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UNIDADE IUNIDADE I A TRÍADE CRÍTICA: TOMADA DE DECISÃO,A TRÍADE CRÍTICA: TOMADA DE DECISÃO, ADMINISTRAÇÃO E LIDERANÇAADMINISTRAÇÃO E LIDERANÇA 11 TTomada de omada de DecisãoDecisão, Soluçã, Solução deo de ProblemProblemas e as e Raciocínio Crítico:Raciocínio Crítico: Requisitos para Uma Liderança eRequisitos para Uma Liderança e Administração de SucessoAdministração de Sucesso ...o executivo de enfermagem bem-sucedido tem a...o executivo de enfermagem bem-sucedido tem a habilidade de tomar boas decisões, com consistência.habilidade de tomar boas decisões, com consistência. —Thomas —Thomas R. ClancyR. Clancy ...sempre que se toma uma decisão, a melhor ...sempre que se toma uma decisão, a melhor coisa acoisa a fazer é a coisa certa; a segunda melhor coisa a fazer é a coisa certa; a segunda melhor coisa a ser feita éser feita é a coisa errada, e a pior é não a coisa errada, e a pior é não fazer nada.fazer nada. —Theodor —Theodore Roosee Roosevelt velt TTomar decisões costuma ser entendido como o mesmo que administrar, sendo umomar decisões costuma ser entendido como o mesmo que administrar, sendo um dos critérios de julgamento do administrador experiente. Muito do tempo de um ad-dos critérios de julgamento do administrador experiente. Muito do tempo de um ad- ministrador é usado no exame crítico de problemas, em sua solução e na tomadaministrador é usado no exame crítico de problemas, em sua solução e na tomada de decisão. A qualidade das decisões tomadas por um líder-administrador é o quede decisão. A qualidade das decisões tomadas por um líder-administrador é o que normalmente mais pesa em seu sucessnormalmente mais pesa em seu sucesso ou fracasso. Como disse um dos personagenso ou fracasso. Como disse um dos personagens da série de J. K. Rowling, Harry Potter, “São nossas escolhas... que mostram o queda série de J. K. Rowling, Harry Potter, “São nossas escolhas... que mostram o que realmente somos, muito mais do que nossas habilidades” (realmente somos, muito mais do que nossas habilidades” ( Begi Beginner’nner’s Guide,s Guide, setem-setem- bro de 2005, parágrafo 2).bro de 2005, parágrafo 2). Decidir, assim, é a atividade mais inata de um líder e o elemento central de umaDecidir, assim, é a atividade mais inata de um líder e o elemento central de uma administração. Este capítulo investiga os principais requisitos para o processo decisórioadministração. Este capítulo investiga os principais requisitos para o processo decisório bem-sucedido do líder e do adminibem-sucedido do líder e do administrador, a solução de problemas e o raciocínio crítistrador, a solução de problemas e o raciocínio crítico.co. Pelo fato de as autoras acreditarem que decidir, resolver problemas e pensar de formaPelo fato de as autoras acreditarem que decidir, resolver problemas e pensar de forma crítica constituem habilidades aprendidas que melhoram com a prática e a consistên-crítica constituem habilidades aprendidas que melhoram com a prática e a consistên- cia, incluíram, neste capítulo, uma apresentação de instrumentos, técnicas e estratégiascia, incluíram, neste capítulo, uma apresentação de instrumentos, técnicas e estratégias consagrados para um processo decisório eficiente. O capítulo traz o exercício de apren-consagrados para um processo decisório eficiente. O capítulo traz o exercício de apren- dizagem como uma nova abordagem ao aperfeiçoamento indireto das habilidades e àdizagem como uma nova abordagem ao aperfeiçoamento indireto das habilidades e à tomada de decisão de um líder. Finalmente, apresenta-se a tomada de decisão baseadatomada de decisão de um líder. Finalmente, apresenta-se a tomada de decisão baseada em evidências, como imperativo à solução de problemas individuais e profissionais.em evidências, como imperativo à solução de problemas individuais e profissionais. 2222 Bessie L. Marquis & Carol J. HustonBessie L. Marquis & Carol J. Huston TOMADA DE DECISÃO, SOLUÇÃO DETOMADA DE DECISÃO, SOLUÇÃO DE PROBLEMAS E RACIOCÍNIO CRÍTICOPROBLEMAS E RACIOCÍNIO CRÍTICO Decidir Decidir é um processo cognitivo complica-é um processo cognitivo complica- do, sendo normalmente definido como esco-do, sendo normalmente definido como esco- lha de determinado rumo para nossos atos. Olha de determinado rumo para nossos atos. O Beginner’ Beginner’s Gus Guideide (setembro de 2005) define(setembro de 2005) define tomar uma decisãotomar uma decisão como “o processo de esco-como “o processo de esco- lher um rumo de ação e não outro” (parágrafolher um rumo de ação e não outro” (parágrafo 1). As duas definições implicam1). As duas definições implicam dúvidadúvida acercaacerca de vários rumos de ação e realização de umade vários rumos de ação e realização de uma escolha que elimine incertezas.escolha que elimine incertezas. Resolver Resolver problemasproblemas é parte do processoé parte do processo decisório. Um processo sistemático que sedecisório. Um processo sistemático que se concentra na análise de uma situação difícil,concentra na análise de uma situação difícil, resolver um problemaresolver um problema sempre inclui uma eta-sempre inclui uma eta- pa decisória. Muitos educadores usam os ter-pa decisória. Muitos educadores usam os ter- mosmos solução de problemassolução de problemas ee tomada de deci-tomada de deci- sãosão como se fossem sinônimos; há, entretanto,como se fossem sinônimos; há, entretanto, uma pequena diferença entre eles. Emborauma pequena diferença entre eles. Embora decidir seja a última etapa no processo de re-decidir seja a última etapa no processo de re- solver problemas, é possível que uma decisãosolver problemas, é possível que uma decisão seja tomada sem a análise completa necessáriaseja tomada sem a análise completa necessária para a solução do problema. Uma vez que separa a solução do problema. Uma vez que se tenta identificar o problema original nas situa-tenta identificar o problema original nas situa- ções, usa-se muito tempo e energia na identifi-ções, usa-se muito tempo e energia na identifi- cação do problema em si.cação do problema em si. Tomar decisões, por sua vez, costuma serTomar decisões, por sua vez, costuma ser algo desencadeado por um problema, emboraalgo desencadeado por um problema, embora seja realizado de modo a não se concentrar naseja realizado de modo a não se concentrar na eliminação do problema subjacente. Por eliminação do problema subjacente. Por exem-exem- plo, se uma pessoa decidiu lidar com uma plo, se uma pessoa decidiu lidar com uma cri-cri- se no momento em que esta ocorreu, mas nãose no momento em que esta ocorreu, mas não tentou identificar o problema que realmente atentou identificar o problema que realmente a causou, ela usou, nesse caso, apenas as habi-causou, ela usou, nesse caso, apenas as habi- lidades de decidir. Aquele que toma uma de-lidades de decidir. Aquele que toma uma de- cisão pode, mais tarde, lidar com a verdadei-cisão pode, mais tarde, lidar com a verdadei- ra causa do conflito, ou optar por nada fazerra causa do conflito, ou optar por nada fazer em relação ao problema. Tomou-se a decisãoem relação ao problema. Tomou-se a decisão dede nãonão resolver o problema. Essa alternativaresolver o problema. Essa alternativa pode ser escolhida devido a falta de energia,pode ser escolhida devido a falta de energia, tempo ou recursos para a solução adequada dotempo ou recursos para a solução adequada do problema em si. Em alguns casos, trata-se daproblema em si. Em alguns casos, trata-se da decisão apropriada. Por decisão apropriada. Por exemplo, suponhamoexemplo, suponhamoss que um supervisor de enfermagem tenha umque um supervisor de enfermagem tenha um enfermeiro sob sua supervisão que se mostraenfermeiro sob sua supervisão que se mostra ausente demais nos últimos três meses. Nor-ausente demais nos últimos três meses. Nor- malmente, o supervisor estaria tentado a inter-malmente, o supervisor estaria tentado a inter- vir. Ele, porém, possui informações vir. Ele, porém, possui informações confiáveisconfiáveis de que esse enfermeiro logodesistirá do em-de que esse enfermeiro logo desistirá do em- prego para voltar aos estudos em outro estado.prego para voltar aos estudos em outro estado. Uma vez que esse problema logo deixará deUma vez que esse problema logo deixará de existir,existir, decidedecide não empregar energia e temponão empregar energia e tempo necessários para sua correção.necessários para sua correção. Pensar de forma críticaPensar de forma crítica , também conheci-, também conheci- do como raciocínio reflexivo, tem a ver comdo como raciocínio reflexivo, tem a ver com avaliar, vai além de decidir e resolver proble-avaliar, vai além de decidir e resolver proble- mas. “O raciocínio crítico é uma forma demas. “O raciocínio crítico é uma forma de pensar que vai do geral ao específico, semprepensar que vai do geral ao específico, sempre estreitando o foco, até que a lógica dos ques-estreitando o foco, até que a lógica dos ques- tionamentos e argumentos chegue à mesmationamentos e argumentos chegue à mesma conclusão” (conclusão” ( Begin Beginner’s ner’s GuiGuidede, novembro, novembro de 2005, parágrafo 2). Em outras palavras, ode 2005, parágrafo 2). Em outras palavras, o raciocínio crítico pode ser entendido comoraciocínio crítico pode ser entendido como tendo dois elementos: “1) um conjunto de ha-tendo dois elementos: “1) um conjunto de ha- bilidades de gerar e processar informações ebilidades de gerar e processar informações e crenças e 2) o hábito, crenças e 2) o hábito, baseado no compromis-baseado no compromis- so intelectual, de usar essas habilidades comoso intelectual, de usar essas habilidades como um guia para o comportamento” (Foundationum guia para o comportamento” (Foundation for Critical Thinking, 2004, parágrafo 3).for Critical Thinking, 2004, parágrafo 3). Da mesma forma, o raciocínio críticoDa mesma forma, o raciocínio crítico consiste em um processo mental de análise econsiste em um processo mental de análise e avalavaliação de iação de informações, especialmente