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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA A INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO DESVIANTE DOS ADOLESCENTES COMO FACTOR MOTIVACIONAL NO COMETIMENTO DE CRIME (Caso: Remar - Centro Cristã de Reabilitação e Reinserção de pessoas Marginalizadas) Autor: João Afonso Manuel Tandala Tutor: José da Costa Alcântara Berdinardinel Pedro, Ph.D. Trabalho apresentado para a obtenção do grau de Licenciatura em Psicologia, opção: Psicologia Criminal. Luanda, 2020 UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA A INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO DESVIANTE DOS ADOLESCENTES COMO FACTOR MOTIVACIONAL NO COMETIMENTO DE CRIME (Caso: Remar - Centro Cristã de Reabilitação e Reinserção de pessoas Marginalizadas) Autor: João Afonso Manuel Tandala Trabalho de fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais da UAN como requisito para obtenção do grau de licenciatura em Psicologia Criminal, orientado pelo Professor Doutor José da Costa AlcântaraBerdinadinel Pedro, Ph.D. Luanda, 2020 VI ÍNDICE Dedicatória...................................................................................................................... IX Agradecimentos ................................................................................................................ X Resumo ........................................................................................................................... XI Abstract .......................................................................................................................... XII Lista de Tabelas ............................................................................................................ XIII Lista de Gráficos .......................................................................................................... XIV INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12 Identificação do Problema .............................................................................................. 13 Justificação do Estudo .................................................................................................... 14 a) Motivação: ................................................................................................................. 14 b) Importância: .............................................................................................................. 14 c) Actualidade: ............................................................................................................... 15 Objectivos do Estudo ...................................................................................................... 15 Objectivo Geral: ............................................................................................................. 15 Objectivos Específicos: .................................................................................................. 15 Hipóteses de Pesquisa ..................................................................................................... 16 Variáveis de Pesquisa ..................................................................................................... 16 Variável Dependente: ..................................................................................................... 16 Variável Independente: ................................................................................................... 16 Variáveis Sócio-demográficas: ....................................................................................... 16 Delimitação e Limitação do Estudo ............................................................................... 17 Metodologia de Pesquisa ................................................................................................ 17 Método de Pesquisa ........................................................................................................ 17 Abordagem Quantitativa................................................................................................. 18 Tipo de Pesquisa ............................................................................................................. 18 Pesquisa Descritiva ......................................................................................................... 18 VII Pesquisa Bibliográfica .................................................................................................... 18 Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados .............................................................. 19 Questionário ................................................................................................................... 19 Instrumentos ................................................................................................................... 19 População e Amostra ...................................................................................................... 20 População ....................................................................................................................... 20 Amostra .......................................................................................................................... 20 Procedimentos Éticos ..................................................................................................... 20 CAPÍTULO I: ABORDAGEM TEÓRICA CONCEPTUAL SOBRE O COMPORTAMENTO DESVIANTE ............................................................................ 22 1.1. Breve Historial sobre o Comportamento Desviante ................................................ 22 1.2. Definição de Termos e Conceitos ............................................................................ 23 1.3. Teorias Explicativas do Comportamento Desviante ............................................... 25 1.3.1. Teoria do Vínculo Social de Hirschi .................................................................... 25 1.3.2. Teoria de Aprendizagem Social de Albert Bandura ............................................. 27 1.3.3. Teoria da Rotulangem de Labelling Aproach....................................................... 29 1.4. Factores Motivacionais do Comportamento Desviante nos Adolescentes .............. 31 1.4.1. Factores Biológicos: ............................................................................................. 31 1.4.2. Factores Psicológicos: .......................................................................................... 32 1.4.2. Factores Sociais: ................................................................................................... 34 1.5. Normas e Desvio ..................................................................................................... 39 1.5.1. Desvio e Crime ..................................................................................................... 39 1.7. Diferentes Comportamentos Desviantes nos Adolescentes..................................... 40 1.7.1. Comportamento Estranho ..................................................................................... 41 1.7.2. Comportamento Inadequado................................................................................. 41 1.7.3. Comportamento Adequado ................................................................................... 41 1.8. Tipos de Crimes Cometidos pelos Adolescentes ..................................................... 41 VIII 1.9. Consequências Psicossociais do Comportamento Desviante nos Adolescentes ..... 42 1.8.1. Estigmatização ...................................................................................................... 42 1.9.2. Preconceito e Discriminação ................................................................................43 1.9.3. Prisão (Julgados de menores) ............................................................................... 44 1.10. O Papel do Psicólogo Criminal para Minorar o Impacto do Comportamento Desviante ........................................................................................................................ 45 CAPÍTULO II: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................................................................. 47 2.1. Caracterização do Local de Pesquisa....................................................................... 47 2.2. Apresentação dos Resultados .................................................................................. 48 2.3. Apresentação das Variáveis Socio-demográficas dos Sujeitos ............................... 48 2.4. Distribuição da amostra com base as perguntas ...................................................... 50 2.5. Discussão dos Dados ............................................................................................... 61 SUGESTÕES ................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 67 APÊNDICES .................................................................................................................. 76 ANEXOS ........................................................................................................................ 76 IX Dedicatória “À minha querida mãe Emília Manuel Júnior, aos meus irmãos Isabel Pedro Kiangala, Moisés Afonso Manuel Tandala. A vossa presença durante esta jornada tornou tudo mais fácil. Gratidão eterna”.