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Priscila Behrens 2021.1 FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS - PEDIATRIA Definição: Ocorrência de febre com menos de sete dias de duração em uma criança, em que após história clínica e exame físico detalhados, não tem a sua causa estabelecida. Febre: >38ºC com aferição na região axilar; +/- 2 a 3ºC a mais na região retal. ①Febre Prolongada de Origem Obscura X ② Febre sem Sinais Localizatórios ①Caracterizada por febre de existência indiscutível com duração mínima de três semanas, com um quadro clínico inconcluso e que permanece sem diagnóstico após a realização de exames e procedimentos indicados inicialmente para aquele caso particular. ②Caracterizada por febre de duração até sete dias e não possui achados na anamnese e no exame físico que possa sugerir um diagnóstico. Epidemiologia: • 25% de todas as consultas na emergência de pediatria; • Cerca de 20% dos casos que chegam à emergência, a identificação do foco não é possível; • Geralmente trata-se de uma doença infecciosa benigna (caracteriza-se quando complicações/morbimortalidade são habitualmente inexistentes) • 90% das infecções em crianças serão de origem viral; • Pode desenvolver uma infecção bacteriana grave (IBG), e o atraso no diagnóstico pode levar a uma morbimortalidade elevada. o Exemplos: ▪ Infecção do trato urinário ▪ Pneumonia ▪ Meningite ▪ Artrite séptica ▪ Osteomielite ▪ Celulite Priscila Behrens 2021.1 Quando levar seu filho: Algumas literaturas indicam 72 horas de febre sem sinais de melhora mesmo com o uso de antitérmicos, porém para crianças não deve esperar tanto pois as complicações de infecções bacterianas graves se alastram rapidamente. Não necessita levar a uma unidade de emergência se conseguir consulta com o pediatra, mas deve levar o quanto antes. Critério de Avaliação: Baraff: Criou um protocolo e dividiu em grupos de risco (alto ou baixo) e definiu que crianças de 0 à 3 anos são as que possuem maior chance de evoluir com complicações em caso de doença bacteriana grave. Para esse grupo ele subdividiu em três faixas etárias: • Recém-nascidos (RN) - <30 dias de vida • Lactentes jovens – 30 a 90 dias de vida • Crianças – 3 a 36 meses de vida Rochester: Criou critérios para definição de risco para presença de doença bacteriana grave apenas para lactentes até 3 meses. O lactente é considerado de baixo risco se preencher todos os critérios, se não preencher mesmo que seja um critério, já é considerado de alto risco. • Critérios: o Clínicos (anamnese e exame físico): ▪ Previamente saudável; ▪ Nascido a termo e sem complicações durante hospitalização no berçário; ▪ Sem aparência tóxica e sem evidência de infecção bacteriano ao exame físico (eupneico, sem taquicardia); ▪ Sem doença crônica. o Laboratoriais*: ▪ Contagem de leucócitos entre 5 e 15.000/mm³; ▪ Contagem absoluta de bastonetes < 1.500/mm³; ▪ Microscopia de sedimento urinário com contagem ≤ 10 leucócitos/campo; ▪ Microscopia de fezes com contagem ≤ 5 leucócitos/campo nas crianças com diarreia. Priscila Behrens 2021.1 Bacteremia Oculta: • Hemocultura positiva em uma criança que está com FSSL, clinicamente bem e sem infecção localizada – não define a localização da bactéria, mas indica que existe bactéria; • Diretamente relacionada a vacinação – Hib e pneumococo (só considera a criança efetivamente imunizada se tiver tomado as três doses, mas se tiver tomado pelo menos 2 doses, já tem uma certa proteção de Hib e pneumococo); • Se a criança tiver com pelo menos 2 doses da vacinação, a incidência é de menos de 1% nas crianças com FSSL (mais comuns E.coli e S.aureus). • Pneumonia: • Dos casos de pneumonia adquirida na comunidade, 3% das crianças não terão taquipneia e/ou sinal e sintoma respiratório, apenas a febre. Esse quadro é chamado de pneumonia oculta; • Os agentes para bacteremia oculta e para pneumonia são os mesmos, então a incidência dessa doença também está relacionada com a taxa de vacinação. Priscila Behrens 2021.1 Infecção do Trato Urinário: • É a principal causa de FSSL; • Frequente em 3 a 4% dos meninos menores de 1 ano da idade que chegam à emergência para atendimento; • Frequente entre 8 a 9% das meninas menores de 2 anos de idade que chegam à emergência para atendimento; • O uso de fraldas é o que favorece a ocorrência das ITUs nessa faixa etária; • Como ainda são bebês e não falam o que estão sentindo. Mas pode-se perceber sinais como choro quando a criança urina. • Os meninos que por razão religiosa fazem a circuncisão se tornam menos suscetíveis a ITUs e esse ato age como fator