de-informações, especialmente de- clarações ou proposições, entendidas comoclarações ou proposições, entendidas como verdades. Envolve refletir sobre o significadoverdades. Envolve refletir sobre o significado das declarações, examinar as evidências e asdas declarações, examinar as evidências e as razões oferecidas e formar juízos sobre os fa-razões oferecidas e formar juízos sobre os fa- tos. Independentemente da definição de racio-tos. Independentemente da definição de racio- cínio crítico, a maioria concorda ser ele maiscínio crítico, a maioria concorda ser ele mais complicado do que resolver problemas ou to-complicado do que resolver problemas ou to- mar decisões, envolve raciocínio e avaliaçãomar decisões, envolve raciocínio e avaliação em nível superior e apresenta um componenteem nível superior e apresenta um componente cognitivo e afetivo. As autoras acreditam quecognitivo e afetivo. As autoras acreditam que insight insight , intuição, empatia e desejo de agir se-, intuição, empatia e desejo de agir se- jam elemen jam elementos adiciotos adicionais ao nais ao raciocínio raciocínio crítico.crítico. Essas mesmas habilidades são necessárias, atéEssas mesmas habilidades são necessárias, até certo ponto, na tomada de decisão e na solu-certo ponto, na tomada de decisão e na solu- ção de um problema. O Quadro 1.1 traz outrasção de um problema. O Quadro 1.1 traz outras características daquele que raciocina de formacaracterísticas daquele que raciocina de forma crítica.crítica. Administração e Liderança em EnfermagemAdministração e Liderança em Enfermagem 2323 Insight Insight, intuição, empatia e desejo de, intuição, empatia e desejo de agir são componentes do raciocínioagir são componentes do raciocínio crítico.crítico. APRENDIZAGEM INDIRETA PARAAPRENDIZAGEM INDIRETA PARA FORTALECER AS HABILIDADESFORTALECER AS HABILIDADES DE SOLUÇÃO DE PROBLEMASDE SOLUÇÃO DE PROBLEMAS E TOMADA DE DECISÃOE TOMADA DE DECISÃO Tomar decisões, uma das etapas do processoTomar decisões, uma das etapas do processo de solução de problemas, é de solução de problemas, é uma tarefa impor-uma tarefa impor- tante que se baseia demais nas habilidades detante que se baseia demais nas habilidades de raciocínio crítico. Como tornar-se um raciocínio crítico. Como tornar-se um solucio-solucio- nador de problemas e um tomador de decisõesnador de problemas e um tomador de decisões de sucesso? Ainda que a tomada de decisãode sucesso? Ainda que a tomada de decisão bem-sucedida possa ser algo aprendido por ex-bem-sucedida possa ser algo aprendido por ex- periências de vida, nem todos aprendem a solu-periências de vida, nem todos aprendem a solu- cionar problemas e a julgar cionar problemas e a julgar com sabedoria porcom sabedoria por meio desse método de tentativa e erro, porquemeio desse método de tentativa e erro, porque muito é atribuído ao fator sorte. Alguns educa-muito é atribuído ao fator sorte. Alguns educa- dores percebem que as pessoas não aprendemdores percebem que as pessoas não aprendem a raciocinar com grande percepção a partir dasa raciocinar com grande percepção a partir das várias perspectivas. Além disso, informações evárias perspectivas. Além disso, informações e novnovas aprendizagens costumam as aprendizagens costumam ser apresenta-ser apresenta- das no contexto das situações de vida.das no contexto das situações de vida. Estudos de casoEstudos de caso Os estudos de caso podem ser uma soluçãoOs estudos de caso podem ser uma solução aos dois problemas mencionados. Na aos dois problemas mencionados. Na verdade,verdade, foi isso que ocorreu na pesquisa de Bowersfoi isso que ocorreu na pesquisa de Bowers (2004), que concluiu que a aprendizagem por(2004), que concluiu que a aprendizagem por estudos de caso proporcionava uma experiên-estudos de caso proporcionava uma experiên- cia positiva de aprendizagem para a cia positiva de aprendizagem para a promoçãopromoção das tomadas de decisões clínicas e do julga-das tomadas de decisões clínicas e do julga- mento por parte dos estudantes de enferma-mento por parte dos estudantes de enferma- gem. Da mesma forma, modelos simuladosgem. Da mesma forma, modelos simulados estão cada vez mais em uso em escolas deestão cada vez mais em uso em escolas de enfermagem, possibilitando a transferência doenfermagem, possibilitando a transferência do conhecimento dos livros-texto para situaçõesconhecimento dos livros-texto para situações de vida reais, em que os estudantes de enfer-de vida reais, em que os estudantes de enfer- magem podem agir de acordo com seu papel,magem podem agir de acordo com seu papel, sem causar qualquer tipo de dano aos clientessem causar qualquer tipo de dano aos clientes (Robertson, 2006).(Robertson, 2006). O Modelo de Ensino do RaciocínioO Modelo de Ensino do Raciocínio Crítico de Marquis-HustonCrítico de Marquis-Huston O resultado que se deseja no ensino e noO resultado que se deseja no ensino e no aprendizado do processo decisório e do raciaprendizado do processo decisório e do racio-o- cínio crítico em administração é uma intera-cínio crítico em administração é uma intera- ção entre aprendizes e outros indivíduos queção entre aprendizes e outros indivíduos que resulte na capacidade de, criticamente, exa-resulte na capacidade de, criticamente, exa- minar questões administrativas e de liderança.minar questões administrativas e de liderança. Trata-se de aprender comportamentos socio-Trata-se de aprender comportamentos socio- profissionais apropriados, mais do que sim-profissionais apropriados, mais do que sim- plesmente adquirir conhecimentos. Esse tipoplesmente adquirir conhecimentos. Esse tipo de aprendizagem ocorre melhor em grupo.de aprendizagem ocorre melhor em grupo. Assim, ao ensinar administração e Assim, ao ensinar administração e liderança,liderança, o processo de grupo deve ser usado de algumao processo de grupo deve ser usado de alguma forma.forma. Além disso, quem aprende retém mais ra-Além disso, quem aprende retém mais ra- pidamente o material didático quando este épidamente o materialdidático quando este é personalizado ou quando consegue estabelecerpersonalizado ou quando consegue estabelecer alguma relação com alguma relação com o material o material que está sendoque está sendo apresentado. O uso de estudos de caso com osapresentado. O uso de estudos de caso com os quais os alunos conseguem se identificar auxi-quais os alunos conseguem se identificar auxi- lia na retenção dos materiais didáticos.lia na retenção dos materiais didáticos. Sem esquecer a importância da instruçãoSem esquecer a importância da instrução formal no raciocínio crítico, utilizar um pro-formal no raciocínio crítico, utilizar um pro- QUADRO 1.1QUADRO 1.1 Características do indivíduo que raciocina de forma críticaCaracterísticas do indivíduo que raciocina de forma crítica AAbbeerrtto o a a nnoovvaas s iiddeeiiaass FFlleexxíívveell CCrriiaattiivvoo IInnttuuiittiivvoo EEmmppááttiiccoo CCoomm insight insight EEnnéérrggiiccoo PPrreeooccuuppaaddoo QQuue e qquueer r aaggiirr AAnnaallííttiiccoo OObbsseerrvvaaddoorr VVoollttaaddo o a a rreessuullttaaddooss PPeerrssiisstteennttee QQuue e aassssuumme e rriissccooss AAbbeerrtto o à à mmuuddaannççaa AAsssseerrttiivvoo CCoom m rreeccuurrssooss CCoonnhheecceeddoorr CCoommuunniiccaaddoorr AAllgguuéém m qquue e eennxxeerrgga a aalléém m ddoo que lhe é apresentadoque lhe é apresentado 24 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston cesso formal de tomada de decisão melhora a qualidade e a consistência do processo deci- sório. São muitos os novos líderes e adminis- tradores que batalham para decidir com qua- lidade, porque, até serem indicados a cargos administrativos, as oportunidades para pra- ticarem as decisões como líderes e adminis- tradores são muito limitadas. Tais limitações podem ser superadas por meio da criação de oportunidades de experiência indireta de pro- blemas que serão encontrados no mundo real da liderança e da administração. O Modelo de Ensino do Raciocínio Críti- co de Marquis-Huston é útil para a obtenção dos resultados de aprendizagem almejados (Figura 1.1). Basicamente, esse modelo en- volve quatro esferas sobrepostas, sendo cada uma um componente essencial no ensino da liderança e da administração. A primeira é a teoria didática, como o material apresentado em cada capítulo; a segunda inclui uma abor- dagem formal à solução de problemas e à to- mada de decisão que precisa ser usada. Em terceiro lugar, precisa haver certa utilização do processo de grupo, o que pode ser feito com grupos grandes e pequenos e com dis- cussão em aula. Finalmente, o material preci- sa tornar-se real para o aluno, a fim de que a aprendizagem seja internalizada – exercícios escritos, investigação pessoal, esclarecimen- to de valores e o ato de assumir riscos levam a isso à medida que os estudos de caso são examinados. A aprendizagem por experiência opor- tuniza práticas simuladas que têm imenso valor na aplicação da teoria da liderança e da administração. Este livro foi elaborado com a perspec- tiva de que a aprendizagem por experiência Teoria didática Aprendizagem personalizada Processo de grupo Solução de problemas Figura 1.1 O Modelo de Ensino do Raciocínio Crítico de Marquis-Huston. Administração e Liderança em Enfermagem 25 oferece experiências simuladas que são va- liosas na aplicação de tal teoria. Há muitas oportunidades, neste livro, para que os lei- tores vivenciem o mundo real da liderança e da administração. Algumas dessas situa- ções de aprendizagem, chamadas exercícios de aprendizagem, incluem estudos de caso, exercícios escritos, problemas específicos de liderança ou administração, cálculos de con- tratação de funcionários ou orçamentários, situações de debate em grupo ou solução de problemas e levantamento de dados sobre ati- tudes e valores pessoais. Determinados exer- cícios incluem opiniões, especulações e juízo de valor. Todos os exercícios de aprendiza- gem, porém, exigem certo grau de raciocínio crítico, solução de problemas ou tomada de decisão. Alguns estudos de caso estão