“Ao eterno pai Afonso Tandala Neto «in memory» que sempre foi o motivo da minha caminhada”. X Agradecimentos Primeiramente, agradeço a Deus pai todo poderoso por ser a origem da minha sabedoria e por me conceder saúde, paz, amor, sapiência e por iluminar os meus caminhos. Agradeço as minhas queridas mães Emília Manuel Júnior, Linda Manuel Garcia e Isabel Manuel Garcia pelo apoio manso, carinhoso na minha caminhada. Ao pai Miranda Pedro os meus agradecimentos. Aos meus irmãos Moisés Afonso Manuel Tandala, Isabel Pedro Kiangala, Manuel Pedro Kiangala, Francisco Daniel Mateus, Cristina Daniel Mateus, Domingos Daniel Mateus, Martana Daniel Mateus, Claúdia Mbenza Eduardo, Pedro Júnior Miranda, António Júnior Miranda, António Manuel Garcia que sempre me apoiaram, em momento difíceis estiveram comigo. À minha querida Miss mexicana, Maura Laurindo meu amor que sempre sobe dar o seu apoio. Aos meus padrinhos André Mateus Sebastião e Maria da Felicidade Aurélio Tussamba Sebastião. Sem esquecer também a Maria Tietie João, António Mário, Lourenço Damala, Claúdio dos Santos e a todos aqueles que me apoiarão de forma direita ou indirectamente os meus profundos agradecimentos. À Faculdade de Ciências Sociais / UAN, especificamente ao Departamento de Psicologia. Á Drª Helena Veloso com os conhecimentos de Freud - Psicanálise, Drª Maria Adelina Alberto com a Psicologia Geral - Behaviorismo, Dr. Pascoal Luduvino Neto com a Orientação Vocacional, a Drª Catarina Nunda com a Teoria de campo - Kurt Lewin, ao Professor Mário de Lemos com a Criminologia entre outros saberes, Professor Catarino Luamba com a Psicologia da Educação. Ao Dr. Aníbal Simões pela transmissão do saber metodológicos de investigação qualitativa e quantitativa. Á “Família Criminal” meus colegas Joel Matondo, Amarildo da Costa, Victor da Rosa, Moniz Kialunda, Iveth da Laura, Jacira Chicola, Niceth Chivela, Lourena Muginga, Biatriz Dambi, Victoria Sapalalo, Israel Paulo e Laurindo António. Em síntese, ao meu tutor Dr. José Alcântara Pedro, um dos impulsionadores nesta especialidade, onde os conhecimentos são como as fontes do rio que só escorrem tipo água e por ter robustecido a minha enciclopédia sapiêncial. XI Resumo O presente trabalho tem como objectivo compreender os factores motivacionais que influenciam o comportamento desviante dos adolescentes no cometimento de crime. O trabalho baseou - se na Teoria do Vínculo Social de Hirschi, Teoria de Aprendizagem Social de Albert Bandura e Teoria da Rotulagem de Labelling Aproach. O estudo foi de natureza quantitativa que teve como técnica de recolha de dados o questionário. E efectuou-se a Pesquisa Bibliográfica e Descritiva, onde analisamos os aspectos de ralação, de equilíbrio e de comunicação com os objectivos que obtemos através do software estatístico SPSS, a fim de fazermos uma correlação estatística da influência do comportamento desviante dos adolescentes como factor motivacional no cometimento de crime. Participaram no presente trabalho 30 adolescentes da Remar, que representa os 100% da amostra com idade média 15,44 (15 anos) tendo como idade mínima 12 anos e a máxima de 17 anos, repartidas conforme, Género, a Idade, Estado Civil e o Nível Académico. Conclui-se que a desestruturação familiar, o consumo de substâncias psicoactiva, exclusão social e a pobreza, pois foram apontadas pelos inquiridos como um dos principais factor motivacional que influência o comportamento desviante dos adolescentes no cometimento de crime. Também a falta de vínculo e envolvimento dos pais nas actividades do adolescente, influência ao comportamento desviante motivando o adolescente ao cometimento de crime. Todavia, o comportamento desviante pode levar o adolescente a estigmatização, preconceito e descriminação ou até mesmo ao processo de privação de liberdade (julgados de menores). Palavras-chave: Comportamento desviante, Adolescente, Motivação e Crime. XII Abstract The present work aims to understand the motivational factors that influence the deviant behavior of adolescents in committing a crime. The work was based on Hirschi 's Social Link Theory, Albert Bandura' s Social Learning Theory and Labeling Approach Theory of Labeling. The study was quantitative in nature, using the questionnaire as a technique for data collection. And a bibliographic and descriptive research was carried out, where we analyzed the aspects of grating, balance and communication with the objectives we obtained through the statistical software SPSS, in order to make a statistical correlation of the influence of the deviant behavior of adolescents as a motivational factor. in committing a crime. Thirty Remar adolescents participated in this study, which represents the 100% of the sample with an average age of 15.44 (15 years), with a minimum age of 12 years and a maximum of 17 years, divided according to Gender, Age, Marital Status and the Academic Level. It is concluded that family breakdown, consumption of psychoactive substance, social exclusion and poverty, as they were pointed out by the respondents as one of the main motivational factors that influence the deviant behavior of adolescents in committing a crime. Also the lack of attachment and parental involvement in the adolescent's activities, influence to deviant behavior motivating the adolescent to commit a crime. However, deviant behavior can lead adolescents to stigmatization, prejudice and discrimination or even to the process of deprivation of liberty (judged by minors). Keywords: Deviant behavior, Adolescent, Motivation and Crime. XIII Lista de Tabelas APRESENTAÇÃO DAS VARIÁVEIS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DOS SUJEITOS Tabela nº 1-Distribuição da amostra segundo a idade...............................................…..48 Tabela nº 2 -Distribuição da amostra segundo o género............................................….48 Tabela nº 2 - Distribuição da amostra segundo o estado civil.........................................49Tabela nº 3 - Distribuição da amostra segundo o nível académico.................................49 DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA COM BASE AS PERGUNTAS Tabela nº 1 - O consumo de bebidas alcoólica sem regras me levou a ter o comportamento desviante......................................................................................…......50 Tabela nº 2 - Eu não segui regras em minha casa e fui excluído em certos grupos e o baixo nível de vida levou-me ao comportamento desviante............…………................…………51 Tabela nº 3 - A falta de vínculo e regras entre os meus pais levou-me ao comportamento desviante..................................................................................................................…....52 Tabela nº 4 - Eu não me sinto bem onde há regras..........................................................53 Tabela nº 5 - Onde há regras eu apresento comportamento estranho..............................54 Tabela nº 6 - O grau de comportamento desviante que eu apresento me leva a cometer crime................................................................................................................................55 Tabela nº 7 - Já cheguei ao grau de ser mal visto e falado por ter apresentado comportamento desviante................................................................................................56 Tabela nº 8 - Já foi rejeitado em diversos locais por apresentar um grau de comportamento desviante.........................................................................................…...57 Tabela nº9 - Quando há mais regras em casa me leva e cometer crime.........................................................................................................................…...58 Tabela nº 10 - O comportamento desviante já me levou ao grau de eu ser privado a liberdade............................................................................................................................59 XIV Lista de Gráficos APRESENTAÇÃO DAS VARIÁVEIS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS Gráfico nº 1-Distribuição da amostra segundo o género............................................….48 Gráfico nº 2 - Distribuição da amostra segundo o estado civil..................................…..49 Gráfico nº 3 - Distribuição da amostra segundo o nível académico...........................….50 DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA COM BASE AS PERGUNTAS Gráfico nº 1 - O consumo de bebidas alcoólica sem regras me levou a ter o comportamento desviante..........................................................................................…..51 Gráfico nº 2 - Eu não segui regras em minha casa e fui excluído em certos grupos e o baixo nível de vida levou-me ao comportamento desviante............…………................…………52 Gráficonº 3 - A falta de vínculo e regras entre os meus pais levou-me ao comportamento desviante.............................................................................…………...53 Gráfico nº 4 - Eu não me sinto bem onde há regras........................................................54 Gráfico nº 5 - Onde há regras eu apresento comportamento estranho............................55 Gráfico nº 6 - O grau de comportamento desviante que eu apresento me leva a cometer Gráfico.............................................................................................................................56 Gráfico nº 7 - Já cheguei ao grau de ser mal visto e falado por ter apresentado comportamento desviante................................................................................................57 Gráfico nº 8 - Já foi rejeitado em diversos locais por apresentar um grau de comportamento desviante............................................................................................