de proteção. Meningite: • Casos em crianças são mais frequentes pelo agente meningococo do que pelo pneumococo. Importante: Existe vacina para os dois agentes (1ª dose com 3 meses e 2ª dose com 5 meses). • **SUS para bebês, só disponibiliza contra meningite C. Para os adolescentes, disponibiliza contra ACWY. Porque o tipo C é o que mais acomete os pequenos e o tipo Y acomete mais os adolescentes. • Cerca de 25 a 50% que estão com meningite e chegam na emergência, acabam sendo avaliadas e liberadas, retornando posteriormente com o quadro agravado. Avaliação: • Clínica (a criança sem febre): o Estado geral; o Aumento da frequência cardíaca; o Aumento da frequência respiratória; o Avaliar perfusão; o Perguntar para mãe a temperatura mais alta que a criança teve; o Idade. • Laboratorial: o Leucograma (para ajudar a definir o risco); o Exame de urina; o Raio X de tórax. **Procurar sinais de toxemia **Dependendo da avaliação clínica e da idade, pede os exames laboratoriais ou não. Priscila Behrens 2021.1 ❖ Contagem de leucócitos: o < 10.000/mm³ baixo risco (0,3%) de o paciente ter bacteremia; o > 20.000/mm³ alto risco (8,2%) de o paciente ter bacteremia; o Formas jovens > 1.500/mm³ - médio risco (5,2%) de o paciente ter bacteremia; o No lactente menor de 3 meses de idade o número total de leucócitos: < 5.000/mm³ é considerado fator de risco. ❖ Provas de fase aguda: o Proteína C reativa: ▪ Limitação: Se a febre iniciou no mesmo dia em que é feito, não consegue coletar as informações verdadeiras pois ela não se eleva antes de 12 horas. ▪ Por mais de 12h: • PCR ≥80mg/L – positivo para infecção bacteriana • PCR <20mg/L – negativo, exclusão. o Procalcitonina: ▪ Limitação: Ainda não está disponível nas unidades públicas e particulares ▪ Vantagem: o nível no sangue eleva-se mais rapidamente do que a PCR. • ≥ 2NG/mL – positivo para infecção bacteriana • < 0,5ng/mL – negativo, exclusão ❖ Exame de Urina: o Padrão-ouro: Urocultura ▪ Limitação: O resultado demora de 3 a 5 dias para sair. o Utiliza o sumário de urina para sugerir ou não ITU, mas só fecha diagnóstico quando sair o resultado da urocultura. ▪ Testes que não são determinantes para uma diagnosticar ITU: Leucócito esterase e >10 leucócitos/campo. ▪ Testes que são determinantes para diagnosticar ITU: Nitrito positivo (o nitrato da urina é transformado em nitrito apenas por bactérias), Bacterioscopia, Leucocitúria + Bacterioscopia. Priscila Behrens 2021.1 ❖ Raio X de Tórax: o Critérios para solicitação: ▪ Leucocitose acima de 20.000/mm³; ▪ Aumento da frequência cardíaca fora do quadro de febre ou uma queda de saturação (<95%); ▪ Em lactentes, menores de 3 meses, e de alto risco também é necessário solicitar RX de tórax. Conduta: • Obs.: o Todo RN evolui para quadro grave rapidamente, por isso deve ser internado com ou sem sinais de Toxemia; o Crianças não possuem uma imunidade efetiva, e por isso a reavaliação deve ser feita diariamente; Priscila Behrens 2021.1 o A reavaliação de todo paciente de 0 a 36 meses, enquanto houver febre, deve ser feitadiariamente (no consultório ou na emergência) O que pode haver de diferente no fluxograma, caso a infecção seja de origem viral? 4 Tipos de teste para diagnóstico que existem: 1. Cultura Viral: padrão outro, porém não utilizada na prática clínica rotineira pois demora cerca de 1 mês para ficar pronto. 2. Testes rápidos para detecção de antígeno: tem boa especificidade e baixa sensibilidade, pode dar um falso negativo. 3. Imunofluorescência indireta: método rápido e com boa especificidade, porém necessita de pessoal treinado e tem baixa sensibilidade além de custo elevado. 4. RT PCR – Reação em cadeia de polimerase: excelente sensibilidade e especificidade, pode ser usado para pesquisar diversos agentes, porém, é caro e complexo e não é amplamente disponível no SUS. Com esses testes poderiam ser identificados os seus vírus com base no painel viral: - Adenovírus; - Influenza; - Parainfluenza; - Rhinovírus; - VSR; - HHV-6; - Coxsackie; - Covid 19. Priscila Behrens 2021.1 • Se o painel viral fosse realizado, as internações por precaução não seriam necessárias em todos os casos. ** No sus, para crianças que estão internadas é feita a pesquisa de RT-PCR. Para os que estão internados e precisam ser transferidos para a UTI são feitos os testes para VSR, Influenza, Adenovírus e Covid 19. ** No particular, é feita a pesquisa de RT-PCR para todos os pacientes com sintomas respiratórios. Em crianças internadas é feita a pesquisa de VSR, Influenza, Adenovírus e Covid 19.
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