resolvidos (suas soluções encontram-se no final do livro), para que os leitores observem a aplicação de um modelo sistemático de solução de proble- mas ou tomada de decisão comum a enfermei- ros-administradores. As autoras destacam que a solução de problema sugerida nos casos re- solvidos não deve ser entendida como a única possível ou “a correta” para aquele exercício. Para a maioria dos exercícios de aprendiza- gem do livro, existem soluções múltiplas que podem ser implementadas com sucesso para cada problema. ABORDAGENS TEÓRICAS À SOLUÇÃO DE PROBLEMAS E À TOMADA DE DECISÃO A maioria das pessoas decide de modo de- masiadamente rápido, fracassando no exame sistemático do problema ou de suas alterna- tivas de solução. Por sua vez, grande número de indivíduos confia em processos distintos, comumente inconscientes, conhecidos como heurística. A heurística envolve “ser capaz de reconhecer padrões e, então, conseguir solu- cionar com maior rapidez um problema, ou chegar a uma conclusão” (Pritchard, 2006, p. 128). Trata-se, assim, de “uma forma de pensar e resolver problemas de forma rápida, eficiente, maximizando o que já é conheci- do” (Heuristic Solutions, n.d., parágrafo 1). A heurística costuma, ainda, fazer referência ao uso de um método de tentativa e erro ou método empírico de solução de problemas. Facione (2006) reconhece o valor da heurísti- ca no processo decisório, embora alerte para o fato de que ela significa atalhos, tão somente, e não um conjunto de regras que impedem o fracasso, e afirma que confiar nela pode até funcionar na maior parte das vezes, embora nem sempre seja o melhor a fazer. A heurística é apenas um atalho para o problema e não um conjunto de re- gras que impedem o fracasso. Processo e estrutura formais podem bene- ficiar o processo decisório na medida em que obrigam quem decide a ser específico quanto às opções e a separar probabilidades de valo- res. Uma abordagem estruturada à solução de um problema e à tomada de uma decisão au- menta o raciocínio crítico, sendo a melhor for- ma de aprender como decidir com qualidade, uma vez que elimina o processo de tentativa e erro e concentra-se na aprendizagem de um processo já comprovado. Uma abordagem es- truturada ou profissional envolve a aplicação de um modelo teórico à solução de um proble- ma e à tomada de uma decisão. Uma abordagem estruturada à solu- ção de problemas e à tomada de deci- são aumenta o raciocínio crítico. Para melhorar a capacidade de decidir, é importante utilizar um modelo adequado de processo como base teórica para a compreen- são e a aplicação de habilidades de raciocínio crítico. Há muitos modelos aceitáveis para solucionar problemas, e a maioria inclui uma etapa decisória; apenas quatro desses modelos são aqui revisados. 26 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston Processo tradicional de solução de problemas Um dos mais conhecidos e amplamente uti- lizados modelos de solução de problemas é o modelo tradicional de solução de problemas. A seguir, apresentamos suas sete etapas (a eta- pa 5 é a de tomada de decisão): 1. Identificar o problema. 2. Reunir dados para a análise das cau- sas e das consequências do problema. 3. Investigar soluções alternativas. 4. Avaliar as alternativas. 5. Selecionar a solução apropriada. 6. Implementar a solução. 7. Avaliar os resultados. Ainda que o processo tradicional de solu- ção de problemas seja um modelo eficiente, seu ponto fraco reside no tempo necessário à sua correta implementação. Esse proces- so, assim, é menos eficiente quando limites de tempo são levados em conta. Outro ponto fraco é a falta de uma etapa inicial de esta- belecimento de objetivos. Fixar uma meta de decisão ajuda a evitar que aquele que decide perca o foco. Modelos administrativos de tomada de decisão Para tratar dos pontos fracos do processo tra- dicional de tomada de decisão, muitos mo- delos contemporâneos de processo adminis- trativo de decisão adicionaram uma etapa de estabelecimento de objetivos. Esses modelossão conhecidos como modelos administra- tivos de tomada de decisão. Um deles, su- gerido por Sorch (2000), inclui as seguintes etapas: 1. Determinar a importância e o contex- to da decisão. 2. Determinar os objetivos da decisão. 3. Listar todas as opções. 4. Investigar as opções promissoras. 5. Estabelecer critérios para a tomada de decisão. 6. Avaliar as opções em relação aos cri- térios. 7. Selecionar as opções a serem busca- das. 8. Analisar os riscos. Na primeira etapa, quem busca a solução de um problema deve levar em conta as possí- veis consequências da decisão, o período en- volvido e quem precisa participar do processo decisório. As decisões mais importantes reque- rem uma análise mais criteriosa do contexto. Metas primárias e secundárias são delineadas na segunda etapa, além dos resultados deseja- dos e indesejados. Na terceira etapa, aqueles que buscam a solução de um problema devem tentar identificar todas as alternativas possí- veis. Elas são, depois, analisadas na Etapa 4, normalmente se utilizando um tipo de análise SWOT (pontos fortes, pontos fracos, oportu- nidades e ameaças). Na Etapa 5, os objetivos são ordenados conforme sua importância ou quantificados, de forma que os que buscam a solução de um problema tenham clareza quanto aos critérios a receberem mais peso nas tomadas de decisão. A Etapa 6 estimula quem decide a aplicar instrumentos quantita- tivos de decisão, como grades decisórias ou tabelas de retorno (discutidas posteriormente neste capítulo) para, com objetividade, revisar as alternativas mais desejáveis. Na Etapa 7, as melhores alternativas ou suas combinações são escolhidas para serem implementadas. Na última etapa, identificam-se os desafios para a implementação bem-sucedida das alternativas selecionadas e desenvolvem-se estratégias de controle de riscos. O processo de enfermagem O processo de enfermagem, criado por Ida Jean Orlando no final da década de 1950, ofe- rece outro sistema teórico de solução de pro- blemas e tomada de decisão. Originalmente, era um processo com quatro etapas (investiga- ção ou levantamento de dados, planejamento, implementação e avaliação), sendo a etapa de Administração e Liderança em Enfermagem 27 diagnóstico delineada como um momento se- parado. As descrições mais atuais desse mo- delo incluem, no mínimo, cinco etapas. Como modelo para tomadas de decisão, o elemento mais valioso do processo de enfer- magem pode estar em suas múltiplas vias de feedback . As setas na Figura 1.2 mostram os constantes inputs ao processo. Identificado o ponto de decisão, ocorre uma tomada inicial de decisão que continua por todo o processo, por meio de um mecanismo de feedback . Ainda que o processo tenha sido desenvol- vido para a prática da enfermagem em relação ao atendimento do paciente e à responsabili- dade do enfermeiro, pode ser adaptado com facilidade como modelo teórico à solução de problemas de liderança e administração. A Ta- bela 1.1 mostra a semelhança entre o proces- so de enfermagem e o processo de tomada de decisão. O ponto fraco do processo de enferma- gem, tal como o modelo tradicional de tomada de decisão, é não exigir um enunciado claro de objetivos. As metas têm de ser enunciadas com clareza na fase de planejamento do pro- cesso, embora essa etapa costume ser omitida ou obscurecida. Entretanto, uma vez que os enfermeiros estão familiarizados com esse processo e comprovam sua eficácia, ele con- tinua sendo recomendado como um processo Levantar dados Implementar Avaliar Planejar Diagnosticar Figura 1.2 Mecanismo de feedback do processo de enfermagem. TABELA 1.1 Comparação entre processo de tomada de decisão e processo de enfermagem Processo de tomada de decisão Processo simplificado de enfermagem Identificar a decisão Coletar dados Investigar/levantar dados Identificar os critérios de decisão Identificar alternativas Planejar Escolher a alternativa Implementar a alternativa Implementar Avaliar as etapas de decisão Avaliar 28 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston teórico adaptado para a tomada de decisão por líderes e administradores. O modelo IDEALS Um modelo eficiente e mais moderno de ra- ciocínio e solução de problemas, o modelo IDEALS , foi criado por Facione (2006) e in- clui seis etapas para o eficaz raciocínio e a solução de problemas. Ao mesmo tempo em que apresenta semelhança com os modelos já apresentados, o mnemônico IDEALS é fácil de lembrar e utilizar: Identificar o problema: “O que, real- mente, estamos enfrentando aqui?” Definir o contexto: “Quais os fatos e as circunstâncias que compõem o arcabou- ço desse problema?” Enumerar as opções: “Quais as 3 ou 4 opções mais plausíveis?” Analisar as opções: “Qual o melhor rumo de ação, levando-se tudo em conside- ração?” Listar as razões de forma explícita: “Se- jamos transparentes: por que estamos fazendo esta escolha em especial?” Autocorrigir (do inglês, Self-correct): “Certo, examinemos novamente. O que não percebemos?” (p. 22) Há vários outros excelentes modelos de análise de problemas e de tomada de decisão. O escolhido deve ser aquele com o qual a pes- soa que decide tem familiaridade e que é ade- quado ao problema a ser resolvido. O uso con- sistente de modelos ou processos aumentará a probabilidade de ocorrência de uma análise crítica. Além disso, a qualidade da solução de problemas e da tomada de decisão administra- tiva/de liderança melhorará muito a partir de uma abordagem científica. O cultivo de uma abordagem cientí- fica possibilita um aperfeiçoamento considerável da qualidade da solução de problemas e da tomada de decisão do administrador/líder. Modelo intuitivo de tomada de decisão Existem teóricos que sugerem que a intuição deve sempre ser usada como auxiliar aos mo- delos empíricos ou racionais de tomada de de- cisão. Andrews (2006) sugere que “uma das habilidades críticas que separa os bons líderes dos grandes líderes é o uso consciente da in- tuição na tomada diária de decisão. Os grandes líderes, de forma ativa, fazem uso da intuição para o fortalecimento do processo decisório, ao