o PLANEJAMENTO SISTEMÁTICO DO LEIAUTE ADMINISTRATIVO 1. Introdução IVAN JosÉ DE MECENAS SILVA· 1. Introdução; 2. Conceito de leiaute; 3. Levantamento; 4. Elaboração de diagramas básicos; 5. Dimensiona- mento de áreas funcionais; 6. Elaboração de propostas; 7. Seleção de propostas; 8. Implantação; 9. Controle de resultados; 10. Conclusão. A necessidade de arranjos físicos bem projetados, baseados em procedimen- tos gerais e unívocos, pode ser compreendida pelas palavras de Muther: "O arranjo de áreas de trabalho nasceu de trabalhos produtivos. Com o desenvol- vimento do sistema produtivo, maior atenção passou a ser dada à utilização do espaço. Devemos uma série de desenvolvimentos no planejamento de arran- jos físicos a engenheiros químicos e de mineração alemães, a enlatadores de carne em Chicago, a produtores de vagões canadenses, a produtores de auto- móveis de Detroit e a construtores de navios britânicos. Os arquitetos indus- triais aprenderam a relacionar suas estruturas às necessidades funcionais, adap- tando-as ao espaço necessário dentro delas. E engenheiros industriais, como Taylor, Gilbreth, Barnes, Maynard e Mogensen, nos trouxeram uma série de conceitos de eficiência e técnicas de visualização de processos que pudeFam ser utilizados como base para a elaboração do leiaute industrial. Porém, os especialistas _em leiaute, mesmo conhecedores das reduções de custo resultantes de um planejamento cuidadoso, não desenvolveram um procedimento geral para tratamento do problema. Em muitos projetos sentíamos falta de um mo- delo a seguir. Como todos os analistas, vimo-nos muitas vezes lutando com a massa de dados, tentando resolver o problema de ter em mãos uma quantidade tão grande de fatores, considerações, elementos e objetivos relacionados a certo projeto, que freqüentémente nos sentíamos confusos. A partir daí empe- nhamo-nos em desenvolver um método geral de procedimentos. Desejávamos encontrar uma abordagem lógica, técnicas aprofundadas de análise, uma lin- guagem e lista de convenções simplificada, e um modelo de procedimento linear e fácil de ser seguido - um modelo que integrasse as muitas técnicas exis- tentes e em uso, porém isoladas.JJl • Economista e analista no Departamento Central de Organização e Métodos da Caixa Econômica Federal - Matriz. (Endereço do autor: SQN 206 E 402 - 70844 - Brasília, DF.) 1 Muther, Richard. Planejamento do layout: Sistema SLP. São Paulo, Edgard Blucher, 1978. Prefácio. R. Adm. públ., Rio de Janeiro, 17(4): 109-27, out./dez. 1983 Sentindo a necessidade desse modelo, Muther desenvolveu o sistema SLP (Systematic Layout P[anning) , cujas fases foram originalmente identificadas e descritas em seu livro Practical plant layout, em 1955. Embora voltado muito mais para a elaboração do leiaute industrial, onde o fluxo de produção é fator de peso inquestionável, sendo o indicador princi- pal da configuração do arranjo físico nas indústrias. o sistema SLP atende também ao arranjo de áreas administrativas, conhecido como "leiaute de escritório" . Este artigo, embora possa interessar ao leitor comum, destina-se de ma- neira mais incisiva ao profissional em cuja pauta de atividades esteja pre- sente a incumbência de projetar arranjos físicos de áreas administrativas. Ten- ciona sugerir procedimentos gerais indispensáveis ao planejamento metódico do leiaute, muitas vezes relegado a plano inferior ou simplesmente ignorado, principalmente na esfera pública, o que implica custos nocentes e conflitantes com as políticas de aproveitamento racional de recursos, aplicadas no mundo moderno. Todo profissional emprega formas peculiares na abordagem de problemas e na apresentação de soluções. Não pretendemos delimitar as suas fronteiras de criatividade e iniciativa. Os procedimentos universais propostos represen- tam a metodologia fundamental para o planejamento organizado do leiaute administrativo. Os procedimentos específicos poderão ser reformulados e enri- quecidos com instrumentos de análise derivados da inteligência e visão sistê- mica que cada um possua. Conforme dissemos, procura-se enfocar o planejamento do leiaute admi- nistrativo em empresas de âmbito público ou privado, independentemente do porte e da área de atuação. Destinam-se à aplicação prática as proposições aqui contidas, uma vez que decorrem da experiência adquirida no decorrer do desempenho da atividade profissional, não se aprofundando o trabalho nos fundamentos das teorias de administração. 