Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2 FUNDAMENTOS DE FARMACOCINÉTICA: DISTRIBUIÇÃO DISTRIBUIÇÃO Logo que o fármaco entra no organismo, a partir de qualquer via de administração, ocorre o processo de distribuição em que há a passagem reversível do fármaco do sangue para outros fluidos e tecidos. Assim, o fármaco tem o potencial de distribuir-se em qualquer um dos três compartimentos funcionalmente distintos de água, ou ser sequestrado em um local celular. COMPARTIMENTOS DE ÁGUA NO ORGANISMO • Compartimento plasmático – Acomoda fármacos que apresentam massa molecular muito elevada ou se liga extensamente às proteínas plasmáticas pois estes são muito grandes para se mover para fora através das fendas endoteliais dos capilares. • Líquido extracelular – Comporta fármacos que apresentam baixa massa molecular, mas são hidrofílicos, ou seja, podem se mover através das fendas endoteliais dos capilares para o líquido intersticial. Contudo, fármacos hidrofílicos não se movem através das membranas celulares lipídicas para entrar na fase aquosa do interior da célula. Por conseguinte, esses fármacos se distribuem em um volume que é a soma da água plasmática e da água intersticial. • Água corporal total – Comporta fármacos que apresentam baixa massa molecular e são hidrofóbicos, isto é, não só podem se movimentar para o interstício através das fendas, como também deslocar-se para o líquido intracelular através das membranas celulares. • Outros locais - Na gestação, o feto pode captar fármacos e, assim, aumentar o volume de distribuição. Fármacos que são muito lipossolúveis, como o tiopental, também podem apresentar volumes de distribuição anormalmente elevados. 3 RESERVATÓRIOS DE FÁRMACOS Trata-se de locais onde o fármaco pode ser encontrado em maior concentração em relação ao plasma sanguíneo. Há quatro mecanismos principais que podem levar à formação de reservatórios de drogas, tais que são: transporte ativo, lipossolubilidade, diferença de pH e ligação a determinados componentes biológicos. VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO Um fármaco raramente se associa de forma exclusiva a um único compartimento de água corporal. Ao contrário, a grande maioria dos fármacos se distribui em vários compartimentos, com frequência ligando-se avidamente a componentes celulares, por exemplo, lipídeos (abundantes em adipócitos e membranas celulares), proteínas (abundantes no plasma e no interior das células) ou ácidos nucléicos (abundantes no núcleo das células). Pode-se medir a distribuição de um fármaco no organismo através do parâmetro chamado Volume de distribuição. Tal que é um volume hipotético de líquido no qual o fármaco se dispersa. Embora ele não tenha base física ou fisiológica, é útil, algumas vezes, para comparar a distribuição de um fármaco com os volumes dos compartimentos de água no organismo. BIODISPONIBILIDADE Como sabido, uma parte daquilo que é administrado pela via oral não alcança a circulação sistêmica, quer seja por ser destruída no Trato Gastrointestinal (TGI), ou por sofrer efeito de primeira passagem no fígado. Faz-se necessário o uso de um parâmetro que expresse a parcela do fármaco que chega, de fato, à circulação sistêmica e que está disponível para exercer o efeito terapêutico. 4 A biodisponibilidade é o parâmetro farmacocinético que avalia a velocidade e a quantidade de fármaco que chega à circulação sistêmica quimicamente inalterado e que pode exercer o efeito terapêutico. Por exemplo, se 100 mg de um fármaco forem administrados por via oral e 70 mg desse fármaco forem absorvidos inalterados, a biodisponibilidade será 0,7 ou 70%. Desse modo, a biodisponibilidade indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina. A determinação da biodisponibilidade é feita pela comparação dos níveis plasmáticos do fármaco depois de um via particular de administração com os níveis plasmáticos do fármaco obtidos por injeção IV, na qual todo o fármaco entra na circulação rapidamente (biodisponibilidade de 100%). Fatores que interferem na distribuição: Metabolismo de 1º passagem Solubilidade e características físico químicas do fármaco Permeabilidade por barreiras espessas Fluxo sanguíneo Ligação com proteínas plasmáticas Metabolismo de primeira passagem • Quando um fármaco é absorvido a partir do TGI, ele entra na circulação portal antes de entrar na circulação sistêmica. Se o fármaco é rapidamente biotransformado pelo fígado, a quantidade de fármaco inalterado que tem acesso à circulação sistêmica diminui. Lembrando que o fígado é o principal órgão em que ocorre o metabolismo de primeira passagem, entretanto, este também pode ser efetuado pelo intestino e pelo pulmão. 