passo que líderes menos efetivos tendem a confiar demais nas abordagens tradicionais” (parágrafo 1). Gary Klein é um dos líderes no campo da pesquisa de tomada intuitiva de decisão. Ele e seus colaboradores desenvolveram, na me- tade da década de 1980, o modelo de decisão baseada em reconhecimento (Recognition – Prime Decision – RDP) para a tomada intui- tiva de decisão como forma de explicar como as pessoas podem tomar decisões eficientes sob pressão de tempo e incertezas. Entendido como parte da tomada de decisão naturalista , esse modelo tenta compreender como os indi- víduos tomam decisões relativamente rápidas em cenários complexos do mundo real, como em casos de combate a incêndio ou atendi- mento crítico de enfermagem, sem ter como comparar opções (Klein, 2004). O trabalho de Klein sugere que, em vez de usar processos clássicos, racionais e sistemáticos de tomada de decisão, muitas pessoas agem conforme o impulso inicial, quando o “futuro imagina- do” parece aceitável. Quando a situação não ocorre exatamente assim, uma outra ideia ou conceito pode surgir a partir do subconsciente, sendo examinado em relação a uma provável implementação bem-sucedida. Assim, esse modelo mistura intuição e análise, embora o reconhecimento e a experiência padronizados orientem os tomadores de decisão diante de limites de tempo ou impossibilidade de uma tomada de decisão racional e sistemática. Administração e Liderança em Enfermagem 29 Aloi (2006) sugere que muitos enfermeiros especializados usam a intuição para solucio- nar problemas. Tais profissionais costumam informar que sensações sentidas no âmago de seus corpos os encorajam a agir de modo estrategicamente adequado, causando impac- to nos resultados do paciente. O autor alerta, no entanto, que o lado negativo da intuição é o julgamento incorreto e que ela deve funcio- nar apenas como auxiliar à tomada de decisão, fundamentada em uma base de conhecimentos científicos de enfermagem.ELEMENTOS CRÍTICOS NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS E NA TOMADA DE DECISÃO Uma vez que as decisões podem ter conse- quências de longo alcance, certas soluções de problemas e tomadas de decisão precisam ser muito qualificadas. Usar apenas uma aborda- gem científica à solução de problemas e à to- mada de decisão não garante, entretanto, uma boa decisão. Deve ser dada muita atenção a outros elementos importantes. Os elementos a seguir (Quadro 1.2), entendidos como fun- EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM 1.1 Aplicação de modelos científicos à tomada de decisão Você é uma enfermeira formada há três anos. Durante esses anos, suas responsabilidades no prim eiro cargo assumido aumentaram. Ainda que adore sua famíli a (esposo e filho em idade pré-escolar), ama seu trabalho, sendo a carreira de extrema importância para você. Recentemente, você e seu marido decidiram ter mais um filho. Foi quando aventaram a possibilidade de, ao chegar esse outro filho, você reduzir o horário de trabalho para ter mais tempo em casa com a família. Na semana anterior, sua supervisora informou-lhe de que o enfermeiro encarregado estava indo embora. Você ficou entu- siasmada e alegre quando soube que ela queria indicar seu nome para o cargo. Ontem, porém, você soube que estava grávida. Na noite anterior, a conversa com seu marido girou em torno de seu futuro profissional. Ele é advogado, atualmente em boa posição. Embora até então a educação de seu filho tenha sido res- ponsabilidade de vocês dois, ele não tem certeza de poder ajudar por muito tempo, porque sua vida profissional está cada vez mais exigente. Se você assumir o cargo, o que é algo que quer, terá horário integral. É seu desejo que a decisão dos dois seja bem pensada, uma vez que acarretará consequên- cias de longo alcance, envolvendo muitas pessoas. TAREFA:• Determinar o que você fará. Tomada sua decisão, reúna-se em grupo (4 a 6 pessoas) e compartilhe suas decisões. As decisões coincidiram? O que diferiu em sua forma de abordar o problema em relação a forma dos outros membros do grupo? Foi utilizado um processo racional e sistemático na solução do problema, ou a solução dada baseou-se na intuição? Quantas alternati- vas foram geradas? Alguns membros do grupo identificaram alternativas que você não levou em conta? Identificou-se alguma meta ou objetivo? Houve influência de seus valores pessoais em sua decisão? QUADRO 1.2 Elementos fundamentais à tomada de decisão Definir claramente os objetivos• Coletar dados com cuidado• Gerar várias alternativas• Pensar de forma lógica• Escolher e agir com firmeza• 30 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston damentais à solução de problemas, devem ser considerados caso se busque um decisão qua- lificada. Definir claramente os objetivos Quem decide costuma prosseguir no proces- so de solução do problema sem, inicialmente, determinar metas e objetivos. Isso é muito im- portante quando os problemas são complexos. Mesmo quando há necessidade de decisões rápidas, há momento de pausa e reflexão so- bre a finalidade da decisão. Decidir sem um objetivo claro em mente ou incoerente com a própria filosofia pode acarretar uma decisão insatisfatória. O problema pode ter sido iden- tificado, mas foram estabelecidos os objetivos errados. Quando se decide sem objetivos claros ou quando um objetivo não é coerente com a filosofia individual ou organizacional conhecida, existe a possibilidade de se tomar uma deci- são insatisfatória. Coletar dados com cuidado Uma vez que as decisões se baseiam em co- nhecimentos e informações disponíveis a quem quer resolver o problema quando uma decisão precisa ser tomada, deve-se aprender a processar e a obter informações precisas. A aquisição de informações começa com a identificação do problema ou do momento em que uma decisão deve ser tomada, con- tinuando ao longo do processo de solução do problema. Muitas vezes as informações são buscadas de modo dinâmico. A obtenção de informações sempre envolve pessoas, sendo que não há instrumento ou mecanismo infa- lível a erros humanos. Girard (2005) sugere que se deve perguntar “por quê?” umas cinco vezes para chegar à origem de uma situação ou problema. O Quadro 1.3 apresenta per- guntas a serem feitas quando da coleta dos dados. Além disso, os valores pessoais influen- ciam muito a percepção. Assim, à medida que quem soluciona um problema reúne informa- ções, precisa ficar atento para que as próprias preferências e as dos demais não sejam con- fundidas com os fatos. Jamais esquecer que os fatos podem enganar quando apresentados de ma- neira sedutora, entendidos fora de um contexto ou voltados ao passado. Quantos pais terão se enganado com a informação “Fulano bateu em mim”? Nesse caso, quem busca se informar precisa mais do que apurar a verdade. O que o acusador fazia quando o outro bateu nele? Com o que apanhou? Onde foi machucado? Quando foi machucado? Da mesma forma que os pais, o administrador que ficar cada vez mais expe- riente na aquisição de informações adequa- das, apropriadas e exatas terá uma vantagem, tornando-se um especialista em decidir e re- solver problemas. QUADRO 1.3 Perguntas para exame na coleta dos dados 1. Qual o contexto? 2. Qual o problema? 3. Em que situação isso constitui um problema? 4. Em que momento isso é um problema? 5. Quem é afetado pelo problema? 6. O que está ocorrendo? 7. Por que está ocorrendo? Quais as causas do problema? As causas podem ser priorizadas? 8. Quais as questões básicas subjacentes? Quais as áreas de conflito? 9. Quais as consequências do problema? Qual a mais grave? Administração e Liderança em Enfermagem 31 Usar uma abordagem baseada em evidências Para obter conhecimento e discernimento ao tomar uma decisão administrativa e de lideran- ça, as pessoas precisam sair do atual ambiente de conhecimentos para resolver os problemas apresentados. Algumas fontes de coleta de da- dos incluem livros-texto, periódicos, especialis- tas na área, colegas e pesquisas atualizadas. Na verdade, “tanto a medicina baseada em evidên- cias (EBM – evidence-based medicine) como a prática baseada em evidências (EBP – eviden- ce-based practice) afirmam que tomar decisões clínicas baseadas nas melhores evidências, se- jam da literatura de pesquisas, sejam da prática clínica, melhora a qualidade do atendimento e a qualidade de vida dos pacientes” (Evidence-Ba- sed Practice Resource Center, 2006). Desse modo, os enfermeiros devem utilizar um método baseado em evidências ao coletar dados para suas decisões quanto à prática clíni- ca. A Sigma Theta Tau International, socieda- de honorífica dos enfermeiros, define a prática da enfermagem baseada em evidências assim: [A] Integração entre as melhores evidências possíveis, os conhecimentos especializados em enfermagem e os valores e preferências dos indivíduos, das famílias e das comunidades atendidos. Isso pressupõe o oferecimento de um excelente cuidado de enfermagem, quando enfermeiros e tomadores de decisão de atendi- mento de saúde têm acesso a uma síntese entre as pesquisas mais recentes e um consenso na opinião de especialistas, estando assim capa- citados a exercitarem seu julgamento enquan- to planejam e oferecem um atendimento que leva em conta valores e preferências culturais e pessoais. (DiCenso et al., 2004, p. 69) Ainda assim, Prevost (2006) sugere que muitos enfermeiros da prática acham que não têm tempo, acesso ou conhecimentos espe- cializados para buscar e analisar a literatura de pesquisa atrás de respostas às indagações clínicas. Além disso, a maior parte dos enfer- meiros empregados em instituições de saúde nem mesmo tem graduação na área, possivel- mente não tendo sido expostos a um curso formal em pesquisa. Os achados das pesqui- sas ainda podem ser demasiado técnicos, de difícil compreensão e, até mesmo, mais difí- ceis de serem praticados. Além disso, Clovis e Cobban (2006) sugerem que profissionais de saúde podem até aplicar as evidências científicas as suas práticas diárias sem uma avaliação real das teorias ou metodologias envolvidas. No entanto, compreenderpor que algumas práticas são adequadas e como sur- giram é necessário para que ocorra uma con- tribuição à melhor aplicação (Clovis e Cob- ban, 2006). Algumas estratégias que o novo enfermeiro precisa utilizar para promover a prática baseada em evidências encontram-se no Quadro 1.4. O fato de tomar decisões com base em evidências e exercer uma prática baseada em evidências deve ser en- tendido como imperativo a todos os enfermeiros de hoje, bem como à pro- fissão como um todo. É importante reconhecer que a imple- mentação das melhores práticas baseadas em evidências não constitui apenas uma meta in- dividual do enfermeiro que atua em institui- ções de saúde (Prevost, 2006). São poucos os EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM 1.2 Reunir as informações necessárias Identificar uma decisão insatisfatória recentemente tomada por você devido a uma coleta de dados mal feita. Alguma vez você tomou uma decisão ruim pelo fato de as informações necessárias terem deixado de chegar a seu conhecimento, com ou sem intenção? 