sua chegada à escola transmitir-lhe a segurança de que ele estará conquistando um novo ambiente e que será bem recebido. Um ambiente para estímulos afetivos, sensoriais e cognitivos. Ainda que o espectro artístico demande cuidados por toda a vida, o derrotismo é o maior obstáculo para a aprendizagem. É fundamental, por conseguinte, que a concepção na educação seja centrada prioritariamente no ser humano e não na patologia. (CUNHA, 2012, p. 52-53) 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS – CONCLUSÃO A pesquisa mostra que entender o Autismo vai além do que uma preocupação com suas definições e formas variadas de se manifestar, de propostas pedagógicas e processos de ensino aprendizagem, de inclusão por “inclusão”. Faz-se necessário destacar o preconceito de que o autista não é capaz de aprender, mesmo diante de suas limitações. Sobre esse aspecto: “O ensino e a aprendizagem escolar são dois movimentos que se ligam na construção do conhecimento. É uma construção dialógica e não imperativa; expressão imanente da nossa humanidade, que abarca também o aprendiz autista.” (CUNHA, 2013, p. 15) Portanto, podemos enxergar a criança autista como qualquer ser humano que com suas peculiaridades é capaz de aprender e desenvolver habilidades. Para isto, precisamos nos abrir para entendermos o seu mundo particular e buscarmos aprender delas para elas, dando-lhes assim significados e estímulos, condição fundamental para que se sintam amadas e valorizadas como qualquer criança merece ser. 14 A inclusão não é apenas colocar o aluno dentro da sala de aula, mas incluí- lo em todas as atividades, propondo condições para que eles possam interagir, construindo novos conhecimentos de maneira própria e no seu tempo. A aprendizagem deve ser acompanhada pelo professor, bem como pela família, portanto ambos se relacionam e enriquecem os conhecimentos adquiridos pelo aluno. Conclui-se que o educador deve estar em busca de novos conhecimentos, para enriquecer o desenvolvimento do aluno e o seu próprio. Para que a inclusão apresente o verdadeiro sentido, o professordeve transmitir conhecimento, aceitar e adaptar-se à realidade com o desenvolvimento do aluno sempre no foco do seu potencial e habilidades preservadas. As reflexões nos incitam a repensar o papel dos educadores e da sociedade sobre a responsabilidade e compromisso social com a educação inclusiva das crianças autistas. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUTISMO E REALIDADE. Disponível em: Acesso em: 07 jun. 2020 BELISÁRIO FILHO, J.F; CUNHA, P. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010. V.9 (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar). BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: Acesso em: 05 jun. 2020 BRASIL. Lei nº 12.764. Institui na Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Presidência da República. Casa civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil. 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