…58 Gráficonº9 - Quando há mais regras em casa me leva e cometer crime.........................................................................................................................…...59 Gráfico nº 10 - O comportamento desviante já me levou ao grau de eu ser privado a liberdade............................................................................................................................60 12 INTRODUÇÃO O presente trabalho diz respeito a uma investigação que se realizou na Remar, subordina-se ao tema: “A influência do comportamento desviante dos adolescentes como factor motivacional no cometimento de crime”. Estamos a falar de um conjunto de aspectos que de alguma forma isolam ou afastam o indivíduo da coexistência social. O estudo em referência foi realizado no âmbito da obtenção do grau de licenciatura em Psicologia Criminal na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto. É um tema que se enquadra na Psicologia Criminal e em Sociologia do Crime. Desde os tempos remotos, as normas sociais sempre existiam a fim de normalizar a vida social. Actualmente, as suas essências mantêm-se. No entanto, quando nascemos, os nossos pais nos ensinaram por meio da socialização o certo e o errado; bem como fomos preparados para vivermos em sociedade. Mas nem todos conseguem interiorizar certas normas, princípio ou as regras sociais, culminando o que chamamos de desvio ou comportamento desviante. Segundo Hirschi (1969), a falta de apego e de uma vinculação firme à sociedade (família, escola e igrejas), sobretudo com os pais, poderá favorecer o adolescente para a prática de comportamentos desviantes. Quanto mais sólidos forem os laços que o indivíduo possui no seio familiar, e quanto maior forem a sua conformidade e consenso para com a sociedade, menos levará a influenciar para desviar-se das normas sociais. Becker (1963) defende que, o desvio é criado pelas reacções de pessoas a tipos particulares de comportamentos, pela rotulação desses comportamentos como desviantes. Devemos também ter em mente que as regras criadas e mantidas por essa rotulação não são universalmente aceites. Ao contrário, constituem objecto de conflito e divergências, da parte do processo político da sociedade. Dai que o ser humano, quando é inserido nos diferentes grupos sociais, oferece- lhes toda a complexidade que o caracteriza e que está na sua natureza. Todavia, a forma de apresentação da adolescência é muito controversa, porque é onde o indivíduo começa a descobrir o seu ego por intermédio da formação da sua imagem. Teorias como de Erikson (1994), no processo de desenvolvimento da adolescência identificam essa fase da adolescência, com confusão de papéis e 13 dificuldades de estabelecer uma identidade própria. Como um período que passou a ser quase um modo de vida entre a infância e a idade adulta. De acordo com Bandura (1989), a aprendizagem desempenha um papel importante nesse processo, visto que, todo comportamento apreendido é influenciado através de comportamentos observados, por esta razão, muitas famílias influenciam seus filhos ao comportamento desviante. Este mesmo comportamento leva o adolescente ao cometimento de transgressão. Logo, a família perde o controlo total do filho. Todavia, a família e a escola exercem um papel crucial no crescimento de um adolescente. Se ele tiver uma boa educação, será difícil desviar-se de certos comportamentos impróprios. A importância da família na vida do indivíduo é imensurável, uma vez que, é a partir dela que o adolescente adquiri os primeiros conceitos que formarão os pilares do seu carácter e servindo de orientação para os caminhos a serem trilhados em toda a sua trajectória de vida. Sendo a família, conhecida como um agente socializador que tem como principal objectivo de velar pela segurança e bem estar do adolescente. Portanto, todo adolescente tem direito de ser criado e educado no seio da sua família. Diante deste estudo, pretendemos elucidar a sociedade em geral sobre os problemas que advêm do comportamento desviante, mas sabendo que estecomportamento acaba desestruturando a personalidade do adolescente e condicionar a vida social dos mesmos. No decurso da leitura, o leitor terá a oportunidade de conhecer de que forma o comportamento desviante pode motivar no cometimento de crime. Os comportamentos desviantes nos adolescentes, tipos de crimes cometidos pelos adolescentes e de que forma o psicólogo criminal poderá actuar para minorar o impacto do comportamento desviante. Identificação do Problema Tendo em conta a política criminal do nosso país, o comportamento desviante por parte dos adolescentes tem se tornando um problema muito grave e com consequências preocupantes na sociedade nos últimos anos. “Os adolescentes, geralmente acabam por tomar atitudes por conformismo ou obediência, ou seja, por pressão social directa ou indirecta do grupo a que pertence com subcultura específica. Uma pessoa acaba por mudar o seu comportamento para seguir as crenças e os valores desses mesmos grupos” (Cusson, 2011). Entretanto, em Angola nenhuma sociedade 14 pode ser repartida de um modo simples, entre aquelas que se desviam das normas e aqueles que agem de acordo com elas. Porém, de acordo alguns estudos feitos sobre o comportamento desviante, a família pode controlar e prevenir o comportamento desviante numa sociedade. A família apesar de todas as mudanças a que tem sido sujeita na sua estrutura, papel e funções ao longo do tempo, toda via continua a desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento dos adolescentes e sua integração na sociedade. Esta constitui, assim, um espaço crucial de intervenção junto do adolescente que pode monitorar e precaver a delinquência. Por estes motivos, os problemas do comportamento desviante no mundo e em particular Angola, tornaram-se preocupações nas autoridades competentes. Mas do que as condições sócio-económicas a falta de vinculação e interacção entre pais e filhos. Daí a nossa pergunta de investigação: Qual é a influência do comportamento desviante dos adolescentes no cometimento de crime? Justificação do Estudo Abordar sobre o comportamento desviante dos adolescentes na nossa sociedade como se sabe, é tratar de um problema de carácter importante, porque leva consigo determinados componentes que de alguma forma desestabilizam a própria personalidade do indivíduo. a) Motivação: O tema do presente estudo foi escolhido por razões essencialmente académica, já que como estudante de Psicologia Criminal, também nos preocupamos com as vulnerabilidades psicossociais do comportamento desviante nos adolescentes. Daí a necessidade que nasceu para saber de que forma o comportamento desviante dos adolescentes influencia no cometimento de crime. b) Importância: O presente tema é importante ao nível da Psicologia Criminal e Sociologia do crime. Quer a nível teórico, quer a nível prático. À nível teórico, o tema é importante, porque vai se aplicar os conhecimentos teóricos apreendidos e relaciona-la no nosso contexto. Com este estudo, vamos poder 15 examinar os adolescentes que fazem parte de um grupo e não só, com o qual se identifica. Neste grupo tem um papel fundamental enquanto indivíduo social. Sob o ponto de vista prático, o tema é importante, pois pode preparar os integrantes do sistema de justiça para questões emocional que está adjacente ao trâmite de um processo desde a fase informativa até a fase final ou sentença do caso. c) Actualidade: O estudo cujo projecto é actual por duas razões: Em primeiro lugar, pelo facto de ser objecto de estudo em vários países, como: Brasil, Portugal e Angola. Em segundo lugar, este é um facto que lentamente vai aumentado o seu número nas estatísticas, especialmente na faixa etária dos adolescentes, o que o transforma num problema social preocupante não só pelos efeitos sobre a pessoa que o comete, como também pelas consequências psicossociais nefastas que pode provocar nos familiares e pessoas próximas ao comportamento desviante. Objectivos do Estudo Para Marconi e Lakatos (2003), o objectivo geral “está ligado a uma visão global e abrangente do tema. Relaciona-se com o conteúdo intrínseco, quer dos fenómenos e eventos, quer das ideias estudadas. Vincula-se directamente à própria significação da tese proposta pelo projecto”. Para os autores, o objectivo específico “apresentam carácter mais concreto. Têm função intermediária e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o objectivo geral e, de outro, aplicá-lo a situações particulares” (p. 219). Como toda pesquisa requer de um ou mais objectivos, na tentativa de responder a nossa pergunta de partida, decidimos elaborar os seguintes objectivos: Objectivo Geral: Compreender os factores motivacionais que influenciam o comportamento desviante dos adolescentes no cometimento de crime. Objectivos Específicos: Identificar os factores motivacionais do comportamento desviante dos adolescentes; 16 Descrever os diversos comportamentos desviantes e os tipos de crimes cometidos pelos adolescentes; Apresentar as consequências do comportamento desviante dos adolescentes; Traçar o perfil dos adolescentes com comportamento desviante. Hipóteses de Pesquisa De acordo com Gil (2008, p. 41) “hipótese é uma suposta resposta ao problema a ser investigado. É uma proposição que se forma e que será aceita ou rejeitada somente depois de devidamente testada”. Essas sugestões podem ser a solução para o problema. Tendo em consideração a nossa pergunta de partida que apresentamos mais acima, formulamos as seguintes hipóteses: H1: Desestruturação familiar e o consumo de substâncias