5 Solubilidade e características físico-químicas do fármaco • Fármacos muito hidrofílicos são pouco absorvidos devido à sua inabilidade em atravessar as membranas celulares ricas em lipídeos. Já os fármacos extremamente hidrofóbicos são também pouco absorvidos, pois são totalmente insolúveis nos líquidos aquosos do organismo e, portanto, não têm acesso à superfície das células. Para que um fármaco seja bem absorvido, ele deve ser basicamente hidrofóbico, mas ter alguma solubilidade em soluções aquosas. Essa é uma das razões pelas quais vários fármacos são ácidos fracos ou bases fracas, em outras palavras, quanto mais lipossolúveis, mais facilmente atravessam as membranas endoteliais dos vasos em direção aos tecidos. Além disso, fármacos polares e com alto peso molecular dificilmente atravessam a membrana endotelial, assim, a velocidade de distribuição torna-se limitada. Permeabilidade por barreiras espessas • Na Barreira Hemato-Encefálica (BHE), as células endoteliais são sobrepostas de modo que para passar por esta barreira, as moléculas têm que ser altissimamente solúveis e com peso molecular muito reduzido. Fluxo sanguíneo • A velocidade do fluxo sanguíneo nos tecidos capilares varia bastante como resultado de uma distribuição desigual do débito cardíaco aos vários órgãos. O fluxo sanguíneo para o cérebro, para o fígado e para os rins é maior do que para os músculos esqueléticos, sendo que o tecido adiposo recebe fluxo ainda menor. Esse diferencial explica parcialmente a curta duração da hipnose produzida por um bolus de injeção IV de tiopental. O elevado fluxo sanguíneo, juntamente com a elevada lipossolubilidade do tiopental, permite a esse fármaco mover-se de modo rápido para o sistema nervoso central (SNC) e produzir anestesia. Ligação com proteínas plasmáticas • A ligação reversível às proteínas plasmáticas sequestra os fármacos de forma não difusível e retarda sua transferência para fora do compartimento vascular. A ligação é relativamente não seletiva com a estrutura química e acontece em locais de proteína onde em geral se ligam compostos endógenos como a bilirrubina. A albumina plasmática é a principal proteína ligadora e pode atuar como uma reserva de fármaco, pois, à medida que a concentração do fármaco livre diminui, devido à eliminação por biotransformação ou excreção, o fármaco ligado se dissocia da proteína. Isso mantém a concentração de fármaco livre como uma fração constante do fármaco total no plasma, ou seja, a ligação às proteínas funciona como um “depósito temporário”, que apesar de diminuir a intensidade do efeito, prolonga a duração deste, por retardar a eliminação. 6 Fármaco LIVRE Efeito terapêutico Fármaco LIGADO À PROTEÍNA "Depósito temporário" O fármaco, quando está ligado à proteína plasmática, não consegue sair do vaso sanguíneo e ir para o tecido, onde exercerá seu efeito terapêutico, por isso a ligação funciona como um “depósito”. Assim, a forma responsável pelo efeito terapêutico é a forma livre. Um fármaco que apresenta alta ligação a proteínas plasmáticas apresenta efeito menos intenso e mais duradouro e uma eliminação mais lenta, já os fármacos com baixa ligação a proteínas apresentamefeito mais intenso e menor duração e é eliminado mais rapidamente. Baixa ligação à proteínas Efeito mais intenso Menor duração Rápida Eliminação Alta ligação à proteínas Efeito menos intenso Efeito mais duradouro Eliminação mais lenta • Os fármacos ÁCIDOS, geralmente, ligam-se à albumina; • Os fármacos BÁSICOS, geralmente, ligam-se à Alfa-1-glicoproteína-ácida. 7 Fatores que interferem na disponibilidade da forma livre do fármaco: Desnutrição • Na desnutrição, há hipoalbuminemia, e, portanto, aumenta a fração livre do fármaco -> efeitos mais intensos; Envelhecimento • Diminui a quantidade de albumina -> Aumenta fração livre -> Efeitos mais intensos; Doença Renal ou hepática • Diminui a síntese de proteínas -> Aumenta fração livre -> Efeitos mais intensos; Competição entre fármacos (fármacos competindo pela mesma proteína) • O fármaco que tiver maior afinidade pela proteína “expulsa” o outro, sendo que este fica livre e com efeitos potencializados. APRENDENDO NA PRÁTICA QUESTÃO: Um determinado paciente, que tem insuficiência hepática provocada por uma esteatofibrose progressiva, ao realizar exames de acompanhamento, identificou hipoalbumineima. A partir dessas informações clínicas, assinale a alternativa correta: a) O aumento dos níveis de albumina no sangue deste paciente poderá aumentar o risco de intoxicação na utilização de fármacos ácidos. b) Esta condição clínica poderá expor o paciente ao risco de lesões renais e dificuldade de eliminação de fármacos, pois proteínas são macromoléculas de alto peso molecular e isso dificulta a filtração glomerular dos fármacos. c) A albumina é uma proteína do sangue que tem afinidade de ligação química por fármacos ácidos, sendo assim, esta condição do paciente poderá diminuir a eficácia de um tratamento farmacológico com fármacos ácidos fracos e aumentar o efeito de fármacos bases fracas. 8 d) A albumina é uma proteína do sangue que tem afinidade de ligação química por fármacos bases fracas, sendo assim esta condição clínica do paciente, poderá aumentar o efeito de todos os fármacos. e) A albumina é uma proteína do sangue que tem afinidade de ligação química por fármacos ácidos, sendo assim, esta condição clínica do paciente poderá aumentar o efeito farmacológico, pois aumentará as formas livres do fármaco em relação aos fármacos ligados às proteínas plasmáticas. RESPOSTA: E O que pode alterar o volume de distribuição de fármacos? • Constituição física • Idade • Patologia Qual proteína plasmática tem maior afinidade por fármacos ácidos? • Albulmina Qual proteína plasmática tem maior afinidade por fármacos ácidos? • Alfa-1-glicorpoteína-ácida Essa foi a nossa aula de Fundamentos de Farmacocinética: Distribuiçao Um abraço, Professor Rodrigo Taminato
Compartilhar