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SOCIOLINGUÍSTICA Tania Maria Alkmim – Introdução à linguística – domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001 Considerações iniciais • Redundância do termo “sociolinguística” – razões de natureza histórica. August Schleicher • linguista alemão - Escreveu o Compendio da Gramática Comparativa das línguas Indo-europeias e trabalhou na reconstrução da árvore linguística “protoindo-europeia” – a linguagem é vista como um organismo natural ao qual se aplica o conceito de evolução desenvolvido por Darwin. Essa orientação biologizante afastou toda consideração de ordem social e cultural da linguística. Ferdinand de Saussure • linguista suíço – Instaurador da linguística moderna reconhecida como ciência da linguagem. Para ele, a linguística terá como tarefa descrever o sistema formal, a língua (dentro da dicotomia língua e fala). Privilegia, então o caráter formal e estrutural do fenômeno linguístico. Institucionaliza a distinção entre uma linguística interna e externa (linguística formal e contextual/funcional) Paul Jules Antoine Meillet • linguista francês - Para ele a história das línguas é inseparável da história da cultura e da sociedade. As línguas não existem fora dos sujeitos que as falam. Mikhail Bakhtin • linguista russo - Crítico do estruturalismo saussuriano. “A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, mas pelo fenômeno social da interação verbal, o que constitui a realidade fundamental da língua”. Roman Jakobson • linguista russo – para ele, o princípio da homogeneidade do código linguístico não passa de uma ficção. É ele quem insere nos estudos linguísticos os fatores constitutivos do ato de comunicação (remetente, mensagem, destinatário, contexto, canal, código) e a afirmação de que cada um desses determina uma diferente função de linguagem. Emile Benveniste • linguista francês – “é dentro da e pela língua que individuo e sociedade se determinam mutuamente” – língua e sociedade não podem ser concebidas uma sem a outra. A SOCIOLINGUÍSTICA – FIXAÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS • (1964) – UCLA – Willam Bright, William Labov, Dell Hymes, John Gumperz, John Fischer (et all) • O objeto de estudo da Sociolinguística é a diversidade linguística, é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. A SOCIOLINGUÍSTICA: objetos, conceitos, pressupostos • Ponto de partida – comunidade linguística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos. Não pessoas que “falam do mesmo jeito”, mas por indivíduos que se relacionam por meio de redes comunicativas diversas e que orientam seu comportamento verbal por num mesmo conjunto de regras. • Ao estudar qualquer comunidade linguística, a constatação imediata é a existência de diversidade ou variação. • Nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. Todas as línguas são representadas por um conjunto de variedades. • A sociolinguística encara a diversidade linguística não como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico. Assim, qualquer tentativa de buscar apreender apenas o invariável, o sistema subjacente, significa uma redução na compreensão do fenômeno linguístico. O aspecto formal e estruturado do fenômeno linguístico é apenas parte do fenômeno total. • A variação linguística: um recorte • Plano diacrônico – mudança • Exemplos do português: homem como indeterminação do sujeito; vossa senhoria deixando de ser tratamento de realeza (mudança sintática; mudança semântica) • Plano sincrônico - variação • Variação geográfica ou diatópica – diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geográficas distintas • Variação social ou diastrática – conjunto de fatores que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala • - Faixa etária; - Sexo; - Situação (contexto) – variações estilísticas ou de registro • - Classe social • Um falante utilizará a variedade linguística relativa a sua região de origem, classe social, idade, sexo, segundo a situação em que se encontrar. As variedades linguísticas e a estrutura social • A existência de variedades linguísticas se dá no contexto das relações sociais estabelecidas pela estrutura sociopolítica de cada comunidade. Sempre vai existir uma ordenação valorativa das variedades linguística em uso, que reflete a hierarquia dos grupos sociais. Ou seja, em toda comunidade, existem variedades consideradas superiores e outras inferiores. • Segundo Gnerre “uma variedade vale o que vale seu falante... vale como reflexo do poder e a autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais”. • Variedades de prestígio • Variedades não prestigiadas (estigmatizadas) • A definição de uma variedade padrão representa o ideal da homogeneidade em meio à realidade concreta da variação linguística. A variedade alçada à condição de padrão não detém propriedades intrínsecas que garantem uma qualidade “naturalmente” superior às demais variedades. A padronização é sempre historicamente definida. Cada época define o que é bom, certo, agradável, adequado. • O que chamamos de variedade padrão é o resultado de uma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção de um dos modos de falar entre vários existentes na comunidade e, de outro, pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar • A variedade padrão, historicamente, coincide com a variedade falada pelas classes sociais mais altas, de determinadas regiões geográficas. Ou melhor, coincide com a variedade linguística falada pela nobreza, pela burguesia, pelo habitante de núcleos urbanos, que são centros do poder econômico e do sistema predominante (vide pesquisas projeto NURC) • A padronização é sempre historicamente definida. Cada época determina o que considera como forma padrão: • Carta de Pedro Vaz de Caminha: “dereito”, “despois”, “frecha”, “premeiramente”; • Camões: “frauta”, “escuitar”, “intonce” • Como entender, então, que ocorrências equivalentes, tão vivas em variedades não padrões contemporâneas (“framengo”, “ele deve de sair”, “a gente fomos”) sejam consideradas erradas? • Sempre vai existir a avaliação social das variedades linguísticas – mas não existem línguas inferiores ou superiores; também não existem variedades linguísticas inferiores. O que se julga não é a fala mas o falante em função de sua inserção na estrutura social. • A homogeneidade linguística é um mito que pode ter consequências graves na vida social. Pensar que a diferença linguística é um mal a ser erradicado justifica a prática da exclusão e do bloqueio ao acesso a bens sociais.
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