psicoactiva podem levar o adolescente ao comportamento desviante e cometer crime; H2: A falta de vínculo e envolvimento dos pais no adolescente influência ao comportamento desviante. H3: O comportamento desviante pode levar o adolescente a estigmatização, preconceito e descriminação ou até mesmo a privação de liberdade (julgados de menores). Variáveis de Pesquisa Na visão de Marconi et al. (2003,p. 204.), variáveis “é uma classificação, medida ou quantidade que varia. Um conceito operacional, que na qual apresenta valores sobre o objecto de estudo possíveis de mensuração”. Temos assim as seguintes variáveis: Variável Dependente: Comportamento desviante nos adolescentes. Variável Independente: Falta de diálogo no seio familiar, consumo de substâncias psicoativas e influência dos amigos. Variáveis Sócio-demográficas: Idade; Género; Estado Civil; Nível de Escolaridade; 17 Delimitação e Limitação do Estudo Delimitação: O nosso estudo realizou-se em Luanda, concretamente na Remar – (Centro Cristã de Reabilitação e Reinserção de pessoas Marginalizadas) num espaço temporal compreendido entre os meses de Junho de 2019 à Março de 2020. Diante da pesquisa, trabalhou-se com adolescentes dos 12 aos 17 de idade, com comportamento desviante como factor motivacional no cometimento de crime, aonde aplicamos o questionário com finalidade de obter os dados relacionados ao tema. Limitação: Os estudos sobre comportamento desviante nos adolescente é sem dúvida muito complexa e abrangente, uma vez que só é possível determinar deste facto se tivermos em consideração o comportamento da pessoa durante as interacções, no entanto, podemos dizer uma das limitações do nosso estudo é o facto de que os indivíduos não se disponibilizarem de imediato perante a investigação deste comportamento desviante, e por existirem poucos artigos publicados sobre comportamento desviante. Tendo em conta a nossa pesquisa também encontramos as seguintes limitações: dificuldades financeiras, carências bibliográficas, dificuldade na obtenção das respostas por parte da instituição e do próprio inquerido. Metodologia de Pesquisa Prodanov e Freitas (2013, p. 14) a Metodologia é compreendida como uma “disciplina quese traduz em estudar, compreender e avaliar os vários métodos acessíveis para a realização de uma pesquisa académica”. Ela, em um nível aplicado, analisa, descreve e avalia métodos e técnicas de pesquisa que facultam a colecta e o processamento de informações, tendo em vista ao encaminhamento e à resolução de problemas ou questões de investigação. Método de Pesquisa Importa desde já dizer que assim afirma os autores que “os métodos de investigação traduzem e harmoniza-se com os diferentes fundamentos filosóficos que suportam as preocupações e as orientações de uma investigação” (p.15). Neste trabalho utilizamos a metodologia quantitativa. 18 Abordagem Quantitativa O método quantitativo “é entendido como um método que se caracteriza pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de colecta e de informações, quanto no tratamento desta por meio de técnica estatísticas, desde as mais simples até as mais complexas” (Richardson 1989). Na visão de Freixo (2012, p. 171), “a investigação quantitativa constitui um processo sistemático de colheita de dados observáveis e quantificáveis baseados na observação de factos objectivos, de acontecimentos e de fenómenos que existem independentemente do investigador”. Já Prodanov et al. (2013, p. 76), “neste tipo de metodologia tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em número opiniões e informações para classificá-las e analisar”. Propõe o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação). Tipo de Pesquisa Mediante das variedades dos tipos de pesquisa que a metodologia quantitativa apresenta, para o nosso trabalho em função da temática e dos objectivos preconizados, utilizamos a pesquisa descritiva e a pesquisa bibliográfica. Pesquisa Descritiva Pesquisa descritiva “é aquela que descreve um fenómeno e o registra a maneira que ocorre e, também como experimental quando há interpretações e apresentações e avaliações na aplicação de determinados factores ou simplesmente dos resultados já existentes dos fenómenos” (Hymann, 1967). De acordo Prodanov et al.(2013, p. 53), Pesquisa descritiva “quando o pesquisador apenas registra e descreve os factos observados sem interferir neles. Visa a descrever as características de determinada população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de colecta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de Levantamento”. Pesquisa Bibliográfica De acordo com Gil (2008, p. 50), a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituindo principalmente de livros e artigos 19 científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas”. A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, “abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contacto directo com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas” Marconi et al. (2003,p. 204). Usamos o método estatístico dedutivo. Na perspectiva de, Freixo (2012 p. 85) “parte da regra geral, da teoria, a que se chega mediante a razão e a partir dela se deduzir consequências lógicas aplicáveis à realidade. Desta forma, possibilita-nos identificar, descrever e compreender através das leituras consultadas e, da colecta e análise dos dados”. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados Para recolha dos dados da nossa pesquisa utilizamos o questionário, visto que, é o elemento fulcral e indispensável na metodologia quantitativa. Questionário Questionário “é um instrumento de colecta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador”. (Marconi et al. 2003). Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o pesquisado devolve-o do mesmo modo. Assim sendo, este questionário aplicou-se aos adolescentes da Remar. Instrumentos Alguns instrumentos usados: computador, lapiseira, pen-drive, impressora, folha A4 etc... 20 Plano de Tratamentos de Dados Importa-nos dizer que para o tratamento de dados no trabalho referido utilizou- se o software SPSS. No entanto, usamos questionário e, posteriormente, passamos no programa Word e Excel, inseridos no software SPSS. População e Amostra População Para Marconi et al. (2003, p.32), “população é um conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam características comuns”. É um conjunto de indivíduos com características comuns, onde se extrai a amostra. A população do nosso estudo é constituída por 65 indivíduos da Remar. Amostra De acordo com Lopes (2006, p.33) “amostra é a fracção ou pequena parte da população de um estudo científico na qual através de critérios determinados faz-se a demonstração do universo do estudo científico para demonstrar um todo”. Refere-se ao subconjunto do universo da população, por meio do qual estabelecemos as características desse universo ou dessa população. A nossa amostra de estudo é fixada a 30 indivíduos da mesma instituição supracitada. Procedimentos Éticos Durante a nossa pesquisa, os adolescentes foram informados sobre os objectivos e a importância do estudo em causa e dos instrumentos que utilizamos. É importante para que se salvaguarde a intimidade das pessoas envolvidas na investigação, porque a intenção do estudo não é causar danos, tais como: psicológicos, morais ou a saúde física dos mesmos. Confidencialidade: Correlação ao nosso estudo, explicamos aos adolescentes, estamos a inqueri-los no sentido de nos facultar informações sobre a pesquisa “A influência do comportamento desviante dos adolescentes como factor motivacional no cometimento de crime”, no contexto de uma investigação para o grau de Licenciatura; 21 Consentimento: Antes de tudo referimos que não é obrigatório participar do estudo, após dos objectivos, contudo, alguns adolescentes consentiam em participar do nosso estudo. Estrutura do Trabalho Neste trabalho, abordamos aspectos como a introdução, a justificativa, a problemática, os objectivos, as hipóteses, a delimitação e limitação do estudo e Metodologia da pesquisa. O mesmo está estruturado em II Capítulos. I Capítulo, abordamos sobre abordagem teórica conceitual do comportamento desviante, definimos os termos e conceitos, este apresenta às discussões de diferentes autores que já debruçaram concernente à temática e posteriormente as teorias que darão sustentabilidade ao trabalho. II Capítulo, abordamos sobre análise, interpretação e discussão dos dados. Consta a caracterização do local de pesquisa e apresentação, onde buscou-se fazer a justificativa da metodologia usada no corpo da pesquisa. Por fim, as conclusões, sugestões, bibliografia utilizada, assim como os anexos e apêndices que reforçam a compreensão da informação pesquisada. 22 CAPÍTULO I: ABORDAGEM TEÓRICA CONCEPTUAL SOBRE O COMPORTAMENTO DESVIANTE Após termos esmiuçado sobre a natureza da pesquisa, vamos tratar no presente capítulo sobre a abordagem teórica conceptual do comportamento desviante. 