32 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston enfermeiros que entendem o significado das melhores práticas e da prática baseada em evidências, e muitas culturas organizacionais não lhes dão apoio para a busca e a utilização da pesquisa para uma mudança em práticas já antigas, arraigadas na tradição, mais do que na ciência. “Há necessidade do apoio adminis- trativo para o acesso aos recursos, o ofereci- mento de funcionários de apoio e o sanciona- mento das mudanças necessárias em políticas, procedimentos e práticas” (Prevost, 2006, p. 54) para que a coleta de dados baseados em evidências seja parte da prática de todos os enfermeiros. Essa abordagem ao atendimen- to vem sendo até mesmo reconhecida como a expectativa-padrão por parte das organizações de acreditação, como a Joint Commission on Accreditation of Health Care Organizations (JCAHO), além de uma expectativa em rela- ção à designação de hospitais-magnet.* Geração de várias alternativas A definição de tomada de decisão implica a existência de, no mínimo, duas opções em cada decisão. Muitos solucionadores de pro- blemas, infelizmente, limitam suas escolhas a duas opções apenas, quando muitas mais cos- tumam estar disponíveis. Quanto maior a quantidade de alter- nativas geradas, maior a possibilidade de uma tomada de decisão consciente. Lembrar-se sempre de que, em cada deci- são, uma das alternativas é a opção de nada fa- zer. Ao examinar as decisões a serem tomadas ao longo de um processo formal, costuma-se descobrir que a alternativa certa é o status quo. Várias técnicas podem ajudar a gerar mais alternativas. O envolvimento de outras pes- soas no processo confirma o dito popular de que duas cabeças pensam melhor do que uma. Pelo fato de todos pensarem de forma pecu- liar, aumentar a quantidade de indivíduos que lidam com um só problema aumenta o número de alternativas possíveis. A “tempestade de ideias” (brainstorming) é outra técnica de uso frequente. A meta dessa técnica é pensar em todas as alternativas pos- síveis, mesmo naquelas que possam parecer “desconfiguradas”. Se as alternativas possí- veis não forem limitadas apenas às que pare- cem adequadas, as pessoas podem romper pa- drões de pensamento habituais ou repressivos, permitindo o afloramento de novas ideias. O brainstorming é uma técnica mais empregada por grupos, o que não impede seu uso indivi- dual, por pessoas. QUADRO 1.4 Estratégias para que o enfermeiro novato promova a melhor prática baseada em evidências Manter-se atualizado sobre as evidências – assinar periódicos profissionais e ler bastante.• Usar e estimular o uso de fontes múltiplas de evidências.• Usar as evidências não somente como apoio às intervenções clínicas, mas também como apoio às• estratégias de ensino. Descobrir fontes estabelecidas de evidências em sua especialidade – não reinventar a roda.• Implementar e avaliar diretrizes de prática clínica sancionadas nacionalmente.• Questionar e desafiar as tradições na enfermagem e promover um espírito de assumir riscos.• Dissipar mitos e tradições que não tenham sustentação de evidências.• Cooperar local e globalmente com outros enfermeiros.• Interagir com outras disciplinas para ativar as evidências em enfermagem.• Fonte: Reimpresso de Prevost, S. (2006). Defining evidence-based best practices. In C. Huston (Eds.). Professional issues in nursing. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. * N. de R.T.: Magnet Recognition Program é um projeto desenvolvido nos Estados Unidos que credencia hospitais que se enquadrem nos critérios de mensuração da força e qualidade da equipe de enfermagem – Magnet Hospital. Administração e Liderança em Enfermagem 33 Pensar com lógica Durante o processo de solução de problemas, deve-se fazer inferências a partir de informa- ções. Uma inferência é parte do raciocínio dedutivo. As pessoas têm de analisar com cui- dado as informações e as alternativas. Uma lógica incorreta a essa altura pode resultar em decisões insatisfatórias. Basicamente, as pessoas pensam sem utilizar a lógica de três formas: 1. Generalizando de forma excessiva . Esse tipo de raciocínio “torto” ocor- re quando o indivíduo crê que, pelo fato de A apresentar determinada ca- racterística, todos os outros As devem possuir essa mesma característica. Esse raciocínio é exemplificado por declarações estereotipadas, emprega- das como justificativa em argumentos e decisões. 2. Afirmar as consequências. Nesse tipo de raciocínio ilógico, o indivíduo de- cide que, se B é bom e se as pessoas estão fazendo A, então, não deve ser bom. Por exemplo, se um novo mé- todo é alçado à posição de melhor maneira de realizar determinado pro- cedimento de enfermagem e os enfer- meiros da unidade não estão utilizan- do essa técnica, é ilógico pressupor que a técnica atualmente em uso na unidade seja errada ou ruim. 3. Argumentar a partir de uma analogia . Essa forma de pensar aplica um com- ponente que está presente em dois con- ceitos separados para, depois, enunciar que, pelo fato de A estar presente em B, A e B, então, são semelhantes sob todos os aspectos. Isso pode ser exem- plificado pela alegação de que, uma vez que a intuição desempenha um papel na enfermagem clínica e administrati- va, qualquer característica presente em um bom enfermeiro clínico também deve estar presente em um bom enfer- meiro-administrador. Isso, porém, não é necessariamente verdadeiro; um bom enfermeiro-administrador não precisa ter todas as mesmas habilidades de um bom enfermeiro clínico. Vários instrumentos foram criados em au- xílio dos administradores para essa importan- EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM 1.3 Possíveis alternativas na solução de problemas Algumas das alternativas a seguir podem ter sido geradas no cenário de escolhas pessoais apresenta- do no Exercício de Aprendizagem 1.1: Não aceitar o novo cargo.• Contratar uma doméstica em horário integral e aceitar o cargo.• Pedir ao marido que pare de trabalhar.• Fazer um aborto.• Solicitar ajuda de um dos pais (avós).• Aceitar o cargo e não contratar atendimento para os filhos.• Aceitar o cargo e contratar atendimento para os filhos.• Pedir ao marido que diminua a carga de trabalho como advogado e que continue a ajudar nos• cuidados com os filhos. Solicitar ao supervisor horário de trabalho de quatro dias por semana e manter o cargo mesmo• assim. Assumir o cargo e aguardar para ver o que acontece após o nascimento do bebê.• TAREFA:• Quantas dessas alternativas foram geradas por você ou por seu grupo? Que outras alter- nativas você identificou além das que fazem parte desta lista? 34 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston te tarefa de análise. Vários instrumentos são abordados neste capítulo. Quando da análise de possíveis soluções, as pessoas podem que- rer levar em conta as seguintes questões: 1. Que fatores você consegue influenciar? Como tornar os fatores positivos mais importantes e minimizar os negativos? 2. Quais as implicações financeiras de cada alternativa? E as implicações polí- ticas? Quem mais será afetado pela de-cisão e que apoios estão disponíveis? 3. Quais os fatores a serem pesados? 4. Qual a melhor solução? 5. Quais os instrumentos de avaliação? 6. Quais as consequências de cada alter- nativa? Escolher e agir de forma decisiva Não é suficiente reunir informações adequa- das, pensar com lógica, escolher entre várias alternativas e ficar atento à influência dos va- lores pessoais. Na análise final, há necessida- de de ação. Muitas pessoas retardam a ação, porque não querem enfrentar as consequên- cias de suas escolhas (por exemplo, se os ad- ministradores asseguraram folgas a todos os empregados, têm de aceitar as consequências de lidar com um corpo funcional deficitário). Muitas pessoas optam por retardar suas ações porque não têm coragem de enfrentar as consequências das próprias escolhas. Aquele que decide e está relutante pode obter ajuda ao ter em mente que, mesmo que as decisões tenham consequências de longo prazo, não são talhadas em bronze. É comum que julgamentos posteriormente entendidos como ineficazes ou inadequados sejam muda- dos. Por meio de uma avaliação posterior das decisões, os administradores podem aprender mais sobre suas habilidades e observar exata- mente em que a solução do problema falhou. Decisões, porém, precisam sempre ser toma- das, ainda que de má qualidade, porque é pelo processo decisório que as pessoas aperfeiçoam suas habilidades de decisão. VARIAÇÕES INDIVIDUAIS NA TOMADA DE DECISÃO Se todas as pessoas receberem as mesmas in- formações e usarem o mesmo método científi- co para solucionar problemas, pode-se afirmar que ocorrerão decisões idênticas. Na prática, entretanto, isso não é verdade. Uma vez que decidir envolve perceber e avaliar, sendo que as pessoas percebem pelas sensações, pela intui- ção e também avaliam suas percepções pensan- do e sentindo, é inevitável que a individualida- de represente uma parte no processo decisório. Considerando-se que todos têm diferentes valores e experiências