2. Conceito de leiaute E a disposição dos elementos produtivos de uma organização, em ambiente adequado, observando-se o fluxo racional do trabalho realizado, com o obje- tivo de obter economia de tempo e movimento e, como conseqüência, satis- fazer pessoas, reduzir custos e aumentar a produtividade dos recursos empre- gados na produção de bens e serviços. Evidentemente, há diversos outros conceitos, de renomados autores, e so- mente o conhecimento de vários deles dará ao técnico o necessário embasa- mento para firmar seu próprio conceito. Cury diz, por exemplo, que "o leiaute corresponde ao arranjo dos diversos postos de trabalho nos espaços existentes na organização, e~volvendo, além da preocupação de melhor adaptar as pes- soas ao ambiente de trabalho, segundo a natureza da atividade desempenhada, a arrumação dos móveis, equipamentos e matérias-primas".2 A definição fornecida pelo International Labour Office, de Genebra, é tida por Luiz Oswaldo da Rocha como a mais completa de todas: "E a posição 2 Cury, Antonio. Organização e métodos; uma perspectiva comportamental. São Paulo, Atlas, 1981. p. 193. 110 R.A.P. 4/83 relativa dos departamentos, seções ou escritórios dentro do conjunto de uma fábrica, oficina ou área de trabalho; das máquinas, dos pontos de armazena- mento e do trabalho manual ou intelectual dentro de cada departamento- ou seção; dos meios ae suprimento e acesso às áreas de armazenamento e de ser- viços, tudo relacionado dentro do fluxo do trabalho."3 O termo leiaute, muito utilizado por desenhistas e publicitários em sentido bastante diverso do conhecido em administração, é contestado por Nogueira de Faria que, para evitar a confusão que se faz acerca do significado da pala- vra, prefere escrever "localgrama". Segundo ele, "localgrama é a representa- ção gráfica em escala reduzida (1 x 50 ou 1 x 100) do local ocupádo e das partes componentes de um centro de produção, incluindo suas máquinas, equi- pamentos, móveis e utensílios, que devem ser posicionados e configurados da maneira mais lógica e funcional, de forma que os fluxos dos diferentes postos de trabalho tenham os respectivos desempenhos otimizados".4 2.1 Importância O leiaute é reconhecidamente importante, numa empresa, pois exerce in- fluência considerável na execução e qualidade dos serviços, tomando-os mais ou menos eficientes. Embora o estudo do leiaute seja aparentemente coisa simples, exigindo apenas bom senso na utilização dos espaços disponíveis, na maioria das empresas o arranjo físico não é áefinído de modo a atender ao fluxo racional das atividades desenvolvidas. E comum administradores, notadamente os tomadores de decisão, pergun- tarem: "qual o objetivo real de um planejamento de arranjo físico?" Enten- dem que o planejamento limita-se a movimentar máquinas, móveis e equipa- mentos, arranjando-os nos espaços disponíveis até que se consiga uma dispo- sição satisfatória. Pensamento irracional e até grosseiro. Afinal, numa indús- tria, por exemplo, "esse procedimento significaria certamente perda de tempo, ociosidade de equipamentos e interrupção no trabalho dos empregados. Além disso, pode acarretar sérios erros na utilização dos terrenos, altos custos em rearranjos, demolição de edifícios, paredes e estruturas que ainda poderiam ser utilizadas.''II 2.2 Fases Numa visão organizada, o planejamento do leiaute deve atravessar sete fases distintas: - levantamento; - elaboração de diagramas básicos; - dimensionamento de áreas