1.1.Breve Historial sobre o Comportamento Desviante Do ponto de vista histórico, o estudo do comportamento desviante sempre teve atenção de vários autores,desde o século XX, no EUA, sempre preocupou vários teóricos como psicólogos, sociólogos, até mesmo os criminólogos. Os mesmos estudos eram importantes para se entender sobre o desvio “comportamento desviante” que se distinguia como loucura “doença mental” ou normalidade (Becker, 1963). Daí surgiu várias teorias ou escola para interpretação dos maus actos, no que estava na base de comportamentos agressivos. É nesta perspectiva que alguns autores já demonstravam preocupação com o comportamento que antecede ao crime, “desvio”. “Todas as sociedades e grupos humanos dotados de certa permanência criam as suas próprias normas: regras de conduta cuja transgressão é passível de sanção. Por exemplo, as sociedades estabelecem regras de boa educação, cuja existência se revela no facto que os autores de actos considerados grosseiros merecerem reprovação e, em caso de persistência, o ostracismo”. (Cusson, 2011, p. 14). Em 2010, Giddens, vem com seus estudos relacionados com desvio, as suas ideias focalizam-se na personalidade humana, dizendo que, “o desvio parte de abordagens biológicas e psicológicas”. O mesmo afirma que, “a socialização sólida influencia ao comportamento desviante, como também certos comportamentos são hereditários”. Assim sendo, qualquer reflexão sobre os comportamentos desviantes nos adolescentes envolve antes de mais, uma tentativa de definição do próprio conceito de “comportamento desviante”. Admitir que a definição do conceito “comportamento desviante” envolve um elevado grau de relativismo e que é ambígua, suscitando, por isso, posições divergentes, contribui, no entanto, muito pouco para estabelecer o tipo e natureza dos problemas de que este capítulo vai ocupar. Uma das concepções mais divulgadas acerca do desvio define-se como um comportamento que se afasta 23 significativamente das normas, padrões de conduta e expectativas sociais estabelecidas por uma determinada cultura. (Bittencourt e Carmo, 2008, p. 45). Todos nós sabemos o que são desviantes, ou assim queremos crer. “Os indivíduos desviantes são aqueles que se recusam a viver de acordo com as regras seguidas pela maioria de nós, são criminosos violentos. Viciados em drogas ou marginas, que não se encaixam naquele conceito que a maioria das pessoas teriam, de padrões normais de aceitabilidade”. (Giddens, 2010, p. 172). No entanto, as coisas não são bem como parecem, uma lição que a sociologia nos ensina com frequência, nos estimulando a observar além dos limites do óbvio. Todavia, realidade angolana o comportamento desviante nos adolescente é muito frequente tendo em conta as normas vigentes em cada zona, porque se para os outros é errado, mas para o outro lado é certo. Dai que, comportamento desviante “é qualquer comportamento que envolve uma transgressão ou violação de normas e expectativas sociais ou que é considerado desviante por um grupo de indivíduos ou pela comunidade”. Desta maneira importa-nos realçar sobre os estudos realizados em Angola com adolescentes que apresentam comportamentos desviantes, mostraram relatos de histórias de vida com maus tratos, o consumo de bebidas alcoólicas, problemas de comunicação e de relação afectiva entre os adolescentes e às suas famílias. Sanches e Gouveira-Pereira (2010), associam ainda “os comportamentos desviantes a famílias com enormes carências de vários pontos de vista como sócio- económico, emocional, pobreza consequente do nível sócio-económico, o que acaba por resultar em exclusão por parte da sociedade”. Em síntese “os comportamentos desviantes, muitas vezes são resultados da dificuldade que os adolescentes sentem em ultrapassar os obstáculos inerentes a esta fase de desenvolvimento” (p. 89). 1.2.Definição de Termos e Conceitos Neste enfoque, estaremos a definir alguns conceitos cruciais do nosso estudo a fim de proporcionar uma desenvoltura na compreensão do tema, conceitos estes, que serão empregados no desenrolar de toda nossa abordagem. 24 Influência: etimologicamente a palavra “influência” tem origem no latim, Influentia que por sua vez tem origem em Influere cujo sufixo latim IN significa “movimento para dentro” (Retinere, 2016). De acordo Second e Backman (1964, p. 227) influência “ocorre quando se influência as acções de outra pessoa”, ou seja, podemos dizer que o comportamento de alguém foi influenciado socialmente quando ele se modifica na presença de outrem. Comportamento desviante: “são as acções daquele que se desvia das regras de um grupo social. Distingue-se das noções de crime, loucura (doença mental) ou anormalidade apenas pela metodologia própria de abordagem do tema” Carvalho (2000, p.38). Já Cloward e Ohlim (1960, p.37) “comportamento desviante é fruto de uma inadaptação social face aos valores e as normas com que são confrontados e posteriormente, a uma interiorização de determinados modos de agir e pensar característico de pertenças a subcultura específica”. Adolescência: “é uma etapa de desenvolvimento marcada por drásticas mudanças, tanto a nível físico, como a nível cognitivo e social”. (Ribeiro 2011, p.2) Assim, podemos compreender que adolescência é uma fase, caracterizada por grandes transformações entre a infância e a vida adulta. Para Braconnier e Marcelli (2005, p.111) “adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano que marca a passagem da infância à idade adulta, tornando-se como a idade da mudança”. Contudo, torna-se difícil definir claramente em que idade é que termina a infância e em que idade, tem início a idade adulta dado que estes limites variam, por exemplo, conforme a época e a cultura, o que torna a adolescência num fenómeno não transversal ao ser humano. Motivação: “é um construtor que se refere à orientação momentânea do pensamento, da atenção e da acção para um objecto percepcionado como positivo pelo indivíduo” Simas e Turvey (2014, p.151). Esta orientação activa ao comportamento englobam conceitos tão diversos como anseio, desejo, vontade, esforço, sonho, esperança entre outras. Na visão Robbins citado por Rosa (2010, p. 37), “a motivação se define como um processo de intensidade, direcção e persistência dos esforços de uma pessoa para o 25 alcance de uma determinada meta”. Embora, a motivação, de uma maneira geral se relacione ao esforço para atingir qualquer objectivo. Crime: de acordo o Código Penal angolano nomeadamente no artigo 1º deste instrumento jurídico define “crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal” (p.3). Para Santos citado por Fernandes (2012, p.39), crime “é o comportamento humano positivo ou negativo provocando, este, um resultado e que segundo o seu conceito formal, é a violação culpável da lei penal, constituindo assim, delito”. 1.3.Teorias Explicativas do Comportamento Desviante Neste tópico procuramos trazer as teorias que aparecem na literatura na tentativa de explicar o comportamento desviante, levando em conta os níveis de análise (individual, interpessoal, institucional e estrutural). De maneira geral faremos uso de três teorias com vistas a estabelecer a ligação com o tema. 1.3.1.Teoria do Vínculo Social de Hirschi É relevante iniciarmos por falar da Teoria do Vínculo Social de Hirschi, sendo uma das teorias principais para interpretação dos comportamentos desviantes. Segundo este autor, “ausência de laços e de uma vinculação firme à sociedade (família, escola e igrejas), sobretudo com os pais, poderá favorecer o indivíduo para a prática de comportamentos desviantes”. (citado por Born, 2005). Entretanto, quanto mais sólidos forem os laços que o indivíduo possui no seio familiar e quanto maior for a sua conformidade e consenso para com a sociedade, menos terá a influenciar para desviar-se de normas sociais. Para Hirschi (1969) citado por Gonçalves (2008), existem quatro componentes do vínculo social: 1. Apego –“os laços de afecto e respeito pelos outros. O apego aos pais é especialmente importante, porque eles são agentes primários de socialização de uma criança; um forte apego a eles leva à adolescente internalizar as normas sociais”; 2. Compromisso – “com os objectivos educacionais e profissionais de longo prazo; alguém que aspira fazer a faculdade de Direito provavelmente não cometerá um crime, porque um registo criminal seria obstáculo à sua carreira nessa área”; 26 3. Envolvimento – “as pessoas que estão envolvidas com o esporte, o escutismo, os grupos religiosos e outras actividades convencionais simplesmente têm menos tempo para adoptar o comportamento desviante”; 4. Crença – “o respeito pela lei e pelas pessoas que ocupam posições de autoridade” (p.28). “A relação entre o comportamento desviante e os quatros componentes do vínculo social é um dos focos do estudo, entre a falta de apego e a desviânça; adolescentes provindos de lares caracterizados pela falta de supervisão dos pais e pela falta de comunicação e de apoio desenvolvem mais comportamentos desviantes” (Gonçalves, 2008). O apego à Escola, medido pelas notas, também é associado com a desviânça. Os adolescentes que vão bem à Escola apresentam menor probabilidade de ser delinquentes. Quando ao compromisso com os objectivos de longo prazo, as pesquisas indicam que os jovens que têm compromisso com os objectivos de educação e de carreira têm menor probabilidade de envolverem-se em crimes contra a propriedade, como roubos e furtos. O terceiro componente, o envolvimento, é misto. Enquanto o envolvimento nos estudos e no lar negativamente associado com o comportamento desviante. Finalmente, os indícios sugerem que as crenças convencionais reduzem a frequência do comportamento desviante. Todavia, estes quatros componentes citados têm uma base fundamental para o crescimento ou para incremento do adolescente. Tudo parte de uma boa educação primária e secundária, para que o adolescente despenham um bom papel na socialização terciária, desde que seja uma educação sólida e firme. É importante realçar que, a ligação ou vínculo que o indivíduo cria com os pais e o respeito pelas regras por si impostas e o consequente respeito e congruência para com as normas sociais, ampliar-se-á então à escola, ao grupo de pares, e à restante sociedade na generalidade. A vinculação é maior quanto maior for à importância que o indivíduo dê à opinião que os outros possuem de si, e quanto maior for o número de instituições convencionais às quais o indivíduo está vinculado. Na visão de Born (2005), menciona empenho como uma dedicação ao indivíduo às actividades convencionais (escola, ocupação de tempos livres). “A opção de enveredar pelo mundo crime diverge tendo em conta o interesse do indivíduo pelas 27 actividades convencionais supracitadas, efectuando este um balanço entre as vantagens e os inconvenientes à prática criminal. A passagem ao acto criminal varia ainda de acordo com o tempo que o indivíduo despende a realizar essas actividades convencionais”. Quanto maior for o interesse pelas actividades convencionais e o tempo investido nas mesmas, menor será a tendência para o indivíduo ingressar no mundo desviante, uma vez que possui fortes laços sociais e está vinculado às normas convencionais. Em síntese, Hirschi pretende com esta teoria aprovar a possibilidade de que cada indivíduo pode ser um “potencial desviante”, no entanto, dependendo de variáveis como os laços afectivos e sociais, a vinculação às instituições convencionais, o envolvimento em actividades convencionais ou a conformidade com as normas sociais, poderá criar uma “intolerância ao desvio”, não enveredando pela via criminal. (Gonçalves, 2008). 