de vida e que cada um percebe e pensa de maneira diferente, decisões diferenciadas podem ser tomadas, mesmo dian- te de um conjunto de circunstâncias idêntico. Qualquer discussão sobre a tomada de decisão somente será completa com um exame criterio- so do papel individual no processo decisório. Gênero Novas pesquisas sugerem que o gênero tem papel na forma como os indivíduos tomam decisões. Ripley (2005) relata que os dois he- misférios cerebrais parecem apresentar mais conexões nas mulheres e que, em algumas re- giões do cérebro, a densidade dos neurônios é maior nas mulheres do que nos homens. As mulheres também tendem a utilizar mais áreas do cérebro para realizar determinadas tarefas, o que parece corroborar o motivo pelo qual se recuperam melhor de acidentes vasculares ce- rebrais (AVCs) do que os homens. Elas tam- bém conseguem enxergar mais cores e texturas que eles. Diferentemente, os homens tendem a localizar seu pensamento em regiões cerebrais com maior foco, independentemente do tipo de solução de problema em que estão envolvidos ou na emoção que experimentam. Pesquisas de Hanlon ainda sugerem, no entanto, que as Administração e Liderança em Enfermagem 35 regiões do cérebro que lidam com raciocínio mecânico, alvo visual e raciocínio espacial amadurecem mais rápido nos meninos do que nas meninas (Ripley, 2005). Ripley relata que o cérebro masculino adulto é cerca de 10% maior que o cérebro fe- minino adulto e que, mesmo quando adaptado ao tamanho do corpo, os cérebros masculinos ainda são um pouco maiores. Essa diferença, porém, não parece prever algo em termos de capacidade intelectual ou capacidade para to- mar decisões. O que parece realmente impor- tar é uma parte do cérebro chamada amígdala (amygdala). As conexões entre a amígdala e as regiões cerebrais que controlam a lingua- gem e o funcionamento de nível superior pare- cem mais fortes nas mulheres. Talvez seja por isso que elas apresentam maior probabilidade de falar sobre suas emoções e as analisar ver- balmente (Ripley, 2005). Valores Decisões individuais baseiam-se no sistema in- dividual de valores. Independentemente da ob- jetividade dos critérios, os julgamentos de va- lor têm papel importante no processo decisório individual, consciente ou inconscientemente. As alternativas geradas e as escolhas finais são limitadas pelo sistema de valores de cada indi- víduo. Para alguns, determinadas escolhas são impossíveis devido a suas crenças individuais. Uma vez que os valores também influenciam as percepções, invariavelmente influenciam a coleta de informações, seu processamento e o resultado final. São os valores que determinam os problemas na vida pessoal ou profissional de alguém que serão abordados ou ignorados. Não importa a objetividade dos crité- rios, os juízos de valor sempre terão um papel no processo decisório da pes- soa, consciente ou inconscientemente. Experiências de vida Cada um traz as experiências de vida à tarefa de tomar uma decisão, o que inclui tanto as experiências educativas como as de proces- sos decisórios. Quanto mais madura a pessoa e mais ampla sua bagagem, mais alternativas ela será capaz de identificar. Sempre que um novo comportamento ou decisão é observado, essa possibilidade passa a ser parte do reper- tório individual de escolhas. Isso ficou clara- mente demonstrado na pesquisa de Bakalis e Watson (2005), em que a experiência clínica foi relacionada com a frequência de tomada de decisão (Exame de Evidência 1.1). Além disso, as pessoas são diferentes em seu desejo de autonomia, com alguns enfer- EXAME DE EVIDÊNCIA 1.1 Fonte: Bakalis, N.A., & Watson, R. (2005, February 16). Nurses’ decision-making in clinical practice. Nursing Standard, 19 (23), 33-39. Neste estudo, 60 enfermeiros de três áreas clínicas diferentes preencheram um questionário sobre tomada de decisão. A maior parte dos profissionais de todas as especialidades relatou tomar decisões clínicas regulares sobre cuidados diretos do paciente, inclusive oferecimento de cuidado básico de enfermagem, apoio psicológico, ensino dos pacientes e/ou familiares. Enfermeiros de cuidado crítico relataram tomar decisões regularmente sobre outros papéis, como agir em situações de emergência e decidir mudar a medicação do paciente, ao passo que enfermeiros de clínicas médicas e cirúrgicas disseram fazer isso apenas em algumas ocasiões. O tempo de experiência cl ínica mostrou uma relação importante com a frequência das tomadas de decisão. Os autores concluíram que o processo decisório deve ser ensinado em cursos anteriores à graduação e de enfermagem, que os enfermeiros devem ser encorajados a ter mais autonomia no processo decisório e que a tomada de decisão clínica deve basear-se em pesquisas. 36 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston meiros querendo-a mais do que outros. É pos- sível que as pessoas em busca de autonomia possam ter mais experiência para decidir do que aquelas que a temem. Do mesmo modo, decisões anteriores boas ou ruins influencia- rão o processo decisório da pessoa. Preferências individuais Diante de todas as alternativas analisadas no processo decisório, uma tem a preferência. Quem decide, por exemplo, pode entender certas opções como envolvendo maior ris- co pessoal que outras, escolhendo, então, a alternativa mais segura. Riscos físicos, eco- nômicos e emocionais, além de gastos de tempo e energia, são tipos de risco e custo pessoais envolvidos na tomada de decisão. Por exemplo, indivíduos com recursos finan- ceiros limitados ou nível menor de energia podem optar por uma solução alternativa a um problema que não seria sua primeira es- colha se conseguissem solucionar a limitação de recursos. Domínio do hemisfério cerebral e estilos de pensamento Uma forma de avaliar informações e alternati- vas em que embasar nossa decisão final envol- ve uma habilidade de pensamento ou racio- cínio. Os indivíduos raciocinam de maneiras diversas. Alguns o fazem de forma sistemática – costumam ser chamados de pensadores ana- líticos –, outros raciocinam de maneira intui- tiva. Acredita-se que amaioria dos indivíduos apresente um domínio do hemisfério cerebral esquerdo ou direito. Pensadores dominados pelo hemisfério esquerdo, analíticos e linea- res, processam as informações de forma di- versa dos pensadores dominados pelo hemis- fério direito, criativos e intuitivos. Embora as autoras encorajem o raciocínio com o cérebro em sua integridade e haja estudos mostrando que as pessoas conseguem fortalecer o uso do lado menos dominante do cérebro, a maioria das pessoas continua a apresentar o domínio de um dos lados. Alguns pesquisadores, inclusive Roger Perry, ganhador do Prêmio Nobel, sugerem a existência real de quatro estilos diferentes de pensamento com base na dominância ce- rebral (Adams, 2003). Indivíduos com domí- nio cerebral superior esquerdo são pensado- res realmente analíticos, que gostam de lidar com dados factuais e números. São os que lidam com os problemas de forma lógica e racional. Indivíduos com o domínio do lado esquerdo inferior do cérebro são altamente organizados e voltados aos detalhes. Prefe- rem um ambiente estável de trabalho e va- lorizam a segurança e a proteção em vez de correrem riscos. Os que têm o domínio do lado direito superior do cérebro raciocinam tendo uma visão do todo, em busca de possi- bilidades escondidas e futuristas em sua for- ma de pensar. Costumam confiar na intuição para resolver os problemas e gostam de as- sumir riscos em busca de novas soluções aos problemas. Quando o domínio é do hemis- fério direito inferior, os indivíduos resolvem os problemas e vivem os fatos de uma for- ma mais emocional que os outros três tipos. São solidários, têm empatia e intuição. São socialmente mais motivados em suas intera- ções com os demais (Adams, 2003). Conforme Adams (2003), 60% da popula- ção apresentam dois estilos dominantes; 30% apresentam três estilos; 7% têm o domínio de um único estilo e 3% usam o cérebro como um todo, o que significa o que eles empregam facilmente os quatro estilos de pensamento e raciocínio. Não existem evidências de que um estilo de pensamento ou o domínio do lado direito ou o esquerdo do cérebro seja o melhor. No passado, algumas organizações valori- zaram de forma explícita aqueles que racio- cinavam de forma lógica e analítica; recen- Administração e Liderança em Enfermagem 37 temente, porém, admitem que o pensamento intuitivo é um recurso administrativo valioso. De fato, as organizações precisam de repre- sentantes das várias formas de pensamento. O que importa é as pessoas perceberem o estilo de pensamento ou o domínio do hemisfério cerebral que melhor represente seu compor- tamento, reconhecendo ainda que sua forma de pensar causa impacto na relação com os outros e no modo como resolvem os proble- mas nos papéis de líderes e administradores (Adams, 2003). COMO VENCER A VULNERABILIDADE INDIVIDUAL NA TOMADA DE DECISÃO De que forma as pessoas vencem a subjeti- vidade ao tomar decisões? Isso pode jamais ser totalmente dominado; e nem deve ocor- rer. Afinal, a vida seria monótona se todos pensassem da mesma maneira. Administra- dores e líderes, entretanto, precisam perceber a própria vulnerabilidade e reconhecer como esta influencia e limita a qualidade do pro- cesso decisório. A utilização das sugestões a seguir ajudará na redução da subjetividade individual e aumentará a objetividade no pro- cesso decisório. Valores Estar confuso ou incerto acerca dos próprios valores pode influenciar a capacidade de de- cidir. Vencer certa falta de autopercepção por meio do esclarecimento dos valores diminui a confusão. Aqueles que entendem suas crenças e sentimentos terão uma percepção conscien- te dos valores em que foram embasadas suas decisões. Essa conscientização é componente fundamental do processo decisório e do racio- cínio crítico. Assim, para que os administrado- res se tornem solucionadores de problemas de sucesso, devem, com periodicidade, examinar seus valores. Há exercícios de esclarecimento de valores no Capítulo 7. Experiência de vida É difícil vencer a inexperiência na tomada de decisão. Mas é possível fazer algo para reduzir essa área de vulnerabilidade. Primei- ramente, deve-se utilizar os recursos dispo- níveis, inclusive pesquisas e literatura atuali- zadas, para obter um entendimento completo das questões envolvidas. Segundo, envolver outras pessoas, como colegas mais experien- tes, amigos verdadeiros ou superiores que agirão como conselheiros. Terceiro, analisar posteriormente as decisões de modo a avaliar seu sucesso. Agindo assim, as pessoas apren- dem a partir dos erros e conseguem vencer a inexperiência. Preferências individuais Vencer essa área da vulnerabilidade envolve autopercepção, honestidade e assunção de riscos. A necessidade da autopercepção já foi discutida e não se mostra suficiente; é neces- sário que as pessoas sejam honestas consigo mesmas acerca de suas opções e das preferên- cias por essas opções. EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM 1.4 Estilos de pensamento Em pequenos grupos, examinar como pensa cada membro do grupo. Existe uma maioria de pessoas com dominância do hemisfério direito ou esquerdo do cérebro? Os membros do grupo se autoi- dentificam com um ou mais estilos de pensamento registrados por Adams (2003)? O gênero parece influenciar o estilo de pensamento ou o domínio do hemisfério cerebral? Que tipos de pensadores foram representados nas famílias dos membros do grupo? A maior parte dos elementos do grupo en- cara as variações de forma positiva? 