1.3.2.Teoria de Aprendizagem Social de Albert Bandura É de extrema importância mencionar-mos a teoria de aprendizagem social de Bandura no nosso trabalho, visto que, todo comportamento desviantes são aprendidos a partir da observação. “O aprendizado seria excessivamente trabalhoso, para não mencionar perigosos, se as pessoas dependessem somente dos efeitos de suas próprias acções para informá-las sobre o que fazer. Por sorte, a maior parte do comportamento humano é apreendida pela observação através da modelagem. Pela observação dos outros, uma pessoa forma uma ideia de como novos comportamentos são executados e, em ocasiões posteriores, esta informação codificada serve como um guia para a acção.” (Bandura, 1989). Para Vila e Vieita (2008, p.4) a “aprendizagem social, é tudo aquilo que o indivíduo aprende através da imitação social, no decorrer das relações interpessoais”. Dai que os comportamentos que os adolescentes apresentam são apreendidos pela observação de certos acto que suscita imitar. Bandura citado por Azzi e Polydoro (2008, p.15), em algumas teorias comportamentais, aprendizagem “é apresentada como sendo uma imitação do comportamento dos outros”. Portanto a imitação de um modelo constitui um processo de aprendizagem isento de reforço, isto é um comportamento adquirido pela imitação de um modelo não necessária de ser reforçado. 28 De acordo Bandura (1989), os processos de aprendizagem passam por vários componentes que estão por trás do aprendizado pela observação: 1. Atenção – Para aprender qualquer coisa, é necessário prestar atenção, “incluindo os eventos apresentados (clareza, valência afectiva, complexidade, frequência, valor funcional) e as características do observador (capacidades sensoriais, nível de atenção despertada, conjunto de percepção, reforço anterior)”; 2. Retenção - Para aprender, “é necessário ser capaz de reter (lembrar ou memorizar) aquilo em que prestamos atenção. É nesse processo que a imaginação e a linguagem entram em cena. Mantemos o que é visto na forma de imagens mentais ou descrições verbais. Precisamos ser capazes de recorrer a eles para reproduzi-los em nosso comportamento”; 3. Reprodução – “o indivíduo deve ser capaz de codificar as imagens ou descrições arquivadas para servir para mudar seu comportamento no presente. Para aprender a fazer algo, é necessária uma mobilização de comportamento, ou seja, a pessoa deve ser capaz de reproduzir esse comportamento”; 4. Motivação - Para aprender, “a pessoa em questão deve ter motivos para querer fazê-lo. Isso dependerá de sua capacidade de focar a atenção, reter e reproduzir comportamentos. Obviamente, os motivos podem ser positivos, que são os que nos levam a imitar um comportamento, e negativos, que são os que nos levam a não imitar um determinado comportamento” (p.86). Para aprendizagem de um comportamento desviante depende necessariamente de um foco, ou seja, a centralização de uma determinada acção ou acto, deste modo é necessário a retenção do comportamento aprendido em função das faculdades mentais de acordo com meio externo e as interacções vinda das mesmas. Em síntese, através das experiências observadas por modelagem o adolescente aprende um comportamento social inadequado, não adaptativo, e internaliza crenças e atitudes, além de deixar de aprender um comportamento social adaptativo. Adquirir padrões de comportamento perigosos para si próprio e para os outros, e uma visão o mundo distorcido. Assim a teoria da aprendizagem social defende que aquisição de resposta comportamental agressivo acontece por modelagem. 29 1.3.3.Teoria da Rotulagem de Labelling Aproach Assim como a teoria da aprendizagem é perceptível na esfera do processo social interactivo, a teoria da rotulagem não escapa do paradigma, muito embora supere o exemplo justificável habitual, discutindo a própria definição do comportamento desviante ou do crime. De acordo Becker (1963, p. 9): Um dos primeiros precursores da teoria da Rotulagem afirma que, “o desvio ou o comportamento desviante é uma resposta do outro”. O desvio não é umaqualidade do acto que a pessoa comete, mas uma consequência da aplicação por outros de regras e sanções a um “transgressor”. Depois do autor, ter observado certas comunidades tidas como desviantes nos EUA, chegou à conclusão que a classificação de acto desviante vai depender de quem avalia o desvio e aplica essa classificação, muito porque os grupos sociais criam o desvio instituindo normas cuja transgressão constitui o crime, aplicando essas normas a certos indivíduos e rotulando-os como delinquentes. Assim sendo, “o desvio é uma propriedade, não do próprio comportamento, mas da interacção entre a pessoa que comete o acto e as reagem a esse acto” (p. 10). Por isso é que pode haver indivíduos designados como desviantes sem terem transgredido normas e indivíduos que transgridem, mas que não recebem o rótulo de desviantes. “Quem rotula são os grupos que detêm a moral convencional, como a família, a polícia, os médicos, os legisladores e os agentes sociais. E, do outro lado, ficam os rotulados (criminosos, prostitutas, drogados, doentes mentais etc), e como consequência surge uma divisão social entre estas duas grandes categorias que tende a perpetuar-se e a criar assim um mecanismo simbólico de controlo social. Isto é, se surge algum problema (furto, por exemplo) numa secção do escritório, o indivíduo sobre quem cai a maior dose de suspeita é o que já teve alguma prisão anterior, ou que já esteve internado no hospital de saúde mental” (Gonçalves, 2008, p. 109). A teoria da rotulação é considerada, dentre as várias existentes, uma das abordagens mais importantes, pois segundo Giddens o desvio é interpretado por meio dela como um processo de interacção entre desviantes e não desviantes dentro da sociedade. Vai mais além dizendo que as pessoas que representam as forças da lei e da 30 ordem, ou que têm capacidade de impor aos outros suas definições de moralidade convencional, são responsáveis pela maior rotulagem. Estes rótulos criam categoria de desvio e expressam a estrutura de poder da sociedade. Gonçalves (2000) nos traz uma ideia de como alguns factores vão influenciar no comportamento desviante. “Algumas características fisiológicas podem predispor a pessoa a ser mais ou menos agressiva, mas tais predisposições são em grande medida moderadas pelo ambiente e pelos universos simbólico-ideológicos em que o indivíduo vive”; “As atitudes, as crenças e os valores acerca da violência produzem uma influência considerável no comportamento violento”; “As crianças que crescem em ambientes muito desfavorecidos, onde a pobreza, a frustração e a falta de esperança são endémicos encontram-se numa situação de risco muito maior em relação ao envolvimento futuro em actos violentos e anti- sociais do que outras crianças”; “A violência atrai violência e as crianças que vivem em famílias ou em comunidades onde a violência é frequente e que, além disso, absorvem através da média outros exemplos e representações dessa violência, encontram-se numa situação de maior risco para se tornarem também violentas” (p.132,133). Esta teoria parte do pressuposto que a conduta desviante é originada pela sociedade, ou seja, a criminalidade é produto da sociedade. Somente a partir da observação e mediante o acontecimento da conduta desviada é que se pode saber se será considerado crime, pois os grupos sociais é que criam os desvios e cabe a eles a decisão da conduta ser seleccionada pelo rótulo de criminalidade, nesta senda há que relacionar o desvio com a reacção social. Contudo, conseguimos perceber que o comportamento desviante é uma construção social, na medida em a que sociedade vai criando as suas normas e condutas legais, de forma implícita, cria também o desvio ou o crime, classificando o que deve ser considerado desvio e o que deve ser entendido como normal, todavia, quando um membro infringe uma norma social, o acto em si não configura como sendo desviante, mas pelo facto da sociedade ter determinado que essa conduta fosse considerada desviante, esse indivíduo torna-se um desviante, essa reacção social, acaba por etiquetar e ostracizar o indivíduo como desviante, marginal ou delinquente. O comportamento desviante não se materializa na própria conduta do indivíduo, torna-se o resultado da 31 atribuição colectiva a tal acção, estigmatizando o infractor. A sociedade nesse contexto escolhe quem quer rotular ou hostilizar. 