38 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston Além disso, quem decide com sucesso precisa assumir alguns riscos. Quase todas as decisões têm algum elemento de risco, e a maioria delas envolve consequências e res- ponsabilidades. Quem é capaz de fazer a coisa certa, ainda que impopular, e se arrisca em sua defesa surgirá como líder. Formas individuais de pensamento As pessoas que tomam decisões sozinhas costumam mostrar deficiências, porque não conseguem entender os problemas em sua totalidade ou tomar decisões a partir de uma perspectiva analítica e intuitiva. Entretanto, a maioria das organizações inclui os dois ti- pos de pessoas. O uso do processo grupal, do debate dos problemas com outras pessoas e todos os estilos do desenvolvimento de pen- samento também são formas que garantem a utilização de métodos analíticos e intuitivos na solução de problemas e nas tomadas de decisão. Utilizar grupos heterogêneos mais que homogêneos normalmente resulta em um processo decisório mais qualificado. De fato, aprender a pensar “de maneira diferente” costuma ocorrer quando se utiliza um grupo diversificado de pensadores para solucionar problemas e tomar decisões. Mesmo com algumas discordâncias entre especialistas, muitos entendem que as qua- lidades de tomadores de decisão de sucesso incluem: Coragem• . A coragem tem importância especial, envolvendo desejo de assumir riscos. Sensibilidade• . Bons tomadores de deci- são costumam ter uma espécie de ante- na que os torna especialmente sensíveis às situações e às outras pessoas. Energia• . As pessoas devem ter energia e desejo de fazer com que as coisas acon- teçam. Criatividade.• Tomadores de decisão de sucesso tendem a ser pensadores criati- vos. Eles desenvolvem novas formas de resolver problemas. TOMADA DE DECISÃO NAS ORGANIZAÇÕES No começo deste capítulo, enfatizou-se a neces- sidade de administradores e líderes tomarem de- cisões de qualidade. O efeito dos valores e das preferências individuais no processo decisório já foi discutido, embora seja importante que lí- deres e administradores também compreendam como a organização influencia o processo deci- sório. Considerando-se que as organizações são compostas por pessoas com valores e preferên- cias diferentes, costumam ocorrer conflitos na dinâmica das decisões organizacionais. Efeito do poder da organização Pessoas poderosas dentro da organização pos- sivelmente tomam decisões (ato deles ou de subordinados) coerentes com as próprias pre- ferências e valores. Já indivíduos com menos poder nas organizações precisam sempre levar em contaas preferências, ao tomar decisões administrativas, dos que têm poder. Nas orga- nizações, as opções são formadas e limitadas por vários fatores, resultando no fato de que as escolhas não estão igualmente disponíveis a todos. Além disso, não somente as preferências dos que têm poder influenciam as decisões dos menos poderosos, como podem inclusive inibir as preferências destes. O motivo disso é que as pessoas que permanecem e progridem em uma organização são as que têm e mani- festam valores e crenças coerentes com ela. Assim, deve-se encontrar um equilíbrio entre as limitações de escolha impostas pela estru- tura de poder na organização e as decisões tomadas com total independência, que podem levar ao caos organizacional. Administração e Liderança em Enfermagem 39 A capacidade de influência dos de- tentores de poder sobre a tomada de decisão individual em uma organiza- ção costuma exigir a adoção de uma personalidade particular e outra or- ganizacional. Por exemplo, alguns podem pensar que to- mariam uma decisão diferente se agissem por conta própria, embora tenham acompanhado a decisão da organização. Esse “acompanha- mento” por si só constitui uma decisão. Esco- lhe-se aceitar uma decisão organizacional que difere de nossas preferências e valores. O con- ceito de poder nas organizações é abordado no Capítulo 13. Tomada de decisão racional e administrativa Durante anos, a crença era de que a maior parte das decisões administrativas baseava- -se em um processo de raciocínio criterioso, científico e objetivo e que os administradores tomavam decisões de forma racional. No final da década de 1940, Herbert A. Simon, em seu estudo, revelou que a maior parte dos admi- nistradores tomava várias decisões que não se coadunavam com a teoria objetiva da raciona- lidade. Simon (1965) delineou dois tipos de tomadores de decisão administrativa: o ho- mem econômico e o homem administrativo. Os administradores que são tomadores de decisão de sucesso costumam tentar decidir racionalmente, muito à moda do homem eco- nômico, descrito na Tabela 1.2. Pelo fato de se darem conta de que conhecimentos e alter- nativas limitados afetam, de forma direta, a qualidade das decisões, esses administrado- res reúnem o máximo possível de informação e geram muitas alternativas. Simon acreditava que o modelo de homem econômico era, no entanto, uma descrição nada real da tomada de decisão nas organizações. A complexida- de da aquisição de informações impossibilita ao cérebro humano a armazenagem e a reten- ção da quantidade de informações disponí- veis para cada decisão. Devido a limitações de tempo e à dificuldade de assimilação de grandes quantidades de informação, a maio- ria das decisões administrativas é tomada por meio do modelo de homem administrativo que decide. A maior parte das decisões adminis- trativas é tomada usando-se o modelo de homem administrativo que decide. O homem administrativo jamais tem co- nhecimento completo e gera menos alternati- TABELA 1.2 Comparação entre homem econômico e homem administrativo Econômico Administrativo Toma decisões de forma muito racional. Toma decisões suficientemente boas. Possui conhecimento total do problema ou da situação que requer uma decisão. Uma vez que o conhecimento total não é possível, sabe que o conhecimento é sempre fragmentado. Possui uma lista completa das possíveis alternativas. Uma vez que as consequências das alternativas ocorrem no futuro, reconhece que é impossível prevê-las com precisão. Possui um sistema racional para ordenar a preferência relativa às alternativas. Costuma escolher a partir de poucas alternativas, nem todas possíveis. Escolhe a decisão que maximizará a função utilitária A escolha final é mais a que satisfaz que a que maximiza. Fonte: Adaptada de Simon, H.A. (1965). The shape of automation for man and management. New York: Harper Textbooks. 40 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston vas. Simon defendeu que o homem adminis- trativo toma decisões que apenas satisfazem, termo utilizado para descrever aquelas de- cisões que podem não ser as ideais, mas que resultam em soluções que acarretam resulta- dos adequados. Esses administradores querem decisões que sejam “suficientemente boas”, para que “funcionem”, mas apresentam me- nos preocupações com o fato de a alternativa escolhida ser uma escolha excelente. A “me- lhor” opção quanto a várias decisões costuma ser a de custos mais elevados em termos de tempo ou recursos, de modo que se encontra outra solução, de custo menor, mas que tam- bém funciona. INSTRUMENTOS DE TOMADA DE DECISÃO Clancy (2003) defende que mesmo o adminis- trador mais experiente não consegue eliminar todas as incertezas ao tomar decisões. Entre- tanto, em auxílio às tomadas de decisão do administrador, analistas administrativos de- senvolveram instrumentos que trazem ordem e rumo à obtenção e ao uso de informações, ou que se mostram úteis à escolha de quem deve se envolver no processo decisório. É importante lembrar que qualquer instrumen- to de decisão sempre resulta na necessidade de alguém tomar uma decisão final, e de que todos esses instrumentos estão sujeitos a erro humano. Considerando-se a existência de tan- tos auxiliares para as decisões, este capítulo apresenta tecnologia selecionada da maior uti- lidade a administradores de primeiro ou mé- dio escalão. Grades decisórias Uma grade decisória permite o exame visual das alternativas, comparando cada uma de- las em relação aos mesmos critérios. Embora qualquer critério possa ser escolhido, são uti- lizados sempre os mesmos na análise de cada alternativa. Um exemplo de grade decisória é mostrado na Figura 1.3. Quando muitas alter- nativas foram geradas ou quando um grupo ou comitê está participando na decisão, essas grades são especialmente úteis ao processo. Esse recurso, por exemplo, seria útil quando da troca do método de administração do aten- dimento em uma unidade ou diante da escolha de um candidato a ser contratado quando há muitos candidatos disponíveis. O administra- dor da unidade ou o comitê avaliam todas as alternativas disponíveis, utilizando uma grade de decisão. Assim, todas as alternativas são avaliadas com os mesmos critérios. É possível dar mais peso a alguns critérios quando são mais importantes. Para isso, costuma ser ne- cessário designar um valor numérico a cada critério. O resultado será um valor numérico para cada alternativa analisada. #1 #2 #3 #4 Efeito financeiro Efeito político Efeito nos departamentos Tempo DecisãoAlternativa Figura 1.3 Uma grade decisória. Administração e Liderança em Enfermagem 41 Tabelas de retorno Os recursos para decidir conhecidos como tabelas de retorno têm uma relação custo-lu- cro-volume, auxiliando bastante quando há algumas informações quantitativas à dispo- sição, como o custo de algum item ou uma previsão de custos. Para a utilização dessas tabelas, devem ser determinadas probabilida- des e usados dados históricos, como estatísti- cas hospitalares ou relatório sobre a quantida- de de procedimentos operatórios realizados. Por exemplo, uma tabela de retorno poderia ser usada, com adequação, para determinar de quantos participantes se necessita para a criação de um programa de instrução no local de trabalho com um equilíbrio entre custo e benefício. Se os custos com o instrutor de curso fo- rem de US$ 400,00, o diretor do programa interno terá de cobrar de cada um dos 20 parti- cipantes US$ 20,00 pelas aulas; no caso de 40 participantes, o custo cairá para US$ 10,00 por aluno. Ele, assim, usará dados de frequência de aulas anteriores e o número de enfermeiros potencialmente disponíveis para participar, de modo a determinar o tamanho da turma e o que cobrar pelas aulas. As tabelas de retorno não garantem a tomada de uma decisão certa, mas ajudam na visualização dos dados. Árvores decisórias Como as decisões costumam estar atreladas a resultados de outros acontecimentos, os ana- listas administrativos criaram as árvores de- cisórias. A árvore decisória apresentada na Figu-ra 1.4 faz uma comparação de custos para auxiliar na decisão de contratar empregados temporários. A decisão, no caso, está entre contratar enfermeiros extras, com um salário regular, para a realização de procedimentos de pacientes externos em unidade de oncologia ou usar enfermeiros disponíveis na unidade, requisitando-os na medida das necessidades, EVENTOS POSSÍVEIS Aumento da demanda de procedimentos Redução da demanda de procedimentos Aumento da demanda de funcionários Redução da demanda de funcionários Pagar horas extras e de acordo com os chamados Momento de decisão (o último evento a ocorrer) DECISÕES ALTERNATIVAS Contratar funcionários regulares Variáveis que influenciam o rumo da árvore decisória: • Lucro pelos procedimentos • Fluxo líquido de caixa • Custos • Estimativa de valores no primeiro ano Figura 1.4 Uma árvore decisória. 42 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston pagando-lhes por chamado e pelo sistema de horas extras. As consequências possíveis de uma redução ou de um aumento no volume de procedimentos devem ser consideradas. Ini- cialmente, os custos aumentariam com a con- tratação de uma equipe regular; com o tempo, porém, se o volume de procedimentos não di- minuísse demais, essa atitude significaria pou- par dinheiro. Um exemplo real de uso de árvo- re decisória para determinar em que unidades hospitalares os pacientes seriam internados é descrito no Exame de Evidência 1.2. Utilizadas como guia para a tomada de decisão ao longo do tempo, as árvo- res decisórias possibilitam a visualiza- ção de vários resultados. Tabelas de consequências Clancy (2003) usou uma tabela de consequên- cias para demonstrar como várias alternativas criam consequências diversas. As tabelas de consequências listam os objetivos para a so- lução de problemas em um dos lados, classifi- cando como cada uma delas atende a determi- nado objetivo. Por exemplo, analise o problema: “A quan- tidade de quedas de um paciente ultrapassou a taxa-padrão em dois quartos consecutivos”. Após um período de análise, foram escolhidas as seguintes alternativas como solução: 1. Oferecer um novo programa educa- tivo para orientar o corpo funcional sobre a prevenção de quedas. 2. Implementar a verificação por uma noite, de modo a garantir que os pa- cientes estejam com as laterais das ca- mas erguidas e estas na posição baixa. 3. Implementar uma política que exija ordens para imobilizar de maneira suave todos os pacientes confusos. O tomador de decisão lista, depois, cada alternativa ao lado dos objetivos para solucio- nar o problema que, no caso exemplificado, poderia ser: (a) reduzir o número de quedas, (b) satisfazer aos padrões reguladores, (c) apresentar custo-efetividade e (d) satisfazer às diretrizes da política atual. Quem deve decidir classifica, depois, cada um dos objetivos alme- jados e examina cada uma das alternativas por meio de um guia padronizado que possibilita EXAME DE EVIDÊNCIA 1.2 Fonte: Matukaitis, J., Stillman, P., Wykpisz, E., & Ewen, E. (2005). Appropriate admissions to the appropriate unit: A decision tree approach. American Journal of Medical Quality, 20 (2), 90-97. Este projeto-piloto descreveu a implementação de uma abordagem do tipo árvore decisória à solução de problema em dois hospitais de atendimento a pacientes graves, em um grande sistema de atendimento de saúde, na tentativa de maximizar o uso de leitos limitados de atendimento intermediário. Esse projeto teve início a partir de um estudo que constatou que somente 42% dos pacientes internados em leitos de atendimento intermediário realmente se adequavam aos critérios de admissão. Assim, os recursos de atendimento estavam sendo usados em excesso em termos de proporção entre enfermeiros e pacientes. Uma equipe multidisciplinar foi formada para elaborar a árvore decisória de atendimento intermediário a ser utilizada pelo departamento de emergência como um guia de internações para a unidade de atendimento intermediário. Os profissionais do setor de emergência foram treinados em relação ao seu uso. Após a implementação da abordagem com árvore decisória, entre 96 e 100% dos pacientes internados na unidade de atendimento intermediário satisfizeram os critérios da internação. Além disso, o tempo de espera no setor de emergência foi reduzido de 5,5 horas para 2,5 horas, e a quantidade de pacientes que aguardavam diariamente nesse departamento à espera de um leito na unidade de atendimento intermediário foi reduzida em cerca de 80%. Administração e Liderança em Enfermagem 43 uma comparação equânime entre as alternati- vas e auxilia a eliminar escolhas indesejadas. É importante examinar os efeitos de longo prazo de cada alternativa, bem como a manei- ra pela qual a decisão afetará outras pessoas. Ver, na Tabela 1.3, um exemplo de uma tabela de consequências. Modelos lógicos Os modelos lógicos são esquemas ou quadros que mostram como os programas pretendem funcionar. O esquema costuma incluir recur- sos, processos e resultados desejados, mos- trando exatamente quais as relações entre os três componentes. Longest (2005) informa que os modelos lógicos podem melhorar a administração de um programa de duas for- mas: “1) o modelo lógico é capaz de auxiliar o administrador a integrar as várias atividades administrativas pertinentes ao funcionamen- to eficiente de um programa e 2) o modelo pode ajudar os administradores a estabelecer e manter boas relações com as partes interessa- das internas e externas” (p. 557). Avaliação de programa e técnica de revisão Uma avaliação de programa e técnica de re- visão (PERT – program evaluation and review technique) é um instrumento conhecido para a determinação do momento propício para a to- mada de decisão. Elaborado pela organização Booz-Allen-Hamilton e pela marinha norte- -americana, junto ao programa POLARIS de mísseis, o PERT é, basicamente, um fluxogra- ma que prevê quando devem ocorrer eventos e atividades caso aconteça determinado evento. A Figura 1.5 mostra um gráfico PERT para a criação de uma nova sala de tratamento de pa- cientes externos em situações de procedimen- TABELA 1.3 Uma tabela de consequências Objetivos para a solução do problema Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa 3 1. Reduzir o número de quedas. X X X 2. Atender aos padrões reguladores. X X X 3. Apresentar custo-efetividade. X X 4. Satisfazer às atuais diretrizes políticas. X Escore para a decisão 44 Bessie L. Marquis & Carol J. Huston tos oncológicos. O número de semanas para a realização das tarefas está listado em momen- to considerado otimista, momento mais prová- vel e momento pessimista. A via crítica mostra algo que precisa acontecer na sequência antes de se prosseguir. O PERT é especialmente útil quando há um grupo de pessoas trabalhando em um projeto. O fluxograma mantém todos atualizados, e os problemas são identificados com facilidade logo que ocorrem. Os fluxo- gramas são bastante conhecidos, sendo utili- zados até mesmo em questões pessoais. Decisão de criar uma sala de tratamento de pacientes externos com funcionários 5-7-9 2-3-42-3-4 Reforma concluída 2-3-4 4-5-6 1-2-3 Equipamento instalado Equipamento recebido Equipamento solicitado Equipamento e funcionários prontos 3-4-5 1-2-3 2-3-4 10-12-14 Via crítica Quantidade de semanas para concluir a tarefa, classificada de acordo com o momento de conclusão, do mais otimista ao mais provável, até o mais pessimista Funcionários recrutados Funcionários contratados Funcionários treinados Planejamento pronto Sala esvaziada Figura 1.5 Exemplo de diagrama de gráfico PERT. EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM 1.5 Uso de um fluxograma para a administração de um projeto Imaginar um projeto em que você está envolvido; pode ser dançar, fazer um piquenique, reformar um banheiro ou programar um semestre de atividades em aula. TAREFA:• elaborar um fluxograma, inserir na parte inferior. As datas em que serão concluídas as atividades para o evento. Indo de trás para a frente, inserir as tarefas mais importantes e as datas de sua