1.4.Factores Motivacionais do Comportamento Desviante nos Adolescentes Neste contexto faremos a menção de factores motivacionais do comportamento desviante, sabendo que o comportamento desviante é causado por múltiplos factores de ordem bio-pisico-social. Nesta senda podemos descortinar os que mais desencadeiam na adolescência: Afectivos, cognitivos e emocionais que desencadeiam as possíveis desestruturações familiares, pobreza sócio-económico, abandono, dificuldade escolar (indisciplina) e até a toxicodependência. 1.4.1. Factores Biológicos: O ser humano vive o seu estado comportamental segundo a sua constituição genética, para ter uma personalidade, um carácter e uma atitude positiva ou negativa de acordo a reacção prestada pelos órgãos. Desde muito sedo, o indivíduo é influenciado no seu comportamento e conduta de ser em sociedade e individual, para Dawin citado por Nunes (2010) “que a possível influência da genética sobre o comportamento humano”. O comportamento desviante deve ser visto como um fenómeno de grande relevância e não como uma contraversão, pesembora o factor interno interferem muito no comportamento humano. Os aspectos como hereditariedade e a genética e outra qualquer disfunção orgânica que ocorrer no adolescente desviante, isto podem levar a comportamentos reprovados pela sociedade. Hereditariedade: “é o conjunto dos processos que presidem a transmissão biológica e que assentam nas propriedades do património genético” (Pilette 2008). O processo são objecto de um ramo particular da biologia, a genética e o seu papel nos comportamento é objecto da genética comportamental ou psicogenética. Para o autor a “hereditariedade consiste na herança individual, que cada criança recebe de seus pais ao ser concebido” (p. 34). Maturidade: “é o importante factor interno que influi no desenvolvimento. Este factor consiste no processo de mudança do organismo determinado de dentro para fora. 32 Isto quer dizer que o indivíduo cresce, desenvolve habilidades de andar, correr, agir, pensar e dominar o seu próprio comportamento no ambiente social” (Hill 2002, p.85). Orgânico: “os estudos procuram explicar o comportamento desviante através de comportamentos singular orgânico, concentram-se especialmente nos aspectos estruturais e funcionais do organismo”, (Nunes 2010). “Diante dos aspectos como bioquímico, farmacológicos e o registo electro-encefalográfico e outros aspectos com as alterações ao nível do sistema nervoso autónomo e as disfunções cerebrais” encadeiam o comportamento desviante que leve o adolescente ao cometimento de crime. Em algumas circunstâncias, o adolescente apresente comportamento desviante em função das substâncias químicas penetrado no organismo, e tende mostrar comportamentos anormais na sociedade. Por tanto de acordo Perini (2011, p.104), fala de “diversos factores pré e perinatais podem incidir no nível de irritabilidade, da estrutura muscular na energia e nas actividades exibidas”. Isto quer dizer que o adolescente tem a probabilidade de apresentar comportamentos desviantes que podem leva-lo ao cometimento de crime por disfunção genética, maturidade e orgânico. No genético temos que ter em conta o gene, que faz parte de nós e que influência de qualquer maneira no comportamento humano, centrado na diferença da reacção de cada situação, até mesmo na interferência na personalidade dos gémeos fraternos, que se um dos gémeos idênticosem que um deles tenha comportamento desviante é provável que o outro o tenha. 1.4.2. Factores Psicológicos: A má formação do aparato psicológico ou das funções psíquica começa entrar em conflito consigo mesmo, e toda manifestação deste comportamento é posta ao meio ambiente, ou seja, toda alteração do sistema biológico afecta a área psicológica que coordena toda acção do corpo, e o resultado desta manifestação é expor ao ambiente social com a ansiedade, frustração e agressividade. Ansiedade: “implica na ocorrência de uma condição eversiva ou penosa, algum grau de incerteza ou dúvida e alguma forma de impotência do organismo em uma dada conjuntura” (Pessotti 1978, p.23). 33 A ansiedade, por outro lado, “é entendida como uma resposta à situações nas quais a fonte de ameaça ao indivíduo não está bem definida, é ambígua ou não está objectivamente presente” (Milgrom & Weinstein, 1985, p.48).Os adolescentes podem passar por estados de ansiedade quando se sentem isoladas e desprotegidas. Dai que uma das causas mais frequentes geradoras de ansiedade no adolescente é a sensação de desamparo causada pelo sintoma de desprotecção diante das situações perigosas ou sentida como difíceis demais para lidar não conseguem adquiris estratégias de em fretamento adequadas e com isso desenvolvem transtornos de ansiedade mais facilmente que motiva o adolescente ao comportamento desviante. Frustração: “está definitivamente relacionada com a excitação da raiva, na presença de um factor cognitivo”. A frustração ocorre quando a pessoa tem uma expectativa que não é compreendida. A experiência do desapontamento requer cognições com a memória e a imaginação (Mckay, Rogers, & Mckay, 2001, p.28). Desde esta análise pode afirmar mesmo que qualquer frustração levaria a agressão, ainda que invisível e, qualquer agressão, resultaria de uma frustração, mesmo que invisível. Pois, a frustração é tida como a insatisfação devido à recusa de um agente externo de entender a exigência libidinal, quanto à insatisfação ligada a factores internos, como inibição e defesas do eu, que leva as formulações hesitantes. (Farias, 2005, p. 205). Significa que, a frustração está estritamente ligada a uma decepção, desapontamento ou mesmo desilusão, que o indivíduo enfrenta; uma pessoa frustrada é alguém que não conseguiu realizar determinado objectivo ou lhe foi negado algo que impediu a sua realização da satisfação, e nesta situação de desconforto essa pessoa pode enveredar às práticas consideradas inadequadas ou criminosas tudo por que pretende que sua expectativa seja compreendida e respeitada. Portanto, Mckay at al (2001, p.29) esclarecem que, uma pessoa frustrada não se comportará de maneira agressiva a menos que o contexto seja percebido como apropriado para a manifestação de hostilidade. Quer no campo de batalha quer numa discussão doméstica, a agressão só ocorre se for considerada apropriada ou aceitável dentro daquela situação. 34 Agressividade: “é um processo humano, inato, que provoca na pessoa uma complexa sensação de expansão, de ir além de si mesma, de correr riscos, de ampliar limites, de terminar o começado” (Ribeiro, 2006, p. 59). Significa que, a agressividade por ser natural ela influência a forma como o individuo se comporta ou age perante determinada situação, objecto ou coisa, um individuo com instintos agressivos está propenso a agir de modo diferente diante dos desafios da vida, culminando a ter um comportamento desviante. Nesta perspectiva Landau (2002, p.135-136) assegura que, “a agressividade é próprio da espécie, que condiciona e admite aprendizagem, tornando os relacionamentos possíveis”. A mesma autora afirma que, “a agressividade não é somente uma reacção cujos objectivos sejam destrutivos ou violentos; mais que isso, ela é o alicerce para qualquer realização”. “A agressividade é um instinto benéfico à vida de todo ser humano e actua em dois níveis: um interno, que cuida da energia a cada instante; e outro, externo que cuida dos estímulos que vêm de fora e possam ser ameaçadores do equilíbrio da pessoa” Ribeiro (2006). Ela instrumentaliza e regula as relações de pessoas ou coisas diferentes de si, e está, quase sempre, associada ao medo, à baixa auto-estima, a desesperança e sobretudo, `necessidade de se respeitar ou ser respeitado. Em sínteses, Born (2005, p.129) considera agressividade como “uma reacção dinâmica vital de defesa de afirmação de si e dos seus bens”. 1.4.2. Factores Sociais: Filho (2010) citado por Fernandes (2012, 49), caracterizam “os factores sociais como causas do comportamento desviante”, ou seja, leva o adolescente a ter comportamento desviante que motiva-o ao cometimento de crime. O autor menciona os seguintes factores: a família, o consumo de substâncias psicoactivas, a exclusão social e a pobreza. Família: “é unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços afectivos. A família representa um grupo social primário que influência e é influenciado por outras pessoas e instituições” (Simas et al 2014, p.139). 35 Faco (2009, p. 8), “a família é tida como o primeiro refúgio em que o indivíduo ameaçado se protege durante os períodos de enfraquecimento do Estado”. A família é extremamente importante para o desenvolvimento individual e social, o primeiro contacto com o mundo externo surge com ela, assim como os primeiros laços afectivos e interacções sociais. Para Giddens (2010, p. 301): Existem várias causas que influencia o adolescente ao comportamento desviante, tais como, o acompanhamento insuficiente, falta de atenção dos entre queridos, ansiedade e medo da punição, na vontade de se livrar dos cuidados dos pais e tutores, no tratamento cruel dos camaradas, em adulterações desmotivadas para mudar um ambiente entediante. Nesta senda, a família tem sido considerada, desde há muito, um factor decisivo no desenvolvimento de comportamentos desviantes na sociedade. Assim, não é por acaso que muitas teorias da se centrem na estrutura familiar, na interacção pais-filhos e nos estilos educativos dos pais. Perante o aumento da “instabilidade das estruturas” familiares, os factores ligados à família continuarão a ter uma importância central na explicação de comportamentos desviantes (Fonseca, 2002, 74). Sendo que a família faz parte a primeira socialização tem uma importância fundamental porque estabelece a primeira matriz de referências do adolescente, e está na base da sua primeira concepção de realidade, o adolescente tende a pensar que o mundo todo é igual ao mundo que experiencia dentro do contexto da sua família. Se, durante esta fase, a violência, agressão, negligência e falta de afecto forem características dominantes da realidade do sujeito a socialização pode sofrer sérios desvios e orientar o indivíduo para condutas anormais. Dai que, a adolescência constitui um período de especial vulnerabilidade. O facto de o jovem desconhecer os seus limites pode colocá-lo em situações bastantes perigosas, pelo que é fundamentais os pais estarem atentos à vida dos seus filhos de forma a evitarem a ocorrência de experiencia negativas. Dai que para perceber o que leva o adolescente a ter determinados comportamentos, é importante conhecer a sua estrutura familiar, por um lado a família desestruturada pode ser o centro onde se desenvolve o comportamento desviante, por outro lado, uma família forte pode criar e proteger o adolescente, mesmo quando os pares e a escola falham. 36 Contudo, quando a relação entre o adolescente e a sua família está desestruturada, quando existe um vazio ou uma explosão desagregadora do seu universo, o adolescente interioriza modelos de relações distorcidas, ela vai repetir sistematicamente o que foi apreendido nessas experiências precoces, em padrões de comportamentos desviantesque pode levar o adolescente em diversas consequências. Consumo de substância psicoactiva ou droga: sempre existiu ao longo da história da humanidade. Praticamente em todas as culturas e povos encontram-se referências ao uso dessas substâncias durante os rituais religiosos e cerimonias, com variação da quantidade, do tipo e da forma de consumo. A literatura mostra que o fenómeno do consumo de drogas se deve a factores específicos e característicos do momento histórico que a sociedade vive. Nas últimas décadas, porém temos visto que o uso indiscriminado de substâncias psicoactivas lícitas e ilícitas vem causando grandes impactos negativos em níveis individual e social. Esse padrão de consumo está directamente relacionado ao aumento da criminalidade, marginalização e violência em nossas cidades. (Higa, 2013). De acordo a OMS, a droga “é toda substância ou produto que, administrado ao organismo vivo, produz artificialmente modificações em uma ou mais de suas funções”. Com isso podemos entender que o usuário de drogas, na maioria dos casos tem consciência desta definição, mas recorre à droga que complete ou até dê sentido a sua condição de ser social. Não podemos associar uso de drogas ao crime, o uso de drogas não capacita o indivíduo à prática de crime, ela pode potencializar uma estrutura de personalidade criminógena já contida no indivíduo. Como também pode provocar o envolvimento do usuário em pequenos actos delituosos como furtos e roubos em busca de recursos para custeio do vício, ou desencadear transtornos mentais que levem ao crime. Na visão de Teixeira (2009, p.51), “A adolescência é caracterizada também como período em que adolescente experimenta novas condutas, abandonando o seio familiar, buscando auto-afirmação social através de sua inserção em diferentes grupos e começa a ter relações de amizade e íntimas com pessoas que não integram o meio familiar. É nessa busca por auto-afirmação perante a si, a família, ao grupo de amigos e a sociedade, que ocorre o uso de substâncias psicoactivas”. 37 O envolvimento da família nesse processo de transformação ajuda a minimizar as possíveis condutas de risco do adolescente. A família é considerada um dos elos mais fortes do adolescente que pode levar ao uso abusivo de álcool e drogas, como também actuar como importante factor de protecção ao uso dessas substâncias. Estudos recentes mostram que as famílias são referências para as crianças, adolescentes e jovens, e práticas parentais como o consumo do álcool e tabaco influenciam os comportamentos dos filhos. Assim, a família pode exercer influências de protecção ou risco para os jovens (Malta, 2011). Contudo, as alterações causadas por essas substâncias que é usada por influência dos amigos variam de acordo com as características da pessoa que as usa, de qual droga é utilizada e em que quantidade, do efeito que se espera da droga e das circunstâncias em que é consumida. Dai que o adolescente vai desencadear comportamentos desviantes por alteração do sistema nervoso por uso de substância psicoactivas. Este tipo de comportamento pode levar ao crime uma vez que o prazer está condicionado ao “objecto” que, em muitos casos, agride o outro. Exclusão Social e Pobreza: estão sem dúvida associadas à condição de famílias com baixo nível de vida e são extremamente importantes para a caracterização da mesma. Devido às condições e aos factores de risco associados a esta camada da população, a exclusão social faz, como referido, parte da sua condição social. Deste modo, esta apresenta-se como a fase extrema do processo de marginalização ao longo do qual se verificam sucessivas rupturas na relação do indivíduo com a sociedade. Essa fase extrema é caracterizada não só pela ruptura com o mercado de trabalho, mas por rupturas familiares, afectivas e de amizade. O conceito de pobreza é “analisado enquanto situação de escassez de recursos de que um indivíduo, ou família, dispõem para a satisfação das necessidades consideradas mínimas” (Cunha, 2014, p.149). Para o autor, a exclusão a nível do mercado no trabalho apresenta-se como aquela que é mais comum e que conduz na maioria das vezes à situação de pobreza. A pobreza é essencialmente a dimensão mais visível da exclusão social. Sanches e Gouveira-Pereira (2010), associam ainda os comportamentos desviantes a famílias com enormes carências de vários pontos de vista como sócio- económico, emocional, pobreza consequente do nível sócio-económico, o que acaba por resultar em exclusão por parte da sociedade. 38 A autora assevera que nas pessoas sem abrigo é possível, normalmente, reconhecer um conjunto de constrangimentos individuais, como as baixas qualificações, a duração do desemprego, ausência de empregos estáveis, etc.. Desta forma, é possível identificar um processo progressivo de exclusão que acontece em dois pólos: “O ponto de partida, ou seja, a fragilidade das possibilidades de inclusão social dos indivíduos, no âmbito de uma transmissão geracional de pobreza e exclusão (que se reflecte nos recursos económicos, inserção escolar, etc.)”; “E o seu agravamento ao longo do tempo devido a constrangimentos conjunturais actuais (precariedade de emprego, aumento do preço da habitação, etc.)” (p.97). Na visão de Carvalho (2000, p. 36), “a exclusão é encarada como um conjunto de fenómenos sociais interligados que contribuem para a produção de excluídos”. Está relacionada à fenómenos sociais como: o desemprego, a pobreza, a descriminalização, entre outros. Por conseguinte, quando um indivíduo apresenta indícios de comportamento desviante já é motivo de ser excluído numa determinada sociedade dai associando com as condições de vida muito baixa, quando enfrentam essas crises sociais, baseado na pobreza extrema que também favorece a exclusão, a saída mais viável torna-se o cair em diversos comportamentos que não é aceite na sociedade, nesta senda, o adolescente em virtude da sua condição social marginalizada, optará em desvincular as normas a fim de superar o processo de exclusão social e a pobreza. Portanto, Madeira (2001, p. 59), “a pobreza é uma condição de desestabilização sistemática, pela qual condição estrutural implícita mantém os pobres e confinam os seus acessos ao poder social ao nível de sobrevivência diária”. A pobreza é essencialmente a dimensão mais visível diante de indivíduos que apresentam comportamentos desviastes de pequenos furtos, onde certos adolescentes subtraem certos objectos sem o consentimento de outrem por falta de meios financeiros para obter o mesmo. O meu social ou ambiental, tem um grande papel no desenvolvimento e crescimento do adolescente, qualquer deslize que houver no acto da aprendizagem do adolescente como a rotulação, o bulling e exclusão social e a pobreza acabam de afastar o adolescente da reintegração e inserção social. 39 1.5.Normas e Desvio Antes que um acto ser visto com desviante, e antes que qualquer indivíduo possa ser rotulado e tratado como desviante por cometer tal acto, alguém precisa ter feito a norma que define o acto dessa maneira. “Para que uma norma seja criada, o dano precisa ser descoberto e mostrado, alguém deve chamar atenção do público para esse problema, e assim, ser criada a norma” (Kazdin, e Buela-Casal, 2001, p.91). As sociedades modernas não são organizações simples em que todos concordam com as normas estabelecidas e como elas devem ser aplicadas. São, ao contrário, muitos complexos e altamente diferenciadas em relação às classes sociais, aos grupos étnicos e aos valores culturais. Esses grupos, frequentemente, não partilham as mesmas regras, apesar de muitas serem aceitas por todos os membros da sociedade. À medida que as normas de vários grupos se colidem e contradizem, haverá desacordo quanto ao tipo de comportamento apropriado. As perspectivas das pessoas
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